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O GOVERNO FEDERAL NO PRIMEIRO BIMESTRE DE 2021: A RENÚNCIA DO FUTURO

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Academic year: 2021

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O GOVERNO FEDERAL NO

PRIMEIRO BIMESTRE DE 2021:

A RENÚNCIA DO FUTURO

Abril de 2021

NÚCLEO DE ESTUDOS

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Expediente

FACAMP é uma faculdade privada com espírito público fundada em 2000 por João Manuel Cardoso de Mello, Liana Aureliano, Luiz Gonzaga de Melo Belluzzo e Eduardo Rocha Azevedo. Com 100% de Mestres e Doutores, seu curso de Economia recebeu 5 estrelas no Guia do Estudante.

Núcleo de Estudos de Finanças e Políticas Públicas

www.facamp.com.br nec@facamp.com.br

Pesquisadores

Fernanda Serralha, Saulo Abouchedid, Thiago Dallaverde, Bento Maia

Assistentes de Pesquisa

João Duran Luccas Vinícius

Editoração e Capa

Isabelle Gandolfi

Como citar este documento

Núcleo de Estudos de Finanças e Políticas Públicas. O governo federal no primeiro bimestre de 2021: a renúncia do futuro. Textos para Discussão Núcleo de Estudos de Finanças e Políticas Públicas/FACAMP, abril 2021.

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O GOVERNO FEDERAL NO PRIMEIRO BIMESTRE DE 2021:

A RENÚNCIA DO FUTURO

Saulo Abouchedid

A história nos ensinou que na guerra a nação depende fundamentalmente das ações do Estado para vencer. Na guerra atual contra o coronavírus, os Estados Nacionais inves-tem tanto em ações emergenciais - que vão desde o apoio ao sisinves-tema de saúde até programas de transferência de renda e apoio às pequenas e médias empresas – quanto em ações de longo prazo – como investimentos em infraestrutura, anunciados pelo gover-no americagover-no recentemente.

O Brasil se inseriu, em parte, nesta lógica em 2020 com a aprovação do orçamento de guerra pelo congresso. No entanto, o horizonte curto-prazista do governo federal em rela-ção à crise sanitária provocou o retorno do Teto de Gastos para 2021 e a retomada da “agenda de reformas” no momento mais dramático da pandemia no país. A principal estra-tégia do governo é ajustar a realidade às regras fiscais, estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, e aos possíveis espaços no orçamento criados pelas reformas. A volta das discussões pré-pandemia, diante das demandas urgentes de recursos públicos para evitar o colapso sanitário, fez com que o debate fiscal se tornasse frio e distante da realidade econômica e social brasileira.

Essa distância é retratada tanto nos dados das despesas públicas relacionadas à Covid quanto nos dados desagregados dos Investimentos no primeiro bimestre de 2021. A resis-tência do governo federal em fazer um novo decreto de calamidade pública para a execu-ção orçamentária de 2021 e a demora na aprovaexecu-ção do orçamento deste ano reduziu dras-ticamente os recursos destinados ao combate à pandemia, impactando diretamente empresas, estados e municípios e famílias.

De maneira geral, conforme a tabela 1, as despesas com a pandemia caíram significati-vamente em janeiro e fevereiro. Se considerarmos a média dos dois primeiros meses do ano e compararmos com média mensal do segundo semestre de 2020, a queda é de 97%. O efeito mais significativo é o fim do auxílio emergencial, que afetou mais de 60 milhões de pessoas (beneficiadas pelo auxílio em 2020) e potencializou a pobreza e a miséria no país. O novo auxílio, que começou a ser pago em abril, compensa marginalmente esse efeito negativo no primeiro trimestre de 2021, por conta do seu valor reduzido (R$ 250 em média) e seu alcance menor (cerca de 44 milhões de pessoas). Ademais, ao incluir esse novo benefício na PEC emergencial, o governo não apenas sinalizou a retomada do debate fiscal pré-pandemia como dificultou o enfrentamento da pandemia pelos estados e municípios, já que a PEC impõe aos orçamentos dos entes subnacionais o Teto de Gastos. Tais limitações são potencializadas pela não renovação da compensação financeira aos estados e municípios concedida em 2020. Essa compensação (cerca de R$ 78 bilhões

1 2 1 Ver https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/04/plano-de-infraestrutura-de-biden-analisado-como-os-us-23-trilhoes-serao-usados.shtml 2 Ver http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc109.htm

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conforme a tabela 1) foi fundamental para os entes subnacionais, duramente afetados pela queda de arrecadação provocada pelo combate à pandemia. As dificuldades pelo lado das receitas contrastam com a ampliação dos gastos, por conta das novas demandas da crise sanitária. Vale ressaltar que os estados e municípios são os grandes executores das políti-cas públipolíti-cas de combate à pandemia.

