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Violência doméstica na contemporaneidade: sobre os modos de expressão do sofrimento psíquico feminino / Domestic violence in contemporaneity: about ways of expression of female psychic suffering

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.32369-32377 may. 2020. ISSN 2525-8761

Violência doméstica na contemporaneidade: sobre os modos de expressão do

sofrimento psíquico feminino

Domestic violence in contemporaneity: about ways of expression of female

psychic suffering

DOI:10.34117/bjdv6n5-617

Recebimento dos originais: 29/04/2020 Aceitação para publicação: 29/05/2020

Maria Creusa De Assis Vasconcelos Silva

Graduada em Psicologia pela Faculdade Luciano Feijão Instituição: Faculdade Luciano Feijão (FLF/CE).

E-mail: creusabike@gmail.com

Patrícia Mendes Lemos

Mestre em Psicologia

Instuição: Universidade Federal do Ceara (UFC).

Endereço: Av. Pref. Jacques Nunes, 744, altos, centro, Tianguá /CE, CEP: 62.320-000. E-mail: ptmenl_78@hotmail.com

RESUMO

Em vista das discussões realizadas, desde o ano de 2006, quando a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) entrou em vigor, os casos de violência doméstica tiveram uma maior visibilidade em nosso país. Através de uma pesquisa bibliográfica objetivamos compreender o fenômeno da violência doméstica na sociedade contemporânea. Voltamo-nos principalmente para o fenômeno da violência psicológica, realizando discussões pertinentes que chamam a atenção para os modos de sofrimento psíquico atuais, que assolam o gênero feminino.

Palavras-chave: Violência Doméstica. Sofrimento Psíquico. Feminino.

ABSTRACT

In view of the discussions held since 2006, when the Maria da Penha Law (Law 11.340 / 06) came into force, domestic violence cases have become more visible in our country. Through a bibliographical research we aim to understand the phenomenon of domestic violence in contemporary society. We turn principally to the phenomenon of psychological violence, conducting pertinent discussions that call attention to the current modes of psychic suffering, which devastate the feminine gender.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.32369-32377 may. 2020. ISSN 2525-8761

1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que após a Lei Maria da Penha ter entrado em vigor no ano de 2006 (Lei 11.340/06) os casos de violência doméstica tiveram uma maior visibilidade no país. Partimos da seguinte reflexão: como se pode compreender a continuidade desses episódios de violência mesmo com esse aparato jurídico? Há diversas questões por trás desse questionamento, pois há dúvidas sobre até onde vai o âmbito legal na proteção efetiva das vítimas.

Consta-se que o aumento das denúncias não cessa e a violência permanece alcançando números alarmantes e expressões cada vez mais cruéis. Na realidade encontrada, as mulheres, apesar de sofrerem violência acreditam na mudança do agressor e se implicam num círculo de violência que se repete e se caracteriza por fases distintas: tensão, episódios agudos de violência e lua de mel (GREGORI, 2016).

Dessa forma, o que se detecta como um sofrimento aparentemente inexplicável é a violência psicológica. Por esse motivo, este trabalho objetiva compreender o fenômeno da violência doméstica na sociedade contemporânea, priorizando a violência psicológica, ressaltando algumas reflexões sobre os modos atuais de sofrimento psíquico, para o gênero feminino.

Para alcançarmos o nosso objetivo, pautamo-nos em uma pesquisa qualitativa tendo como metodologia a revisão bibliográfica e análise fenomenológica dos conteúdos estudados. Dessa maneira, consultamos obras científicas nacionais como livros e artigos disponíveis online, nas bases de dados: scielo, google acadêmico e biblioteca virtual em saúde.

Entretanto, faz-se necessária a contextualização de como surgiu a legislação de defesa dos direitos da mulher vítima de violência, ou melhor, um pouco do histórico sobre, por exemplo, que que fez com que o Brasil sofresse uma punição pela OEA (Organização dos Estados Americanos). Ainda se mostra importante compreender que fatores foram importantes para os conceitos contemporâneos acerca do fenômeno da violência doméstica, assim como trazer um pouco do significado do contexto social da contemporaneidade para melhor expor esses modos atuais de expressão do sofrimento psíquico feminino.

