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TRANSFERÊNCIA DE LOCAL DE TRABALHO RESOLUÇÃO

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 15/10.0TTSTS.P1

Relator: PAULA LEAL DE CARVALHO Sessão: 26 Março 2012

Número: RP2012032615/10.0TTSTS.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: PROVIDO PARCIALMENTE

TRANSFERÊNCIA DE LOCAL DE TRABALHO RESOLUÇÃO

CONTRATO DE TRABALHO

Sumário

I - O CT/2009 tutela o direito do trabalhador à prestação de trabalho no local convencionado nos termos previstos nos arts. 129º, al. f), 193º e 194º.

II - A transferência definitiva do local de trabalho, desde que verificada uma das situações previstas no art. 194º, nº 1, confere ao trabalhador o direito de resolver o contrato de trabalho com direito à indemnização prevista no art.

366º se essa transferência lhe causar prejuízo sério.

III - No caso, tal prejuízo sério ocorre tendo em conta que a empregadora transferiu definitivamente o trabalhador da Trofa para Alenquer quando este prestava o seu trabalho, há cerca de 15 anos, naquele local, perto de casa própria onde residia com sua mulher face à distância entre as duas localidades e acarretando-lhe tal transferência um acréscimo de custos, não apenas nas viagens que viesse a efectuar entre as duas localidades, mas também na

manutenção de duas residências, tanto mais não tendo a empregadora dito-lhe (ou, pelo menos, disso não ter feito prova), que lhe asseguraria o pagamento do acréscimo de custos, e quais, da mudança de residência.

Texto Integral

Procº nº 15/10.0TTSTS.P1 Apelação

Relator: Paula Leal de Carvalho (Reg. nº 510) Adjuntos: Des. António José Ramos

Des. Eduardo Petersen Silva

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Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação do Porto:

I. Relatório:

B…, aos 12.01.2010[1] intentou ação declarativa de condenação, com processo comum, contrato de trabalho contra “C…, Lda.”, pedindo a condenação desta da ré a pagar-lhe o montante global de €23.430,45,

acrescido dos juros de mora à taxa legal, desde a data da citação até efetivo e integral pagamento.

Alegou, para tanto, e em síntese, que:

Foi admitido ao serviço da ré, em 01/09/1994, como motorista de pesados de transportes de matérias perigosas.

Por carta registada com aviso de receção, datada de 20/05/2009, resolveu unilateralmente o seu contrato de trabalho, com efeitos para a data da sua receção, alegando justa causa para o efeito, reclamando o pagamento da quantia de €13.663,78 a título de indemnização devida por essa resolução.

Efetuava, em média, duas horas de trabalho suplementar por dia, não lhe havendo sido paga a totalidade das quantias que, a tal título, seriam devidas e reclamando, relativamente aos anos de 2005 a 2009 o montante global de

€7.740,88, já efetuado o desconto das quantias que, a esse título, lhe foram pagas pela Ré.

Reclama ainda as férias vencidas em 01.01.2009, e respetivo subsídio, bem como os proporcionais de férias e de subsídios de férias e de Natal, no montante global de €2.025,79.

A ré apresentou contestação-reconvenção, nos termos constantes dos autos, pugnando pela improcedência da ação e pela procedência da reconvenção, pedindo, consequentemente, a condenação do autor a pagar-lhe o valor de 1.256,44 euros, a título de indemnização pela falta de pré-aviso.

Em abono da sua defesa alega, em síntese, que por causa da estrutura salarial que vigorava na empresa ré, desde o início do contrato até à sua cessação, ao autor sempre foram pagas todas as horas de trabalho suplementar que aquele prestou, o que era feito, em duas rubricas, a de horas extra (que englobavam as horas que o autor poderia legalmente prestar) e a ajudas de custo (onde lhe eram pagas todas as horas efetivamente prestadas).

Alega ainda que não se encontram preenchidos os requisitos que tornam legalmente admissível a rescisão do contrato com justa causa.

O autor apresentou resposta à contestação, nos termos constantes dos autos, concluindo pela sua improcedência, dado que, reitera, a ré não lhe pagou as

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quantias reclamadas, sendo que as ajudas de custo que recebeu a elas tinha direito, uma vez que a ré não pagava, como devia, as refeições à fatura, não se destinando, pois, aquelas ajudas de custo ao pagamento de qualquer trabalho suplementar, conforme, aliás, resulta, desde logo, dos próprios recibos por aquela emitidos.

Na sequência do (oportuno) despacho de aperfeiçoamento de fls. 194, veio a ré esclarecer que não aceita que o A. tenha prestado o número de horas de trabalho suplementar que indica na p.i.

Selecionada a matéria de facto (assente e base instrutória), realizada a audiência de discussão e julgamento, sem gravação da prova pessoal nela prestada, e decidida a matéria de facto, foi proferida sentença julgando

parcialmente procedente a ação e totalmente improcedente a reconvenção, e, consequentemente:

A) Condenando-se a ré a pagar ao autor a quantia global de 18.982,12 euros (9.266,24 euros, a título de indemnização por antiguidade, 7.740,88 euros, a título de trabalho suplementar, e 1.975,00 euros a título de créditos salariais), acrescida de juros de mora, à taxa legal, até efetivo e integral pagamento, sendo os mesmos devidos desde 29/05/2009, no que se refere ao trabalho suplementar e demais créditos e desde a citação quanto à

indemnização devida por antiguidade;

B) Absolvendo-se o autor do pedido reconvencional formulado nos autos.

Inconformada, veio a Ré recorrer, formulando, a final das suas alegações, as seguintes conclusões:

a) A sentença sob recurso julgou incorretamente os pontos 18 e 19 da matéria de facto dada como provada.

b) A recorrente, enquanto entidade patronal, não pode ser condenada em termos médios ou indiciários do número de horas de trabalho suplementar.

c) Dos autos não resulta provado o horário de trabalho do recorrido nem o horário em concreto em que prestou trabalho suplementar.

d) Nos termos do Art.º 342, n.º 1 do C.C, competia ao recorrido fazer prova dos elementos integradores da noção de trabalho suplementar.

e) O tribunal a quo julgou pois incorretamente a matéria de facto constante dos aludidos pontos 18 e 19.

f) Os documentos juntos aos autos e a falta de alegação do recorrido, bem como da omissão dos factos provados dos elementos integradores do trabalho suplementar, impunham decisão diversa sobre esses pontos da matéria de facto impugnados.

