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ANO 1 VOLUME 1 NÚMERO 1 JANEIRO DE 2021 Este número é dedicado à memória do Prof. Ivon Fittipaldi

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ANO 1 | VOLUME 1 | NÚMERO 1 – JANEIRO DE 2021

Este número é dedicado à memória do Prof. Ivon Fittipaldi

Expediente:

Academia Pernambucana de Ciências | CNPJ: 11.415.825/0001-93 Endereço para correspondência:

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-PE Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco Avenida Reitor Joaquim Amazonas, s/nº. Cidade Universitária

CEP 50740-570. RECIFE-PE www.academiapc.org.br Editor: José Antônio Aleixo da Silva

Professor Titular da DCFL/UFRPE | Presidente da APC – Conselheiro da SBPC e-mail: apccontas@gmail.com | (81) 991116951

Apresentação

A Academia Pernambucana de Ciências (APC) fundada em 1978, é uma entidade lai- ca, sem fins lucrativos e apartidária que reúne cientistas atuantes no Estado, ligados ao desen- volvimento educacional, científico e tecnológico e que tem como principal objetivo difundir o conhecimento produzindo em Pernambuco e prestar serviços à sociedade pernambucana em prol da sustentabilidade ambiental, econômica e social.

A ideia de criar um informativo mensal em parceria com a Secretaria Regional da So- ciedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que teve um jornal eletrônico “Notícias da SBPC-PE” circulando por 20 anos, foi reativar o jornal eletrônico com a divulgação de artigos produzidos pelos Acadêmicos da APC e filiados da SBPC, pois em sua grande maioria são professores e pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa do Estado que atuam nos mais diversos campos do conhecimento humano. Também serão publicados textos de convi- dados e de pessoas que não fazem parte da APC ou SBPC, mas que podem escrever textos sobre educação, ciência e tecnologia úteis à sociedade.

O Informativo da APC/SBPC-PE será publicado mensalmente, sendo que este informe número 01 está sendo enviando para aproximadamente 38 mil e-mails cadastrados do Brasil e do Exterior.

Boa leitura.

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Sumário

CONHECENDO A ACADEMIA PERNAMBUCANA DE CIÊNCIAS (APC) ... 3

A SBPC E SUA CAPILARIZAÇÃO NO BRASIL: REGIONAL DE PERNAMBUCO RUMO AOS 70 ANOS ... 6

NOTA DE IMENSO PESAR: IVON PALMEIRA FITTIPALDI (1943-2020) ... 9

ACADEMIA PERNAMBUCANA DE CIÊNCIAS SELECIONA OITO PROFESSORES DA UFPE COMO NOVOS ACADÊMICOS ... 10

ASCOM – UFPE, 12/01/2021 ... 10

2020: VACINAS, UMA ODISSEIA PARA O FUTURO! ... 12

ARBOVIROSES E A PANDEMIA COVID-19 ... 17

O PREÇO DO CONHECIMENTO ... 20

FACEPE: HISTÓRIA A SER CONTADA ... 22

DESIGN DECOLONIAL DE ESPAÇOS BRASILEIROS DE APRENDIZAGEM .. 25

“O DILEMA DAS REDES NÃO EXISTE, NEM MESMO EM TEMPO DE PANDEMIA” ... 27

SOBERANIA, DEMOCRACIA, SOLIDARIEDADE, SUSTENTABILIDADE ... 29

A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS EM PERNAMBUCO ... 30

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Dia 15 de janeiro na história

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre

NOTÍCIAS

CONHECENDO A ACADEMIA PERNAM- BUCANA DE CIÊNCIAS (APC)

José Antônio Aleixo da Silva*

A Academia Pernambucana de Ciências (APC) foi fundada no dia 07 de janeiro de 1978, pelo Acadêmico e Presidente de Honra Valter da Rosa Borges, que na época era apresentador do programa “O grande júri”, na TV Universitária da Universidade Federal de Pernambuco. O objetivo principal do programa era congregar permanentemente personalidades de destaque nas diversas áreas de educação, ciência e tecnologia do estado de Pernambuco. Devido a su- cesso e grande audiência, surgiu a ideia de se fundar uma entidade científica que congregasse toda a comunidade acadêmica, científica e tecnológica de Pernambuco. Assim, foi criada a Academia Pernambucana de Ciências.

Em sua fundação a APC foi constituída por 34 Acadêmicos, citando-se entre eles: Valter da Rosa Borges (Presidente), Berguedot Elliot (Vice-presidente), Nelson Chaves, Aluízio Bezer- ra Coutinho, João Vasconcelos Sobrinho, Luiz Pinto Ferreira, Osvaldo Gonçalves Lima entre outros.

No Artigo 1 do seu Estatuto, a APC é definida como:

“A Academia Pernambucana de Ciências (doravante denominada de APC) é uma socieda- de civil, laica, sem fins lucrativos, nem político-partidários de natureza técnica, científica e educacional, com sede localizada na Universidade de Pernambuco, que tem por finalidade promover o desenvolvimento de todos os setores do conhecimento humano, visando também a prestação de serviços à sociedade, seja por seus próprios recursos, seja em colaborações ou financiamentos de entidades públicas, privadas e de pessoas físicas ou jurídicas”.

Durante praticamente 40 anos, a APC foi brilhantemente comandada por dois Presidentes, Valter da Rosa Borges e Waldecy Fernandes Pinto (falecido em 2020) que ocupam as cadei- ras 01 e 02 da APC que são as únicas fixas, isto é, não serão ocupadas por novos Acadêmicos, pois eles são Presidentes de Honra da APC.

A atual Diretoria tomou posse no dia 17 de outubro de 2018, no auditório de Espaço Ciência, durante as comemorações da Semana Nacional de Ciência. Também ocorreram posses de no- vos Acadêmicos.

A atual Diretoria está composta pelos seguintes Acadêmicos:

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Presidente: José Antônio Aleixo da Silva (Departamento de Ciência Florestal-UFRPE) 1o Vice-presidente: Alex Sandro Gomes (Centro de Informática-UFPE)

2o Vice-presidente: André Freire Furtado (Instituto de Pesquisas Aggeu Magalhães-UFPE) Secretária Geral: Leda Narcisa Regis (Instituto de Pesquisas Aggeu Magalhães-UFPE) 1o Secretário: Anísio Brasileiro Dourado (Departamento de Eng. Civil -UFPE)

2o Secretário: Moises Wolfenson (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica-SBCP) Tesoureiro: José Thadeu Pinheiro (Departamento de Odontologia - UFRPE)

Durantes esses 43 anos passados, a APC tem realizado mensalmente reuniões cultu- rais/científicas com seus Acadêmicos, mas que são abertas ao público em geral. Vários outros eventos (seminários, palestras, homenagens, encontros, etc.) foram realizados ao longo dos anos, sendo que o último realizado foi o I Encontro Pernambucano de Educação, Ciência e Tecnologia – Conhecendo Pernambuco, que ocorreu nos dias 31de novembro e 01 de dezem- bro de 2019, no Auditório do Instituto Ageu Magalhães, contanto com palestras do Estado e de outras unidades da Federação.

Posse de novos Acadêmicos Efetivos durante a realização do I Encontro Pernambucano de Educação, Ciência e Tecnologia – Conhecendo Pernambuco

Em seu Estatuto e Regimento recém-aprovado, a APC é composta por um número fixo de 100 Acadêmicos, sendo que para fazer parte da APC o candidato deve ser indicado por um Aca- dêmico da APC e submetido ao julgamento de um Conselho Científico composto por sete membros representantes das Universidades Públicas de Pernambuco, no caso, dois da UFPE, dois da UFRPE, dois da UPE e um da UNICAP. Candidatos não são avaliados por membros do Comitê Científico da mesma instituição a que o candidato pertence. Cada candidato é pon- tuado nos seguintes itens: formação acadêmica, produção científica, formação de recursos humanos (mestres e doutores), experiência administrativa, coordenação de projetos científicos e de extensão, prêmios e honrarias recebidas, atuação profissional e outros (patentes, artigos em jornais, consultorias, etc). Os candidatos aprovados para as vagas disponíveis só têm seus nomes divulgados após o julgamento pelo Conselho Científico, sendo os não classificados não têm seus nomes divulgados.

A APC além dos Acadêmicos Efetivos, também possui as categorias de Acadêmicos Eméri- tos, destinada para aqueles que já participaram da APC como Acadêmicos Efetivos por mais de 15 anos, ou tenham mais de 80 anos, Acadêmicos Beneméritos e Acadêmicos Honorários

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para pessoas que possuam destaque Nacional ou Internacional. Os agraciados nesta categoria podem ser naturais de outros Estados, mas que residam em Pernambuco ou pernambucanos residentes em outros Estados ou Países.

