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A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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UEL - Londrina – 2021

A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Mariana Marton FERNANDES Universidade Estadual de Londrina mariana.marton@uel.br Ana Cláudia SALADINI Universidade Estadual de Londrina ana.saladini@uel.br

Resumo

Frequentemente nas aulas de Educação Física encontramos ainda uma concepção que prevê a realização de atividades “práticas” ou “corporais”, que revelam ainda a influência de um pensamento dualista e higienista a respeito dos seres humanos. Esta disciplina, como qualquer outra no cotidiano escolar, deve garantir situações de ensino e de aprendizagem de seus conteúdos específicos a saber: ginástica, dança, lutas, jogo e esporte. A noção espaço-temporal é parte integrante de nossas ações cotidianas. A construção da noção do espaço e do tempo são fruto da ação humana sobre o mundo e, portanto, há uma grande importância para as aulas de Educação Física. Para refletirmos a respeito da questão de como se dá a organização da noção espaço temporal nas aulas de Educação Física na Educação Infantil, elegemos como objetivo desta pesquisa bibliográfica, explicar o processo de organização da noção espaço-temporal nas aulas de Educação Física na Educação Infantil. Para a criança da Educação Infantil, essa percepção do que representa o tempo, incentiva a superação do egocentrismo e de que o tempo não é algo que está em função dos seus próprios desejos. Com relação ao espaço, o desenvolvimento dessa construção de pensamento, se dá quando a criança percebe o espaço separado do próprio corpo e que o adota como referência de localização. De maneira geral, a estrutura desse artigo fundamentou-se na teoria desenvolvida pelo epistemólogo suíço Jean W. F. Piaget (1896-1980), a Epistemologia Genética, para descrever

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como se organiza o desenvolvimento humano, ao perceber a ação do sujeito no meio em que está inserido. Posteriormente, explicamos as implicações da construção da noção do tempo e do espaço para a intervenção, em especial o processo de ensino e aprendizagem, docente nas aulas de Educação Física na Educação Infantil. Por fim e destacando a importância do desenvolvimento da orientação espaço-temporal para o desenvolvimento da criança, sistematizamos algumas estratégias de ensino com o propósito auxiliar o professor de Educação Física na Educação Infantil, a fim de relacionar essas atividades com a fundamentação teórica que este trabalho apresentou. Não se trata de justificar essas atividades pela sua prática, mas sim de promovê-las inserindo-as no contexto da criança e da escola de forma geral, pois é na ação motora de cada uma que as noções de tempo e espaço se constituem. Tais considerações nos permitem afirmar também a respeito da necessidade do tema aqui discutido ser conhecimento estudado nos percursos formativos do professor de Educação Física, para além das questões biológicas e da atividade em si, mas tomando como referência o processo de construção da noção de tempo e de espaço pela própria criança. Ao conhecer e compreender como a criança estrutura a noção espaço temporal o professor de Educação poderá, ao intervir, fazê-lo de maneira intencional, planejada e metodologicamente adequada para auxiliar a criança em sua aprendizagem.

Palavras-chave: Noção espaço-temporal; Educação Infantil; Educação Física.

Introdução

Considerando o cenário que vivemos em nossa formação inicial do curso de Educação Física (licenciatura) durante as atividades de estágio curricular obrigatório e as necessidades enfrentadas para ensinar a noção de espaço e de tempo nas aulas que ministramos para as crianças da Educação Infantil, identificamos a nossa dificuldade em compreender como ocorre o processo de ensino e de aprendizagem da noção espaço-temporal.

Compreender como se dá na criança a estruturação e organização dessas duas noções possibilita aos professores planejar suas aulas para além das atividades que são oferecidas. Frequentemente a Educação Física é confundida

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com um conjunto de atividades (“brincadeiras”) que são oferecidas às crianças durante as aulas com finalidades em si próprias, ou seja, a atividade se justificaria por ela mesma sem que necessitasse apresentar relação com o processo de aprendizagem. Ao conhecer e compreender como a criança estrutura a noção espaço temporal o professor de Educação Física poderá, ao intervir, fazê-lo de maneira intencional, planejada e metodologicamente adequada para auxiliar a criança em sua aprendizagem. Além disso, em seu planejamento, necessita refletir a respeito das ações mais adequadas para conseguir ensinar sobre a noção espaço-temporal. Portanto, para que o professor atue de forma a contribuir com o desenvolvimento do estudante é preciso que ele compreenda, entre tantos outros saberes para a docência, como se dá a construção da noção espaço-temporal pela criança e reconheça a influência que isso tem em sua vida.

Para explicarmos como a criança organiza a noção de tempo e de espaço, nos apoiamos na obra do autor epistemólogo suíço Jean Willian Fritz Piaget (1896-1980), que escreveu essencialmente sobre como se dá o processo de construção do conhecimento humano e para isso levou em conta questões do mundo físico como o tempo e o espaço. Por isso, diferentes áreas do conhecimento como por exemplo a matemática, física, geografia e história entre outras, se apropriam dos estudos de Piaget para também discutir sobre o tempo e o espaço. Assim, é preciso sinalizar que essa temática não é exclusiva da área da Educação Física, aliás, a orientação espaço-temporal faz parte do cotidiano da criança, portanto, também da escola.

Nesse caso, além de ser conteúdo da Educação Física, também figura entre outros componentes curriculares estabelecendo estreita relação com ações cotidianas na escola. Nas aulas de Educação Física as noções de espaço e tempo são ensinadas a partir da ação motora da criança sobre o mundo. Esta disciplina não deve ser entendida como auxiliar de outras disciplinas (como por exemplo, treinar a noção de tempo e de espaço com a criança para escrever de forma adequada nas linhas do caderno).

A Educação Física se preocupa com a ação motora do sujeito que influencia diretamente em outros processos de aprendizagem, como por

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exemplo, no processo de letramento. Neste quesito, ao ensinar os seus saberes, o professor de Educação Física contribui para que as crianças, ao agirem, possam apropriar-se dos objetos, transformando-os e se transformando. Para a criança da Educação Infantil, essa percepção do que representa o tempo, incentiva a superação do egocentrismo e de que o tempo não é algo que está em função dos seus próprios desejos. Com relação ao espaço, o desenvolvimento dessa construção de pensamento, se dá no momento em que a criança percebe o espaço separado do próprio corpo que é também referência de localização.

A criança da Educação Infantil, possui subsídios intelectuais parcialmente formados para apreender sozinha os conceitos de tempo/espaço e concreto/abstrato, daí a importância da intervenção do professor, para que a criança possa construir e compreender esta noção.

Nesta pesquisa, propõe-se como objetivo explicar o processo de organização da noção espaço-temporal nas aulas de Educação Física na Educação Infantil. Apresentando como se dá, na criança, a constituição da noção espaço-temporal, investigar o que e como ensinar sobre o tempo e o espaço para contribuir com o desenvolvimento da criança e por fim, sistematizar um bloco de aulas para o ensino do conteúdo da noção espaço temporal.

O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Para explicarmos o processo de estruturação e organização da noção espaço temporal pela criança decidimos nos fundamentar na Epistemologia Genética, uma vez que esta perspectiva teórica toma como ponto inicial de construção do conhecimento a ação motora elaborada pelo sujeito.

De modo geral, quando nascemos nossas primeiras ações são automáticas e reflexas, posteriormente e a partir deles (sugar, agarrar e prender, por exemplo) construímos os movimentos aprendidos (adaptação hereditária). Para conseguir se adaptar ao mundo e construí-lo, o sujeito passa a construir movimentos específicos e com intencionalidade (em atos), chamados de

“esquemas de ação”. Por meio dos esquemas de ação é que o sujeito vai agir e

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expressar-se construindo a si e ao mundo, ou seja, a ação motora é o fundamento da inteligência da criança.

Entende-se que os bebês estão em constante adaptação por conta dos primeiros reflexos e da construção dos primeiros sistemas sensoriais e motores.

Por isso, Silva e Frezza (2010) ao analisar os estudos de Piaget explicam que os esquemas correspondem à dimensão mental das características gerais das ações, isso faz com que os bebês consigam se adaptar a diversas situações (cada adaptação dessa é uma construção elaborada pela ação, ou seja, é o sujeito agindo sobre o mundo (elaborando-o e elaborando-se) transformando ações como sugar, puxar, pegar, entre outras.

Com relação à organização da noção espaço-temporal, as crianças têm dificuldades para representar a dimensão do espaço e do tempo sem ser da sua perspectiva, isso porque é difícil conciliar um objeto real com sua subjetividade.

