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REMOÇÃO DE ÁCIDO ACETILSALICÍLICO DE SOLUÇÃO AQUOSA EM CARBONO ATIVADO

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REMOÇÃO DE ÁCIDO ACETILSALICÍLICO DE SOLUÇÃO AQUOSA EM CARBONO ATIVADO

Rebeca Monique Silva Frutuoso 1, Ana Lorena de Brito Soares2, Vitória Cibely Silveira Penha2, Francisco Wilton Miranda da Silva3

1 – Autor (a); 2 – Coautor (a); 3 – Orientador

Resumo: Nesse trabalho, foi estudada a adsorção de ácido acetil salicílico em uma amostra de carbono ativado Norit GAC 830W. O adsorvente foi caracterizado em relação ao potencial de carga zero (pHpcz) e grupos funcionais presentes em sua superfície. Foram realizados estudos cinéticos e de equilíbrio para avaliar a adsorção em diferentes pH’s 5, 7 (pH

PCZ

) e 8, em que a maior capacidade de remoção foi em pH 8, conforme previsto no teste de pH realizado previamente. Os testes cinéticos mostraram que os tempos de equilíbrio foram: 720 minutos para os pH’s 5 e 7, e 480 minutos para o pH 8. Além disto, foi investigada a influência da temperatura na capacidade de adsorção por meio de isotermas, nas temperaturas de 30°C e 40°C, o que mostrou que a temperatura tem menor influência do que o pH da solução. Foi observada capacidade de adsorção de aproximadamente 55 mg/g, na concentração de equilíbrio de 50 mg/L e em temperatura de 30

o

C.

Palavras-chave: Adsorção; Ácido acetilsalicílico; Carbono ativado; pH.

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, com o desenvolvimento de tecnologias analíticas, foi possível identificar substâncias contaminantes até então desconhecidas em corpos hídricos [1]. Essas substâncias antes não eram identificadas por serem da ordem de nanograma (ng/L) e micrograma (µg/L). Chamados de micropoluentes emergente, por serem potencialmente tóxicos ao ecossistema e à saúde humana, os fármacos em efluentes, ainda que em baixas concentrações, são motivos de preocupação entre os especialistas [1, 2], uma vez que pouco se conhece sobre os efeitos à saúde humana, quando comparado a outros poluentes [2, 3] e os meios de tratamento convencionais não são efetivos na descontaminação da água [4].

Os fármacos são encontrados em matrizes aquosas, oriundos de resíduos de indústria farmacêutica, resíduos hospitalares e drogas farmacêuticas. Permanecem na água mesmo quando passado por uma estação de tratamento de esgoto, pois os processos nestas não são efetivos na descontaminação das águas residuais. Por serem substâncias que possuem baixa biodegradabilidade se acumulam no ambiente. Esta acumulação na água é vista como potencial risco à saúde pública, uma vez que os estudos do efeito crônico que sua ingestão a longo prazo possa causar são escassos [1, 4-5].

Visto a ausência de um tratamento específico para remoção fármacos da água, é de grande importância o estudo de novas tecnologias para remoção desses compostos. Tecnologias alternativas de tratamento incluem processos oxidativos avançados, tratamento com ozônio, filtração por membrana e adsorção em carbono ativado [5, 6]. A técnica de adsorção por carbono ativado é a mais usada em tratamento de águas residuais [6], é um processo eficiente, por possuir uma alta taxa de remoção, ser inespecífico, e, assim, poder adsorver uma ampla variedade de compostos [1, 2]. Outras vantagens dessa técnica com relação às demais se deve a sua facilidade de remoção, a não geração de produtos intermediários tóxicos ou farmacologicamente ativos, ao seu baixo custo e a possibilidade de reutilização do adsorvente por sua regeneração [2, 7].

Sabendo-se que a água é essencial à vida, e que os processos convencionais aplicados nas estações de tratamento de água são eficientes na remoção de fármacos, este trabalho teve como objetivo fazer um estudo experimental de adsorção de ácido acetilsalicílico (AAS) em um carbono ativado comercial, avaliando o efeito do pH de solução e a temperatura. A escolha do AAS se deu por conta de ser um dos fármacos mais liberados no meio ambiente, devido a sua venda livre, sem a necessidade de prescrição médica.