A APC atualmente é composta por 99 Acadêmicos Efetivos, sendo 70 homens e 29 mulheres.

Vale salientar que quando a atual Diretoria assumiu a APC em 2018, apenas cinco mulheres eram Acadêmicas, o que corresponde a um aumento de 480%.

A distribuição dos Acadêmicos Efetivos nas áreas de formação é a seguinte: Agronomia, Ar- quitetura, Biologia, Biomedicina, Botânica, Ciências Políticas, Direito, Economia, Educação, Educação Física, Engenharias (várias áreas), Engenharia de Pesca, Engenharia Florestal, Esta- tística, Farmácia, Filosofia, Física, Geografia, Geologia, Informática, Matemática, Medicina (várias áreas), Nutrição, Odontologia, Química, Veterinária e Zootecnia.

A classificação por nível de formação acadêmica corresponde a 57 Acadêmicos com Pós- doutorado, 36 com Doutorado, quatro com Mestrado e dois Especialistas.

A distribuição em função das instituições em que os Acadêmicos atuam é a seguinte: autôno- mo (01), Companhia Hidroelétrica do São Francisco CHESF (01), Instituto Aggeu Maga- lhães-FIOCRUZ (07), Fundação Joaquin Nabuco (FUNDAL) (02), Laboratório de Imunopa- tologia Keizo Asami (LIKA-UFPE) (03), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (56), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) (15), Universidade Católica de Per- nambuco (UNICAP) (03), Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) (01), Universidade de Pernambuco (UPE) (09), UPE/Universidade Maurício de Nassau (UNINAS- SAU) (01).

Durante o ano de 2020, foram realizados os seguintes Webnários e palestras:

Webnários com participação de vários cientistas brasileiros:

“A ciência no enfrentamento da Covid-19”

“Impactos da Covid-19 na educação pernambucana”

“Acessibilidade às redes digitais em Pernambuco”

“Universidades públicas de Pernambuco. Enfrentando a pandemia”

“Ética, pesquisa científica e pandemia”

“Brasil: desafios contemporâneos e legados de Celso Furtado”

“Sérgio Rezende: 80 anos em defesa da educação, ciência, tecnologia e do Brasil”

“IRRD-PE: um marco no monitoramento de desastres e pandemias”

“Perto do coração selvagem: 100 anos de Clarice Lispector”

Palestras:

“Peter Brian Medawar, um Prêmio Nobel brasileiro?”. Ildeu de Castro Moreira – Presi- dente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC

“Influência da mudança climática na floresta Amazônica”. Niro Higuchi – Instituto Naci- onal de Pesquisa da Amazônia (INPA)

“Da Neurociência à Epidemiologia: como a pandemia mudou minha vida científica”

Miguel Nicolelis – Professo da Duke University - USA

”Produtos naturais de nossa rica biodiversidade, uma questão de soberania nacional”.

Vanderlan da Silva Bolzani – Presidente da Academia de Ciências de São Paulo

“70 anos do Instituto Aggeu Magalhães”. Sinval Brandão – Diretor do IAM

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“FIOCRUZ 120 anos: patrimônio da sociedade Brasileira”. Nísia Trindade – Presidente da FIOCRUZ

Este ano a APC continuará com sua programação de webnários e palestras e eleição da nova Diretoria. Na posse da nova Diretoria programada para outubro, será realizado o II Encontro Pernambucano de Educação, Ciência e Tecnologia com posse solene dos novos Acadêmicos.

Caso seja permitido encontros presenciais, o evento ocorrerá no Salão Nobre da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

No site da APC está em fase de re-estruturação, mas pode ser acessado em:

www.academiapc.org.br

https://www.facebook.com/academiapernambucanaciencias

* José Antônio Aleixo da Silva, Prof. Titular do Departamento de Ciência Florestal da UFR- PE, Conselheiro da SBPC e Presidente da APC

A SBPC E SUA CAPILARIZAÇÃO NO

BRASIL: REGIONAL DE PERNAMBUCO RUMO AOS 70 ANOS

Maria do Carmo F. Soares* e Maria do Rosário Andrade Leitão**

A SBPC fundada em 8/7/1948 tem berço paulista, quando o seu estatuto e a eleição de sua primeira Diretoria aconteceram na Associação Paulista de Medicina, mas logo se capilarizou para os demais Estados do País para cumprir o que se encontrava preconizado em seus princí- pios descritos na ata de sua fundação. Entre seus objetivos encontra-se “apoiar e estimular o trabalho científico”, e, este objetivo não encontra barreiras sejam regionais, nacionais ou in- ternacionais.

Neste contexto no ano seguinte,1949, foi criada em Curitiba sua primeira representação regi- onal, seguida neste mesmo ano, da representação do Rio de Janeiro. Em 1950, surgia a tercei- ra representação em Belo Horizonte. E no ano de 1951, surgiram, concomitantemente as re- presentações regionais de Recife e de Salvador, conforme consta na ata de reunião do Conse- lho e da Diretoria de 10/07/1951. Para organizá-las o próprio secretário geral, da primeira Diretoria da SBPC, Prof. Paulo Sawaya, viajou às duas capitais.

No Recife instalou a comissão de organização, composta por: Newton da Silva Maia (Profes- sor da Escola de Engenharia); Nelson Ferreira de Castro Chaves (Prof. da Faculdade de Medi- cina); Luiz Siqueira Netto (Prof. da Escola de Engenharia), Aluízio Bezerra Coutinho (Prof.

da Faculdade de Medicina), Luiz Siqueira Carneiro (Prof. da Escola de Veterinária) e Bento Magalhães Neto (Assistente da Faculdade de Medicina e Prof. do Ginásio do Estado, confor- me consta na Ciência e Cultura, v.3, n. 2, 1951. Foi eleito seu primeiro secretário, em 1951, o Prof. Newton da Silva Maia.

Neste sentido, as regionais da SBPC dos estados de Pernambuco e da Bahia completarão neste ano de 2021, uma trajetória de 70 anos, desde a sua fundação. Portanto, desde seu início a

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SBPC proporcionou a abrangência de sua representatividade e o seu caráter nacional que se fortaleceu ao longo do tempo. Hoje a entidade se faz presente com 20 Secretarias Regionais em diversos Estados brasileiros, além de uma representação oficial na Paraíba. Já chegou a possuir mais de 37 representações regionais espalhadas pelo Brasil. Uma nova forma de re- presentatividade surgida na trajetória da entidade foi também, a afiliação das entidades cientí- ficas, atualmente somando 144 sociedades e ao todo uma média de 5 mil sócios ativos. As reuniões anuais da SBPC se constituem noutro mecanismo previsto no seu estatuto inicial, que vem ao longo do tempo acontecendo nas diversas capitais brasileiras.

Não se encontrou bem delimitado o tempo que o primeiro secretário da Divisão Regional do Recife, Prof. Newton da Silva Maia, permaneceu a frente da Secretaria, entretanto, quando da realização da VII Reunião Anual da SBPC, no ano de 1955, em Recife, o Prof. Nelson Cha- ves, encontrava-se como Conselheiro da SBPC.

As reuniões anuais da SBPC, desde o início, vêm ocorrendo de forma descentralizada, em várias partes do Brasil. Com uma estruturação composta originalmente de conferências, sim- pósios, mesas redondas e apresentação de trabalhos. Mas, a cada reunião que foi acontecendo, de forma multidisciplinar, novas atividades surgiram e foram incorporadas na sua grande es- trutura, o que tornou essa reunião no maior evento científico do país.

Com o apoio da Secretaria Regional de Pernambuco já aconteceram cinco reuniões anuais da SBPC na capital recifense, que foram sempre muito prestigiadas e marcadas pela receptivida- de e criatividade de sua gente. Desde o primeiro e bem sucedido convite, feito pelo Prof. Nel- son Chaves, para que a 7a reunião anual da SBPC acontecesse no Recife em 1955, na então Universidade do Recife, sendo a primeira do Norte/Nordeste. Foi nessa reunião onde se defi- niu o mês de julho para a sua realização, enquanto uma homenagem ao mês da criação da SBPC e passou a ser padrão para as demais nos anos seguintes, pois também, aproveitava-se o período de férias nas Universidades, tornando-se mais fácil de se estruturar as reuniões dentro dos campi universitários. Esta reunião mereceu uma nota de destaque na prestigiada revista britânica Nature, mencionando a presença de cientistas britânicos no evento e a mensagem de saudações fraternais enviada pela Associação Britânica para o Progresso da Ciência, uma congênere da nossa SBPC; a presença nas principais sessões de Gilberto Freyre, conhecido sociólogo das Américas e a conferência proferida pelo físico pernambucano, Mário Schen- berg, em memória a Albert Einstein, falecido em abril daquele ano (Nature, n. 4481, p. 545-6, 17 set 1955). Assim, uma das marcas registradas das reuniões realizadas nesta capital foi a busca para incorporar algumas novidades/inovações, fomentando diálogos e incluindo o con- texto da internacionalização.

