Volume 16 – número 2 Abril – Junho 2009
ISSN: 1809-2950
FISIOTERAPIA e
PESQUISA
REVISTA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL
Fisioterapia e Pesquisa
em continuação a Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ReitoraProfa. Dra. Suely Vilela Sampaio Vice-Reitor
Prof. Dr. Franco Maria Lajolo
Faculdade de Medicina
Diretor
Prof. Dr. Marcos Boulos
Depto. Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
ChefeProfa. Dra. Claudia Regina Furquim de Andrade
Curso de Fisioterapia
Coordenadora
Profa. Dra. Silvia Maria Amado João
Fisioterapia e Pesquisa / (publicação do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) v.1, n.1 (1994). – São Paulo, 2005.
v. : il.
Continuação a partir de v.12, n.1, 2005 de Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo.
Semestral: 1994-2004
Quadrimestral: a partir do v.12, n.1, 2005 Trimestral: a partir do v.15, n.1, 2008 Sumários em português e inglês ISSN 1809-2950
1. FISIOTERAPIA/periódicos I. Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Fisioterapia e Pesquisa v.16, n.2, abr/jun. 2009
Filiada à
Fisioterapia e Pesquisa
Revista do Curso de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - Fofito/FMUSP
SECRETARIA
Patrícia Pereira Alfredo
INDEXAÇÃO E NORMALIZAÇÃO BIBLIOGÁFICA Serviço de Biblioteca e Documentação da FMUSP e-mail: sbd@biblioteca.fm.usp.br
EDIÇÃO DE TEXTO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Tina Amado, Alba A. G. Cerdeira Rodrigues e Daniel Carvalho Pixeletra ME
IMPRESSÃO
Gráfica UNINOVE
FISIOTERAPIA E PESQUISA Curso de Fisioterapia Fofito/FM/USP
R. Cipotânea 51 Cidade Universitária 05360-160 São Paulo SP
e-mail: revfisio@edu.usp.br
http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php Telefone: 55 xx 11 3091 8416
APOIO
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE
DE SÃO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO / USP
Tiragem: 800 exemplares
ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS INSTITUIÇÕES COLABORADORAS
FISIOTERAPIA e
PESQUISA
REVISTA DO CURSO DE FISIOTERAPIA DA FACULDADE
DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ISSN: 1809-2950
ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL
Volume 16 – número 2 Abril – Junho 2009
Fisioterapia e Pesquisa
Publicação trimestral do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP
Fisioterapia e Pesquisa visa disseminar conhecimento científico rigoroso de modo a subsidiar tanto a docência e pesquisa na área quanto a fisioterapia clínica. Publica, além de artigos de pesquisa originais, revisões de literatura, relatos de caso/s, bem como cartas ao Editor. indexada em: LILACS – Latin American and Caribbean Health Sciences; LATINDEX – Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientifícas de Américas; CINAHL – Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature; e SportDiscus.
EDITORAS-CHEFES Amélia Pasqual Marques
Fofito / FMUSP – Depto. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina / USP Débora Bevilaqua Grossi
RAL/ FMRP/USP Depto. Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP
EDITORES ESPECIALISTAS
Celso R. Fernandes de Carvalho – Fofito / FMUSP Isabel de Camargo Neves Sacco – Fofito / FMUSP
Jefferson Rosa Cardoso – Depto. Fisioterapia / Univ. Estadual de Londrina Raquel Simoni Pires – Laboratório de Neurociências / Univ. Cidade de São
Paulo
Rosângela Corrêa Dias – EEFFTO – Escola Educ. Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional / Univ. Federal de Minas Gerais
Silvia Maria Amado João – Fofito / FMUSP CORPO EDITORIAL
Anamaria Siriani de Oliveira RAL, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP Ribeirão Preto SP Brasil Andre Fabio Kohn Depto. Engenharia Telecomunicações e Controle Escola
Politécnica / USP São Paulo SP Brasil
Anke Bergmann Curso de Fisioterapia / Centro Univ. Augusto Motta Rio de Janeiro RJ Brasil Antonio Fernando Brunetto Depto. Fisioterapia / Univ. Estadual de Londrina Londrina PR Brasil Armèle Dornelas de Andrade Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de Pernambuco Recife PE Brasil Barbara M. Quaney Medical Center / University of Kansas Kansas City KA EUA
Clarice Tanaka Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil
Cláudia R. Furquim de Andrade Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil Chukuka S. Enwemeka School of Allied Health and Life Sciences / New York
Institute of Technology Nova Iorque NY EUA
Debbie Feldman École de Réadaptation et GRIS, Faculté de Médecine / Univ.
de Montréal Montréal QC Canadá
Dirceu Costa Faculdade Ciências da Saúde/ Univ. Metodista de Piracicaba Piracicaba SP Brasil Fátima A. Caromano Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil Fay B. Horak Neurological Science Institute/ Oregon Health & Science Univ. Portland OR EUA Franck Barbier Laboratoire d’Automatique, de Méchanique et d’Informatique,
Industrielles et Humaines / Univ. de Valenciennes Le Mont Houy França Gil Lúcio Almeida Depto. Fisioterapia / Univ. de Ribeirão Preto Ribeirão Preto SP Brasil Helenice Jane C. Gil Coury Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de São Carlos São Carlos SP Brasil Jan Magnus Bjordal Dept. Public Health and Primary Health Care / Univ. of Bergen Bergen HD Noruega João Carlos Ferrari Corrêa Depto. Ciências da Saúde / Univ. Nove de Julho São Paulo SP Brasil Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela EEFFTO / Univ. Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Brasil Marcelo Bigal Dept. of Neurology, Albert Einstein College of Medicine Bronx NY EUA Marco Aurélio Vaz Escola de Educação Física / Univ. Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Brasil Marcos Duarte Escola de Educação Fisica e Esportes / USP São Paulo SP Brasil Maria Ignêz Zanetti Feltrim Instituto do Coração, Faculdade de Medicina/ USP São Paulo SP Brasil Mariano Rocabado Facultad de Odontología / Univ. Andres Bello Santiago RMS Chile Raquel A. Casarotto Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil Ricardo Oliveira Guerra Depto. Fisioterapia / Univ. Federal Rio Grande do Norte Natal RN Brasil Rinaldo R. J. Guirro RAL / Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP Ribeirão Preto SP Brasil Sérgio Teixeira da Fonseca EEFFTO / Univ. Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Brasil Simone Dal Corso Depto. Ciências da Saúde / Univ. Nove de Julho São Paulo SP Brasil Tânia de Fátima Salvini Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de São Carlos São Carlos SP Brasil Vera Lúcia Israel Curso Fisioterapia / Univ. Federal do Paraná – Litoral Matinhos PR Brasil
SSSSS UMÁRIO UMÁRIO UMÁRIO UMÁRIO UMÁRIO
C
CC CC ONTENTS ONTENTS ONTENTS ONTENTS ONTENTS
Editorial . . . 101
Editorial
P
ESQUISAORIGINALO
