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Rev. Gaúcha Enferm. vol.38 número2

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Academic year: 2018

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Revista Gaúcha

de Enfermagem

RESUMO

Objetivo: Verificar a inferência dos Diagnósticos de Enfermagem, Religiosidade prejudicada e Sofrimento espiritual em pessoas vi-vendo com HIV/AIDS.

Métodos: Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa, realizado em um Serviço de Assistência Especializada de Recife, Pernambuco, de junho a novembro de 2015. Os resultados relacionados às 52 pessoas vivendo com HIV/AIDS entrevistadas foram analisados por três juízes enfermeiros.

Resultados: Estimou-se em 73,1% (38) a incidência de Sofrimento espiritual, 36,5% (19) de Religiosidade prejudicada, com número médio de características definidoras de 3,88±2,05 e 2,55±0,69. A principal característica definidora para a Religiosidade prejudicada foi: “relata necessidade de reconectar-se com crenças anteriores” (92,3%); e para Sofrimento espiritual: “expressa falta de finalidade na vida/expressa falta de significado na vida” (86,5%).

Conclusões: Os resultados apontam para a necessidade de considerar a dimensão religiosa-espiritual nos protocolos assistenciais e de pesquisa em enfermagem.

Palavras-chave: Espiritualidade. HIV. Diagnóstico de enfermagem.

ABSTRACT

Objective: To verify the inference of Nursing Diagnoses, Impaired religiosity and Spiritual distress in people living with HIV/AIDS. Methods: This is a cross-sectional study with a quantitative approach, performed in a specialized Service CenteR of Recife, Pernam-buco, from June to November 2015. The results related to 52 people living with HIV/AIDS and that were interviewed were analyzed by three nurse judges.

Results: Spiritual distress was estimated at 73.1% (38), Impaired religiosity at 36.5% (19), with an average number of defining characteristics of 3.88 ± 2.05 and 2.55±0.69. The main defining characteristic for Impaired religiosity was: “reports a need to recon-nect with previous beliefs” (92.3%); and for Spiritual distress, it was: “Expresses a lack of purpose in life/expresses lack of meaning in life” (86.5%).

Conclusions: The results point to the need to consider the religious-spiritual dimension in care protocols and research in nursing. Keywords: Spirituality HIV. Nursing diagnosis.

RESUMEN

Objetivo: Comprobar la inferencia de diagnósticos de enfermería, deterioro religiosidad y sufrimiento espiritual de personas con VIH/SIDA.

Métodos: Se trata de un estudio transversal, cuantitativo, realizado en un servicio de atención especializada de Recife, Pernanbuco, de junio a noviembre de 2015. Los resultados de 52 encuestados fueron analizados por tres jueces enfermeras.

Resultados: Se estimó en un 73,1% (38) la incidencia de sufrimiento espiritual, el 36,5% (19) de la Religiosidad con deficiencias, con un promedio características definitorias de 3,88 ± 2,05 y 2,55 ± 0,69. La principal características definitorias de Religiosidad alterada: los informes tienen que volver a conectar con creencias anteriores (92,3%); y Sufrimiento espiritual: expresión de la falta de propósito en la vida/falta de sentido de la vida (86,5%).

Conclusiones: Los resultados apuntan a la necesidad de considerar la dimensión religiosa-espiritual en los protocolos de atención y la investigación en enfermería.

Palabras clave: Espiritualidad. VIH. Diagnóstico de enfermería. Como citar este artigo:

Pinho CM, Gomes ET, Trajano MFC, Cavalcanti ATA, Andrade MS, Valença MP. Religiosidade prejudicada e sofrimento es-piritual em pessoas vivendo com HIV/aids. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(2):e67712. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2017.02.67712.

doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2017.02.67712

Religiosidade prejudicada e sofrimento

espiritual em pessoas vivendo com HIV/aids

Impaired religiosity and spiritual distress in people living with HIV/AIDS

Religiosidad deteriorado y espiritual sufrimiento en personas con VIH/sida

Clarissa Mourão Pinhoa

Eduardo Tavares Gomesa

Maria de Fátima Cordeiro Trajanob

Aracele Tenório de Almeida e Cavalcantic

Maria Sandra Andradea

Marília Perrelli Valençac

a Universidade de Pernambuco (UPE), Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Programa Associado de Pós-Graduação em Enfermagem. Recife, Pernambuco, Brasil.