Na verdade, até os adultos têm dificuldades de representar o que é a noção espaço-temporal. Portanto, a dificuldade de organizar em sua ação o espaço e o tempo que as crianças enfrentam, refere-se também à maneira que o professor compreende os movimentos da criança desde os anos iniciais, tendo suas ordens temporais e espaciais, que se contrapõem aos aspectos subjetivos com a realidade objetiva.

Freire (1997) argumenta que não se pode padronizar os movimentos das crianças, em contrapartida ele descreve sobre esquemas motores. Os esquemas motores são movimentos construídos pelo sujeito, que dependem da interação com recursos biológicos e psicológicos de cada pessoa, bem como o ambiente onde está inserido. Portanto, ao descrever qualquer ação, qualquer movimento, não podemos deixar de considerar que o ser humano não se basta por si, está sempre em busca do que lhe falta e esse processo de busca se cumpre à medida que o sujeito age sobre o mundo, construindo e apropriando-se dos conhecimentos. Ramos (2012) descreve que para que as noções de tempo e espaço sejam desenvolvidas efetivamente pelas crianças, entende-se que as experiências vivenciadas no ambiente escolar devem partir das experiências de vida delas, do que conhecem e daquilo que é mais concreto e próximo do contexto em que vivem, reconhecendo e valorizando as noções trazidas para a

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escola. É com base nas afirmações acima que Ribeiro (2001, p. 58 apud RAMOS, 2012, p.5) afirma que

A criança deve ser levada a compreender a existência dos diferentes espaços-tempos ocupados, partindo sua aprendizagem dos espaços próximos aos mais distantes. Mostrando também que os diferentes espaços que ela ocupa não são só seus e que o lugar, uma vez ocupado, modifica-se com o tempo.

Torna-se necessário que o professor de Educação Física conheça o processo de como se dá o desenvolvimento da noção espaço-temporal pelas crianças. Assunção e Coelho (1997) descrevem que basicamente, a organização espaço-temporal, está na capacidade que o indivíduo tem de situar-se e orientar- se em relação aos objetos, às pessoas e ao próprio corpo, dentro de um determinado espaço. Resumidamente, são conceitos de localização: de direita e esquerda; frente ou atrás; acima ou abaixo; longe ou perto; alto ou baixo; longo ou curto. Pode parecer óbvio para adultos, mas para as crianças isso não é fácil de identificar sem titubear algumas vezes. É necessário destacar que essas noções vão sendo construídas à medida que a própria criança age sobre o mundo, se relaciona com pessoas, situações e objetos em seu cotidiano familiar e escolar.

Para que a criança possa construir um tipo de pensamento que lhe permita ter capacidade reflexiva, ou seja, “pensar antes de agir”, é preciso uma organização mental antevendo as consequências de suas ações. Em outras palavras, para que essa habilidade reflexiva aconteça, é preciso que a criança coordene seus movimentos, e que dessa coordenação possa abstrair os aspectos de causa e efeito existentes entre as coisas.

Entende-se que o aspecto que fornece essa organização da sequência dos movimentos e das relações causais, é o tempo, um dos elementos que possibilita a noção de real para o indivíduo. Portanto, o tempo representa sistemas de operações concretas, não sendo possível se separar das experiências. Assim, pode-se dizer que o tempo está ligado ao movimento, às relações entre objetos, à processos cognitivos e à memória.

É de suma importância que o professor entenda que o tempo é uma construção humana, que integra como ferramenta a nossa sociedade e que

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precisa ser ensinado de maneira estratégica para a criança. Sendo assim, o ambiente escolar apresenta situações que podem ajudar na consciência temporal dos eventos que compõe a rotina das crianças, podendo ser esse um dos recursos para explicar o conceito abstrato de tempo. Então quando a criança passa a dominar aspectos de antes, durante e depois ela consegue se situar melhor, a caminho da construção de um pensamento reflexivo.

Segundo Piaget a construção do espaço assim como o tempo, ocorre desde o nascimento do indivíduo e é concomitante as demais construções mentais (OLIVEIRA, 2005). Pode-se dizer que esta construção tem seu processo progressivo nos planos perceptivo e representativos.

