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A Qualidade de Vida e o Meio Ambiente a partir das Intervenções Urbanas

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Academic year: 2022

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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo ISBN - 978-65-86753-40-0

EIXO TEMÁTICO:

( ) Infraestrutura Verde na Cidade Contemporânea ( ) Planejamento da Paisagem Urbana

( ) Preservação do Patrimônio Histórico e Paisagístico ( ) Sistemas de Espaços Livres

(X ) Urbanismo Ecológico e a Resiliência Urbana

A Qualidade de Vida e o Meio Ambiente a partir das Intervenções Urbanas

Quality of Life and The Environment from Urban Interventions Calidad de vida y médio ambiente a partir de intervenciones urbanas

Maria Augusta Justi Pisani

Professor Doutor, UPM, Brasil augustajp@gmail.com

Célia Regina Miranda Melo

Professor Mestre, UPM, Brasil celiamelo.arq@gmail.com

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139 RESUMO

Este artigo aborda a relação existente entre qualidade de vida e meio ambiente, demonstrando que alguns aspectos da vida das pessoas precisam se unir aos geográficos nas propostas de interferências urbanas. Estes devem ser fundamentados por indicadores quantitativos, objetivos e qualitativos da relação de bem-estar da população. Analisa o desenvolvimento a qualquer preço que muito contribui para irracionalidades no uso e ocupação do solo agindo, muitas vezes com desrespeito ao meio ambiente e propondo insustentáveis transformações e modernizações aos espaços, impondo perdas à qualidade de vida na medida que nega suas existências. Pretende ir além quando avalia o crescimento periférico oriundo da disputa de espaço pelas diversas classes sociais, gerado pela expulsão dos moradores dos grandes centros, pela especulação imobiliária, entre outros. Observa que em muitos casos, a degradação ambiental pode ser uma consequência e evidencia a necessidade de mais conexão entre políticas públicas e a manutenção da qualidade de vida, de maneira a proporcionar condições mais adequadas e que garantam a saúde pessoal, social e ambiental. O método empregado para esta pesquisa se fundamentou em duas vertentes: os levantamentos bibliográficos e os dados primários de arquivos públicos.

PALAVRAS-CHAVE: Meio Ambiente. Qualidade de Vida. Intervenção Urbana.

ABSTRACT

This article addresses the relationship between quality of life and the environment, demonstrating that some aspects of people's lives need to be joined to geographical ones in the proposals of urban interferences. These must be supported by quantitative, objective and qualitative indicators of the population's welfare relationship. It analyzes the development at any price that contributes a lot to irrationalities in the use and occupation of the soil acting, often with disrespect to the environment and proposing unsustainable transformations and modernizations to the spaces, imposing losses to the quality of life to the extent that it denies their existence. It intends to go further when it evaluates the peripheral growth arising from the dispute for space by the different social classes, generated by the expulsion of the big center's residents, by the real estate speculation, among others. Observes that in many cases, environmental degradation can be a consequence and also highlights the need for more connection between public policies and quality of life maintenance, in order to provide more adequate conditions that guarantee personal, social and environmental health. The method used for this research was based on two aspects: bibliographic surveys and primary data from public archives.

Keywords: Environment, Indicators, Quality of Life, urban intervention ABSTRACTO

Este artículo aborda la relación existente entre calidad de vida y medio ambiente, demostrando que algunos aspectos de la vida de las personas necesitan unirse a los geográficos en propuestas de interferencia urbana. Estos deben basarse en indicadores cuantitativos, objetivos y cualitativos de la relación de bienestar de la población. Analiza el desarrollo a cualquier precio que contribuye en gran medida a las irracionalidades en el uso y ocupación del suelo, actuando muchas veces con falta de respeto al medio ambiente y proponiendo transformaciones insostenibles y modernización de espacios, imponiendo pérdidas en la calidad de vida al negar su existencia. Se pretende ir más allá al evaluar el crecimiento periférico derivado de la disputa por el espacio de las distintas clases sociales, generado por la expulsión de vecinos de las grandes ciudades, por la especulación inmobiliaria, entre otros. Observa que en muchos casos la degradación ambiental puede ser una consecuencia y destaca la necesidad de una mayor conexión entre las políticas públicas y el mantenimiento de la calidad de vida, a fin de brindar condiciones más adecuadas que garanticen la salud personal, social y ambiental. El método utilizado para esta investigación se basó en dos aspectos: encuestas bibliográficas y datos primarios de archivos públicos.

