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Pneumonia em UTI: Incidência, Etiologia e Mortalidade em Hospital Universitário*

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Pneumonia em UTI: Incidência, Etiologia e Mortalidade em Hospital Universitário*

Nosocomial pneumonia in Intensive Care Unit: Incidence, Etiology and Mortality in a University Hospital

Cláudia M D de Maio Carrilho1; Cintia M C Grion2; Eduardo A S de Medeiros3; Halha O Saridakis4; Renata Belei5; Ana Maria Bonameti6; Tiemi Matsuo7

SUMMARY

BACKgRoUnD AnD oBJECTIVES: To determine the incidence of nosocomial pneumonia, to describe the etiology and the microbiologic patterns of the cultures in these cases and to report mortality data attributed to pneumonia.

METHoDS: Cohort study involving 540 patients in an intensive care unit (ICU) for a one year period (June 1996 to June 1997). The clinical and radiological criteria of the CDC, 1988, were adopted to diagnose pneumonia, and the microbiologi- cal exams were done by hemocultures and protected specimen brushes. Demographic, diagnostic and mortality data were collected. The statistical analysis were done in the SAS program.

RESUlTS: The incidence of pneumonia was 15.4% and the incidence density was 20 pneumonia/ 1000 patients-day. The etiologic agents more frequently isolated were Acinetobacter spp. and Staphylococcus aureus (33% and 22% of the posi- tive cultures respectively). The mortality rate was higher in the patients with pneumonia (45.7% versus 33%, p = 0.02), the relative risk was 1.39 (CI95%; 1.06-1.81), and the attributed mortality was 12.7%.

ConClUSIonS: Nosocomial pneumonia was a common infection among patients in the ICU, the most frequent bacteria were Acinetobacter spp. and Staphylococcus aureus. The occurrence of pneumonia raised the mortality among these patients.

Key Words: etiology, incidence, Intensive Care Units, mortality, pneumonia

pneumonia hospitalar é definida como infecção do trato respiratório inferior, com envolvimento do parênquima pulmonar, adquirida em ambiente hos- pitalar, após 48 a 72 horas de hospitalização. É considerada precoce quando ocorre até o quarto dia e, tardia, quando tem início a partir do quinto dia; essa classificação tem grande importância para a diferenciação do agente etiológico e para a decisão quanto à terapêutica a ser instituída1. A incidên- cia de pneumonia associada ao uso de ventilação mecânica pode variar de 4,7/1000 respiradores-dia nas UTI pediátricas a 34,4 /1000 respiradores-dia nas UTI de queimados2.

A infecção hospitalar é a complicação mais freqüen- temente associada ao óbito. Nos Estados Unidos da Amé- rica, a cada ano 40.000 a 70.000 pessoas morrem devido a essa infecção, com taxa de mortalidade de 50%3. As taxas de mortalidade em UTI clínica e cirúrgica são de 44% e 23%, respectivamente; a maior taxa de mortalidade dos pacientes internados em UTI clínica é justificada pela maior gravidade desses pacientes, avaliados por escore APACHE (Acute Phy- siology and Chronic Health Evaluation), pela idade elevada e pelas causas principais da internação nesse tipo de UTI, tais como o choque, o coma ou a infecção4.

Na análise da etiologia das pneumonias nosocomiais, veri-

fica-se que cada instituição apresenta características próprias, fato que explica a diversidade dos agentes etiológicos dessas infecções. De modo geral, as pneumonias precoces são causa- das por Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis1,5, enquanto que as pneumonias tardias são causadas por bacilos gram-negativos em mais de 60% dos casos, seguidos pelos cocos gram-positivos, principalmente Staphylococcus aureus, responsável por aproximadamente 20% dos casos6. Dados publicados demonstram que 48% das pneumonias hospitalares são causadas por bacilos gram-ne- gativos e 48% por cocos gram-positivos, principalmente Sta- phylococcus aureus7. As etiologias viral e fúngica são menos freqüentes e mais encontradas em UTI pediátricas e imuno- comprometidas1. Surtos de pneumonia hospitalar determina- dos por Legionella spp também são descritos, principalmente em unidades de pacientes submetidos à transplantes renais8.

