• Nenhum resultado encontrado

Agricultura e biodiversidade: uma diversidade de temas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Agricultura e biodiversidade: uma diversidade de temas"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)13. Agricultura e biodiversidade: uma diversidade de temas JOSÉ MANUEL LIMA SANTOS Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa. A atual relevância das relações entre agricultura e cola depende da manutenção de uma ampla base &,!&3"/0&!!"-,!"0"/'201&Ɯ !"*1/Ĉ0-)+,0ǽ !"!&3"/0&!!"$"+ć1& ǽ010"1"*Ǿ+,"+1+1,Ǿ * -/&*"&/, )2$/Ǿ  ,+'2$ýé, !  ")"/ýé, ! 3&+!,  "01/"&1/Ȓ0" !"3&!, .2"/ æ "0-" &)&7ýé, perda de biodiversidade à escala planetária com o progressiva da produção agrícola moderna num !"0Ɯ,!"2*"+1/0&$+&Ɯ 1&3*"+1"-/,!2ýé, pequeno leque de espécies e variedades mais proagrícola global até 2050, dutivas, quer à redução da tendo presente que a desdiversidade genética selvaEste nexus entre a crise de truição de habitat natural gem mais relevante para o biodiversidade, já em curso, e uma por expansão da superfície melhoramento de plantas possível crise de aprovisionamento cultivada constitui o princie animais domésticos no )&*"+1//".2"/.2",0!"0Ɯ,0"* pal fator de perda de bioâmbito da atual crise geral ambas as áreas (biodiversidade e !&3"/0&!!"Ǿ #7 -/"3"/ ")"da biodiversidade. )&*"+1ýé,Ȝ1"+%*/"0-,010"Ɯ 7"0" vadas taxas de declínio da articuladas. biodiversidade num futuro * 1"/ "&/, )2$/Ǿ  -"/! -/Ń5&*,ǽ01"nexus entre a crise de biodiversidade, de biodiversidade é também uma perda de diverjá em curso, e uma possível crise de aprovisionasidade funcional, da qual resultam ecossistemas *"+1,)&*"+1//".2"/.2",0!"0Ɯ,0"**0 ), &0 *"+,0 /"0&)&"+1"0 " *"+,0 -7"0 !" #,/as áreas (biodiversidade e alimentação) tenham necer uma diversidade de serviços de ecossiste/"0-,010"Ɯ 7"0"/1& 2)!0ǽ mas em proveito do bem-estar humano. No que se refere à perda de serviços de ecossistemas, a agri* 0"$2+!, )2$/Ǿ 0"+!,  $/& 2)12/ 2* 1&3&cultura pode ser considerada quer como respon!!" 21&)&7!,/ !" /" 2/sável – como, por exemplo, … a resiliência futura da produção sos genéticos, que permino caso da redução de sertem às espécies de plantas agrícola depende da manutenção de uma 3&ý,0 !" " ,00&01"*0 Ɲ," +&*&0 -,/ ") 21&)&7restais, como a regulação ampla base de diversidade genética. das adaptar-se e respon!" 2!&0 Ɲ23&&0Ǿ /"02)!"/  +,3,0 !"0Ɯ,0 ț-/$0Ǿ !,"+ý0Ǿ )&* "* 1+1" ! !"0Ɲ,/"01ýé, -/ "5-+!&/  02-"/#ģ &" mudança), a resiliência futura da produção agrícultivada – quer como vítima – como, por exem-.