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g) O tribunal a quo julgou também incorretamente a matéria de facto relativa aos pagamento que a recorrente efetuou ao recorrido a titulo de trabalho suplementar.

h) Para além, dos valores constantes dos pontos 19 e 20 da matéria de facto provada, o tribunal a quo deveria também considerar os valores pagos a título de ajudas de custo.

i) Quer a prova testemunhal, em que a sentença alicerça a sua fundamentação de facto, quer os recibos juntos aos autos, implicavam uma decisão de facto diversa da recorrida.

j) Aliás, o próprio tribunal recorrido dá como provado que, “pelo menos”, foram pagas a título de retribuição de trabalho suplementar as quantias descritas nos recibos de vencimento, sob a rubrica de horas extra.

k) Se é “pelo menos” é porque o tribunal criou a convicção que outros valores pagos ao recorrido se destinavam à compensação do trabalho suplementar.

l) Ao decidir como decidiu o tribunal a quo violou o disposto no Art.º 289, n.º 1, do C.C, ao retirar o efeito compensatório das quantias pagas ao autor ao longo da relação laboral.

m) Os factos dados como provados nos pontos 14, 15 e 16 não constituem justa causa para resolução do contrato de trabalho.

n) A entidade patronal pode alterar o local de trabalho do recorrido, visto que não consta dos autos qualquer clausula proibitiva desse direito, desde que, nos termos do n.º4, do Art.º 194, do C.T, suporte todas as despesas que essa mudança implique.

o) Da matéria de facto não resulta que o recorrido alguma vez se tivesse

apresentado no novo local de trabalho ou que a recorrente se tivesse recusado a custear as despesas a que se encontrava obrigada.

p) É certo que o trabalhador, ora recorrido, pode invocar prejuízo sério para obstar a essa transferência e, consequentemente, resolver o contrato de trabalho com direito a indemnização.

q) De todo o modo os factos provados nos pontos 15 e 16 que serviram para fundamentar essa resolução, não se enquadram na noção de prejuízo sério.

r) Consequentemente, o recorrido não tinha direito à indemnização prevista no Art.º 366º, do C.T, como foi decidido pelo tribunal recorrido, mas antes estaria obrigado a indemnizar a entidade patronal no pedido reconvencional formulado.

s) Ao decidir como decidiu o tribunal a quo violou o disposto nos Art.sº 194º, n.º 4 e 5 e 394º, n.º 1 e 2 alínea b), e ainda o disposto nos Art.ºs 366 e 399, todos do C.T.

Nestes termos, e nos melhores de Direito que V. Exas. doutamente suprirão, deve o presente recurso ser julgado procedente e em consequência

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substituída a sentença sob recurso nos pontos impugnados.

O Recorrido contra-alegou, pugnando pelo não provimento do recurso.

O Exmº Sr. Procurador Geral Adjunto emitiu douto parecer no sentido do não provimento do recurso[2], sobre o qual se pronunciou a Recorrente, dele discordando.

Colheram-se os vistos legais.

*

II. Matéria de Facto dada como provada na 1ª instância

1. A ré dedica-se aos transportes públicos de mercadorias em cisternas.

2. O autor foi admitido ao seu serviço em 01/09/1994, para desempenhar as funções de motorista de pesados de transporte de matérias perigosas,

possuindo o autor a carta ADR e recebendo o subsídio de matérias perigosas.

3. Trabalhando sob as ordens, direção e fiscalização da ré, o autor desempenhava a sua função de motorista dentro do território nacional, fazendo também por vezes viagens a Espanha, sendo que o veículo que conduzia se encontrava licenciado para a C.E.

4. À relação laboral estabelecida entre autor e ré aplica-se o contrato coletivo de trabalho vertical convencionado entre a ANTRAM e a FESTRU, publicado no BTE, 1ª Série, nº 9 de 08.03.1980, com as revisões publicadas no mesmo boletim, 1ª Série nº 16, de 29.04.1982 e nº 18 de 15.05.1983, aplicável às entidades patronais do mesmo setor económico e a todos os trabalhadores, mesmo que não inscritos naqueles sindicatos, por força da Portaria de Extensão publicada no BTE, 1ª Série, nº30, de 15.08.1980 e nº33 de 08.09.1982.

5. As retribuições a que o autor tinha direito, quer fixadas pelo CCTV, quer fixadas pela própria ré quando superior, são as constantes do quadro seguinte:

Desde início até abril de 1995

Retribuição base (fixada pela R.) ---86.400$00 (430,96€) Desde maio de 1995 até abril de 1996

Retribuição base (fixada pela R.) ---89.856$00 (448,19€) Desde maio de 1996 até março de 1997

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Retribuição base (fixada pela R.) ---94.850$00 (473,10€) Desde abril de 1997 até agosto de 1997

Retribuição base (fixada pela R.) ---98.300$00 (490,31€) Desde setembro de 1997 até março de 1998

Retribuição base (fixada pela R.) ---98.300$00 (490,31€) 1ª Diuturnidade (fixada pela R.) --- 2.600$00 (12,96€) Desde abril de 1998 até agosto de 1998

Retribuição base (fixada pela R.) ---101.250$00 (505,03€) 1ª Diuturnidade (fixada pela R.) ---2.680$00 (13,36€) Desde setembro de 1998 até abril de 1999

Retribuição base (fixada pela R.) ---101.250$00 (505,03€) 1ª Diuturnidade (fixada pela R.) --- 2.680$00 (13,36€) Desde maio de 1999 até abril de 2000

Retribuição base (fixada pela R.) ---104.450$00 (520,99€) 1ª Diuturnidade (fixada pela R.) --- 2.755$00 (13,74€) Desde maio de 2000 até agosto de 2000

Retribuição base (fixada pela R.) ---107.300$00 (535,21€) 1ª Diuturnidade (fixada pela R.) --- 2.830$00 (14,11€) Desde setembro de 2000 até abril de 2001

Retribuição base (fixada pela R.) ---107.300$00 (535,21€) 1ª e 2ª Diuturnidades (fixadas pela R.) --- 5.660$00 (28,23€) Desde maio de 2001 até agosto de 2003

Retribuição base (fixada pela R.) ---110.520$00 (551,27€) 1ª e 2ª Diuturnidades (fixadas pela R.) ---5.830$00 (29,08€) Desde setembro de 2003 até novembro de 2006

Retribuição base (fixada pela R.) --- 551,27€

1ª, 2ª e 3ª Diuturnidades (fixadas pela R.) --- 43,62€

Desde dezembro de 2006 até abril de 2007

Retribuição base (fixada pela R.) --- 551,27€

1ª, 2ª, 3ª e 4ª Diuturnidade (fixada pela R.) --- 58,24€

Desde maio de 2007 até final

Retribuição base (fixada pela R.) --- 568,22€

1ª, 2ª, 3ª e 4ª Diuturnidade (fixada pela R.) --- 60,00€

6. Além destas remunerações de montante mensal fixo, a ré passou a pagar ao autor, a partir de setembro de 1998, um subsídio de risco, cujo montante era variável de mês para mês, conforme os recibos (Doc. nº 55 a 95).