Nesse sentido, a realização deste trabalho foi motivada pela nossa participação no Grupo de Estudos em Sofrimento Psíquico Contemporâneo na perspectiva fenomenológica e no Projeto de pesquisa: A aplicação da Justiça Restaurativa nos Juizados sobralenses de violência doméstica: realidade ou utopia? Ambos promovidos pela coordenadoria de pesquisa da Faculdade Luciano Feijão.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.32369-32377 may. 2020. ISSN 2525-8761 Em nossa experiência foi motivador pesquisarmos e compreendermos a violência psicológica, cuja dinâmica pode ser sustentadora das demais formas que a violência expressa, estando relacionada ao papel social da mulher, sua dinâmica psicológica, assim como a dita

cultura do machismo. As reflexões a seguir assumem uma função social relevante.

2 CONCEITO E HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Na maioria das vezes os casos de violência doméstica se originam da desigualdade de gênero que é mantida nas relações entre homens e mulheres, cuja prática é historicamente disseminada pela humanidade, tornando-se entrelaçada na cultura de muitas sociedades.

Dessa maneira, podemos notar a visibilidade dos casos de violência com a Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, que tem seu histórico pautado por constantes lutas em defesa da mulher levando tal nome em homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes (FERNANDES, 2010).

A referida mulher foi vítima de violência doméstica, e protagonista de diversas formas de agressões, tendo sofrido duas de tentativas de homicídios. Contudo, esta mulher lutou por vinte anos para ver seu marido preso, e assim aconteceu. O Brasil teve a condenação pela Corte Interamericana de Direto o dever de formular uma lei que protegesse a mulheres vítimas de violência, ou seja, o caso levou à punição do Brasil pela OEA.

Diante disso, observa-se a criação de uma lei que objetiva proporcionar uma proteção integral a mulher, e também garantir a ela e seus dependentes o acompanhamento a serviços de proteção e assistência social. Além disso, uma maior segurança foi garantida com a implantação das medidas protetivas, assegurando a integridade física e psicológica da mulher e seus familiares. Como podemos observar a seguir:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

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b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisório (BRASIL, 2006).

Outro aspecto também classificado na Lei foi a prisão do agressor, pois qualquer conduta que descaracterize o que está descrito na Lei 11.340 pode ocorrer sua prisão.

Entretanto, no artigo 5º da lei elenca os tipos de violência doméstica, constituindo esta qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (BRASIL, 2006). Ou seja, esse tipo de violência é subdivida em física, moral, psicológica, patrimonial e sexual. Referenciando a violência psicológica, a qual é pontuada como análise desse estudo, na lei sublinha da seguinte maneira:

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação (BRASIL, 2006).

Como visto, refere-se a uma ligação de comportamentos que apresentam o objetivo de tornar a mulher um objeto manipulável a qualquer tempo, sendo exemplo de comportamentos que inferiorizam as atitudes tomadas por ela: ações que criticam sua aparência, humilhações de toda ordem, tortura e manipulação, ameaça e quaisquer atos que prejudiquem sua autoestima, ou que contribuam para o jogo psicológico que culmina e fortalece a dependência em relação ao companheiro.

3 O CÍRCULO DE VIOLÊNCIA

Ressaltamos a ocorrência do círculo de violência que se repete nos casos de violência contra a mulher e se define por fases distintas: A evolução da tensão, que é quando há os

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.32369-32377 may. 2020. ISSN 2525-8761 primeiros indícios de violência sendo ainda verbal, mas onde já se pode perceber a violência psicológica. Em segundo, A explosão, quando há a agressão física, e logo a fase da Lua de mel, onde o agressor promete mudanças e age de forma “gentil e amorosa”, levando a vítima a confiar e ter esperança na transformação do parceiro. Dessa forma, o círculo de violência continua ocorrendo e se perpetuando nas relações( Stecanela, et al, 2009).