RIGINALRESEARCHConfiabilidade intra e interexaminadores da fotogrametria na classificação do grau
de lipodistrofia ginóide em mulheres assintomáticas . . . 102
Intra and inter-examiner reliability of photogrammetry in the classification of the degree of gynoid lypodystrophy
in asymptomatic women
Ana Maria da S. Mendonça, Michelle de Pádua, Ana Paula Ribeiro, Giovana Barbosa Milani,
Sílvia M. Amado João
Equilíbrio e retração muscular em jovens estudantes usuárias de calçado de salto alto . . . 107
Equilibrium and muscle retraction in young female students users of high-heeled shoes
Dernival Bertoncello, Cristina S. Cardoso de Sá, Anna Helena Calapodópulos, Vanessa Linhares Lemos
Efeito da técnica de oscilação oral de alta freqüência aplicada em diferentes pressões
expiratórias sobre a função autonômica do coração e os parâmetros cardiorrespiratórios . . . 113
Effect of oral high-frequency oscillation technique at different expiratory pressures on heart autonomic
function and cardiorespiratory parameters
Graciane L. Moreira, Ercy M. C. Ramos, Luiz C. M. Vanderlei, Dionei Ramos,
Beatriz M. Manzano, Luciana C. Fosco
Avaliação de fragilidade, funcionalidade e medo de cair em idosos atendidos em um
serviço ambulatorial de Geriatria e Gerontologia . . . 120
Assessment of frailty, functionality and fear of falling in elderly assisted at an outpatient gerontologic and geriatric clinic
Silvia L. Azevedo da Silva, Renata Alvarenga Vieira, Paula Arantes, Rosângela Corrêa Dias
Avaliação da satisfação dos pacientes atendidos em uma clínica-escola de Fisioterapia
de Santo André, SP . . . 126
Assessment of patient satisfaction with physical therapy at a college health clinic in Santo André, SP
Eneida Yuri Suda, Missae Dora Uemura, Eliane Velasco
Biorretroalimentação para treinamento do equilíbrio em hemiparéticos por acidente
vascular encefálico: estudo preliminar . . . 132
Biofeedback for musculoskeletal equilibrium training in post-stroke hemiparetic patients: a preliminary study
Antonio Vinicius Soares, Ana Cláudia O. L. Hochmüller, Patrícia da Silva, Daniela Fronza,
Simone Suzuki Woellner, Fabrício Noveletto
Efeito da técnica isostretching no equilíbrio postural . . . 137
Effect of of the isostretching technique on postural balance
Paula Araújo Ferreira, Vanessa V. Monte-Raso, Marcelo Silva de Carvalho,
Jane Godoy Rodrigues, Cristiano Costa Martins , Denise Hollanda Iunes
Estudo comparativo da força muscular da mão entre cadetes homens e mulheres da
Força Aérea Brasileira . . . 143
Grip and pinch strength in Brazilian Air Force cadet pilots: a comparative study between men and women
Estimulação elétrica nervosa transcutânea nas modalidades convencional e acupuntura
na dor induzida pelo frio . . . 148
Conventional and acupuncture-like transcutaneous electrical nerve stimulation on cold-induced pain
Hisa Costa Morimoto, Márcia Yumi Yonekura, Richard Eloin Liebano
Avaliação da capacidade funcional e da qualidade de vida em pacientes renais crônicos
submetidos a tratamento hemodialítico . . . 155
Assessment of functional capacity and quality of life in chronic renal patients under hemodialysis treatment
Marina Stela Cunha, Viviane Andrade, Cristina A. Veloso Guedes, Cristiane H. Zorel Meneghetti,
Ana Paula de Aguiar, Andréa Luciana Cardoso
Efeito de um programa de treinamento de facilitação neuromuscular proprioceptiva
sobre a mobilidade torácica . . . 161
Effect of a training program based on proprioceptive neuromuscular facilitation onto thoracic mobility
Marlene Aparecida Moreno, Ester da Silva, Roberta Silva Zuttin, Mauro Gonçalves
Comparação entre inspirometria de incentivo e pressão positiva expiratória na função
pulmonar após cirurgia bariátrica . . . 166
Comparison between incentive spirometry and expiratory positive airway pressure on pulmonary function
after bariatric surgery
Marcela C. Barbalho-Moulim, Gustavo P. Soares Miguel, Eli M. Pazzianotto Forti, Dirceu Costa
Ultra-som terapêutico contínuo térmico em modelo experimental de ciatalgia . . . 173
Continuous thermic therapeutic ultrasound in sciatica experimental model
Adriano Polican Ciena, Jaques Jean J. Oliveira, Núbia Broetto Cunha, Gladson Ricardo F. Bertolini
Avaliação do ácido lático em indivíduos com hemiparesia pós-acidente vascular
encefálico após estimulação elétrica para fortalecimento muscular . . . 178
Lactic acid assessment in post-stroke hemiparetic subjects following electrical stimulation for muscle strengthening
Fernanda Ishida Corrêa, André de Almeida Tessarolo, André de Souza Melo, João Carlos F. Corrêa,
Luciana M. Malosá Sampaio, Maricilia Silva Costa, Cláudia Santos Oliveira
R
ELATODECASOSC
ASEREPORTDeclínio funcional de idosa institucionalizada: aplicabilidade do modelo da Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde . . . 183
Functional decline of an institutionalized elderly woman: applicability of the model of the International
Classification of Functioning, Disability and Health
Carolina Depolito, Priscilla L. L. de Faria Leocadio, Renata Cereda Cordeiro
Instruções para os autores . . . 190
Ficha de assinatura . . . 192
E
EE E
E DITORIAL DITORIAL DITORIAL DITORIAL DITORIAL
E
EE E E DITORIAL DITORIAL DITORIAL DITORIAL DITORIAL
O Programa de Apoio às Publicações Científicas Periódicas da USP – Universidade de São Paulo – foi desenvolvido em 1984-1985 pela Coordenadoria de Administração Geral e opera desde 1987, gerenciado por uma Comissão de Credenciamento. O regimento do Programa foi atualizado em 2006, visando ajustar-se ao contexto de internacionalização e às exigências de modernização dos veículos de divulgação científica da USP.
Uma das iniciativas daí decorrentes foi a criação, em 2008, do Portal de Revistas da USP, sediado no SIBi/USP – Sistema Integrado de Bibliotecas da USP. O objetivo é reunir, organizar e prover acesso pleno às revistas publicadas sob a responsabilidade da Universidade, ampliando a visibilidade desses periódicos. O Portal dispõe de 52 títulos, das áreas das ciências biológicas (23), humanas (16) e exatas (3), além dos periódicos de museus (3) e de centros e institutos especializados (7). O Programa de Apoio às Publicações Científicas Periódicas da USP estabeleceu parceria com a Bireme – Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde – e adotou o modelo SciELO de publicação eletrônica. Com isso, os interessados têm fácil acesso ao conteúdo completo das publicações, além de poder consultar indicadores da produção científica, como índices de citação e relatórios de co-autoria. Fisioterapia e Pesquisa é uma das publicações da área de biológicas já credenciada e disponível no Portal (http://www.revistasusp.sibi.usp.br/ scielo.php).
