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Vista do Educação e representação mental

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Academic year: 2023

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Augusto Guzzo Revista Acadêmica

Marco Antonio PAPINI*

Estudo dos benefícios que advirão da harmonização contábil

Resumo

Grande número de empresas estão buscando re- cursos no exterior, onde podem ser captados a taxas menores de juros. Para obterem esses recursos, as empresas devem apresentar demonstrações con- tábeis ao investidor ou instituição financeira que muitas vezes estão sediados em outros países.

Em alguns países, as diferenças de normas contábeis são significativas e, quando aplicadas, as demonstrações contábeis seguem estruturas e critérios de avaliação diferentes.

A evolução da Contabilidade em diversos países gerou, inevitavelmente, diferentes práticas e regulamentações. Como sistema econômico, grau de desenvolvimento, legislação tributária e cultura variam de um país para o outro, os modelos con- tábeis sofrem influências destes fatores e, conse- qüentemente, cada país possui um sistema contá- bil que atende às suas necessidades específicas.

As Normas Internacionais de Contabilidade foram criadas para os países desenvolvidos e, por- tanto, refletem suas necessidades. A falta de har- monia das normas contábeis é um desafio a ser superado com cuidado, para evitar danos ir- reparáveis principalmente para os que estão na parte mais pobre do mundo.

Podemos concluir que a qualidade da infor- mação contábil tem como origem as influências de leis governamentais e a interferência de gru~

pos de interesses diversos.

Abstract

A great number of companies are recurring to foreign funding sources, because of the lower interest rates prevailing abroad. For this purpose, these

companies are often required to submit its financial statements to foreign-basecl individual investors or financial instituticms.

Gzven the significant accounting standard differences prevailing among certain countries, the financial statements may be prepared in accordance with divergent structures and evaluation criteria.

An inevitable consequence of the accounting evolvement in various countries was the difference in thc relevant practices anel regulations. Because the accounting models are influenced by the variations of economic systems, dcvelopment lcvel, tax legislation and culture from one country to another, each country has irs own accounting system, which is tailorecl to

meet its specific needs.

Conceived for developed countries, the Internacional Accounting Standards reflect these countries' neecls. The lack of uniform accounting standards is a challenge to be o~~ercome in a careful manner, so that irreparable damage can be avoided, especially for those in the poorest regions of the world.

The conclusion is that the qualzty of accounting information stems from govemmental regulation and the interventions of different interest groups.

1. Introdução

O fenômeno mundial pelo qual estamos pas- sando, genericamente denominado globalização, tem levado grande número de empresas nacionais a buscarem recursos no exterior, onde podem ser captados a taxas menores de juros. Essa entrada de recursos está ocorrendo das seguintes formas:

• Captação de empréstimos;

• Lançamentos de títulos no exterior;

• Busca de parceiros internacionais.

Concomitantemente, grande número de em-

*Mestre em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor convidado do curso de Especialização em Auditoria e Controladoria das Faculdades Integradas "Campos Salles".

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internacional não permite a sobrevivência de em- presas estritamente nacionais em alguns setores da economia.

Para estar inserida no mercado globalizado, é necessário que a empresa esteja preparada para fornecer não só produtos, como também infor- mações de qualidade. As Demonstrações Con- tábeis e seus relatórios devem ser preparados em linguagem acessível ao maior número de usuários da informação contábil.

Corroborando o fato exposto no parágrafo an- terior, existe percentual expressivo de médias e grandes1 empresas sediadas no Brasil que per- tencem a sócios residentes no exterior. Por sócio residente no exterior deve-se entender pessoas físicas e jurídicas de capital estrangeiro. Em ge- ral, essas empresas devem preparar relatórios de demonstrações financeiras com o objetivo de consolidá-las no exterior.