A segunda vez, que o Recife sediou a realização, na 26a reunião anual, a iniciativa partiu do Reitor na época, o Prof. Marcionilo de Barros Lins. Naquela ocasião, uma das novidades anunciadas foi a introdução de seminários e mesas redondas de caráter interdisciplinar. Uma chamada de capa da edição de 10/07/1974, do Jornal do Commercio anunciava a magnitude do evento: “Cientistas apresentam no Recife 1.800 trabalhos”. O programa oficial desta reu- nião foi publicado na íntegra na contracapa desta edição, ocupando toda a página com a cha- mada “Conclave da SBPC tem início a partir de hoje”. Um outro destaque desta reunião em 1974, cujo tema foi: A situação das ciências no Brasil e trouxe, como convidado, o economis- ta Celso Furtado que se encontrava no exilio e voltava ao País, pela primeira vez, para proferir a conferência sobre o desenvolvimento brasileiro. Ele atraiu a participação e atenção dos mais jovens e da imprensa, sendo ovacionado de pé numa plateia lotada. Mais uma vez, a SBPC se posiciona como um grande palco de debates e na vanguarda do momento político.

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A 45a RA no Recife em 1993, foi a terceira realizada na cidade. Foi a maior reunião, em ter- mos de número de participantes, até então organizada pela sociedade. O Jornal do Commercio (11/07/1993) trouxe em sua matéria de capa, a imagem do campus da UFPE, anunciando que 12 mil pessoas participavam da reunião da SBPC, e se discutiria ciência e qualidade de vida.

Os eventos paralelos, como a SBPC Jovem e a Expociência (mais tarde denominada, a partir da 58a RA, com o novo nome ExpoT&C) deram um toque de novidade à essa reunião e esta- vam acontecendo, em sua primeira edição. A partir daí, estas duas atividades foram incorpo- radas na programação das reuniões anuais, sendo sempre sessões muito concorridas. A abertu- ra desta RA aconteceu no tradicional Teatro Santa Isabel e contou com discursos do ministro da Ciência e Tecnologia José Israel Vargas, do ministro da Educação Murilo Hingel, do go- vernador de Pernambuco Joaquim Francisco e do prefeito do Recife, Jarbas Vasconcelos. A solenidade foi presidida pelo presidente da SBPC, o físico Ennio Candotti, que durante essa reunião, passaria o cargo da presidência da SBPC para o geógrafo Aziz Ab‟Saber.

Na 55a RA, realizada de 13 a 18 de julho de 2003, a quarta vez acontecendo em Pernambuco, um dos destaques foi a primeira edição da SBPC Educação, enquanto reunião preparatória e a sua interiorização, em seis cidades pernambucanas, como polos descentralizados. Recife e Olinda sediaram, de 28 a 30 de janeiro de 2003, esse evento preparatório. A SBPC Educação foi realizada pela Secretaria Regional da SBPC em Pernambuco, conjuntamente com a UFPE, UFRPE, UPE e Unicap, contando com o apoio da Prefeitura da Cidade do Recife e do Gover- no de Pernambuco. Esta foi uma outra atividade, que a partir de Recife, passou a ser incorpo- rada, como uma atividade integrada, antecedendo as reuniões anuais, embora o seu período de realização tenha se deslocado para uma semana antes da reunião anual, e não com o intervalo de seis meses, como ocorreu na primeira vez em Recife. Foi salutar e inspirador a SBPC- Educação acontecer na terra de Paulo Freire, o patrono da Educação Brasileira e mais recen- temente, também patrono da Educação de Pernambuco (Lei Ordinária nº 709/2019). A pales- tra de abertura da 55a RA foi feita pelo Ministro da Educação Cristovam Buarque. Novamente o evento no Recife registrou recorde de inscritos: 14.712. Ocorreram a participação ativa da prefeitura do Recife, com a inscrição de 4.100 professores da rede municipal de educação e do Programa de Educação Tutorial, que realizou seu Encontro Nacional dos Estudantes do Pro- grama Especial de Treinamento (VII ENAPET), oficialmente inserido na programação da reunião, com aproximadamente 4.000 estudantes bolsistas de todo Brasil inscritos e, em sua grande maioria, associados, juntamente com seus tutores, à SBPC. E aqui cabe a informação:

foi a SBPC a primeira instituição a aprovar uma moção em favor do programa, quando estava ocorrendo o seu desmonte e sua transferência da CAPES para o MEC.

A 65a RA na capital pernambucana, voltou a bater recorde no número de inscritos com o total de 23.234 pessoas, e ganhou o status do maior público das últimas edições. O reitor da UFPE, Anísio Brasileiro de Freitas, fez questão de frisar a sua importância para a Universidade e informou que esta edição contou com a maior estrutura da ExpoT&C de todas as reuniões já realizadas. Destacou ainda, a iniciativa inédita de Pernambuco, onde as Universidades Fede- rais do Estado, junto a UNICAP e a UPE se reuniram para traçar uma agenda de trabalho formada por ações conjuntas. No balanço da presidente da SBPC, Profa. Helena Nader, a mesma declarou: “a SBPC reuniu o que existe de melhor na ciência brasileira”.

Neste contexto, a Secretaria Regional de Pernambuco se encontra rumo aos seus 70 anos e, para isto, está buscando somar esforços, em mais um ano atípico com a continuidade da Pan- demia da Covid-19. E, para não deixar a data passar em branco, conclama seus sócios a se irmanarem nesta causa, buscando honrar a memória de todos os Secretários que já se foram e resgatar as lembranças dos que trazem um pouco desta história de lutas e amor a ciência.

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Conclamamos também nossos conterrâneos pernambucanos, a presentearem nossa Secretaria Regional se associando a nossa querida SBPC. Para isto, gostaríamos de deixar uma senha: a leitura da publicação: Ciência para o Brasil 70 anos da sociedade Brasileira para o Progres- so da Ciência, cuja versão em PDF encontra-se disponível em por- tal.sbpcnet.org.br/publicações/ciência-para-o-brasil/. Boa leitura!

*Maria do Carmo F. Soares, Secretária Regional da SBPC-PE

Maria do Rosário Andrade Leitão**, Secretária Adjunta da SBPC-PE

NOTA DE IMENSO PESAR: IVON PAL- MEIRA FITTIPALDI (1943-2020)

Professores do Departamento de Física da UFPE, publicado na Sociedade Brasileira de Física em 31.12.2020

É com grande consternação e enorme tristeza que comunicamos que neste dia nosso colega e grande amigo, Ivon Palmeira Fittipaldi, perdeu a luta para a Covid-19, esta terrível doença.

Perdemos um grande idealista, grande professor, e batalhador incansável em defesa da educa- ção, da ciência e dos bons valores.

Fittipaldi, ou Fitti como nós o chamamos, era um dos cinco estudantes da Escola de Engenha- ria do Recife que em 1967 procurou Sérgio Mascarenhas num hotel do Recife, onde se reali- zava uma reunião do Conselho Deliberativo do CNPq, para pedir apoio para a instalação de um grupo de pesquisa em Física no Recife.

Graduou-se em Engenharia Elétrica pela UFPE em 1968 e, ao retornar da USP em 1971, com o diploma de Mestre foi contratado pela UFPE, como previsto no convênio celebrado entre a UFPE e o CNPq. Foi um dos fundadores do Departamento de Física em 1971. Fez sua tese de doutorado em Física Teórica (Magnetismo) na UFPE, que defendeu na USP, onde obteve o título de Doutor em 1974. Fez Pós-Doutorado na Temple University (1974) e Oxford Univer- sity (1975), e foi Professor Visitante em Nagoya University (1982), no Laboratório de Física dos Sólidos de Orsay (1985), no Instituto de Física da Academia de Ciências da Polônia (1988), e Fulbright Fellow na Boston University (1987-1988). Foi bolsista de Produtividade do CNPq, Nível I, continuadamente por 25 anos, tendo orientado

inúmeras teses e dissertações.

Fittipaldi teve um papel muito importante na implantação do Depar- tamento de Física da UFPE, contribuindo no ensino, na pesquisa e na gestão, sempre com muita criatividade, otimismo e entusiasmo con- tagiante. Na UFPE foi Chefe do Departamento de Física (1980-82), Coordenador da Pós-Graduação em Física (1991-92), Diretor do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (1993-97) e Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação (1983-87). Também foi Diretor Científico da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Per- nambuco - FACEPE (1997-99) e Implantador e Coordenador-Geral da Representação Regional do Ministério da Ciência e Tecnologia no Nordeste (ReNE/MCTI).

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A partida de Fittipaldi é realmente um acontecimento muito triste neste ano sombrio. Pernam- buco e o Brasil perdem um profissional competente, muito ativo, otimista, proativo e sempre disposto a investir sua energia em atividades que contribuem para o desenvolvimento da Edu- cação e da Ciência, além de fazer o que podia para ser um elo de ligação da comunidade uni- versitária com a sociedade. Foi dele a ideia e a iniciativa de criar uma Homenagem aos Notá- veis Cientistas Pernambucanos, na qual a cada ano são escolhidos cientistas falecidos das qua- tro grandes áreas do conhecimento, para receber homenagem na Assembleia Legislativa de Pernambuco e passar a integrar a galeria dos imortais.

Para 2021, nossa proposta é que o homenageado em Ciência Exatas seja nosso inesquecível amigo Ivon Palmeira Fittipaldi.

Recife, 29 de dezembro de 2020

Professores do Departamento de Física da UFPE

ACADEMIA PERNAMBUCANA DE CIÊN- CIAS SELECIONA OITO PROFESSORES DA UFPE COMO NOVOS ACADÊMICOS

ASCOM – UFPE, 12/01/2021

São avaliadas titulações, publicações científicas, formação de recursos humanos, prêmios e láureas, coordenação de projetos de pesquisa, patentes e atuação profissional

A Academia Pernambucana de Ciências (APC) anunciou os nomes de 14 novos acadêmicos que vão integrar a instituição. Entre os escolhidos, oito são docentes da universidade. A APC selecionou três novos acadêmicos honorários e 11 novos pesquisadores como acadêmicos efetivos.

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São escolhidos para ocupar a cadeira de acadêmico honorário os cientistas que, no Brasil ou no Exterior, têm contribuição de destaque para o desenvolvimento da educação, ciência ou tecnologia. O convite foi feito aos pesquisadores Sílvio Meira (UFPE), Carlos Médicis Morel (Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz) e Malaquias Batista Filho (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira - Imip). Até então, o único que ocupava a cadeira na categoria era o professor Sérgio Rezende (UFPE).

Para as cadeiras de acadêmicos efetivos, a APC escolheu Alfredo Gomes (reitor da UFPE), Augusto Cezar Alves Sampaio (UFPE), Belmira Lara da Silveira A. da Costa (UFPE), George Darmiton da C. Cavalcanti (UFPE), Helinando Pequeno de Oliveira (Universidade Federal do Vale do São Francisco - Univasf), João Ricardo Mendes de Oliveira (UFPE), Jones Oliveira de Albuquerque (Universidade Federal de Pernambuco - UFRPE), Leila Maria Beltrão Pereira (Universidade de Pernambuco - UPE), Patrícia Maria Guedes Paiva (UFPE), Rinaldo Apare- cido Mota (UFRPE) e Ulisses Paulino de Albuquerque (UFPE).

O reitor Alfredo Gomes menciona sua alegria por ter seu nome aprovado para compor a APC.

“Sem sombra de dúvida, todo e qualquer pesquisador ficará muito feliz com um reconheci- mento desse porte. A APC é um espaço que amplia, reconhece e fortalece o desenvolvimento da ciência, a sua popularização, o diálogo com a sociedade de forma muito ampla”, afirma.

Para Alfredo, compor uma instituição dessa natureza representa caminhar no sentido do forta- lecimento e da defesa da ciência, não apenas no âmbito da universidade, mas do estado e de outros espaços. “A Academia é muito importante pelo seu perfil diverso de composição de diferentes áreas do saber, sempre tem uma postura de acolher novos pesquisadores, de estimu- lar o debate sobre a ciência, sobre a tecnologia, sobre o processo formativo dos nossos cientis- tas. É uma grande honra participar dessa instituição. Farei todo o esforço possível para que essa participação seja no sentido do seu fortalecimento e do seu engrandecimento”, explica.

Para ter indicação aprovada como efetivo é preciso ter, de acordo com o regimento da APC,

“ilibada conduta moral e profissional, notória competência em sua área profissional; interesse no conhecimento interdisciplinar; vocação associativa para a conveniência acadêmica, na permuta de conhecimentos de sua área profissional com as demais áreas científicas; e morar no estado de Pernambuco”.

O professor emérito da UFPE Silvio Meira, escolhido como acadêmico honorário, agradeceu o carinho e reconhecimento pelos pares. “Espero poder contribuir para fazer com que a prática da ciência se torne não só mais ampla em Pernambuco, mas, principalmente, contribua com a economia e a sociedade para melhorar a qualidade de vida, gerar emprego e renda. Fico hon- rado por estar ao lado de ícones da ciência, como Sérgio Rezende, Morel e Malaquias” co- memora.

O presidente da Academia, João Antônio Aleixo da Silva, professor titular do Departamento de Ciência Florestal da UFRPE, explica que a escolha de novos membros é realizada a partir de indicações feitas pelos membros da APC. Os candidatos têm seus currículos avaliados e são selecionados pelo Comitê Científico, composto por sete acadêmicos.

Ele explica que a avaliação é realizada com base em um barema, que atribui notas às diversas atividades dos candidatos e seleciona os novos acadêmicos em função das vagas existentes.

“O comitê científico considera vários itens dos currículos dos indicados, cada uma com um peso específico. São analisadas titulação, publicações científicas, formação de recursos huma- nos, prêmios e láureas, coordenação de projetos de pesquisa, patentes e atuação profissional”, exemplifica. A APC tem 100 cadeiras de acadêmicos efetivos, das quais, atualmente, 99 estão ocupadas.

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O professor Ulysses, selecionado como efetivo, fala que recebeu com alegria e surpresa o anúncio, pois não sabia ainda da indicação. “Ocupar uma cadeira da APC, como de qualquer outra academia respeitável, é uma grande honra. A seleção representa um reconhecimento da nossa trajetória como cientista, da nossa contribuição para a ciência e, mais especificamente, para a ciência do estado de Pernambuco”, analisa.

SOBRE a APC - A Academia Pernambucana de Ciências (APC), fundada em 7 de janeiro de 1978, é uma sociedade civil, laica, sem fins lucrativos nem político-partidários, de natureza técnica, científica e educacional. Sua finalidade é promover o desenvolvimento de todos os setores do conhecimento humano, visando também a prestação de serviços à sociedade, seja por seus próprios recursos, seja em colaborações ou financiamentos de entidades públicas, privadas e de pessoas físicas ou jurídicas.

2020: VACINAS, UMA ODISSEIA PARA O FUTURO!

Rafael Dhalia*

Desde 1721, quando Jenner criou a primeira vacina, até o início da pandemia de SARS-Cov-2 em 2019, vacinas para pouco mais de 30 doenças foram aprovadas para utilização em massa em humanos. Levavam-se várias décadas entre o desenvolvimento de cada vacina, que eram basicamente desenvolvidas pelas técnicas de atenuação e inativação de vírus e bactérias. A partir da década de 70 do século passado, com o advento da Biologia Molecular, novas tecno- logias permitiram o surgimento das primeiras vacinas recombinantes, baseadas em antígenos destes microrganismos. Um passo mais ousado foi dado na década de 90, com o início das manipulações de ácidos nucléicos com a finalidade de obtenção de vacinas. Novas platafor- mas vacinais foram estabelecidas principalmente para vírus, incluindo outros coronavírus co- mo o SARS-1 e o MERS. Apesar da evolução inegável das vacinas baseadas em adenovírus e RNA, em termos de segurança e eficácia, essas novas tecnologias ainda eram cercadas de incertezas e desconfianças. Eis que, em 2020, um novo vírus derruba o mundo de joelhos, catapultando as novas tecnologias de uma condição de promessa para a de realidade.

