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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Apelação Cível nº 2008.001.11091

Apelante: CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO PARTHENON

Apelado: ALVARO THADEU ARAUJO MAIA DE CARVALHO Relator: DES. EDSON VASCONCELOS

ACÓRDÃO

CONDÔMINO COM COMPORTAMENTO CONSIDERADO ANTI-SOCIAL - PRETENSÃO DE SUA EXCLUSÃO DA COMUNIDADE CONDOMINIAL – SANÇÃO NÃO PREVISTA EM LEI - APLICAÇÃO DE MULTA PELO PRÓPRIO CONDOMÍNIO – FALTA DE NECESSIDADE DE SUPLÊNCIA JUDICIAL. O ordenamento jurídico pátrio não prevê a sanção de exclusão do condômino de sua unidade residencial, ainda que pratique, reiteradamente, atos denominados pela lei como anti-sociais. Inexistência de lacuna legislativa na hipótese, eis que o Código Civil prevê sanção de multa para o condômino que apresente incompatibilidade de convivência com os demais moradores.

Impossibilidade de exclusão do condômino pela via judicial. Afasta-se qualquer argumentação no sentido de que o magistrado, à luz do princípio da função social, por si só, tenha o poder de mitigar o direito fundamental à moradia resguardado na Constituição Federal e criar sanção diversa da eleita como a ideal pelos “representantes do povo”, transmudando nosso “Estado Constitucional de Direito” em um “Estado Judicial de Direito”. A multa pode ser aplicada pela Assembléia Condominial sem a necessidade de tutela

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jurisdicional, não sendo demonstrado no processo qualquer fato que impeça a deliberação pelo referido órgão em tal sentido. Improvimento do recurso.

Vistos, relatados e discutidos estes autos, na apelação cível em que é apelante CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO PARTHENON, sendo apelado ALVARO THADEU ARAÚJO MAIA DE CARVALHO,

ACORDAM os Desembargadores que participam da sessão da Décima Sétima Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.

Rio de Janeiro,

DES. EDSON VASCONCELOS RELATOR

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RELATÓRIO

CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO PARTHENON ajuizou ação, pelo procedimento ordinário, em face de ALVARO THADEU ARAUJO MAIA DE CARVALHO com vistas a afastá-lo, em definitivo, das dependências do condomínio, ao argumento de conduta incompatível com as boas normas de convivência comunitária.

A sentença julgou extinto o processo sem julgamento do mérito sustentando ser juridicamente impossível o pedido autoral. Carreou ao autor o pagamento das custas e honorários advocatícios no percentual de 10% do valor da causa. (fls.98/99).

Apelação da autora sustentando a prática de crimes contra a comunidade condominial. Alega ser possível tolher o direito de propriedade do réu, eis que seu comportamento extrapola o anti-social e beira o criminoso. Assevera que não é função do magistrado apenas identificar artigos, mas sim interpretar o direito. Afirma incompatibilidade da sentença com o princípio da função social da propriedade.

Esclarece existência de cerceamento de defesa. Aduz que não foi apreciado pelo juízo o pedido alternativo consistente na aplicação de multa (fls.101/105).

Contra-razões prestigiando a sentença apelada. No mais requer a condenação do recorrente nos ônus sucumbenciais e honorários advocatícios. (fls. 110/113).

É o relatório.

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VOTO

Pretende o recorrente alijar condômino do convívio comunitário, ao argumento de estar o mesmo praticando reiteradamente conduta nociva ao demais moradores.

Não merece prosperar a irresignação recursal, pois o ordenamento jurídico pátrio não prevê a sanção de exclusão do condômino de sua unidade residencial, ainda que pratique atos denominados pela lei como anti-sociais.

Insta ressaltar, que não existe lacuna legislativa na hipótese, pois a questão se encontra disciplinada no artigo 1337 do Código Civil:

“Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem.

Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento anti-social, gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembléia.( grifo nosso)

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Da simples leitura do referido dispositivo legal, constata-se que o legislador estabeleceu apenas a sanção de multa para condôminos que tenham problemas de convivência com os demais moradores de condomínio edilício.

Nesse diapasão, não obstante a existência de juristas que defendem a possibilidade de exclusão judicial do condômino anti-social1, bem de ver que tal entendimento atenta contra o princípio da legalidade, pois não se pode interferir na esfera jurídica de outrem sem expressa autorização legal.