Vale ressaltar que as pneumonias nosocomiais são, em grande parte, polimicrobianas (13% a 54% dos casos) e que, na maioria, não é possível definir o agente etiológico devido às dificuldades técnicas e econômicas envolvidas na sua defi- nição nessas infecções. A cultura de escarro tem valor limita- do para definição da etiologia das pneumonias porque é um exame que apresenta especificidade de apenas 10%. Para a

A

1. Professora Assistente do Departamento de Clínica Médica, Disciplina de Moléstias Infecciosas - Universidade Estadual de Londrina(UEL).

Médica coordenadora da CCIH do HU/UEL

2. Professora Assistente do Departamento de Clínica Médica, Disciplina de Medicina Intensiva, UEL. Médica Intensivista UTI-HU/UEL 3. Professor Livre Docente da Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias da UNIFESP – SP; Médico da Divisão de M. Infecciosas do HC e GCIH FMUSP

4. Professora Adjunta da Disciplina de Microbiologia - UEL 5. Enfermeira da CCIH – HU/UEL

6. Professora Adjunta do Departamento de Clínica Médica, Disciplina de Moléstias Infecciosas, Universidade Estadual de Londrina.

7. Professora Associada do Departamento de Estatística e Matemática Aplicada, Disciplina de Bioestatística, Universidade Estadual de Londrina

*Recebido do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina – PR Apresentado em 26 de novembro de 2004 - Aceito para publicação em 21 de dezembro de 2004

Endereço para correspondência: Dra. Cláudia M D de Maio Carrilho - CCIH- HU/UEL - Av. Robert Koch, 60 - 86038-440 Londrina, PR - Fone (43) 3371-2353 - Fax (43) 3323-7485 - e-mail: carrilho@sercomtel.com.br

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detecção mais precisa do agente etiológico faz-se necessária a utilização de técnicas especiais que diminuam a presença de microorganismos de flora endógena no material coletado e facilitem a detecção do real agente etiológico da infecção.

As técnicas especiais mais utilizadas para obtenção de ma- terial do trato respiratório inferior são o escovado brônquico protegido (EBP) e o lavado bronco-alveolar (LBA), realizados por broncoscopia. Após a coleta do material são utilizadas culturas quantitativas e resultados superiores a 103 e 104 ufc/

ml para EPB e LBA, respectivamente, são considerados como significativos9. Ambas as técnicas apresentam sensibilidade de 60% a 75% e especificidade de 80% a 100%, em pacientes sem uso prévio de antimicrobianos10. De acordo com Rouby e col.11 a técnica denominada “mini LBA protegido” também pode ser utilizada para diagnóstico de pneumonia. Segundo esses auto- res, essa técnica permite a coleta de amostras representativas de material de bronquíolos distais e alvéolos, é pouco invasiva, não requer broncoscopia, apresenta sensibilidade e especifici- dade de 70% e o nível de diagnóstico é ≥ 103 ufc/ml.

O isolamento do agente etiológico em hemoculturas é pouco sensível, porém bastante específico, principalmente na fase inicial da pneumonia quando o paciente pode apresentar bacteremia. Mais recentemente, devido às dificuldades que envolvem a realização de avaliação broncoscópica, tem-se es- tudado a cultura quantitativa de aspirado traqueal, cujo va- lor diagnóstico valorizado é de >106 ufc/ml. A sensibilidade e especificidade verificadas foram de 83%; na comparação des- sa técnica com EBP, obteve-se concordância de 84,6%. Essa técnica é uma boa opção para diagnóstico de pneumonia, devido à facilidade de execução e baixo custo quando com- parada com as técnicas broncoscópicas12. Segundo Jourdain e col.13 a cultura quantitativa de aspirado traqueal acima de 106 ufc/ml apresenta acurácia de 79%; esses autores também relataram que quase 30% dos pacientes com pneumonia po- dem não ser diagnosticados com esta técnica.