Lembrando que Fisioterapia e Pesquisa é o órgão oficial da Associação Brasileira de Fisioterapia e constitui um importante meio de divulgação da associação, esta também passa a ter sua visibilidade sensivelmente ampliada pelo Portal de Revistas. Louvamos a iniciativa da USP, em especial a Comissão de Credenciamento, pelo empenho em tornar visíveis os periódicos da Universidade, divulgando o conhecimento aí produzido.
Amélia Pasqual Marques Débora Bevilaqua Grossi Editoras-chefes
Confiabilidade intra e interexaminadores da fotogrametria na classificação
do grau de lipodistrofia ginóide em mulheres assintomáticas
Intra and inter-examiner reliability of photogrammetry in the classification
of the degree of gynoid lypodystrophy in asymptomatic women
Ana Maria da Silva Mendonça
1, Michelle de Pádua1, Ana Paula Ribeiro
2,
Giovana Barbosa Milani
3, Sílvia Maria Amado João
4Estudo desenvolvido no Laboratório de Avaliação Musculoesquelética do Fofito/ FMUSP – Depto. de
Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
1 Fisioterapeutas do Laboratório de Avaliação
Musculoesquelética do Fofito/ FMUSP
2 Mestranda em Ciências da Reabilitação junto ao Laboratório de Avaliação Musculoesquelética no Fofito/ FMUSP
3 Fisioterapeuta Ms.
4 Profa. Dra. do Fofito/FMUSP coordenadora do Laboratório de Avaliação
Musculoesquelética ENDEREÇOPARA
CORRESPONDÊNCIA
Profa. Dra. Sílvia M. Amado João Centro de Docência e Pesquisa do Fofito
R. Cipotânea 51 Cidade Universitária
05360-160 Sao Paulo SP e-mail: smaj@usp.br APRESENTAÇÃO
nov. 2008 ACEITOPARAPUBLICAÇÃO
jan. 2009
RESUMO: A lipodistrofia ginóide (celulite) é uma afecção dermatológica comum entre as mulheres. Uma de suas formas de avaliação é a inspeção visual por meio da fotogrametria. Entretanto, não foram encontrados estudos que verifiquem a repetibilidade e reprodutibilidade dessa avaliação. O objetivo deste estudo foi verificar a confiabilidade intra e interexaminadores da avaliação da celulite por meio da fotogrametria. Foram fotografadas e avaliadas as regiões glúteas de 50 mulheres (26,14±4,45 anos). A reprodutibilidade foi testada pela avaliação da mesma fotografia por dois examinadores em duas ocasiões diferentes, com intervalo de um ano; a repetibilidade por um mesmo examinador, com intervalo de uma semana. Os dados foram analisados estatisticamente e utilizado o índice Kappa ponderado. Os resultados indicaram substancial correlação (κ=0,70) entre os avaliadores para o grau de celulite no glúteo superior e moderada correlação (κ=0,50) para o grau de celulite no glúteo inferior. Nas análises de repetibilidade, os dados demonstraram excelente correlação (κ=0,81) para o grau de celulite no glúteo superior e substancial correlação (κ=0,75) para os graus no glúteo inferior. O método proposto para qualificação dos diferentes graus de celulite pela fotogrametria apresentou confiabilidade aceitável intra e interexaminadores para a maioria das regiões avaliadas, com exceção da região do glúteo inferior. DESCRITORES: Lipodistrofia/classificação; Fotogrametria; Reprodutibilidade dos testes ABSTRACT: Gynoid lypodystrophy (cellulitis) is a common condition among women. One of its forms of evaluation is the visual inspection by photogrammetry. However, no studies could be found in literature on the repeatability and reproducibility of such evaluation. The purpose of this study was to assess reliability intra and inter- examiner of cellulitis evaluation by photogrammetry. The gluteal regions of 50 women (mean age 26.14±4.45 years) were photographed and evaluated. Reproducibility was tested by evaluation of the same photograph by two examiners on two one-year interval occasions; repeatability was assessed by a single examiner on two occasions one week apart. The Kappa index was applied. Results showed substantial correlation (κ=0.70) between examiners for cellulite degrees in upper buttock, and moderate correlation (κ=0.50) for cellulite degrees in lower buttock. As to repeatability, analyses showed excellent correlation (κ=0.81) for cellulitis degree in upper buttock and substantial correlation (κ=0.75) in lower buttock. The method proposed for classification of different gynoid lypodystrophy degrees by photogrammetry hence showed acceptable reliability intra and inter-examiner for the majority of evaluated regions, with the exception of the lower buttock. KEYWORDS: Lipodystrophy/classification; Photogrammetry, Reproducibility of
results
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.102-6, abr./jun. 2009 ISSN 1809-2950
Mendonça et al. Fotogrametria na classificação da celulite
INTRODUÇÃO
A lipodistrofia ginóide (celulite) é uma condição comum entre as mulheres após a puberdade1-3. De acordo com inúme- ros autores3-7, cerca de 85% das mulhe- res serão acometidas por essa afecção dermatológica. No entanto, apesar de sua grande incidência e dos inúmeros tratamentos oferecidos (cirúrgicos, farma- cológicos, fitoterápicos, massoterapêu- ticos etc.), sua histopatologia ainda per- manece desconhecida, principalmente pela ausência de consenso quanto à etiologia multifatorial1,2,4,7.
Segundo sugerem Terranova et al.2, há três teorias que buscam explicar a etiopatogenia da celulite. A primeira a descreve como sendo um edema crônico no tecido conjuntivo, que resultaria em fibrose desse tecido. A segunda sugere que a celulite é resultado de uma alteração microcirculatória que se caracteriza por compressão do sistema venoso e linfático. A última baseia-se no posicionamento perpendicular dos septos interlobulares do tecido subcutâneo, visto que Querleux et al.8 observaram, por meio de ressonância magnética, que mulhe- res com celulite apresentam um peque- no aumento na direção perpendicular desses septos quando comparadas àque- las sem celulite.
Os critérios de classificação variam de acordo com alterações histopatoló- gicas, aspecto macroscópico da pele e sua forma clínica. Todos os critérios são divididos em níveis, de acordo com o grau de comprometimento das variáveis analisadas9,10.
Dentre os fatores que influenciam o surgimento da celulite podem-se citar: o uso de contraceptivos hormonais5, estresse5,9, estilo de vida sedentário5,9, obesidade4,5, hereditariedade4,9, idade4, sexo4,9,11, disfunções hormonais9,11, taba- gismo9, gravidez9, ingestão excessiva de cafeína e bebidas alcoólicas9, nutrição inadequada9,11, mudanças circulatórias9,11 e fatores mecânicos11.
