• Nenhum resultado encontrado

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ACRE. Acórdão n. : Classe : Apelação Cível (Sumário) n Origem : Rio Branco. Órgão : Câmara Cível

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ACRE. Acórdão n. : Classe : Apelação Cível (Sumário) n Origem : Rio Branco. Órgão : Câmara Cível"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ACRE

Acórdão n. : 5.427

Classe : Apelação Cível (Sumário) n. 2008.002059-4

Origem : Rio Branco

Órgão : Câmara Cível

Relator : Des. Adair Longuini

Apelante : Real Seguros S/A.

Advogado : Marcello Gomes Afonso (2893/AC)

Apelada : Maria Suelen da Silva

Advogada : Vera Lúcia Heep (2196/AC)

(2)

Objeto da ação : Civil. Cobrança. Seguro Obrigatório. Acidente de Trânsito.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT.

INCAPACIDADE PERMANENTE. NEXO DE CAUSALIDADE.

Para o pagamento da indenização prevista pelo seguro obrigatório de danos pessoais

causados por veículos automotores, é necessário que a vítima comprove satisfatoriamente o nexo de causalidade existente entre o acidente de trânsito e o dano, mediante a apresentação de documentos que demonstrem cabalmente que a lesão sofrida é conseqüência natural do sinistro automobilístico.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível (Sumário) n. 2008.002059-4, ACORDAM os Senhores Desembargadores da Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Acre, ADAIR LONGUINI – Relator, e PEDRO RANZI, sob a presidência da Senhora Desembargadora MIRACELE LOPES, por maioria, dar provimento à Apelação Cível.

Divergente o Desembargador Pedro Ranzi, que negou provimento ao Recurso, nos termos do voto do relator e das notas taquigráficas arquivadas.

Rio Branco, 30 de setembro de 2008.

Desª. Miracele Lopes

Presidente, em exercício

Des. Adair Longuini

Relator

(3)

RELATÓRIO

O Excelentíssimo Senhor Des. Adair Longuini, Relator: Real Seguros S/A, devidamente

qualificada e representada, interpõe Apelação Cível em face de sentença do Juízo da 2.ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco, que, nos autos da ação de cobrança ajuizada por Maria Suelen da Silva, julgou procedente o pedido deduzido na inicial e, por conseguinte, condenou-a ao pagamento de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), relativo à indenização

correspondente ao seguro de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre (fls. 51//55).

Nas razões do recurso (fls. 81/85), a Apelante destaca, em primeiro lugar, a inexistência de comprovação quanto ao nexo de causalidade entre o acidente de trânsito e os danos físicos experimentados pelo Apelado. Nesse ponto, expende que a Autora não comprovou

documentalmente sua pretensão, consoante exigência contida no § 4.º do art. 5.º da Lei

8.441/92, de acordo com o qual poderá ser acrescentado ao boletim de atendimento hospitalar, relatório de internamento ou tratamento, fornecido pela rede hospitalar e previdenciária,

mediante pedido verbal ou escrito do interessado.

Ainda, discorreu sobre o quantum indenizatório fixado na sentença recorrida. Segundo a Apelante, em casos de invalidez permanente, o valor da indenização deve ser estipulado conforme o grau de incapacidade do beneficiário, observado o limite máximo de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) imposto pelo art. 3.º, II, da Lei 6.194/74, para as hipóteses em que a invalidez é total.

Por outro lado, sendo caso de invalidez parcial, deveria ser aplicada, no seu dizer, a tabela de normas de acidentes pessoais elaborada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados, cujos valores de indenização são estipulados consoante o percentual de comprometimento de cada membro ou órgão afetado no acidente.

Todavia, segundo sustentou, a Apelada deixou de comprovar o grau de sua invalidez, na medida em que o laudo acostado aos autos não especifica qual seja o alcance do

comprometimento físico que o aflige, o que torna impossível a fixação do quantum indenizatório.

(4)

Por fim, ponderou que a correção monetária deve incidir somente a partir do ajuizamento da ação, nos termos da lei nº 6.899/81.

À luz de tudo isso, o Apelante pleiteou o provimento do recurso, para que seja inteiramente reformada a sentença do Juízo da primeira instância.

Contra-razões às fls. 94/102.

É o relatório.

VOTO

O Excelentíssimo Senhor Des. Adair Longuini, Relator: Eis que estão satisfeitos os pressupostos de admissibilidade recursal, conheço da apelação interposta.