PALABRAS CLAVE: Medio Ambiente. Calidad de vida. Intervención urbana.

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140 1 INTRODUÇÃO

Os fatores que determinam o cotidiano das pessoas resultam em uma rede de fenômenos e situações que, juntos podem ser parâmetros de qualidade de vida. Esta, normalmente, é associada à saúde, longevidade, satisfação no trabalho, relações familiares, disposição e até espiritualidade. É difícil encontrar uma definição exata, mas pode-se considerar que qualidade de vida é o conjunto de parâmetros individuais, socioculturais e ambientais que caracterizam as condições em que vive o ser humano. Para Gill e Feinstein (1, p. 619) qualidade de vida é a percepção individual.

O objetivo desta pesquisa é discutir a relação existente entre a qualidade de vida da população e a degradação ambiental do local onde vive a partir de uma intervenção urbana.

Para isso, os procedimentos metodológicos foram embasados em revisão bibliográfica e o aqui exposto será sempre uma avaliação sobre a forma como esse tema é interpretado.

Esta avaliação da mensuração dos fatores que interferem de maneira direta ou indireta sobre a qualidade de vida de uma população observará grupos de subindicadores temáticos paralelos aos tradicionais, como defende Braga, Freitas e Duarte (2, p. 20). Exemplo disso são os que analisam a habitação de forma global e os que se atentam à satisfação das pessoas como instrumento para aprimorar o controle social e a gestão de serviços e produtos oferecidos para a população.

O grupo de indicadores sobre habitação foram estudados por Buzzar e Fabricio (3, p.

4) e discute o modo como estes interferem na vida da população. São avaliadas desde a relação da moradia com a cidade até seus aspectos construtivos e de espacialidade. Já o de satisfação permite hierarquizar as preferências e caracterizar as carências locais auxiliando no planejamento e desenvolvimento de políticas públicas. Fornece a visão do morador sobre o desempenho da prestação do serviço, do que é prioritário, dos problemas existentes na opinião dos que usufruem do local possibilitando estratégias de ação para superá-los e revelando áreas urbanas que mais precisam de atenção e aplicação de recursos.

Considerando estes indicadores, percebe- se a diferença de conceituação sobre qualidade de vida entre o planejador e a população. No Brasil, a gestão governamental privilegia indicadores que reflitam a educação, saúde, segurança, mobilidade, déficit habitacional, impactos sobre o meio ambiente e institucionalidade da gestão. Segundo Ribeiro e Vargas (4, p.), a população acrescenta a estes os de qualidade ambiental, tamanho das residências, eficiência da coleta de lixo, densidade populacional, qualidade da pavimentação, padrão de renda dos moradores, privacidade, existência de comércio local, entre outros. O instrumento do Estatuto da Cidade (5) que propõe uma possível negociação entre urbanistas e moradores e talvez reduza estes conflitos é o Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV), usado para obter licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento, a cargo do Poder Público Municipal. Porém, de acordo com a Seção XII, Artigo 36, da mesma lei, somente lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana que dependerão de elaboração de Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV), ou seja, nem sempre ele é realizado.

O objetivo desse instrumento é demonstrar os efeitos que as interferências urbanas possam vir a causar na qualidade de vida da população e, somente a partir dele, o Poder Público decide sobre a autorização dessas interferências. Assim, os indicadores demonstrados, ou o conjunto deles que trate da qualidade de vida, não podem ser negligenciados em estudos que envolvam a população moradora. Portanto, pesquisas de percepção são sempre bem-vindas.