Vários métodos para avaliar a celuli- te têm sido estudados e descritos na li- teratura: termografia3,7, ultra-som10,12,13, ressonância magnética8-10, tomografia computadorizada9, laser doppler9,10, biópsia4,9, xerografia9, bioimpedância4,9
e plicometria10. No entanto, não é freqüen- te o emprego desses métodos na prática clínica, pois os equipamentos são caros e não estão disponíveis na realidade da maioria dos profissionais que atuam na área da fisioterapia dermatofuncional10. Para Rao et al.4, dentre os diversos métodos utilizados para examinar a celu- lite, os dados antropométricos e a obser- vação direta ou indireta, utilizando o registro fotográfico, são os recursos mais comumente utilizados, pois são passíveis de reprodução, apresentam exatidão re- lativa e são de baixo custo. O uso do registro fotográfico tem sido muito pre- conizado para documentação e compa- ração de resultados de cirurgias plásticas, cirurgias de reparação, avaliações posturais, entre outros14-18. Esse recurso pode ser valioso, visto que permite obter medidas da forma e das dimensões do corpo ou de partes dele, além de ser apto a registrar mudanças sutis e inter- relacioná-las entre diferentes partes do corpo15-17.
De acordo com a American Society for Photogrammetry and Remote Sensing19, a fotogrametria é a arte, ciência e tecno- logia de obtenção de informação confiá- vel sobre objetos físicos e o meio ambien- te, por meio de processos de gravação, medição e interpretação de imagens fo- tográficas, padrões de energia eletro- magnética radiante e outras fontes.
No entanto, a aplicação da técnica para o acompanhamento de mudanças temporais e investigação científica não é tão simples como aparenta, uma vez que requer vários cuidados metodoló- gicos para padronizar as fotos e evitar efeitos indesejáveis17. Diante disso, di- versos estudos14-16,20 funcionam como guias de recomendações para o registro de fotos padronizadas e de qualidade. Gerardini et al.14 ainda atentam para a dificuldade de se obterem fotografias da arquitetura e da tonicidade da pele; as- sim, autores9,14 utilizam recursos para facilitar a visualização desses registros, como o da contração glútea, no caso da celulite.
Apesar dos cuidados metodológicos para utilização das fotografias, esse re- curso ainda precisa ser melhor funda- mentado na área da fisioterapía dermato- funcional, visto que foram encontrados
trabalhos que testaram a reprodutibili- dade e repetibilidade do método17,18,21, porém não para avaliar a celulite. As- sim, considerando a importância da fo- tografia como método de avaliação e comparação para diversos profissionais da área da saúde, este estudo teve por objetivos: a) propor um método de clas- sificação da celulite a partir da inspe- ção visual dos registros fotográficos; b) verificar a confiabilidade intra e intere- xaminadores da fotogrametria na classi- ficação da celulite.
METODOLOGIA
A amostra foi constituída por 50 mu- lheres com idade entre 20 e 35 anos (26,14±4,45 anos) e índice de massa corpórea (IMC) médio de 20,79±1,92 kg/ m2. Os critérios de inclusão foram sexo e idade (20 a 35 anos). Os critérios de exclusão foram sintomas de doenças neuromusculares, musculoesqueléticas ou cardiorrespiratórias, bem como sedentarismo 22, gravidez atual ou pré- via, IMC maior ou igual a 24,9 kg/m2 e dor na coluna lombar e membros inferio- res nos últimos três meses. Para a realiza- ção do estudo os sujeitos assinaram o termo de consentimento livre e esclare- cido previamente aprovado pelo Comi- tê de Ética do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo.
Todas as voluntárias responderam a um questionário inicial, no qual constavam dados pessoais (nome, idade, telefones para contato, sexo e profissão) e pergun- tas a respeito dos critérios de exclusão já mencionados. Realizou-se a medida de massa corporal e estatura das voluntárias. Os registros fotográficos foram toma- dos por um único examinador previamen- te treinado, em ambiente bem iluminado, com fundo não reflexivo, aquecido e re- servado, preservando a privacidade dos sujeitos15,16.
As voluntárias foram fotografadas na posição ortostática sobre uma base de madeira, no plano frontal posterior, com braços ao longo do corpo, por uma câ- mara digital (Sony Cybershot, 7,2 megapixels) com resolução de 1600 x 1200 pixels. A máquina fotográfica esta- va posicionada paralela ao chão, a uma distância de 1 m da base de madeira,
sobre um tripé nivelado com a objetiva na altura do sacro.
Os registros fotográficos foram feitos com e sem contração glútea (Figura 1), de modo a delimitar e visualizar a pre- dominância da celulite9,14. A celulite foi classificada segundo Rao et al.4 e Rossi
& Verganini9 em quatro graus, de acordo com o comprometimento da forma clí- nica (Quadro 1).
Para avaliar a reprodutibilidade, as fotografias foram analisadas separada- mente por dois examinadores, com in- tervalo de um ano entre as observações. A análise de repetibilidade foi efetuada com base em duas avaliações de um mesmo examinador intervaladas por no mínimo uma semana. O software CorelDraw v.11.0 foi utilizado para au- xiliar as avaliações18: para facilitar a visualização e entendimento, a área avalia- da foi delimitada com linhas passando pelas espinhas ilíacas póstero-superiores (EIPS), inferiormente pela prega glútea in- ferior, lateralmente pelo trocânter maior e medialmente pelo sulco interglúteo. Foi estabelecida uma linha média entre a EIPS e a prega glútea inferior, dividindo a região glútea em superior direita (GSD) e esquerda (GSE) e inferior direita (GID) e esquerda (GIE) (Figura 2).
A estatística descritiva foi utilizada para caracterizar a população estudada, uma vez verificada a característica qua- litativa ordinal das variáveis em ques- tão. Foi utilizado o índice Kappa pon- derado para análise da confiabilidade intra e interexaminadores. De acordo com a classificação de Landis & Koch23, os valores do coeficiente Kappa foram interpretados como: concordância pobre (κ<0), ligeira concordância (κ=0–0,20), concordância fraca (κ=0,21–0,40), con- cordância moderada (κ=0,41–0,60), con- cordância substancial (κ=0,60–0,80) e concordância excelente (κ>0,80).
RESULTADOS
Conforme a Tabela 1, a análise de repetibilidade (intraexaminador) revelou índices de concordância entre as men- surações realizadas para avaliar o grau de lipodistrofia ginóide excelente em glúteo superior (κ=0,81) e substancial em glúteo inferior (κ=0,75).