A identificação microscópica de microorganismos intra- celulares por LBA permite o diagnóstico precoce e acurado de pneumonia em pacientes sob ventilação mecânica. A sen- sibilidade desta técnica é inferior à cultura quantitativa de material obtido através de EPB ou LBA, mas a presença de microorganismo intracelular reflete um mecanismo de defe- sa fisiopatológico dinâmico. O uso prévio de antimicrobia- nos diminui a taxa de positividade desse exame, assim como ocorre com as culturas14.

Quando o diagnóstico de pneumonia é realizado simples- mente com base em critérios clínicos, corre-se o risco da uti- lização inadequada de antimicrobianos15. Devido a esse fato, faz-se necessário a realização de técnicas mais sensíveis e espe- cíficas, tais como as culturas quantitativas por EBP ou LBA.

O objetivo deste estudo foi analisar uma coorte de pa- cientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londri- na (HU/UEL) para determinar a incidência de pneumonia hospitalar, sua mortalidade e descrever os achados bacterio- lógicos de culturas nestes casos.

MéToDo

O HU/UEL é um órgão suplementar da Universidade Estadual de Londrina, entidade pública sem fins lucrativos,

com 294 leitos, dedica-se ao ensino, pesquisa e extensão de serviços à comunidade, através da prestação de atendimento universal à população em praticamente todas as especialida- des médicas.

A UTI de adultos possui duas alas (I e II), com total de 17 leitos, onde são atendidos pacientes clínicos e cirúrgicos de todos os setores do próprio HU/UEL e de outros hospitais da região. Na tabela 1 são apresentadas as características da UTI de adultos, obtidas através do método NNISS no perío- do de junho de 1996 a junho de 1997, segundo os dados for- necidos pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HU/UEL.

Foi realizado um estudo de coorte prospectivo, coletados dados dos pacientes internados nas UTI I e II do HU/UEL de forma seriada, caracterizando uma amostra de conveniên- cia com 540 pacientes com idade igual ou maior que 12 anos e que permaneceram internados por mais de 24 horas na UTI.

A radiografia de tórax foi realizada em todos os pacientes na admissão e repetida quando havia suspeita de pneumonia; os exames microbiológicos: hemoculturas e EBP (quando possí- vel) foram realizados somente nos pacientes que desenvolve- ram pneumonia. Para o diagnóstico de pneumonia hospitalar foram adotados os critérios clínicos e radiológicos do CDC - Centers for Disease Control and Prevention16, de 1988, sendo todos avaliados pelo investigador principal. Foram coletados os dados demográficos, de diagnóstico de internação e diag- nóstico da pneumonia e dados evolutivos de tempo de inter- nação e mortalidade.

Foi obtido aprovação do comitê de ética para este estu- do, estando o mesmo em concordância com a declaração de Helsinki.

AnálISE ESTATíSTICA

Para descrição dos dados utilizou-se a estatística descriti- va através das médias, desvios-padrão, intervalos de confiança para proporções e distribuições das freqüências das variáveis sob forma de tabelas e figuras. As médias das variáveis con- tínuas com distribuição normal dos dados e homogeneidade das variâncias dos dois subgrupos foram comparadas pelo teste t de Student, as freqüências das variáveis qualitativas e categorizadas dos subgrupos foram avaliadas pelo teste de Qui-quadrado. O nível de significância adotado foi de 5% (α

= 0,05). Em todos os testes estatísticos foram apresentados o valor calculado de p e do risco relativo com intervalo de con- fiança de 95%. A estatística descritiva foi realizada no progra- ma SAS - Statistical Analysis System. A curva de sobrevida

Tabela 1 – Características da UTI de Adultos segundo o Método nnIS* no Período Estudado

Características

Média de permanência – ALOS 7,56

Média de gravidade – ASIS = 3,66

Utilização de dispositivos - DU G 135,59 Pneumonias/1000 respirador-dia 26,39

* NNIS: National Nosocomial Infection Surveillance System; ALOS: Average Len- ght of Stay;

= ASIS: Average Severity of Illness;

G DU: Devices Utilization

Fonte: CCIH - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, 1997

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de Kaplan-Meier e as figuras foram construídos no programa STATISTICA.

RESUlTADoS

Durante todo o período do estudo, 540 pacientes foram acompanhados prospectiva e consecutivamente internados por mais de 24 horas na Unidade de Terapia Intensiva do HU/UEL, desde a admissão até o desenvolvimento de pneu- monia, alta, óbito ou transferência para outros setores des- se hospital; esses últimos foram seguidos por mais 48 horas.

Desta coorte de 540 pacientes, 83 pacientes desenvolveram pneumonia na UTI, após pelo menos 48 horas de internação, com incidência acumulada de 15,4% (Tabela 2) e densidade de incidência de 20 pneumonias por 1000 pacientes-dia. Se- tenta pacientes (84,4%) apresentaram pneumonia associada à ventilação mecânica.

Quanto ao sexo, 322 (59,6%) eram do sexo masculino e 218 (40,4%) do sexo feminino. Analisou-se os pacientes de acordo com a faixa etária, 304 (56%) pacientes tinham até 60 anos, 112 (20,7%) entre 61 e 70 anos e 124 (23%) tinham mais de 70 anos. A idade média foi 54,5 ± 19 anos no gru- po total de pacientes, 51,5 ± 20 anos no grupo de pacientes que desenvolveram pneumonia e 55,1 ± 19 anos no grupo que não desenvolveu essa infecção (p>0,05).

Na tabela 3 pode-se observar que os diagnósticos de admissão mais freqüentes, foram as doenças neurológicas (acidentes vasculares encefálicos, convulsões e pós-opera- tório de neurocirurgias), cardiopatias e doenças pulmo- nares. Os diagnósticos de admissão mais freqüentes dos pacientes que desenvolveram pneumonia e dos que não desenvolveram essa infecção, também foram as doenças neurológicas. Os pacientes que desenvolveram pneumonia tinham mais freqüentemente os diagnósticos de admis- são neurológico e trauma cranioencefálico, e o grupo sem pneumonia apresentava o diagnóstico de sepse à admissão com maior freqüência.

Tabela 3 – Distribuição dos Pacientes Com e Sem Pneumonia de acordo com o Diagnóstico de Admissão Diagnóstico à Admissão Com pneumonia (n = 83) Sem pneumonia (n = 457)

p Total (n = 540)

% % %

Abdominal 5 6 21 4,6 0,77 26 4,8

Cardiopatia 8 9,6 93 20,3 0,21 101 18,7

Infecção 1 1,2 28 6,1 0,11 29 5,4

Neurológico 32 38,5 110 24 0,005 142 26,3

Pulmonar 5 6 53 11,6 0,131 58 10,7

Sepse 1 1,2 39 8,5 0,01 40 7,4

Trauma cranioencefálico 11 13,2 27 5,9 0,01 38 7

Politraumatismo 5 6 18 3,9 0,56 23 4,3

Urogenital 3 3,6 13 2,8 0,97 16 3

Outros 12 14,5 55 12 0,53 67 12

O tempo médio de permanência, em dias, foi maior para aqueles que desenvolveram pneumonia (Figura 1).

Como pode ser observado na figura 2, em 56,6% dos pa- cientes que desenvolveram pneumonia, essas infecções fo- ram precoces ou seja, ocorreram nos primeiros quatro dias de internação na UTI. Na figura 3, pode-se observar que a maioria das pneumonias ocorreram nos primeiros 10 dias de internação na UTI. Do total de 83 pacientes que desen-

Tabela 2 – Distribuição dos Pacientes de acordo com a Presença de Pneumonia Hospitalar

Número de Pacientes Porcentagem

Com pneumonia 83 15,4

Sem pneumonia 457 84,6

Total 540 100,0

Figura 1 – Tempo Médio de Permanência na UTI (dias) dos Pacientes Com e Sem Pneumonia (Pn)

Figura 2 – Pacientes com Pneumonia (%) de acordo com o Tempo de Internação

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volveram pneumonia, 76 (91,6%) apresentaram critérios clínicos, e em 74 (89,2%) foram evidenciadas alterações radiológicas; dessas, o acometimento bilateral foi a mais encontrada (Tabelas 4 e 5).

