FUNDAMENTOS DA NUTRIÇÃO
CLÍNICA E COLETIVA
UNID
ADE 4
ALIMENTAÇÃO ENTERAL
Nesta unidade você irá estudar as indicações e os cuidados que devemos ter com a nutrição enteral, os tipos de fórmulas utilizadas e a importância do acompanhamento para detectar possíveis complicações com o paciente com a alimentação enteral.
OBJETIVO DA UNIDADE:
Identificar os procedimentos terapêuticos empregados para manutenção ou recuperação do estado nutricional por meio de nutrição enteral.
PLANO DA UNIDADE:
•
Cuidados nutricionais no paciente com nutrição enteral.•
Indicações para a nutrição enteral em adultos e crianças.•
Contra-indicações para a nutrição enteral.•
Vias de acesso da nutrição enteral.•
Métodos de administração da dieta enteral.•
Seleção e classificação de fórmulas enterais.•
Classificação das complicações da terapia nutricional enteral.•
Os cuidados no preparo da nutrição enteral.CUIDADOS NUTRICIONAIS NO PACIENTE COM NUTRIÇÃO ENTERAL
A nutrição enteral (NE), segundo o Ministério da Saúde do Brasil, designa todo e qualquer “alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializado ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas”.
Sabemos que em nutrição o trato gastrointestinal é a via mais fisiológica e metabolicamente efetiva que a via intravenosa para o aproveitamento de nutrientes. A seleção do acesso enteral depende de alguns fatores:
• Previsão da duração da alimentação enteral; • Grau de risco, aspiração ou deslocamento da sonda; • Presença ou não de digestão e absorção normais; • Previsão de uma intervenção cirúrgica;
Aspectos que interferem na administração como viscosidade e volume da fórmula.
Bases fisiopatológicas para indicação de alimentação enteral
• Menor risco e custo em relação à nutrição parenteral;
• A presença de alimentos na luz intestinal influencia favoravelmente a integridade morfológica e funcional da mucosa intestinal normal e a adaptação do intestino delgado após grandes ressecções;
• A nutrição enteral por gotejamento contínuo é mais bem tolerada que a alimentação em bolo, quando a superfície da mucosa intestinal estiver severamente prejudicada, se houver retardo do esvaziamento gástrico ou nos estados de hipermotilidade;
Dietas Elementares:
fórmulas que contém aminoácidos, glicose, lipídios, vitaminas e mine-rais.
Indicações de terapia nutricional enteral em adultos e crianças
• Em Adultos
Pacientes que não podem se alimentar:
• Inconsciência; • Anorexia nervosa; • Lesões orais;
• Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC); • Neoplasias;
• Doenças desmielinizantes.
Pacientes com ingestão oral insuficiente:
• Trauma; • Septicemia; • Alcoolismo crônico; • Depressão grave; • Queimaduras.
Pacientes nos quais a alimentação comum produz dor e/ou desconforto:
• Doença de Crohn; • Colite ulcerativa;
• Carcinoma do trato gastrintestinal; • Pancreatite;
• Quimioterapia; • Radioterapia.
Pacientes com disfunção do trato gastrintestinal:
• Síndrome de má absorção; • Fístula;
• Síndrome do intestino curto.
Em Crianças
• Anorexia /Perda de peso; • Crescimento deficiente;
• Ingestão via oral inadequada;
• Desnutrição: aguda, crônica, e hipoproteinemia;
• Estados hipercatabólicos: queimaduras, sepse, trauma, doenças cardiológicas e respiratórias;
• Doenças neurológicas; • Coma por tempo prolongado; • Anomalias do TGI;
• Doença ou obstrução esofágica; • Cirurgia do TGI;
• Diarréia crônica ou específica; • Síndrome do intestino curto; • Fibrose cística;
• Câncer associado à quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia.
Contra-indicações em terapia de nutrição enteral
As contra indicações em terapia de nutrição enteral, em geral, são temporárias.
• Disfunção do TGI ou condições que requerem repouso intestinal; • Obstrução mecânica do TGI;
• Refluxo gastroesofágico intenso; • Íleo paralítico;
• Hemorragia GI severa; • Vômitos e diarréia severa; • Fístula no TGI de alto débito; • Enterocolite severa;
• Pancreatite aguda grave; • Doença terminal;
5-O local de administração da dieta enteral, se intragástrica ou pós-pilórica, é um dos fatores a ser considerado na seleção da via de acesso para a nutrição enteral. O risco de aspiração (pacientes inconscientes, distúrbios de deglutição, história de aspiração, refluxo gastroesofágico, gastroparesia) é um dos critérios para esta decisão.
Vantagens e desvantagens da localização gástrica e duodenal/jejunal.
Métodos de administração da dieta enteral
Administração em bolo
Injeção com seringa, 100 a 350ml de dieta no estômago, de 2 a 6 horas, seguida por irrigação da sonda enteral com 20 a 30ml de água potável. Administração intermitente
Utiliza a força da gravidade, volume de 50 a 500ml de dieta administrada por gotejamento, de 3 a 6 horas, seguida por irrigação da sonda enteral com 20 a 30ml de água potável de água potável.