7. O autor trabalhou para a ré até ao dia 20/05/2009, data em que fez cessar o contrato de trabalho, rescindindo-o com justa causa, através de carta

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registada com aviso de receção (Doc. nº1), com os fundamentos seguintes:

“Em virtude de a firma o ter informado, através do seu encarregado, Sr. D…, de que a partir do momento em que me apresentasse ao trabalho após a alta – sendo que o autor esteve de baixa entre 21.04.09 e 17.05.09 (Doc. nº2 e 2-A) - , teria que se apresentar nas instalações da firma em Alenquer, onde ficaria a trabalhar a título definitivo, no caso de haver trabalho. E que caso não

houvesse trabalho ficaria nas instalações da firma a cumprir o horário de trabalho. Ora uma vez que lhe era impossível sair das instalações da empresa na Trofa, onde trabalhava há já quase 15 anos, perto da casa onde vive com a sua mulher e em casa própria, resolveu o autor o contrato de trabalho que o ligava à empresa. A impossibilidade de ir para as instalações da empresa em Alenquer era derivada não só ao custo das viagens, como do facto de ser insuportável para o autor estar a sustentar duas casas - uma em Santo Tirso onde a sua mulher passaria a viver, e outra em Alenquer onde o mesmo teria que passar a viver. Por outro lado, e de qualquer maneira, ser-lhe-ia impossível afastar-se de junto da sua mulher em Santo Tirso, dado ser portador de

Síndrome de Apneia do Sono Grave e precisar de ajuda da mesma para fazer a terapia que lhe havia sido aconselhada, conforme fotocópia do relatório

médico que juntou.

8. A ré não deu a gozar ao autor as férias vencidas a 01.01.2009, nem lhe pagou o respetivo subsídio, devendo-lhe a esse título: 2 x (568,22 + 60,00) = 1.256,44 €

9. Na sequência da receção da carta do autor, datada de 29/05/2009, a ré, mediante carta registada com aviso de receção, respondeu à mesma com carta junta e que se dá por integralmente reproduzida (doc. nº1)

10. Na parte final de todos os recibos que o autor assinou, aquando do recebimento da sua retribuição mensal, consta o seguinte:

"B… --- recebi o valor de --, correspondente a todas as remunerações que me são devidas até esta data, exceto horas extras, ajudas de custo, subsídios, prémios, cláusula 74º e ajuda de custo eventualmente devidas pelo serviço prestado durante o mês de ---.

11. A ré é uma empresa de transportes rodoviários de matérias perigosas, pelo que todos os seus motoristas praticam o horário móvel, atendendo à

especificidade da atividade a que se dedica e da exigência do cumprimento de prazos por parte dos seus clientes.

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12. Sucede, com frequência, que é necessário prolongar o horário de trabalho dos motoristas, para além do período normal de oito horas de trabalho efetivo por dia, para satisfazer as necessidades dos clientes da ré.

13. A prestação de trabalho suplementar justifica-se quase diariamente,

atendendo à especificidade da ré de transportadora de matérias perigosas, por estrada, e ao facto de satisfazer, atempadamente, as necessidades dos seus clientes, pelo que se durante o horário normal a viatura não tiver chegado ao seu destino, não poderá o motorista que a conduz, deixá-la na via pública abandonada, pelo que terá de a conduzir ao destino que nesse dia está programado.

14. A ré informou o autor, através do seu encarregado, Sr. D…, de que a partir do momento em que se apresentasse ao trabalho após a alta – sendo que

esteve de baixa entre 21/04/09 e 17/05/09 -, teria que se apresentar nas instalações da firma em Alenquer, onde ficaria a trabalhar, no caso de haver trabalho.

15. Era impossível ao autor sair das instalações da empresa na Trofa, onde trabalhava há já quase 15 anos, perto da casa onde vivia com a sua mulher e em casa própria, pelo que o mesmo resolveu o contrato de trabalho que o ligava à empresa.

16. A impossibilidade de ir para as instalações da empresa em Alenquer era derivada não só ao custo das viagens, como do facto de ser insuportável para o autor sustentar duas casas - uma em Santo Tirso, onde a sua mulher passaria a viver, e outra em Alenquer, onde o mesmo teria que passar a viver.

17. A ré deve ao autor os proporcionais referentes ao trabalho prestado durante o ano da cessação do contrato (2009), a título de férias, subsídio de férias e subsídio de Natal, considerando que o mesmo esteve de baixa entre 21/04/09 e 17/05/09, pelo menos, a quantia de 718,56 euros.

18. O autor fazia uma média de duas horas suplementares por dia.

19. Durante os últimos cinco anos em que trabalhou para a ré, o autor terá prestado o seguinte trabalho suplementar:

A - Ano de 2005

Durante os 11 meses em que trabalhou, o autor terá prestado 484 horas de

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trabalho suplementar (11 meses x 22 dias x 2 hora/dia).

Durante esse ano, a ré pagou ao autor, a esse título, pelo menos, a quantia de 1.076,46€.

B - Ano de 2006

Durante os 11 meses em que trabalhou, o autor terá prestado 484 horas de trabalho suplementar (11 meses x 22 dias x 2 hora/dia).

Durante esse ano, a ré pagou ao autor, a esse título, pelo menos, a quantia de 1.122,27€.

C - Ano de 2007

Durante os 11 meses em que trabalhou, o autor terá prestado 484 horas de trabalho suplementar (11 meses x 22 dias x 2 hora/dia).

Durante esse ano, a ré pagou ao autor, a esse título, pelo menos, a quantia de 1.217,72€.

D - Ano de 2008

Durante os 11 meses em que trabalhou, o autor terá prestado 484 horas de trabalho suplementar (11 meses x 22 dias x 2 hora/dia).

Durante esse ano, a ré pagou ao autor, a esse título, pelo menos, a quantia de 1.217,72€.

D - Ano de 2009

Durante os 5 meses em que trabalhou, o autor terá prestado 220 horas de trabalho suplementar (5 meses x 22 dias x 2 hora/dia).

Durante esse ano, a ré pagou ao autor, a esse título, pelo menos, a quantia de 1.295,69€.

20. O trabalho suplementar realizado pelo autor ao serviço da ré era-lhe mensalmente pago, pelo menos, sob a rubrica de "horas extras".

21. O trabalho suplementar prestado durante um mês só é processado para efeitos do seu pagamento, no mês seguinte ao da sua prestação.

22. O autor, enquanto se manteve ao serviço, nunca reclamou junto da ré qualquer quantia relativa a trabalho suplementar que tenha realizado e que não lhe tenha sido pago o respetivo valor.

23. Logo após a cessação do contrato de trabalho com a ré, o autor passou a prestar os seus serviços como motorista, em outra empresa de transportes.

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*

O nº 4 do elenco dos factos provados, só por si e tal como se encontra

redigido, contém apenas matéria de direito, pelo que nos termos do disposto no art. 646º, nº 4, do CPC, deveria ser eliminada.

Verifica-se, porém, que o A. alegou, na petição inicial (art. 8º), o que consta desse nº 4, o que foi expressamente aceite pela Ré na contestação (art. 1º).

Assim, altera-se a redação do mencionado número, que passará a ter a seguinte redação:

«4. O A. e a Ré, na relação estabelecida entre ambos, aplicavam o contrato coletivo de trabalho vertical convencionado entre a ANTRAM e a FESTRU, publicado no BTE, 1ª Série, nº 9 de 08.03.1980, com as revisões publicadas no mesmo boletim, 1ª Série nº 16, de 29.04.1982 e nº 18 de 15.05.1983.»

*

O nº 5 dos factos provados, na parte em que se refere “As retribuições a que o autor tinha direito, quer fixadas pelo CCTV, (…)” consubstancia apenas

matéria de direito, pelo que, nos termos do citado art. 646º, nº 4, do CPC, deverá ser eliminada.

Assim, e porque desse número resulta assente, também, que as retribuições- base e as diuturnidades aí indicadas foram fixadas pela Ré, altera-se a redação do corpo do referido ponto 5, que passará a ter o seguinte teor:

«5. A Ré fixou ao A. as seguintes retribuições:

(…)».

*

A data – de 20.05.2009 – constante do nº 7 dos factos provados contém um lapso manifesto, pois que nele se refere que o A. trabalhou para a Ré até à

“data em que fez cessar o contrato de trabalho, rescindindo-o com justa causa, através de carta registada com aviso de receção (Doc. nº 1) (…)”, sendo que esse documento é o que consta de fls. 11 e dele resulta que o dia é, não o

“20”, mas sim o “29”, este o correspondente ao dia em que a dita carta se encontra datada. E também a Ré, na contestação, aceita que a carta se encontra datada de 29.05.2009. Aliás, que assim é, também resulta do nº 9 dos factos provados. Acresce que nesse ponto, a sentença recorrida,

transcrevendo embora (parte) do conteúdo da referida carta, não transcreve, contudo, o seu primeiro parágrafo, o que, agora, se fará.

Por outro lado, na parte em que se refere que o A. rescindiu o contrato de trabalho “com justa causa” é conclusiva, consubstanciando, aliás, matéria de direito, pelo que, nessa parte, não se pdoerá manter (art. 646º, nº 4, do CPC), devendo ser alterada para “(…) rescindindo-o com invocação de justa causa, (…)”.

Acresce que a identificação dos documentos juntos por referência ao “Doc. (…

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)”, não nos aprece ser a mais correta, devendo, antes, tal identificação, ter lugar por referência às fls. do processo.

Assim, altera-se o nº 7 dos factos provados, que passará a ter a seguinte redação:

«7. O autor trabalhou para a ré até ao dia 29/05/2009, data em que fez cessar o contrato de trabalho, rescindindo-o com invocação de justa causa, através de carta registada com aviso de receção que consta do documento que constitui fls. 11 dos autos, com os fundamentos seguintes: “Venho pela

presente e atento o disposto no artigo 194º, nº 1, al. b) e nº 5 da Lei 7/2009, de 7/02, resolver o meu contrato de trabalho com essa firma com o seguinte fundamento: (…)”», ao que se segue o restante teor da carta, já reproduzido no nº 7 dos factos provados.

*

No nº 8 dos factos provados, a parte em que se refere “devendo-lhe a esse título: 2 x (568,22 + 60,00) = 1.256,44 €” é conclusiva, pelo que, nos termos do art. 646º, nº 4, é eliminada.

*

No nº 9 dos factos provados, remete-se para a carta que remetida pela Ré ao A., aí identificada como “doc.1”, carta essa que corresponde ao documento de fls. 180, e cujo teor importa transcrever, uma vez que a 1ª instância o não fez.

Assim, altera-se o nº 9 dos factos provados, que passará a ter a seguinte redação:

“9. Na sequência da receção da carta do autor, datada de 29/05/2009, a ré, mediante carta registada com aviso de receção, respondeu à mesma com a carta que consta do documento que constitui fls. 180, na qual se refere o seguinte:

“(…)

Alenquer, 09 de junho de 2009

Assunto: Sua carta datada de 29 de maio de 2009 Exmº Senhor,

Damos como recebida a sua carta acima indicada.

Em resposta à mesma, vimos dizer o seguinte:

É totalmente falso que alguma vez o Sr. D… lhe tenha dito que seria transferido para Alenquer. E, muito menos, que seria transferido para Alenquer, a título definitivo.

O que o Sr. D… lhe transmitiu é que, no caso de haver necessidade de

desempenhar as suas funções de motorista, em outro local, dado que desde 01 de abril p.p. a empresa deixou de ter o contrato de transporte de Fuel e

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Asfalto onde normalmente trabalhava, seria deslocado, caso a caso e sempre em conformidade com o disposto no Contrato Coletivo de Trabalho.

Por isso, entendemos que a sua carta de 29/05/2009 é uma carta de pedido de demissão, sem qualquer fundamento justificativo e, até como uma forma de fazer cessar o contrato de trabalho, sem dar o pré-aviso de 2 meses.

Face ao exposto, vimos transmitir-lhe que estamos na disposição de lhe pagar aquilo a que tem direito, no pressuposto de que a rescisão do contrato só a si é imputável e sem qualquer razão justificativa,

(…)”.».

*

Em sede de impugnação da decisão da matéria de facto, a Recorrente

pretende que os nºs 18 e 19 sejam dados como não provados e, por outro lado, que, para além do que consta dos nºs 19 e 20 dos factos provados, seja dado como provado que os valores pagos sob a designação de “ajudas de custo” se destinavam ao pagamento do trabalho suplementar, questão que se passará a apreciar.

Quanto ao nº 18 dos factos provados, nele refere-se que “o autor fazia uma média de duas horas suplementares por dia”.

Tal “facto” afigura-se-nos conclusivo, sendo certo que dos factos provados não decorre nem os dias, nem os períodos de tempo, para além do período normal de trabalho diário de 8 horas, em que terá sido prestado o referido trabalho suplementar por forma a poder concluir-se no sentido de que, em média, seriam prestadas duas horas diárias de trabalho suplementar. E, assim sendo, deverá tal facto ter-se como não escrito, nos termos do art. 646º, nº 4, do CPC.

Quanto ao nº 19 dos factos provados, neles se refere que, nos anos aí mencionados, o A. “terá prestado” o número de horas nele mencionadas.

Ou se prova que o A. prestou efetivamente o referido número de horas, ou se prova que as não prestou ou, finalmente, não se prova nem uma coisa, nem outra.

O dizer-se que o A. “terá prestado” (que corresponde ao que havia sido alegado pelo A.) não permite concluir quer que as tenha efetivamente

prestado, quer que as não haja prestado. Tal formulação mais não significa do que “poderá” (seja com maior, ou menor probabilidade) ter prestado, o que consubstancia mera hipótese e não facto efetivamente provado. O Tribunal, porém, não pode julgar com juízos de probabilidade, mas sim de certeza.

Ora, assim sendo, impõe-se eliminar o referido nº 19, na parte em que se reporta ao número de “horas de trabalho suplementar (11 meses x 22 dias x 2 hora/dia)” que o “Autor terá prestado”, mantendo-se, porém, o demais que dele consta, ou seja, a parte relativa às quantias que, pelo menos, a ré, pagou

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ao A. a título de trabalho suplementar.

Se deveria ter sido dado como provado que os valores pagos sob a designação de “ajudas de custo” se destinavam ao pagamento do trabalho suplementar:

Nos termos do art. 712º, nº 1, do CPC “A decisão do tribunal de 1ª instância sobre a matéria de facto pode ser alterada pela Relação:

a) Se do processo constarem todos os elementos de prova que serviram de base à decisão sobre os pontos da matéria de facto em causa ou se, tendo ocorrido gravação dos depoimentos prestados, tiver sido impugnada, nos termos do artigo 690º-a, a decisão com base neles proferida;

b) Se os elementos fornecidos pelo processo impuserem decisão diversa, insuscetível de ser destruída por quaisquer outras provas;

c) Se o recorrente apresentar documento novo superveniente e que, por si só, seja suficiente para destruir a prova em que a decisão assentou.

Ora, no caso, na audiência de discussão e julgamento foi, como decorre da ata de fls. 433 a 436, produzida prova testemunhal que não foi gravada e com base na qual assentou a decisão da matéria de facto, mormente a questão supra referida, pelo que do processo não constam todos os elementos que serviram de base a essa decisão, não sendo ela, em consequência, sindicável por esta Relação.

Por outro lado, dos autos não consta qualquer documento que faça, com força probatória plena, prova de que as quantias pagas sob a designação de “ajudas de custo”, mormente as como tal referidas nos recibos de remunerações

juntos aos autos, se destinassem ao pagamento do trabalho suplementar efetuado pelo A., questão essa que foi apreciada, julgada e fundamentada na decisão da matéria de facto, que expressamente considerou não ter sido feita prova de tal facto.

Sustenta ainda a Recorrente, em abono da sua pretensão, que no referido nº 19 dos factos provados se refere que foram, “pelo menos”, pagas ao A. as quantias nele mencionadas para, daí, concluir que se assim é, é porque o tribunal criou a convicção que outros valores pagos ao A. se destinavam à compensação do trabalho suplementar.

Tal argumentação não tem qualquer fundamento.

O A. alegou que a ré lhe pagou determinados montantes a título de trabalho suplementar (os referidos nesse nº 19), ao que a ré contrapôs que, para além desses, ainda lhe pagou outros montantes. Não tendo a 1ª instância

considerado haver a Ré feito prova do pagamento que alegava, como aliás e de forma manifesta decorre da fundamentação da decisão da matéria de facto, é evidente que esta decisão, e bem, deu como provado que a Ré pagou ao A.,

(14)

pelo menos, as quantias confessadas por este. Assim, e quanto a este ponto, improcede a pretendida alteração da matéria de facto.

*

III. Do Direito

1. Nos termos do disposto nos artºs 684º, nº 3, e 685º-A, nº 1, do CPC (na redação introduzida pelo DL 303/2007, de 24.08), aplicáveis ex vi do disposto nos artºs 1º, nº 2, al. a), e 87º do CPT (na redação aprovada pelo DL 295/2009, de 13.10), as conclusões formuladas pelo recorrente delimitam o objeto do recurso, não sendo lícito ao tribunal ad quem conhecer de matérias nelas não incluídas, salvo as de conhecimento oficioso.

Daí que, e apreciada que já foi a pretendida impugnação da matéria de facto, sejam as seguintes as questões a apreciar:

- Do trabalho suplementar;

- Da (in)existência de justa causa de resolução do contrato de trabalho pelo A.

- Do pedido reconvencional.

2. Quanto trabalho suplementar

Tem esta questão por objeto a discordância da Ré quanto à sua condenação no pagamento da quantia de €7.740,88 relativa ao trabalho suplementar que se mencionava nos nºs 18 e 19 dos factos provados.

Perante a eliminação de tais pontos dos factos provados, impõe-se a revogação da decisão recorrida na medida em que condenou a Ré a pagar tal montante.

Não obstante, tal não significa que não deva a Ré ser condenada no

pagamento do trabalho suplementar, a liquidar em incidente de liquidação, nos termos dos arts. 661º, nº 2, e 378º, nº 2, do CPC.

Com efeito:

Dos nºs 12 e 13 dos factos provados, aliás alegados pela própria Ré, bem como do pagamento, por esta ao A., de quantias a título de retribuição por trabalho suplementar, decorre que o A. o prestava, o que, aliás, nem é posto em causa pela Ré, que apenas impugnava o número de horas alegado pelo A.

Como trabalho suplementar se entende não apenas o que é prestado fora do horário normal de trabalho, mas também aquele que excede o período máximo de trabalho diário. E, por outro lado, dúvidas não restam, também e face à referida factualidade, que o trabalho foi prestado, senão por expressa determinação da ré, pelo menos de de modo a não ser previsível a sua

oposição, tanto mais resultando da própria organização do trabalho pela ré, como resulta dos nºs 11, 12 e 13 dos factos provados. Ora, assim sendo e nos termos dos arts. 258º, nº 5, do CT/2003 e 268º, nº 2, do CT/2009, é o seu

(15)

pagamento exigivel, assim improcedendo a alegação da Recorrente de que tal trabalho não teria sido determinado.

Conquanto não tenha sido feita prova do número de horas efetivamente prestadas nos anos de 2005 a 2009, tendo sido feita prova da existência do direito, apenas não o tendo sido quanto à sua quantificação, a respetiva liquidação deverá ser, nos termos do disposto no art. 661º, nº 2 e 378º, nº 2, do CPC, relegada para incidente de liquidação.

A este propósito importa referir o seguinte:

Dispõe o citado art. 661º, nº 2, que “Se não houver elementos para fixar o objeto ou a quantidade, o tribunal condenará no que se vier a liquidar, sem prejuízo de condenação imediata na parte que já seja líquida.”.

A condenação em montante a liquidar posteriormente tem como pressuposto a prova da existência do direito, mas a impossibilidade, na audiência de

discussão e julgamento, de se apurar o objeto ou a quantidade do concretamente devido.

Não se desconhece a divergência jurisprudencial na interpretação do alcance do citado art. 661º, nº 2, adotando: uns, uma interpretação mais restritiva do preceito, segundo a qual ele reportar-se-á aos casos de formulação de pedido genérico (art. 471º do CPC) ou a pedido específico em que a impossibilidade da concretização do seu objeto ou quantidade não tenha sido possível por as consequências do facto ilícito ainda não se terem produzido ou estarem ainda em evolução (Acórdão do STJ de 17.01.1995, BMJ 443, p. 404); outros, uma interpretação mais ampla, em que a condenação a liquidar em execução de sentença pode ocorrer mesmo quando o A. não tenha logrado provar o

montante líquido pedido, caso em que, não obstante a segunda oportunidade de prova, esta, contudo, não incidirá sobre a existência da situação de violação do direito que constitui o fundamento do pedido, mas apenas sobre a

quantidade da condenação a proferir, considerando-se que poderá ela ocorrer mesmo quando o A., tendo formulado pedido líquido, não tenha logrado provar o exato montante do que lhe é devido (cfr. Acórdãos do STJ de 16.01.08,

12.09.07 e 07.12.05, in www.dgsi.pt, processos nºs 07S2713, 06S4107 e 05S2850), que sufragamos.

E, no mesmo sentido, o Acórdão do STJ de 18.02.2011, Processo nº

25/07.5TTFAR.E1, S1, publicado no mesmo site, em cujo sumário se refere que:

“II - Resultando provado que a trabalhadora prestou trabalho suplementar, mas fracassando a prova dos dias e do número exato de horas em que trabalhou, para além do período normal de trabalho, deve o respetivo

apuramento – e, consequentemente, o apuramento dos valores a esse título devidos – ser relegado para posterior liquidação, ao abrigo do disposto no art.

(16)

661.º, n.º 2, do Código de Processo Civil.”.

Importa, todavia, ressalvar o trabalho suplementar que haja sido prestado entre 01.01.2005 e 11.01.2005, ou seja há mais de cinco anos tendo por referência a data da propositura da ação.

Com efeito, dispõe o art. 337º, nº 2, do CT/2009 que os créditos resultantes, entre outros, de trabalho suplementar vencido há mais de 5 anos, só podem ser provados por documento idóneo. Ora, dos autos não consta documento idóneo comprovativo do trabalho suplementar prestado no referido período.

Assim, e quanto a esta questão, as conclusões do recurso apenas procedem parcialmente, devendo a Ré ser condenada no pagamento do trabalho suplementar prestado no período compreendido entre 11.01. 2005 a 29.05.2009, a liquidar em incidente de liquidação e ao qual deverão ser

deduzidas as quantias referidas no nº 19 dos factos provados, já pagas a título de trabalho suplementar, assim, e em conformidade, devendo a sentença

recorrida ser revogada.

3. Da (in)existência de justa causa de resolução do contrato de trabalho

Tem esta questão por objeto a inexistência, segundo a Recorrente, de justa causa para resolução do contrato de trabalho por parte do A.

3.1. Ao caso, tendo o A. comunicado à ré a resolução do contrato de trabalho, com invocação de justa causa, em 29 de maio de 2009, é aplicável o Código do Trabalho aprovado pela Lei 7/2009, de 12.02 (CT/2009)[3].

3.2. Na comunicação da resolução do contrato de trabalho invocou o A. o seguinte:

“Em virtude de a firma o ter informado, através do seu encarregado, Sr. D…, de que a partir do momento em que me apresentasse ao trabalho após a alta – sendo que o autor esteve de baixa entre 21.04.09 e 17.05.09 (Doc. nº2 e 2-A) - , teria que se apresentar nas instalações da firma em Alenquer, onde ficaria a trabalhar a título definitivo, no caso de haver trabalho. E que caso não

houvesse trabalho ficaria nas instalações da firma a cumprir o horário de trabalho. Ora uma vez que lhe era impossível sair das instalações da empresa na Trofa, onde trabalhava há já quase 15 anos, perto da casa onde vive com a sua mulher e em casa própria, resolveu o autor o contrato de trabalho que o ligava à empresa. A impossibilidade de ir para as instalações da empresa em

(17)

Alenquer era derivada não só ao custo das viagens, como do facto de ser insuportável para o autor estar a sustentar duas casas - uma em Santo Tirso onde a sua mulher passaria a viver, e outra em Alenquer onde o mesmo teria que passar a viver. Por outro lado, e de qualquer maneira, ser-lhe-ia impossível afastar-se de junto da sua mulher em Santo Tirso, dado ser portador de

Síndrome de Apneia do Sono Grave e precisar de ajuda da mesma para fazer a terapia que lhe havia sido aconselhada, conforme fotocópia do relatório

médico que juntou.”

E, dos factos provados, resulta ainda assente que:

- A ré informou o autor, através do seu encarregado, Sr. D…, de que a partir do momento em que se apresentasse ao trabalho após a alta – sendo que esteve de baixa entre 21/04/09 e 17/05/09 -, teria que se apresentar nas instalações da firma em Alenquer, onde ficaria a trabalhar, no caso de haver trabalho.

- Era impossível ao autor sair das instalações da empresa na Trofa, onde trabalhava há já quase 15 anos, perto da casa onde vivia com a sua mulher e em casa própria, pelo que o mesmo resolveu o contrato de trabalho que o ligava à empresa.