Dos 83 pacientes que desenvolveram pneumonia, em 40 foi possível a realização de culturas para identificação do agente etiológico. Os materiais coletados foram: escovado brônquico protegido (26 amostras), lavado broncoalveolar (duas amostras), sangue (10 amostras), líquido pleural (uma amostra) e secreção coletada de drenagem torácica (uma amostra). Em 13 pacientes (32,5%), não houve crescimento de nenhum microorganismo. Dos 27 (67,5%) que tiveram os agentes etiológicos isolados, os mais freqüentes foram: Aci- netobacter spp (33%) e Staphylococcus aureus (22%) (Tabela 6 e Figura 4).

Quanto à evolução dos pacientes que desenvolveram pneumonia durante o tempo de seguimento, a tabela 7 de- monstra que 38 (45,7%) evoluíram para óbito. Dos 457 pa- cientes que não desenvolveram essa infecção, 151 (33%) ti- veram essa mesma evolução. O risco relativo de óbito foi de 1,39 (IC 95%; 1,06–1,81) e a taxa de mortalidade relacionada à pneumonia, foi de 12,7%.

Com Pneumonia

(n = 83)

Sem Pneumonia

(n = 457) RR

Intervalo de Confiança

(95%)

Taxa de Mortalidade Relacionada

(%)

% %

Óbitos 38 45,7 151 33 1,39 1,06 - 1,81 12,7 Tabela 7 – Distribuição dos Pacientes Com e Sem Pneumonia de acordo com a Taxa de Mortalidade, Risco Relativo de Morte e Taxa de Mortalidade Relacionada Tabela 4 – Diagnóstico Clínico de

Pneumonia, segundo Critérios do CDC*

Critérios Clínicos do CDC* %

Presentes 76 91,6

Ausentes 7 8,4

Total 83 100

*CDC: Centers for Disease Control and Prevention

Tabela 5 – Diagnóstico Radiológico de Pneumonia, segundo Critérios do CDC*

*CDC: Centers for Disease Control and Prevention

Critérios Radiológicos do CDC* %

Presentes Bilateral

Unilateral (direito) Unilateral (esquerdo)

52 13 9

62,7 15,7 10,8

Ausentes 9 10,8

Total 83 100

Figura 3 – Probabilidade Acumulada de não ocorrer Pneumonia em relação ao Tempo de Internação na UTI

* Materiais enviados para cultura: EBP (escovado brônquico protegido- cultura quantitativa),LBA (lavado bronco-alveolar – cultura quantitativa), sangue, líquido pleural e dreno de tórax.

Tabela 6 – Distribuição dos Pacientes com Pneumonia, segundo os Agentes Etiológicos Isolados em Culturas*

Microorganismos Número de Pacientes Porcentagem

Acinetobacter spp 9 22,5

Staphylococcus aureus 6 15

Streptococcus spp 3 7,5

Pseudomonas aeruginosa 2 5

E. coli 2 5

Klebsiella spp 2 5

Enterobacter spp 1 2,5

Polimicrobiana 2 5

Ausentes 13 32,5

Total 40 100

Figura 4 – Microorganismos Isolados dos Pacientes com Pneumonia na UTI, obtidos través de EBP*, lBA**, Sangue,

líquido Pleural e Dreno de Tórax, de 27 Culturas Positivas

*EBP: escovado brônquico protegido

**LBA: lavado broncoalveolar

DISCUSSão

No período estudado as taxas de incidência acumulada e densidade de incidência de pneumonia na Unidade de Tera- pia Intensiva do HU/UEL, foram de 15,4% e 20 pneumonias por 1000 pacientes-dia, respectivamente. De acordo com Jar- vis e col.17 a incidência de pneumonia em UTI varia de 4,7 a 34,4 por 1000 respiradores-dia; esses autores referem que essa taxa é maior em UTI de pacientes queimados e menor em UTI pediátricas. Craven e col.1 relataram que a freqüência de pneumonia em UTI é 10 a 20 vezes maior que a observada em outras unidades de um mesmo hospital.