A matéria devolvida a este Tribunal já é de há muito debatida nos pretórios de todo o território brasileiro. Diz respeito ao pagamento de indenização relacionada ao seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre ou por sua carga, disciplinado pela Lei 6.194/74.

Antes de passar ao estudo do caso em comento, peço vênia para iniciar a exposição das razões de decidir com um apanhado histórico do instituto do seguro obrigatório de veículos automotores e a forma como tal instituto se desenvolveu no ordenamento jurídico brasileiro ao longo do tempo, o que faço com apoio na obra singular de Rafael Tárrega Martins.[1]

O seguro DPVAT é uma das modalidades de seguro obrigatório. Este, por seu turno, é fruto natural da evolução do seguro contratual. Seu surgimento está vinculado, em linhas gerais, com a mudança do posicionamento do poder de império do Estado em relação a seus súditos, caminhando da total ingerência na vida privada (monarquia absolutista, onde o poder estatal confundia-se com a figura do rei), passando pelo ápice do Estado liberal (a partir da Revolução

(5)

Francesa, em 1789), e convergindo novamente para a ingerência, ainda que parcial e juridicamente controlada (Estado de direito), do ente estatal na vida do indivíduo.

Foi nesse último momento histórico que eclodiram as primeiras formas de seguro obrigatório, produto da necessidade da intervenção do Estado nas relações privadas no intuito de manter o equilíbrio social, dada a progressiva complexidade das relações intersubjetivas advindas do vigoroso progresso humano. Passou o ente público, então, a ditar normas de natureza cogente, fazendo surgir o seguro obrigatório em suas mais diversas formas: seguro obrigatório para cobertura de riscos em transportes marítimos, seguro obrigatório habitacional, seguro obrigatório para transporte pessoal em aeronaves etc.

Historicamente, o aparecimento do seguro obrigatório está situado no Estado de

Massachusets, nos Estados Unidos, no ano de 1927. Todavia, não tardou para que os países europeus também passassem a regular em suas legislações esta modalidade securatória, caso da Inglaterra (1930), Suíça (1932) e Principado de Luxemburgo (1932).

Em qualquer de suas espécies, o seguro obrigatório passa a integrar o mundo jurídico através da confecção de um contrato de seguro. Face à sua cunhagem obrigatória, impositiva, é um contrato que pode ser classificado como necessário. Nessa modalidade contratual, alguém, por força de determinação de autoridade pública, é obrigado a praticar certos atos ou realizar certos negócios, ficando a liberdade contratual reduzida a um mínimo. Esta assertiva é

totalmente aplicável ao seguro obrigatório, tendo em vista que sua contratação decorre de uma imposição do poder público. Torna-se patente que num contrato necessário à vontade negocial o sistema jurídico prescreve limites relativos à própria manifestação da vontade, permitindo-a ou proibindo-a, e ao seu conteúdo.

Assim como o gênero securitário a que pertence, o seguro obrigatório de veículos automotores de via terrestre surgiu também em países europeus: Dinamarca (1918); Finlândia (1925);

Áustria (1929); Suécia (1929); Inglaterra (1930); Suíça (1932); Alemanha (1939); Bélgica (1956); França (1958); Espanha (Ley 122/1962); Holanda (1964); etc.

A análise do fenômeno jurídico, entendido como sistema imprescindível para o convívio social harmônico, não só inspirado mas sobretudo fundamentado pela axiologia que predomina na consciência humana, dependendo, é certo, de cada época cultural, fez com que os

representantes das aspirações populares percebessem e criassem, dentro da temática do seguro impositivo, cogente, a figura do contrato de seguro obrigatório sobre veículos

(6)

automotores de vias terrestres, tendo em mente, e como valor filosófico primordial, a solidariedade e o respeito recíprocos pela integridade e vida das pessoas.

Foi ele introduzido, portanto, em razão dos riscos a que está exposto o proprietário de veículo automotor e também visando à proteção do transeunte, que pode ser vítima de atropelamento.

A sua instituição, então, funda-se sobre uma necessidade social, de modo a amparar, de forma inequívoca, todos os que de algum modo sofreram dano pessoal num abalroamento de

veículos.

Dada a grande quantidade de sinistros dessa natureza e tendo em vista que a maioria dos proprietários de automóveis não possuem bens suficientes para garantir possíveis

indenizações decorrentes de sua conduta, pode-se afirmar que o seguro DPVAT é uma conquista no campo social, a partir do momento em que o vemos como um amparo aos acidentados e a seus dependentes. É ele, diferentemente de outras espécies de seguro, dotado de função social altamente relevante.