(2) 14 ͛ͬͨͩͭ͛ͨ͟͟͝͞͞Ͷͦͣͭͪͬͩͭͪͮͣ͟͟͟Ͱ͛ CULTIVAR. N.º 8. JUNHO 2017. -),Ǿ +, 0, ! -"/! !" 0"/3&ý,0 !" -,)&+&7ýé,Ǿ controlo biótico de pragas e doenças, e fornecimento de nutrientes pelo ecossistema solo. A proteção destes serviços de ecossistemas usados como inputs produtivos na agricultura é fundamental para ,02 "00,!&+1"+0&Ɯ ýé,!"0"" ,)Ń$& Ǿ2* estratégia de aumento de produção com menores custos ecológicos e económicos (face ao aumento do preço da energia e, portanto, dos inputs industriais com mais elevada incorporação de energia).. que esta ignora a dependência de diversos elementos da biodiversidade face à gestão agrícola exten0&3Ȁ-/,-Ņ"*&+!2*,/!$"*0"!+,0 sistemas agrícolas para informar a política de con0"/3ýé,ǽ/&01&+/+.2&+%,et al. fala da relação entre os serviços dos ecossistemas e a biodiversi!!" .2" )%"0 02'7Ǿ -/ !"-,&0 0" "+1// +2* 0,!""012!,!-"/ "ýé,!Ɯ)"&/!,3&+%,Ǿ-/ tentar compreender de que forma os serviços dos ecossistemas se enquadram na agricultura “e como podem ser promovidos por … a perda de biodiversidade é também Por outro lado, a maior via do conhecimento e gesuma perda de diversidade funcional, parte das dimensões da tão da agrobiodiversidade”. da qual resultam ecossistemas locais biodiversidade, sejam elas Teresa Pinto Correia sublia diversidade de espécies nha a importância da abor*"+,0/"0&)&"+1"0"*"+,0 -7"0 com valor de existência de fornecer uma diversidade de serviços dagem das relações entre para as pessoas, a diversiagricultura, biodiversidade de ecossistemas em proveito do dade genética, muitos sere serviços de ecossistemas bem-estar humano. viços dos ecossistemas e à escala da paisagem, pertambém a diversidade de conhecimentos locais *&1&+!, &!"+1&Ɯ / 2* !&3"/0&!!" !" -/, "00,0 associados, por exemplo, aos agroecossistemas traem curso e de situações-tipos de paisagens difedicionais, têm características de bem público mais rentes, que requerem respostas diferenciadas. Carou menos puro. Por isso, são de esperar múltiplas los Aguiar e Ana Maria Carvalho discutem, por sua falhas de mercado na conservação da biodiversi3"7Ǿ,1"*!$/& 2)12/"+.2+1,21&)&7!,/!" dade, o que implica que os problemas de conserrecursos genéticos, os diversos graus de domestivação associados aos três planos acima referidos ýé, "+3,)3&!,0 +"01 21&)&7ýé, " , -/, "00, !" requeiram também uma resposta em termos de transição entre o agroecossistema orgânico tradipolíticas públicas, ação de entidades representacional e o modelo industrial. tivas de interesses coletivos (associações agrícolas ou ONGA) e não apenas individuais, bem como No resto deste artigo, abordamos as relações entre uma concertação estratégica entre as diversas parsistemas agrários e conservação da diversidade tes interessadas. de espécies no contexto das Áreas Agrícolas de )"3!, ),/ 12/) țȜǾ + 2/,-Ǿ !&01&+Os três planos acima referidos e esta necessidade guindo primeiro os padrões de relação entre agri!"-,)ģ1& 0"01é,"*/"Ɲ"1&!,0+,0!&3"/0,01"*0 2)12/ " &,!&3"/0&!!"Ǿ + 2/,-Ǿ !, -+,/* abordados pelos artigos incluídos na secção “Granmais geral, a nível global. A forte associação entre des Tendências” deste volume da CULTIVAR. Frandeterminados modos extensivos de gestão agrícola &0 , ,/"&/ " :+$") ,* 02)&+%*  &*-,/" ç/"0 ,* ")"3! &,!&3"/0&!!" + 2/,- ćǾ tância da gestão agrícola de baixa intensidade em seguida, interpretada com base na hipótese do produtiva na conservação da biodiversidade assonível intermédio de perturbação proposta por Con&!æ09/"0$/ģ ,)0!")"3!,),/12/)+ nell em 1978. 2/,-Ȁ +"01" ,+1"51,Ǿ ,/!* !" *,!, /ģ1& , a tese do land sparingț&+1"+0&Ɯ ýé,!-/,!2ýé, A nível global, a principal causa direta de perda de $/ģ ,)-/!"&5/*&01"//-/+12/"7ȜǾ-,/biodiversidade reside na destruição de habitats pro-.

(3) Agricultura e biodiversidade: uma diversidade de temas. vocada por transformações do uso do solo, muito gem esta que é superior a 35% em extensas áreas particularmente pela conversão de áreas naturais do Oeste da Península Ibérica, do Centro do Reino em terras agrícolas e de pastagem. Myers (1997) Unido, do Maciço Central francês e do Centro monƜ/* .2" Ȋ!" ),+$"Ǿ  *&,/ *"ý æ &,!&3"/1+%,0, !"

