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Rev. adm. empres. vol.43 número3

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Academic year: 2018

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RESENHA•A CULTURA IMPORTA: OS VALORES QUE DEFINEM O PROGRESSO HUMANO

108 •©RAE • VOL. 43 • Nº 3

Pode ser novidade para quem bus-ca construções teóribus-cas que partam da realidade. Pode ser novidade para quem acha que a gestão pública con-tinua sendo sinônimo de ineficiência, marasmo, corrupção, palco para prá-ticas clientelistas e que visam ao favo-recimento de interesses privados. Nes-sa visão, nada teríamos feito para su-perar o Estado patrimonialista.

Se, por um lado, avançamos no diag-nóstico das causas e nefastas conseqüên-cias do Estado privatizado, por outro, fomos expostos a inúmeras represen-tações do Estado como inimigo da so-ciedade que, direta ou indiretamente, se afiliam às pregações neoliberais. Para os leigos, essa mensagem chegou com mais impacto. Para alguns – re-presentantes e servidores públicos, li-deranças comunitárias, pesquisadores –, o desenvolvimento da crítica se-meou condições para efetivar outras práticas.

Desde os anos 1980, diversos gesto-res municipais revertem o quadro de esfacelamento do público, voltando-se para as demandas da população,

im-NOVOS CONTORNOS DA GESTÃO LOCAL:

CONCEITOS EM CONSTRUÇÃO

Por Ricardo Bresler

Professor do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos (ADM) da FGV-EAESP.

E-mail: rbresler@fgvsp.br

RESENHA•NOVOS CONTORNOS DA GESTÃO LOCAL: CONCEITOS EM CONSTRUÇÃO

plantando inovações que promovem a transparência, os mecanismos de auto-ridade e o aprofundamento da demo-cracia. Com a Constituição de 1988 essas práticas ganharam espaço e legi-timidade para se efetivarem. A partir daí, acelerou-se o processo de práticas inovadoras em gestão local.

No final do mandato dos primeiros prefeitos eleitos após a nova Constitui-ção, as soluções encontradas para lidar com as demandas da sociedade come-çaram a chamar a atenção. O Instituto Pólis (www.polis.org.br), a partir de sua inserção em redes, sistematizou 51 ex-periências inovadoras (Nogueira, Simões Jr. e Almeida, Experiências Inovadoras em

Gestão Municipal, 1992). Com a

reper-cussão do texto e o apoio da Fundação Friedrich Ebert (www.fes.org.br), foi

criado o boletim Dicas – Idéias para a

Ação Municipal, que, por meio de

tex-tos curtex-tos, dissemina práticas que promovem a democracia. Em 2000, com o apoio do BNDES, o Pólis pu-blicou o livro 125 Dicas, cujos textos estão no Banco Federativo (http:// federativo.bndes.gov.br/dicas). Em maio

de 2003 foi lançado o Dicas no 200, so-bre Escola de Pesca. Esse e os outros que não constam do Banco Federati-vo podem ser encontrados no Pólis (www.polis.org.br/publicacoes/dicas).

Embora o boletim Dicas tenha sido

sempre bem recebido, uma das dificul-dades era captar novas experiências. Os

Dicas eram produzidos a partir da

ini-ciativa de gestores que, na maior parte das vezes, participam das redes em que o Pólis está inserido. Assim, várias ini-ciativas permaneciam desconhecidas, pela ausência dos gestores e técnicos nessas redes e pela dificuldade dos ges-tores registrarem suas experiências. Di-ficuldade real, porque, além da falta de pessoal e da escassez de recursos, os esforços voltam-se para o atendimento à demanda da sociedade. Sem o regis-tro, com o final da gestão municipal e com a dispersão da equipe, perdiam-se da memória as realizações e dificulda-des daqueles quatro anos, e, nessa per-da, um saber valioso para o aprofunda-mento democrático esfarelava-se.

Em 1996, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação

NOVOS CONTORNOS DA GESTÃO LOCAL: conceitos em construção

De Peter Spink, Silvio Caccia Bava e Veronika Paulics (Orgs.)

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JUL/SET/2003 • ©RAE • 109

CARLOS OSMAR BERTERORICARDO BRESLER

Getulio Vargas – FGV-EAESP –, em uma iniciativa conjunta com a Fundação Ford – atualmente, com o apoio do BNDES –, criou o Programa Gestão Pública e Cida-dania – GPC – (http://inovando.fgvsp.br), que possui um comitê técnico com re-presentantes de diversas instituições, ga-rantindo um alcance e uma representati-vidade de diversos problemas /soluções nacionais. Por meio de um ciclo de premiação anual, o GPC dá visibilida-de às inovações visibilida-de governos sub-nacio-nais – municípios, estados e organiza-ções próprias dos povos indígenas – a fim de disseminar essas experiências. Mais importante que o prêmio, embo-ra ele permita dar visibilidade paembo-ra que a gestão conquiste apoios, é a garantia de que os governos sub-nacionais re-gistrem e divulguem suas experiências. Esse é o insumo para a formação de um banco de dados que já conta com mais de 5 mil experiências. Nele encontra-mos uma enorme biblioteca ativa, com diferentes saberes em ação nas mais dis-tintas realidades brasileiras – fonte de in-formação essencial para quem quer tra-balhar seriamente com os desafios de um Brasil democrático.