Gregori (2016 apud DIAS, 2010), em seu livro que leva em consideração a efetividade da Lei Maria da Penha, descreve sobre o círculo de violência, no qual acontece o pacto do silêncio, a autora menciona:

O silêncio passa à indiferença e às reclamações, reprimendas, reprovações. Depois vêm os castigos, as punições. Os gritos transformam-se em empurrões, tapas, socos, pontapés, num crescer sem fim. As agressões não se cingem à pessoa da vítima, o varão destrói seus objetos de estimação, a envergonha em público, a humilha diante dos filhos. Sabe que estes são seu ponto fraco e os usa como massa de manobra, ameaçando maltratá-los. O vitimizador sempre atribui a culpa à mulher, tenta justificar seu descontrole na conduta da vítima, suas exigências constantes de dinheiro, seu desleixo para com a casa e os filhos. Alega que foi ela quem começou, pois não faz nada certo, não faz o que ele manda. Ela acaba reconhecendo que em parte a culpa é sua. Assim o perdoa. Para evitar a nova agressão, recua, deixando mais espaço para a agressão. Depois... vem o arrependimento, pedidos de perdão, choro, flores, promessas. A vítima sente-se melhor e acredita que ele vai mudar, e sente-se protegida, amada, querida (Gregori, 2016 apud DIAS, 2010).

Para Stecanela e Ferreira (2009), estão em jogo nesse processo os aspectos culturais que envolvem o lugar que essas mulheres ocupam na relação que estabelecem com os companheiros. A cultura, nesse caso, envolve um conjunto de significados que elas constroem e partilham em seus processos de socialização, como forma de explicar as vivências com a violência de quem são vítimas.

Ainda em suas pesquisas, Stecanela e Ferreira (2009), a partir dos relatos das mulheres vítimas de violência expõem que a violência psicológica, decorrente dos comportamentos do agressor, quase não aparece nas narrativas das mulheres vítimas, indicando fortes marcas da banalização da violência. Esta experiência acaba sendo entendida como algo natural e tolerável.

Com isso, podemos refletir o que realmente pode ser considerado violência para a maioria das mulheres, pois aparentemente o que pode ser classificado como violência é somente a agressão física, ato que gere dor física, e isso faz com que a maioria das vítimas não denunciem

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.32369-32377 may. 2020. ISSN 2525-8761 quando são chamadas de nomes ofensivos, ou até mesmo quando são humilhadas e privadas de diversas atividades.

Dessa maneira, o que se observa nas pesquisas é que a agressão psicológica tem dados de ocorrência inferiores à agressão física, isso pelo fato de muitas vítimas não perceberem ou não darem importância a essa forma de violência, o que poderia ocorrer desde o primeiro grito, humilhação, constrangimento, entre outros modos de expressão, que levassem à denúncia do agressor, como acontece quando se concretiza a violência física, apesar daquela acontecer muito antes.

Na maioria das vezes, a violência psicológica é naturalizada no ambiente familiar, o que explica a dificuldade da vítima para identificá-la. Prova disso é que, somente quando o agressor vai além dessa espécie de violência, a vítima se sente motivada a denunciar, prevalecendo o discurso de: ”dessa vez ele passou dos limites porque me agrediu”.

Portanto, a violência psicológica torna-se menos perceptível por ser um tipo de violência muito subjetiva. O que é notório na maioria dos casos de violência doméstica são as agressões físicas, pois se percebe com maior facilidade, onde fica subtendido que somente esse tipo de violência pode ser reconhecido socialmente.

4 SOBRE OS MODOS DE EXPRESSÃO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO FEMININO NA COMTEMPORANEIDADE

Vale mencionar que o sofrimento psíquico constitui toda forma de opressão, de discriminação que possa surgir nas relações sociais, ou melhor, significa a condição a que a mulher é submetida a partir de uma cultura do machismo, onde a mulher não tem o mesmo espaço, as mesmas condições, as mesmas oportunidades que os homens, entre outros aspectos. Assim podemos nos questionar sobre como o sofrimento psíquico feminino se expressa na contemporaneidade. Trata-se de uma questão que por muitas vezes parece pouco concreta, mas que na realidade o sofrimento é vivenciado nas relações de forma bastante visível e desconfortável.