Figura 1 Glúteos com e sem contração
A B
Grau I Assintomático ou latente. Sem alterações clínicas, somente histopatológicas
Grau II Alterações somente visíveis à palpação ou contração muscular. Com comprometimento circulatório, diminuição da temperatura e elasticidade da pele. Não há alteração de sensibilidade à dor Grau III Visível mesmo sem compressão dos tecidos, sujeita a ficar mais
aparente com compressão dos mesmos. Aspecto macroscópico de casca de laranja, observado com inspeção simples. Presença de nódulos à palpação. Pode haver alteração de sensibilidade
Grau IV Comprometimento pode ser observado quando o indivíduo estiver em qualquer posição. Há nódulos maiores e dolorosos, aderidos aos planos profundos. Pele com aspecto de casca de nozes, enrugada e flácida. Há fibrose com fator predominante, há sensibilidade aumentada à dor, podendo ter comprometimento nervoso
Quadro 1 Classificação da celulite
Figura 2 Delimitações da região glútea. G = glúteo; S = superior; I = inferior; D = direito; E = esquerdo
GSE
GIE
GSD
GID
Na análise de reprodutibilidade (Ta- bela 2), o grau de concordância das me- didas entre os avaliadores apresentou um substancial coeficiente (κ=0,70) para o grau de lipodistrofia ginóide em glúteo superior. No entanto, observa-se uma moderada concordância (κ=0,50) em glúteo inferior.
DISCUSSÃO
Os resultados do presente estudo mos- tram que o método proposto para avalia- ção qualitativa da celulite pela fotogra- metria é satisfatoriamente confiável para a maioria das regiões analisadas, quan- do avaliadas por um mesmo examinador em ocasiões diferentes e por examinado- res diferentes em um mesmo registro fo- tográfico. A exceção se fez para o glúteo inferior, onde se encontrou moderada confiabilidade interexaminadores.
Apesar de a fotografia digital ser um método amplamente utilizado na clínica médica e fisioterapêutica4,17,18,21, poucos estudos21 realizaram testes de confia- bilidade do método para exploração der- matológica. Acredita-se que os resultados moderados aqui encontrados, referentes ao glúteo inferior, possivelmente se devam à dificuldade de classificação da lipodis- trofia ginóide nessa região, visto que o glúteo inferior geralmente apresenta mais de um grau dessa afecção, o que pode conduzir a interpretações errône- as do examinador. Outro fator que pode ter influenciado os dados são as dis- torções, visto que o glúteo inferior é uma região com superfície irregular e que, portanto, tem regiões mais ou menos profundas. A distorção é um efeito in- desejável comum, que compromete a
qualidade fotográfica e implica altera- ções na imagem15,16, podendo causar impressões enganosas de possíveis assimetrias na arquitetura da pele do indivíduo, acarretando diferenças nos resultados – que podem ser expressas por essas moderadas correlações.
Por outro lado, o nível de concordân- cia das avaliações do grau da lipodis- trofia ginóide, tanto do glúteo superior quanto no glúteo inferior, quando a ava- liação é feita pelo mesmo examinador, foi considerado satisfatório. O método também se mostrou confiável em rela- ção à reprodutibilidade para a avaliação do grau de lipodistrofia ginóide no glúteo superior.
Estes achados estão de acordo com o estudo realizado por Fardet et al.21, que encontraram concordância intra e intere- xaminadores próxima do perfeito quando o diagnóstico da lipodistrofia induzida por corticóide foi determinado por meio de três fotografias digitais. Scheinfiled et al.24 também compararam a concordância entre os diagnósticos de lesões cutâneas por meio do método observacional in- direto (fotografia digital) e direto (visual) com o diagnóstico definitivo obtido por meio de análise histopatológica. Os re- sultados obtidos sugerem que o diagnós- tico feito mediante imagem digital é igualmente seguro e confiável, pois apre- sentou alto percentual de concordância, tanto com o diagnóstico observacional direto quanto com o histopatológico.
Hochman et al.25, em seu trabalho sobre fotogrametria computadorizada do nariz, também concluíram que “a padro- nização fotográfica proposta para análi- se fotogramétrica do nariz com o auxílio de computador a partir de fotografias
comuns mostrou-se prática e eficaz para avaliar de forma objetiva imagens pré e pós-operatórias”. De forma semelhante, Kvedar et al.26 concluem que a imagem digital pode substituir o exame físico em até 83% dos casos, visto que encontra- ram em seu estudo um grau de concor- dância diagnóstica dermatológica entre diferentes examinadores de 75%, mes- mo quando as fotografias eram tiradas em ambientes diferentes.
Há ainda o estudo de Perednia et al.27, segundo o qual essa boa correlação ain- da prevalece mesmo em imagens digi- tais de baixa resolução, já que, compa- rando os diagnósticos baseados em ima- gem digital com resolução de 92 dpi com aquelas de 4000 dpi apresentadas na forma de eslaides, os diagnósticos foram exatamente os mesmos.
Contudo, apesar dos resultados posi- tivos, o estudo apresenta algumas limi- tações. Dada a complexidade da condi- ção da celulite9, e considerando que os registros fotográficos estão sujeitos a distorções, a erros inerentes ao procedi- mento experimental e à interpretação do examinador15,17, torna-se necessária a as- sociação de outros métodos de avaliação, para confirmação diagnóstica da celulite. É importante ressaltar a importância do correto seguimento das orientações metodológicas, a fim de garantir regis- tros fotográficos de qualidade, confiáveis e passíveis de reprodução, além de es- tudos adicionais que busquem novas formas de avaliação viáveis na prática clínica, bem como estudos que validem e verifiquem a confiabilidade dos méto- dos já existentes. Este é um dos poucos estudos na área dermatofuncional que busca estabelecer métodos fidedignos e confiáveis para avaliação de uma afecção dermatológica, contribuindo assim para o desenvolvimento da fisioterapia base- ada em evidências.
CONCLUSÃO
O método proposto para qualificação dos diferentes graus de lipodistrofia ginóide por fotogrametria apresentou confiabilidade aceitável intra e interexa- minadores para a maioria das regiões avaliadas, com exceção da região do glúteo inferior, onde é necessário analisar os graus de lipodistrofia ginóide por associa- ção de diferentes métodos de avaliação. Variável Mediana Erro padrão Kappa ponderado Classificação
FEG GS 2 0,07 0,81 Excelente
FEG GI 2 0,08 0,75 Substancial
Tabela 1 Dados descritivos e valores do índice de confiabilidade das análises intraexaminador (repetibilidade) do grau de lipodistrofia ginóide
FEG = lipodistrofia ginóide; GS = glúteo superior; GI = glúteo inferior
Tabela 2 Dados descritivos e valores do índice de confiabilidade das análises inter- examinador (reprodutibilidade) do grau de lipodistrofia ginóide (LG).