Neste estudo, em 47 pacientes (56,6%) , essa infecção ocorreu até o quarto dia de internação na UTI. Vários es- tudos também relatam que as pneumonias hospitalares são,

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em sua maioria, de início precoce. Outros autores18,19 detec- taram que 54% e 52,4%, respectivamente, das pneumonias hospitalares, ocorreram nos primeiros quatro dias de inter- nação. Rodriguez e col.20 observaram que o tempo médio de surgimento da pneumonia hospitalar foi a partir do sexto dia de internação . Já Cross e Roup21 relataram que o risco de pneumonia em pacientes com ventilação mecânica aumenta significativamente após o quinto dia de ventilação.

Foram utilizados apenas critérios clínicos e radiológicos, conforme sugeridos pelo CDC16. Acometimento radiológico bilateral foi verificado em 62,7% dos pacientes. Medeiros19 através de análise multivariada, identificou o envolvimento bilateral do pulmão como fator de risco relacionado à mor- talidade.

No presente estudo foi possível identificar o agente etio- lógico em 27 (32,5%) dos 83 pacientes que desenvolveram pneumonia durante o período de seguimento. Os agentes isolados com maior freqüência foram Acinetobacter spp. em 9 (33%) pacientes e Staphylococcus aureus em 6 (22%) pacien- tes. Esses agentes causam mais freqüentemente pneumonias de início tardio. Nesse estudo, o número de amostras obtidas para cultura não permitiu análise de associação entre agente etiológico e tempo de início da pneumonia.

Baraibar e col.22 detectaram que Acinetobacter bauman- nii foi o microorganismo isolado mais freqüentemente em pa- cientes submetidos à ventilação mecânica que desenvolveram pneumonia. Segundo esses autores, neurocirurgia, traumatis- mo e aspiração de conteúdo gástrico, são fatores de risco para desenvolvimento de pneumonia por Acinetobacter bauman- nii. Staphylococcus aureus foi o principal agente causador de pneumonia nosocomial em estudo abrangendo 14 países europeus, como parte do estudo Sentry23. Rello e col.24 identi- ficaram doença pulmonar crônica, ventilação mecânica com duração maior que oito dias e uso prévio de antimicrobianos, como fatores de risco para pneumonia por Pseudomonas ae- ruginosa. A Pseudomonas aeruginosa foi o microorganismo mais freqüentemente encontrado em pacientes com pneumo- nia associada a ventilação mecânica pós traqueostomia25.

Em nenhuma das amostras avaliadas neste estudo hou- ve crescimento de fungos. Segundo El-Ebiary e col.26 o iso- lamento de Candida spp em pacientes com pneumonia é de difícil interpretação; esses autores referem que a incidência estimada de pneumonia por esse agente é de 8%.

No estudo presente, a taxa de mortalidade de pneumonia foi de 45,7%, com risco relativo de morte de 1,39 e taxa de mortalidade relacionada de 12,7%. Os relatos de taxa de mor- talidade de pneumonia podem variar de 20% a 75%27,28. Em estudo recente semelhante foram encontradas taxa de mor- talidade e mortalidade atribuída de 65% e 52,6% respectiva- mente, sendo que o risco de morte foi cinco vezes maior para os pacientes com pneumonia hospitalar (OR: 5,2; IC95%:

3,2-8,3; p<0,001)29.

Neste estudo foi encontrado mortalidade maior nos pa- cientes que desenvolveram pneumonia durante a internação porém o grupo de pacientes com pneumonia tinha o diag- nóstico de admissão de causa neurológica e trauma cranio- encefálico com maior freqüência, portanto estes pacientes podem ter apresentado maior mortalidade pela doença de base. Vários estudos têm demonstrado que a gravidade da doença subjacente predispõe o paciente a desenvolver pneu-

monia hospitalar e estes pacientes apresentam mortalidade aumentada30,31. Por outro lado, isto não exclui a possibilidade destes pacientes terem aumento de mortalidade relacionado à infecção hospitalar por agentes multiresistentes.

