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O admirável mundo dos vinhos verdes

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Academic year: 2021

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Manuel Pinheiro, presidente da CVRVV, realça que cerca de metade da produção já é exportada

O admirável mundo dos vinhos verdes

Manuel Pinheiro recebeu a Mais Norte na CVRVV e falou- nos durante mais de uma hora. Propusemos-lhe, para início de conversa, um olhar sobre o vinho verde desde que ele chegou à Comissão até à atualidade. As diferenças são como da água para o vinho e as exportações provam-no. Trata-se de “um dado muito marcante, mas que esconde uma série de realidades que mudaram. Nós, no ano 2000, produzíamos mais vinho do que produzimos hoje, mas vendíamos bastante menos. Havia um ‘stock’ enorme”. Nada que se compare, também aqui, ao que se verifica hoje, em que a região vende tudo o que produz.

“Só para lhes dar uma ideia, em 2003 havia tanto ‘stock’ de vinho que foi preciso pedir à União Europeia (UE) para fazer uma destilação. A UE comprou 53 milhões de litros, destilou e depois vendeu nos mercados internacionais o álcool industrial.

“O mais marcante é que em 2000 exportávamos 14/15% da produção e em 2014 exportámos mais de 40%. Este ano vamos fechar muito próximo dos 50%”, aponta o presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, comparando o que era o setor há 15 anos, quando foi eleito presidente do organismo pela primeira vez, e o que é hoje. O vinho verde subiu de divisão e não para de conquistar terreno a nível internacional, “estando presente em mais de 90 países”. Não chega e o futuro pode passar por desviar produtores de leite para o vinho. O desafio já começou a ser lançado...

ANTÓNIO MOURA antonio.moura@maisnorte.pt

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Foi uma operação específica da UE para a região dos vinhos verdes. Havia um excedente enorme e as uvas eram muitíssimo mal pagas ao produtor. Hoje estamos numa situação diferente, em que a produção chega à justa para aquilo que se está a vender e as uvas já são melhor pagas”, com especial destaque para as da casta alvarinho.

O vinho verde subiu de cotação e internacionalizou- se, mas, segundo Manuel Pinheiro, “mantém a sua personalidade, é menos ácido e mais redondo, é um vinho que responde melhor ao que o cliente procura”.

Acrescenta o nosso interlocutor que “não é um vinho tão étnico, mas em contrapartida é diferente dos outros porque tem menos álcool e mais frescura. Por isso é que conseguimos dizer que é um vinho único no mundo, mas já não tem aquelas características que o tornavam difícil de consumir” – e que o mantinham circunscrito a um púbico consumidor restrito.

“No século XIX, o António Augusto Aguiar (professor e político português, 1838-1887) dizia que para beber vinho verde eram preciso três homens, dois para amarrar o desgraçado e o terceiro para lhe pôr o vinho pelas goelas abaixo. Essa realidade do século XIX não tem nada a ver com o que se passa hoje quando vemos

Seja responsável. Beba com moderação.

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vinho verde à venda nos Estados Unidos, no Canadá, na Alemanha, na Suécia e na Noruega”, refere. Já não é só o chamado mercado da saudade, aquele onde há emigrantes portugueses, a comprar vinho verde.

“Essa é uma outra mudança muito importante. Vendíamos para onde havia portugueses ou onde se falava português.

Europa, Estados Unidos, Brasil, África… “. Hoje há vinho pelo mundo fora e a procura não cessa de aumentar, registando-se crescimentos anuais de dois dígitos. “Hoje, exportámos para mais de 90 países”. Em 2014, as exportações mantiveram a sua trajetória ascendente e renderam 49,6 milhões de euros contra 43,9 milhões no ano anterior. A internacionalização revolucionou o setor e ajudou a mudar o perfil do próprio vinho, que, para Manuel Pinheiro, está “mais macio e internacional, mas sempre com pouco álcool”. Também fez com que a região investisse mais em branco e em rosado e está a deixar mais para trás o tinto, que não é tão atraente para os consumidores externos. Manuel Pinheiro diz que o branco começou a ganhar terreno ao tinto nos anos 70 do século passado. “O verde tinto é um vinho português e o branco é um vinho internacional”, resume.

Vinho em vez de leite

Nem tudo, porém, são rosas. “Temos dificuldades, apesar de tudo. Precisamos de produzir mais. Precisamos de mais matéria-prima para crescer mais. O nosso desafio, que em 2016 vamos lançar com mais força, é que muitos produtores de leite reconvertam os seus terrenos para fazer uva. Neste momento em que o leite está em crise, pode ser para eles uma forma de rentabilidade e para nós uma grande ajuda de matéria-prima”, revela Manuel Pinheiro.

O desafio já foi lançado e, pelos vistos, existe recetividade.

“Já tivemos duas reuniões com produtores de leite e eles mostraram interesse, uma vez que o preço que conseguem pela sua produção é baixo e depois, no vinho, ao contrário do leite, não é preciso estar todos os dias, noite e dia, atrás dele. O vinho, em termos de gestão do tempo, é muito mais interessante do que o leite”. Manuel Pinheiro revelou à Mais Norte que já há produtores de leite a estudar a

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apresentação de candidaturas para se tornarem viticultores.