FEG = lipodistrofia ginóide; GS = glúteo superior; GI = glúteo inferior
Variável Mediana Erro padrão Kappa ponderado Classificação
FEG GS 3 0,09 0,70 Substancial
FEG GI 2 0,08 0,50 Moderada
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Equilibrium and muscle retraction in young female students users
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Dernival Bertoncello
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3, Vanessa Linhares Lemos
3Estudo desenvolvido no Curso de Fisioterapia da Uniube – Universidade de Uberaba, Uberaba, MG, Brasil
1 Prof. Dr. adjunto do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Unidade Urbano Salomão, Uberaba, MG
2 Profa. Dra. adjunta do Curso de Fisioterapia da
Universidade Federal de São Paulo, Santos, SP
3 Fisioterapeutas
ENDEREÇOPARA CORRESPONDÊNCIA
Prof. Dr. Dernival Bertoncello Av. Getúlio Guarita 159 Abadia
38025-440 Uberaba MG e-mail:
bertoncello@fisioterapia.uftm.edu.br O estudo recebeu apoio do Pape – Programa de Apoio à Pesquisa da Uniube.
APRESENTAÇÃO
set. 2008 ACEITOPARAPUBLICAÇÃO
maio 2009
RESUMO: Verifica-se precocidade na utilização de calçado de salto alto, mas não há muitos estudos identificando suas conseqüências. O objetivo deste trabalho foi verificar alterações de equilíbrio e eventual retração muscular em estudantes universitárias habituadas a utilizar salto alto diariamente. Foram avaliadas 30 jovens (média de 20 anos de idade) que anotaram, durante duas semanas, o tempo diário em que permaneciam com o calçado. Foram avaliadas quanto a desvios posturais, quanto às retrações musculares da cadeia posterior, pelo teste de alcance horizontal, e quanto ao equilíbrio, pelo teste de Romberg. Os resultados foram analisados estatisticamente. A média de estatura foi 1,63 m e a de massa corporal, 58,5 kg. O tempo médio de uso dos sapatos de salto alto foi de 34 h por semana. Ao relacionar o alcance horizontal com o tempo semanal de uso do salto alto, verificou-se forte correlação negativa (r=-0,8692; p<0,0001). Não houve correlação entre o alcance horizontal e o tempo de uso de salto alto em anos. O teste de 17 das 30 voluntárias foi positivo para perda de equilíbrio quando descalças, de olhos fechados. A correlação foi negativa com o tempo de uso semanal de salto alto (r=-0,4178; p=0,0216). Foi encontrada correlação positiva moderada entre o alcance horizontal e o tempo de equilíbrio (r=0,6078; p<0,0004). Conclui-se que o uso de calçado de salto alto por mais de 4 horas diárias pode promover alterações de equilíbrio em mulheres jovens, além de retração muscular.
DESCRITORES: Equilíbrio musculoesquelético; Postura; Sapatos
ABSTRACT: Precocity has been noticed in the use of high-heeled shoes. However, there are not many studies on its consequences. The aim of this work was to search for equilibrium alterations in young women used to daily wearing high-heeled shoes. Thirty female undergraduates (mean aged 20 years old) were asked to write down, for two weeks, the number of hours per day they remained with the shoes on. They were then assessed as to posture deviations, as to muscle retractions of the posterior chain by means of the sit and reach test, and as to equilibrium by the Romberg test. Results were statistically analysed. Mean volunteers’ height was 1.63 m and mean body mass, 58.5 kg. A negative, strong correlation (r=-0.8692; p<0.0001) was noticed between reach range and weekly time (in hours) of high- heeled shoe wearing. No correlation was found between reach range and time of high-heel use in years. Seventeen out of the 30 volunteers presented positive test for loss of equilibrium when barefoot with closed eyes. A weak, negative correlation (r=-0.4178; p=0.0216) was found between loss of equilibrium and weekly time of high-heel use. A positive moderate correlation was found between reach range and time of equilibrium (r=0.6078; p<0.0004). The use of high-heeled shoes for more than four hours per day can hence be said to cause equilibrium changes and muscle retraction in young women.
KEYWORDS: Musculoskeletal equilibrium; Posture; Shoes
Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.2, p.107-12, abr./jun. 2009 ISSN 1809-2950
INTRODUÇÃO
No corpo humano, uma série de ações desempenhadas pelo sistema fisio- lógico permite o movimento e a manuten- ção da bipedestação. Particularmente, os sistemas nervoso, muscular e esquelético assumem padrões peculiares em cada indivíduo, conforme a demanda impos- ta. A adaptação desses sistemas frente aos estímulos externos ao corpo é pos- sível graças à propriedade de plastici- dade dos tecidos 1,2.
O aparelho vestibular é o órgão que detecta as sensações de equilíbrio e res- ponde a diversos estímulos, como visuais, sonoros, táteis e de posição corporal. Quando se altera o posicionamento cor- poral, o estiramento muscular excita os fusos musculares e, por via reflexa, os mús- culos entram em tensão, estimulando re- ceptores proprioceptivos. Esses receptores, também chamados corpúsculos sensíveis à pressão, constituem provavelmente as principais fontes de informações no que concerne à posição e ao deslocamento dos diversos segmentos corpóreos. Por interconexões neurais, transmitem ao aparelho vestibular as informações ne- cessárias para que haja resposta quanto a aumento ou diminuição de tônus mus- cular para manter o equilíbrio3,4.
Todos os mecanismos fisiológicos se modificam a fim de permitir a adapta- ção corporal conforme as condições impostas pelo meio, seja em relação a fatores ambientais ou a utensílios de ves- timenta que acompanham o corpo, para corrigir deficiência física ou servir como complemento estético.
Um exemplo é o calçado com salto alto. À parte a utilização de salto alto para corrigir deficiência física, na maioria das vezes seu uso objetiva a correção da es- tatura da pessoa com intuito estético. No entanto, para manter-se sobre uma altu- ra acima do nível do chão, são necessá- rios ajustes corporais para evitar a que- da do indivíduo. Assim, o equilíbrio deve ser redefinido e, para tanto, os sistemas muscular e esquelético sofrem alterações no que tange ao tônus muscular. Isso pode se refletir em desvios ou desloca- mentos de estruturas ósseas e ligamenta- res, que determinam as compensações que levam às alterações da postura do indivíduo5,6.
Nota-se, na sociedade atual, grande número de mulheres que utilizam salto alto diariamente. Verifica-se também uma precocidade na utilização desse tipo de calçado, ou seja, cada vez mais, jovens fazem uso de sandálias ou sapa- tos com saltos elevados. Na literatura é descrito que a utilização constante pode levar a alterações posturais como, por exemplo, hálux valgo, pé cavo, hiperlor- dose lombar, hiperextensão de joelhos e retração dos músculos da cadeia posterior (tríceps sural, isquiotibiais e paraver- tebrais)7,8. No entanto, não há muitos estu- dos identificando os principais problemas que tal uso pode acarretar no que se re- fere à alteração do equilíbrio e modifi- cação do tônus muscular, embora o tes- te de Romberg seja empregado por di- ferentes autores a fim de avaliar o equi- líbrio em populações com disfunção motora ou em condições diferenciadas9-11. O objetivo deste trabalho foi verifi- car eventuais alterações do equilíbrio e presença de retração muscular em estu- dantes universitárias habituadas a utili- zar constantemente salto alto como parte de seu vestuário.