Nessa perspectiva, podemos perceber o sofrimento psíquico da mulher tem relação à opressão a que essa mulher se submete nas relações de violência, de abuso, de poder, de dominação e de não comunicação de suas necessidades emocionais, das dificuldades de empoderamento feminino, assim como a não inserção em alguns espaços de participação. Quando a mulher vivencia um sofrimento que é imposto por essas condições sociais e pelo

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.32369-32377 may. 2020. ISSN 2525-8761 contexto histórico, então estamos falando dessas expressões atuais de sofrimento psíquico... pessoal!!!

Tem relação ao que diz respeito ao que desde cedo as mulheres aprendem sobre qual o papel do homem e qual o papel da mulher, o que é apropriado para cada gênero, como também o comportamento a ser expresso por homens e mulheres, como diversas outras concepções que vamos formando ainda quando criança, seja na família ou na escola, no contexto social em que vivemos.

Criamos também concepções que afetam a imagem dos gêneros, exemplos como: a mulher é a cuidadora do lar, mãe, esposa e submissa ao marido. Não podemos deixar de levar em conta que biologicamente a mulher tem toda a tendência de ser mãe, mas na verdade limitamo-la de pode ser o que quiser, de ter um trabalho, de ter a oportunidade de escolhas e de se expressar de forma como se compreende enquanto mulher.

Além disso, também criamos concepções ao gênero masculino como, por exemplo, o homem não pode chorar. Será mesmo que o homem não pode sentir emoções e ser frágil? Tudo isso são concepções criadas pela sociedade desde antiguidade e que acabam refletindo na forma como agimos.

Portanto, a mulher que cresce sendo ensinada a ser submissa ao homem, tudo pode ter relação com ações de violência pelo fato de ser criada a concepção de dominação por parte homem a mulher que é frágil e submissa e o homem que é forte e dominador. E assim, essas mulheres carregam consigo as representações que tem sobre violência (Fonseca, et al, 2012).

Os autores Fonseca, Ribeiro e Leal (2012) vêm dar ênfase na realidade prática e cotidiana dessas mulheres vítimas de violência, discorrendo da seguinte maneira:

Faz-se necessário conceber as mulheres vítimas de violência como sujeitos sociais que carregam em si as características culturais do gênero que (...) é uma construção social, e tem colocado o homem numa situação de dominação sobre a mulher ao longo da história (p. 307).

E todos esses modos de expressão da violência sofrida pela mulher afeta e interfere nas esferas de convívio social, saúde psicológica, qualidade de vida e ocupação profissional (FONSECA, RIBEIRO, LEAL, 2012).

Considerando que o segundo espaço que as mulheres frequentam são os trabalhos. Segundo o Banco Mundial, um em cada cinco dias de falta ao trabalho é causado pela violência

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.32369-32377 may. 2020. ISSN 2525-8761 sofrida pelas mulheres dentro de suas casas; a cada cinco anos, a mulher perde um ano de vida saudável se ela sofre violência doméstica. Na América Latina, a violência doméstica atinge entre 25% a 50% das mulheres. Uma mulher que sofre violência doméstica geralmente ganha menos do que aquela que não vive em situação de violência. Estima-se que o custo da violência doméstica oscila entre 1,6% e 2% do PIB de um país, fatos esses que demonstram que a violência contra a mulher sai do âmbito familiar e atinge a sociedade como um todo, configurando-se em fator que desestrutura o tecido social (FONSECA, RIBEIRO, LEAL, 2012).

Então, os modos de expressão do sofrimento psíquico feminino são diversos, pois este se manifesta no contexto histórico, cultural, até a experiência psíquica de muitas mulheres.

Já que em tempos anteriores a atitude psicológica não era considerada forma de violência, por exemplo, o marido podia ter relações com outras mulheres e ela teria que aceitar e está sempre disposta ao seu marido, na contemporaneidade essa prática é considerada como abuso sexual (OLIVEIRA, M. A., et al, 2014).