Ramos (2012) descreve que é importante que o professor, ao ensinar sobre as noções de localização no espaço, inicie colocando a própria criança como referencial, pois ela tende a perceber o espaço a partir de si mesma (conforme também vimos na abordagem piagetiana). Para que as crianças compreendam de fato o espaço em que vivem, é fundamental que elas adquiram a noção de localização. A partir dessa afirmação devemos salientar a importância da intervenção docente que, ao selecionar os procedimentos de ensino deverá optar por atividades que, de fato, provoquem na criança a sua reflexão a respeito do espaço (e do tempo).

A construção do espaço e do tempo são fruto da ação e experimentação da criança e, portanto, as aulas de Educação Física se configuram como importantes para o desenvolvimento do ser humano. Em nosso próximo tópico tomaremos o processo de ensino e de aprendizagem nas aulas de Educação Física para a discussão.

O ENSINO E APRENDIZAGEM DA NOÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL NAS AULAS DE

EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Educação Infantil por muito tempo, foi considerada lugar onde as crianças eram deixadas enquanto os pais trabalhavam. Predominava uma visão assistencialista da escola de Educação Infantil. A antiga pré-escola como descreve Freire (1997) parecia ser um lugar onde a criança espera a vez para

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entrar na escola. Vigorava a ideia de preparação do estudante para o ingresso do próximo nível escolar. Depois, essa perspectiva evoluiu para a intensa procura dos pais pelas escolas de Educação Infantil, mas com a pretensão de que as crianças sejam ensinadas com as bases do conhecimento, como primeiro momento de educação escolar.

A partir da década de 80 com a pressão exercida pelas camadas populares para a ampliação do acesso à escola, a Educação Infantil passa a ser reivindicada como um dever do Estado, que até então não havia se comprometido legalmente com essa função. Posteriormente, ocorre a inclinação de entender a criança como um ser sócio-histórico, que aprende pelas interações da criança com o contexto social. Há um fortalecimento da nova concepção de infância, garantindo em lei os direitos da criança enquanto cidadã e sujeito social.

Também com a promulgação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN - Lei 9.394/96), a Educação Infantil passa a ser parte integrante da Educação Básica, situando-se no mesmo patamar que o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. E a partir de sua modificação introduzida em 2006, acesso ao Ensino Fundamental foi antecipado para os 6 anos de idade e a Educação Infantil passa a atender a faixa etária de zero a 5 anos.

Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), criada no ano de 2017, fica bem evidenciado que a Educação Infantil passa a ser obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos apenas com a Emenda Constitucional nº 59/2009, que determina a obrigatoriedade da Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Essa extensão da obrigatoriedade é incluída na LDB em 2013, consagrando plenamente a obrigatoriedade de matrícula de todas as crianças de 4 e 5 anos em instituições de Educação Infantil. Portanto, a Educação Infantil é considerada a primeira etapa da Educação Básica.

As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009) em seu Artigo 4º, definem a criança como

[...] sujeito histórico e de direitos, que ao fazer interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, vai construindo sua identidade pessoal e coletiva. A criança brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra,

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questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009, p. 37).

Os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC (2017), propõe seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento que visam garantir o ensino aprendizado na Educação Infantil, são eles: Conviver; Brincar; Participar; Explorar; Expressar e Conhecer-se. Então este documento insere seus eixos estruturantes, indicando as potencialidades que a Educação Infantil pode oferecer para as crianças.

Sendo assim, pode parecer um desafio e tanto ensinar para os pequenos sobre a noção de espaço e de tempo. Mas o educador também precisa estar ciente que em seu planejamento, o espaço e o tempo vão aparecer de alguma maneira, e que a criança não vai descobrir por si só.

Entre os campos de experiência apresentados na BNCC (2017) destacam- se os diferentes espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. No documento explica-se que as crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes dimensões. Desde muito pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite, hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade sobre o mundo físico e o mundo sociocultural.

Complementando o que foi descrito até agora, relacionamos o que a BNCC (2017) propõe como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento enquanto campo de experiência para ensinar sobre noção espaço-temporal para a Educação Infantil. Para bebês (zero a 1 ano e 6 meses) as ações devem ser de manipular, experimentar, arrumar e explorar o espaço por meio de experiências de deslocamentos de si e dos objetos. Além disso, os bebês precisam vivenciar diferentes ritmos, velocidades e fluxos nas interações e brincadeiras.

Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) devem identificar relações espaciais (dentro e fora, em cima, embaixo, acima, abaixo, entre e do lado) e temporais (antes, durante e depois). Utilizar conceitos básicos de tempo (agora, antes, durante, depois, ontem, hoje, amanhã, lento, rápido, depressa, devagar). Já as crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) irão relatar fatos importantes sobre seu nascimento e desenvolvimento, a história dos

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seus familiares e da sua comunidade, bem como relacionar números às suas respectivas quantidades e identificar o antes, o depois e o entre em uma sequência.

Freire (1997) defende que na educação infantil, mais importante que a alimentação e os cuidados pessoais, são a educação escolar, os primeiros passos de um ensino sistematizado, a formação das bases de todo o conhecimento humano. Por isso, tem-se grande interesse na Educação Infantil, as crianças têm como característica decisiva a imaginação, o que pode ser explorado em diversas situações pedagógicas.

A criança não nasce sabendo, ela vai aprendendo por meio de criações e construções. Por isso, o tempo e o espaço vêm de inúmeras ressignificações. É na ação do sujeito que os pequenos vão apropriando-se dos conhecimentos.

No que tange ao ensino e aprendizagem, o professor ensina o educando com a finalidade de auxiliá-lo a encontrar o caminho da consciência do outro, do mundo e de si mesmo (MORAIS, 1986). Ou seja, é ensinar com intuito do aluno pensar de forma autônoma podendo então diferenciar, questionar e refletir sobre os conflitos discutidos no conteúdo. Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto dos conhecimentos e das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças.

Quando se fala de ensinar sobre o tempo e o espaço para crianças da Educação Infantil, parece distante fazê-los compreender o conteúdo, e ainda serem capazes de construir uma rede de relações, se compararmos a idade dos pequenos com a complexidade dos conceitos. Mas, o desafio na verdade vai recair sobre o professor, por exigir dele além do domínio do conteúdo a ser ensinado, a criatividade de reelaborar a forma de ensinar. Freire (1997) acrescenta dizendo que “mil cozinheiros com a mesma receita na mão farão mil pratos diferentes. Não é a receita que vai determinar a qualidade da comida”.

Noutras palavras, a diferença será a de escolher a estratégia adequada aos objetivos e conteúdo para alcançar os alunos.

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Reforçamos a necessidade do professor de Educação Física garantir, em sua intervenção, a superação da atividade com um fim em si mesmo. É imprescindível refletirmos a respeito do papel deste professor e nas possibilidades organizadas de ensino e de aprendizagem para que a criança a partir do seu fazer, de sua ação e de suas possibilidades, compreenda o que está fazendo nas aulas desta disciplina. Nesta direção, para efeito de exemplificar a superação da prática com fim nela mesma, serão apresentados alguns procedimentos metodológicos. Portanto, não se trata de receita, pois cada criança é única e é o professor que deverá refletir sobre a sua condição e de seus alunos para que possa selecionar as atividades, considerando os seus objetivos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA BEBÊS (ZERO A 1 ANO E 6 MESES)

Aqui as atividades propostas para os bebês, são aquelas em que os pequenos possam participar de situações nas quais consigam brincar nos espaços, encontrando diferentes desafios, sendo provocados a fazer uso de diferentes movimentos e a conhecer e explorar novos espaços. Nessa faixa etária, o objetivo do professor é o de organizar as atividades para experimentação e para explorar a ação.

Atividades:

• Nome da atividade: Alcançando brinquedos.

• Objetivo: alcançar objetos espalhados pelo espaço.

• Materiais: brinquedos e objetos (podem ser bolas de diferentes tamanhos).

• Disposição: dispersos pelo espaço organizado para a atividade.

• Desenvolvimento: Leve para sala de aula e disponha alguns objetos que possam despertar o interesse das crianças (brinquedos, por exemplo).

Nessa atividade, a ação do professor é a de auxiliar as crianças na experimentação de alcançar ou persistir em alcançar um brinquedo desejado. Essa atividade pode ser desenvolvida para bebês que ainda não andam.

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• Nome da atividade: Dançando no ritmo.

• Objetivo: explorar diferentes ritmos e velocidades nas músicas.

• Materiais: músicas.

• Disposição: os alunos estarão espalhados pelo espaço.