Por fim, a redução expressiva das medidas emergenciais destinadas às empresas nos primeiros meses do ano provocou falências e mais dificuldades financeiras nas pequenas e médias empresas, comprometendo também a recuperação do mercado de trabalho.

Tabela 1: Despesas do Governo Federal relacionadas ao combate ao COVID-19 (R$ Milhões – Valores Correntes e PAGO)

Fonte: relatório do Tesouro nacional, em R$ Milhões - Valores corrigidos IPCA Fev/2021. Elaboração NEC/FACAMP

Discriminação Despesas ao combate ao COVID-19

1. DESPESAS PRIMÁRIAS

Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios

Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e DF Ampliação do Programa Bolsa Família

Auxílio Emergencial a Pessoas em Situação de Vulnerabilidade Benefício Emergencial de Manutenção

do Emprego e da Renda Despesas Adicionais do Ministério da

Saúde e Demais Ministérios Cotas dos Fundos Garantidores de

Operações e de Crédito Aquisição de Vacinas Concessão de Financiamento para

Pagamento de Folha Salarial Programa Emergencial de Acesso a

Crédito - Maquininhas Transferência para a Conta de

Desenvolvimento Energético

Despesas Obrigatórias com Controle de Fluxo

Despesas Adicionais do Ministério da aúde e Demais Ministérios

Discricionárias

Despesas Adicionais do Ministério da Saúde e Demais Ministérios

2. DESPESAS FINANCEIRAS 3. DESP TOTAIS COVID (1 + 2)

ANO 2020 2021

Julho Ago Set Out Nov Dez TotalAno Jan Fev

62.761 93.103 73.498 28.931 18.487 33.538 520.941 2.023 1.061 21 41 31 10 52 80 244 69 20 18.295 15.235 19.334 3.617 123 0 78.247 - - - - - - 369 -45.875 45.339 24.182 21.045 17.795 17.330 293.105 279 78 4.292 4.093 3.320 3.101 2.537 2.209 33.497 346 48 7.351 10.287 3.295 1.422 1.706 3.399 41.760 1.243 256 - 5.000 17.000 5.000 - 10.193 58.093 -- -- 1.284 831 8 95 2.218 76 644 - 13.090 13.090 - 6.116- 4.077- - 6.807 - - 5.000 - - - 5.000 - - - - - - 900 -13 17 16 19 33 92 204 9 10 13 17 16 19 33 92 204 9 10 9 30 156 196 653 1.654 3.077 125 -4 1 36 3 310 140 496 1 6 4 1 36 3 310 140 496 1 6 62.770 93.133 73.654 29.127 19.140 35.192 524.018 2.148 1.061

A execução do orçamento no primeiro bimestre está distante não apenas das necessi-dades de curto prazo, mas também das demandas de longo prazo. Neste contexto, as des-pesas executadas no primeiro bimestre de 2021 com investimentos registraram uma queda de 56 pontos percentuais se comparada com a execução do primeiro bimestre de 2020.

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3Ficou fora do teto as despesas com juros e pagamento do principal da dívida pública e o custo das desonerações fiscais que representam mais de 4,2% do PIB.

Conforme a tabela 2, é possível identificar que a queda tem sido sistemática nos últimos 5 anos, após a vigência da PEC 95 aprovada em 2016, que impôs teto para as despesas primárias.

Dessa forma, os valores comprometidos com investimentos executados diretamente pelo governo federal sofreram redução real de 43% entre 2021 e 2020. Ações importantes foram cortadas tanto nas obras federais, bem como no montante das transferências de recursos aos estados e cidades brasileiras, fundamentais para execução das obras de infraestrutura e construção dos equipamentos públicos, onde se concentra a pressão da demanda das políticas públicas de educação básica, leitos hospitalares, transporte urbano, fornecimento de água, nutrição, saneamento básico, drenagem entre outras.

3

Do total dos investimentos realizados no primeiro bimestre da série abaixo, é possível perceber que os cortes, de um modo geral, foram sistemáticos, reduzindo o tamanho do Estado, cumprindo à risca a promessa da PEC 95/2016. Entretanto, o resultado alcançado com essa regra fiscal foi o oposto do prometido, pois os cortes dos investimentos penaliza-ram o potencial da economia e contribuípenaliza-ram com a queda da arrecadação da receita do governo, aprofundando o problema fiscal e o desemprego do país.