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INTRODUÇÃO

A terapia anti-retroviral (TARV) contribuiu para que a aids fosse considerada uma doença crônica e, dessa forma, aumentou a sobrevida das pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA) e melhorou a qualidade de vida destas(1-2).

É válido analisar, porém, que essas pessoas necessitam de uma assistência contínua e integral, além do compro-misso com o seu autocuidado. Isso consiste em um desafio para os pacientes, visto que a convivência com a doença acarreta mudanças em seus cotidianos e pelo fato da aids ainda ser marcada pelo preconceito e estigma social(2).

Para realizar o acolhimento e sistematizar um cuidado contínuo é necessário, entre outros aspectos, considerar o impacto que a convivência com uma doença crônica e estigmatizante tem na vida e na saúde mental dessas pes-soas. Nesse sentido, destaca-se a necessidade do apoio profissional, social, familiar e religioso-espiritual(3-5).

A religiosidade tem sido considerada uma ferramenta importante nas estratégias de enfrentamento das novas situações que se impõem na vida das pessoas que vivem com HIV/aids. Também é observado que pacientes que se diziam “sem religião”, mas que acreditavam em Deus, bus-cavam-No como fonte de força, conforto e esperança no enfrentamento do HIV(5-6). Da mesma forma, a doença tam-bém pode trazer impacto negativo à vivência/experiência religiosa-espiritual(6).

Considerando a necessidade do profissional de saúde oferecer uma assistência integral e individualizada, na qual a religiosidade deve estar inserida, é necessário buscar a compreensão das expressões e relações positivas ou nega-tivas na vivência do adoecimento, tentando acolher as an-gústias dos usuários e auxiliá-los na busca de autonomia(5). A taxonomia para os Diagnósticos de Enfermagem (DE) propicia diagnósticos que contemplam essa abordagem holística dos pacientes que vivem com doenças crônicas.

A taxonomia em vigor proposta pelaNorth American

Nur-sing Diagnoses Association – NANDA II, no Domínio 10: Princípios de Vida que traz os seguintes DE, com seus res-pectivos conceitos(7): Religiosidade prejudicada: capacida-de prejudicada capacida-de confiar em crenças e/ou participar capacida-de rituais de alguma fé religiosa; Sofrimento espiritual: capaci-dade prejudicada de experimentar e integrar significado e objetivo à vida por meio de uma conexão consigo mesmo, com os outros, com a arte, a música, a literatura, a natureza e/ou um ser maior.

O primeiro diagnóstico aborda a questão da religiosida-de, crenças ou costumes, hábitos religiosos dos pacientes, enquanto o segundo toca na questão da espiritualidade propriamente dita, relacionada a um conceito de

trans-cendência, podendo ou não ser vivenciada/relacionada à experiência religiosa. Neste contexto, surgiu o seguinte questionamento: qual a incidência dos DE Religiosidade prejudicada e Sofrimento espiritual em pessoas vivendo com HIV/aids e quais as principais características definido-ras para esses diagnósticos?

O objetivo deste estudo foi verificar a inferência dos Diagnósticos de Enfermagem, Religiosidade prejudicada e Sofrimento espiritual em pessoas vivendo com HIV/aids.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa, realizado em um Serviço de Assistência Espe-cializada (SAE) de um hospital universitário em Recife, Per-nambuco, referência no tratamento do HIV/aids. O estudo foi realizado entre junho e novembro de 2015.

Para o estudo, utilizou-se dados do projeto matricial: “Coping religioso e espiritual em pessoas vivendo com HIV/aids”, no qual realizou-se o levantamento dos dados sociodemográfico, clínico e a aplicação de uma escala validada de coping religioso-espiritual (CRE), em uma amostra de 52 PVHA de ambos os sexos, com diagnós-tico de HIV há pelo menos um ano, maiores de 18 anos e que não apresentavam alterações cognitivas ou doen-ças neurológicas que impossibilitassem a participação na entrevista.

A escala de CRE é um instrumento adaptado e validado para população brasileira com base em uma escala norte--americana. O instrumento é composto por 87 itens que englobam questões referentes à religião e espiritualidade para lidar com situações estressoras. Na aplicação do ins-trumento foi orientado que os participantes respondes-sem às questões pensando especificamente na situação da doença (HIV/aids)(8).