É necessário também considerar que, em muitos casos, os moradores percebem o espaço ao seu redor de forma diferente dos gestores. Essa divergência de visão produz um EIV ineficaz.

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Colocar em foco a percepção da população sobre seus problemas, abre espaço para um bom atendimento às expectativas, tanto da população como do processo de urbanização, mantendo a qualidade de vida local e respeitando as variáveis importantes para os moradores.

O que se observa em uma análise apurada das intervenções em áreas já urbanizadas é que estas modificam sobremaneira a qualidade de vida da população, demonstrando que o bom senso de considerar a opinião dos envolvidos é a melhor solução para amenizar os efeitos causados à comunidade. Canepa (6, p. 227) resume a ideia quando diz:

[...] o grande desafio, entretanto, é conseguir chegar a uma equação satisfatória entre o ônus e os benefícios de cada empreendimento, visando não só a sua vizinhança imediata, mas também o conjunto da população, pois muitos empreendimentos causam impactos, mas são também fundamentais para o funcionamento da cidade.

Entre eles, existem aspectos similares considerados pelos planejadores urbanos em seus projetos de intervenção nos espaços construídos, mas a questão é se gestores e moradores atribuem o mesmo peso a eles.

2 A EXPANSÃO URBANA

O modo insustentável de crescimento dos municípios do país apresenta características comuns. Este sempre se vincula ou à forma como é ordenada a expansão da área urbana ou à transformação e modernização dos espaços urbanos que pouco se preocupam com as características ambientais existentes. Além disso, em sua maioria se constata o vínculo existente com a baixa qualidade de vida para uma parcela significativa da população. Esses fatos ocorrem mesmo considerando as especificidades regionais.

Conforme demonstra o Censo de 2010 (7), há 13 cidades com mais de um milhão de habitantes e não é sabido que em alguma delas a expansão da área urbana aconteça com um projeto cujo objetivo seja o crescimento periférico em concomitância com a preservação do meio ambiente. Na maioria das vezes, estes perpetuam a cidade informal com loteamentos ilegais ou conjuntos habitacionais distantes, produtos da gentrificação ocorrida e que causam a degradação ambiental.

Considerando as projeções da ONU para 2030, o grau de urbanização deverá chegar a 84,3%, e a população urbana total chegará a mais de 581 milhões, representando um crescimento absoluto de quase 189 milhões de pessoas em três décadas (United Nations, 2006;

2009). Assim, fica evidenciada a necessidade de ter os olhos voltados para os processos de urbanização.

Esta é uma das grandes questões a serem acompanhadas pelos gestores e pesquisadores, devido à forma como essas urbanizações ocorrem e suas consequências para as cidades brasileiras. É motivo de especial atenção disputa de espaço pelas diversas classes sociais, a especulação imobiliária, a verticalização, a perda da qualidade de vida e a degradação ambiental que muitas vezes é causada por tudo isso.

Quando os municípios buscam processos de planejamento urbano, essas questões deveriam ser sempre colocadas em pauta, na expectativa de sua resolução por meio da organização espacial urbana.

Estão muitas vezes atrelados a situações como a forma de ocupar o território.; a indisponibilidade de insumos para seu funcionamento; a descarga de resíduos; o grau de mobilidade da população no espaço urbano; a oferta e o atendimento às necessidades da população por moradia, equipamentos sociais e serviços e a qualidade dos espaços públicos.

Porém, muitas vezes falta aos municípios estrutura administrativa, planejamento de longo prazo e mesmo instrumentos jurídicos para lidar com esses desafios. Esses fatores acarretam aglomerados de pessoas desassistidas, ocupando espaços muitas vezes segregados, sem acesso a serviços básicos como saúde, transporte de qualidade, lazer e saneamento básico.

