FILOSOFIA DE SEGURANÇA NO SETOR AERONÁUTICO
Apenas uma reflexão para medidas antiterrorismo no Brasil
Por Ronaldo Barreto de Pinheiro Rocha
Consultor em Gestão de Segurança
O QUE? QUEM? COMO? QUANDO? ONDE? PARA QUE? e POR QUE? Estas são as sete perguntas que inicialmente devemos fazer em se tratando de observar algo sob o devido crivo científico; e encarar qualquer tipo de segurança como ciência se faz necessário à medida que se tenta buscar a redução de prejuízos num empreendimento.
Portanto, trabalhar distante dessa finalidade e sem responder aqueles supracitados questionamentos é estar em flagrante descompasso ao princípio da eficiência.
Segurança é evitar que algo aconteça ou na pior das hipóteses se agrave, ou seja, prevenir; e não há como fazê-la sem antes conhecer, analisar e disseminar, em tempo hábil, o que por simples suspeição possa gerar efeitos negativos em nível econômico, político, judicial e sócio-cultural, a quem tenta desenvolver a sua atividade fim ou dela se utiliza, comumente pagando mais de uma vez para ter produtos ou serviços com segurança ou a mera sensação.
Transportando esse entendimento para o setor aeronáutico, a título exemplificativo, saber quem embarca com o que num vôo comercial, quando, como e onde, para que e por que, tem um teor extremamente significativo, considerando que muitos são os valores agregados no referido setor.
Aeronave, tripulação, passageiros, cargas, estrutura físicaaeroportuária, quando ameaçados, projetam uma expectativa de danos, inclusive, capaz de ultrapassar a quem não pertence diretamente à relação aeronáutica; monumentos, prédios e casas, habitadas ou não, ficam sendo alvos de apenas acidentes ou atentados terroristas; hipóteses a serem descobertas posteriormente o ocorrido.
Nesse sentido, quando cai um avião e morrem passageiros e tripulantes, os prejuízos são difusos. A empresa de aviação, além de perder a aeronave, ainda arca com indenizações por danos morais e materiais às famílias das vítimas (tripulação e passageiros).
Não menos pior é quando um avião, com passageiros e tripulantes, choca-se com um prédio, marco de alguma economia nacional e repleto de funcionários; alguma lembrança ao 11 de setembro de 2001?
Um prejuízo astronômico que poderia ser evitado se a empresa de aviação fosse engajada numa filosofia de segurança adequada; uma situação em que, pelo menos no Brasil, o Poder
Públicopoderia ser onerado, pois se negligência no seu dever de fiscalizar e prestar segurança, responde também a processo indenizatório.
Nessa mesma esteira de considerações, levanta-se a hipótese, também, em outros setores da aeronáutica que não transportam somente pessoas, mas sim cargas de extremo valor.
Para agravar, sabe-se que a malha aérea é interligada por meio de pequenos aeroportos e que não há sequer o controle de quem neles transita e entra ou sai embarcado nas aeronaves. A partir desse entendimento, existe a possibilidade de uma pessoa chegar aos grandes aeroportos ou, até mesmo, ao exterior.
É impressionante como de um aeroporto de pequeno porte, pode-se ir e voltar livremente aos aeroportos da Pampulha, Congonhas, Jacarepaguá, Rio de Janeiro, Guarulhos e inclusive ao de Nova York e de lá conseguir chegar aos
aeroportos africano, italiano e francês.
Em outras palavras!
“Não adianta trancar as portas e as janelas de uma casa, se a chaminé da lareira está aberta”.
Por um lado, se o gasto é muito elevado sem a segurança, por outro, o gasto é bem maior, se exercício dela está distante de um crivo científico, eis que a mercê de profissionais do tipo de segurança em foco, fundados apenas num praxismo rotineiro, estão decisões de elevada importância, capazes de gerar uma reação em cadeia de danos bem maiores.
Se segurança sem produção de conhecimento, análises e disseminação dos riscos, em tempo hábil, é algo inadmissível, realizá-la de forma visível e previsível é algo ingênuo, manipulável e, portanto, cedo ou tarde, passível de ser sabotada.
O modelo ostensivo e caracterizado de segurança (homens fardados) não tem mais serventia se utilizado isoladamente, pois é uma referência, em regra, a ser notada, primeiro pelo autor do ilícito que dependendo da sua disposição e interesse, prefere ganhar tempo fazendo justamente o papel da segurança de forma inversa: produzindo conhecimento, análise e disseminação aos seus companheiros de crime.
É inválido, portanto, guiar-se pela premissa de que a supremacia de força quantitativa é suficientemente capaz de inibir atentados. Inútil será o gasto com segurança se essa supremacia quantitativa, não for qualitativa.
“Pior do que trancar as portas e as janelas de uma casa, deixando a lareira aberta, é anunciar quando e onde se estará ausente”.
Adotar um modelo arrojado de segurança nos grandes aeroportos, desprezando os de pequeno porte, que dão acesso inclusive aos do exterior, é desconhecer ou desconsiderar que os padrões e as tendências criminais evoluem.
Apenas uma analogia baseada num precedente!
Se um ponto for completamente saturado pela presença constante de policiais, com a finalidade de dificultar a evidência criminal, por óbvio, que os delitos irão migrar para outro ponto que não haja aquele tipo de segurança. Mas se ali reside algum estímulo capaz de superar intimidação realizada pela polícia, outra forma ousada será encontrada pelos
criminosos de fazer valer os seus interesses, a partir de uma falha daquela segurança.
Precisa rever seus conceitos quem pensa que terrorismo ainda é coisa de outro mundo e que no Brasil a cultura criminal é diversa dos países que tem tradição em atentados.
Quem não se lembra dos atentados contra os policiais e cidadãos no Rio de Janeiro e São Paulo, combinados com depredações às instituições públicas e privadas?
Como já foi dito os padrões e as tendências criminais evoluem, conforme o nível de estímulo e as falhas numa segurança.
Conclui-se este ensaio citando uma lição milenar, que parece ter sido devidamente entendida somente pelo criminoso: