RELATÓRIO DE VIAGEM
Intercâmbio Acadêmico Internacional
Nome: Maria Vitória Netto Martins Curso: Arquitetura e Urbanismo Período em intercâmbio: 2017.2 País de Destino: Alemanha
Universidade de Intercâmbio: Technische Universität München
Ao longo da minha formação escolar até o início da faculdade, foram vários os momentos em que pensei sobre estudar no exterior. Cresci tendo uma forte relação com a língua e a cultura alemã em função da escola em que estudei e, apesar de ter tido receio sobre cursar toda minha faculdade na Alemanha, sempre tive certeza de que gostaria de passar um período da minha graduação estudando fora do Brasil. Essa vontade aumentou ainda mais em função do curso que estudo. Vi no intercâmbio uma oportunidade única de ter contato com a cultura alemã especificamente na minha área de interesse, a arquitetura. Assim que completei o número de créditos necessário, após o segundo período, me inscrevi para participar do processo seletivo do CCCI.
Como imaginei que seria antes de partir, foi um período muito importante para mim. Tanto para o meu crescimento pessoal, quanto para ampliação de meus horizontes dentro da área em que estudo. Morar sozinha, ter que aprender a me virar estando longe dos meus pais e a lidar com questões burocráticas que nunca tinha lidado são exemplos de aspectos que fizeram com que eu adquirisse uma independência muito maior da que eu estava acostumada a ter no Brasil. Já com relação ao meu curso, foi importante ver pessoalmente como a elaboração de um projeto arquitetônico envolve tanto os aspectos históricos, ambientais, políticos e sócio-culturais do local em que ele é desenvolvido. A forma como enxergamos o que está ao nosso redor e a relação que temos com a arquitetura estão estreitamente ligadas a nossa cultura. Ter contanto com uma diferente forma de estudar e compreender a arquitetura foi extremamente enriquecedor pra mim.
A Universidade e o Curso
O curso de Arquitetura e Urbanismo na TUM é composto por 12 períodos: 8 períodos de Bachelor e 4 de Master - incluíndo 2 períodos obrigatórios no exterior.
Algo que acho importante dividir é o fato da TU ser uma universidade bastante
internacional. Ela tem muitas parcerias com universidades estrangeiras e todo período recebe muitos alunos de fora. Em função dos alunos de arquitetura terem períodos obrigatórios no exterior, essa internacionalidade é ainda mais forte no curso e é fácil perceber como isso influencia sua estrutura e seu clima. A partir do quinto período, há muitas aulas que são dadas estritamente em inglês e os próprios alunos da TU, por também terem vivenciado um período de estudo fora de seu país, são muito abertos a trabalhar com estudantes intercambistas. Há uma forte busca pela troca de informação e de culturas, o que torna ainda mais interessante o convívio com os outros alunos.
Assim como na PUC, as matérias de arquitetura na TU podem ser divididas entre matérias de projeto e matérias complementares. Fui com o intuito de cursar matérias complementares, mas, ao chegar lá, mudei de ideia e decidi escolher uma matéria de projeto. Alunos da TU me aconselharam fazer essa escolha por acharem que eu aprenderia mais optando por cursar projeto ao invés de somente matérias complementares. Explicaram que apesar das aulas de projeto serem mais trabalhosas, elas envolvem mais trabalhos em grupo, o que faria com que eu conhecesse ainda mais pessoas. Depois de ter concluído meu período lá, fico feliz por ter ouvido essas sugestões e posso dizer que não poderia ter tomado uma decisão melhor.
O projeto que fiz se chamava 444,4 e era de uma cadeira de urbanismo (“Sustainable Urbanism”). Ele focava em áreas localizadas exatamente na cidade de Munique, o que foi muito interessante por ter me proporcionado a oportunidade de conhecer ainda melhor o local em que eu estava vivendo. Assim como nas aulas de projeto na PUC, a turma foi dividida em grupos e, durante esse período de aulas, desenvolvi uma proposta com outras duas alunas. Foram muitos dias de trabalho, mas, no final, o esforço valeu muito a pena.
A infraestrutura da TU é um ponto positivo da universidade que vale ser ressaltado. Principalmente para o curso de arquitetura, que demanda muito o uso do espaço da faculdade e de suas ferramentas, a TU é incrível. Cada turma de projeto tem sua sala de desenvolvimento, aberta para os alunos 24 horas por dia em todos dias da semana. A faculdade ainda disponibiliza outras áreas de trabalho com grandes mesas, salas de computadores com todos programas necessários para nosso curso, máquinas de corte a laser e em 3D, 8 plotadoras abertas 24 horas por dia em todos dias da semana e uma biblioteca com bons livros para pesquisas.
Além de uma boa infraestrutura, a localização da universidade também é um fator positivo a ser mencionado. A TUM tem alguns campus espalhados por Munique, mas as salas do curso de arquitetura estão somente em um deles, exatamente no que se localiza no bairro de Maxvorstadt, muito próximo ao centro da cidade. Além de ter muitas opções de restaurantes e bares, o bairro é onde se localiza os principais
museus da cidade, logo nos quarteirões ao seu redor da universidade. No último andar do prédio, há um café dos alunos da área de arquitetura. Apesar de ser destinado a eles, é aberto para qualquer aluno de outros cursos e também para pessoas de fora.
Além de café e comidas gostosas, ele tem uma vista privilegiada sobre a cidade. Lá de cima você consegue ver os principais pontos turísticos, como os museus, a Frauenkirche e a Rathaus e, quando o tempo está bom, é possível até ver os Alpes no horizonte. Sempre que há dias de sol, mesmo no inverno, seu terraço fica cheio de estudantes, é um clima muito gostoso.
Morar em Munique
Munique é a terceira cidade mais populosa da Alemanha e é a capital do estado da Baviera. A cidade tem um clima bem jovem e isso se deve ao fato de conter 14 diferentes universidades, dentre elas as duas consideradas as melhores do país (a TUM mesmo e a outra é a LMU). Por ano, Munique atrai 11.000 estudantes e, em função do grande número de jovens, são muitas as opções de lazer disponíveis direcionadas aos estudantes, como bares, festas e eventos culturais. Além de concentrar um número grande de museus incríveis, Munique é envolvida por muitas áreas verdes que são rapidamente ocupadas em dias de céu azul. Principalmente o Englischer Garten, grande parque da cidade, e as margens do rio Isar. Como peguei só um pouco do outono e vivi principalmente o período de inverno, não pude aproveitá- las tanto, mas ouvi falar muito sobre como a atmosfera da cidade é maravilhosa no verão. Nos meus primeiros dias até que consegui curtir um pouco as margens do rio, mas logo depois o frio tomou conta da cidade. Munique também conta com um número considerável de restaurantes e cafés, muitos super gostosos! Uma área que recomendo bastante é o bairro “Glockenbarviertel”, que se localiza abaixo da
"Altstadt" (o centro histórico) e acima do Rio Isar. É repleta de cafés, bares e restaurantes interessantes e muito frequentada por jovens.
Não se pode falar sobre Munique e deixar de comentar sobre a Oktoberfest, festival de cerveja que acontece anualmente na cidade. Fim de setembro e começo de outubro é marcado pelas duas semanas mais animadas do ano. Pessoas de toda Europa e de muitos lugares do mundo visitam a cidade para conhecer e curtir o festival, o clima é único!
Um assunto importante para quem vai fazer intercâmbio em Munique é a questão da moradia. A TUM não tem nenhum tipo de alojamento para alunos e a procura por moradia na cidade é bem grande. Vale torcer muita pra ter sorte nesse momento de busca! Há a possibilidade de você se inscrever para morar em um Wohnheimzimmer (quarto em um alojamento de estudantes). A inscrição é mediada pela universidade, mas os alojamentos não são especificamente da TU e sim da organização estudantil das universidades da cidade de Munique. Apesar do custo ser mais baixo em comparação com outras opções de moradia na cidade, há pontos negativos nessa inscrição que foram significativos para mim. Depois de se inscrever, você deve somente esperar que a organização estudantil te direcione para uma acomodação. O tempo de espera é incerto e uma boa localização não é garantida, os “Wohnheims" em geral não se localizam próximos ao centro e, consequentemente, à universidade. No momento
de inscrição, você deve concordar que aceitará um quarto independentemente de sua configuração e localização. Ou seja, deixam claro que uma vez inscrito, você não pode voltar atrás ou pedir pra ser realocado, mesmo que não fique satisfeito. Levando em consideração essas incertezas, optei por procurar outras opções. Já tinha amigas que moravam em Munique e elas me indicaram buscar através do site wg-gesucht.de ou de grupos de anúncio no Facebook (existe alguns! “WG & Wohnung München gesucht”) Busquei então ou um apartamento para morar sozinha ou um quarto em um WG (em alemão, Wohngemeischaft, o que significa “república” ou “casa estudantil” em uma tradução não literal). WGs são muito comuns em toda a Alemanha e em Munique estão espalhados por toda cidade. O número de moradores varia muito, de 2 a 8 pessoas mais ou menos, e, em geral, cada um tem seu quarto individual e a cozinha, os banheiros e a sala são compartilhados. O clima também varia, há WG que explicitamente buscam por moradores mais animados, abertos a festas em casa, já há outros que preferem preservar um certo silêncio em seu cotidiano. Então é comum que os moradores descrevam o clima de seus WGs nos anúncios e busquem fazer uma entrevista antes de aceitar um novo morador para observar se ele se encaixa no perfil que procuram. Após um longo período de busca, consegui encontrar um quarto em um WG e, depois de uma entrevista por Skype estando ainda no Brasil, fui aceita para alugá-lo. Dei muita sorte em todos sentindo. Tanto em relação à localização do apartamento, quanto a sua configuração e a meus “companheiros de apartamento”.