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO - UFERSA CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA Trabalho de Conclusão de Curso (2019).

(2)

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Fundamentação Teórica

2.1.1. Fármacos como Micropoluentes

Micropoluentes emergentes são poluentes que ainda não são regulamentados, possuem consequências a longo prazo pouco conhecidas, mas que são potencialmente perigosos [8, 9]. Esta nomenclatura não se refere necessariamente às recentes descobertas, mas ao fato de seu uso e contaminação serem crescentes, e por apresentarem características peculiares, que no futuro podem se tornar problemática [10]. Nessa esfera se encontra os hormônios, esteroides, pesticidas resíduos industriais, fármacos e outros [8].

O constante crescimento da medicina faz com que haja mais fármacos no mercado, e uma maior variedade de compostos ativos disponíveis [10]. Enquanto isto, com o aumento da expectativa de vida, o consumo de medicamentos cresce rapidamente. No Brasil esse consumo é esperado, uma vez que é estimado que se dobre a população de idosos até 2025 [8].

Esse alto consumo provoca uma maior ocorrência de contaminação por fármacos, a qual foi identificada em estudos de quantificação e ecotoxicologia em ambientes aquáticos por vários países, dentre eles o Brasil, apesar dos dados brasileiros nessa linha de pesquisa serem insuficientes [11,12]. No Brasil não existe legislação que estabeleça uma concentração máxima para fármacos no ambiente, apenas há a classificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como resíduos químicos [8,13].

Os fármacos mais consumidos e encontrados em matrizes aquosas pertencem às classes dos anti- inflamatórios, analgésicos, antidepressivos, antiepilépticos e antibióticos [1]. A Tabela 1 contém as concentrações de alguns destes fármacos detectados em estudo no Brasil [11].

Tabela 1 - Concentrações de fármacos detectadas em matrizes aquosas.

Matriz aquosa e local Fármaco detectado Conc. (µg/L) Rio Atibaia, bacia Piracicaba,

Campinas- SP AAS* 4,15

0,82 Rio Atibaia, bacia Piracicaba,

Campinas- SP Paracetamol 0,84

Rio Monjolinho, São Carlos – SP 3,672

Rio Monjolinho, São Carlos – SP Ibuprofeno 0,5

0,23 Legenda: *AAS: Ácido acetilsalicílico.

Fonte: Referência [11]. Adaptada.

Por conseguinte, há uma preocupação no que se diz respeito a saúde pública, por pouco se saber dos efeitos que podem causar no ecossistema, assim como problemas crônicos que podem estar associados a ingestão, em médio e longo prazo, de misturas de compostos farmacêuticos nessas águas [1]. Apesar de haver poucos estudos, já existem alguns que indicam efeitos negativos a exposição de medicamentos tanto em animais quanto em seres humanos. Nos animais pode levar à diminuição da eclosão de ovos de pássaros, peixes e tartarugas, assim como alterações no sistema reprodutor os mesmos. Nos seres humanos os efeitos possíveis também estão relacionados ao sistema reprodutor. Esses efeitos podem ser, a redução da produção de espermatozoides, o aumento da incidência de câncer de mama, próstata, testículo e endometriose. O consumo inapropriado de antibióticos pode causar também proliferação de bactérias resistente tanto em animais quanto em humanos [8].

2.1.2. Adsorção

Adsorção é um fenômeno físico-químico de transferência de massa. Constitui-se em um processo de separação, em que uma espécie química, fluida, se acumula na superfície de outra espécie química, sólido [14–

16]. A substância depositada é denominada adsorvato, ou adsorbato, estas podem ser íons, átomos ou moléculas.

O adsorvente, ou adsorbente são partículas sólidas porosas que tem a capacidade de atrair o adsorbato [14].

Para se obter uma alta capacidade adsortiva é necessário que a superfície do adsorvente seja, e o tamanho do

poro seja adequado para o adsorvato [8]. Além dessas variáveis, devem ser observadas outras nesse processo: pH

do meio, temperatura, tempo de contato, quantidades de adsorvente e adsorvato [13, 17].

