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O associativismo como promotor do desenvolvimento rural e (re) organização espacial em assentamentos rurais / Associations as promoters of rural development and spatial (re) organization in rural settlements

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44852-44864, jul. 2020. ISSN 2525-8761

O associativismo como promotor do desenvolvimento rural e (re) organização

espacial em assentamentos rurais

Associations as promoters of rural development and spatial (re) organization in

rural settlements

DOI:10.34117/bjdv6n7-198

Recebimento dos originais: 03/06/2020 Aceitação para publicação: 03/07/2020

Evandro César Clemente

Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFJ - Universidade Federal de Jataí e da UFMS (CPTL - Campus de Três Lagoas).

Endereço: Rua 13, nº 67 - Residencial das Brisas - Jataí - GO, CEP: 75803-455 Lattes: http://lattes.cnpq.br/8634079545873551

Email: evandrocclemente@gmail.com Iolanda Lopes de Oliveira

Doutoranda em geografia pela Universidade Federal de Jataí

Endereço: Rua Belgica, nº 62, Jardim Europa, Rondonópolis - MT, CEP: 78735-787 Lattes: http://lattes.cnpq.br/8977867912938826

Email: loopesiolanda@gmail.com José Adolfo Iriam Sturza

Programa de Pós-Graduação em Gestão e Tecnologia Ambiental da UFR – Universidade Federal de Rondonópolis

Endereço: Rua Vinte de Setembro, 1565 - Centro, São Vicente do Sul, RS, CEP: 97420-000 Lattes http://lattes.cnpq.br/1160588187827811

Email: jasturzaroo@gmail.com RESUMO

Este trabalho tem o intento de apresentar uma breve discussão acerca das pesquisas realizadas sobre o associativismo nos assentamentos de reforma agrária, mais precisamente do estado de Mato Grosso. A metodologia baseia-se na pesquisa bibliográfica de livros e periódicos, buscando evidenciar os estudos já realizados com a realidade empírica da área de estudo. O associativismo pode ser considerado uma estratégia dos assentados na busca do desenvolvimento rural e consequentemente em sua reprodução socioeconômica. Por conseguinte, o estabelecimento de uma associação tende a mudar a organização espacial do assentamento, pois abre oportunidades para os assentados ressignificarem o arranjo ate então imposto, herança de um processo de implantação que, via de regra, não considera as características ambientais e socioeconômicas do lugar, originando problemas nas mais diversas esferas.

Palavras-chave: Agricultura familiar; Assentamento rurais; Associativismo; Organização espacial ABSTRACT

This paper has the intention of presenting a brief discussion regarding the research conducted on associativism in the settlements of the agrarian reform, more precisely of the state of Mato Grosso. The methodology is based on the bibliographic research of books and journals, aiming to evidence the studies already conducted with the empirical reality of the field of study. Associativism can be

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44852-44864, jul. 2020. ISSN 2525-8761 considered a strategy of the settlers in search of rural development and consequently in their socioeconomic reproduction. Thus, the establishment of an association tends to change the spatial organization of the settlement, since it opens up opportunities for the settlers to reframe the arrangements imposed so far, heritage of a process of implantation which, as a general rule, does not consider the environmental and socioeconomic characteristics of the place, originating problems in the most diverse spheres.

Keywords: Family farming; Rural settlements; Associativism; Spatial organization

1 INTRODUÇÃO

O processo histórico de colonização de Mato Grosso influenciou e influencia diretamente nas desigualdades existentes nos espaços rurais do estado. Desde o início de sua colonização apresenta um histórico marcado por políticas que beneficiam o crescimento da desigualdade social ao revelar décadas de favorecimento à formação de latifúndios por extensão.

Atendendo ao histórico de formação das propriedades mato-grossenses, de sempre favorecerem a grande propriedade, torna-se possível compreender as raízes da estrutura fundiária do estado. Contudo, neste cenário de grandes propriedades observa-se a presença e o desenvolvimento de uma pequena agricultura familiar, sendo que grande parte desta agricultura familiar é originária de assentamentos rurais. No Brasil, como no Mato Grosso, os assentamentos rurais foram criados como alternativa para a diminuição dos conflitos de terra que se intensificaram por todo o território nacional entre as décadas de 1960 e 1990, como tentativa de amenizar a falta de planejamento agrário do Brasil.