Em nosso País, o primeiro diploma legal a fazer menção ao seguro obrigatório foi o decreto-lei n.º 1.186/39. Entretanto, foi com o Decreto-lei n.º 73, de 21/11/1966, que o seguro obrigatório ganhou corpo e força no cenário nacional. O governo de então editou referido diploma legal disciplinando o Sistema Nacional de Seguros Privados que, além de providências diversas, trazia em seu corpo um elenco de seguros de contratação impositiva, entre eles o seguro obrigatório para proprietários de veículo automotor.

O Brasil, em verdade, acompanhou uma tendência que se tornara mundial: a preocupação em proteger vítimas de acidentes de trânsito, fato já então comum num mundo cada vez mais industrializado. Foi nesse momento histórico (década de 60) que os países europeus também começaram a dar maior importância ao seguro obrigatório para proprietários de veículos.

Apesar de já previsto pela legislação, foi somente com a regulamentação introduzida pelo Decreto n.º 61.867, de 7/11/1967, que o seguro obrigatório para proprietários de veículos passou a ser efetivamente aplicado. E em consonância com outras legislações alienígenas, o art. 6.º do referido decreto previa que o seguro obrigatório cobriria, além dos danos causados pelos veículos, também aqueles provocados pela carga transportada a pessoas, transportadas ou não, e a bens não transportados.

(7)

O Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP editou, imediatamente ao início da vigência do decreto, a Resolução CNSP 25/67, em que traçava as condições aplicáveis ao seguro obrigatório. Surgiram, desde logo, as primeiras divergências no tocante à modalidade de culpa que deveria ser aplicável ao sinistro de trânsito, se subjetiva ou objetiva.

Como meio de amenizar as dissensões o governo militar editou o Decreto-lei n.º 814, de

4/11/1969, que provocou profundas modificações no instituto do seguro obrigatório de veículos.

Até então eram garantidas as coberturas para os danos materiais e pessoais.

Com a edição desse decreto-lei somente os danos de natureza pessoal passaram a ter garantia de cobertura, entendimento que ainda perdura e que demonstra que a partir daquele momento o Brasil adotou postura diferente daquela até então seguida, ou seja, não mais haveria cobertura para danos materiais originados em sinistro de trânsito. O acesso a

indenização também foi objeto do referido decreto-lei. Pela redação por ele introduzida bastaria a prova dos danos, sem qualquer questionamento sobre a culpa pelo evento, para que a

pessoa fizesse jus ao valor correspondente.

Logo, a partir do mencionado diploma legal, o seguro obrigatório adotou a teoria da

responsabilidade objetiva como norteadora para o pagamento dos valores indenizatórios. De acordo com essa teoria, a responsabilidade nasce dos que se utilizam de veículos em vias públicas, resultando o pagamento do simples evento causador de danos pessoais a alguém.

Em outras palavras, aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros, deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e o seu comportamento sejam isentos de culpa.

Mais adiante, sobreveio a mais importante norma concernente ao seguro obrigatório, qual seja a Lei n.º 6.194, de 19 de setembro de 1974, que revogou expressamente o Decreto-lei n.º 814/69. Esta lei permanece em vigor regulamentando a aplicação do seguro obrigatório de veículos e sua elaboração foi uma demonstração de arrojo de nosso legislador, que criou um instituto sui generis quando comparado com a legislação alienígena. Com sua edição tornou-se ele um seguro de danos simplesmente pessoais, e não mais um seguro de responsabilidade civil. Essa é a natureza jurídica do seguro DPVAT.

A exemplo do que já sucedia sob a égide do diploma legal revogado (Decreto-lei 814/69), a Lei 6.194 manteve o regime do seguro obrigatório de veículos automotores fundado na teoria do risco (responsabilidade objetiva). O perfilhamento a essa teoria fica claro quando da análise do

(8)

seu art. 5.º, caput, de acordo com o qual "o pagamento da indenização será efetuado mediante a simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente de culpa...".

No últimos anos, outras lei foram promulgadas para modificar o texto da Lei 6.194/74. São exemplos disso as Leis 8.441/92 e 11.482/07. Mas o que importa frisar é que o regime do seguro obrigatório de veículos automotores continua o mesmo. Ele é um seguro de danos pessoais que garante indenização, independentemente de culpa, para todos aqueles que se tornem vítimas de acidente de trânsito, seja motorista, passageiro ou pedestre. O pagamento da indenização depende apenas da demonstração do nexo de causalidade entre os danos pessoais experimentados pela vítima e o acidente de trânsito que os ensejou.

