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CÓDIGO PENAL comentado PARA CARREIRAS POLICIAIS

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2021

Márcio Alberto Gomes Silva

CÓDIGO

PENAL

comentado

PARA CARREIRAS

POLICIAIS

2ª edição revista,

atualizada e

ampliada

(2)

Introdução

Conceitos iniciais: antes de estudar todos os artigos do Código Penal, proponho

a análise de alguns conceitos importantes.

Princípios: sintetizo, na tabela abaixo, alguns princípios importantíssimos no

es-tudo do Direito Penal.

Princípio Definição Dispositivo

Dignidade da pessoa humana

De tão importante, é fundamento da Repú-blica Federativa do Brasil. O Direito Penal não pode impor sanção (nem aceitar tra-tamento) que ofenda a dignidade humana.

Artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal1

Devido processo legal Ninguém será privado dos seus bens ou de sua liberdade sem o devido processo legal. Artigo 5º, inciso LIV, da Constituição Federal2

Intervenção mínima

Por ser remédio extremamente amargo (que pode privar a liberdade do cidadão) o Direito

Penal deve ser a última opção do legislador para resolver os conflitos de interesse sur-gidos no seio da sociedade (ultima ratio).

Lesividade/ofensividade Só são objeto do Direito Penal condutas que efetivamente lesem ou tragam perigo de

le-são a bens jurídicos relevantes de terceiros.

Fragmentariedade

Nem todas as lesões a bens jurídicos pro-tegidos devem ser tuteladas, apenas um fragmento destas (nem todas as lesões ao patrimônio são objeto de proteção pelo Di-reito Penal, por exemplo – não se pune o dano culposo).

Alteridade

São duas facetas: a) reza que ninguém será punido por ter feito mal a si mesmo – por isso a autolesão não é crime; b) o pensa-mento (fase de cogitação, interna) não é punido (temos direito de profanar, desde que não exista exteriorização ilícita do quan-to imaginado).

1 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)

III – a dignidade da pessoa humana. 2 Art. 5º (...)

(3)

Humanidade O Direito Penal deve se pautar pela benevo-lência, garantindo o bem-estar da

coletivida-de – inclusive a dos concoletivida-denados. Pessoalidade

(ou intranscendência) A punição não pode passar da pessoa do condenado. Artigo 5º, inciso XLV, da Constituição Federal3

Insignificância

O princípio da insignificância, como se verá alhures, afasta a tipicidade material, em face inexpressividade da lesão produzida (que não chega a arranhar o bem jurídico pro-tegido).

O Supremo Tribunal Federal reclama, para incidência do princípio da insignificância: a) mínima ofensividade; b) ausência de periculosidade; c) reduzido grau de repro-vabilidade; d)

inexpressivi-dade da lesão.

Questões de concurso público: veja como o assunto já foi cobrado em concurso

pú-blico.

1 – (Delegado de Polícia Civil/ES/2019) O sistema penal é composto por órgãos de naturezas jurídi-cas distintas com funções, dentre outras, de caráter investigativo, repressivo, jurisdicional e prisio-nal. É sabido que os números de letalidade no exercício de tais funções, tanto de civis quanto de agentes do sistema penal têm aumentado nos últimos anos. Por conta dessa informação, será pre-ciso promover uma política pública em âmbito penal que reverbere na diminuição de tal letalidade. (BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2007) Identifique a alternativa correta que contenha os princípios que fundamentam o Direito Penal, e que mostrem que sua observância se torna importante para o embasamento da referida política pública.

a) Devido processo legal/ contraditório e ampla defesa/ proximidade de jurisdição / proporciona-lidade.

b) Intervenção mínima/ legalidade / lesividade / adequação social. c) Mínimo proporcional/ reserva do possível/ humanidade/ lesividade. d) Legalidade / proporcionalidade / penalidade / legítima defesa.

e) Mínima letalidade/ letalidade controlada/ tutela civil e tutela penal/ livre iniciativa.

2 – (Delegado de Polícia Civil/RJ/2012) De acordo com o Glossário Jurídico do Supremo Tribunal Federal, “o princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu e não apenas na diminuição e substituição da pena ou não sua não aplicação”. Sobre o tema princípio da insignificância, assinale a resposta correta.

a) Buscando sua origem, de acordo com certa vertente doutrinária, no Direito Romano, o princípio da insignificância vem sendo objeto de recorrentes decisões do STF, nas quais são estabelecidos

3 Art. 5º (...)

XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles exe-cutadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.

(4)

dois parâmetros para sua determinação: reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comporta-mento e inexpressividade da lesão jurídica provocada.

b) O princípio da insignificância, decorrência do caráter fragmentário do Direito Penal, tem base em uma orientação utilitarista, tem origem controversa, encontrando, na atual jurisprudência do STF, os seguintes requisitos de configuração: a mínima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comporta-mento; e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

c) Sua atual elaboração deita raízes na doutrina de Claus Roxin e, no Direito Penal brasileiro, con-soante jurisprudência atual do STF, se limita à avaliação da inexpressividade da lesão jurídica provocada, ou seja, observa-se se a ofensa ao bem jurídico tutelado é relevante ou banal. d) Surgindo como uma consequência lógica do princípio da individualização das penas, a

insignifi-cância penal não aceita a periculosidade social da ação como parâmetro, de acordo com o po-sicionamento atual do STF, em razão da elevada abstração desse conceito, mas apresenta como requisitos: a mínima ofensividade da conduta do agente; o reduzidíssimo grau de reprovabilida-de do comportamento; e a inexpressividareprovabilida-de da lesão jurídica provocada.

e) Inserida no princípio da intervenção mínima, embora já mencionada anteriormente por Welzel como uma faceta do princípio da adequação social, a insignificância determina a inexistência do crime quando a conduta praticada apresentar a simultânea presença dos seguintes requisitos, exigidos pela atual jurisprudência do STF: a mínima ofensividade da conduta do agente; nenhu-ma periculosidade social da ação; o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; a inexpressividade da lesão jurídica provocada; e a inexistência de um especial fim de agir.

3 – (Delegado de Polícia Civil/MT/2017) De acordo com o entendimento do STF, a aplicação do princípio da insignificância pressupõe a constatação de certos vetores para se caracterizar a atipi-cidade material do delito. Tais vetores incluem o(a)

a) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento. b) desvalor relevante da conduta e do resultado.

c) mínima periculosidade social da ação. d) relevante ofensividade da conduta do agente. e) expressiva lesão jurídica provocada.

Gabarito comentado:

Questão Reposta Comentário

1 Letra B A questão não foi bem formulada, mas a assertiva escolhida é a única que contempla princípios que regem o Direito Penal.

2 Letra B

Para responder corretamente o quesito, basta conhecer os requisitos para aplicação do princípio da insignificância, segundo entendimento do STF: a) Mínima ofensividade; b) Ausência de periculosidade; c) Re-duzido grau de reprovabilidade; d) Inexpressividade da lesão. 3 Letra A Vide comentário anterior.

Interpretação da lei penal: abaixo sintetizo observações acerca da

(5)

Quanto à origem

Autêntica Oferecida pela própria lei (artigo 150, §§ 4º e 5ºnal, por exemplo). 4, do Código Pe-Doutrinária Interpretação feita por estudiosos, profissionais e professores. Jurisprudencial Interpretação feita pelo Poder Judiciário (decisões reiteradas em um mesmo sentido).

Quanto ao modo

Gramatical Utiliza regras gramaticais para identificar o real sentido da lei. Teleológica Busca os fins da lei.

