INVESTIMENTO E DESINVESTIMENTO DOCENTE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Ingrid Camila Alves Pessoa (1); Jessica Mendonça Feitosa (1); José Cicero Cabral Lima Júnior (2);
Paulo Rogério Barbosa do Nascimento (4).
(Universidade Regional do Cariri – URCA. E-mail: Ingrid-camila@hotmail.com).
Resumo
Investimento se caracteriza como uma aplicação cujo intuito é a obtenção de lucros, em outras palavras, obtenção de resultados positivos e, desinvestimento é a ausência de aplicação sem nenhuma pretensão de resultados. Nesse sentido o investimento pedagógico seria uma ancora no processo de ensino, e consequentemente melhores resultados no processo de ensino-aprendizagem.
Esse estudo tem como objetivo compreender os fatores influenciadores do investimento e desinvestimento na atuação docente no âmbito escolar. Trata- se de uma pesquisa qualitativa, de nível exploratório, complementada com uma entrevista semiestruturada respondida por quatro professores de Educação Física supervisores do subprojeto PIBID, que lecionam em escolas públicas da cidade de Crato – CE. Identificou-se através da reflexão em grupo alguns fatores que influenciam o investimento e/ou desinvestimento docente nas aulas de Educação Física, que são:
falta de material, estrutura inadequada para as aulas; gestão escolar descomprometida quanto ao reconhecimento da função dessa disciplina; ausência do professor no planejamento escolar;
formação continuada; formação acadêmica defasada e a dificuldade de trabalhar de forma interdisciplinar. Percebe-se que inúmeros fatores contribuem para o investimento/desinvestimento docente nas aulas de Educação Física escolar, e que muitos destes ainda encontram-se em evidência nas escolas, mostrando assim, o descaso que este componente curricular enfrenta. Por outro lado, muitos fatores são evitáveis, e que é necessário sair da zona de conforto e lutar por melhorias, para que assim a Educação Física possa obter seu reconhecimento, legitimidade e igualdade frente as outras disciplinas escolares.
Palavras-chave: Investimento; Desinvestimento; Docência; Educação Física.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos a Educação Física escolar se transformou em tema de grandes debates em meios acadêmicos, escolares e científicos, haja vista sua prática pedagógica passar por constantes turbulências, fazendo com que docentes atuem numa perspectiva de investimento docente e outros de desinvestimento docente, aspectos os quais sofrem influências de inúmeros fatores e podem interferir plenamente na busca pelo reconhecimento e legitimidade da Educação Física escolar.
Segundo Ferreira (2000) Investimento se caracteriza como uma aplicação cujo intuito é a obtenção de lucros, em outras palavras, obtenção de resultados positivos e, desinvestimento é a ausência de aplicação sem nenhuma pretensão de resultados. Nesse sentido o investimento pedagógico seria uma ancora no processo de ensino, e consequentemente melhores resultados no processo de ensino-aprendizagem.
Faria, et al (2010) afirma que o investimento docente está “enraizado” à conduta do professor na sua prática de ensino na escola, e que esta atuação caracteriza-se a partir da construção pedagógica frente à (re) significações dos conteúdos programados e das teorias pedagógicas, sendo sua prática capaz de romper com ideias tradicionais de ensino nas aulas de Educação Física, sobretudo, investir intencionalmente e objetivamente no processo de aprendizagem dos alunos nas esferas políticas, sociais e morais, contribuindo, portanto, para a formação humana e integral dos alunos.
Corroborando e ampliando esse cenário, Fensterseifer e Silva (2011), entende-se que o investimento docente em Educação Física é uma prática docente não mais centrada no exercitar-se, mas num panorama que vislumbre as manifestações diversas da cultura corporal do movimento, de forma a materializar práticas pedagógicas tidas como inovadoras, a saber: uma proposta articulada com o currículo da escola; desenvolvimento dos conteúdos de forma, organizada, progressiva e sistematizada; envolvimento direto dos alunos nas aulas; presença de conteúdos variados que compõe a Educação Física e avaliação articulada com os objetivos do componente curricular.
Em contrapartida ao modelo de atuação descrito anteriormente, encontra-se o
desinvestimento docente, que conforme Machado, et al (2010) refere-se ao tipo de professor que
permanece trabalhando nas escolas, mas de forma descomprometida com a ação do ensino de
qualidade, tendo o desenvolvimento de suas aulas apenas no sentido funcional, ou seja, sem
objetivos e intervenções que favoreçam o processo de ensino e aprendizagem.
O mesmo autor ainda afirma que, o professor que se encontra nesta perspectiva de atuação encontra-se geralmente em fim de carreira, sem apresentar motivação para o exercício da profissão e nem possui grandes objetivos no âmbito escolar, almejando apenas administrar o tempo de aula, envolver os alunos com alguma atividade recreativa e cuidar do material utilizado.