(4) 1ç)& ț$Ĉ+ & 2/,-"& !, *&"+1"Ǿ sidade à escala mundial é a destruição de habitat ǗǕǕǙȜǽ 01 &,!&3"/0&!!" ȋ$/ģ ,)ȋ "2/,-"& "01ç acompanhada por alterações do habitat remanestambém em declínio, mas as causas deste declínio cente e respetiva fragmentação.” (p. 148). Os resulprendem-se agora com o abandono dos usos agrá1!,0!,&))"++&2* ,0601"*00"00*"+1țǗǕǕǚȜ /&,0 "51"+0&3,0 ,2 ,*  02 &+1"+0&Ɯ ýé, ț$Ĉ+apontam no mesmo sentido: ”Praticamente todos & 2/,-"& !, *&"+1"Ǿ ǗǕǕǙȜǽ 2 ("/ " "1% os ecossistemas da Terra foram já dramaticamente țǖǞǞǙǾ &1!,0 -,/ $Ĉ+ & 2/,-"& !, *&"+1"Ǿ transformados pela ação humana. Nos 30 anos que 2004) estimam que 40% das espécies de aves em se seguiram a 1950, maior área de terras foi conver!" )ģ+&,+2/,-0é,#"1!0-")&+1"+0&Ɯ ýé, tida à agricultura do que nos 150 anos entre 1700 e da agricultura e 20% pelo abandono de sistemas 1850.” (p. 42). Além disso, “20 a 50% da área de 9 dos agrários extensivos. 14 biomas globais foi já transformada em terras de cultivo.” (p. 43). Assim, ”no que se refere aos ecosA constatação destas associações positivas entre sistemas terrestres, a mais importante causa direta sistemas agrários extensivos e biodiversidade na de mudança durante os últimos 50 anos tem sido 2/,-!"2,/&$"*2*-/", 2-ýé,-")*+2a transformação do coberto tenção dos sistemas agrá… a nível europeu, a relação entre vegetal. Só os biomas relatirios extensivos (Low Intenagricultura e biodiversidade comporta vamente inadequados para sity Farming SystemsǾ 

(5) Ȁ também aspetos positivos, que não as plantas cultivadas, tais #ǽ &$+) "  / ("+Ǿ transparecem nos diagnósticos globais, ,*, ,0 !"0"/1,0Ǿ 0 Ɲ,1996), ameaçados pela sua restas boreais e a tundra, … dois terços das espécies de aves marginalidade económica/ estão hoje relativamente abandono, ou por oporameaçadas e vulneráveis na Europa intactos.” (p. 49). 12+&!!"0 !" &+1"+0&Ɯ dependem de habitats agrícolas … ção economicamente mais Contudo, pelo menos a nível europeu, a relação atrativas, tais como a conversão ao regadio no Sul entre agricultura e biodiversidade comporta tam!2/,-ǽ&01/!"Ǿ"01-/", 2-ýé,3"&,0"/ bém aspetos positivos, que não transparecem incorporada numa linha de trabalho da Agência nos diagnósticos globais, essencialmente nega2/,-"& !, *&"+1"ǿ 0 9/"0 $/ģ ,)0 !" )"tivos, acima referidos. Por exemplo, aproximada3!, ),/ 12/) țȜ ț$Ĉ+ & 2/,-"& !, mente dois terços das espécies de aves ameaçaAmbiente, 2004). !0"32)+"/ç3"&0+2/,-!"-"+!"*!"%&110 agrícolas (Tucker e Heath, 1994, citados por Agên0 !&3"/0,0 1&-,0 !"  &+ )2"* %&110 1&0 & 2/,-"& !, *&"+1"Ǿ ǗǕǕǙȜǽ 010 "0-ć &"0 como prados e pastagens seminaturais (incluindo , ,//"* 2* -,2 , -,/ 1,!  2/,-Ǿ *0 2* os das regiões alpinas e das terras altas), dehegrande número delas depende de sistemas agrícosasǾ*,+1!,0"-0"2!,Ȓ"01"-"0 "/")ģ#"/0ǽ01"0 )0 "51"+0&3,0Ǿ -/1& 2)/*"+1" +, 2) ! 2/,- 1&-,0 !"  1Ĉ* "* ,*2*ǿ ǖȜ 2* &5, +ģ3") ț$Ĉ+ &2/,-"&!,*&"+1"ǾǗǕǕǙȜǽ)ć*!&00,Ǿ !" &+1"+0&!!" -/,!21&3 " !" /1&Ɯ &)&7ýé, !, ,0 1&-,0 !" %&11 +12/) -/,1"$&!,0 -") &/"agroecossistema, 2) um elevado nível de biodivertiva Habitats que dependem de uma gestão agrísidade e 3) duas ameaças mutuamente exclusivas cola extensiva (28 tipos no total) cobrem 15% da de perda de biodiversidade – o abandono da gesárea designada ao abrigo desta diretiva, percenta1é, $/ģ ,) ,2 -01,/&)Ǿ &+ )2&+!,  Ɲ,/"01ýé, !". 15.