Sistemática Interpreta o mandamento harmonizando-o com o ordenamen-to jurídico. Histórica Analisa o momento histórico da elaboração da lei.

Quanto ao resultado

Declarativa Conclui-se que o legislador disse exatamente o que tencionava. Restritiva Conclui-se que o legislador disse mais que o que tencionava (por meio de expressões muito vagas e abertas) e, portanto, o

intér-prete terá que limitar o alcance da lei.

Extensiva Conclui-se que o legislador disse menos que o que tencionava, portanto, o intérprete terá que ampliar o alcance da lei.

Interpretação analógica x analogia: interpretação analógica e analogia são

ins-titutos diferentes:

Expressão Comentários

Interpretação analógica Ocorre quando o legislador, após uma sequência, utiliza-se de fórmu-la genérica que deve ser interpretada de acordo com a lista anterior (artigo 121, § 2º, inciso III, do Código Penal5, por exemplo).

Analogia

É utilizada quando há lacuna e o sistema é integrado com a aplica-ção de uma lei que rege caso semelhante. A analogia é, via de regra, vedada em Direito Penal. Admite-se, todavia, analogia in bonam

par-tem (em benefício do réu).

4 Artigo 150 (...)

§ 4º – A expressão “casa” compreende: I – qualquer compartimento habitado; II – aposento ocupado de habitação coletiva;

III – compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. § 5º – Não se compreendem na expressão “casa”:

I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;

II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. 5 Art. 121 (...)

§ 2º Se o homicídio é cometido: (...)

III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum.

(6)

Questões de concurso público: veja como o assunto já foi cobrado em concurso público.

1 – (Delegado de Polícia Civil/SP/2018) Prescreve o art. 327 do CP: “considera-se funcionário pú-blico, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.” Tal norma traduz exemplo de interpretação

a) doutrinária. b) científica. c) autêntica. d) analógica. e) extensiva.

2 – (Delegado de Polícia Civil/MA/2018) No direito penal, a analogia

a) é uma forma de autointegração da norma penal para suprir as lacunas porventura existentes. b) é uma fonte formal imediata do direito penal.

c) utiliza, na modalidade jurídica, preceitos legais existentes para solucionar hipóteses não previs-tas em lei.

d) corresponde a uma interpretação extensiva da norma penal.

e) é uma fonte formal mediata, tal como o costume e os princípios gerais do direito.

Gabarito comentado:

Questão Reposta Comentário

1 Letra C A interpretação autêntica ocorre quando a própria lei diz o significado de expressão que pode causar dúvida interpretativa. 2 Letra A Analogia significa suprir lacunas, com o fito de integrar o ordena-mento jurídico.

Conflito aparente de normas penais: fala-se em conflito aparente de normas

penais quando, para um determinado fato, aparentam incidir duas ou mais normas

penais incriminadoras.

Para configurar o conflito aparente, têm que estar presentes os seguintes

ele-mentos:

Elemento Comentário

Unicidade de fato No conflito aparente de normas, há apenas um fato. Pluralidade de normas, com aparente

aplicação das normas ao fato Mais de uma norma parece ser aplicável ao mesmo fato. Efetiva aplicação de apenas uma norma Depois da utilização de um dos princípios a seguir relaciona-dos, nota-se que só se aplica uma das normas.

Para solucionar o conflito aparente de normas, deve-se utilizar um dos

princí-pios a seguir expostos:

(7)

Princípio Comentários

Especialidade

Se uma das normas puder ser considerada especial em relação a outra, apli-ca-se a norma especial em detrimento da geral.

A lei especial nem sempre é mais grave que a geral (relação infanticídio/ho-micídio, por exemplo – o infanticídio é considerado especial em relação ao homicídio e tem pena menor que este).

Subsidiariedade

Se uma das normas puder ser considerada subsidiária em relação à outra, aplica-se a norma principal.

Deve-se analisar o caso concreto e tentar adequar o fato à norma principal, não sendo possível, aplica-se a norma subsidiária.

Essa subsidiariedade pode ser explícita (expressão “se o fato não constituir crime mais grave” – artigo 132 do Código Penal, por exemplo) ou implícita (estupro/constrangimento ilegal; furto qualificado pelo arrombamento/dano).

Consunção

É quando um fato definido como crime funciona como preparação, execução ou exaurimento para um outro crime (memorize as expressões crime-meio e crime-fim).

É preciso diferenciar o:

a) antefato (ante factum) impunível: o agente materializa conduta

objeti-vando a prática de outra. A primeira conduta finda sem potencialidade lesiva, porque se esgota com a conduta final (falsificação de documento com o objetivo de praticar crime de estelionato nos termos da Súmula 17 do Superior Tribunal de Justiça6);

b) pós-fato (post factum) impunível: prática de conduta posterior à

consu-mação, contra o mesmo bem jurídico, incapaz de agravar a lesividade do comportamento anterior (agente que danifica coisa móvel subtraída – o agente não será punido por furto e dano, apenas por furto);

c) crime progressivo: o agente deseja, desde o início, praticar crime mais

grave e, para isso, lesiona o bem jurídico progressivamente (para mate-rializar um homicídio, crime desde o início pretendido, o agente lesiona progressivamente a vítima, até confiscar a vida desta – pune-se o autor do fato apenas pelo delito de homicídio);

d) progressão criminosa: o agente deseja, inicialmente, praticar um crime

menos grave. Atingida a consumação e modificando sua intenção, o autor pratica conduta mais gravosa. Exemplifico: o agente, determinado a pra-ticar crime de lesão corporal, golpeia a vítima. Depois do golpe, o autor modifica seu querer e decide matar a vítima – pune-se o autor do fato apenas pelo crime de homicídio.

Alternatividade

Aplicável aos crimes mistos, alternativos ou de conteúdo variado (o tipo incri-minador prevê mais de uma forma de cometer o crime e a prática de mais de um verbo pelo mesmo autor, no mesmo contexto fático, significa crime único – artigo 122 do Código Penal, por exemplo).

Há críticas a este princípio por não se tratar propriamente de conflito de nor-mas (é um conflito dentro de um mesmo tipo).

6 Súmula 17/STJ – Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, e por este absorvido.

(8)

Velocidades do Direito Penal: eis tabela que sintetiza as velocidades do

Direi-to Penal:

Velocidade Definição

Primeira velocidade Caracterizada pela aplicação, em regra, de pena privativa de liberdade, com respeito a direitos/garantias do réu (modelo garantista, com procedimento amplo e moroso).

Segunda velocidade

Procedimento mais célere (com inobservância de alguns direitos/garantias do réu), com aplicação de penas restritivas de direitos ou pecuniárias (não há apli-cação de pena privativa de liberdade) – instituto da transação penal, previsto na Lei 9.099/95, por exemplo.

Terceira velocidade

Permite restrição da liberdade sem a observância de direitos/garantias do réu (essa é a velocidade do Direito Penal do Inimigo, teorizado por Günther Jakobs). Seriam considerados inimigos os agentes da criminalidade econômica, terro-rismo, criminalidade organizada, crimes sexuais e outras infrações penais peri-gosas7. O inimigo pode ser submetido, inclusive, a medida de segurança

(apli-cada por tempo indeterminado), com possibilidade de antecipação de tutela penal (abandona-se o direito penal do fato e se aplica o direito penal do autor). Quarta velocidade Vinculada ao Direito Penal Internacional. Pune pessoas que cometeram crimes contra humanidade, por meio do Tribunal Penal Internacional, em Haia

(Esta-tuto de Roma, ratificado pelo Brasil por meio do Decreto 4.388/02).