Dentre as áreas que mais sofreram cortes, destaca-se o corte de 73% do investimento em saúde em janeiro e fevereiro, comparado com os mesmos meses de 2020 (período pré-pandemia, portanto). Considerando os efeitos de longo prazo da crise sanitária e a necessidade de ampliação do sistema público para atender a demanda elevada de pacien-tes infectados com o novo coronavírus, tais corpacien-tes podem comprometer o atendimento da população nos próximos meses. Vale ressaltar também os cortes de 50% em Ciência e Tecnologia, mesmo diante da necessidade de avanço nas pesquisas relacionadas às vaci-nas brasileiras, e 92% em Assistência Social, área fundamental com o crescimento expressivo da pobreza e da miséria.

Tabela 2: Investimentos governo federal e entes subnacionais (em R$ Milhões - Valores corrigidos IPCA Fev/2021)

Fonte: Relatório do Tesouro nacional. Elaboração NEC/FACAMP

Investimentos por modalidade de aplicação

Primeiro Bimestre

2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2021/2020variação 1. Investimentos realizados diretamente pelo

governo federal

2. Transferências para Investimentos realizados pelos Estados/DF 3. Transferências para Investimentos realizados pelos Municípios 4. Outros investimentos 5.695 5.939 2.536 2.272 2.414 2.059 1.167 - 43% 1.113 769 382 152 183 366 43 - 88% 2.099 1.756 287 245 323 535 97 - 82% 115 202 68 27 53 55 13 - 77% 9.022 8.666 3.273 2.696 2.973 3.016 1.321 - 56% Total Investimentos Governo Federal

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Além dos investimentos, outros programas cruciais para a economia brasileira também foram severamente afetados no primeiro bimestre do ano. Dentre eles, chama atenção o Programa dedicado à Agricultura Familiar (PRONAF), que tem como objetivo garantir o acesso e qualificar os instrumentos de crédito e de proteção da produção. Tal programa foi fundamental para tirar o Brasil do mapa da fome nos anos 2000 e gerar renda no campo, além de contribuir para o suprimento de grande parte da demanda interna de alimentos. Ademais, o PRONAF possui linhas de crédito destinadas a questão ambiental, com incen-tivo ao uso de energia renováveis, e a questão de gênero, atendendo especificamente mulheres agricultoras. Nos últimos anos, o PRONAF vem sofrendo cortes sistemáticos, após a vigência do Teto de Gastos, que se ampliaram em 2021, conforme o gráfico 1.

Tabela 3: Principais Investimentos do Governo Federal por Função da Despesa Pública (em R$ Milhões - Valores corrigidos IPCA Fev/2021)

Fonte: Relatório do Tesouro Nacional,. Elaboração NEC/FACAMP

2.377 983 1.317 609 302 189 5 184 135 159 906 830 38 4 17 19 111 9 4 42 2.899 1.431 1.244 476 362 40 5 59 184 183 486 511 30 10 4 120 36 4 12 23 1.212 332 426 182 99 24 4 9 134 84 192 263 23 1 2 2 19 4 2 9 961 466 349 218 12 33 6 18 35 27 79 162 9 2 8 11 16 8 9 7 769 433 288 263 29 9 7 77 331 32 57 276 11 5 5 95 4 3 5 1 861 412 259 432 19 13 7 88 132 29 130 203 10 6 53 30 7 1 1 5 491 273 142 115 37 31 18 17 15 14 8 7 5 4 4 2 2 0 0 0 9.022 8.666 3.273 2.696 2.973 3.016 1.321 Transporte Defesa Nacional Educação Saúde Saneamento Comércio e Serviços Comunicações Agricultura Segurança Pública Ciência e Tecnologia Urbanismo Gestão Ambiental Cultura Energia Indústria Assistência Social Organização Agrária Previdência Social Trabalho Habitação Investimentos Funções 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Variação 2021/2020 Variação 2021/2017 -43% -34% -45% -73% 91% 146% 175% -81% -88% -50% -94% -97% -51% -33% -93% -92% -66% -58% -70% -98% -56% -59% -18% -67% -37% -63% 28% 344% 93% -89% -83% -96% -97% -79% 409% 84% 23% -87% -92% -87% -99% -60%

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O Brasil, portanto, renuncia ao futuro. A perseguição ao teto de gastos no pior período da crise sanitária e econômica compromete não apenas as necessidades mais urgentes, dentre elas a luta pela vida nesta pandemia, mas a capacidade de superação dos efeitos de longo prazo da crise sanitária sobre a economia brasileira.

Gráfico 1: Pronaf - valores executados 1º bimestre: 2016/2021 (R$ Milhões - Valores de Fev/2021 – IPCA)

Fonte: Relatório do Tesouro Nacional,. Elaboração NEC/FACAMP

4.000 3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500 0 2016 2017 2018 2019 2020 2021 3,756 2,422 1,694 1,360 1,158 938

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Referências

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