(6) 16 ͛ͬͨͩͭ͛ͨ͟͟͝͞͞Ͷͦͣͭͪͬͩͭͪͮͣ͟͟͟Ͱ͛ CULTIVAR. N.º 8. JUNHO 2017. Ǿ -,/ 2* )!,Ǿ ,2Ǿ -,/ ,21/,Ǿ  &+1"+0&Ɯ ýé,$/ģ ,)ț$Ĉ+ &2/,-"&!,*&"+1"ǾǗǕǕǙȜǽ. 01"0 !&3"/0,0 ģ+!& "0 !" !&3"/0&!!"Ǿ  *ů)1&-),0 níveis de amostragem, são também designados por diversidades de inventário.. 01 00, &ýé, !, ȋ-& ,ȋ ! &,!&3"/0&!!" ,* Se considerarmos, não a diversidade de espécies, um nível intermédio (baixo, mas não nulo) de intena cada nível, mas sim o grau de mudança na comsidade agrícola ou pastoril, explicitada aliás num $/çƜ , -/"0"+1!, -") $Ĉ+ & 2/,-"& !, -,0&ýé, "0-" ģƜ  ț&ǽ"ǽ .2+10 "0-ć &"0 *2!*Ȝ entre pontos dentro do Ambiente (2004, p. 5), evoca O impacte dos sistemas agrários na mesmo ecossistema/manclaramente a hipótese do diversidade de espécies deve ser avaliado cha, entre manchas de uma nível intermédio de perturmesma paisagem, ou entre a diferentes níveis espaciais. bação, proposta por Conpaisagens dentro de uma +"))"*ǖǞǜǝǽ01%&-Ń1"0" mesma região, temos três índices de diferenciação associa o máximo de diversidade de espécies a regide diversidades: mes de perturbação ecológica (por exemplo, fogo) de frequência, escala ou intensidade intermédias, os quais geram um padrão espacial de manchas situadas em diversas etapas de recuperação pós-perturbação (sucessão ecológica), que proporcionam, no seu conjunto, habitat a uma grande diversidade de espécies. O impacte dos sistemas agrários na diversidade de espécies deve ser avaliado a diferentes níveis espaciais. Whittaker (1960 e 1977, citado por Jennings, 1996, e Hamilton, 2005) considera quatro níveis espaciais hierárquicos aos quais se pode proceder à amostragem da diversidade de espécies:. •. diversidade pontual, correspondente a uma amostragem ao nível do micro-habitat, no interior de um ecossistema ou mancha (10-100 m2ȜȀ. •. diversidade alfa, correspondente a uma amostragem ao nível do ecossistema ou mancha țǕǾǖȔǖǕǕǕ%ȜȀ. •. diversidade gama, correspondente a uma amostragem ao nível de uma paisagem, composta por diversos tipos de ecossistemas ou manchas țǖǕǕǕȔǖǕǕǕǕǕǕ%ȜȀ. •. diversidade epsilon, correspondente a uma amos1/$"* , +ģ3") !" 2* /"$&é, &,$",$/çƜ Ǿ composta por diferentes paisagens (1 000 000– 100 000 000 ha).. •. diversidade padrão – mudança na composição "0-" ģƜ  "+1/" -,+1,0 !"+1/, !" 2* *"0*, " ,00&01"*,2*+ %Ȁ"01ç/") &,+! ,* %"1"/,$"+"&!!"&+1"/+!*+ %Ȁ. •. diversidade beta – mudança na composição "0-" ģƜ  "+1/" !&#"/"+1"0 " ,00&01"*0 ȡ*+%0!"+1/,!"2**"0*-&0$"*Ȁ"01ç/")cionada com a heterogeneidade entre ecossiste*0Ȁ. •. diversidade delta – mudança na composição "0-" ģƜ  "+1/" !&#"/"+1"0 -&0$"+0Ǿ , ),+$, !" 2* $/!&"+1" &,$",$/çƜ , -/&+ &-) ț )&*ç1& , ,2 Ɯ0&,$/çƜ ,ȜǾ .2" /"-/"0"+1 .2& , "&5, de heterogeneidade subjacente.. A título de exemplo, pense-se num sistema agro-01,/&) !" *,+1+% .2" &+1/,!27&2Ǿ , ),+$, !, tempo, espaços abertos – pastagens mantidas pelo fogo e pelo pastoreio, terras de cultivo e prados de feno ou lameiros – numa paisagem originariamente !,*&+! -,/ 2* ,*2+&!!" Ɲ,/"01) +12/)Ǿ ,*, , /3)%) !" #,)% !2 ǽ 01" "5"*-), é muito característico de diversas áreas de montanha do Norte e Centro de Portugal, muitas delas )00&Ɯ !0 ,*, ç/"0 -/,1"$&!0 ,2 0ģ1&,0 ! Rede Natura 2000. A introdução do sistema agropastoril implica perda e fragmentação do carvalhal, podendo perder-se algumas espécies característi-.