Garantismo penal: o garantismo penal tem como expoente Luigi Ferrajoli (em

sua obra Direito e Razão

8

). Em síntese bastante apertada, Ferrajoli elaborou 10

axio-mas na construção da sua teoria (equivalentes ao dever ser do Direito Penal), que

merecem ser memorizados:

Número Axioma Comentário

1 Nulla poena sine crimine Princípio da retributividade

2 Nullum crimen sine lege Princípio da legalidade

3 Nulla lex (poenalis) sine necessitate Princípio da necessidade

4 Nulla necessitas sine injuria Princípio da lesividade/ofensividade

5 Nulla injuria sine actione Princípio da exterioridade da ação

6 Nulla actio sine culpa Princípio da culpabilidade

7 Nulla culpa sine judicio Princípio da jurisdicionariedade

8 Nullum judicium sine accusation Princípio acusatório

9 Nulla accusatio sine probatione Princípio do ônus da prova

10 Nulla probation sine defensione Princípio da defesa

7 MUÑOZ CONDE, Francisco. Direito penal do inimigo. Tradução Karyna Batista Sposato, Juruá, 2012,

p. 41/42.

(9)

Memorize a tabela abaixo, referente à análise do princípio da proporcionalidade:

Garantismo positivo Garantismo negativo

Proibição da proteção deficiente Proibição do excesso

No bojo da análise do garantismo negativo, discute-se o garantismo

hiperbóli-co monocular (apontado hiperbóli-como distorção do garantismo, por focar exclusivamente na

proibição do excesso e poder redundar em impunidade). Chamo-o (garantismo

hiper-bólico monocular) de superdimensionamento de direitos individuais

9

.

Lei penal: a lei penal tem duas partes:

Parte Comentário

Preceito primário Descrição da conduta proibida Preceito secundário A sanção cominada em abstrato

Adotamos a técnica de descrever a conduta proibida (preconizada por Karl

Bin-ding). Neste diapasão, há diferença entre norma penal (regra proibitiva e não escrita)

e lei penal (regra escrita elaborada pelo legislador de maneira descritiva) – a conduta

do agente não infringe à lei penal, ao contrário ele se encaixa perfeitamente nela, a

norma penal é que é atropelada.

A lei penal é dotada de:

Característica Comentário

Exclusividade Só ela cria infrações penais

Anterioridade Só se aplica aos fatos praticados após sua entrada em vigor Imperatividade É imposta de forma obrigatória

Generalidade Destina-se a todos

Impessoalidade É voltada a fatos, não a pessoas

9 SILVA, Márcio Alberto Gomes. Processo Penal para Carreiras Policiais. Salvador: Juspodivm, 2021, p.

(10)

A lei penal pode ser classificada como:

Classificação Comentários

Incriminadoras Descrevem crimes e cominam penas

Não-incriminadoras

Permissivas

Afastam a ilicitude de uma conduta (justificantes –

artigo 24 do Código Penal, por exemplo) ou isentam o agente de pena (exculpantes – artigo 22 do Código

Penal, por exemplo).

Explicativas Esclarecem ou explicitam conceitos (artigo 327 do Có-digo Penal, por exemplo). Complementares Delimitam a aplicação da lei penal (artigo 5º do Código Penal, por exemplo). De extensão ou

inte-grativas Viabilizam a tipicidade de algum fato (artigo 14, II, do Código Penal, por exemplo).

Lei penal em branco: a lei penal em branco (cega ou aberta) é aquela em que

a descrição da conduta está incompleta. Ela necessita de um complemento para

atin-gir sua efetividade (para que se conheça por completo a figura típica ou a sanção

im-posta). Podem ser:

Lei penal em branco Comentário

Homogêneas10

(em sentido amplo ou impropriamente em branco) São complementadas por outra lei (artigo 237 do Código Penal, por exemplo). Heterogêneas

(em sentido estrito ou propriamente em branco) São complementadas por texto de fonte diversa (ar-tigo 33 da Lei 11.343/06, por exemplo). Ao avesso Écisa de complemento quanto ao preceito secundá- a que tem o preceito primário completo, mas pre-rio (artigo 1º a 3º da Lei 2.889/56, por exemplo). Ao quadrado

É aquela em que o complemento faz referência a outro normativo (o complemento da lei penal pre-cisa ser complementado por outro normativo – ar-tigo 38 da Lei 9.605/98, por exemplo).

Conceito de crime: genericamente o termo infração penal (é gênero) é utilizado

para abarcar as expressões crimes e contravenções (são espécies). No Brasil, não há

distinção entre crime e delito (são sinônimos). Acerca das principais diferenças entre

crime e contravenção penal (também chamada de crime anão ou delito liliputiano),

confira a tabela abaixo:

10 Rogério Sanches Cunha (Manual de Direito Penal, 5ª edição, Salvador, Juspodivm, 2017, p. 96)

classi-fica as leis penais em branco homogêneas em homovitelinas (quando o complemento está na mesma

instância legislativa – o artigo 312 é complementado pelo artigo 327, ambos do Código Penal) e he-terovitelinas (o complemento emana de instância legislativa diversa – o artigo 236 do Código Penal é

(11)

Critério diferenciador Crime Contravenção Pena privativa de liberdade11 Reclusão ou detenção Prisão simples

Possibilidade de cominação

isolada de pena de multa Não Sim

Ação penal Pública ou privada12 Pública incondicionada13

Elemento subjetivo Dolo14 Voluntariedade15

Punibilidade da tentativa Sim16 Não17

Extraterritorialidade Sim18 Não19

Duração máxima da pena

privativa de liberdade 40 anos20 5 anos21

O

conceito de crime não é fornecido pelo Código Penal. Doutrinariamente,

en-tretanto, três acepções do conceito de crime são estudadas:

Conceito material Crime é a conduta que viola de forma grave os bens jurídicos mais importan-tes para sociedade. Conceito formal Crime é toda conduta descrita como tal em uma lei penal incriminadora.

Conceito analítico

Estuda o crime dividindo-o em elementos: fato típico (tem como elementos

a conduta, o resultado, o nexo de causalidade e a tipicidade – formal e ma-terial), antijuridicidade (é a relação de antagonismo, de contrariedade entre

a conduta do agente e o ordenamento jurídico) e culpabilidade (tem como

elementos a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibili-dade de conduta diversa) – a doutrina majoritária (inclusive no Brasil) adota a teoria tripartida (que considera o crime fato típico, antijurídico e culpável).

11 Artigo 1º do Decreto-Lei 3.914/41 (Lei de Introdução do Código Penal e da Lei de Contravenções Pe-nais).

12 Artigos 24 e 30 do Código de Processo Penal. 13 Artigo 17 do Dec-Lei 3.688/41.

14 Artigo 18, I, do Código Penal.

15 É a versari in re illicita – responsabilização do agente mesmo que a conduta por ele praticada não seja resultante de dolo/culpa – artigo 3º do Dec-Lei 3.688/41.

16 Artigo 14, II, do Código Penal. 17 Artigo 4º do Dec-Lei 3.688/41. 18 Artigo 7º do Código Penal. 19 Artigo 2º do Dec-Lei 3.688/41.

20 Artigo 75 do Código Penal (modificado pelo Pacote Anticrime). 21 Artigo 10 do Dec-Lei 3.688/41.

(12)

Mais algumas nomenclaturas importantes:

Sujeito ativo

Como regra, é a pessoa natural maior de 18 anos no tempo do crime (vide artigo 4º do Código Penal).

Excepcionalmente, admite-se que a pessoa jurídica cometa crimes (vide artigo 173, § 5º e 225, § 3º, ambos da Constituição Federal).