• Desenvolvimento: O professor deve escolher músicas estrategicamente com diferentes ritmos, duração e timbre para brincar com eles. A ação do professor encontra-se no estímulo de dançar junto aos alunos, auxiliar também na demonstração de movimentos rápidos e lentos, interagindo com os bebês para que eles possam imitá-lo e expressar seu próprio ritmo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA CRIANÇAS BEM PEQUENAS (1 ANO E 7 MESES A 3 ANOS E 11 MESES)

Com essas crianças espera-se que seja possível explorar para além da ação da criança, então o professor já pode questionar e envolver os alunos em desafios como de identificação de pontos de referência para situar-se e deslocar- se. Como propostas para as aulas de Educação Física, o professor pode propor situações nas rodas de conversa. Diante disso, abaixo podemos encontrar algumas propostas de estratégias para serem pensadas nas aulas de Educação Física na Educação Infantil.

Atividades:

• Nome da atividade: Em cima e embaixo.

• Objetivo: identificar objetos em relação aos outros e ao espaço.

• Materiais: alguns brinquedos (como bola, carrinho, boneca) e uma mesa.

• Disposição: sentados em círculo.

• Desenvolvimento: Leve para sala de aula e disponha alguns objetos em cima da mesa e outros embaixo das cadeiras, por exemplo. Pergunte para os alunos qual objeto está em cima da mesa e qual está embaixo da cadeira. Deixe que as crianças se expressem. Neste momento, converse com as crianças e exemplifique as noções de "em cima" e "embaixo".

• Variação: fazer a mesma atividade utilizando os conceitos “frente e trás”, dentro e fora” e “entre objetos”.

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• Nome da atividade: A lebre e a tartaruga

• Objetivo: perceber aspectos relacionados ao tempo (antes, durante, depois, lento, rápido, depressa, devagar).

• Materiais: vídeo disponível no Youtube no canal “Balão Azul”

(https://www.youtube.com/watch?v=RM3ZQYsPCLU)

• Disposição: inicialmente sentados em círculo e depois em pé atrás da linha de largada organizada pelo professor.

• Desenvolvimento: Antes de visualizarem a história, perguntar aos alunos quem eles acham que vai ganhar a corrida? Por quê? Depois que apresentar a história, questionar as crianças sobre: antes de começar a corrida quem já estava lá na largada? E quem chegou atrasado? Converse com os alunos sobre o conceito de antes, durante e depois.

• Variação: Organizar uma linha de largada e chegada e ao comando do professor os alunos irão imitar a corrida na velocidade e ritmo dos animais.

Exemplo: -Professor: Eu quero que vocês imitem a corrida da tartaruga.

Agora eu quero que vocês imitem uma lebre correndo e etc. Perguntar porque a corrida daquele animal que eles estão imitando e daquele jeito?

A corrida do animal é rápida ou lenta?

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA CRIANÇAS BEM PEQUENAS (4 ANOS A 5 ANOS

E 11 MESES)

O professor precisa estar atento para questionar e provocar a curiosidade do aluno, assim podem aprender e se desenvolver brincando e explorando a noção espaço-temporal. Para crianças de 4 anos e 5 anos e 11 meses elaboramos estratégias que vão ao encontro e que podem ser base para o planejamento de aula do professor de Educação Física na Educação Infantil.

Confira abaixo:

Atividades:

• Nome da atividade: Atravessando a ponte.

• Objetivo: perceber se vai ter que dar passos curtos ou longos para conseguir atravessar a ponte.

• Materiais: cones e corda.

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• Disposição: em pé na formação de uma fileira.

• Desenvolvimento: marcar uma linha reta com cones nas extremidades formando uma ponte, pedir que os alunos andem sobre a ponte com número de passos determinado pelo docente. Exemplo: Joãozinho você só pode atravessar a ponte com 5 passos. Pergunte: O número de passos foi suficiente? O que significa dar passos longos e curtos? Você pode demonstrar? Os passos que você deu para atravessar a ponte foram longos ou curtos? A partir desses questionamentos explique para as crianças sobre a relação de passos com a distância e o espaço.

• Nome da atividade: Reloginho

• Objetivo: perceber a velocidade e o tempo que o relógio gira para pular

• Materiais: corda e bola.

• Disposição: em pé em círculo grande.