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Os parâmetros utilizados para análise dos valores das médias de CRE quanto a sua utilização pelo respondente foram: nenhuma ou irrisória: 1,00 a 1,50; baixa: 1,51 a 2,50; média: 2,51 a 3,50; alta: 3,51 a 4,50 e altíssima: 4,51 a 5,00. A escala permite ainda a avaliação de oito fatores de coping religioso-espiritual positivo e quatro fatores de coping ne-gativo, os quais não foram objeto de estudo na pesquisa(8). O estudo deu-se em três etapas: 1) Utilização dos dados do projeto matricial que consistiam em variáveis sociode-mográfico e clínicas e da escala CRE; 2) Correlação entre a escala CRE e as características definidoras estabelecidas pelos juízes; e 3) Análise estatística e inferência das carac-terísticas definidoras dos DE Religiosidade prejudicada e So-frimento espiritual.

A correlação entre a escala CRE e as características defi-nidoras estabelecidas pelos juízes foi realizada com a parti-cipação de três enfermeiros, com especialização, mestrado em enfermagem e experiência em pesquisa com diag-nósticos de enfermagem, HIV/aids e pesquisas em Saúde e Espiritualidade. Foi solicitado que os juízes (enfermeiros) relacionassem as características definidoras dos DE Religio-sidade prejudicada e Sofrimento espiritual a itens da escala de Coping Religioso-Espiritual que expressassem o mesmo conteúdo, ideia ou conceito. As divergências foram cruza-das e os juízes foram novamente consultados acerca da possibilidade de aprimorar a primeira relação. Por fim, os itens divergentes permaneceram quando citados por, no mínimo, dois dos juízes.

Os dados foram analisados com recursos de estatística descritiva e inferencial, utilizando o software SPSS 20.0. Para a característica definidora ser considerada presente, foi cal-culada a média dos valores dos itens respectivos para cada uma, considerando-se presentes as características dos pa-cientes que apresentassem pontuação acima da média. Ou seja, todo paciente que apresentasse resposta maior que a média da amostra seria considerado como possui-dor das características definipossui-doras. Com relação aos DE nos pacientes, foram considerados presentes os DE naqueles que apresentassem três ou mais características definidoras. A confiabilidade no uso da escala foi avaliada pelo alfa de Cronbach, sendo considerada como expressiva de consis-tência interna (CRE total, α = 0,86). Para avaliar a associação entre as variáveis contínuas utilizou-se o teste de correla-ção de Pearson.

Foram respeitados os preceitos éticos da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e o proto-colo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do complexo hospitalar – Hospital Universitário Oswaldo Cruz/Pronto-Socorro Cardiológico de Pernam-buco, sob o Certificado de Apresentação para

Aprecia-ção Ética (CAAE) nº 43056315.5.0000.5192 e parecer nº 1.007.864. Foi solicitada a assinatura do Termo de Con-sentimento Livre e Esclarecido – TCLE aos integrantes da pesquisa, com a garantia da preservação do anonimato dos mesmos e da manutenção do sigilo durante todas as fases da pesquisa.

RESULTADOS

A maioria dos pacientes era do sexo masculino (35; 67,3%), com idade média de 45,04±9,43 anos, solteiros ou sem companheiros (75,0%), procedentes da região me-tropolitana do Recife (23; 44,2%) e da capital (21; 40,4%), aposentados (19; 36,5%) ou assalariados (17; 32,7%), com renda de até 1,5 salários mínimos (36; 69,2%) e sem filhos (23; 44,2%). A principal filiação religiosa foi à igreja católica (22; 42,3%) e às evangélicas (19; 36,5%), sendo apenas um ateu (1,9%).

Os pacientes viviam, em média, com o diagnóstico há 9,92±6,34 anos, com tempo de uso da terapia antirretrovi-ral há 8,47±5,72 anos. A média de internações prévias foi de 1,29±1,91 internamentos. Com relação às comorbida-des, 19 pacientes (36,55%) apresentaram pelo menos uma e 18 (34,62%) apresentaram duas ou mais. Quinze pacien-tes não apresentaram comorbidades/doenças oportunis-tas (28,85%).

Com referência ao CRE, demonstrou-se que o CRE Po-sitivo foi utilizado em escores médios altos (3,66±0,88) e o CRE Negativo teve baixo uso (2,12±0,74). No total, o uso do CRE foi alto (3,77±0,74), tendo predominado o CRE positivo (razão CREN/CREP=0,65±0,46).