Feitas essas considerações introdutórias, adentro nas questões devolvidas por meio do

presente recurso de apelação. Pois bem. No caso em análise, a Apelada foi vítima de acidente de trânsito ocorrido no dia 09 de janeiro de 2006, conforme afirmado na petição inicial.

Para comprovar o sinistro, a Recorrida juntou aos autos boletim de ocorrência do acidente e boletim médico, ambos lavrados na Delegacia Geral do município de Cruzeiro do Sul.

O boletim de ocorrência foi exarado em 23 de novembro de 2007 e de acordo com o mesmo a Apelada sofreu diversas escoriações e traumatismo crânio-encefálico/TCE, em virtude do acidente (fls. 10-verso). Por outro lado, o boletim médico foi confeccionado em 14 de novembro de 2007 e, segundo ele, a Apelada sofre de enfermidade incurável –Anosmia–, decorrente do acidente sofrido (fl. 11).

Embora a documentação apresentada pela Apelada seja, em tese, aquela exigida pela Lei 6.194/74 (art. 5.º), entendo que as circunstâncias do caso são incapazes de apontar o nexo de causalidade entre o dano que aflige a Apelada e o acidente automobilístico que a afetou. Passo a expor as razões pelas quais assim compreendo.

Em primeiro lugar, destaco o hiato temporal existente entre a data em que ocorreu o acidente e as datas em que foram confeccionados o boletim de ocorrência e o boletim médico. Enquanto que o sinistro aconteceu no dia 09 de janeiro de 2006, os referidos documentos foram

expedidos quase 2 (dois) anos depois, em 23 e 14 de novembro de 2007, respectivamente.

(9)

Noutro ponto, realço a divergência de informações contida em cada um dos aludidos

documentos. O boletim de ocorrência, lavrado consoante declarações prestadas pela própria Apelada, dá conta de que o acidente causou escoriações pelo corpo da vítima e TCE. Em sentido diverso, o boletim médico atesta que em virtude do acidente a Apelada apresenta o seguinte quadro clínico: cicatrizes faciais, secundárias e fratura molar bilateral, sem fazer qualquer menção a ocorrência de traumatismo craniano. Ora, é despiciendo afirmar que a ratio de a lei exigir a comprovação da ocorrência do acidente e do dano é exatamente a de

assegurar o pagamento de indenização apenas nos casos em que o nexo de causalidade resta demonstrado. Dessa forma, previu expressamente, a lei, alternativas para que a parte

requerente, normalmente hipossuficiente, apresente documentos compatíveis com a sua pretensão, conforme art.5º, § 4º, da Lei nº 6.194/74, com a redação alterada pela Lei nº 8.441/92[2]. E é inequívoco que a relação de causa e efeito é tão melhor evidenciada quando os documentos relativos à comprovação do acidente e do dano são elaborados ao tempo do sinistro. Porque se assim não é feito, as marcas, os traços, enfim, os detalhes que cercam o acidente de trânsito podem acabar por ser apagados. Caso em que fica impossível se estabelecer o nexo de causalidade.

É o que sucede no caso em exame. O laudo médico foi confeccionado quase dois 2 (dois) anos depois de ocorrido o sinistro. Talvez por isso, a conclusão que dele consta discrepa das

informações contidas no boletim de ocorrência, lavrado em conformidade com o que fora afirmado pela Apelada. Sendo assim, é de se reconhecer que os elementos constantes dos autos são imprestáveis a incutir certeza quanto ao nexo de causalidade supostamente existente entre o acidente e o dano. A propósito, transcrevo o acórdão assim ementado:

"SEGURO DPVAT. ACIDENTE SUPOSTAMENTE OCORRIDO NO ANO DE 1999. REGISTRO DE OCORRÊNCIA EFETUADO APENAS NO ANO DE 2007. LAUDO MÉDICO TAMBÉM DO ANO DE 2007. FALTA DE NEXO DE CAUSALIDADE A AUTORIZAR O ACOLHIMENTO DO PEDIDO. DÚVIDA QUANTO À PRÓPRIA OCORRÊNCIA DO ACIDENTE. DERAM

PROVIMENTO AO RECURSO."[3]

Ao assim conceber, não perco de vista a função social que o seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículo automotor encerra, consoante aqui já expendido. Até por esse motivo seria mais cômodo para o julgador deferir a pretensão indenizatória, mesmo nos casos em que paire dúvidas quanto ao nexo de causalidade entre o acidente e o dano. Afinal, é iniludível que na relação jurídica estabelecida entre a seguradora e a vítima do sinistro esta última é a parte mais fraca, hipossuficiente, para melhor definir.