- A impossibilidade de ir para as instalações da empresa em Alenquer era

derivada não só ao custo das viagens, como do facto de ser insuportável para o autor sustentar duas casas - uma em Santo Tirso, onde a sua mulher passaria a viver, e outra em Alenquer, onde o mesmo teria que passar a viver.

3.3. Dispõe o art. 394º, que:

1- Ocorrendo justa causa, o trabalhador pode fazer cessar imediatamente o contrato.

2- Constituem justa causa de resolução do contrato pelo trabalhador, nomeadamente, os seguintes comportamentos do empregador:

a) (…)

b) Violação culposa de garantias legais ou convencionais do trabalhador;

(…)

3- Constituem ainda justa causa de resolução do contrato pelo trabalhador:

a) (…)

b) Alteração substancial e duradoura das condições de trabalho no exercício lícito de poderes do empregador.

(…)

4- A justa causa é apreciada nos termos do nº 3 do artigo 351º, com as necessárias adaptações.

(…)

Por sua vez, de harmonia com o art. 396º, nº 1, a resolução do contrato de trabalho com fundamento em facto previsto no nº 2 do citado art. 394º,

(18)

confere ao trabalhador o direito à indemnização naquele prevista.

O art. 394º, nºs 2 e 3 consagram o que habitualmente se designa,

respetivamente, por justa causa subjetiva, proveniente de atuação culposa do empregador, e por justa causa objetiva, relacionada com circunstâncias

justificativas dessa resolução não imputáveis a comportamento ilícito e culposo do empregador, realçando-se, quanto à al. b), desse nº 3, que ela consagra a alteração das condições de trabalho pelo empregador, porém desde que no exercício lícito dos seus poderes.

3.4. Apreciemos agora do regime legal relativo à alteração do local de trabalho (mobilidade geográfica).

O local de trabalho consiste no lugar convencionado pelas partes, expressa ou tacitamente, onde o trabalhador deve executar a sua prestação de trabalho, o qual, de acordo com o acordado, com os usos ou com a própria natureza da atividade empresarial e laboral, corresponderá a uma zona geográfica que poderá ser mais, ou menos, ampla.

Por outro lado, o local de trabalho assume ou constitui um dos elementos mais relevantes do contrato de trabalho, seja para a entidade empregadora, seja para o trabalhador. Aquela é a credora da prestação laboral, sendo-lhe lícito, no âmbito do seu direito da iniciativa económica e de livre gestão empresarial, escolher e definir livremente o local onde irá (a empregadora) exercer a sua atividade económica e, dentro dos seus poderes diretivos decorrentes da imprescindível exigência da organização empresarial, podendo determinar ao trabalhador o local onde este deverá prestar a sua atividade, mas, neste caso, sem prejuízo das limitações ou requisitos legal ou convencionalmente

previstos no âmbito da tutela ou garantia da inamovibilidade do trabalhador.

Quanto ao trabalhador, de acordo com o seu local de trabalho irá o mesmo organizar o seu plano de vida, designadamente fixação de residência, integração sócio-familiar, transportes, etc.

Daí que, visando o equilíbrio de tais interesses, a lei regulamentou tal matéria nos termos constantes dos artºs 129º al. f) e 193º a 196º do CT..

Assim,

Dispõe o artº 129º, al. f), que é proibido ao empregador transferir o

trabalhador para outro local de trabalho, salvo nos casos previstos no Código do Trabalho e nos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho ou quando haja acordo.

Nos termos do art. 193º, nº 1, o trabalhador deve exercer a atividade no local contratualmente definido, sem prejuízo do disposto no art. 194º.

Por sua vez, neste, art. 194º, preceitua-se que:

«1 – O empregador pode transferir o trabalhador para outro local de trabalho,

(19)

temporária ou definitivamente, nas seguintes situações:

a) Em caso de mudança ou extinção, total ou parcial, do estabelecimento onde aquele presta serviço.

b) Quando outro motivo do interesse da empresa o exija e a transferência não implique prejuízo sério para o trabalhador.

2 – As partes podem alargar ou restringir o disposto no número anterior, mediante acordo que caduca ao fim de dois anos se não tiver sido aplicado.

3 – (…)

4 – O empregador deve custear as despesas do trabalhador decorrentes do acréscimo dos custos de deslocação e da mudança de residência ou, em caso de transferência temporária, de alojamento.

5- No caso de transferência definitiva, o trabalhador pode resolver o contrato se tiver prejuízo sério, tendo direito à compensação prevista no art. 366º.

6 – (…) 7 – (…)”.

3.5. No caso, o A. não põe em causa a validade, formal (cfr. art. 196º do CT) ou material, da transferência do local de trabalho, nem invocou, na

comunicação da resolução do contrato de trabalho, como fundamento dessa resolução, a invalidade de tal transferência, pelo que a única questão a

apreciar é se, nos termos do nº 5 desse artigo 194º, a transferência lhe causa prejuízo sério.

Não obstante, importa referir que, ao contrário do que alega a Recorrente, a transferência, como decorre do regime legal supra referido, não está na total disponibilidade do empregador, sendo certo que, não tendo as partes

convencionado a possibilidade dessa alteração ou, pelo menos, disso não tendo sido feita prova, ela apenas seria possível nas situações previstas nas als. a) e b) do nº 1 do art. 194º. Ora, e diga-se, dos factos provados não decorre que se verificasse qualquer uma das mencionadas situações, não se descortinando qualquer razão justificativa dessa alteração.

E, por outro lado, também não se provou que as partes hajam convencionado no alargamento das situações previstas nesse nº 1, que hajam acordado, como local da prestação de trabalho, Alenquer e/ou que o A. haja dado o seu acordo a tal transferência, prova essa que incumbia à Ré uma vez que tal

consubstancia, no plano substantivo, facto constitutivo da possibilidade dessa transferência (art. 342º, nº 1, do Cód. Civil), e, no plano processual, facto impeditivo do direito de que o A. se arroga titular (art. 342º, nº 2, do Cód.

Civil).

Ora, no que se reporta à existência de prejuízo sério, concordamos com as considerações tecidas na sentença recorrida, na parte, a seguir transcrita, em

(20)

que se refere que “a noção de prejuízo sério tem sido tratada pela

jurisprudência no sentido de se considerar prejuízo sério uma mudança na vida do trabalhador que se traduza numa alteração substancial das suas condições de vida, que se não se restringe a prejuízos patrimoniais, podendo refletir-se em aspetos de natureza pessoal, profissional, familiar e económica – cfr. Acórdão do STJ de 7.11.2007 (processo 07S2363), www.dgsi.pt. Essa

mudança deve, pois, traduzir-se em algo de acentuadamente perturbador para a vida do trabalhador, em qualquer dos aspetos assinalados, não bastando os simples incómodos ou transtornos que uma alteração de local de trabalho, como regra, implica.