Apesar de termos alcançado um número tão restrito de vacinas durante toda a História da Humanidade, considerando o grande número de doenças infecciosas que ameaçam continua- mente a vida humana, 2020 foi um ano para exaltarmos e celebramos a Ciência - inexplica- velmente ainda negada, desacreditada pelo obscurantismo remanescente. Vejamos bem o ta- manho deste feito. Historicamente o desenvolvimento de uma vacina requereu entre 10 e 30 anos, como são exemplos as vacinas contra a catapora (28 anos), o rotavírus (15) e a tubercu- lose (13). São exceções de rapidez as vacinas contra o ebola (5) e a caxumba (4). O processo é moroso pois existem pelos menos cinco (um em animais e quatro em humanos) fases de de- senvolvimento: Fase pré-clínica em animais, Fases I a III de ensaios em humanos e Fase IV (vacinação em massa). Nessas fases são avaliados os antígenos, os adjuvantes, a biodistribui- ção, toxicidade e obviamente a segurança e a eficácia das vacinas. Pelos ritos tradicionais a sequência das etapas deve ser respeitada, e só se deve avançar de uma etapa a outra depois de análises interinas rigorosas dos resultados, que credenciem para este avanço. A última etapa de ensaios clínicos (Fase III) é considerada a mais decisiva, pois de seus resultados depende a aprovação/liberação, pelos órgãos regulatórios, para a imunização populacional (Fase IV).

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Uma vacina quando chega à Fase IV não significa ser necessariamente definitiva, pois o mo- nitoramento populacional nesta fase é de extrema relevância, considerando que eventuais efei- tos adversos mais graves costumam só aparecer a cada 20 milhões de vacinados. Vacinas co- mo a da Febre Amarela continuam sendo monitoradas desde a década de 1930, e a da Dengue da Sanofi Pasteur, por exemplo, chegou na Fase IV, mas foi descontinuada para vacinação em massa, em virtude da constatação de aumento do risco de evolução para formas graves da doença, nos vacinados que não haviam contraído previamente nenhum dos sorotipos do vírus.

Pode-se afirmar, portanto, que as vacinas são extremamente seguras, pois além de serem ava- liadas com rigor durante todo o processo de desenvolvimento, continuam sendo monitoradas quanto a possíveis efeitos adversos, durante anos de cobertura vacinal.

Então como explicar os avanços de 2020? Atualmente (13 de janeiro de 2021), 65 vacinas chegaram às diferentes fases de avaliação em humanos, 20 delas na última fase de testes (Fase III), oito das quais estão aprovadas para uso emergencial e duas já aprovadas sendo utilizadas para vacinação em massa. De fato, um salto exponencial da Ciência, que abre novas perspec- tivas na produção de vacinas, incluindo a retomada para se obter vacinas que apresentaram estudos fracassados, como as vacinas contra HIV e cepas resistentes da tuberculose. Foi feito em um ano o que não se via há séculos, e 2021 pode ser ainda mais instigante, pois outras quase 200 vacinas contra SARS-Cov-2 estão em marcha. A pergunta inevitável é: como este feito extraordinário da Ciência foi possível? Em primeiro lugar, foi graças ao vasto conheci- mento acumulado no desenvolvimento das vacinas, sobretudo nas últimas três décadas com o advento de novas tecnologias. Esta base sólida permitiu a rápida adaptação das plataformas, antigas e atuais, para o desenvolvimento de inúmeras vacinas contra o SARS-Cov-2. Além da bagagem científica, o grande volume de informações compartilhadas entre cientistas do mun- do inteiro, assim como os vultuosos investimentos tanto de governos quanto de companhias do mercado mundial de imunobiológicos, somaram-se para ampliar esse fenômeno. Outro aspecto relevante é que o processo de desenvolvimento foi muito acelerado pela análise em tempo real dos resultados de cada fase, e pela permissão emergencial de realizar fases de for- ma simultânea, obviamente com base nos resultados de segurança das fases iniciais e mantida a ordem natural das mesmas. Além disto, e não menos importante, a circulação viral intensa em muitos países, permitiu uma aceleração incomum na avaliação das vacinas.

Foi possível rapidamente correlacionar participantes acometidos pela Covid-19, nos estudos populacionais, com as doses de placebo e de vacina, permitindo assim estimar em menor tem- po a eficácia preliminar. O último ponto, que talvez sintetize todos, foi a necessidade urgente de dar uma resposta a um novo vírus que embora de baixa letalidade, venha ceifando diaria- mente milhares de vidas no mundo. Assim, tornou-se imperativa uma escolha nunca dantes nem sequer pensada, pois deixou de ser aceitável para nós, como espécie, a submissão ao ritu- al de um tempo médio de 20 anos para desenvolver uma vacina. E a escolha pela vida preva- leceu, com a chegada de 20 vacinas, entre as mais de 200 em desenvolvimento, nas Fases III e IV de avaliação. Algumas características, e potenciais, de cada uma dessas vacinas pioneiras são descritos nas tabelas a seguir (atualizadas em 13/01/2021), sem juízo de valor, pois todas estas, e muitas outras que virão, são necessárias ao enfrentamento da pandemia de SARS- Cov-2.

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14 Vacinas de Material Genético

Nome Empresa/Instituto Tipo Temp.

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Preço Eficácia

1-Comirnaty Pfizer/Biontech RNA -70C 150 R$ 95%

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, expressa na forma de proteína de pré-fusão, ancorada à membrana plasmática celular. RNA encapsulado em nanopartículas lipídicas. Aprovada para uso emergencial nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, União Europeia, Argentina, Chile, México, Pa- namá, etc. e para uso em massa, na Arábia Saudita, Barein e Suíça.

2-mRNA-1273 Moderna RNA -20C 150 R$ 94.5%

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, expressa na forma de proteína de pré-fusão, ancorada à membrana plasmática celular. RNA encapsulado em nanopartículas lipídicas. Aprovada para uso emergencial nos Estados Unidos, Canadá e União Europeia.

3-CVnCoV CureVac RNA 4C n/d** n/d

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, expressa na forma de proteína de pré-fusão, ancorada à membrana plasmática celular. RNA encapsulado em nanopartículas lipídicas. Apesar de ter entrado recentemente na Fase III, 14 de dezembro de 2020, promete revolucionar o mercado das vacinas de RNA pois pode ser mantida 3 meses em geladeira, permanecendo estável 24 horas na temperatura ambiente.

4-AG0302-COVID19 AnGes DNA t.a*** n/d n/d

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, na forma de proteína de pré-fusão. DNA purificado. Tem o enorme potencial de poder ser mantida por pelo menos 1 ano em temperatura ambiente, não neces- sitando de cadeia fria, o que pode facilitar bastante a sua distribuição, inclusive para as regiões de mais difícil acesso do planeta.

5-ZyCov-D Zydus DNA t.a n/d n/d

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, na forma de proteína de pré-fusão. DNA purificado. Tem quase a mesma vantagem da AG0302-COVID19, embora o seu prazo de estabilidade em temperatura ambiente seja mais reduzido (3 meses). Seus fabricantes anunciaram sua entrega, para distribuição, a partir do primeiro trimestre de 2021.

*Temperatura de armazenamento; **Não definido; ***Temperatura ambiente.

Vacinas de vetor viral (Adenovírus)

Nome Empresa/Instituto Tipo Temp.* Preço Eficácia

6- Sputnik V Gamaleya Ad5 e Ad26 4C 50 R$ 91.4%

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, expressa na forma de proteína de pré-fusão, ancorada à membrana plasmática celular. Segmento genômico de DNA, inserido em dois vetores de replicação deficiente diferentes. O uso de dois vetores parece aumentar a intensidade, e a especificidade, da res- posta imunológica induzida. Aprovada para uso emergencial na Argentina, Bolívia, Algéria, Belarus e Rússia.

7- Convidecia CanSinoBIO Ad5 4C n/d** n/d

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, expressa na forma de proteína de pré-fusão, ancorada à membrana plasmática celular. Segmento genômico de DNA, inserido no vetor Ad5 de replicação deficiente. Aprovada para uso emergencial na China, desde 25 de junho de 2020, vem sendo utilizada na imunização de militares chineses (em regime de dose única).

8- Ad26.COV2.S Johnson& Johnson Ad26 4C n/d n/d

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, expressa na forma de proteína de pré-fusão, ancorada à membrana plasmática celular. Segmento genômico de DNA, inserido no vetor Ad26 de replicação deficiente. Inicialmente avaliada em regime de dose única, iniciaram-se estudos em regime de duas doses visando aumentar a eficácia. 500 milhões de doses foram reservadas pelo fundo COVAX de distribuição gratuita.

9- AZD1222 Oxford/AstraZeneca ChAdOx1 4C 20 R$ 62-90%

Codifica a espícula inteira do SARS-Cov-2, expressa na forma de proteína de pré-fusão, ancorada à membrana plasmática celular. Segmento genômico de DNA, inserido em vetor de replicação deficien- te de Chimpanzé. Acordo de transferência tecnológica com a FIOCRUZ. Vacina escolhida como prio-

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ritária, pelo Governo Federal Brasileiro, para fazer parte do Programa Nacional de Imunização. Apro- vada para uso emergencial na Argentina, México, Marrocos, Índia e Inglaterra, faz parte do fundo COVAX de distribuição gratuita. Foi solicitado aprovação para uso emergencial no Brasil, para a ANVISA, em 08 de janeiro de 2021. Empresa optou por não ter lucros durante a pandemia, repassan- do a vacina pelo preço de custo.

*Temperatura de armazenamento; **Não definido;

Vacinas de Subunidade proteica

Nome Empresa/Instituto Tipo Temp.* Preço Eficácia

10- EpiVacCorona Bektop Proteína 4C n/d*** n/d

Peptídeos do SARS-Cov-2, conjugados em uma proteína carreadora, adsorvidos em adjuvante. Ape- sar de ainda não terem resultados de Fase III divulgados, a vacina já foi aprovada para uso emergen- cial na Rússia, desde 14 de outubro de 2020. Altamente estável, pode permanecer por mais de 2 anos em geladeira.

11- NVX-CoV2373 Novavax Proteína 4C n/d n/d

Espícula completa do SARS-Cov-2, expressa em sistema heterólogo eucariótico, conjugada a nano- partículas associadas à adjuvante. O uso do adjuvante aumentou em mais de 100 vezes a intensidade da resposta imune, abrindo um novo cenário para essas moléculas no enfrentamento à Covid-19.

12- ZF2001 ZFSW Proteína n/i** n/d n/d

Domínio de ligação da espícula do SARS-Cov-2, ao receptor (RBD-S), conjugado à adjuvante. Os resultados preliminares ainda não foram divulgados.

13- CoVLP Medicago VLP 4C n/d n/d

Espícula completa do SARS-Cov-2, expressa em folhas de tabaco, apresentada na superfície de uma Partícula Semelhante a Vírus – VLP (administrada sozinha e conjugadas a adjuvantes). Vacina capaz de induzir uma resposta imunológica 10 vezes superior a induzida pelo próprio vírus, ficando também evidente o papel central dos adjuvantes no acréscimo dessa resposta.

14- S-Trimer Clover Biopharmaceuti- cals

Proteína 4C n/d n/d

Espícula completa do SARS-Cov-2, expressa em células de mamíferos, administrada com adjuvantes.

Mostrou excelente reposta de anticorpos neutralizantes na Fase I, iniciando a sua Fase III em 17 de dezembro de 2020. Apresenta excelente estabilidade, podendo permanecer 6 meses em geladeira e até um mês estável, em temperatura ambiente. Também faz parte do fundo COVAX de distribuição gra- tuita.

*Temperatura de armazenamento; **Não informado; ***Não definido.

Vacinas de vírus inativado

Nome Empresa/Instituto Tipo Temp.* Preço Eficácia

15- CoronaVac Sinovac Vírus 4C 50 R$ 50.4-65.3%

Vírus SARS-Cov-2 cultivado em células Vero, inativado com β-propiolactona e adsorvido em hidró- xido de alumínio. Acordo de transferência tecnológica com o Instituto Butantan. Aprovada para uso emergencial na China, desde 28 de agosto de 2020, foi solicitado aprovação para uso emergencial no Brasil, para a ANVISA, em 08 de janeiro de 2021. O Ministério da Saúde anunciou, em 09 de janeiro de 2020, que fechou um acordo com o Instituto Butantan de exclusividade na distribuição da Coro- naVac pelo SUS, para distribuição simultânea para todos os estados. Aprovada em 11/01/2021, para uso emergencial, na Indonésia.

16- BBIBP-CorV Sinopharm Vírus 4C n/d** 79.34%

Vírus SARS-Cov-2 cultivado em células Vero, inativado com β-propiolactona e adsorvido em hidró- xido de alumínio. Mais de 1 milhão de pessoas já se vacinaram, e a vacina foi aprovada para uso emergencial no Egito e para vacinação em massa na China, Barein e Emirados Árabes.

17- WIV04 Sinopharm Vírus 4C n/d n/d

Além da BBIBP-CorV desenvolvida em Beijing, a Sinopharm desenvolveu esta segunda vacina de vírus inativado baseada em uma cepa circulante em Wuhan. Mesmo não tendo divulgado os resulta- dos preliminares de eficácia da Fase III, a vacina foi liberada para uso emergencial na China e nos Emirados Árabes.

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18- Covaxin Bharat Biotech Vírus 4C n/d n/d

Apesar de da sua recente entrada na Fase III, em 11 de novembro de 2020, a vacina de vírus inativada indiana já recebeu autorização para uso emergencial na Índia no dia 03 de janeiro de 2021. Mesmo sem a divulgação da sua segurança e eficácia, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (AB- CVAC) vem negociando a compra de 5 milhões de doses para as clínicas privadas, mesmo sem o aval da ANVISA.

19- KMS-I IMB Vírus 4C n/d n/d

A quarta vacina de vírus inativada chinesa entrou na Fase III no dia 09 de dezembro de 2020. A vaci- na desenvolvida pelo Institute of Medical Biology, ainda não tem seus resultados preliminares de Fase III divulgados.

20- QazCovid RIBSP Vírus 4C n/d n/d

No último dia de 2020, 31 de dezembro, entrou na Fase III de testes a vacina de vírus inativado de- senvolvida pelo Research Institute for Biological Safety Problems do Cazaquistão. Diante dos pro- missores resultados de Fase II, os responsáveis pela vacina pretendem obter a sua aprovação para uso limitado ainda no primeiro trimestre de 2021.

*Temperatura de armazenamento; **Não definido.

Quase 33 milhões de pessoas foram vacinadas com algumas destas vacinas até o fechamento deste manuscrito (13 de janeiro de 2021), e a perspectiva é que esta capacidade de imunização também acelere vertiginosamente, diante de várias iniciativas mundo afora. Não custa lembrar que as vacinas salvam diretamente três milhões de pessoas todos os anos, e outras centenas de milhões são beneficiadas pelo efeito indireto da redução da circulação de microrganismos patogênicos. É impossível imaginar nos dias de hoje um mundo sem as vacinas, onde amon- toados de corpos, acometidos por doenças infecciosas, eram recolhidos das ruas e um quinto das nossas crianças não sobreviviam até os seus dois anos de idade. É certo que teremos desa- fios logísticos colossais pela frente, vacinar quase oito bilhões de habitantes do planeta, em regimes de duas doses, de certo não será uma tarefa trivial. Ainda existem indícios de que teremos de manter a cobertura vacinal de pelo menos 70% da população ao longo dos próxi- mos anos, para manter a imunidade de rebanho, pois tudo nos leva a crer que assim como para a gripe, a vacinação contra o SARS-Cov-2 tenha de ser sazonal.

Tudo isto é possível e a humanidade vem mostrando que é capaz, portanto, mais do que nunca é hora de apoiar a Ciência e seus esforços homéricos para proteger nossa espécie.

Agora como cidadãos comuns precisamos também fazer a nossa parte: continuarmos acredi- tando na Ciência e mantermos as medidas de prevenção como o distanciamento social, higie- nização e uso de máscara. Para os que achavam que 2020 tinha sido um ano perdido, fica a máxima que é em momentos de crise que criamos as nossas melhores oportunidades. Que venha 2021!

Agradecimento especial à Leda Regis, pela minuciosa revisão deste manuscrito.

*Rafael Dhalia – Pesquisador da FIOCRUZ-PE e Acadêmico da APC

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ARBOVIROSES E A PANDEMIA COVID-19

Maria Helena N. L. Silva-Filha*, Maria de Fátima P. Militão de Albuquerque**, Lêda N. Regis***

As principais arboviroses que circulam no Brasil, dengue, chikungunya e Zika, apresentam uma sazonalidade caracterizada pelo aumento de casos a partir do mês de janeiro até maio de cada ano. Em seguida, o número de casos apresenta, geralmente, uma queda gradativa e esta- bilização que se mantém até o final do ano, como representado tipicamente no gráfico de 2019 (Fig. 1). Estas arboviroses têm notificação compulsória em razão de sua relevância para a saúde pública. Em 2020/2021, anos em que o mundo enfrenta a pandemia causada pelo co- ronavírus Sars-CoV-2 (Covid-19), os boletins epidemiológicos emitidos pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde mostram uma situação peculiar e preocu- pante. Os dados de dengue, cuja incidência é notadamente a mais elevada dentre aquelas ar- boviroses, mostraram no ano de 2019, o registro de 1.544.597 casos prováveis e 718 óbitos, o que representou um aumento de 488% dos casos prováveis, ou seja sem confirmação labora- torial, em relação a 2018. O número de casos prováveis em 2019 foi considerado o segundo maior na série histórica desde 1975, sendo superado apenas pelo ano de 2015.