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2.1.2.1 Isoterma de adsorção

As isotermas de adsorção mostram as relações de equilíbrio entre a capacidade de adsorção do sólido e as concentrações de soluto na fase líquida a uma temperatura constante [17]. Por meio delas pode-se identificar a capacidade máxima de adsorção de um determinado adsorvente para um composto específico [16].

Muitas equações matemáticas de isotermas de adsorção foram propostas para descrever a adsorção de soluto por sólidos, a temperatura constante. Porém, as duas mais comumente utilizadas são as equações de Langmuir e Freundlich [16, 21].

2.1.2.2 Isoterma de Langmuir

O modelo de Langmuir é um dos mais utilizados no processo de adsorção, pois com ele pode-se estimar a capacidade de adsorção máxima do material. Este modelo assume uma energia de adsorção uniforme na superfície, em que as moléculas adsorvidas não interagem umas com as outras, além de que cada sítio pode comportar uma única molécula adsorvida, e a adsorção ocorre em uma monocamada. A equação (1) apresenta o modelo de Langmuir [16, 21].

(1)

Onde: q: quantidade do soluto adsorvido por grama de adsorvente no equilíbrio (mg/g); q

max

: capacidade máxima de adsorção (mg/g); K

L

: constante de interação adsorvato/adsorvente (L/mg); C

e

: concentração do adsorvato no equilíbrio (mg/L).

2.1.2.3 Isoterma de Freundlich

O modelo de Freundlich é uma descrição empírica que relaciona a quantidade de adsorvato adsorvido e a sua concentração na solução. Este modelo, diferente do modelo de Langmuir, considera a existência de multicamadas, que o sólido é heterogêneo e não prever a saturação da superfície. A equação (2) apresenta o modelo de Freundlich [16, 21].

(2)

Onde: qe: quantidade de soluto adsorvido (mg/g); Ce: concentração de equilíbrio em solução (mg/L);

1/n: constante relacionada à heterogeneidade da superfície; K

F

: constante de capacidade de adsorção de Freundlich (L/g).

2.1.3. Carbono Ativado

O carbono ativado é um material que apresenta em sua estrutura formada por microcristais de grafite organizados aleatoriamente. Em seu processo de produção é formado a partir de uma disposição aleatória de cristais, que provoca uma vacância entre os mesmos, dando origem aos microporos [18]. Essa estrutura pode ser comparada a uma rede de túneis onde se cruzam e se bifurcam em canais menores [15]. O arranjo dessa estrutura, com relação aos seus tamanhos e atividades químicas superficiais, depende do material precursor do carbono. O carbono ativado mais usado na indústria tem origem em materiais lignocelulósicos e em carvão betuminoso, mas podem ser produzidos a partir de turfa, coque, piche, carvão vegetal, ou por resíduos da agricultura como casca de coco, caroço de azeitona, dentre outros [16, 15].

O processo de ativação do carbono é feito em duas etapas, a pirólise e a oxidação. A pirólise, é uma etapa de preparação, há a decomposição térmica do material, modificando-o quimicamente, consistindo na remoção de compostos voláteis e/ou compostos que não fazem parte da do arranjo carbônico. A segunda etapa é a de oxidação, ou propriamente dita de ativação, é nela que os poros são aumentados o seu tamanho, desobstruído, e criado outros poros, isto, quando submetidos a uma série de reações secundárias, o que faz com que sua área superficial seja expandida [15, 16, 18].

Por possuir alta porosidade, grande área superficial, ser hidrofóbico e organofílico, o carbono ativado é

amplamente utilizado em diversas aplicações na indústria, como processo de purificação de água, recuperação de

compostos químicos, remoção de compostos orgânicos, e outros [15, 18]. Este adsorvente também é um dos

(4)

2.1.4. Ácido acetilsalicílico

O ácido 2-acetoxibenzoico, segundo a nomenclatura da IUPAC, é comumente conhecido como ácido acetilsalicílico ou simplesmente AAS. É um fármaco da classe dos anti-inflamatórios não esteroides (AINE), possui ação anti-inflamatória e antipirética. Apresenta-se na forma de pó cristalino, relativamente solúvel em água [8].

Algumas características do ácido acetilsalicílico estão dispostas na Tabela 2.