A pessoa jurídica pode ser punida penalmente pela prática de crime ambien-tal, nos termos da Lei 9.605/98.

Sujeito passivo

É o titular do bem jurídico violado. Divide-se em formal (é o titular do jus

puniendi – o Estado) e material (titular do bem jurídico atacado pelo crime). Não são sujeitos passivos de crimes animais, coisas e mortos. Não há a

pos-sibilidade de confusão, na mesma pessoa, de sujeito passivo e ativo (em con-duta única).

Entrementes, em caso de crime constituído por diversas condutas (como o de rixa) é possível que uma pessoa seja sujeito passivo e ativo a um só tempo.

Objeto material É o bem de natureza corpórea ou incorpórea atingido pelo crime (há entendi-mento no sentido de que bens de natureza incorpórea não são considerados objeto material – daí poderíamos ter crime sem objeto material).

Objeto jurídico Bem jurídico é o interesse protegido pela lei penal (vida e patrimônio, por exemplo).

Questão de concurso público: veja como o assunto já foi cobrado em concurso público.

1 – (Delegado de Polícia Civil/AL/2012) Apesar de, no campo fático, ser possível ocorrer a tentativa de contravenção penal, esta, quando se desenvolve na forma tentada, não é penalmente alcançável ( ).

Gabarito comentado:

Questão Reposta Comentário

1 CERTA Vide artigo 4º da Lei das Contravenções Penais: a tentativa de contravenção. Art. 4º Não é punível

Classificação dos crimes: a seguir mais conceitos importantes (ligados à

classi-ficação de crimes):

Quanto ao sujeito ativo

Crime comum Pode ser cometido por qualquer pessoa. Crime próprio22 Só pode ser praticado por determinadas pessoas

(exigem sujeito ativo especial)23.

22 Os crimes próprios podem ser puros e impuros. São puros quando a prática do fato por pessoa que

não tenha a qualidade especial reclamada pela norma não constitui crime (artigo 321 do Código Pe-nal, por exemplo). Os impuros são os que, quando praticados por pessoa que não tenham qualidade

especial, transformam-se em crimes diversos (infanticídio x homicídio).

23 Crime de mão própria é aquele que não admite coautoria, apenas participação (só pode ser cometido

(13)

Quanto ao momento consumativo

Crime instantâneo24 A consumação se dá por meio de uma única

con-duta.

Crime permanente25 A consumação se prolonga no tempo, por

vonta-de do agente.

Quanto à conduta Crime comissivo Praticado por meio de ação.

Crime omissivo26 Praticado por uma abstenção.

Quanto ao resultado naturalístico

Material Há resultado naturalístico possível e este precisa ocorrer para que exista consumação (homicídio, por exemplo).

Formal Há resultado naturalístico possível, mas a consu-mação não depende da sua materialização (extor-são, por exemplo).

De mera conduta Não há resultado naturalístico possível. A lei pune, tão somente, uma conduta (porte ilegal de arma de fogo, por exemplo).

Quanto ao resultado jurídico

Crime de dano Consuma-se com efetiva lesão ao bem jurídico tu-telado. Crime de perigo27 Consuma-se com o perigo de lesão ao bem

jurídi-co tutelado.

Quanto à pluralidade de sujeitos como requisito

típico

Crime unissubjetivo Pode ser praticado por uma só pessoa. Crime

plurissubjetivo Demanda mais de uma pessoa para ser cometido (associação criminosa, por exemplo).

Quanto à possibilidade de fracionamento da

conduta

Crime

unissubsistente28 É praticado por apenas um ato (não há fraciona-mento da conduta) – injúria verbal, por exemplo.

Crime

plurissubsistente Pode ser praticado por meio de vários atos (homi-cídio, por exemplo).

Quanto à natureza do comportamento nuclear

Crime de forma livre É praticado de qualquer modo (não há fórmula le-gal expressa). Crime de forma

vinculada É praticado por meio de fórmula prevista no tipo penal (curandeirismo, por exemplo).

24 Crime instantâneo de efeitos permanentes é aquele em que o resultado não pode mais ser revertido

– homicídio, por exemplo.

25 O crime permanente pode ser necessariamente permanente (sequestro) ou eventualmente perma-nente (furto de energia elétrica).

26 O crime omissivo pode ser omissivo próprio (a lei descreve e pune uma abstenção) ou omissivo impró-prio (comissivo por omissão) – quando o resultado advém da omissão de quem tem o dever jurídico de agir para evitá-lo (garantidor ou garante – vide artigo 13, § 2º, do Código Penal, para conhecer os garantidores).

27 Os crimes de perigo são divididos em crime de perigo concreto (quando o perigo ao bem jurídico

tu-telado precisa ser provado) e crime de perigo abstrato (o perigo de lesão é presumido pelo legislador).

(14)

Outros conceitos relevantes:

Conceito relevante Definição Exemplo

Crime habitual Consuma-se mediante prática reite-rada e contínua de várias ações. Curandeirismo (artigo 284 do Códi-go Penal). Crime à distância O iter criminis passa pelo território de dois ou mais países. Tráfico internacional de arma de fogo (artigo 18 da Lei 10.826/03).

Crime plurilocal O iter criminis passa pelo território de mais de um foro Tráfico interestadual de droga ilícita (artigo 33 c/c artigo 40, inciso V, da Lei 11.343/06).

Crime a prazo O crime ou circunstância que eleva a pena só se implementa depois de certo tempo.

Lesão corporal de natureza grave (ar-tigo 129, § 1º, I, do Código Penal) e apropriação de coisa achada (artigo 169, parágrafo único, inciso II, do Código Penal).

Crime de atentado A forma tentada e a forma consuma-da têm a mesma pena. Evasão mediante violência contra a pessoa (artigo 352 do Código Penal). Quase-crime Sinônimo de crime impossível. Artigo 17 do Código Penal.

Crime condicionado Depende do advento de uma condi-ção e, por isso, não admite tentativa. Artigo 164 do Código Penal.

Questão de concurso público: veja como o assunto já foi cobrado em concurso público.

1 – (Delegado de Polícia Civil/MA/2018) No que se refere à classificação dos crimes, assinale a opção correta.

a) No crime habitual, as ações que o compõem, consideradas isoladamente, não constituem cri-mes.

b) No crime à distância, a conduta dá-se em um local e a produção, em outro, dentro do mesmo país.

c) No crime preterintencional, há a conjugação da ação culposa no evento antecedente com o dolo no resultado consequente.

d) Os crimes omissivos impróprios se perfazem com a mera abstenção da realização de um ato, independentemente de um resultado posterior.

e) Nos crimes instantâneos de efeitos permanentes, a consumação do crime perdura até quando o sujeito quiser.

Gabarito comentado:

Questão Reposta Comentário

(15)

Sistemas penais: a tabela abaixo sintetiza os sistemas penais:

Sistema Expoentes Características principais

Clássico Liszt e Beling Dolo e culpa como elementos da culpabilidade (teoria psicológica da culpabilidade). Neoclássico

(neokantista) Mezger

Culpabilidade como juízo de reprovação (mas como o dolo e a cul-pa ainda integrando a culcul-pabilidade) – teoria psicológico-normativa da culpabilidade.

Finalista Welzel O dolo e a culpa migram para conduta (fato típico) e a culpabilidade se torna puramente normativa – teoria normativa pura da culpabilidade. Funcionalista Roxin e Jakobs A noção de imputação ganha relevo (imputação objetiva). Há o fun-cionalismo moderado de Roxin e o funcionalismo sistêmico (radical)

(16)

PARTE GERAL

TÍTULO I

DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Anterioridade da Lei

Art. 1º – Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia

cominação legal.