Embora cada grupo de empresas no exterior adote procedimentos contábeis específicos à sua atividade e deva fornecer informações contábeis ao país da controladora, diversas empresas estão utilizando o US GAAPs e, outras, as Normas In- ternacionais de Contabilidade (em geral, empre- sas européias), independentemente do país em que se localiza sua matriz.

O uso de Normas Internacionais de Contabi- lidade pode trazer uma série de vantagens para as empresas, tais como levantamento de recursos em mercados estrangeiros, apresentação de re- sultados de acordo com padrões internacionais e menores custos de captação.

Caso blocos comerciais como o Mercosul e/ou, futuramente, a Alca prevaleçam sobre um sistema de livres fronteiras mundiais, isso exigirá a harmo- nização das práticas contábeis mundiais ou a qua- lificação de profissionais em diversas práticas con- tábeis, que os tornem capazes de converter infor- mações contábeis de um sistema para o outro.

O grande problema reside no fato de que, em alguns países, as diferenças de normas contábeis

avaliação diferentes.

O que pode ocorrer é uma demonstração con- tábil em um país apresentar lucro e, quando elaborada segundo outra legislação contábil, apre- sentar prejuízo. Ou ainda, o resultado informado por uma empresa de capital aberto, no Brasil, ser diferente daquele informado pela mesma empre- sa, de acordo com as regras americanas, o qual, por sua vez, é diferente do resultado apresentado conforme a legislação alemã ou francesa.

Lisboa (1995:44) apud Teixeira (1999) afirma que "Os sistemas contábeis harmonizados em nível mundial podem facilitar análises comparativas de re- sultados financeiros de empresas nacionais e es- trangeiras e, assim, ajudar os usuários externos das demonstrações financeiras a avaliar o desempenho das empresas em nível mundial. "

Quando uma empresa prepara suas demons- trações contábeis pela Legislação Societária Brasileira, de acordo com os US GAAP e com as normas emitidas pela IASB, é possível que cada uma dessas demonstrações contábeis apresente re- sultados diferentes e, nesse caso, surge a questão:

Qual será a melhor medida para analisar o de- sempenho dessa empresa? Com certeza esta per- gunta não tem uma única resposta, o que eviden- cia que este é um ponto crítico da Contabilidade.

Existem três grupos de empresas não ameri- canas que estão produzindo demonstrações con- tábeis aceitas mundialmente.

O primeiro grupo é composto de grandes empresas com motivações semelhantes às da Daimler-Benz e que, por isto, optaram pelos US GAAPs. No caso brasileiro, podemos dar como exemplos de empresas que pertencem a este grupo a Petrobrás e a CSN -Companhia Siderúr- gica Nacional.

O segundo grupo é composto por médias em- presas que pretendem, basicamente, atrair capital de terceiros, seja por meio de uma: IPO - Initial Public Ofering, seja junto a instituições finan- ceiras. Este grupo de empresas julga que os

1 Neste artigo, considera-se como médias e grandes empresas as que possuem Receita de Vendas anual superior a R$ 30.000.000,00.

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US GMPs são os princípios contábeis mais di- fundidos entre os provedores de capital. No caso brasileiro, podemos dar, como exemplos de em- presas que pertencem a este grupo, as de porte médio listadas em bolsa ou as grandes empresas não listadas em bolsa de valores.

O terceiro grupo, composto basicamente por médias e grandes empresas européias, utiliza-se das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC), em primeiro lugar para unificar as regras contábeis da comunidade européia e, em segun- do, para captar recursos dentro da Europa. Muitas dessas empresas estão migrando seu sis- tema contábil para os US GMPs.

Não é usual empresas com capital brasileiro de origem elaborarem demonstrações contábeis de acordo com as normas emitidas pela IASB.

Este artigo pretende ser uma contribuição crí- tica sobre a conveniência ou não de utilizarmos as Normas Internacionais de Contabilidade emi- tidas pela IASB em todos os países do mundo, ou seja, não tem a pretensão de afirmar que a padronização contábil é a alternativa.

2. Evolução da Contabilidade

Nos primórdios da civilização, os povos mais desenvolvidos passaram a criar símbolos para quantificar a riqueza de cada indivíduo e, quan- do o progresso passou a gerar mais riquezas, surgiu a necessidade de se criar um método de quantificação, datando dessa época a primeira es- crituração contábil. Portanto, a Contabilidade é uma ferramenta que tem permitido a mensuração do resultado econômico de determinada enti- dade, seja ela pública ou privada, há milhares de anos. Existem evidências de registras de transações por meiQ de símbolos desde 5.000 a.C.

Na Babilônia e Egito, desde antes de 3000 a.C. os escribas recebiam treinamento em Contabilidade. No governo de Darius (521-486 a.C.), na Pérsia, os escribas do gover- no já realizavam auditorias nas províncias, assim como eram realizadas auditorias similares na civi- lização hebraica, onde o chefe dos escribas era o segundo homem na hierarquia do governo. Por

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outro lado, em alguns países, como a Grécia em 1.400 a.C., a profissão de escriba, pouco valo- rizada, era exercida por escravos. Em Roma, em 200 a.C., existiam os "quaestor", eram respon- sáveis pela supervisão das contas do governo nos territórios. Essas pessoas comunicavam a Roma o que haviam descoberto em suas verificações, ten- do a prática e especialização dessa função termi- nado por criar a profissão de auditor, palavra que vem do latim audire (ouvir).

A importância da Contabilidade diminuiu sen- sivelmente na Idade Média, até porque parte dessa época é conhecida como obscurantismo, onde o desenvolvimento cultural, tecnológico e mercantil deu lugar a outras prioridades.

No fim da Idade Média, com o incremento do comércio entre as cidades, a Contabilidade rece- beu um novo impulso de desenvolvimento, prin- cipalmente no século XIV, na cidade de Gênova, com a criação do método das partidas dobradas que, posteriormente, foi desenvolvido pelos ingleses.

A Contabilidade, como a conhecemos, foi for- malizada na Renascença pelo Frei Franciscano Lucca Pacioli, a quem é creditada a criação do método das partidas dobradas. Daí os inúmeros méritos da obra de Pacioli, na verdade, o primeiro autor de um texto sobre Contabilidade, no ano de 1494, e que assim deve ser considerado. O méto- do das partidas dobradas avançou à França, Ale- manha e, posteriormente, à Grã-Bretanha, que ocupava uma posição dominante no comércio mundial nos séculos XVII e XVIII. Mais tarde, com o advento de sua supremacia econômica, os Estados Unidos foi o primeiro país a desenvolver uma teoria contábil e a exportar seu modelo con- tábil para diversos países, inclusive o Brasil.

A evolução da Contabilidade em diversos países gerou, inevitavelmente, diferentes práticas e regulamentações. Como sistemas econômicos, grau de desenvolvimento, legislações tributárias e cultura variam de um país para outro, os mo- delos contábeis sofrem influências destes fatores e, conseqüentemente, cada país possui um sistema contábil que atende às suas necessidades específicas.

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Para tentar corrigir a falta de harmonização dos sistemas contábeis entre os diversos paí- ses, foi constituída a Internacional Accounting Standard Committee- IASC, no ano em 1973.

Os objetivos do IASC declarados em sua cons- tituição são os seguintes:

a) Formular e publicar, no interesse público, normas contábeis a serem cumpridas na apresen- tação das demonstrações contábeis, e promover mundialmente sua aceitação e cumprimento;

b) Promover uma rigorosa fiscalização das normas internacionais de auditoria;

c) Trabalhar, em geral, pela melhoria e har- monização das regulamentações, normas con- tábeis e procedimentos referentes às demons- trações contábeis.

Em março de 2001 foi fundada, com sede em Londres, Inglaterra, a Internacional Accounting Standards Board (IASB), sucessora da IASC.

As Normas Internacionais de Contabilidade emitidas pela IASB são padrões de contabilidade que determinam como uma transação deve ser refletida nas demonstrações contábeis.

