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Realismo x Liberalismo: umbreve estudo comparativo

O presente ensaio tem como objetivo apontar algumas questões chave para o estudo de duas teorias mundialmente reconhecidas, dominantes e

conflitantes 13/07/06

Michael Wallace Ataíde

O presente ensaio tem como objetivo apontar algumas questões chave para oestudo de duas teorias mundialmente reconhecidas, dominantes e

conflitantes: a Teoria Realista e a Liberal das Relações Internacionais.

Nos primeiros anos do Século XX, o liberalismo foi fortemente sabatinado pelos chamados Realistas da época, que os acusavam de utopistas ou idealistas. “Estes rótulos eram aplicados indiscriminadamente às obras de Norman Angell, Woodrow Wilson e Alfred Zimmern” (GRIFFITHS, Martin, 2004, pág. 83).

Nogueira e Messari, 2005, sustentam que “a Escola Liberal é sem dúvida, um dos paradigmas dominantes na Teoria das Relações Internacionais e sua influência cresceram muito após o Fim da Guerra Fria”. Esse argumento é deveras legítimo, pois o que verificamos no início da década de 90 do século passado, é uma abertura agressiva das fronteiras dos Estados para a

perpetuação do mercado internacional, com a criação de organismos

internacionais exclusivamente dedicados ao tratamento do livre comércio e da promoção das democracias no modelo liberal.

Dessa feita, antes de abordarmos os principais conceitos defendidos pela Escola Liberal e seus principais teóricos, é importante darmos uma

pincelada nas abordagens da Escola Realista das Relações Internacionais – que foi a teoria dominante no século XX - para efeito de comparação, com a Escola Liberal, que não obstante, está mais preocupada com as questões do “livre comércio, das instituições, da paz e do republicanismo” (Nogueira e Messari, 2005).

Para os pensadores da Escola Realista das Relações Internacionais o

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que o sistema internacional é anárquico. Entendamos por anárquico a falta de um “governo mundial”, e não anarquia no sentido da desordem.

Segundo Nogueira e Messari, 2005, os estudiosos das questões

internacionais, na busca por autonomia e legitimidade, procuraram raízes e estabeleceram linhagens intelectuais para confirmar que o estudo das Relações Internacionais tem uma história e que remete à Grécia Antiga. Tucídides é considerado pelos estudiosos como o primeiro grande teórico das Relações Internacionais. Sua contribuição para a área é o livro cujo título é “A Guerra do Peloponeso”. General Ateniense, Tucídides se dedica ao estudo da Guerra entre espartanos e atenienses. Portanto, seu objeto de estudo é a Guerra.

Outro grande pensador que também é considerado um ícone no estudo das Relações Internacionais é Maquiavel. Sua herança para os estudiosos

realistas “é a ênfase na sobrevivência do Estado como ator” (Nogueira e Messari, 2005). Em seu principal livro, “O Príncipe”, Maquiavel aborda conceitos considerados “amorais” para as ações do individuo comum, mas que são perfeitamente legítimos para as ações do Príncipe. Maquiavel pensava o mundo como ele era na realidade e não como deveria ser. Assim, “para sobreviver, o poder se faz necessário, e o uso da balança de poder, assim como de alianças, é crucial para lidar com o desafio da segurança” (Nogueira e Messari, 2005).

Outro Clássico é o Leviatã de Thomas Hobbes, que destaca o conceito de estado de natureza. Os autores realistas usam este conceito para explicar a questão da anarquia internacional entre os Estados e destacam, usando a teoria hobbesiana, “a falta de um soberano que tenha o monopólio do uso legítimo da força nas relações internacionais é comparável ao estado de natureza de Hobbes” (Nogueira e Messari, 2005).

Os autores salientam que a leitura feita de Tucídides, Maquiavel e Hobbes pelos estudiosos realistas das relações internacionais, destacam os

elementos de sobrevivência, poder, medo e anarquia internacional, e que esses elementos representam os objetos mais importantes para o Realismo nas Relações Internacionais.

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Waltz, este mais contemporâneo, e seus estudos, suas teorias são descrições empíricas de como o Estado se comporta no sistema internacional e na busca incessante pelo poder e soberania. Para esta

ocasião, não nos aprofundaremos nas questões dos estudos Realistas, tendo em vista que as linhas escritas sobre esta Escola neste ensaio são apenas para efeito comparativo.

Dito isto, voltaremos nossas atenções para o estudo da Escola Liberal das Relações Internacionais, e veremos – agora que expusemos o realismo – que o objeto central de estudo não é mais o Estado, ou as relações entre eles, e sim o livre comércio, as instituições, a paz, o republicanismo, a democracia, entre outros.

O liberalismo, como foi dito no inicio deste texto, é o principal paradigma das Relações Internacionais, e sua influência nas academias, nos órgãos oficiais dos Estados, nas decisões dos grandes lideres mundiais vem crescendo em larga escala desde o fim da Guerra Fria.

A Teoria Liberal das Relações Internacionais, transita por quatro paradigmas clássicos, que são, segundo Nogueira e Messari, 2005, a paz, o comércio, o republicanismo, e as instituições. Para esses autores, “o liberalismo é uma grande tradição do pensamento Ocidental, que deu origens a teorias sobre o lugar do individuo na sociedade, sobre a natureza do Estado e sobre a legitimidade das instituições de governo” (Nogueira e Messari, 2005).

Antes do inicio do Século XX, e nos primeiros anos deste, os pensadores desta linha de pensamento só estavam preocupados com as questões domésticas, ou seja, questões que eram tratadas dentro do território nacional, tais como as relações entre os indivíduos, sociedade e governo. Poucos eram os pensadores que se arriscavam a pensar além de suas fronteiras.

Muitos são os pensadores da Escola Liberal, e muitos são as questões defendidas por eles, portanto, não podemos cair no erro de uniformizar as questões de interesse e defesa dos pensadores.

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essencialmente moderna, herdeira do Iluminismo, que afirma que os seres humanos são capazes, por intermédio do uso da razão de definir o seu destino de maneira autônoma” (Nogueira e Messari, 2005). Para os teóricos do Liberalismo, “os homens também são iguais, na medida em que todos possuem, por natureza, a mesma capacidade de descobrir, compreender e decidir como alcançar a própria felicidade” (Nogueira e Messari, 2005).

Para ilustrar esta afirmação, veremos um trecho – idealista - que está no preâmbulo da carta da ONU que diz: “Nós, os povos das Nações Unidas, Resolvidos, A preservar as gerações vindouras do flagelo da Guerra, que por duas vezes, no espaço de nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à

humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade dos direitos dos homens e das mulheres, assim como das Nações Grandes e pequenas, e a

estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do Direito Internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla.”

Vejamos que este trecho da Carta da ONU é uma legitimação do

pensamento liberal e uma resposta ao pensamento realista, pois este último não está preocupado com o cooperativismo e solidariedade defendida pela Escola Liberal. Para o realista, as Relações Internacionais se funda nas relações entre os Estados, que conflitam incessantemente em busca de poder para manter sua segurança.

Para os teóricos clássicos chamados de contratualistas, “essa igualdade se traduzia na noção de que todos os seres humanos são detentores de

direitos, pela simples razão de terem nascidos. Os chamados direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade, passaram a representar o fundamento filosófico mais importante das teorias liberais modernas, em especial aquelas que defendiam a idéia do contrato social” (Nogueira e Messari, 2005).

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senão o Estado, se beneficiando do legitimo monopólio da força, para garantir o mínimo de ordem dentro do Estado ao qual ele é soberano?

Nogueira e Messari, 2005, diz que “o Estado passa a ter uma importância jamais vista na história, porque ele é percebido como um “mal necessário” e uma ameaça em potencial”. O que os autores querem dizer com isto? Ora, o Estado “é necessário para proteger os indivíduos contra ameaças

externas, como agressões, invasões imperialistas, etc., e contra grupos de indivíduos que, internamente, não respeitam o império da lei” (Nogueira e Messari, 2005).

Notemos portanto, em ultima análise, que o Estado precisa existir, conforme argumenta e defende os realistas e também os liberais – este com algumas ressalvas. Para os realistas, os Estados, e só os Estados, tem legitimidade para manter e defender a ordem doméstica. E no âmbito internacional, os Estados “em busca sem tréguas pelo poder, estão constantemente minando a paz e promovendo guerras” (Nogueira e Messari, 2005). Já para os

liberais, “uma sociedade sem governo dá lugar a discórdias incessantes entre interesses divergentes. Uma das características que diferenciam a tradição liberal, é a não aceitação dessa condição como imutável” (Nogueira e Messari, 2005). Para os liberais, os conflitos internos e externos são

resolvidos pelos paradigmas do livre comércio, da democracia e das instituições internacionais.

Em suma, e aí reforçando o que foi dito acima, os conflitos, para os liberais, são solucionáveis através dos acordos e dos meios pacíficos de

controvérsias, pois é da natureza dos Estados a tendência à cooperação, que se dá inicialmente pelas relações comerciais.

Referência Bibliográfica

1. GRIFFITHS, Martin, Cinqüenta Grandes Estrategistas das Relações Internacionais, 2004, pág. 83.

2. NOGUEIRA, João Pontes, MESSARI, Nizar – Teoria das Relações Internacionais, Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

Referências

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