A inferência dos diagnósticos de enfermagem foi esti-mada considerando a combinação de três ou mais carac-terísticas definidoras. Dessa forma, estimou-se que 73,1% (38) dos pacientes apresentaram Sofrimento espiritual, en-quanto 36,5% (19) apresentaram Religiosidade prejudicada. Os valores médios do número de características definido-ras apresentadas foram de 3,88±2,05 e 2,55±0,69, respec-tivamente. Dez pacientes (19,2%) apresentaram ambos os diagnósticos (Tabela 1).

Na análise de correlação, não houve significância es-tatística entre o número de características definidoras do

Sofrimento espiritual com as variáveis de tempo de diag-nóstico, tempo de terapia antirretroviral e internamentos

prévios. A mesma análise para o número de CD do DE

Re-ligiosidade prejudicada mostrou associação fraca com os tempos de diagnóstico (p. 0,039) e terapia (p. 0,048).

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DISCUSSÃO

O uso dos diagnósticos de Enfermagem ainda se configura como um desafio na prática assistencial, em particular os de caráter mais subjetivos, considerados menos prioritários. As possíveis explicações são a falta de formação para o uso das taxonomias no meio acadêmico(9-10) e a necessidade de mais estudos que considerem a dimensão psicoespiritual dos pa-cientes em geral e, em particular, os vivendo com o HIV/aids(11).

Nesse estudo, foi demonstrada a presença de sofrimen-to espiritual em parcela significativa dos entrevistados, no entanto, não se observa na mesma medida a religiosidade prejudicada, além de ter sido verificado o predomínio do CRE positivo. No planejamento do cuidado a esses pacien-tes, deve-se considerar a religiosidade com fonte de fé e força, uma vez que, a mesma pode contribuir para melho-rar o sofrimento espiritual vivenciado por esses pacien-tes(12). E importante considerar que, a CD mais prevalente para o DE “Sofrimento espiritual” foi a falta de significado e finalidade na vida, falta de autoperdão e culpa. Para esses DE é bastante relevante à equipe de Enfermagem conside-rar as dimensões espirituais como fonte de auxílio na assis-tência e na promoção da saúde.

A religiosidade e a espiritualidade representam um apoio na aceitação do diagnóstico, proporcionando assim, uma atitude mais positiva no enfrentamento da doença, aspecto muito relevante para pessoas que convivem com doenças crônicas(5). É necessário que a equipe de Enferma-gem esteja capacitada para utilizar os diagnósticos relacio-nados com a religiosidade e espiritualidade e assim qualifi-car a assistência de Enfermagem.

Observa-se que, além da necessidade de aquisição da competência para trabalhar com DE envolvendo a religio-sidade e espiritualidade, é importante o estabelecimento de vínculo profissional para iniciar a abordagem nesse con-texto. Ressalta-se, no entanto, que não existe uma forma padrão de se trabalhar religiosidade e espiritualidade em saúde, que além da importância do estabelecimento do vínculo paciente-profissional e das competências e habi-lidades profissionais, deve-se considerar também, às cren-ças pessoais e às do paciente(5).

Existem escalas validadas para avaliar religiosidade e espiritualidade, em seus vários aspectos, que vem sendo utilizadas em pesquisas(12). Nesse estudo, utilizou-se esca-la validada para dar suporte ao uso dos diagnósticos de Enfermagem, em colaboração com as características

de-DE: Religiosidade prejudicada Itens Escala CRE

Características Deinidoras

Questiona padrões de crenças religiosas 6, 9, 50, 51, 69

Relata angústia espiritual por separação de uma comunidade religiosa 41

Relata necessidade de reconectar-se com costumes anteriores 8, 60, 63, 74, 75, 87

Relata necessidade de reconectar-se com crenças anteriores 8, 13, 26

DE: Sofrimento espiritual Itens Escala CRE

Características Deinidoras

Recusa integrar-se com líderes espirituais 15

Expressa raiva de um ser maior 4, 83

Expressa sentimento de abandono 32, 41, 84

Culpa 23, 56, 59, 78

Expressa falta de autoperdão 23, 56, 59

Relata estar separado de seu sistema de apoio 18, 41, 73

Solicita conversar com um líder religioso 12

Expressa falta de finalidade na vida 17

Expressa falta de significado na vida 30, 38

Raiva 4

Tabela 1 – Correlações entre os itens da escala de Coping Religioso-Espiritual com as características definidoras na opinião dos especialistas. Recife-PE, 2015

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finidoras também validadas. Os resultados apontam essa possibilidade que deve ser considerada no ensino de En-fermagem, além de poderem ser utilizadas para qualidade e reconhecimento da Enfermagem como ciência.