Tabela 2 – Informações do ácido acetilsalicílico.

Propriedades Valores

Estrutura molecular

Formula química C

9

H

8

O

4

Massa molar 180.14 g mol

-1

Fonte: Referência [8]. Adaptada.

Devido a suas propriedades farmacológicas, o AAS é um dos medicamentos mais consumidos no mundo sem prescrição médica e, por conseguinte, descartado no meio ambiente.

2.2. Materiais 2.2.1 Adsorvente

O carbono ativado utilizado neste trabalho foi o NORIT GAC 830W, produzido pela Norit (Texas – EUA).

As amostras foram cedidas pela Universidade Federal do Ceará – UFC. O carbono foi pré-tratado em uma estufa a 120 °C por 2 h, e resfriado à temperatura ambiente. Algumas características texturais desse adsorvente estão descritas na Tabela 3.

Tabela 3 - Propriedades texturais do carbono ativado Norit 830.

Propriedades Valor

Área superficial específica (m

2

/g) 785 Volume total de poros (cm

3

/g) 0,518 Volume total de microporos (cm

3

/g) 0,325 Fonte: Referência [19]. Adaptada.

2.2.2 Adsorvato

Foi utilizado como adsorvato o ácido acetilsalicílico na forma pulverizada produzido pela empresa FAGRON com pureza nominal de 100%.

2.3. Métodos

2.3.1 Análise de Grupos Superficiais

Para se caracterizar os grupos funcionais existentes na superfície do carbono, os experimentos foram

realizados de acordo com o método de Boehm. Esses grupos são carboxílicos, lactônicos, fenólicos e básicos. A

metodologia é descrita por Barbosa [22].

(5)

2.3.2 Ponto de caga zero (PCZ)

Para determinação do ponto de carga zero foram realizadas medidas em diferentes pH’s iniciais (2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12) de água milli q. O teste foi executado por meio do contato de amostras de carbono (10 mg) com 20 mL da solução aquosa do fármaco em concentração de 100 ppm, por um período de 1440 minutos (24 h) com velocidade de rotação de 160 rpm em um shake de agitação. Posteriormente, foram aferidos os pH’s finais e plotado uma curva pH

inicial

versus pH

final

. O pH

PCZ

é o ponto médio da curva em que os pontos são constantes.

2.3.3 Teste de pH

Antes da realização dos testes cinéticos, foram feitos testes preliminares para aferição do meio que proporciona maior adsorção do ácido acetilsalicílico pelo adsorvente Norit. O teste foi executado por meio do contato das amostras de carbono (10 mg) com 20 mL da solução aquosa do fármaco, em concentração de 100 ppm, durante um período de 1440 minutos (24 h) com velocidade de rotação controlada em 160 rpm. No preparo de todas as soluções foi utilizada água milli q.

2.3.4 Cinética de Adsorção

As cinéticas de adsorção foram realizadas pelo conato de 10 mg do adsorvente com uma solução aquosa de ácido acetilsalicílico a 100 ppm, dispostos em erlenmeyer de 50 mL de capacidade. O teste cinético foi realizado em duplicata, em temperatura de 30°C, nos pH’s 2, 5, 8 e 11, e agitação de 160 rpm, em uma mesa agitadora tipo shaker. As amostras foram coletadas em intervalos de tempos predefinidos, são eles: 0,083; 0,5; 1; 2; 3; 5; 8; 12;

18; 24; 30; 36; 42 e 48 horas. A fase líquida foi separada da fase sólida, feita a análise da absorbância e a varredura em um espectrofotômetro UV/Vis-34G (GENAKA). A quantidade de AAS adsorvida foi determinada pelo balanço de massa dado pela Equação 3 [16].

( )

(3)

Onde: Q

ads

é a quantidade adsorvida do AAS no tempo t (mg/g); C

o

e C

t

as concentrações iniciais e finais do adsorvato em solução (mg/mL), respectivamente; V é o volume da solução (mL); e m, corresponde a massa do adsorvente (g).

2.3.5 Isoterma de Adsorção

As isotermas de adsorção foram realizadas erlenmeyer de 50 mL, onde foram colocados 10 mg de carbono ativado e 20 mL de solução de ácido acetilsalicílico com concentração inicial variando de 20 a 200 mg/L. Os ensaios foram realizados em duplicata, em condições controladas de temperatura (30 °C) e agitação (160 rpm).