METODOLOGIA
Foram avaliadas 30 voluntárias, com idade entre 18 e 22 anos, que utilizam calçado com salto alto diariamente, com altura do salto maior do que 8 centíme- tros – sendo este um requisito imprescin- dível para a determinação da amostra. As voluntárias eram estudantes do 3o ao 5o período do curso de Fisioterapia. Este tra- balho recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Uniube – Univer- sidade de Uberaba. Todas as voluntárias assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, contendo um expli- cativo da pesquisa e a condição de livre arbítrio quanto à participação no estu- do. Como critérios de exclusão, foram considerados: usar calçado de salto alto há menos de dois anos; apresentar qual- quer alteração dos sistemas vestibular e/ ou cerebelar; exercer trabalho remunera- do que exigisse uso de traje padrão (para evitar especificidade da amostra); usar me- dicamento controlado.
Análise do perfil de uso de calçado com salto alto: cada voluntária preencheu, de próprio punho, um questionário sobre
suas atividades de vida diária referentes ao uso de sapato de salto alto, contendo itens que contemplavam, entre outros, o tempo aproximado de uso diário, bem como o tempo pregresso (em anos) de uso. Cada voluntária foi orientada a ano- tar, durante duas semanas, o tempo diá- rio em que permaneceu com o calçado. A média de horas semanais foi calcula- da da somatória das duas semanas.
Avaliação física: as voluntárias foram avaliadas pelo exame físico simplifica- do no que se refere aos desvios posturais. Foram ainda avaliadas quanto à retração muscular da cadeia posterior pelo teste de alcance horizontal, verificado pelo posicionamento no banco de Wells12, seguindo padrões de análise para os músculos semitendinoso, semimembra- noso, bíceps femoral, gastrocnêmio, sóleo e paravertebrais13. O ponto zero foi demarcado na ponta dos dedos do pé, mantendo os tornozelos em posição neutra e sentada sobre as tuberosidades isquiáticas. Assim, a distância (em cm) para alcançar o ponto inicial foi conside- rada negativa; a distância a partir desse ponto foi considerada positiva. A volun- tária foi instruída a flexionar o tronco e estender os braços aproximando as mãos dos pés e, após o comando “já”, efetua- va o alcance. O escore zero indica que a pessoa alcança com a ponta dos dedos da mão os do pé, ou seja, flexibilidade regular; alcance horizontal negativo indi- ca pouca flexibilidade. Para evitar vieses decorrentes da análise qualitativa, em cada parâmetro as voluntárias foram analisadas por um mesmo avaliador.
Avaliação de equilíbrio: para avaliação de equilíbrio das voluntárias, foi utilizado o teste de Romberg9,10,14 adaptado. Este é um teste comumente utilizado para avalia- ção do equilíbrio em pessoas com disfun- ções nos sistemas vestibular ou cerebelar; assim, precisou ser adaptado, pois não foi encontrado na literatura um teste para tal finalidade em indivíduos sem qual- quer alteração ou disfunção motora. Solicitou-se a cada voluntária que per- manecesse com os pés juntos, descalços, com olhos abertos por aproximadamen- te 30 segundos e, depois, com olhos fe- chados durante também 30 segundos. Cronometrou-se o tempo de permanência na posição em pé sem perda de equilíbrio e considerou-se positivo o teste quando
Bertoncello et al. Equilíbrio em usuárias de salto alto
a voluntária não conseguia passar mais de 10 segundos de olhos fechados sem oscilações corporais, analisadas pelas variações verificadas frente a um sime- trógrafo. Foi registrado o tempo que cada uma demorou para ter a primeira osci- lação, aqui considerado tempo de equi- líbrio, ou seja, em que cada voluntária permaneceu sem oscilação corporal. A avaliação do tempo foi um determinante neste estudo, considerado um parâmetro além do que é prescrito pelo teste de Romberg.
Análise dos resultados: foram anali- sados de forma a correlacioná-los quan- to à flexibilidade, equilíbrio e tempo de uso de sapato de salto alto. Foi utilizado o teste de correlação linear de Pearson para avaliar o nível de correlação entre as variáveis. Correlações foram conside- radas fortes se r>0,70 e fraca se r<0,70; na faixa intermediária, foi considerada moderada.
RESULTADOS
A média de estatura e massa corporal das voluntárias avaliadas foi de 1,63 m e 58,5 kg, respectivamente. Os valores médios referentes às variáveis analisadas com base nas respostas ao questionário e nas avaliações física e do equilíbrio são apresentados na Tabela 1. Ressalta-se que o valor negativo do alcance hori- zontal é devido à distância das mãos ao antepé, na posição sentada, ou seja, sem conseguir alcançar os pés.
Em relação à avaliação postural, 24 voluntárias (80%) apresentam cristas ilíacas esquerdas mais elevadas do que no lado direito; 17 (56,7%) têm joelhos valgos e 3 (10%), joelhos varos; 25 (83,4%) apresentam anteversão pélvica. Quando se procurou relacionar o al- cance horizontal com o tempo semanal (em horas) de uso de calçado com salto alto, verificou-se correlação negativa, ou seja, quanto maior o tempo de uso do calçado, menor o alcance horizontal
(Gráfico 1). Não houve correlação com o tempo de uso de salto alto em anos; e todas as voluntárias indicaram mais de quatro anos utilizando o calçado.
De todas as voluntárias participantes, 17 apresentaram teste positivo para per- da de equilíbrio com olhos fechados, ou seja, mantiveram a postura em pé sem
oscilações por apenas 10 segundos ou menos. A correlação foi negativa com o tempo de uso semanal de salto alto (quanto maior o tempo de uso, menor o tempo de equilíbrio em pé – Gráfico 2). A correlação foi positiva entre os parâmetros alcance horizontal e tempo de equilíbrio, ou seja, aquelas que tinham
0 10 20 30 40 50 60
-20 -15 -10 -5 0 5 10
Alcance horizontal (cm)
Uso de salto alto (h/semana)
Gráfico 1 Correlação entre alcance horizontal (cm, banco de Wells) e tempo semanal (h) de uso de salto alto (r=-0,8692; p<0,0001)
Alcance horizontal (cm) Uso semanal de salto alto (h) Tempo de equilíbrio (s) -2,23r6,81 34,3r7,5 12,1r6,4 Tabela 1 Alcance horizontal, tempo semanal de uso de salto alto e tempo de
equilíbrio das voluntárias (média ± dp) (n=30)
Tempo de equilíbrio = tempo de permanência em pé de olhos fechados sem oscilação corporal 0
10 20 30 40 50 60
0 5 10 15 20 25 30
Tempo de equilíbrio (s)
Uso de salto alto (h/semana)
Gráfico 2 Correlação entre tempo de equilíbrio em pé (s) e tempo semanal (h) de uso de salto alto (r=-0,4178; p=0,0216)
maior alcance também apresentavam melhor tempo de equilíbrio (Gráfico 3).