Com relação ao uso da escala de Coping Religioso-Es-piritual foi possível observar que CRE positivo foi utilizado em escores médios altos, o CRE negativo teve baixo uso, tendo predominado o CRE positivo. Baseado nos achados do estudo é possível dizer que a

religiosidade/espirituali-dade é relevanteno enfrentamento do HIV, uma vez que,

os escores de coping religioso-espiritual total foram altos. Além disso, o coping positivo foi mais utilizado do que o coping negativo, o que corrobora com resultados obtidos em outros estudos(13-16).

O DE Sofrimento espiritual se mostrou elevado e a frequ-ência das características definidoras retrata que o referido diagnóstico se relaciona mais com questões de transcen-dência e significado do que com práticas e crenças. Foram expressas, principalmente, duas dimensões diretamen-te relacionadas ao coping negativo: a falta de finalidade ou significado na vida e a relação culpa e autoperdão.

De acordo com o que foi encontrado no presente estudo é possível observar que os entrevistados apresentam

difi-culdades em planejar suas vidas após o diagnóstico do HIV e percebem também mudanças no estilo de vida. Além de relatar sentimentos de abandono, desesperança, culpa, rai-va, medo e incerteza do futuro.

Estudo nacional semelhante realizado com 146 pessoas vivendo com HIV/aids mostrou que 87% tinham necessida-des psicoespirituais, em particular religiosas, afetadas pelo convívio da doença, não havendo impacto significativo na diminuição da qualidade de vida em nenhum domínio(17).

O número de pacientes que apresentaram o DE

Re-ligiosidade prejudicada mostra positividade, visto que, os entrevistados consideram a religiosidade importante no enfrentamento da doença e na mudança do estilo de vida. A distribuição das características definidoras princi-pais para o diagnóstico Religiosidade prejudicada estava relacionada principalmente às crenças, costumes e prá-ticas, que os pacientes reconheciam como importantes e demonstravam a intenção de retomá-las ou reforçá-las. Para este diagnóstico, a maioria dos itens correlacionados fazia parte dos fatores positivos do coping, permitindo a compreensão de que para os pacientes a religiosidade é utilizada como fonte de fé, conforto e esperança para o fortalecimento pessoal.

DE: Religiosidade prejudicada n(%)

Características Deinidoras

Relata necessidade de reconectar-se com crenças anteriores 48(92,3)

Relata necessidade de reconectar-se com costumes anteriores 44(84,6)

Questiona padrões de crenças religiosas 11(21,2)

Relata angústia espiritual por separação de uma comunidade religiosa 4(7,7)

DE: Sofrimento espiritual Características Deinidoras

Expressa falta de finalidade na vida 45(86,5)

Expressa falta de significado na vida 45(86,5)

Expressa falta de autoperdão 29(55,8)

Culpa 27(51,9)

Expressa sentimento de abandono 14(26,9)

Solicita conversar com um líder religioso 14(26,9)

Recusa integrar-se com líderes espirituais 8(15,4)

Raiva 8(15,4)

Expressa raiva de um ser maior 7(13,5)

Relata estar separado de seu sistema de apoio 5(9,6)

Tabela 2 – Frequência estimada de características definidoras. Recife-PE, 2015

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Para os que se declaram adeptos a alguma religião, percebe-se a importância atribuída na autoaceitação da doença e nas novas condições que ela impõe. Neste sen-tido, a religião auxilia no enfrentamento da doença e na busca pelo significado da vida dentro do processo de ado-ecimento, o que corrobora com o que foi encontrado em outro estudo(5). Algumas denominações religiosas ainda trazem em suas doutrinas conceitos que reforçam precon-ceitos e estigmas difundidos na sociedade. As falas analisa-das dos pacientes, com algumas afiliações mostravam um sentimento maior e mais claramente expresso de culpa e dificuldade de autoperdão(5).

Em publicação nacional, ao avaliar 90 pessoas com HIV foi encontrado que a religiosidade tinha relação positiva e signi-ficativa com a qualidade de vida, em especial, nos domínios psicológico, social e ambiental. Desses pacientes, a maioria se denominou “Religiosa” (33%) e “Muito religiosa” (30%)(14).