É sabido que o uso e a ocupação das terras nos assentamento rurais estão condicionados às

características ambientais e socioeconômicas de cada

propriedade e da região onde se encontra. Portanto, as condições geográficas de ordem natural e social influenciam diretamente na manutenção e na reprodução social dos assentados, desta forma a implantação de assentamentos rurais necessita de maior atenção e da análise de uma serie de fatores, pois, apenas conceder o acesso a terra não significa que esse assentado consiga permanecer e retirar o sustento e manutenção da família no meio rural.

No entanto em uma tentativa de amenizar os conflitos de terra, boa parcela desses assentamentos no estado de Mato Grosso foram implantados sem levar em consideração essas características, e atualmente enfrentam problemas graves, nas mais diversas esferas, infraestrutura (estradas precárias, distancia dos mercados consumidores, falta de água.) educação, saúde, carência de assistência técnica, entre outros, dificultando a reprodução socioeconômica desses assentados.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44852-44864, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Diante desta realidade, o associativismo surge como uma alternativa para a permanência e manutenção das propriedades rurais, bem como a reprodução socioeconômica dos assentados. O associativismo é visto como uma estratégia para facilitar a produção e a comercialização dos seus produtos, haja vista que existe grande dificuldade dos pequenos produtores se posicionarem sozinhos no mercado. O associativismo tem sido implantado em assentamentos rurais como uma forma de organização e gestão da produção controlada pelos próprios assentados, que por meio do grupo associativo melhora os relacionamentos dos agricultores com o mercado e com a sociedade local, ao mesmo tempo em que facilita o processo produtivo.

Neste sentido, o trabalho objetiva realizar uma breve discussão teórica do associativismo desenvolvido em assentamentos de reforma agrária, apresentando a realidade empírica dos mesmos no estado de Mato Grosso, mais precisamente na Microrregião Geográfica de Rondonópolis-MT. Para a consecução da pesquisa, realizou-se revisão bibliográfica sobre o tema em livros e, periódicos, buscando obras entre autores clássicos e atuais.

2 AGRICULTURA FAMILIAR EM ASSENTAMENTOS RURAIS

Ao longo dos anos as discussões acerca do rural brasileiro pautavam-se no contexto da modernização da agricultura e em sua capacidade indutora do desenvolvimento rural. No entanto, esse panorama apresenta significativa mudança na década de 1990, em virtude do crescente interesse pela temática da agricultura familiar e sua perpetuação no espaço rural brasileiro, assim como seus mecanismos de produção e sua diversidade (CONTERATO, 2008).

A agricultura familiar atualmente é caracterizada como um dos principais seguimentos do espaço agrário do país, mesmo não sendo detentora de grande capital e de novas tecnologias como é o caso do agronegócio brasileiro. Na mão de obra familiar e em pequenas propriedades, os agricultores familiares produzem alimentos em maior quantidade, qualidade e diversidade que o agronegócio. Este segmento recebeu e recebe inúmeras definições que vão se adequando as mudanças temporais, tecnológicas e espaciais, como a de Carmo (1999):

Agricultura familiar pode ser entendida como forma de organização produtiva em que os critérios adotados para orientar as decisões relativas à exploração agrícola não se subordinam unicamente pelo ângulo da produção ou rentabilidade econômica, mas levam em consideração também as necessidades e objetivos da família. É um arranjo familiar de produção agrícola que contraria o modelo patronal, no qual há completa separação entre gestão e trabalho, pois no modelo familiar estes fatores estão intimamente relacionados. (CARMO, 1999 p.13).

Mas, muito além de um seguimento social, a agricultura familiar é definida como um valor e o apoio que recebe é resultado dos benefícios propiciados por ela, como por exemplo: produção de

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44852-44864, jul. 2020. ISSN 2525-8761 alimentos, melhores condições de vida, desenvolvimento mais ecológico e luta contra a pobreza. A Agricultura Familiar é vista por Abramovay (1998), como:

[...] o setor social capaz de contrabalançar a tendência tão própria á nossa sociedade, de desvalorizar o meio rural como lugar em que é possível construir melhores condições de vida, de encara-lo como o local em que permanecem aqueles que ainda não enveredaram pela “verdadeira aventura civilizatória” a urbana. Assim os valores que a agricultura familiar incorpora são os da tradição, do folclore, da pureza do campo contra a corrupção das cidades. [...] faz parte dos valores que a agricultura familiar incorpora a primazia do desenvolvimento e do poder locais e a ideia de que, neste plano, os negócios públicos podem ser geridos com a participação direta dos cidadãos. (ABRAMOVAY, 1998, p.137).