As amostras permaneceram sob agitação no

shake até atingir o tempo de equilíbrio determinado pela cinética de

adsorção. A fases líquida e sólida foram separadas e foi feito as leituras das absorbâncias no espectrofotômetro UV/Vis-34G (GENAKA). A quantidade de AAS adsorvida foi determinada pelo balanço de massa dado pela Equação 3.

2.4 Resultados e Discussões

2.4.1 Caracterização do adsorvente 2.4.1.1 Análise de grupos funcionais

Os resultados referentes à determinação dos grupos funcionais estão descritos na Tabela 4. Pode-se observar pela Tabela 4 que a superfície do carbono ativado não se caracteriza por grupos lactônicos e possui uma baixa concentração de grupos carboxílicos (ácidos fortes). Por sua vez, a superfície é constituída por uma maior concentração de grupos fenólicos (ácidos fracos), sendo aproximadamente 75,47% dos grupos ácidos presentes na superfície. Esses ácidos, por se caracterizarem como fracos, sofrem desprotonação em pH’s maiores que ≈10.

Tabela 4 - Análise dos grupos superficiais no carbono ativado Norit 830W.

Grupos superficiais Quantidade (meq/g)

Ácidos Carboxílicos 0,130

Lactonas 0,000

Fenólicos 0,400

Grupos Básicos 0,150

(6)

2.4.2 Determinação do ponto de carga zero

Um importante parâmetro para correlacionar com o efeito de pH de solução, é o potencial de carga zero (pHpcz). É o pH em que o valor de carga líquida na superfície do adsorvente é nulo. A importância desta variável na adsorção está ligada à oposição das cargas. As cargas do adsorvato e do adsorvente devem ser opostas para que haja uma maior interação eletrostática entre ambos, pois, se as estas forem iguais, o processo de adsorção será prejudicado, uma vez que haverá repulsão eletrostática. A Figura 1 apresenta o gráfico utilizado para determinar o ponto de carga zero para o adsorvente Norit 830 W (pH

PCZ

= 7,07).

0 2 4 6 8 10 12

0 2 4 6 8 10 12

pH final

pH inicial

Figura 1 – Determinação do ponto de carga zero para o adsorvente Norit 830 W. (Autoria própria)

2.4.3 Determinação do pH da Solução

Pela Tabela 5 pode-se observar as quantidades adsorvidas do ácido acetilsalicílico no carbono ativado Norit 830 W em função do pH. Verificando que com o aumento do pH há um aumento na eficiência da remoção do AAS da solução, a exceção do pH 11 que apresentou uma baixa adsorção. Isto pode ser atribuído à repulsão eletrostática resultante das interações adsorvato/adsorvente, visto que em pH’s mais elevados a molécula do AAS está na forma aniônica e a superfície do carbono ativado está carregada negativamente [13]. O ensaio apresentou uma maior capacidade adsortiva para o pH 8.

Tabela 5 - Quantidade adsorvida de ácido acetilsalicílico por carbono ativado (Norit 830 W) em função de diferentes pH’s.

pH q (mg/g)

2,00 47,05

5,00 66,07

7,02 70,01

8,00 99,23

11,00 16,60

Fonte: Autoria própria.

2.4.4 Cinética de Adsorção

Na Figura 2 são apresentadas as curvas cinéticas de adsorção do ácido acetilsalicílico em carbono ativado Norit 830 W. A escolha dos pH’s para realização dos experimentos foram de acordo com os resultados obtidos nos testes de pH e do pHpcz. Os experimentos foram realizados em pH’s 5, 7 (pH

PCZ

) e 8. O pH 5 foi escolhido por se tratar de um meio ácido, diferentes dos outros meios.

Observa-se que nos períodos iniciais a taxa de remoção é mais rápida nos primeiros 180 minutos para o pH ácido e para o PCZ. Para o pH básico a taxa segue rápida até os 300 minutos. Então a taxa de remoção segue lentamente até o tempo de equilíbrio de 720 minutos (12 h) para os pH’s 5 e 7, e para o pH 8, o equilíbrio ocorreu em 480 minutos (8 h).