As normas emitidas de 1973 a 2001 eram denominadas IAS - Internacional Accounting Standards e, após a criação da IASB, passaram a chamar-se IFRS-Internacional Financial Reporting Standards. Sua interpretação é feita pela IFRIC - Internacional Financial Reporting Interpretations Committee.

As empresas de capital aberto na União Eu- ropéia deverão utilizar as Normas Internacionais de Auditoria até o ano de 2005.

O Brasil não possui representação relevante no Board da IASB, embora as normas emitidas pelo IBRACON sejam influenciadas pelas nor- mas internacionais. O IBRACON é um órgão dos auditores, sem nenhum poder legal, que muitas vezes se contrapõe às normas do Con- selho Federal de Contabilidade e normas e ins- truções da CVM. É um órgão que, ao longo dos anos, tem emitido normas sobre relevantes temas contábeis, que ajudam no desenvolvi-

2.2 A alternativa utilizada:

USGAAPs

Como conseqüência do crash ocorrido no mer- cado de valores mobiliários no fim dos anos 20, devido basicamente ao excesso de especulação, o Instituto Americano dos Contadores notou a fal- ta de uniformidade nos relatórios de demons- trações contábeis e passou a tomar medidas para melhorar a sua qualidade.

O Instituto Americano dos Contadores se transformou no American Institute of Certified Public Accounts (AICPA), e, em 1930, foi criada uma comissão para cooperar com a Bolsa de Va- lores de New York- NYSE. O objetivo principal dessa comissão era estabelecer padrões para pro- cedimentos contábeis.

Em 1938, a comissão emitiu cinco recomen- dações de regulamentos à SEC - Security Exchange Commission, publicadas como Accounting Research Bulletim (ARB) 1. Subseqüentemente, a comissão emitiu 51 instruções, incluindo o ARB 43, que consolida os boletins de 1 (um) a 42 (quarenta e dois). Por diversos motivos, a comis- são se desfez na década de 1950, quando foi cria- da a Accounting Principles Board (APB), respon- sável pela emissão de 31 opiniões e 14 publica- ções, durante 14 anos.

Em 1972, surgiu a Financial Accounting Board (FASB), um comitê permanente composto de sete membros, que emitiu 6 pronunciamentos chamados Statements de Financial Accounting Concepts - SFAC. Esses pronunciamentos não estabelecem padrões de Contabilidade e, sim, a natureza, função e limites da Contabilidade.

As demonstrações contábeis elaboradas de acordo com os US GAAPs, tiveram sua credibi- lidade fortemente abalada quando surgiu o es- cândalo financeiro da empresa ERON, conside- rada extremamente sólida e uma das ações que propiciava grande rentabilidade com baixo risco, em poucas semanas teve sua insolvência de- cretada. Os US GAAPs não são normas con-

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tábeis perfeitas, no entanto não seria justo rele- gar todo material de Contabilidade produzido nos Estados Unidos nos últimos setenta anos, devido a uma fraude contábil ocorrida naquela empresa.

Muito embora, no Brasil, exista um grande es- forço para implementação das Normas Interna- cionais de Contabilidade, por acadêmicos e órgãos reguladores da atividade contábil, como o IBRACON, as empresas parecem não considerar o esforço, pois, enquanto existem inúmeras em- presas brasileiras que utilizam os US GAAPs para preparar suas demonstrações contábeis, não é de meu conhecimento alguma empresa brasileira que se utilize das Normas Internacionais de Contabilidade emitidas pela IASB para elabo- rar suas demonstrações contábeis.