(10)

Entretanto, há de se ter em vista a origem dos recursos que são destinados ao pagamento das indenizações. Como se deve saber, o valor total arrecadado mediante o pagamento do prêmio (realizado por todos aqueles que são proprietários de automóveis) é partilhado entre o Fundo Nacional de Saúde (que encampa o SUS), o Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN e as companhias seguradoras. Desse total, 50% (cinqüenta por cento) é destinado às

companhias seguradoras e utilizado para pagamento das indenizações do seguro DPVAT. Mas mesmo dentro desse percentual, uma outra fatia ainda é destinada a entidades públicas, como, por exemplo, a SUSEP, nos termos do art. 4.º da Resolução 174/2007 do CNSP.

Portanto, à medida que se paga uma determinada indenização de seguro DPVAT, diminui-se o valor a ser repassado a entidades públicas, de que é exemplo a Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, que tem natureza jurídica de autarquia federal. Por isso, o pedido de pagamento de indenização merece maior atenção do Poder Judiciário, o qual não pode avalizá-lo quando indemonstrado o nexo de causalidade entre o acidente e as lesões.

Por tudo isso é que concluo pela necessidade de reforma da r. sentença proferida pelo Juízo da 2.ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco.

Ante o exposto, dou provimento à apelação e, via de conseqüência, condeno a Apelado ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, estes últimos no mesmo patamar fixado na sentença reformada (10% dez por cento) sobre o valor atribuído à causa (art. 20, § 4.º, CPC), mas cuja exigibilidade fica suspensa em virtude de a referida parte ser beneficiária da assistência judiciária gratuita (fl. 14).

É como voto.

decisão

Conforme consta da Certidão de Julgamento, a decisão foi a seguinte:

Decide a Câmara Cível, por maioria, dar provimento à Apelação Cível. Divergente o

Desembargador Pedro Ranzi, que negou provimento ao Recurso. Julgamento presidido pela

(11)

Desembargadora Miracele Lopes.

Participaram do julgamento, além da Presidente, os Desembargadores Adair Longuini, Relator e Pedro Ranzi, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, convocado para integrar "quorum".

Ausente, justificadamente, o Desembargador Samoel Evangelista.

Belª. Valéria Helena Castro Fernandes de Almeida Silva

Secretária

[1] Seguro DPVAT, 3. ed., Campinas, Editora Servanda, 2008.

[2] Art. 5º...

§ 4º Havendo dúvida quanto ao nexo de causa e efeito entre o acidente e as lesões, em caso de despesas médicas suplementares e invalidez permanente, poderá ser acrescentado ao boletim de atendimento hospitalar, relatório de internamento ou tratamento, se houver, fornecido pela rede hospitalar e previdenciária, mediante pedido verbal ou escrito, pelos interessados, em formulário próprio da entidade fornecedora.

[3] Primeira Turma Recursal Cível do TJRS; Recurso inominado n.º 71001594589; Rel. Heleno Tregnago Saraiva, julgado em 24/04/2008.

Referências

Documentos relacionados

Mary está confinada em um quarto preto-e-branco, é educada por meio de livros preto-e-brancos e por conferências transmitidas em uma televisão preto-e-

- Cuando haya acabado de planchar, cuando limpie el aparato, cuando llene o vacíe el depósito del agua o cuando deje la plancha aunque sólo sea durante un momento, ajuste el

Cada descritor, de forma isolada, apresenta as suas habilidades e necessidades, contudo, vê-se a efetivação da leitura como um processo, principalmente, a partir do momento em que

CONDÔMINO COM COMPORTAMENTO CONSIDERADO ANTI-SOCIAL - PRETENSÃO DE SUA EXCLUSÃO DA COMUNIDADE CONDOMINIAL – SANÇÃO NÃO PREVISTA EM LEI - APLICAÇÃO DE MULTA PELO

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e desta Corte é no sentido de que nas relações existentes entre o titular do cartão de crédito e a

No caso em apreço, não há falar em dano a honra subjetiva da recorrente, pois o não recebimento do valor devido a título de danos morais, não causou nenhuma humilhação a

LIMA CLUB K TOM BACK FLANNY JOVERCY DRUMOND ALLONE ESPAÇO D ARESTTA Bem-Vinda DOCES LEMBRANÇAS BABITA..

A Conselheira Celma Azeredo solicita que seja feita consulta ao Conselho Federal de Farmácia para saber se houve uma nova leitura do regulamento do fundo de assistência,