A agricultura familiar no Brasil tem se expandido na forma espacial através dos assentamentos rurais espalhados por todas as regiões e em número cada vez mais crescente, como é o caso do Estado de Mato Grosso. Nos estudos dos assentamentos rurais no Brasil, destacam-se autores como: Bergamasco (1997,2003), Medeiros e Leite (2004), Sparovek (2005), Scopinho (2012),

A criação dos assentamentos rurais envolve a concepção de como deve ser gerada a propriedade agrícola para os pequenos produtores rurais, projeto este que se relaciona com os diversos atores envolvidos e está vinculado a vários conflitos na luta pela terra ou pela permanência nela. Medeiros e Leite (1999) explicam que os assentamentos rurais são entendidos:

[...] como a ocupação e uso de terras para fins agrícolas, agropecuários e agroextrativistas em que um grupo de trabalhadores sem terra ou com pouca terra obteve a posse, usufruto e/ou propriedade sob a forma de lotes individuais e, em alguns casos, de áreas de uso e propriedade comuns, sendo o patrimônio fundiário envolvido resultante de processo de aquisição, desapropriação ou arrecadação pelo poder público e associado, de maneira explícita, pelos trabalhadores e/ou pelos agentes públicos, a processos de Reforma Agrária (MEDEIROS e LEITE, 1999, p. 279).

Tendo como contexto a reforma agrária no Brasil, podemos aceitar que:

[...] o termo assentamento rural, no contexto da reforma agrária brasileira, diz respeito a um espaço preciso em que a população será instalada, por um longo período. “É uma transformação num referido espaço físico, contendo assim, o aspecto de um território realmente habitado e trabalhado por um grupo cujo objetivo é a exploração deste espaço”. (BERGAMASCO et.al.1997, p.11).

A reforma agrária vista antes apenas como difusora de matérias primas industriais e, que ampliava o mercado de insumos agrícolas, atualmente pode ser concebida além desse viés produtivista, elencando questões como a manutenção das paisagens naturais, a (re) criação de modos de vidas particulares, resgatando a valorização dos saberes, fazeres e sabores tradicionais.

Portanto, a reforma agrária pode ser explicada não apenas como uma política de distribuição de terras, pois:

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[...] entende-se a reforma agrária a implementação de assentamentos rurais enquanto um processo social e politico mais amplo, que envolve também o acesso aos recursos naturais, ao financiamento, a tecnologia, ao mercado de produtos e de trabalho e a distribuição do poder politico (LEITE e ÁVILA, 2007, p.176).

No entanto, esta realidade de reforma agrária não se aplica a criação dos primeiros assentamentos rurais do estado de Mato Grosso, esses foram implantados como alternativa para a diminuição dos conflitos de terra que se intensificaram por todo o território nacional entre as décadas de 1960 e 1990. Desta forma, sem levar em consideração as condições geográficas de ordem natural e social, que influenciam diretamente na manutenção e na reprodução social dos assentados.

Analisando então o processo de criação desses assentamentos entende-se a realidade atual vivida nesses territórios, problemas nas mais diversas esferas, infraestrutura (estradas precárias, dificuldade de produção, distancia dos mercados consumidores, falta de água.), educação, saúde, carência de assistência técnica, entre outros, dificultando a reprodução socioeconômica desses assentados.

De acordo com Bergamim (2004, p.129):

Desorganizados, os agricultores familiares, individualmente, enfrentam os gargalos da comercialização com mais fragilidade. As dificuldades de acesso e de articulação com as quais esses sujeitos sociais se inserem no mercado estão relacionadas à pequena quantidade produzida, à dispersão espacial dos agricultores, à desinformação sobre a dinâmica do mercado, à inexistência de infra-estrutura para armazenar a produção e à fragilidade financeira do agricultor que o obriga a vender a produção na safra, quando os preços são menores, ou até mesmo antes, em alguns casos.