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142 3 O PROCESSO DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

A observação do processo de urbanização demonstra que este não leva em consideração o meio natural, mesmo sendo de conhecimento que é um bem finito e que sua preservação promove recursos ilimitados para a sobrevivência humana. Assim, são visíveis as consequências nos espaços verdes que deram lugar aos grandes centros urbanos. O meio natural foi alterado drasticamente, em muitos lugares de maneira incorrigível, resultando em uma séria degradação do meio ambiente, prejudicando a biodiversidade, a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável das populações residentes. Um exemplo é a Região Administrativa de Vicente Pires no Distrito Federal. Inserida no bioma Cerrado, possui nascentes que alimentam 6 das 8 grandes regiões hidrográficas brasileiras - Amazônica, Tocantins Araguaia, Atlântico Norte-Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná-Paraguai. Ademais, nele estão inseridos 3 grandes aquíferos - Guarani, Bambuí e Urucuia – responsáveis pela formação e alimentação de importantes rios do continente (8, n/p). Ocorre que esta Região surgiu a partir do crescimento desordenado e irregular, tornando-se uma área totalmente urbanizada. Foi desenvolvida causando o soterramento de nascentes e, em paralelo, ocorreu a abertura de poços para exploração de água bem como de fossas para disposição de efluentes sanitários, todos sem as devidas autorizações (9, p. 11). As ruas nunca tiveram pavimentação.

Consequentemente não existe escoamento de águas pluviais.

Segundo Mesquita, Silvestre e Steinke (10, p. 724), todo esse contexto propicia inundações que oferecem diversos prejuízos e riscos à população com o comprometimento da estrutura das casas, constantes alagamento nas residências, danificando o pouco calçamento existente nas ruas, entre outros. A situação é tão delicada que a Defesa Civil do Distrito Federal classificou algumas ruas como de alto risco e é agravada pelo fato de que a urbanização invadiu uma Área de Proteção Permanente, o que muito contribui para o aumento do risco de contaminação da água e do solo da região, em função dos efluentes produzidos pela população.

Não há perspectiva de melhora do quadro, pois a má gestão do solo levou à regularização de parte dessa área, na forma como se encontra.

Os critérios usados para regularização das áreas irregulares, bem como os projetos da Lei de Uso e Ocupação do Solo, geralmente, não consideram as características originais em função do desconhecimento por parte dos gestores do estado da arte de seu território.

Apesar disso, essa situação faz com que regiões que apresentam situações semelhantes a esta sejam, para as construtoras, uma mercadoria capaz de apresentar grande lucratividade, pois receberão investimentos de infraestrutura e, consequentemente, se tornarão rendosos objetos de especulação imobiliária, elevando o custo de vida do lugar.

Diante de questões pautadas na esfera socioeconômica, as políticas públicas formuladas têm um papel fundamental na distribuição dos benefícios urbanos e na justiça social, conferindo muitas vezes um tratamento totalmente homogêneo a determinadas situações urbanas absolutamente desiguais, isto é, tratando diferentes com os mesmos critérios.

A opção de desenvolvimento a qualquer preço contribuiu para a consolidação de irracionalidades no uso e ocupação do solo, com grande desrespeito ao meio ambiente, transformando importantes espaços verdes em avenidas, áreas protegidas em loteamentos, entre outros, mas sempre em uma nítida desconsideração ao território, trazendo graves consequências.

Serviços e infraestrutura urbana de pouca qualidade como transporte precário, saneamento deficiente, drenagem inexistente, dificuldade de abastecimento e de acesso aos serviços de saúde e educação, somadas a menores oportunidades de emprego, maior exposição à violência, formas de discriminação, dificuldade de acesso à justiça e ao lazer, entre outras, fazem parte do dia a dia da população que se instala em áreas ilegais.

Essa situação conduz ao esvaziamento da importância do conceito de preservação ambiental para essas pessoas e, consequentemente, para o município. Não há como pensar em

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meio ambiente quando se fala em sobreviver e é isso que ocorre com essas populações marginais.

Considerando esses fatos, a questão ambiental e todas as suas implicações devem ser encaradas como de interesse público, já que são diretamente vinculadas ao bem comum.