No caso em apreço, afigura-se-nos que a mudança imposta pela ré, que não foi minimamente justificada, significaria para o autor uma alteração na sua vida pessoal e familiar, traduzindo uma alteração substancial das condições de trabalho do mesmo, que não minimamente justificadas ao abrigo do exercício legitimo dos poderes do empregador (…)”.

Na verdade, o A., há cerca de 15 anos que prestava trabalho na Trofa, perto da casa, própria, onde vive com a sua mulher e onde, como é facto notório, tinha a sua vida organizada, sem esquecer, a também notória, distância entre ambas as localidades, para além do custo que representa o ter de suportar as despesas de duas habitações e dos custos que representariam as viagens que viesse a efectuar de Alenquer para a sua actual residência, onde vive com a sua mulher. E, diga-se, nem se poderá olvidar que não decorre dos autos qualquer razão justificativa para a alteração do local de trabalho determinada pela Ré, sendo certo que era a esta que competia a prova dessa justificação.

Alega a Recorrente que suportaria as despesas decorrentes do acréscimo de custos da mudança de residência, argumentação essa que, todavia, não procede.

Com efeito, e desde logo, não se provou que a Ré, aquando da comunicação da transferência e até à data da resolução do contrato de trabalho pelo A., o haja informado de que suportaria tal acréscimo de despesas, nem que despesas, concretamente, suportaria.

Aliás, nem mesmo na carta referida no nº 9 dos factos provados, a Ré refere que pagaria ao A. o acréscimo das despesas decorrentes da transferência, transferência esta que nem tão-pouco aceitou.

E, por outro lado, o prejuízo sério não se limita, ou reconduz-se, ao mero acréscimo de despesas e ao aspeto económico, antes envolvendo, como referido, toda a organização sócio-familiar do trabalhador.

Entendemos, pois, que a transferência determinada pela Ré lhe causa prejuízo sério e que, nos termos do art. 194º, nº 5, do CT, tal lhe confere o direito à resolução do contrato de trabalho com direito à indemnização a que se reporta

(21)

o art. 366º do CT, qual seja a compensação prevista para o despedimento coletivo (um mês de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade, sendo, em caso de fração, calculada proporcionalmente).

Refira-se, a este propósito, que a sentença recorrida enquadrou o direito à resolução do contrato de trabalho no citado art. 394º, nº 2, al. b), e, o direito à indemnização, no art. 396º, nº 1, do CT.

Embora discordemos de tal enquadramento, sendo certo que o A. não

fundamentou a resolução do contrato de trabalho com base no disposto no no art. 394º, nº 2, al. b), mas sim com base no art. 194º, nºs 1, al. b), e 5,

entende-se dever ser a situação enquadrada neste normativo e, por

consequência, no referido art. 366º. Todavia, tal não se repercute no montante da indemnização fixada na sentença, uma vez que esta também a fixou em 30 dias de retribuição-base e diuturnidades por cada ano de antiguidade,

havendo a fração sido calculada proporcionalmente.

Assim sendo, e nesta parte, improcedem as conclusões do recurso.

4. Do pedido reconvencional

Tem esta questão por objeto o pedido reconvencional e que, face ao decidido quanto à questão do mencionado direito de resolução do contrato de trabalho, deverá, por consequência, ser julgada improcedente.

Com efeito, a sua procedência passaria, desde logo, pelo provimento do recurso relativamente à questão anterior.

Assim, e nesta parte, improcedem também as conclusões do recurso.

*

IV. Decisão

Em face do exposto, acorda-se em conceder parcial provimento ao recurso, em consequência do que se decide:

A. Revogar a sentença recorrida na parte relativa ao trabalho suplementar que é substituída pelo presente acórdão condenando-se a Ré a pagar ao A. a

retribuição correspondente ao trabalho suplementar por aquele prestado no período compreendido entre 12.01.2005 até à data da cessação do contrato de trabalho (29.05.2009), a liquidar em incidente de liquidação (arts.661º, nº 2, e 378º, nº 2, do CPC), acrescida de juros de mora, à taxa legal, desde o trânsito em julgado da decisão da referida liquidação até integral pagamento.

B. Quanto ao demais impugnado no recurso, confirmar a sentença recorrida, ainda que, relativamente à resolução do contrato de trabalho e à

correspondente indemnização devida, por fundamentação parcialmente diversa.

(22)

Custas, provisoriamente, pela Recorrente, sem prejuízo, porém, de deverem ser repartidas entre aquela e o Recorrido, na proporção do decaimento que resultar da liquidação mencionada.

Porto, 26-03-2012

Paula Alexandra Pinheiro Gaspar Leal Sotto Mayor de Carvalho António José da Ascensão Ramos

Eduardo Petersen Silva ______________

[1] Data do envio, por correio registado, da petição inicial - cfr. fls. 162.

[2] Certamente por lapso manifesto, atento o teor do parecer, nele se refere que o recurso “merece provimento”.

[3] Ao qual nos reportaremos na falta de indicação da proveniência.

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico ______________

SUMÁRIO

I. O CT/2009 tutela o direito do trabalhador à prestação de trabalho no local convencionado nos termos previstos nos arts. 129º, al. f), 193º e 194º.

II. A transferência definitiva do local de trabalho, desde que verificada uma das situações previstas no art. 194º, nº 1, confere ao trabalhador o direito de resolver o contrato de trabalho com direito à indemnização prevista no art.

366º se essa transferência lhe causar prejuízo sério.

III. No caso, tal prejuízo sério ocorre tendo em conta que a empregadora transferiu definitivamente o trabalhador da Trofa para Alenquer quando este prestava o seu trabalho, há cerca de 15 anos, naquele local, perto de casa própria onde residia com sua mulher face à distância entre as duas localidades e acarretando-lhe tal transferência um acréscimo de custos, não apenas nas viagens que viesse a efectuar entre as duas localidades, mas também na

manutenção de duas residências, tanto mais não tendo a empregadora dito-lhe (ou, pelo menos, disso não ter feito prova), que lhe asseguraria o pagamento do acréscimo de custos, e quais, da mudança de residência.

Paula Alexandra Pinheiro Gaspar Leal Sotto Mayor de Carvalho

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