Assim, afasta-se qualquer argumentação no sentido de que o magistrado, à luz do princípio da função social, por si só, tenha o poder de mitigar o direito fundamental à moradia resguardado em nossa Constituição Federal para, assim, criar sanção diversa da eleita como a ideal pelos “representantes do povo”, transmudando nosso “Estado Constitucional de Direito” em um “Estado Judicial de Direito”.2

Neste passo, traz-se à colação, a doutrina de Gilmar Ferreira Mendes,3:

“Aplicado ao pé da letra nos domínios da hermenêutica jurídica, esse cânone impediria que os aplicadores do direito atribuíssem às normas sentido estranho, alheio ou diverso do que nelas se contém, pois se o fizessem estariam a criar, ainda que por via interpretativa, preceitos outros, de todos distintos daquele que deveriam simplesmente interpretar.

1 NELSON ROSENVALD & CRISTIANO CHAVES DE FARIAS. Direitos Reais, editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 3. ed. p.532; AMÉRICO ISIDORO ANGÉLICO, RT 17/99.

2 GILMAR FERREIRA MENDES [et alii], Direito Constitucional, Editora Saraiva , São Paulo, 2. ed, p.92.

3 Id., loc. cit.

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Como essa criativa postura hermenêutica, por outro lado, implicaria eliminar o dualismo sujeito/objeto e, conseqüentemente, o próprio conhecimento enquanto correlação ontognosiológica, não se afigura excessivo dizermos - pelo menos de um ponto de vista epistemológico e à luz desse cânone interpretativo - que a norma criada pelo aplicador do direito substituiria a que fora objeto da interpretação, e o juiz que a editasse mataria o legislador.

Afinal de contas, uma coisa é atribuirem-se, criativamente significados ou sentido às regras de direito, e outra bem distinta, é desconstruí-las, mas, ainda assim, dizer que isso ainda é interpretação.

Em perspectiva jurídico-política, ademais essa mesma criatividade constituiria ofensa ao princípio da separação dos poderes, segundo o qual, no Estado do Direito, a criação da Lei, ou de normas com força de lei – como expressão da vontade geral -, é atividade própria dos órgãos de representação política, a tanto legitimado em eleições livres e periódicas.”(grifo nosso)

Assim sendo, agiu com acerto a julgadora monocrática ao entender juridicamente impossível o atendimento ao pleito autoral.

No mais, é possível afirmar que a falta de análise do pleito autoral alternativo não tem o condão de modificar o provimento jurisdicional prolatado, pois a solução seria mesma, eis que falta interesse de agir ao autor, na modalidade interesse- necessidade, haja vista que a multa pode ser aplicada pela Assembléia Condominial sem a necessidade de tutela jurisdicional, não sendo demonstrado nos autos qualquer fato que impeça a deliberação do referido órgão em tal sentido.

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Com idêntica diretriz, já se manifestou este Tribunal de Justiça, conforme se verifica da seguinte ementa de acórdão:

“Responsabilidade Civil. Ação movida pelo Condomínio em face de morador que mantém comportamento anti-social, fazendo mau uso de sua unidade autônoma. Sentença que extingue o feito sem julgamento do mérito quanto ao pedido de aplicação da multa prevista no artigo 1337, § único do Código Civil de 2002 face à inexistência de interesse de agir. A multa pelo mau comportamento do condômino prevista no artigo 1337, § único do novo Código Civil configura-se em autêntico instrumento da autotutela de defesa do bom uso da propriedade, devendo ser aplicada pelo próprio condomínio administrativamente, tendo a eficácia condicionada à ulterior decisão assemblear, razão pela qual não se justifica a atuação jurisdicional. Condomínio. Danos Morais por mau comportamento do condômino. Impossibilidade. Embora reconhecida a conduta anti-social do condômino, não há reparação moral a ser indenizada por ser o Condomínio ente formal, faltando-lhe, portanto, personalidade, o que impossibilita o reconhecimento dos direitos a ela inerentes. Impossibilidade de cobrança pelo condomínio de honorários advocatícios referentes ações contra ela ajuizadas pelo Réu perante o Juizado Especial, porque, por força do disposto no art. 55 da Lei 9.099/95, somente tem lugar a condenação em honorários de advogado no Juízo Especial em segundo grau, não podendo tal norma ser contornada pela postulação de tais honorários perante o Juízo Comum.

Conhecimento e desprovimento da Apelação. (DES. MARIO ROBERT

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MANNHEIMER - APELACAO CIVEL Nº 2005.001.06402 Julgamento:

06/12/2005 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL)(grifo nosso)

Outrossim, afasta-se o pleito do apelado, eis que já foi fixado corretamente, pelo provimento jurisdicional vergastado, o ônus sucumbencial.

À conta de tais fundamentos, o voto é no sentido de negar provimento ao recurso.

Rio de Janeiro,

Des. EDSON VASCONCELOS Relator

Referências

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