Éramos 5 estudantes no total: eu, três alemães e um norueguês. Cada um tinha seu quarto individual e dividíamos um banheiro e uma cozinha. Gostei muito de ter acabado morando em um apartamento compartilhado ao invés de em um sozinha. Foi uma forma de criar boas amizades, fazíamos muitas coisas juntos não somente no dia a dia do apartamento, como também fora dele nos finais de semana. Apesar do custo mais alto, achei que a minha escola valeu muito a pena pela possibilidade que tive de escolher meu quarto e por sua excelente localização na cidade. Em 15 minutos eu estava na faculdade e em 5 minutos na Marienplatz, praça bem no centro da
“Altstadt” (centro histórico).
O transporte público em Munique é excelente, há uma extensa rede que conecta todos pontos possíveis da cidade. Você consegue ir a qualquer lugar sem precisar de carro, somente utilizando as linhas de metrô (U-bahn), de trem (S-Bahn), de trens de superfície (Tram) e de ônibus. O valor que você paga pelo semestre da faculdade inclui o livre uso de transporte somente nos dias de semana entre 6 da tarde e 6 da manhã.
Para os horários em que a carteira da faculdade não é válida, você pode comprar um ticket de transporte que vale por todo o semestre (Semesterticket). Ele não é tão barato, 193 euros, mas vale muito a pena considerando o livre transporte, a qualquer momento do dia e da semana, por toda a cidade. Além de um excelente transporte
público, Munique conta com uma extensa malha de ciclovias por toda a cidade. Eu não cheguei a andar tanto de bicicleta por causa do frio, mas, para muitos que estão acostumados com ele, o transporte de bicicleta continua sendo priorizado.
Viagens - Lugares próximos a Munique
Apesar de ter dedicado grande parte do tempo de meu intercâmbio para os projetos da faculdade, consegui fazer algumas viagens em finais de semana e durante as férias de fim de ano. Próximo a cidade de Munique, há muitas opções de lugares para visitar de trem. No estado da Baviera localizam-se lindos lagos, como o Eibsee e o Königssee, e com o Bayern-ticket da Deutsche Bahn (empresa de trens da Alemanha) você tem uso ilimitado dos trens regionais dentro do estado e dos transportes públicos de cada uma de suas cidades. É ainda mais barato quando você está em grupo, ele é válido para até 5 pessoas. Então, utilizando-o você consegue fazer alguns "bate e voltas" para lindos lugares dentro do estado da Baviera. Além disso, a Baviera também faz fronteira com a Áustria e a República Tcheca. Saindo de Munique, em 4 horas você está em Viena e em 5 horas em Praga. (Bom saber também que o Bayern-ticket vale até a cidade de Salzburg). Estar próximo da Austria, e consequentemente dos Alpes, é especialmente legal se você vai fazer intercâmbio durante o inverno. Para quem gosta de esquiar, são mais de 400 estações de esqui na Áustria. Recomendo muito a que fui, Kitzbühel, fica a somente uma hora e meia de Munique. Outras cidades na Austria pra visitar são Innsbruck, Hallstatt e Salzburg.
Além de trem, viajar de ônibus é uma opção fácil e ainda mais barata. A empresa de ônibus Flixbus tem muitas ofertas de viagens pela Alemanha e por toda Europa.
Apesar de serem viagens mais longas do que as de trem, as vezes, pela considerável
diferença de preço, vale a pena optar pelo ônibus. Já com relação a viagens de avião, o aeroporto de Munique tem ligação com muitas cidades em toda Europa, mas, há outras opções a se considerar pelo menor custo. Uma dica é aeroporto de Memmingen, que fica a uma hora e meia de Munique. A Ryanair, companhia low-cost irlandesa, opera muitos voos baratos saindo de lá. Peguei um para Estocolmo e foi muito tranquilo ir até Memmeingen, existe um transfer que sai da estação central de Munique até o aeroporto. Outra dica é pegar voos saindo do aeroporto de Frankfurt, que, em função de ser o maior do país, tem mais opções e melhores preços que o aeroporto de Munique. Apesar de ser um pouco cansativo, muitas vezes acaba saindo mais barato pegar um trem ou ônibus de Munique para Frankfurt (ou no caso da volta, de Frankfurt para Munique) para viajar para outros países.
Um site que indico para planejar viagens é o verkehrsmittelvergleich.de. Nele você consegue comparar o preço entre passagens de trem, de ônibus e de avião ao mesmo tempo.