• Desenvolvimento: Na organização do material o professor pode prender a bola na extremidade da corda. Posicionar-se no centro do relógio e fazer o movimento de girar o ponteiro (corda e bola). As crianças serão posicionadas como horários do relógio, à medida que o professor gire o ponteiro eles devem pular para que o ponteiro não queime o horário. Em seguida pergunte para as crianças sobre o que é um relógio e para que ele serve? Converse com os alunos sobre o contexto de tempo marcado pelo instrumento relógio. Aqui a pretensão não é que o professor ensine a identificar as horas e os minutos, mas que as crianças compreendam o que são instrumentos que marcam o tempo.

Considerações Finais

Considerando os aspectos discutidos até o presente momento, entende-se que cada criança tem seu próprio ritmo em relação ao desenvolvimento.

Portanto, a criança da Educação Infantil está inserida em um ambiente de constantes modificações onde tudo é novo e diferente. É por meio de suas experiências diante do mundo que as crianças aprendem, então todas as ações precisam ser percebidas pelo professor como possibilidades de aprendizagem.

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A noção de espaço ajuda a criança a conhecer e compreender o espaço no qual está inserida e também a sua própria motricidade, bem como as ações e atividades cotidianas. A noção de tempo favorece a construção da anterioridade, posterioridade e simultaneidade de acontecimentos. É a partir disso que as crianças poderão refletir sobre as ações e atividades. Portanto, a noção espaço-temporal corresponde as ressignificações das ações que compõe a motricidade. A Educação Física como componente curricular e como conhecimento específico a ser ensinado busca dar sentido e significado para o movimento humano, permitindo explorar o conteúdo noção espaço-temporal por meio da ação das crianças e organiza o processo de ensino.

É necessário que o professor conheça sobre aspectos do desenvolvimento motor, cognitivo e social das crianças como um todo, não para determiná-las em padrões acabados. Mas, para perceber que as suas ações de ensino e aprendizagem estabelecem conexão determinante para estimular o processo de desenvolvimento dos alunos.

Por fim, concluímos ao longo da pesquisa como ocorre o processo de ensino e aprendizagem da criança da Educação Infantil e quais as possíveis atividades que podem ser pensadas como estratégias para ensinar sobre o conteúdo espaço-temporal. O professor em seu planejamento deve levar em conta que ensinar sobre o tempo e o espaço não é tarefa fácil. Destaca-se a necessidade de conhecer os processos e mecanismos de funcionamento da ação e do pensamento infantil, para que possa planejar suas aulas e auxiliar, verdadeiramente, as crianças da Educação Infantil, a construírem e compreenderem a sua motricidade.

Referências

ASSUNÇÃO, Elisabete; COELHO, Maria Teresa. Problemas de Aprendizagem. São Paulo: Ática, 1997.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996.

FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1997.

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FOLQUITTO, Camila Tarif Ferreira; SOUZA, Maria Thereza Costa Coelho.

Desenvolvimento da noção operatória de tempo: contribuições para a compreensão do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genética, v. 7, n.

1, jan.-jul. 2015. Disponível em: <http:// www.marilia.unesp.br/scheme>. Acesso em: 3 mai. 2021

MORAIS, R. O que é ensino. São Paulo: EPU, 1986.

OLIVEIRA, Lívia de. A construção do espaço, segundo Jean Piaget.

Sociedade & Natureza, vol. 17, núm. 33, diciembre, 2005. Disponível em

<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321327187008>. Acesso em:

28/03/2021.

RAMOS, Andréia Ruth Fortaleza et al. A construção das noções espaço- temporais na Educação Infantil: situações pedagógicas. Campina Grande:

Realize Editora, 2012. Disponível em:

<https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/56>. Acesso em: 28/03/2021 22:08.

SILVA, João Alberto da; FREZZA, Júnior Saccon. A construção das noções de espaço e tempo nas crianças da Educação Infantil. Conjecturas, v.15, n.1, p.

45-53, jan./abr. 2010.

Endereço das autoras: - ana.saladini@uel.br Universidade Estadual de Londrina – UEL. mariana.marton@uel.com - Universidade Estadual de Londrina – UEL.

Linha 2 - Fundamentos teórico-metodológicos do processo ensino- aprendizagem e avaliação em Educação Física.

Forma de apresentação: artigo completo e apresentação oral.

Referências

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