É preciso reconhecer que, para os principais usuários da informação globalizada, é realmente difícil analisar demonstrações contábeis de em- presas sediadas em países diferentes, devido à di- versidade das práticas contábeis utilizadas. Com isto, empresas que não preparam suas demons- trações contábeis de acordo com um padrão in- ternacional de contabilidade, normas emitidas pela FASB ou IASB, podem ter suas ações depre- ciadas bem como o seu risco super-avaliado pelas agências de risco e instituições financeiras. Como grande parte dos bons negócios estão em países emergentes, até porque muitas vezes a empresa já expandiu ao máximo suas operações no país de origem e em países desenvolvidos, caso a empre- sa almeje crescimento, este irá ocorrer além de suas fronteiras.

Infelizmente, para aqueles que são contra a globalização, a verdade é que as empresas in- ternacionais estão acabando com as empresas que ficaram com·-suas operações centradas em mercados regionais. Dessa forma, a harmoni- zação das demonstrações contábeis beneficia muito as tomadas de decisões dos usuários da informação.

A harmonização dos padrões de Contabilidade traria como benefício o processo de preparação de demonstrações contábeis individuais e consoli- dadas. Uma das razões para a elevação do custo

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administrativo das empresas internacionais, em re- lação a regionais, é a necessidade de elaborar di- versas demonstrações contábeis segundo diferentes sistemas de Contabilidade. Um exemplo de como estes custos aumentam, é o de uma empresa sedia- da no Brasil com matriz na Alemanha e demons- trações contábeis listadas na New York Stock Exchange. Esse grupo internacional deverá elabo- rar 6 demonstrações contábeis, conforme demons- trado no quadro 1. Caso existisse harmonização contábil mundial, a mesma empresa teria de elabo- rar apenas dois conjuntos de demonstrações con- tábeis, um para a empresa sediada no Brasil e, outro, para a matriz sediada na Alemanha.

Quadro 1: Demonstrações Contábeis Brasil

Alemanha

us

GAAP

us

GAAP O exemplo acima é bastante simplista, pois empresas mundiais, em geral, possuem inúmeras unidades no mundo, sendo, portanto, necessário triplicar o trabalho, enquanto não existir a har- monização das práticas contábeis.

Os custos para as empresas mundiais são maiores do que apenas elaborar as demonstrações contábeis, pois elas necessitam de mais profissionais qualificados, softwares mais avançados (caros) e mais tempo, o que implica honorários mais eleva- dos na contratação de auditores externos.

Os principais benefícios da harmonização con- tábil no mundo podem ser resumidos em maior compreensão das demonstrações contábeis por parte dos usuários da informação contábil e re- dução de custo para as empresas internacionais.

3. Impedimentos

à

harmonização

Existem duas correntes mundiais no desenvol- vimento das regulamentações e normas contá- beis. Enquanto elas existirem, com o desenvolvi- mento baseado no código e tradição jurídica de cada país, será improvável a harmonização das práticas contábeis. Essas duas correntes podem ser assim resumidas:

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legislação e códigos específicos. Esses países, que possuem muitos regulamentos de comportamen- to, têm a tendência de prescrever formalmente manuais contábeis e modelos de relatórios finan- ceiros, sendo a legislação contábil submetida à legislação fiscal do país.

Em oposição à corrente acima, especialmente nos Estados Unidos e Inglaterra, a Contabilidade e o código legal tendem a prescrever o que deve ser feito, mas não definem os tipos de relatório ou outros manuais, permitindo ao setor privado, aos acadêmicos e às entidades de classe desen- volverem sua regulamentação. Nesses países, em geral, as demonstrações financeiras são substan- cialmente diferentes das necessidades e obrigações fiscais.

Quando comparados com os Estados Unidos e Inglaterra, os outros países do continente eu- ropeu, mais o Japão, possuem uma economia em que as empresas dependem mais do sistema financeiro do que do mercado de capitais para financiar suas atividades.

Nesses países, e podemos incluir o Brasil nesse rol, a relação entre as instituições financeiras e os tomadores de empréstimos é muito mais próxima que a existente com os acionistas, cuja atitude, em geral, é passiva.