Legalidade, anterioridade e reserva legal: o artigo 1º do Código Penal traz em

seu bojo três princípios: o da

legalidade, o da anterioridade e o da reserva legal.

Só pode ser criada/modificada figura típica por meio de

lei (princípio da

legali-dade). O mandamento legal precisa ser

anterior ao fato analisado (princípio da

ante-rioridade) e há de ser

lei em sentido estrito (princípio da reserva legal).

Não

é possível tratar de Direito Penal por meio de medida provisória, nos

ter-mos do artigo 62, § 1º, inciso I, alínea ‘b’, da Constituição Federal

29

– isso é

conse-quência do

princípio da reserva legal (de igual sorte, não é possível tratar de Direito

Penal por meio de lei delegada). Entretanto, o Supremo Tribunal Federal já admitiu

uso de medida provisória para edição de direito penal não incriminador – normas

pe-nais benéficas para acusados:

I. Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal – extraída pela

dou-trina consensual – da interpretação sistemática da Constituição -, não

compreen-de a compreen-de normas penais benéficas, assim, as que abolem crimes ou lhes

restrin-gem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção

de pena ou de extinção de punibilidade. II. Medida provisória: conversão em lei

após sucessivas reedições, com cláusula de “convalidação” dos efeitos

produzi-dos anteriormente: alcance por esta de normas não reproduzidas a partir de uma

das sucessivas reedições. III. MPr 1571-6/97, art. 7º, § 7º, reiterado na reedição

subseqüente (MPr 1571-7, art. 7º, § 6º), mas não reproduzido a partir da

reedi-ção seguinte (MPr 1571-8 /97): sua aplicareedi-ção aos fatos ocorridos na vigência das

edições que o continham, por força da cláusula de “convalidação” inserida na lei

de conversão, com eficácia de decreto-legislativo (RE 254818, Relator(a):

Sepúl-veda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 08/11/2000, DJ 19-12-2002 PP-00123

EMENT VOL-02096-07 PP-01480 RTJ VOL-00184-01 PP-00301)

30

.

29 Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisó-rias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I – relativa a:

(...)

b) direito penal, processual penal e processual civil. 30 Julgado anterior à emenda à Constituição Federal 32/01.

(17)

HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ABOLITIO CRIMINIS.

NÃO--OCORRÊNCIA. O prazo de cento e oitenta dias previsto nos artigos 30 e 32 da

Lei n. 10.826/2003 é para que os possuidores e proprietários armas de fogo

as regularizem ou as entreguem às autoridades. Somente as condutas típicas

‘possuir ou ser proprietário’ foram abolidas temporariamente. A vingar a tese

de abolitio criminis temporária quanto ao porte ilegal, chegar-se-á ao absurdo

de admitir que qualquer pessoa pode transitar livremente em público

portan-do arma de fogo. Ordem denegada (HC 88594, Relator(a): Eros Grau, Segunda

Turma, julgado em 09/05/2006, DJ 02-06-2006 PP-00044 EMENT

VOL-02235-03 PP-00555 RTJ VOL-00201-02 PP-00707)

31

.

Mandados de criminalização: a Constituição Federal não traz em seu bojo

ti-pos penais (descrição de condutas típicas e imputação de sanção). Em verdade, há

na Carta da República

mandados de criminalização (ordens dirigidas ao legislador

infraconstitucional, para que este regulamente certos delitos na forma determinada

pelo Texto Magno – artigo 5º, inciso XLIII, por exemplo

32

). Até seria possível tipificar

crimes na Constituição Federal, mas a modificação ou extinção da figura típica seria

muito custosa (aprovação da proposta em dois turnos de votação em cada casa do

Congresso Nacional, pelo voto de três quintos de seus membros, na forma do § 2º

do artigo 60 da Carta Magna

33

).

Interpretação extensiva: é preciso lançar mão de interpretação extensiva para

estender os princípios em estudo às contravenções penais (espécie de infração penal)

e à medida de segurança (que não é pena e sim sanção – esta é o gênero e as

espé-cies são as penas e as medidas de segurança).

Assim é que, nos termos do artigo em estudo: não há crime (nem contravenção)

sem que lei anterior o defina, não há pena (nem medida de segurança) sem prévia

cominação legal.

Fundamento constitucional do artigo 1º do Código Penal: o pano de fundo do

artigo 1º do Código Penal é o inciso XXXIX do artigo 5º da Constituição Federal:

31 Esse julgado é mais paradigmático que o anterior, porque materializado depois da emenda à Cons-tituição Federal 32/01 e findou admitindo, com tranquilidade, reflexo penalmente benéfico (abolitio

criminis temporária) em face de modificação operada no Estatuto do Desarmamento pela Medida

Pro-visória 417/08 (convertida na Lei 11.706/08). 32 Art. 5º (...)

XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

33 Art. 60 (...)

§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, consi-derando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.

(18)

Art. 5º. (...)

(...)

XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia

co-minação legal;

Legalidade material x legalidade formal: a legalidade material impede que seja

considerado crime a conduta que não fere efetivamente interesse juridicamente

tute-lado. A

legalidade formal diz que não há crime sem lei formal que tipifique a conduta.

A lei penal deve ser

escrita, estrita, certa e necessária.

Resumo do artigo: eis tabela que sintetiza os aspectos mais importantes do

ar-tigo 1º do Código Penal:

Artigo 1º do Código Penal

Princípio da legalidade Não há crime (nem contravenção penal) sem lei que o defina. Não há pena (nem medida de segurança) sem cominação legal. Princípio da anterioridade A lei que cria/modifica o crime/contravenção ou a pena/medida de segu-rança deve ser anterior ao fato praticado.

Princípio da reserva legal

A lei que cria/modifica o crime/contravenção ou a pena/medida de segu-rança é a lei ordinária ou complementar (lei em sentido estrito). A criação de crime por medida provisória, lei delegada, ou decreto, por exemplo, ofende o princípio aqui estudado.

Questões de concurso público: veja como o assunto já foi cobrado em concurso público.

1 – (Polícia Rodoviária Federal/2019) O art. 1.º do Código Penal brasileiro dispõe que “não há cri-me sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.

Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões jurídicas dele de-correntes, julgue o item que se segue.

O presidente da República, em caso de extrema relevância e urgência, pode editar medida provi-sória para agravar a pena de determinado crime, desde que a aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação da medida pelo Congresso Nacional ( ).

2 – (Polícia Rodoviária Federal/2019) O art. 1.º do Código Penal brasileiro dispõe que “não há cri-me sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.

Considerando esse dispositivo legal, bem como os princípios e as repercussões jurídicas dele de-correntes, julgue o item que se segue.

A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por que é proibida, em caráter absoluto, a analogia no direito penal, seja para criar tipo penal incriminador, seja para fundamen-tar ou alterar a pena ( ).

(19)

Gabarito comentado:

Questão Reposta Comentário

1 ERRADA A edição de medida de provisória em matéria penal atropela o prin-cípio da reserva legal. 2 ERRADA Admite-se, em Direito Penal, uso da analogia in bonam partem (o quesito fala na proibição, em caráter absoluto, do uso da analogia

– por isso o erro).

Lei penal no tempo

Art. 2º – Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar

crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença

con-denatória.

Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,

apli-ca-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória

tran-sitada em julgado.