Não foram encontradas correlações entre os parâmetros acima descritos e o tempo em anos de uso do calçado.
DISCUSSÃO
Este estudo avaliou jovens que fazem uso contínuo de calçado com salto alto, sendo este parte de sua vestimenta diária. Cada voluntária ficou responsável por sua análise diária de uso, inclusive mar- cando os intervalos em que permanecia com outro tipo de calçado mais baixo. Se considerado o tempo médio semanal de uso de 34 horas, a média por dia é de 4 horas e 51 minutos.
No que se refere ao equilíbrio, alguns es- tudos utilizaram outros testes para avaliação de perda de equilíbrio dos indivíduos15,16. Aqui, optou-se pelo teste de Romberg devido à sua facilidade de aplicação clí- nica e também pelo caráter qualitativo que apresenta. A adaptação para a for- ma quantitativa permitiu correlacionar o parâmetro equilíbrio com o tempo de uso de salto alto.
Quando não se permite que sinais oculares direcionem a postura, o siste- ma vestibular se encarrega de coman- dar a distribuição do peso corporal, o que pode ser modificado pela alteração do centro de gravidade corporal. Na ausência de informação visual, pode ocorrer aumento da oscilação do corpo, embora alguns autores afirmem que es- sas informações não são imprescindíveis para a manutenção da postura corpo- ral17,18. Pode-se inferir que, de fato, a manutenção da postura corporal sem oscilações não é totalmente prejudica- da quando a pessoa se encontra com
olhos fechados. Os resultados indicaram que pouco mais de 50% das voluntárias apresentaram resultado positivo no tes- te de Romberg, ou seja, não consegui- ram ficar em pé sem oscilação corporal por mais de dez segundos. No entanto, a correlação negativa entre tempo de equilíbrio e tempo de uso semanal do calçado indica que pode haver readapta- ções corporais e, possivelmente, perda do equilíbrio por outros fatores que não a informação visual.
Na postura ereta ocorre controle do equilíbrio para a manutenção do corpo no espaço. Se considerada a postura sem qualquer interferência de desequilíbrio muscular, o centro de gravidade corpo- ral mantém-se geralmente na altura de S2, conforme indicado na literatura19-21. Com o uso de calçado de salto alto, ocor- re flexão plantar de tornozelo proporcio- nalmente à altura do salto. Essa posição remeteria para o deslocamento anterior do corpo. A fim de se manter em equilí- brio, a pessoa faz anteversão pélvica. No presente estudo, os resultados apontam para isso, uma vez que a grande maioria das voluntárias (83,4%) apresenta essa variação postural. A anteversão pélvica, associada à flexão plantar acentuada, resulta em hiperlordose lombar. Assim, a retração muscular da cadeia posterior torna-se mais evidente e possível de ocorrer, o que se reflete no menor al- cance horizontal na posição sentada. Quanto maior o tempo semanal de uso de calçado com salto alto, possivelmente ocorrem maiores adaptações estruturais Gráfico 3 Correlação entre alcance horizontal (cm) e tempo de equilíbrio (s) em pé
(r=0,6078; p<0,0004)
0 5 10 15 20 25 30
-20 -15 -10 -5 0 5 10
Alcance horizontal (cm)
Tempo de equilíbrio (s)
de tecidos moles e rígidos a fim de man- ter o equilíbrio da usuária e, portanto, mais retrações e menor alcance horizon- tal, conforme os resultados aqui encon- trados.
Iunes e Santos22 não encontraram al- terações musculares lombares durante a marcha de crianças utilizando calçado com salto alto, por meio de testes ele- tromiográficos, quando compararam com uso de salto baixo ou marcha descalça. Outros autores23 já tinham avaliado pos- síveis alterações no joelho de adolescen- tes, na postura estática, com ou sem cal- çado com salto alto, mas não encontra- ram diferenças significativas para desvios. Provavelmente, devido à faixa etária das voluntárias aqui estudadas e ao tempo (no mínimo quatro anos) há que usavam salto alto, a musculatura da região inferior do tronco já tenha alterações necessárias para adaptação ao calçado na postura estática.
Ao correlacionar o alcance horizon- tal com o tempo de equilíbrio, também se verificaram valores proporcionais, ou de correlação positiva. É possível perce- ber inter-relações entre estes e os demais parâmetros avaliados. Uma vez que o indivíduo apresenta retração muscular de cadeia posterior (que pode ou não ser decorrente do uso demasiado de calçado com salto alto), as modificações corporais poderiam alterar o centro gravitacional do corpo e, portanto, o equilíbrio passaria a ser prejudicado quando a pessoa esti- vesse sem o calçado. Segundo Hansen e Childress24, alguns calçados, devido à disposição do salto e à área de contato com o chão, não permitem adaptações corporais, principalmente na articulação do tornozelo, o que determinaria ajus- tes em outras articulações a fim de com- pensar essa não-adaptação local. Tedeschi Filho et al.25 ainda encontra- ram diminuição da ação de bomba mus- cular, que contribui para o retorno ve- noso, em usuárias de salto alto, o que poderia causar doença venosa.
O uso de calçado com salto alto, ao modificar a estatura da usuária e permi- tir arranjos estéticos, poderia interferir em sua qualidade de vida. Hong et al.26 procuraram analisar a percepção de con- forto de mulheres jovens caminhando com salto alto. Verificaram que há diminuição do conforto à medida que se diminui o
contato do pé com o chão, o que ocorre de acordo com o aumento da altura do salto. Neste trabalho, as voluntárias se mostraram aparentemente à vontade com o uso do calçado, embora não te- nhamos aplicado um questionário refe- rente à qualidade de vida.
O fato de não haver correlação entre os parâmetros analisados e o tempo, em anos, de uso de salto alto, pode ser de- vido à dificuldade em fazer a análise retrospectiva sobre o total de meses em que a pessoa utiliza o calçado. O tempo foi considerado em anos, sendo pratica- mente igual para todas as voluntárias. No
entanto, verificaram-se modificações cor- porais que demandam alteração do centro de equilíbrio, possivelmente com alteração do tônus muscular devido à ausência de alongamentos musculares diários27-30.
Diante dos resultados aqui encontra- dos, embora com uma população pe- quena, é preocupante verificar que há aparente diminuição de equilíbrio quan- do a voluntária não está com o calçado de salto alto mas faz uso diário dele. Os ajustes corporais decorrentes desse uso podem determinar outras disfunções aqui não identificadas. Portanto, estudos direcionados para outras análises são
importantes a fim de demonstrar possí- veis riscos de lesões à população.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o uso de calçado de salto alto por mais de 4 horas diárias pode promover alterações de equilíbrio em mulheres jovens (quando descalças), provavelmente devido ao arranjo mus- cular decorrente da alteração postural que se segue à alteração do centro de gravidade corporal.
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