Como as maiores provedoras de recursos para as empresas nesses países, as instituições finan- ceiras têm muita facilidade para obter infor- mações informalmente e a conseqüência disso é que a qualidade da informação contábil nesses países tende a ser inferior à preparada nos Esta- dos Unidos e Inglaterra.

4. Análise . das despesas pré .. operacionais

Não se pretende, com este artigo, esgotar todas as diferenças existentes entre a legislação societária brasileira, as Normas Internacionais de Contabili- dade e os US GAAPs e, sim, demonstrar que po- dem existir justificativas aceitáveis para conviver- mos com diferentes sistemas contábeis.

De acordo com nossa legislação, uma empre- sa em fase pré-operacional deve acumular seus gastos de implantação no ativo diferido, pois eles não são custos de construção de bens do imobi- lizado, lançados no ativo imobilizado.

Os gastos a que nos referimos são os adminis- trativos e gerais, necessários para a empresa en- trar em funcionamento.

O prazo de amortização das despesas pré-ope- racionais que, conforme a lei 6404 pode ser de 5 a 10 anos, deve ser definido pela administração da empresa, com base na expectativa do retorno sobre o investimento.

No Brasil, o Princípio do Confronto das Des- pesas com as Receitas e com os períodos Con- tábeis determina que toda despesa diretamente passível de associação com as receitas reconhe- cidas em determinado período deverá ser con- frontada com estas últimas, e prevalece sobre a convenção do conservadorismo a idéia de que os consumos ou sacrifícios de ativos (atuais ou futu- ros) realizados em determinado período e que não puderem ser associados à receita do período nem às dos períodos futuros, deverão ser descarregados como despesas do período em que ocorrerem.

4.2 IASB

De acordo com a Norma Internacional de Au- ditoria 38, os gastos pré-operacionais devem ser reconhecidos diretamente como despesa do exer- cício em que ocorreram e, também de acordo com ela, os países em desenvolvimento em geral aceitam que estes gastos sejam ativados, fazendo com que as empresas sediadas nestes países tenham melhor desempenho do que as outras em países desenvolvidos, onde, de modo geral, o sis- tema contábil determina que esses valores sejam contabilizados diretamente como despesa.

4.3 US GAAPs

A interpretação dada pelas SFAS 2 e 68 é de que esses valores não devem ser ativados, mas

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contabilizados diretamente como despesa, sem qualquer contraposição de receita, refletindo, portanto, o conceito do conservadorismo.

5. Conclusão

Embora a teoria contábil recomende que as des- pesas pré-operacionais sejam contabilizadas como despesa, para consubstanciar esta opinião citamos Anthony, em seu livro Accounting Principies, ao comentar que as despesas pré opera- cionais devem ser contabilizadas como ativo intangível, pois "durante o período pré-operacio- nal nenhuma receita é gerada, não existindo, portanto, receitas para se contraporem a estes custos". (ACCOUNTING TEORY. p. 183). Este assunto deve ser analisado levando-se em conside- ração o grau de desenvolvimento de cada país.

Segundo a legislação brasileira, quando se tra- ta de despesas pré-operacionais, o Princípio do Confronto das Despesas com as Receitas e com os períodos Contábeis se sobrepõe à convenção do Conservadorismo.

De acordo com os US GMP e a norma 38 da IASB, a convenção do Conservadorismo se so- brepõe ao Princípio do Confronto das Despesas com as Receitas e com os períodos Contábeis.

Nos países em desenvolvimento, principal- mente nos considerados emergentes, é grande o número de empresas em fase de constituição e, portanto, os valores das despesas pré-operacionais são relevantes. Por outro lado, a quantidade de novos negócios é relativamente pequena nesses países, sendo, portanto, pouco representativo o valor das despesas pré-operacionais das empresas.