(7) Agricultura e biodiversidade: uma diversidade de temas. 0 !, &+1"/&,/ ! Ɲ,/"01 ț-,/ ,-,0&ýé, æ0 "0-ć&"0 !" ,/)Ǿ .2" -,!"/é, 0"/ "+"Ɯ &!0ȜȀ !"01" *,!,Ǿ  !&3"/0&!!" )# ! ,*2+&!!" Ɲ,/"01) poderá diminuir.. Neste balanço de espécies ganhas e perdidas, há que ter em conta o estatuto de conservação das diversas espécies a níveis hierarquicamente superiores, isto é, ao nível nacional, regional ou mesmo global.. !27&!0 æ "51&+ýé, ), ) țǽǽǽȜǽ "01" *,!,Ǿ , /ç &, de espécies exóticas face às nativas e a análise, ao +ģ3")-,-2) &,+)Ǿ!""51&+ýŅ"0" ,),+&7ýŅ"00é, frequentemente mais úteis para o planeamento e gestão da conservação do que a simples evolução do número de espécies.” (p. 284). Contudo, se este é ou não o caso só pode ser determinado empiri*"+1"ǽ Ǿ +, 0, !" *2&10  + 2/,-Ǿ muitas das espécies ganhas apresentam, de facto, um elevado estatuto de conservação, frequente*"+1"*&,/!,.2",!"*2&10!0"0-ć &"0Ɲ,restais naturalmente ocorrentes na área. A refe/Ĉ+ & +1"/&,/ æ0  + 2/,-Ǿ 2' -/" &,0 biodiversidade está ameaçada quer pela intensiƜ ýé, $/ģ ,) .2"/ -"), +!,+, ț&01, ćǾ -") /"+12/)&7ýé,ȜǾ*,01/)$2+0)&*&1"0æ-)& ýé, $"+"/)&7!!.2")3)&ýé,+"$1&3!,0&Ń),gos da conservação, geralmente americanos, face ao impacte dos sistemas agrários na biodiversidade. Nomeadamente em contextos, como determinadas áreas europeias, em que está em causa 2*-/, "00,$"+"/)&7!,!"+!,+,$/ģ ,)" retoma da sucessão secundária (e não uma expansão de área agrícola por conversão de ecossistemas +12/&0Ǿ ,*, ,+1" "Ǿ-,/"5"*-),Ǿ"*7,+0!" Ɲ,/"011/,-& )ȜǾ3)&ýé,!,&*- 1"!,00&01"mas agrários na biodiversidade parece ser, assim, *&0 ,*-)"5"*1&7!ǽ. Neste tipo de avaliação das espécies ganhas e perdidas, diversos biólogos da conservação invocam frequentemente o estatuto pouco valioso (weedy) das espécies ganhas com a intervenção humana para chegarem a uma avaliação essencialmente negativa do impacte desta intervenção na biodiversidade. Nas palavras de Noss e Csuti (1997), ”A subdivisão ou fragmentação de habitats pode aumentar o número de espécies, mas frequentemente favorece espécies weedy – isto é, aquelas que prosperam em áreas perturbadas pelo homem – relativamente às espécies mais sensíveis. Muitas reservas naturais pequenas e isoladas são bastante ricas em espécies, mas as espécies exóticas e oportunistas substituíram espécies nativas, que foram con-. Se levarmos o nosso exemplo um pouco mais longe, poderemos prever uma fase subsequente da ocu-ýé,%2*+"*.2"Ɲ,/"01+12/)ć-/,$/"00&3*"+1" #/$*"+1! "Ǿ Ɯ+)*"+1"Ǿ ")&*&+! da paisagem, sendo substituída por formações abertas, dominadas por cultivos extensivos, pousios e/ou pastagens. As espécies mais dependentes do coberto arbóreo terão agora desaparecido. A diversidade beta (anterior contraste entre man%0ȡ ,*2+&!!"0 Ɲ,/"01&0 " "0-ý,0 "/1,0Ȝ será agora menor, mas poderão ter aparecido novas espécies dependentes de grandes espaços abertos estepários. No que se refere ao número de espécies à escala da paisagem (diversidade gama), ele será provavelmente menor do que no ecossistema. Contudo, cria-se uma elevada heterogeneidade entre ecossistemas à escala da paisagem: 1) entre  ,*2+&!!" Ɲ,/"01) " 0 ,*2+&!!"0 "/10 /&!0 -") &+1"/3"+ýé, %2*+Ȁ " ǗȜ "+1/" as diversas manchas de comunidades abertas em diferentes momentos da sucessão ecológica post-fogo, post-pastoreio ou post-lavoura (fases herbá"0Ǿ02/201&30Ǿ/201&30"Ɲ,/"01&0Ȝǽ/"0 "Ǿ assim, a diversidade beta, isto é diversidade de elenco de espécies entre ecossistemas, e aparecem novas espécies, que ocupam os habitats abertos (previamente inexistentes ou mais exíguos). Se estas novas espécies dos espaços abertos supera/"*Ǿ "* +ů*"/,Ǿ 0 "0-ć &"0 Ɲ,/"01&0 &+1"/&,/"0 que eventualmente sofram extinção local, crescerá também a diversidade gama (i.e., ao nível da paisagem).. 17.