Assim sendo, esta conduta para o autor reflete em “não aula”, por acreditar que esse tipo de prática pouco difere das atividades realizadas no momento de recreio ou fora da aula, sem existir planejamento, onde os alunos saem da sala e estão livres para realizarem o que lhes convir. Assim, uma atuação sobre essa ótica, consiste, portanto, em uma forma não objetiva frente aos conhecimentos construídos historicamente e atuais da Educação Física escolar, podendo, por sua vez, acarretar negativamente no processo de valorização, compreensão e ensino desse componente curricular.
No entanto, esse é um contexto que não é apenas responsabilidade única do professor, existindo outros fatores que contribuem para essas causas, que conforme Santini e Molina (2005) englobam a formação acadêmica insatisfatória; a sobrecarga de trabalho; inovações e projetos político-pedagógico que não estão relacionadas às escolhas dos professores; cumprir papéis além dos obrigatórios; realidade escolar insegura; conflitos nas relações profissionais; condições materiais escassas e a dificuldade de lidar com críticas dos setores escolares.
Nessa perspectiva, Lima Júnior (2012) acredita que para tentar superar ou minimizar a realidade acima mencionada, é necessário o professor utilizar de sua criatividade e experiências pessoais, aspectos estes que contribuirão para o seu planejamento e na maneira de atuar frente às situações adversas.
Por fim, podemos perceber que o desinvestimento docente favorece inúmeros aspectos negativos nas aulas de Educação Física escolar, contribuindo plenamente para a desvalorização da disciplina, pela rejeição por parte dos alunos, para exclusão daqueles menos habilidosos, para uma visão limitada acerca dos conteúdos da disciplina, sendo ainda um agente contrário para a construção de uma identidade escolar da Educação Física.
Portanto, o investimento docente atua em sentido contrário ao anterior, haja vista trabalhar
de forma planejada, coerente e digna perante aos objetivos da escola, do professor e do alunado,
uma vez contribuir plenamente para a formação integral, humana e cidadã dos alunos, podendo por
meio dos conteúdos da Educação Física ensinar valores morais, éticos e sociais, sendo estes
indispensáveis para uma formação sólida e para o convívio em sociedade.
OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Compreender frente a literatura científica os significados de investimento e desinvestimento docente.
2.2 Objetivos específicos
Identificar os fatores que estão relacionados a estes estados de atuação no âmbito escolar, por meio de relatos dos supervisores do subprojeto PIBID Ed. Física.
Refletir e comparar os achados do estudo com as nossas experiências no programa e ao longo da formação acadêmica.
METODOLOGIA
Trata- se de uma pesquisa qualitativa, de nível exploratório. Segundo Minayo (2006) a pesquisa qualitativa responde a questões particulares, enfoca um nível de realidade que não pode ser quantificado, além de trabalhar com um universo de múltiplos significados, motivos aspirações, crenças, valores e atitudes. De acordo com Gil (2002) a pesquisa de nível exploratório tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a tomá-lo mais explícito ou a constituir hipóteses.
A pesquisa é complementada com uma entrevista semiestruturada, utilizando a técnica grupo focal que segundo David Carey citado por Silva (2012) grupo focal como uma metodologia qualitativa que pode ser entendida como uma técnica imprecisa que consiste em “uma sessão em grupo semiestruturado, moderada por um líder, realizada em um local informal, com o proposito de coletar informações sobre um determinado tópico”.
Participaram do presente estudo quatro professores supervisores do subprojeto PIBID (programa institucional de bolsa e iniciação à docência), que lecionam em escolas publicas da cidade de Crato – CE, onde as mesmas fazem parte do subprojeto.
REFLEXÃO: COMPARAÇÃO DO ESTUDO COM AS EXPERIÊNCIAS NO PROGRAMA E NA FORMAÇÃO ACADÊMICA
A seguir, serão apresentados os achados obtidos no estudo, onde os mesmos foram contrastados com as experiências vividas pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência – PIBID ao longo de sua formação.
Dessa forma, os resultados encontrados quanto aos fatores que mais contribuem para o
investimento e/ou desinvestimento docente nas aulas de Educação Física escolar passaram por
reflexões do grupo, visando uma compreensão coletiva da real influência destes aspectos na atuação docente do professor de Educação Física.
Assim, dentre as falas dos entrevistados, contatou-se que os aspectos mais citados e comuns entre eles são: falta de material e estrutura adequada para o desenvolvimento das aulas; gestão escolar descomprometida quanto ao reconhecimento da função da Educação Física na escola;
ausência do professor de Educação Física no planejamento escolar; formação continuada; formação acadêmica defasada e a dificuldade de trabalhar de forma interdisciplinar.