Os desastres naturais e o nível de degradação do meio ambiente deveriam fazer com que essa temática fosse uma das principais preocupações da sociedade. A conscientização dessa importância estará cada vez mais presente no dia a dia de gestores e da população. A crescente urbanização necessita cada vez mais de espaços planejados que respeitem o ambiente natural e que não se volte contra os que dele usufruem.

Nas parcelas das cidades onde predominam a ocupação desordenada são gerados problemas ambientais e situações de risco que afetam o meio ambiente como um todo, além da saúde pública. Estão cada vez mais frequentes as tragédias ambientais provocadas por erosão, enchentes, deslizamentos ou ainda pela indiscriminada devastação de florestas e áreas protegidas que contaminam o lençol freático e represas de abastecimento disseminando doenças graves e epidemias.

Instrumentos como o Plano Diretor têm sua eficácia questionada a partir do momento em que não considera a realidade da população. São elaborados em Gabinetes, quase sempre produto de interesses particulares e negociados para regularizar áreas que estão em desacordo com a lei. Em situações extremas, ainda existem aqueles que são meras cópias de outros já existentes e que tem como objetivo absolver a Prefeitura da Lei Nº 8.429, de 2 de junho de 1992, Lei de Improbidade Administrativa.

Importante salientar que o Plano Diretor, segundo o Estatuto da Cidade, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana que deveria fazer parte do planejamento de todos os municípios, mas é obrigatório apenas para alguns. Porém, seja qual for o tamanho da cidade, deveria ter como objetivo torná-la mais eficiente. Entretanto, os planos diretores, na maioria das vezes, se limitam a um trabalho de zoneamento que basicamente reúne normas de parcelamento, uso e ocupação do solo que estão longe de cumprir sua principal tarefa que é o bem-estar da população.

4 A URBANIZAÇÃO E A QUALIDADE DE VIDA

Na relação entre qualidade de vida e meio ambiente, os aspectos considerados devem se unir aos geográficos e serem fundamentados em indicadores quantitativos, objetivos e qualitativos da relação de bem-estar de uma população.

Essa é a explicação mais adequada para a busca das populações por regiões geográficas mais propicias à sua sobrevivência, às relações humanas, às associadas à existência de recursos naturais como, por exemplo, água em condições de potabilidade. Os fatores determinantes na escolha dessas regiões são os que melhor se adaptam ao estilo de vida da população.

Porém, é preciso considerar que a ocupação de um mesmo espaço por diferentes populações leva a impactos ambientais distintos e desta maneira, estes devem ser analisados observando as suas especificidades.

Isso remete ao conceito de desigualdade ambiental, pois os indivíduos não possuem o mesmo comportamento em relação aos bens e riscos ambientais e nem reagem da mesma maneira.

Assim, fatores como localização do domicílio, qualidade da moradia e disponibilidade de meios de transporte podem limitar o acesso a bens ambientais, bem como aumentar a exposição a riscos (11, p. 101).

Desigualdade ambiental é a maneira como alguns grupos sociais estão mais ou menos expostos a determinadas áreas de riscos. Estas são determinadas pela falta de infraestrutura urbana, presente em locais de residência de algumas populações. Assim, classes mais

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favorecidas economicamente, com maior acesso a bens de consumo e com condições habitacionais mais favoráveis são as que, de modo geral, correm menores riscos ambientais.

Pode se concluir, então, que populações de menor renda, que se instalam nas periferias em expansões urbanas sem planejamento adequado (áreas que possuem más condições urbanísticas como terrenos próximos a cursos d’água, lixões, com alta declividade, etc.) e que constroem nesses locais domicílios em condições precárias, além de enfrentarem outros problemas sanitários e de saúde, estão mais vulneráveis a enchentes, deslizamentos e outros riscos ambientais, ou seja, a hipótese defendida por Torres (11, p. 2000) de que existe uma associação positiva entre piores condições socioeconômicas e maior exposição a risco ambiental deve ser considerada. Esse conceito conduz a duas vertentes (12, p. 508):

A população se instala voluntariamente em terras de baixo custo e que já possuem riscos ambientais

Há incentivo por parte do Estado ou por populações mais abastadas para instalação de atividades geradoras de risco e degradação ambiental em determinadas áreas que já possuem populações residentes.