(8) 18 ͛ͬͨͩͭ͛ͨ͟͟͝͞͞Ͷͦͣͭͪͬͩͭͪͮͣ͟͟͟Ͱ͛ CULTIVAR. N.º 8. JUNHO 2017. Ɲ,/"01) ,/&$&+ç/&,ǿ *"+,/ ,*-)"5&!!" "01/212cies, com elevada capacidade de dispersão e ocural do ambiente, logo menor diversidade alfa, con-ýé, ț ,),+&7!,/0 -,/ 3, ýé,Ȝ !"-"+!"* ! jugada com menor diversidade beta, como vimos. existência de perturbações. Outras espécies, como No entanto, é possível que as espécies dos espaços plantas intolerantes face à sombra, dependem tamabertos, entretanto ganhas, tenham um estatuto de bém da existência de perturbações periódicas, que ,+0"/3ýé, *&0 ")"3!, !, .2" 0 "0-ć &"0 Ɲ,bloqueiem a sucessão para cobertos arbóreos mais /"01&0 -"/!&!0ǽ 01" ć "#"1&3*"+1" , 0, +2* densos. estudo comparativo condu… a hipótese do nível de perturbação 7&!,-,/1,1"et al. (2003), Na ausência de perturbaintermédio, segundo a qual a que compara o ecossistema ções, outras espécies – biodiversidade é máxima em montado (mais próximo aquelas com maior capaecossistemas sujeitos a perturbações ! Ɲ,/"01 +12/)Ȝ ,* cidade competitiva – vão a pseudo-estepe cerealí- intermédias quanto à respetiva extensão, eliminando as concorrenfera de sequeiro no Sul de tes e o número de espécies frequência e intensidade. Esta noção Portugal. Os autores conpode diminuir. Fica então questionou velhas ideias segundo as cluem que: ”embora o monclara uma função ecológica quais a diversidade biológica seria tado suporte uma superior da perturbação: criar manmáxima em ecossistemas em equilíbrio diversidade de espécies chas de habitat adequado (clímax da sucessão) e não perturbados. à escala local, as estepes para as espécies abundanaráveis extensivas contribuem de modo importes nas etapas iniciais da sucessão, mas que são tante enquanto habitat para espécies globalmente sucessivamente excluídas pela competição em etaameaçadas como a abetarda Otis tarda, o francepas mais avançadas. Por outro lado, perturbações lho Falco naumanni e outras espécies cujo estado muito extensas, frequentes ou intensas podem elide conservação é preocupante a nível nacional ou minar grande parte das espécies de paisagens inteiglobal. Neste estudo, a maior parte das espécies ras, restando apenas as mais tolerantes ao tipo de observadas no montado são espécies de transiperturbação em causa. ção, que também ocorrem noutros tipos de habi11ǽ010"0-ć &"0$"+"/)&010+é,"01é,1é,*""01" *,!,Ǿ 2* -&0$"* 02'"&1  2* /"$&*" çadas como aquelas que dependem das condições de perturbações de extensão, frequência e inten"0-" ģƜ 0 00, &!0 æ0 "01"-"0 /ç3"&0 "51"+0&0&!!"&+1"/*ć!&0Ǿ / 1"/&7!-,/*+ %0"* vas” (p. 38). diversas etapas da sucessão ecológica (que se inicia logo após a perturbação) proporcionará um meio Alguns destes efeitos positivos de sistemas agrários variado, que fornecerá habitat a um considerável extensivos na biodiversidade podem ser mais bem +ů*"/, !" "0-ć &"0ǽ 010 "+ ,+1/* 0"*-/"Ǿ "* "+1"+!&!,0 æ )27 ! %&-Ń1"0" !, +ģ3") &+1"/*ć!&, cada momento no tempo, uma mancha de habitat de perturbação acima referida. Uma perturbação favorável onde sobreviver e a partir da qual coloecológica é uma mudança temporária nas condi+&7/ ,21/0 *+ %0 !" %&11 .2" 3é, 02/$&+!, ções ambientais (incêndio, cheia, seca, invasão de ao longo do ciclo ”perturbação – sucessão – perpragas...) que muda profundamente a estrutura de turbação”. uma comunidade ou de um ecossistema e a disponibilidade de recursos, incluindo o substrato ou o Foi com base nestas ideias que Connell propôs, em *&"+1"#ģ0& ,ț"ƛ""//,))ǖǞǞǜȜǽ2&10-)+1978, a hipótese do nível de perturbação intermé10 " +&*&0 "+"Ɯ &* !0 ,+!&ýŅ"0 /&!0 dio, segundo a qual a biodiversidade é máxima em por uma perturbação, sendo que algumas espéecossistemas sujeitos a perturbações intermédias.