Introdução: em regra, deve-se aplicar a lei vigente à época dos fatos (tempus regit

actum). Como exceção, tem-se a extratividade da lei – retroatividade ou ultratividade:

Extratividade

(retroatividade) (ultratividade) Extratividade

Início da atividade

Revogação da lei

Atividade da lei

A lei penal é irretroativa, salvo para beneficiar o réu. É a regra do inciso XL do

artigo 5º da Constituição Federal:

Art. 5º. (...)

(...)

XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Abolitio criminis e novatio legis in mellius: o artigo 2º do Código Penal encerra

dois postulados extremamente importantes:

Instituto Dispositivo Conceito

Abolitio criminis Caput do artigo 2º do CP Ocorre quando uma lei nova deixa de considerar o fato como criminoso. Novatio legis in mellius Parágrafo único do artigo 2º do CP Quando lei nova traz qualquer tipo de benefí-cio para o réu.

(20)

Observações relevantes: acerca do artigo em estudo, é preciso desenhar

algu-mas observações importantes:

Observação Comentários

A abolitio criminis faz de-saparecer os efeitos penais da condenação, não os ex-trapenais

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: PEDRO foi condenado, com trânsito em julgado,

pela prática do crime ‘A’ e, após, cometeu o novo delito ‘B’. Sobreveio lei que extinguiu a conduta proibida tipificada no crime ‘A’.

SOLUÇÃO: o trânsito em julgado de sentença condenatória induz

reinci-dência (em caso de nova prática delitiva) e esse é um efeito penal da con-denação. Como houve abolitio criminis em relação ao crime ‘A’, esse efeito penal é apagado. Logo, caso PEDRO seja condenado pela prática do crime ‘B’, ele deve ser considerado primário.

Não se deve confundir

abo-litio criminis com revogação

formal da lei

A simples revogação de uma lei penal incriminadora não redunda, neces-sariamente, em abolitio criminis.

É preciso verificar se o conteúdo normativo incriminador foi efetivamente

revogado ou se foi preservado em outra lei/artigo em vigor. Cito exemplo: o artigo 214 do Código Penal foi revogado, mas seu conteúdo incrimina-dor migrou para o artigo 213 do mesmo diploma, não ocorrendo, nessa situação, abolitio criminis – é a chamada continuidade normativo-típica.

Quando há continuidade normativo-típica, não há abolitio criminis e vi-ce-versa.

É possível aplicação, ao caso concreto, da chamada

lei intermediária

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: suponha que a conduta criminosa seja praticada

sob a vigência da lei ‘A’ (que impõe pena máxima de 4 anos para o delito). A seguir, a lei ‘B’ revoga a lei ‘A’, diminuindo a pena máxima do crime per-petrado pelo agente para 3 anos. Por fim, imagine que a lei ‘C’ revogue a lei ‘B’, impondo pena máxima de 5 anos para o delito praticado pelo autor.

SOLUÇÃO: no caso apresentado tem-se o seguinte raciocínio – a lei

inicial-mente aplicada ao caso concreto é a lei ‘A’ (lei vigente no tempo do crime); a seguir a lei ‘B’ (mais benéfica), deve retroagir tão logo entre em vigor

(no-vatio legis in mellius). Por fim, conclui-se que a lei ‘B’ (intermediária) deve

continuar a ser aplicada ao caso concreto (ultratividade), porquanto mais favorável que a lei ‘C’ (que por ser mais gravosa, não poderá retroagir). Não é possível combinação

de leis (para, por exemplo, utilizar a parte mais benéfi-ca de benéfi-cada uma – lei revo-gada e lei em vigor)

Admitir a combinação de leis significaria criar uma terceira lei (lex tertia) não imaginada pelo legislador. Tal expediente (combinação de leis) foi ve-dado expressamente pelo Superior Tribunal de Justiça na Súmula 501 – É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resul-tado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo veda-da a combinação de leis (grifo meu).

Depois do trânsito em julga-do da sentença condenató-ria, a aplicação da lei mais benéfica compete ao juízo das execuções

É importante a leitura da Súmula 611/STF – Transitada em julgado a sen-tença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.

Excepcionalmente, contudo, caso haja dúvida interpretativa razoável, será preciso manejo de revisão criminal.

No caso de prática de crime permanente ou continua-do, aplica-se ao fato a lei nova, ainda que mais severa

Leia a Súmula 711/STF – A lei penal mais grave aplica-se ao crime conti-nuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

(21)

Súmula 711/STF: entenda o quanto explicitado na Súmula 711/STF por meio

de um exemplo:

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: suponha que JOÃO restrinja a liberdade de MARIA

no dia 02/01/2020, com o objetivo de reclamar preço pelo resgate da vítima.

Imagine que a privação da liberdade dure até o dia 01/02/2020 e que, no dia

15/01/2020, entre em vigor nova lei que aumente a pena do crime de extorsão

mediante sequestro (artigo 159 do Código Penal).

SOLUÇÃO: nos termos do verbete estudado, o aumento de pena determinado

pelo novel mandamento legal será suportado por JOÃO, já que a lei entrou em

vigor durante a permanência:

Início da permanência – 02/01/20 Entrada em vigor da nova lei – 15/01/20 Fim da permanência – 01/02/20

A maioridade deve ser aferida, de igual sorte, no dia do fim da permanência (caso

o agente inicie prática de crime permanente adolescente e a maioridade sobrevenha

no curso da permanência, o agente deve ser considerado imputável).

Resumo do artigo: eis o resumo do quanto estudado no artigo 2º do Código Penal:

Artigo 2º do Código Penal

Abolitio criminis Nova lei deixa de considerar o fato como criminoso – a consequência é a cessação dos efeitos penais (mesmo se houver sentença conde-natória transitada em julgado).

Novatio legis in mellius Edição de nova lei mais benéfica – aplica-se a nova lei mais benéfi-ca ainda que o caso tenha sido decidido por sentença condenatória transitada em julgado.

Continuidade normativo-típica Não há abolitio criminis caso o conteúdo incriminador contido em lei revogada tenha migrado para outro artigo/lei ainda em vigor. Súmula 611/STF Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. Súmula 711/STF A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade

ou da permanência.

Questões de concurso público: veja como o assunto já foi cobrado em concurso público.

1 – (Delegado de Polícia Civil/ES/2019) “Chamamos de extra-atividade a capacidade que tem a lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente

(22)

à sua vigência”. (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. vol. 1. 17. ed. Rio de Janei-ro: Impetus, 2015, p.159). Segundo esse autor a extra-atividade é gênero do qual seriam espécies a ultra-atividade e a retroatividade. Leia as afirmativas a seguir e marque a alternativa correta:

a) A lei penal possui ultra-atividade, nos casos em que, mesmo após sua revogação por lei mais gravosa, continua sendo válida em relação aos efeitos penais mais brandos da lei que era vigen-te no momento da prática delitiva.

b) A garantia penal positivada na Constituição Federal brasileira (1988) promove a retroatividade da lei penal mais benéfica quando o condenado, por uma conduta típica, apresenta residência fixa, após cometimento do ilícito penal.

c) A ultra-atividade da lei penal funciona como mecanismo de endurecimento da norma penal, ao passo que funciona como técnica de resolução de conflito para aplicação de um direito penal punitivo.

d) A aplicação da irretroatividade em direito penal funciona como garantia legal do ius puniendi que pretende auferir a punição mais gravosa ao condenado.

e) A figura da ultra-atividade da norma penal realiza o objetivo de garantir a condenação do réu pela norma penal vigente na prática da conduta delitiva, com o principal objetivo de promover a segurança jurídica em âmbito penal.