No tempo de 1440 minutos (24 h), as quantidades adsorvidas para o os pH’s 5, 7 e 8 foram de 58,81 mg/g,

(7)

68,33 mg/g, e 102,13 mg/g, respectivamente. Estes dados evidenciam a influência do pH em relação a capacidade adsorvida, que para valores maiores de pH’s resultou em maiores quantidades adsorvidas.

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 0

20 40 60 80 100 120

Qads(mg/g)

Tempo (min)

pH 5 pH 7 pH 8

Figura 2 – Cinética de adsorção de AAS em carbono ativado nos pH’s: 5, 7 e 8. (Autoria própria)

De acordo com os experimentos da cinética, pode-se confirmar que o pH influencia na adsorção do fármaco.

Além disso, há um aumento na capacidade de adsorção com o aumento do pH de solução, conforme previsto no teste de pH.

2.4.5 Isoterma de adsorção

As isotermas de adsorção descrevem o equilíbrio entre a quantidade adsorvida de AAS no carbono ativado Norit 830 em mg/g e a quantidade de AAS na solução em mg/mL a temperatura constante. Foram medidas duas isotermas em diferentes temperaturas, 30 e 40

o

C, em pH 8, pois foi o meio em que o carbono atingiu maior capacidade de adsorção no teste de pH. O tempo de contato entre as amostras e as soluções foi de 24 horas. Este tempo é bem superior ao tempo do equilíbrio encontrado nos ensaios.

0 50 100 150 200

0 40 80 120 160

Qads(mg/g)

Ce(mg/L) 30°C

40°C

Figura 3 – Isotermas de adsorção de AAS em carbono ativado em pH 8 nas temperaturas de 30 °C e 40 °C. (Autoria própria)

Pode-se observar pela Figura 3 que a isoterma a temperatura de 30°C possui uma menor quantidade de adsorção para concentrações mais baixas e uma maior quantidade de adsorção em concentrações mais altas. Essa mudança de comportamento ocorre a concentração de 75 mg/g, em que a isoterma a 30

o

C adsorve mais do que a 40

o

C.

É possível perceber na Figura 3 que o processo de adsorção do ácido acetilsalicílico em carbono ativado

Norit 830W é muito pouco desfavorecido com o aumento da temperatura.

(8)

quantidades adsorvidas foram 129,56 mg/g e 93,37 mg/g para as temperaturas 30 e 40°C. Resultados similares a estes foram encontrados na literatura no processo de adsorção de ácido acetilsalicílico em carbono ativado Norit 1240W [20].

3. CONCLUSÕES

Este estudo avaliou a taxa de remoção por adsorção do AAS e a quantidade adsortiva no equilíbrio utilizando como adsorvente o carbono ativado comercial, NORIT GAC 830W. Os ensaios de variação de pH mostraram que o efeito do pH é significativo para o processo de remoção do AAS, apresentando maior capacidade de adsorção em pH 8. De acordo com as cinéticas, o tempo necessário para atingir o equilíbrio foi de 720 minutos (12 h) para os pH’s 5 e 7, e 480 minutos (8 h) para o pH 8. Os ensaios de equilíbrio revelaram uma quantidade adsortiva máxima de 151,59 mg/g e 111,20 mg/g, para as temperaturas de 30 e 40 °C, respectivamente. Com isto pode-se verificar que a temperatura foi pouco significativa na capacidade de adsorção, obtendo melhor eficiência com temperatura de 30 °C. Portanto, as melhores condições encontradas nesse estudo para adsorção do ácido acetilsalicílico em carbono ativado NORIT GAC 830W foram em pH 8 e em temperatura de 30 °C.

Neste contexto, a adsorção por carbono ativado se apresentou como uma forma eficiente de tratamento alternativo para remoção de ácido acetilsalicílico em águas residuais. Por ser um problema relativamente novo, a descontaminação de fármacos em matrizes aquosas ainda não possui legislação em quase nenhum país, inclusive no Brasil. Com isto, a produção de artigos científicos nesta área emite um alerta a necessidade de uma legislação que visem a prevenção ambiental e da saúde pública.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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