O estudo mostrou que os entrevistados apresentaram falta de finalidade/significado da vida, expressaram sen-timento de culpa e abandono, apresentaram raiva pelo diagnóstico, 26,9% reconheceram a necessidade de con-versar com um líder religioso. O diagnóstico do HIV reper-cute no indivíduo alterações fisiológicas, sociais e principal-mente psicológicas, uma vez que, além do estigma social, há a mudança do estilo de vida por causa do tratamento com os antirretrovirais, que muitas vezes vem acompanha-do de efeitos colaterais, como também, surgem problemas relacionados à saúde mental, relacionados à culpa e raiva por não ter se prevenido, incerteza do futuro e o medo da rejeição, abandono e da morte.

Em um estudo longitudinal que acompanhou 177 pessoas com HIV por 10 anos revelou que, diante de situ-ações potencialmente traumatizantes e de difícil adapta-ção, como, aproximar-se da morte, sofrer com o estigma da doença, pobreza e limitações, a maioria dos pacientes utilizou-se do enfrentamento espiritual, destes, metade ex-perienciou conforto, empoderamento, crescimento, trans-formação e gratidão e um terço encontrou significado para a doença em sua vida e passou por um processo de res-significação(15). Outro estudo, com amostra de 465 pessoas com HIV/aids, encontrou resultados similares, reforçando a relevância da religiosidade para se conviver com o estigma e com a doença(16).

De forma contrária, o enfrentamento religioso-espiri-tual negativo, relacionado às crises e aos diagnósticos de enfermagem estudados foi evidenciado em relação direta com maiores níveis de depressão e menores níveis de qua-lidade de vida em uma amostra significativa de PVHA(17).

Com relação à sistematização da assistência de enfer-magem os dados revelam uma baixa incidência ou poucas

citações relacionadas à temática religiosidade e espiri-tualidade em doenças sexualmente transmissíveis, HIV e aids(11). O fato de não serem considerados prioritários não significa que diagnósticos como os que compõem o do-mínio 10 da taxonomia NANDA II – Princípios de vida, não sejam importantes.

Em publicação nacional que investigou 30 pacientes com HIV/aids para identificar os principais DE aplicáveis pelo modelo conceitual de Horta, encontrou, no domínio 10, apenas o DE Disposição para o bem-estar espiritual au-mentada, e aplicado a três pacientes(18). Não há como se afirmar que esses valores são devidos ao viés do entrevista-dor ou por falha do instrumento. Contudo, os dados apre-sentados retratam que há uma realidade subnotificada e que os profissionais de enfermagem deveriam ter maior interesse na temática. A aplicação dos diagnósticos de en-fermagem relacionados à religiosidade e espiritualidade proporcionaria ao paciente uma assistência mais qualifica-da, bem como, auxiliaria na reflexão sobre a importância da religiosidade e espiritualidade no enfrentamento e aceita-ção da doença.

CONCLUSÃO

A religiosidade e a espiritualidade são dimensões do ser que devem ser contempladas em todas as ações de en-fermagem, no campo assistencial, de pesquisa e extensão, possibilitando uma construção do conhecimento.

Com o presente estudo foi possível observar que esca-las validadas podem fornecer subsídios para a identificação de diagnósticos de enfermagem e consequentemente a elaboração de metas e ações no âmbito assistencial.

A alta incidência de Sofrimento espiritual e Religiosida-de prejudicada encontrada mostra que o suporte religio-so-espiritual pode auxiliar a PVHA no enfrentamento da doença e do estigma social, o que reforça que a utilização dos diagnósticos de enfermagem e suas intervenções podem contribuir na melhoria da assistência prestada a esses pacientes.

Tomar conhecimento sobre a importância da religiosi-dade/espiritualidade pode ajudar o profissional enfermeiro a criar um vínculo maior, de confiança como o paciente, visando estabelecer estratégias de coping religioso.

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rea-lização de pesquisas que ampliem seu objeto de estudo colocando em foco a sistematização da assistência de en-fermagem (SAE) à pacientes portadores de HIV/aids.

Os resultados aqui discutidos trazem contribuições para uma prática assistencial qualificada, com um aten-dimento mais eficiente considerando os diagnósticos de Enfermagem relacionados à religiosidade prejudicada e ao sofrimento espiritual, os quais devem, também, ser consi-derados no ensino de Enfermagem.

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Autor correspondente:

Maria Sandra Andrade

E-mail: sandra.andrade@upe.br

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Tabela 1 – Correlações entre os itens da escala de Coping Religioso-Espiritual com as características definidoras na opinião  dos especialistas
Tabela 2 – Frequência estimada de características definidoras. Recife-PE, 2015

Referências

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