2 – (Delegado de Polícia Federal/2018) Manoel praticou conduta tipificada como crime. Com a en-trada em vigor de nova lei, esse tipo penal foi formalmente revogado, mas a conduta de Manoel foi inserida em outro tipo penal. Nessa situação, Manoel responderá pelo crime praticado, pois não ocorreu a abolitio criminis com a edição da nova lei ( ).

3 – (Delegado de Polícia Civil/MA/2018) Em relação à lei penal no tempo e à irretroatividade da lei penal, é correto afirmar que à lei penal mais

a) severa aplica-se o princípio da ultra-atividade. b) benigna aplica-se o princípio da extra-atividade. c) severa aplica-se o princípio da retroatividade mitigada. d) severa aplica-se o princípio da extra-atividade. e) benigna aplica-se o princípio da não ultra-atividade.

Gabarito comentado:

Questão Reposta Comentário

1 Letra A

Em direito penal, em regra, a ultratividade se dará quando a lei pe-nal vigente na época dos fatos é revogada por lei mais severa. Como a lei mais nova não pode retroagir, por ser mais gravosa, a revogada continua a ser aplicada para o caso criminal.

2 CERTA O quesito narrou o fenômeno da continuidade normativo-típica. Quando ele ocorre, não há que se falar em abolitio criminis. 3 Letra B Se a lei penal é mais benigna, aplica-se o princípio da extratividade (retroatividade ou ultratividade, conforme o caso).

(23)

Lei excepcional ou temporária

Art. 3º – A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua

duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato

pra-ticado durante sua vigência.

Lei excepcional x lei temporária: o artigo 3º do Código Penal trata das leis

tem-porárias e excepcionais. Ambas são:

Característica Comentário

Autorrevogáveis Se têm por revogadas após a data marcada para o término de sua vigência (as temporárias) ou quando da cessação do período excepcional nela grafa-do (as excepcionais).

Ultrativas Porque os fatos ocorridos em sua vigência continuam por elas regulado, mes-mo depois da revogação – em regra a ultratividade será gravosa (é o que se chama de efeito carrapato).

Eis o conceito das leis aqui estudadas:

Espécie Conceito

Lei temporária É aquela que traz expressamente em seu texto o dia do início e do término de sua vigência. Lei excepcional É a lei editada num momento de anormalidade e cuja vigência se estende até o fim da situação excepcional.

Encerrado o período de vigência (temporária) ou a anormalidade (excepcional)

essas leis se têm por revogadas.

O artigo 3º do Código Penal prescreve que os fatos praticados sob a égide de

tais normativos continuam por elas regulados, ainda que elas tenham sido revogadas.

Há discussão doutrinária acerca da constitucionalidade do dispositivo em face

do disposto no já transcrito inciso XL do artigo 5º da Constituição Federal. Penso que

o dispositivo é constitucional.

Eis exemplo:

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: lei temporária entrou em vigor no dia 03/01/2020,

tipi-ficando determinada conduta como crime. A lei estipulou como data de perda

da vigência o dia 03/02/2020. JOÃO praticou a conduta tipificada na lei

tem-porária no dia 15/01/2020.

SOLUÇÃO: como o crime tipificado na lei temporária foi perpetrado por JOÃO

durante a vigência da lei temporária, ele segue sendo responsabilizado

crimi-nalmente mesmo depois da revogação automática do mandamento legal:

(24)

Início da vigência – 03/01/20 Prática do crime por JOÃO – 15/01/20 Fim da vigência da lei – 03/02/20

Resumo do artigo: eis resumo do quanto estudado no artigo 3º do Código Penal:

Artigo 3º do Código Penal

Lei temporária Traz expressamente em seu texto o dia do início e do término de sua vigência. Lei excepcional Lei editada num momento de anormalidade e cuja vigência se estende até o fim da situação excepcional. Características comuns Autorrevogáveis e ultrativas

Regra do artigo 3º do

Código Penal Se o crime for praticado na vigência da lei temporária/excepcional, o agente segue sendo responsabilizado por esta, mesmo depois da revogação do man-damento legal.

Tempo do crime

Art. 4º – Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda

que outro seja o momento do resultado.

Tempo do crime (teorias): o artigo 4º do Código Penal trata do tempo do crime.

São três as teorias que buscam explicá-lo:

Teoria Conceito

Atividade O tempo do crime será o momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Resultado O tempo do crime será o instante do resultado.

Mista ou da

ubiqui-dade O tempo do crime será tanto o momento da ação ou omissão, quanto o do resultado.

O Código Penal adotou a

teoria da atividade. O tempo do crime é

importan-te para saber qual lei aplicar ao caso concreto (o importan-tempo rege o ato), para verificar

a imputabilidade do agente (aferir maioridade/menoridade penal, por exemplo),

por exemplo.

Importante salientar que nos crimes permanentes o tempo do crime dura

en-quanto durar a permanência. Nessa esteira, a aferição da idade do agente nos

cri-mes permanentes deve ser feita

no dia do fim da permanência (para determinar se

(25)

Resumo do artigo: eis síntese do artigo 4º do Código Penal:

Artigo 4º do Código Penal

Teoria adotada Atividade – considera-se praticado o crime no exato instante da ação/omissão

Questões de concurso público: veja como o assunto já foi cobrado em concurso público.

1 – (Delegado de Polícia Civil/ES/2019) Tício, morador do Rio de Janeiro, começou a namorar Ga-briela, uma jovem moradora da cidade de São Paulo. Com o passar do tempo e os efeitos da dis-tância, Tício, motivado por ciúmes, resolveu tirar a vida de Gabriela. Pôs-se então a planejar a prá-tica do crime em sua casa, no Rio de Janeiro, tendo adquirido uma faca, instrumento com o qual planejou executar o crime. No dia em que seguiu para São Paulo para encontrar Gabriela, que lhe o esperava na rodoviária, Tício combinou com a jovem uma viagem a passeio para o Espírito San-to. Ao ingressarem no ônibus que os levaria de São Paulo para o Espírito Santo, Tício afirmou para Gabriela que iria matá-la. Todavia, dada a calma de Tício, a jovem achou que se tratava de uma brincadeira. Durante o trajeto, Tício, ofereceu a ela uma bebida contendo substância que causa-va a perda dos sentidos. Após Gabriela beber e dormir, sob efeito da substância, enquanto passa-vam pela BR-101, no Rio de Janeiro, Tício passou a desferir golpes com a faca no peito da jovem. Quando chegou ao destino, Tício se entregou para polícia, e Gabriela, embora tenha sido socorri-da, veio a óbito ao chegar ao Hospital.

O crime descrito no texto foi praticado, de acordo com a lei penal, no momento

a) da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Trata-se, portanto, do mo-mento em que Tício desferiu os golpes em Gabriela.

b) da ação ou omissão, se este for concomitante ao resultado. Não sendo possível determiná-lo, no presente caso, em razão da separação temporal entre a conduta e o resultado.

c) em que é alcançada a consumação do crime. Trata-se, portanto, do momento da morte de Ga-briela, que ocorreu no hospital.

d) em que a autoridade policial toma conhecimento do crime. Ou seja, quando Tício se entregou para a polícia.

e) em que o agente se prepara para a promoção da conduta criminosa. Ou seja, trata-se do mo-mento em que Tício planejou e adquiriu as ferramentas necessárias ao cometimo-mento do crime. 2 – (Agente de Polícia Civil/GO/2016) João, que acabara de completar dezessete anos de idade, levou sua namorada Rafaela, de doze anos e onze meses de idade, até sua casa. Considerando ser muito jovem para namorar, a garota aproveitou a oportunidade e terminou o relacionamento com João. Inconformado, João prendeu Rafaela na casa, ocultou sua localização e forçou-a a ter rela-ções sexuais com ele durante o primeiro de treze meses em que a manteve em cativeiro. Após vá-rias tentativas frustradas de fuga, um dia antes de completar quatorze anos de idade, Rafaela, em um momento de deslize de João, conseguiu pegar uma faca e lutou com o rapaz para, mais uma vez, tentar fugir. Na luta, João tomou a faca de Rafaela e, após afirmar que, se ela não queria ficar com ele, não ficaria com mais ninguém, desferiu-lhe um golpe de faca. Rafaela fingiu estar morta e, mesmo ferida, conseguiu escapar e denunciar João, que fugiu após o crime, mas logo foi encon-trado e detido pela polícia. Rafaela, apesar de ter sido devidamente socorrida, entrou em coma e faleceu após três meses. Nessa situação hipotética, João

a) responderá pelo crime de tentativa de homicídio.