Diante desta realidade o associativismo, emerge como uma alternativa para os assentados na busca do desenvolvimento rural e consequentemente em sua reprodução socioeconômica. Por conseguinte muda à organização espacial do assentamento, pois abre oportunidades para os assentados ressignificarem o arranjo ate então imposto. De acordo com Souza (2013):

A organização espacial esta sempre mudando. Às vezes, mais rapidamente; à vezes, mais lentamente. E não apenas mudando: está, também, sendo constantemente desafiada, em diferentes escalas. Para cada “ordem” sócio-espacial aparecerá, mais cedo ou mais tarde, ao menos em uma sociedade injusta e heterônoma, um contraprojeto (ou vários contraprojetos concorrentes) que proporá ou pressuporá, explicita ou implicitamente, novas estruturas socioespaciais, para agasalhar novas relações sociais (SOUZA, 2013, p. 38Grifo nosso).

Assim, o associativismo pode der considerado um contraprojeto, uma estratégia que os pequenos produtores utilizam na luta pela permanência na terra. Haja vista que em muitos casos a reprodução socioeconômica desses assentados é inviabilizada devido às inúmeras dificuldades que vão desde a implantação do assentamento a comercialização da produção.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44852-44864, jul. 2020. ISSN 2525-8761 3 O ASSOCIATIVISMO COMO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO RURAL E (RE)ORGANIZAÇÃO ESPACIALDOS ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA

Os estudos acerca do associativismo no Brasil são relativamente recentes, como os de Barone (2008), Clemente (2010), Francio et al, (2016), Frantz (2002), Hespanhol (2000), Pinheiro (2001) e Oliveira (2010).

De acordo com Oliveira, (2010):

No Brasil tal modalidade de organização dos produtores foi intensificada, sobretudo a partir dos anos 1980 em virtude da crise conjuntural e estrutural da economia que acarretou - dentre outros processos – a fragilização do modelo de cooperativismo nos moldes que possibilitava a inserção dos produtores familiares (OLIVEIRA, 2010, p.33).

Pinheiro (2001) vai além e afirma que o associativismo no Brasil surge devido à preocupação em relação a temas como:

[...] a obtenção de crédito agrícola, melhoria das condições de produção e comercialização, problemas que ganharam espaço à medida que se verificava que a luta pelo acesso ou permanência na terra não resolvia definitivamente a situação precária de grande parte dos lavradores no país. (PINHEIRO, 2001, p. 339).

Segundo Miranda (2011) as famílias assentadas precisam, primeiramente, se organizar social e produtivamente, valorizando a participação de todos os assentados nos projetos produtivos, na gestão ambiental e nas decisões coletivas, para se estabelecerem como agricultores familiares. Ainda segundo o autor, associações ecooperativas enquanto instituições sociais desempenham um papel fundamental para o desenvolvimento e consolidação dos projetos deassentamento e, consequentemente, em sua inserção geográfica, social, econômica e política.

Os estudos sobre o associativismo estão intensamente ligados ao processo de desenvolvimento rural, e as pesquisas estão promovendo uma crescente demanda na esfera das políticas públicas rurais. Como afirma Frantz (2002), o desenvolvimento está intimamente relacionado às formas associativas de produção:

[...] potencialmente, o associativismo, a cooperação, contêm o desenvolvimento local [...]. A associação expressa uma relação dinâmica, uma relação em movimento, em direção a um lugar melhor pela cooperação. O desenvolvimento é um processo também fundado em relações sociais associativas, das quais podem nascer formas cooperativas (FRANTZ, 2002, p. 25).

Portanto, como afirma Canterle (2004):

[...] fica claro que o fomento do associativismo constitui a pedra angular do desenvolvimento e cuja problemática está em captar as contradições e organizar as pessoas, uni-las e

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las harmoniosamente em torno de interesses comuns, dando atendimento às suas necessidades coletivas e individuais (CANTERLE, 2004, p. 8).

No cenário atual globalizado, dominado pela tecnologia e consumo em massa que demanda uma grande e rápida produtividade, é cada vez mais difícil para os pequenos produtores rurais se manterem ativos e competitivos. Nesse contexto, formar uma associação rural se tornou uma ótima estratégia para os pequenos produtores rurais garantindo um melhor desempenho econômico e para competição de mercado. Para Lazzarotto (2002):

[...] a união destes produtores em organizações associativas representa uma importante opção estratégica para juntos enfrentarem as dificuldades que lhes são constantemente impostas. O trabalho coletivo e o uso de práticas solidárias podem facilitar o processo produtivo, além de propiciarem melhores relacionamentos com o mercado, instituições públicas, extencionistas e com a sociedade de maneira geral (LAZZAROTTO, 2002, p. 1).

A precariedade de recursos e infraestrutura recorrente nos processos de implantação e manutenção dosassentamentos rurais provoca efeitos desastrosos, levando muitos a certa invisibilidade econômica. Realidade que evidencia adependênciados intermediários da circulação de mercadorias, mais conhecidos como atravessadores, que em muitos casos pagam preços bem abaixo do valor de mercado, mas como o pequeno produtor não tem condição própria de entregar seu produto acaba por aceitar a proposta, para não perder a produção.

Para Souza (2016), o associativismo é o:

mecanismo essencial para o fortalecimento da coletividade, que promovem a inserção econômica dos pequenos produtores no mercado e, assim, permitindo que a agricultura familiar possa se desenvolver e principalmente satisfazer as necessidades econômicas, sociais e humanas realizadas em grupo, visto que a fixação dos agricultores no campo permitindo o maior dos benefícios do mundo rural (SOUZA, 2016,p.25).

Tedesco (2001) vai além e afirma que “as associações mostram-se como estratégias para viabilizar políticas públicas voltadas aos interesses dos agricultores, no sentido de canalizarem demandas em seu benefício” (TEDESCO, 2001, p.15-16). Complementando a ideia defendida por Tedesco (2001), Pinheiro (2001) argumenta que:

O associativismo rural foi um dos movimentos que colocaram em discussão a questão da participação política relacionada à descentralização, visto que uma das suas principais características têm sido a proximidade com as prefeituras municipais e demais instâncias da vida local. A busca de canais de articulação com as administrações municipais tem como pressuposto que esse nível do Estado é o mais acessível para o encaminhamento das demandas da comunidade e, especialmente, dos movimentos sociais mais organizados (PINHEIRO, 2001, p 344).

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44852-44864, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Atualmente o associativismo rural apresenta-se como forma de (re)organização pelos agricultores que encontraram uma forma de se opor e resistir a sociedade capitalista, através de projetos alternativos e tecnologias ambientais. Proporcionando aos produtores do campo/ assentados, condições para existir e desenvolver, compreendendo melhor as técnicas, tecnologias e recursos, participando e contribuindo para a manutenção e fortalecimento da economia solidária.

3 A ASSOCIAÇÃO “DANDO AS MÃOS”: ASSOCIATIVISMO NA PROMOÇÃO DO

DESENVOLVIMENTO RURAL NA MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA DE

RONDONÓPOLIS-MT

De acordo com Abramovay (2009) “Construir novas instituições propícias ao desenvolvimento rural consiste, antes de tudo em fortalecer o capital social dos territórios [...]”(ABRAMOVAY, 2009, p. 100). Uma forma de estabelecer esse fortalecimento, se da através da criação das associações e cooperativas que promovem a economia solidaria, uma forma autogestionária, que busca mudança social e uma nova forma de desenvolvimento, como afirma Lima (2015):

[...] percebemos na Economia Solidária certa originalidade de iniciativas democráticas e de participação, de modelo autogestionário, do qual todos são donos dosmeios de produção, trazendo uma série de mudanças na forma de organização dessesempreendimentos solidários, desencadeando ações que representam a vontade comum (LIMA, 2015,p.51).

A associação “Dando as Mãos”, é um exemplo de organização coletivaque atua na região sul do estado do Mato Grosso, surgiu oficialmente em novembro de 1999, da atuação das associadas religiosas da Província Santa Teresa do Menino Jesus juntamente com os assentados dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amazonas.

A associação atualmente desenvolve projetos em doze assentamentos da Microrregião geográfica de Rondonópolis-MT (mapa 1),são eles: São José do Povo (Assentamento João Pessoa, Marcio Pereira e Padre Josimo), Rondonópolis (Assentamento Primavera e Fazenda Esperança), Juscimeira (Assentamento Beleza e Geraldo Pereira de Andrade), Pedra Preta (Assentamento Colina Verde e 26 de janeiro), Poxoréu (Assentamento Carlos Marighella), Guiratinga (Assentamento Salete Strosak) e Dom Aquino (Assentamento Zumbi dos Palmares).