De acordo com Scheld e Mandell28 pneumonia é a infec- ção hospitalar que apresenta maior taxa de mortalidade; es- ses pesquisadores relataram que a mortalidade é maior nos pacientes com pneumonias cujo agente etiológico é Pseudo- monas aeruginosa, podendo atingir valores próximos a 80%.

Fagon e col.32 compararam pacientes cujo período médio de permanência em UTI foi de 21 dias, com pacientes cuja média de permanência nessa unidade foi 15 dias. O número de pacientes com pneumonia por Acinectobacter spp e Pseu- domonas aeruginosa foi maior no grupo de pacientes que permaneceu durante período maior na UTI; nesse estudo, a mortalidade atribuída às pneumonias determinadas por esses agentes foi superior a 40%. Moine e col.33 relataram taxa de mortalidade maior em pacientes que desenvolveram pneu- monia durante o tempo que permaneceram internados, em comparação com os pacientes que não tiveram essa infecção (hazard ratio = 1,53; IC95% 1,02-2,3, p = 0,04).

Uma limitação deste estudo foi o número relativamente pequeno de pacientes que tinham culturas colhidas durante o processo infeccioso, devido a este fato não foi analisado se houve diferença de mortalidade entre os pacientes com diag- nóstico etiológico daqueles sem patógeno isolado.

As dificuldades encontradas para a realização do presen- te estudo foram similares às relatadas por outros autores, ou seja, as limitações dos critérios utilizados para a realização de diagnóstico preciso de pneumonia e a complexidade dos mé- todos empregados para identificação dos agentes etiológicos;

o desenvolvimento de técnicas que minimizem essas limita- ções implicará na instituição de terapia mais apropriada.

ConClUSõES

A taxa de incidência acumulada e a densidade de inci- dência de pneumonia em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina, no período de junho de 1996 a junho de 1997 foram 15,4% e 20 pneumonias por 1000 pacientes- dia, respectivamente.

A taxa de mortalidade dos pacientes internados na Uni- dade de Terapia Intensiva do HU, que desenvolveram pneu- monia no período de junho de 1996 a junho de 1997 foi de 45,7%. O risco relativo de morte detectado foi 1,39 (IC 95%

= 1,06-1,81) e a mortalidade relacionada à pneumonia foi de 12,7%.

Os agentes etiológicos isolados mais freqüentemente fo- ram o Acinetobacter spp e o Staphylococcus aureus.

RESUMo

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Determinar a inci- dência de pneumonia hospitalar em Unidade de Terapia In- tensiva (UTI), descrever a etiologia e o padrão microbioló- gico de culturas nestes casos e relatar dados de mortalidade relacionada à pneumonia.

MÉTODO: Estudo de coorte envolvendo 540 pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI) de hospital

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escola no período de um ano (junho de 1996 a junho de 1997).

Foram adotados critérios clínicos e radiológicos do Centers for Disease Control (CDC), de 1988, para o diagnóstico de pneumonia, e os exames microbiológicos foram realizados por hemoculturas e escovado brônquico protegido. Foram coletados dados demográficos, diagnósticos e evolutivos. A análise estatística foi realizada no programa SAS.

RESULTADOS: A incidência acumulada de pneumonia foi de 15,4% e densidade de incidência de 20 pneumonias/1000 pacientes-dia. Os agentes etiológicos mais freqüentes foram Acinetobacter spp. e Staphylococcus aureus (33% e 22% das culturas positivas, respectivamente). A taxa de mortalidade foi maior nos pacientes com pneumonia (45,7% versus 33%, p = 0,02), apresentando risco relativo de mortalidade de 1,39 (IC95%; 1,06-1,81) e taxa de mortalidade relacionada de 12,7%.

CONCLUSÕES: A pneumonia hospitalar foi uma in- fecção freqüente nos pacientes internados em UTI, sendo os agentes mais comuns o Acinetobacter spp. e Staphylococcus aureus. A ocorrência de pneumonia implicou em aumento de mortalidade.

Unitermos: etiologia, incidência, mortalidade, pneumo- nia, unidades de terapia intensiva

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Referências

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