Portanto, dependendo do contexto, local e época em que estamos vivendo, a compreensão do que é ou não considerado sobre violência de gênero podem ser vistos de formas distintas. Por isso, o sofrimento psíquico provocado pelo fenômeno da violência psicológica não pode prescindir de seu contexto sócio-histórico e cultural. Na contemporaneidade, essa forma de violência é pouco reconhecida, sendo o sofrimento decorrente, uma vivência velada e desconsiderada, o que pode estar relacionado ao agravamento do ciclo da violência doméstica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência doméstica contra a mulher está presente em nossa sociedade desde os primórdios da existência do ser humano, o qual perpassa todos os contextos históricos. Mas que se tornou claro após o entendimento da OEA (Organização dos Estados Americanos) quando puniu o Brasil pelo o caso da Maria da Penha Maia Fernandes, conhecida como a lei Maria da Penha, a lei 11.340/06. Desse modo, entendemos como uma classificação muito recente, principalmente quando se trata dos tipos de violência.

Nesse caso a violência psicológica passa muitas vezes despercebida pela a sociedade, mas que ocasiona severas consequências para o gênero feminino, principalmente no que se diz respeito aos modos de expressões de sofrimento que são postos na contemporaneidade, assim gerando um sofrimento inexplicável a mulher vítima de violência doméstica.

Assim, devem ser considerados diversos fatores que ocasionem a violência psicológica feminino, onde também deve-se desmistificar a ideia que sempre a mulher assume o papel de

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.32369-32377 may. 2020. ISSN 2525-8761 vítima, e visualizar as relações patológicas que se estabelecem entres os sujeitos. Há que se considerar o contexto e a cultura em estão inseridos, para melhor identificar como se assumem as relações de poder em homens e mulheres.

Portanto, a relação disso com a contemporaneidade é muito pertinente, principalmente quando trata-se do gênero feminino, no qual há diversos conceitos pré-estabelecidos culturalmente o papel que esta mulher se posiciona socialmente. Faz necessário, portanto, o compromisso de toda a sociedade para se estabelecer discussões com vistas ao fomento de medidas preventivas, inclusive no seio familiar, a fim de quebrar dogmas ultrapassados que não mais estão de acordo com o desenvolvimento humano e social, garantindo a proteção integral à mulher e o respeito à dignidade da pessoa humana.

REFERÊNCIAS

_____. Lei n. 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: < cartoescaixa.caixa.gov.br>. Acesso em: 22 fev. 2017.

GREGORI. J. (2016) apud DIAS, M. B. A Lei Maria da Penha na Justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. Disponível em: < http://www.cchla.ufpb.br/ppgdh/wp-content/uploads/2017/02/Lei-Maria-da-Penha-e-Garantia-de-Direitos-Humanos.pdf>. Acesso em 05 de março de 2017.

DA FONSECA, Denire Holanda; RIBEIRO, Cristiane Galvão; LEAL, Noêmia Soares Barbosa. Violência doméstica contra a mulher: realidades e representações sociais. Psicologia &

Sociedade, v. 24, n. 2, p. 307-314, 2012. Disponível em: <

http://www.scielo.br/pdf/psoc/v24n2/07>. Acesso em: 05 de março de 2017.

FERNANDES, M. P. M. Sobrevivi posso contar. Fortaleza: Armazém da cultura, 2010.

STECANELA, Nilda; FERREIRA, Pedro Moura. Mulheres e direitos humanos: desfazendo imagens,(re) construindo identidades. Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis, v. 6, n. 1, p. 151-178, 2009.

PRAGMÁCIO, OLIVEIRA, ALMEIDA. Abuso de álcool e sofrimento psíquico no contexto de violência doméstica entre parceiros íntimos (cap. 13, p. 281-295). In: Sofrimento psíquico e a

cultura contemporânea: perspectivas teórico-clínicas/Organizadores, Marluce Alves de

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