O programa GPC e os Dicas formam, com outras organizações, a Rede de Bancos de Dados em Gestão Local (www.web-brazil.com/gestaolocal), que permite acessar diversas experiências inovadoras. Nessa Rede encontramos insumos para refletir e promover práti-cas democrátipráti-cas de gestão pública. É diferente de modelos tradicionais de re-flexão acadêmica, que partem de reali-dades alienígenas para pensar o desen-volvimento local ou de grandes idéias desprovidas de pertinência real que, ape-sar das boas intenções, quase sempre esbarram nas impossibilidades do real. A Rede de Gestão Local oferece exem-plos de práticas que estão sendo efetiva-das e permitem construir novas formu-lações teóricas, amparadas na prática, que contribuam para a melhoria da qua-lidade de vida de todos, por meio de um

Estado que promova o público como o espaço em que diferentes interesses pos-sam se encontrar. A partir da realidade, das práticas possíveis, podemos pensar e pro-mover a democracia, aí sim, expandindo as possibilidades da realidade atual.

Esse é o desafio que Spink, Bava e Paulics propuseram aos autores dos

tex-tos da coletânea Novos Contornos da

Gestão Local: partir das experiências

para formular novos conceitos para no-vas práticas. A coletânea é um instru-mento de formação que relaciona as ex-periências inovadoras com os resulta-dos que podem ser almejaresulta-dos e, tam-bém, de compreensão do arcabouço institucional que há por trás das expe-riências inovadoras, buscando explici-tar o que propicia condições para as iniciativas surgirem, para se consolida-rem e se disseminaconsolida-rem.

Inicialmente publicados como tex-tos isolados – “cadernos arco-íris” –, eles foram organizados em uma única pu-blicação para facilitar a consulta. Nessa caminhada, o GPC e o Pólis contaram com diversos apoios, especialmente do Banco Interamericano de Desenvolvi-mento – BID – e da Agência Sueca de Cooperação Internacional para o De-senvolvimento – Asdi – para a confec-ção da coletânea.

Algumas perguntas deram rumo aos artigos e ilustram o conteúdo dos tex-tos. A fim de contribuir para o esclare-cimento de inúmeros termos utilizados, Chico de Oliveira procura conceituar desenvolvimento local – “Aproximações ao enigma”. Que tipo de ações um go-verno local pode implementar para fa-vorecer o desenvolvimento? Até que ponto as decisões das prefeituras, iso-ladas de uma articulação maior, podem definir esse desenvolvimento? Essas são questões contempladas nos textos de Evelyn Levy – “Ganhar e ganhar” –, de Maria do Carmo Cruz – “Consórcios intermunicipais” – e de Caio Silveira, Cunca Bocayuva e Tania Zapata – “Ações integradas e desenvolvimento

local”. O que tornam efetivas as parce-rias nos casos estudados? O que signi-fica estabelecer parcerias que não sejam apenas para “inglês ver” (como Spink brinca)? Diferenciando diversos víncu-los existentes, Spink propõe um modo para a compreensão dos vínculos que o Estado estabelece – “Parcerias e alian-ças com organizações não-estatais”.

Analisando como o incentivo às ins-tâncias de participação popular – como Conselhos e OP – pode favorecer a de-mocratização das decisões do governo e a possibilidade de continuidade das políticas, Bava elabora seu texto – “Par-ticipação, representação e novas formas de diálogo público”. Nessa direção, en-contramos a análise sobre a importân-cia da transparênimportân-cia nos governos lo-cais no artigo de José Carlos Vaz – “De-safios para a incorporação da transpa-rência em um modelo de gestão muni-cipal”. Explorando como se efetiva a gestão de serviços municipais, temos o texto de Ladislau Dowbor – “A comu-nidade inteligente”. E, no texto escrito pela equipe da Agende, encontramos reflexões sobre eqüidade de gênero nas políticas – “Considerando as diferenças de gênero”. O desafio de medir os resul-tados e definir quais resulresul-tados mensurar para identificar as iniciativas importan-tes ao desenvolvimento sustentável foi assumido por Jorge Kayano e Eduardo Caldas – “Indicadores para o diálogo” –, no último texto da coletânea.

Novos Contornos é, além de uma

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