(9) Agricultura e biodiversidade: uma diversidade de temas. quanto à respetiva extensão, frequência e intensi!!"ț"ƛ""//,))ǖǞǞǜȜǽ01+,ýé,.2"01&,+,2 velhas ideias segundo as quais a diversidade biológica seria máxima em ecossistemas em equilíbrio (clímax da sucessão) e não perturbados.. "#"/Ĉ+ &0&)&,$/çƜ 0. %&-Ń1"0"/"-/"0"+1Ȓ0"$/Ɯ *"+1"+#,/*!" 2*&+3"/1&!,+2*$/çƜ , ,*,+ģ3")!"-"/12/bação (frequência, intensidade ou extensão) em abcissas e a diversidade de espécies ao nível da paisagem (diversidade gama) em ordenadas. Como 3&*,0  &*Ǿ  "5&01Ĉ+ & !"  02$"/" .2" , nível de biodiversidade em determinados sistemas agrários europeus assume a forma de um U inver1&!,+2*$/çƜ ,"*.2",+ģ3")!"&+1"+0&!!"$/ģcola está representado em abcissas. A intensidade agrícola está associada à intensidade e frequência !"-"/12/ýŅ"0/1&Ɯ &&01&0 ,*,)3,2/0Ǿ!2bações, aplicações de herbicidas ou inseticidas, ,)%"&10,2"-&0Ń!&,0!"-01$"*ǽ"01"*,!,Ǿ &!"&!" ,*,-& ,!"!&3"/0&!!""*+ģ3"&0 intermédios de intensidade coincide com a hipó1"0" !" ,++"))Ǿ 0" &!"+1&Ɯ /*,0 +ģ3") !" &+1"+0&!!" ,* +ģ3") !" -"/12/ýé,ǽ  0" , *,!"), subjacente de resposta da diversidade for este, a ,-ýé, !" /"+12/)&7ýé, ț+!,+, ! $"01é,Ȝ não será necessariamente a melhor opção em ter*,0 !" ,+0"/3ýé,ǽ

(10) $2)*"+1"Ǿ  &+1"+0&Ɯ ýé, produtiva numas terras para entregar as restantes à +12/"7țland sparing) não será também uma boa opção em termos de conservação (ver também o artigo de Moreira e Lomba neste volume).. ,++"))Ǿ ǽ ǽ țǖǞǜǝȜǿ &3"/0&16 &+ 1/,-& ) /&+ #,/"010 +! coral reefs, Science, vol. 199, págs. 1302-1310. &$+)Ǿǽ"ǽ / ("+țǖǞǞǛȜǿ%" ,),$& )"0,2/ "0,# 2/,-"+ /*)+!Ǿ "*ǿ ǽ %&16 ț"!ǽȜ The European Environment and CAP reform. Policies and Prospects for Conservationǽ

(11) +1"/+1&,+)Ǿ))&+$#,/!Ǿ5,+ǾǾ págs. 26-42. $Ĉ+ & 2/,-"& !, *&"+1" țǗǕǕǙȜǿ High Nature Value Farmland. Characteristics, Trends and Policy Challenges. $Ĉ+ &2/,-"&!,*&"+1"Ǿ,-"+%$ Hamilton, A. J. (2005): Species diversity or biodiversity?, Journal of Environmental Management, vol. 75, págs. 89-92 "++&+$0ǾǽǽțǖǞǞǛȜǿ,*" )"0#,/"0 /&&+$&,!&3"/0&16ǽ  2))"1&+ 2*"/ ǚ ț 2+" ǖǞǞǛȜǽ  +)60&0 Program, Moscow, Idaho (http://www.gap.uidaho.edu/ bulletins/5/ssfdb.html acedido 24-06-2007) "ƛ"Ǿ ǽ ǽ " ǽ ǽ //,)) țǖǞǞǜȜǿ ,+0"/31&,+ "0"/3"0 &+ "1"/,$"+",20+!0 -"0Ǿ"*ǿ ǽǽ"ƛ""ǽǽ/roll (eds.), Principles of Conservation BiologyǽǗɪ!&ýé,ǽ Sinauer Associates Publishers, Sunderland, Massachusetts, págs. 305-343 &))"++&2*  ,0601"* 00"00*"+1 țǗǕǕǚȜǿ Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Sinthesis. World Resour"0

(12) +01&121"Ǿ0%&+$1,+ 6"/0Ǿ ǽ țǖǞǞǜȜǿ ),) &,!&3"/0&16

(13)

(14) ǿ ,00"0 +! 1%/"10ǽ *ǿ ǽǽ"ƛ""ǽǽ//,))ț"!0ǽȜǾPrinciples of Conservation BiologyǽǗɪ!&ýé,ǽ&+2"/00, &1"02)&0%"/0Ǿ Sunderland, Massachusetts, págs. 123-158 ,00Ǿǽ ǽ"ǽ021&ǽțǖǞǞǜȜǿ &11 /$*"+11&,+ǽ*ǿ ǽ ǽ"ƛ""ǽǽ//,))ț"!0ǽȜǾPrinciples of Conservation Biologyǽ Ǘɪ !&ýé,ǽ &+2"/ 00, &1"0 2)&0%"/0Ǿ 2+derland, Massachusetts, págs. 269-304 1,1"Ǿ ǽǾ ǽ /ů', " ǽ ,//)%, țǗǕǕǘȜǿ ,+0"/31&,+ ,# european farmland birds: abundance and species diversity, Ornis Hungarica, vols. 12-12, págs. 33-40 Tucker, G. M. e M. F. Heath (1994): Birds in Europe. Their Conservation Statusǽ &/!)&#" ,+0"/31&,+ "/&"0 ǽɬ ǘǽ &/dlife International, Cambridge Whittaker, R. H. (1960): Vegetation of the Siskiyou mountains, Oregon and California, Ecological Monographs, vol. 30, págs. 279-338 Whittaker, R. H. (1977): Species diversity in land communities, Evolutionary Biology, vol. 10, págs. 1-67. 19.

(15)

Referências

Documentos relacionados

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Apesar dos esforços para reduzir os níveis de emissão de poluentes ao longo das últimas décadas na região da cidade de Cubatão, as concentrações dos poluentes

No código abaixo, foi atribuída a string “power” à variável do tipo string my_probe, que será usada como sonda para busca na string atribuída à variável my_string.. O

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

Por fim, na terceira parte, o artigo se propõe a apresentar uma perspectiva para o ensino de agroecologia, com aporte no marco teórico e epistemológico da abordagem

Registar a marca Museu do Oriente, divulgar as actividades e fidelizar o público. 4) Mesmo só tendo website não têm público-alvo definido. Porquê? Claro que