A norma da IASB justifica que o reconheci- mento das despesas pré-operacionais, no momento em que ocorrem, mesmo não estando de acordo com a teoria contábil, permite a melhor compara- bilidade das demonstrações contábeis de empresas situadas em países diferentes. No entanto, o efeito desta norma é justamente o inverso, pois as em- presas de países desenvolvidos já possuem todos seus custos pré-operacionais amortizados, en- quanto as empresas de países em desenvolvimento possuem elevadas despesas pré-operacionais.

Augusto Guzzo Revista Acadêmica

Os padrões internacionais de Contabilidade, criados para os países desenvolvidos, refletem seu grau de desenvolvimento económico, dado este que pode ser consubstanciado pela composição de seus quadros de membros, em ordem alfabéti- ca: Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos, França, Reino Unido e Japão, todos estes países desenvolvidos e que totalizam aproxi- madamente 46% do Produto Interno Bruto do planeta, como se demonstra no quadro 2.

A introdução de padrões internacionais de Contabilidade atende basicamente às necessi- dades de órgãos como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e outros. Contudo, assim como to- dos os países que desejam fazer parte da econo- mia globalizada precisam filiar-se a esses órgãos, as empresas que necessitam de capital externo de terceiros devem preparar suas demonstrações contábeis conforme os padrões internacionais de Contabilidade. Isso não invalida a existência de um sistema contábil individual e específico para cada país, até porque, em grande número de paí- ses, os sistemas contábil e fiscal são semelhantes, senão idênticos.

A falta de harmonia das normas contábeis é um desafio a ser superado com cuidado, para evi- tar danos irreparáveis, principalmente para nós que estamos na parte mais pobre do mundo. Já foi comentado neste estudo que uma mesma demonstração contábil pode divulgar dois ou até três resultados diferentes, dependendo da norma contábil aplicada em sua elaboração.

Com certeza, este fato que diminui a quali- dade da informação contábil tem como origem as influências de leis governamentais e a interferên- cia de grupos de interesses diversos.

"No que tange à harmonização normativa, já existem trabalhos de grande valor produzidos em diversas partes do mundo, primeiro buscan- do conhecer as normas que existem em cada lu- gar, em cada país e, depois, buscando pontos de coincidência e coerência que nem sempre, en- tendo, haverão de coincidir, enquanto não se uniformizarem as políticas económicas, aquelas relativas à moral e à ética, tudo no âmbito governamental, assim como não se eliminarem

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Em relação ao Economias Em relação ao Economias Em relação ao total mundial desenvolvidas total mundial desenvolvidas total mundial Total

Economias desenvolvidas Principais economias Estados Unidos

Grã Bretanha Canadá Outras

Países em transição•

os fatores que são nocivos à falsidade normati- va" (SÁ, 1998:52).

A análise crítica deste estudo gera dúvidas quanto à implantação de um sistema único de Contabilidade, a rigor, uma das missões da IASB, para ser utilizado em todos os países e entidades que devam preparar demonstrações contábeis. Para tanto, inicialmente, seria necessário um sistema fis- cal e desenvolvimento econômico uniformes em todos os países do mundo, caso contrário, as tribos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

100,0% 100,0%

99,9% 15,4%

74,2% 11,5%

4,6%

13,6% 2,1%

8,9% 1,4%

6,3%

7%

que nos primórdios da civilização ainda não ha- viam considerado a necessidade de mensurar a riqueza, também teriam criado um sistema de es- crituração contábil, como outros povos mais de- senvolvidos já o faziam. Enquanto os países do mundo tiverem diferentes regimes econômicos e diversos graus de desenvolvimento, julgo ser impra- ticável a utilização de um padrão contábil de âm- bito mundial e, caso ocorra, trará efeitos danosos à economia dos países mais pobres.

ANTONY, Robert N.; REECE, James, S. Accounting principies. 7.ed. Illinois: Irwin, 1995.

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2 World Economic Outlook, Fundo Monetário Internacional, 7 de setembro de 2001.

3 Inclui o Brasil.

4 Este grupo constitui-se basicamente da Rússia e países do leste europeu.

Referências

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