Administração contínua
Usa a bomba de infusão, 25 a 150ml/hora, por 24 horas, administrada no estômago, jejuno e duodeno, interrompida de 6 a 8 horas para irrigação da sonda enteral com 20 a 30ml de água potável.
Seleção e classificação de fórmulas enterais
Para a seleção de uma dieta enteral é necessário conhecer as exigências específicas do paciente e a composição exata da fórmula. A dieta escolhida precisa ser nutricionalmente completa e adequada para uso em períodos curtos e longos; precisa satisfazer as exigências nutricionais do paciente, ser bem tolerada, de fácil preparação e econômica. As condições individuais do paciente devem ser consideradas.
A seleção de uma fórmula enteral requer avaliação da capacidade digestiva e absortiva.
Classificação
• Fórmulas poliméricas:
A maioria dos pacientes pode beneficiar-se com esse tipo de fórmula. • Fórmulas parcialmente hidrolisadas:
Indicadas para pacientes com capacidade digestiva e absortiva parcial. • Fórmulas especializadas:
Indicadas para específicas disfunções orgânicas, estresse metabólico.
Módulos
Indicados para suplementar fórmulas e individualizar a formulação.
Tipos de fórmulas enterais:
• Elementares (aminoácidos, glicose, lipídios, vitaminas e minerais); • Poliméricas (proteínas, oligossacarídeos, óleos vegetais, TCM, vitaminas e minerais);
• Leite de vaca modificado e fórmulas de soja; • Fórmulas específicas para doenças específicas.
Sonda Nasogástrica
Verificar resíduo antes de cada infusão em bolo e a cada três horas na infusão contínua; se presente reinfundir e descontar do volume a ser infundido.
Sonda pós-polórica
Confirmar a posição correta da sonda diariamente, através da medida do pH do aspirado e, em caso de dúvida, solicitar radiografia do abdome.
Monitorização
• Oferta nutricional e balanço hídrico, sinais vitais e peso, diariamente, circunferência do braço e dobra tricipital semanalmente;
• Velocidade de infusão da dieta;
• Clínicos: distensão abdominal, número de evacuações diárias, presença de sangue nas fezes;
• Posicionamento da sonda após vômito; • Bioquímicos:
Urina: glicosúria, potássio.
Sangue: eletrólitos, proteínas totais e frações, uréia e creatinina. Fezes: pesquisa de sangue oculto e de substâncias redutoras. Conservação da dieta
• Sob refrigeração de 4° a 8° C;
• Retirar do refrigerador 1h antes de administrar no paciente. Não deve colocar em banho-maria;
• Verificar cor e odor da dieta; • Instalação da dieta;
• Verificar no rótulo da dieta, o leito, nome do paciente, volume e periodicidade de administração da dieta;
• Após o término de uma etapa da dieta e verificação do resíduo gástrico, deve-se lavar a seringa com 10ml de água filtrada para evitar obstrução;
• Controlar a velocidade de infusão da dieta;
• Verificar e anotar a quantidade prescrita e infundida; • Manter a cabeceira elevada a 30° ou 45°;
• Fazer a higienização das narinas (com uso de espátulas com soluções antisépticas);
• Verificar e anotar consistência, odor, quantidade e freqüência das evacuações e dos vômitos.
Complicações
As complicações da terapia nutricional podem ser classificadas em: • Gastrintestinais; • Metabólicas • Mecânicas; • Infecciosas; • Respiratórias; • Psicológicas.
Classificação das complicações da terapia nutricional enteral
Gastrintestinais:
• Náuseas; • Vômitos;
• Refluxo gastroesofágico;
• Distensão Abdominal, cólicas, flatulência; • Diarréia/Obstipação.
Metabólicas:
• Hiperidratação/Desidratação; • Hiperglicemia/Hipoglicemia; • Alterações da função hepática.
Mecânicas:
• Erosão nasal e necrose; • Abscesso septonasal;
• Sinusite aguda, rouquidão, otite; • Faringite;
Psicológicas:
• Ansiedade; • Depressão;
• Falta de estímulo ao paladar; • Monotonia alimentar; • Insociabilidade; • Inatividade.
Cuidados no preparo da nutrição enteral
Dietas enterais ricas em macro e micronutrientes são um excelente meio para o crescimento de microorganismos. A administração de uma dieta enteral, eventualmente contaminada por diferentes germes, pode causar distúrbios gastrintestinais (náuseas, vômitos e diarréia).
É fundamental que as dietas independentemente da sua administração, sejam preparadas com o maior cuidado para evitar a contaminação. Os próprios locais de manipulação das dietas enterais são fontes de contaminação.
Os processos para transferência da dieta de sua embalagem original para os frascos, a reconstituição e a mistura de ingredientes favorecem a contaminação das formulações. Por isso, as áreas distintas de preparo da nutrição enteral e os procedimentos para a manipulação preestabelecidos e validados podem minimizar os riscos de contaminação.
LEITURA COMPLEMENTAR
Aprofunde seus conhecimentos lendo:
MAHAN, L.K; ESCOTT-STUMP, S K. Alimentos, Nutrição e
Dietoterapia, 10 ed. São Paulo: Roca, 2002. 1157p.
CUPARRI, L. Nutrição Clínica no Adulto. São Paulo: Manole, 2002. 406p.
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