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Mapa 1 - Municípios da microrregião geográfica de Rondonópolis-MT

Autor: OLIVEIRA (2016).

A organização reúne os pequenos produtores dos assentamentos e das cidades, de forma solidaria na busca de encontrar alternativas para escoar a produção, comercializar e gerar renda para as famílias, buscando o desenvolvimento rural. A partir de analise prévia nos assentamentos e atendendo a realidade geográfica e social de cada um, foram instalados empreendimentos solidários em diversas áreas, como por exemplo: artesanato, confecções, suinocultura, criação de aves, fabricação de rapaduras e melados, derivados do leite, farinheiras, piscicultura, entre outros. O princípio norteador é garantir o abastecimento local, comercializando o excedente e gerando renda a as famílias.

Além desses empreendimentos, a associação Dando a Mãos desenvolve o programa de microcrédito, uma iniciativa do grupo para auxiliar os produtores, que diante da realidade socioeconômica, encontram dificuldades financeiras para adquirir material para a realização da produção. O valor do empréstimo sem burocracia de acordo com a associação por família em média varia entre mil a dois mil reais, sendo o prazo médio das devoluções de dezoito meses, tendo um período de carência de seis meses. O valor devolvido é utilizado em outros empréstimos, podendo ser ate para a mesma família.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44852-44864, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Os assentados têm a possibilidade de recorrer a outras linhas de crédito como o PRONAF- Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, mas segundo Silva (2009)

Muitos agricultores se encontram endividados, por despreparo próprio, ou dos técnicos responsáveis em elaborar os projetos, o que os exclui automaticamente de tal programa. Há ainda as exigências de garantia para aceso ao crédito, e toda a burocracia necessária, oque faz com que o agricultor desanime (SILVA, 2009, p.172-173)

Durante pesquisa de mestrado realizada em um dos assentamentos atendidos pela associação Dando as Mãos, foi possível perceber a diferença entre o antes e o depois da instalação do empreendimento, principalmente no que se refere à renda obtida pela venda da produção, que influencia diretamente o público feminino. De acordo com os relatos das mulheres que trabalham na agroindústria, antes do empreendimento elas não possuíam renda alguma, hoje elas chegam a ganhar mais de um salario mínimo por mês, revelando uma nova realidade de empoderamento da mulher rural.

A pesquisa atual de nível doutorado pretende estudar mais a fundo o papel das associações coletivas na promoção do desenvolvimento rural em assentamentos rurais, dando ênfase aos assentamentos atendidos pela associação, analisando também as politicas públicas governamentais para criação e manutenção dessas associações, bem como tentar identificar as limitações e os aspectos proativos para a promoção do desenvolvimento rural em assentamentos de reforma agrária, haja vista que nem todos os empreendimentos alcançaram o nível de sucesso almejado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A agricultura familiar atualmente é caracterizada como um dos principais seguimentos do espaço agrário do país, e esta se expandido espacialmente através dos assentamentos rurais espalhados por todas as regiões e em número cada vez mais crescente. No estado de Mato Grosso, esses assentamentos surgiram como forma de diminuir os conflitos agrários, dando pouca atenção à realidade geográfica social do território que esses foram implantados, criando inúmeros problemas sociais que dificultam a reprodução socioeconômica dos assentados.

Diante desta realidade o associativismo surge como uma estratégia, um contraponto para transformar este cenário, auxiliando o pequeno produtor na inserção ao mercado, promovendo o desenvolvimento rural e a (re) organização espacial desses territórios.

A associação Dando as Mãos é um exemplo desse associativismo que atua na região sul mato-grossense, fortalecendo a economia solidária nos assentamentos de reforma agrária, através da implantação de agroindústrias variadas de acordo com a realidade de cada assentamento e na

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44852-44864, jul. 2020. ISSN 2525-8761 concessão de microcréditos, objetivando alcançar o desenvolvimento rural e consequentemente à reprodução social desses assentados.

O artigo esta vinculado a pesquisa de doutorado que estuda o papel das associações coletivas como promotoras do desenvolvimento rural em assentamentos de reforma agrária da microrregião geográfica de Rondonópolis-MT, e ainda esta em fase inicial, não apresentando resultados concretos ate o presente momento.

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Referências

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