Será a produção de uva mais rentável? “A uva, se produzida de forma intensiva e profissional, é rentável. Isso também quer dizer que os produtores mais profissionais têm rentabilidade enquanto os produtores mais tradicionais têm muita dificuldade. Ou seja, não quero dar uma ideia de que é uma região onde todos estão a ter sucesso, porque não é assim. Estão a ter sucesso os que são mais produtivos, os que são menos produtivos não têm tantas facilidades. A produção média da região são 6,5 toneladas por hectare, mas temos muitos produtores já com novas vinhas a fazerem mais de dez toneladas, ou seja, esses conseguem facilmente ser mais rentáveis. Os produtores mais pequenos e mais tradicionais fazem quatro, cinco toneladas”.

Diferenciação do vinho é a chave do negócio

Quisemos saber se o novo quadro comunitário, conhecido por Portugal 2020, apoia a reconversão dos produtores de leite em produtores de vinho e Manuel Pinheiro respondeu que “apoia melhor a reconversão de vinhas antigas – a 75% a fundo perdido – do que o plantio de novas vinhas, o que para os produtores de leite não é tão fácil”. A CVRVV acredita que a questão passa também por proporcionar mais licenças de plantação. “A Região pediu ao Governo que em 2016, na distribuição de licenças de plantação, possamos ter tudo o que outras regiões não queiram – julgo que há regiões que não querem aumentar a produção, portanto podemos ir buscar essas. Tem que haver um esforço do Estado para apoiar novos investidores. O Estado entusiasma-se sempre muito com o investimento externo. É uma coisa maravilhosa, mas é preciso apoiar os investidores portugueses”.

Perguntamos a Manuel Pinheiro se a modernização e a internacionalização põem em causa as características essenciais do vinho verde. “Há esse risco, mas temos obrigação de o conhecer e de evitar cair nele.

Estamos a fazer reconversões de vinha exclusivamente com as castas tradicionais, como loureiro, trajadura, etc. A nossa região, ao contrário de

outras não optou por importar castas de fora. Ao manter as nossas castas, que na maior parte dos casos nem estão presentes noutras regiões, preservamos a nossa identidade.

A diferenciação é uma chave do negócio internacional.

Copiar os outros é muito mau. O vinho verde só terá sucesso na medida em que se conseguir afirmar com um vinho diferente dos outros – e isso está ser conseguido”, apesar de haver cada vez menos castas.

Antigamente, os agricultores locais tinham as castas tradicionais, que eram dezenas e dezenas. “Hoje, ainda estão dezenas autorizadas, mas a reconversão de vinha está a levar a um estreitamento em sete ou oito castas de branco, mais uma ou duas de tinto”. Alvarinho, Loureiro, Trajadura, Arinto, Avesso, Azal e Fernão Pires são as castas

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eleitas na reconversão de vinhas na região. A CVRVV possui uma estação experimental em Arcos de Valdevez onde estão ser recuperadas castas abandonadas, como a Doçal e a Cainho de Moreira, para tentar perceber qual o seu interesse. “Queremos que a renovação de vinhas se faça com as nossas castas. Achamos que a recuperação de castas tradicionais é uma forma de ir melhorando os vinhos preservando essa diferenciação”.

Produtores percorrem mundo em busca de clientes

A tecnologia também chegou a esta região e contribuiu para a transformação, mas as pessoas e a cultura empresarial também mudaram. “Há 15 anos os produtores respondiam a encomendas. Hoje, pelo contrário, não há uma semana sem que haja produtores pelo mundo fora à procura de clientes”.

É normal agora os produtores frequentarem os grandes certames internacionais, procurando aí fugir ao afunilamento do mercado interno. “Portugal é um país muito difícil onde a distribuição está concentrada em dois grandes grupos

económicos. É também um país que está há muitos anos em crise, o que significa que o cliente cada vez mais olha para o preço como fator de decisão. O que os produtores precisam é de ter melhores preços. Isso empurrou as pessoas para a exportação”. Atualmente, a luta passa por ganhar valor. Vende-se cada vez mais vinho verde para fora do país, mas a um preço médio que se mantém. “O valor está em 2,2 euros por litro, fonte INE. É um bom valor, mas conta com os alvarinhos”, refere Manuel Pinheiro.

O presidente da CVRVV nota que a queda estrutural de produção, como sucedeu nos anos 90 e no início da década seguinte, que foi motivada pelo baixo preço da uva, parou. “Já estamos a crescer um bocadinho. Precisamos de continuar a fazer muito esforço para que os produtores possam ver a sua uva remunerada e isso é condição essencial para que possa aumentar a área de produção”. Pelas suas contas, para fazer face a um mau ano de produção e manter o ritmo das exportações, são necessários “uns 9.000 hectares” de área de vinha reconvertida, ou seja, o equivalente a cerca de metade da área total de vinha plantada. “No ano passado, a reconversão ficou-se nos 700 hectares”. Dos 17 mil hectares de área plantada, “mais de metade ainda está por reconverter”.

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