Em 2020, a curva de casos prováveis é ascendente e com registros claramente superiores aos notificados no mesmo período de 2019, da 1a até a 11a semana epidemiológica (SE) de 2020, que correspondeu à semana de 8-14 março (Fig. 1). A partir da 12a SE (15-21 de março), subi- tamente e atipicamente, os registros começam a decrescer contrariando a tendência da curva deste ano e a tendência sazonal histórica. No período entre a 12a SE até a 29a SE, último re- gistro feito até o boletim epidemiológico 31 da SVS, o número de casos prováveis se mantém decrescente (Figura 1). Este boletim destaca que « ...esta redução pode ser atribuída a mobi- lização que as equipes de vigilância epidemiológica estaduais estão realizando diante do enfrentamento da emergência da pandemia do coronavírus (Covid-19), após a confirmação dos primeiros casos no Brasil em março de 2020, ocasionando em um atraso ou subnotifica- ção para os casos das arboviroses ». O boletim menciona que a redução também pode ter sido influenciada por eventuais problemas de atualização no sistema. É importante sublinhar que, apesar da queda atípica de casos prováveis de dengue registrados a partir da 12a SE, atri- buída a questões operacionais resultantes da mobilização dos serviços de saúde para a pande- mia de Covid-19, o número total de registros até a 29a SE (12-19 julho) atingindo mais de 900.000 casos prováveis, uma incidência de 431 casos/100 mil habitantes, é preocupante.

Resta ainda a pergunta: - Qual seria o real cenário epidemiológico das arboviroses em 2020, cuja curva até a instalação da pandemia do novo coronavírus já indicava tendência alarmante?

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Fonte: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/august/06/Boletim-epidemiológico-SVS- 31.pdf

Este quadro revela, portanto, uma face do impacto direto da pandemia da Covid-19 no acom- panhamento epidemiológico de arboviroses, como deve certamente ocorrer nos processos de notificação e atenção de outros agravos à saúde. Outro aspecto que não pode ser esquecido, é a possibilidade do aumento, previsível, da exposição humana ao vetor destas arboviroses, Ae- des aegypti, como consequência direta das medidas de distanciamento social, absolutamente necessárias para mitigar a transmissão da Covid-19. A depender das condições de moradia da população, possivelmente precárias para a maioria, a permanência prolongada em casa pode favorecer a transmissão de arbovírus. A necessidade do armazenamento de água para uso do- méstico ampliado pela permanência das pessoas em casa e o aumento de oportunidades para a hematofagia do vetor, pela concentração de pessoas no ambiente doméstico, implicam previ- sivelmente em um maior crescimento populacional do Aedes aegypti. Estudos diversos têm demonstrado que as populações de Aedes estão estabelecidas e são abundantes nos espaços urbanos de todas as regiões brasileiras, e que se trata de uma espécie bem domiciliada, repro- duzindo-se e permanecendo predominantemente na morada humana. Desta forma, é possível prever que a maior permanência das pessoas em casa retroalimenta positivamente a prolifera- ção e permanência dos mosquitos neste espaço, elevando consequentemente o risco de trans- missão viral.

Um conjunto de situações novas, não previstas, como por exemplo, (i) o direcionamento dos agentes de saúde, de serviços de transportes, de limpeza e outros serviços para o atendimento aos atingidos pela pandemia, (ii) a concentração dos esforços para limitar o contágio pela Co- vid-19, (iii) a mudança de percepção em relação ao danos causados pelas arboviroses, com letalidade muito menor à do novo vírus, entre outros fatores, podem haver convergido para reduzir a busca ativa de atendimento na atenção primária e, portanto, de notificações e regis- tro de casos no sistema de vigilância epidemiológica. Assim, este conjunto de situações rela- cionadas à pandemia Covid-19 tem um impacto indireto em vários campos da saúde, mas muito peculiar no campo das arboviroses em vista da drástica mudança das atividades da po- pulação e ocupação nos ambientes. Estas são observações que indicam a importância de estu- dos cuidadosos para avaliar a viabilidade ou não de uso dos dados epidemiológicos das arbo- viroses urbanas nestes anos marcados pela pandemia, em estudos comparativos futuros. Tais estudos são necessários devido à relevância destas arboviroses sobretudo nos últimos anos.

Em 2014 e 2015, ocorreu a introdução dos vírus chikungunya e Zika no Brasil, desafios de grande envergadura, sobretudo considerando o quadro de hiperendemicidade pré-existente de

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dengue. As pesquisas realizadas de imediato no Brasil sobre estes arbovírus emergentes reve- laram facetas inusitadas. O vírus Zika foi revelado como agente etiológico de nova síndrome que compromete recém-nascidos e o vírus chikungunya tem apresentado padrões de morbida- de e mortalidade preocupantes em relação àqueles previamente reportados em outros países.

Ambos os vírus estão associados a manifestações neurológicas agudas, como encefalite, me- ningoencefalite e síndrome de Guillain Barré. O vírus Zika tem sido mais desafiador e assu- miu caráter de emergência internacional em saúde pela Organização Mundial de Saúde, entre fevereiro e novembro de 2016.

Os dados mostram que ainda estão sendo registrados novos casos da síndrome congênita de Zika (SCZ). Nos últimos quatro anos, no total foram confirmados 3.474 casos no País. Des- tes, 954 foram confirmados em 2015; 1.927 em 2016; 360 em 2017; 178 em 2018. Em 2019, até outubro, foram confirmados 55 casos, dos quais 29 foram de recém-nascidos ou crianças nascidas naquele ano; três evoluíram para óbito. Apesar do decréscimo do registro de casos nos últimos anos, diversos aspectos associados a esta doença permanecem um campo aberto de descobertas. Um vírus até então praticamente incógnito, exceto por epidemias sem destaque na África e Ásia. Tudo a desvendar. Em tempo recorde foi produzido um arsenal de conhecimentos, e muitos absolutamente inéditos no campo de arboviroses, de suas formas de transmissão e manifestações clínicas.

No campo das iniciativas voltadas ao controle de Aedes, abordagens inovadoras têm sido fo- mentadas e avaliadas a campo em tempo recorde, em vista da necessidade de ferramentas mais robustas para o controle do vetor. Dentre as iniciativas, destacam-se as diferentes abor- dagens de liberação de Aedes modificados visando a redução da transmissão vetorial, além daquelas para o desenvolvimento e testes de vacinas e exames diagnósticos. Com as medidas de contingenciamento da Covid-19, projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico lan- çados no Brasil estão naturalmente sofrendo desaceleração ou paralização, cujo impacto será necessário avaliar.

O cenário relacionado aos vírus emergentes revelados neste início do século XXI, colocam em risco e atingem, em maior ou menor escala, a população humana. Hoje a pandemia da Covid-19 é, indubitavelmente, o maior desafio em saúde pública mundial das últimas dez dé- cadas. No Brasil, associado a este quadro, temos a convivência com importantes arboviroses mantidas pela presença constante do vetor e de outras condições que têm propiciado a manu- tenção da transmissão viral que, pelo menos no caso de dengue, perdura ao longo de mais de três décadas. As respostas produzidas pela ciência têm sido essenciais para elucidar questões e nortear os próximos passos, entretanto o nosso País terá o desafio de conviver e buscar solu- ções para um conjunto de situações complexas já existentes e para a ameaça de vírus emer- gentes. Neste contexto, o fortalecimento do Sistema Único de Saúde-SUS é essencial para que equipes de vigilância epidemiológica continuamente preparadas, estejam prontas para atuar nas emergências relativas às epidemias causadas por vírus emergentes, com ações rá- pidas e coordenadas, mantendo de forma efetiva as ações para os agravos endêmicos e rein- cidentes.

*Maria Helena Neves Lobo Silva-Filha, Pesquisadora do Instituto Aggeu Maga- lhães/FIOCRUZ-PE e Acadêmica da APC

**Maria de Fátima P. Militão de Albuquerque, Docente do Departamento de Clínica Mé- dica da UFPE e Acadêmica da APC.

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***Lêda Narcisa Regis, Pesquisadora do Instituto Aggeu Magalhães/FIOCRUZ-PE e Aca- dêmica da APC

Fontes:

Brasil. Ministério da Saúde.

https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/august/06/Boletim-epidemiológico-SVS-31.pdf Brasil. Ministério da saúde. https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46118-brasil- apresenta-balanco-apos-4-anos-de-epidemia-do-zika

O PREÇO DO CONHECIMENTO

Valter da Rosa Borges *

O conhecimento enciclopédico é um objetivo, na atualidade, inalcançável. O crescente au- mento do conhecimento como um todo nos dá a deprimente sensação de que sabemos cada vez menos por mais que saibamos cada vez mais. Este conhecimento avassalador, com seus desdobramentos no campo da ciência e da tecnologia aumenta, a cada dia, a certeza da nossa ilimitada ignorância.

Por mais que o homem se especialize e perca, em conseqüência, a visão do conhecimento em sua totalidade, já começa a pressentir que essa especialização lhe exige permanente atenção para se manter atualizado.

Apesar disto, para não abdicarmos de uma necessária visão panorâmica do conhecimento, precisamos saber de tudo um pouco, mesmo que superficialmente. Assim, estaremos sempre orientados sobre a posição do nosso conhecimento especializado em relação às outras áreas cognitivas. Este conhecimento, ao mesmo tempo geral e especializado, uma vez unificado, nos fornece um rico material para a reflexão sobre o progresso do saber e suas consequências quanto à sua aplicação.

A complexificação do conhecimento e da própria sociedade, em galopante processo de globa- lização, (anteriormente denominada de aldeia global por Marshall Mcluhan) com a interação acelerada de culturas diferentes, resulta no confronto de normas e valores conflitantes entre si, e nos torna mais ansiosos e inseguros ante a multiplicidade de opções para o destino da hu- manidade.

O que fazer do que sabemos e como fazê-lo adequadamente? Até onde a ciência e a tecnolo- gia nos levarão? Tudo o que podemos fazer, devemos fazê-lo? É racional por freios à criativi- dade humana pelo receio de que ela possa nos trazer mais danos do que benefícios? Ou deve- mos confiar que a criatividade retifique o que de malefícios ela gerou? Afinal, não sabemos se o que é bom ou mau para o presente também o será para o futuro.

Saber, como dizia Francis Bacon, é poder. Quem sabe mais, pode mais. Porém, é de funda- mental importância saber aplicar o que se sabe em que cada situação específica, com adequa- da operacionalidade. Saber é necessário, mas não suficiente, e sim, saber fazer o que se sabe.

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Na verdade, a vida é uma permanente aventura porque tudo é mutável e temporário e o que antes era um mal pode, em outras circunstâncias, transformar-se em um bem, e vice-versa.

Humberto Maturana e Francisco Varela afirmaram categoricamente que “viver é conhecer”. O conhecer é não apenas o próprio viver como também a capacidade de sobrevivência da cada ser. Os indivíduos mais aptos são aqueles que dotados de uma grande aptidão de se adaptar aos desafios do ambiente onde vivem e do conhecimento de que dispõem para nele, atuar.

O conhecimento não é apenas uma atividade do presente, mas previsão e construção do futu- ro. Desde a mais remota antiguidade, o homem se preocupa em conhecer o futuro, seja por meio de profecias, intuições, processos mágicos, observação empírica e procedimentos cientí- ficos. Graças, no entanto, ao progresso científico e tecnológico é possível também construir o futuro e prepararmo-nos para eventos possíveis mediante técnicas de simulação tão comuns no mundo da realidade virtual. Por isto, Pierre Lévy observou:

“A simulação tem hoje papel crescente nas atividades de pesquisa científica, de criação in- dustrial, de gerenciamento, de aprendizagem, mas também nos jogos e diversões (sobretudo nos jogos interativos na tela). Nem teoria nem experiência, forma de industrialização da ex- periência do pensamento, a simulação é um modo especial de conhecimento, próprio da ci- bercultura nascente. Na pesquisa, seu maior interesse não é, obviamente, substituir a experi- ência nem tomar o lugar da realidade, mas sim permitir a formulação e a exploração rápidas de grande quantidade de hipóteses. Do ponto de vista da inteligência coletiva, permite a co- locação em imagens e o compartilhamento de mundos virtuais e de universos de significado de grande complexidade.”

Conhecer o mundo exterior, conhecer o processo do conhecer e conhecer o próprio conhece- dor são atividades cognitivas que envolvem as mais diversas ciências, como a Física, a Psico- logia e a Neurologia. Se a consciência é a base do nosso conhecimento, o conhecimento, em contrapartida, aumenta o grau da nossa consciência, porque quanto mais sabemos mais somos conscientes do mundo em que vivemos e seus múltiplos problemas.

Se, segundo a Bíblia, o conhecimento é o fruto proibido da árvore do Éden, o primeiro casal (Adão e Eva) assumiu, para toda a humanidade, as vantagens e as desvantagens da primeira degustação cognitiva. Este pecado original é imperdoável, porque definitivo. A verdadeira inocência é a ignorância e esta romântica virtude paradisíaca não mais convém ao gênero hu- mano. Somos o resultado deste glorioso pecado e, dele, não queremos remissão. Preferimos o inferno do conhecimento, com todas as suas agruras, angústias e perplexidades do que o céu da ignorância e a sua entorpecente serenidade.

O conhecimento sabe cada vez mais o quanto ignora. A ignorância sequer sabe de si mesma.

* Valter da Rosa Borges foi idealizador e fundador da Academia Pernambucana de Ciências que é Presidente de Honra.

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FACEPE: HISTÓRIA A SER CONTADA

Abraham B. Sicsú*

Uma Instituição que comemora seus 30 anos por quase dois anos tem algo de especial. Desde dezembro de 2018, até fins de 2020, ocorreram as comemorações da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco-FACEPE. Quando tinha acabado de completar 29 anos, constituiu-se um grupo de trabalho para as festividades. Encerra-se com um webinário em novembro e dezembro de 2020, poucos dias antes de completar 31. O que me lembro para contar segue no texto.

Quando da volta de Dr. Miguel Arraes de Alencar a Pernambuco, após exílio, em 1986 ou 87, foi constituído um grupo de trabalho coordenado pelo Professor Sérgio Resende, do qual tive a honra de participar, para elaborar a proposta de Plano de Governo, caso ganhasse a eleição.

No documento final, três propostas constituíam a base institucional: a criação da Secretaria de Ciência e Tecnologia, a estruturação de um Fundo específico e a criação de uma Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia, nos moldes da de São Paulo.

A Secretaria foi criada, tendo Jáder de Andrade e Lúcia Melo à frente. Com o auxílio de Mar- cuscchi, comandando a SBPC Regional, e forte apoio da comunidade científica, criam-se condições para ter aprovada na Assembleia Legislativa, as bases da Fundação de Amparo, lançada em final de dezembro de 1989. As promessas são cumpridas. Sua primeira Diretoria, Sebastião Simões, Sérgio Resende e Emília Dias, dão o rumo do que se quer: Ciência e Tec- nologia apoiando o Desenvolvimento de Pernambuco. No Governo de Carlos Wilson, Lúcia Melo assume a Secretaria e se começa a estruturar o trabalho.

A primeira sede é nas dependências da Fundação Instituto de Tecnologia de Pernambuco- ITEP, em umas salinhas cedidas no prédio anexo. Na época, eu era Presidente do Instituto.

Reuniões intermináveis se desenvolviam para discutir quais os rumos a serem adotados, que instrumentos deveriam ser priorizados e, principalmente, como começar a cumprir a missão do órgão com um orçamento bastante limitado. Muitas foram as decisões tomadas, mas, quero lembrar, que, desde o início, o compromisso com o processo de desenvolvimento do Estado, foi priorizado. Foram criados programas setoriais que se baseavam nas prioridades que se tinha para a inserção da sociedade pernambucana. Não só instrumentos de apoio à comunida- de científica, a preocupação de que a comunidade acadêmica desse seu contributo em áreas chaves se fez presente.

Outro ponto a destacar nos primórdios foi a busca da sede. Uma luta encabeçada por Lúcia Melo, concretizada com o casarão da rua Benfica, cedido em comodato pela UFPE.

Duas falácias sempre são ditas pelos contemporizadores de plantão: nunca houve descontinui- dade e sempre teve apoio. Não é bem assim.

A FACEPE é um órgão do Governo Estadual. E, por isto, sujeita a ingerências e desestrutura- ções. Seria ingenuidade acreditar que pressões não ocorreram, que não esteve submetida às mesmas restrições dos demais organismos. O Decreto de criação não deixou clara a vincula- ção de recursos para a instituição. Com isto, o planejado foi muito diferente do executado.

Também, houve gestões que atendiam a interesses corporativos ou mesmo que foram utiliza- das para resolver problemas reais do Governo Estadual, mas que não eram próprias para a

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