(26)

c) não responderá pelo crime de estupro segundo a lei penal, de acordo com a teoria adotada pelo CP em relação ao tempo do crime.

d) não poderá ser submetido à lei penal pelo cometimento de crime de cárcere privado, pois, à época do crime, ele era menor de idade.

e) responderá pelo crime de homicídio, sem aumento de pena por ter cometido crime contra pes-soa menor de quatorze anos de idade, uma vez que Rafaela, à época da morte, já havia com-pletado quatorze anos de idade.

Gabarito comentado:

Questão Reposta Comentário

1 Letra A O tempo do crime, nos exatos termos do artigo 4º do Código Penal, é o momento da ação/omissão.

2 Letra C

É preciso analisar o quesito sobre a ótica do artigo 4º do Código Pe-nal. No momento em que praticou o ato sexual forçado, JOÃO era adolescente (daí não ter havido prática do crime contra a dignidade sexual – e sim prática, pelo agente, de ato infracional). O crime con-tra a vida, no caso narrado, consumou-se. Por fim, o crime tipificado no artigo 148 do Código Penal foi praticado pelo agente (trata-se de crime permanente e, ao fim da permanência, o agente já era maior).

Territorialidade

Art. 5º – Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras

de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

§ 1º – Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território

nacio-nal as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do

governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as

embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,

respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

§ 2º – É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de

aero-naves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas

em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e

estas em porto ou mar territorial do Brasil.

Lei penal no espaço: o artigo 5º do Código Penal adotou o princípio da

terri-torialidade, para definição da área de abrangência da lei penal brasileira. De acordo

com tal princípio, aplica-se a lei brasileira aos crimes praticados no território nacional

(foi utilizada a

teoria temperada – aplica-se a lei brasileira sem prejuízo de tratados

e regras de direito internacional).

O artigo 5º do Código Penal revela qual é o território brasileiro para fins penais:

além do território geográfico (acima e abaixo dele, inclusive) e do nosso mar territorial,

considera-se território brasileiro (são 3 situações ligadas a aeronaves e embarcações):

(27)

Aeronaves e embarcações Localização

Públicas ou a serviço do Brasil Onde quer que se achem.

Brasileiras privadas Que estejam em alto-mar ou sobrevoando o alto-mar. Estrangeiras privadas Que se encontrem em pouso/voo ou porto/mar territorial brasileiro.

Observações importantes: mais algumas dicas sobre o artigo 5º do Código Penal:

Observação Comentários

O mar territorial é território bra-sileiro para fins penais. A zona contígua e a zona econômica ex-clusiva não.

O mar territorial, como dito, é território brasileiro para fins penais (fai-xa de mar exterior ao longo da costa, que se estende por 12 milhas marítimas, medidas a partir da baixa-mar do litoral continental e in-sular brasileiro – artigo 1º da Lei 8.617/93); a zona contígua e a zona econômica exclusiva não são territórios brasileiros para fins penais.

Embaixadas não são

considera-das território do país estrangeiro que representam

Embaixadas não podem ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução em face do disposto no artigo 22 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas – Decreto 56.435/65. A embaixada dos Estados Unidos no Brasil, por exemplo, é território brasileiro para fins penais.

O artigo 3º da Lei 8.617/93 dis-põe acerca da passagem ino-cente

A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida. Em caso de passagem inocente, não se aplica a lei penal bra-sileira ao crime cometido no interior da embarcação.

Resumo do artigo: eis a síntese do artigo 5º do Código Penal:

Artigo 5º do Código Penal

Teoria adotada Territorialidade temperada

Avião/embarcação pública ou a serviço do Brasil Território brasileiro onde quer que se encontre Avião/embarcação privada brasileira sobrevoando/navegando em alto-marTerritório brasileiro se estiver Avião/embarcação privada estrangeira Território brasileiro se estiver sobrevoando/ navegando ou pousado/atracado no Brasil Embaixada estrangeira localizada no Brasil Território brasileiro para fins penais

Lugar do crime

Art. 6º – Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou

omis-são, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o

resultado.

Lugar do crime (teorias): o artigo 6º do Código Penal trata do lugar do crime.

Acer-ca do tema, cumpre avaliar novamente as três teorias já estudadas quando da análise

do artigo 4º do Caderno Repressivo: a da atividade, a do resultado e a da ubiquidade:

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Teoria Comentário

Atividade Considera-se cometido o crime no lugar da ação ou da omissão. Resultado Considera-se cometido o crime no lugar do resultado. Ubiquidade Considera-se praticado o crime tanto no lugar da ação ou da omissão quanto no lugar do resultado.

O nosso Código Penal preferiu a

teoria da ubiquidade quanto ao lugar do

cri-me, pela simples análise do artigo 6º do diploma legal (assim foi feito em razão dos

chamados crimes à distância).

Para facilitar a memorização das teorias relacionadas ao tempo do crime e

lu-gar do crime, use a palavra

LUTA (L = lugar do crime; U = ubiquidade; T = tempo do

crime; A = atividade).

Sintetizo a análise do tempo e do lugar do crime por meio de exemplo:

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: JOÃO disparou 6 vezes com intenção de matar em JOSÉ

na cidade ‘A’, no dia 01/02/2020. JOSÉ findou sendo socorrido e levado à

cida-de ‘B’, oncida-de morreu, no dia 04/02/2020.

PERGUNTA-SE: quando e onde o crime ocorreu, nos termos do Código Penal?

SOLUÇÃO: em face da adoção da teoria da atividade, em relação ao tempo do

crime, o crime foi perpetrado no dia 01/02/2020 (tempo do crime – exato

ins-tante da atividade). Por ter o Código Penal adotado a teoria da ubiquidade em

relação ao lugar do crime, o delito ocorreu nas cidades ‘A’ e ‘B’.

Lugar do crime x competência em razão do lugar: não confunda o lugar do crime

(artigo 6º do Código Penal – teoria da ubiquidade) com a competência em razão lugar

da infração (artigo 70 do Código de Processo Penal – teoria do resultado). Exemplifico:

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: suponha que a ação delituosa ocorra na cidade ‘A’ e o

resultado ocorra na cidade ‘B’.

SOLUÇÃO: a conclusão diante da análise dos dois diplomas (Código Penal e

Códi-go de Processo Penal) é: o lugar do crime será tanto a cidade ‘A’ quanto a cidade

‘B’ (teoria da ubiquidade). Já o juízo competente para conhecer do caso

crimi-nal será o da cidade ‘B’ (teoria do resultado – lugar da consumação do crime).

Resumo do artigo: eis síntese do artigo 6º do Código Penal:

Artigo 6º do Código Penal

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