Nesse sentido, no que tange a existência de materiais para utilização nas aulas, acreditamos que sua presença é fundamental, mas não indispensável, haja vista a inexistência dificultar o planejamento e o desenvolvimento de determinados conteúdos, mas também observamos que muitos deles podem ser confeccionados e/ou adaptados, possibilitando assim, o desenrolar das aulas e o ensino dos conteúdos de modo satisfatório. O entrevistado A diz que “Possuir materiais e uma boa estrutura para as aulas é fundamental, porque ajuda a desenvolver as aulas da forma como planejamos.” Sobre essa mesma categoria o entrevistado B relata que “infraestrutura e material pode influenciar sim nas aulas, porem mesmo sem eles, o professor usando dos seus conhecimentos e buscando inovações nas aulas, tem como trabalhar numa perspectiva de investimento, fazendo adaptações de matérias e espaços.”
Já no que diz respeito à falta de um espaço físico favorável, entendemos que este realmente é peça chave no processo de ensino e aprendizagem, uma vez possibilitar o professor desenvolver os mais diversificados conteúdos de forma organizada, clara e objetiva, além de tornar o ambiente mais propício para aprendizagem, pois os alunos estarão em boas condições para participarem das aulas e desfrutarem da melhor forma do conteúdo que estar sendo ministrado.
Outro fator bastante recorrente e que implica diretamente na atuação da Educação Física na
escola é a gestão escolar, tendo em vista em muitos casos não reconhecerem a disciplina enquanto
componente curricular obrigatório, e que desta forma deixam a disciplina cada vez mais de lado,
onde o professor fica menosprezado, não participa do planejamento e suas reinvindicações para
melhora do ensino não são levadas em consideração, ou seja, a gestão escolar pode favorecer a
desvalorização, discriminação e dificultar a legitimidade da Educação Física escolar. No entanto,
um núcleo gestor comprometido pode plenamente atuar de forma contrária as fatos citados
anteriormente e de alguma forma estar auxiliando na superação das dificuldades encontradas pela
disciplina no âmbito da escolar. Nesse sentido o entrevistado D diz que “na escola é relevante o
apoio da direção, que reconheça a importância da sua disciplina, dos seus objetivos, de sua
metodologia e que ela tem a mesma importância das outras e que contribui plenamente para a formação escolar dos alunos.” Já o entrevistado B relata que há professores que são descomprometidos com suas aulas, e que não é competência apenas da gestão em informar sobre as incumbências da escola, ele diz “as vezes o que acontece é que vai haver planejamento e o professor não é informado, como também as vezes o professor não faz esforço para estar presente, mostrando assim, descomprometimento com a sua função e atuação docente.”
Por outro lado, um dos fatores bastante mencionado e que acreditamos ter bastante relação para uma atuação docente insatisfatória, é uma formação acadêmica defasada, haja vista ser nesse momento que o futuro professor se apropria de saberes fundamentais e que irão levar para sua trajetória profissional. E que desta forma, passar por uma graduação frágil pode acarretar em grandes problemas e favorecer uma situação de desinvestimento docente.
Dessa forma, uma tentativa de sanar e/ou minimizar a situação descrita acima, constatou-se nas falas dos entrevistados a formação continuada, esta que no nosso entendimento é indispensável para qualquer profissional, pois é neste momento que irá buscar uma formação mais ampla, específica e atual, possibilitando assim, subsídios relevantes para uma atuação de forma digna, coerente e que possam atender aos objetivos específicos da disciplina escolar. Para o entrevistado C
“tem como continuar fazendo sua formação continuada, procurando ler e ficar informado e atualizado na área, você tem que procurar fazer seu nome na escola, para que os outros professores e o núcleo gesto veja que a sua disciplina tem a mesma importância das outras”.
Por fim, outra questão que nos chamou atenção e que a enxergamos como fundamental no processo de valorização e de um investimento docente é o trabalho da disciplina de forma interdisciplinar, uma vez esta organização de ensino possibilitar o estreitamento entre as disciplinas, tentar modificar a cultura escolar criada sobre a Educação Física, além de favorecer o intercâmbio de conhecimentos entre os componentes curriculares.
CONCLUSÃO
Constatou-se mediante estudo que, inúmeros fatores contribuem para o investimento e
desinvestimento docente nas aulas de Ed. Física escolar, bem como muitos destes ainda encontram-
se em evidência nas escolas, mostrando assim, o descaso que este componente curricular enfrenta
para desenvolver seus conteúdos, mas também temos que ter consciência que muitos fatores são
evitáveis, e que é necessário sair da zona de conforto e lutar por melhorias, para que assim a Ed.
Física possa obter seu reconhecimento, legitimidade e igualdade frente as outras disciplinas escolares.
REFERÊNCIAS