A situação exposta remete ao conceito de justiça ambiental (ou equidade ambiental) que seria a diminuição ou a mitigação da desigualdade ambiental. No Brasil, a questão é pouco compreendida pela maioria da população que somente percebe esse direito quando já atingida, muitas vezes por consequências permanentes. Esse tema diz respeito diretamente à preservação de todas as formas de vida, afinal é um país com grande potencial de recursos naturais e de biodiversidade.

Essa passividade com relação ao tema pode acontecer pela precária noção de cidadania e de conhecimento dos direitos básicos. Porém, a agenda de pesquisa em torno do tema da justiça ambiental, apesar de relativamente incipiente, já conta com o apoio de entidades cujo objetivo é a formulação de alternativas, além de potencializar as ações de resistência (13, p. 10).

O reconhecimento dos direitos ambientais é um exercício de cidadania garantido pela constituição federal. Assim, uma maneira eficaz de implementá-los é usar os Conselhos Municipais de Meio Ambiente e, em última estância, o Judiciário.

5 OS DESASTRES AMBIENTAIS E A QUALIDADE DE VIDA

O poder público, detentor do argumento de que os benefícios econômicos e sociais virão com a arrecadação de impostos e empregos diretos e indiretos, em consequência das requalificações é omisso quanto à fiscalização e ao cumprimento da lei nestes locais.

Um exemplo disso é o caso da empresa Samarco, localizada no Município de Mariana – MG, considerado como o maior acidente ambiental do Brasil, conforme reportagem do jornal o Globo:

Em 05 de novembro de 2015, a lama de rejeitos de minério que vazou da barragem da Samarco – cujos donos são a Vale a anglo-australiana BHP Billiton – em Mariana (MG) já chegou ao mar, neste domingo (22), após passar pelo trecho do Rio Doce no distrito de Regência, em Linhares, no Norte do Espírito Santo, segundo o Serviço Geológico do Brasil. O rompimento da barragem aconteceu no dia 5 de novembro e causou uma enxurra da de lama no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na região Central de Minas Gerais. Desde então, a onda de rejeitos seguiu pelo Rio Doce e atingiu três municípios capixabas: Linhares, que não usa as águas do Rio Doce para abastecimento da cidade Baixo Guandu, que passou a usar as águas do Rio Guandu; e Colatina, que tinha o rio como única fonte de captação e há cinco dias suspendeu o uso da água. A água com tonalidade turva começou a desaguar na praia de Regência no fim da tarde deste sábado. Com a chegada da parte com elevada turbidez ao mar, a equipe do Serviço Geológico do Brasil encerrou os serviços em terras capixabas. (14, não paginado)

A falta de atenção dada pelo estado impõe perdas consideráveis na qualidade de vida dos cidadãos, na medida em que nega a eles bens como, por exemplo, abastecimento de água, elemento essencial à vida. Esse fato evidencia uma posição antagônica ao princípio básico das

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políticas públicas, pois estas são criadas para proporcionar melhores condições para que todos possam usufruir de seus benefícios.

No que diz respeito ao meio ambiente, o que se percebe é que as políticas públicas privilegiam o ganho financeiro e são pouco atentas à questão ambiental. Os direitos ambientais, ao serem negligenciados, demonstram que os mais prejudicados ainda são os indivíduos mais pobres (15, p. 97).

As políticas públicas devem estar intimamente conectadas com a manutenção da qualidade de vida da população, ofertando a ela condições adequadas e necessárias que garantam a saúde pessoal, social e ambiental. Nesse sentido, são palavras de Gould (16, p. 73):

Como as economias capitalistas normalmente geram comunidades segmentadas em classes, a classe trabalhadora e os pobres estão concentrados em áreas tipificadas por altos níveis de riscos ambientais e baixos níveis de riqueza. As comunidades pobres se defrontam com opções econômicas limitadas em termos de tipo de emprego e remuneração. [...] as comunidades pobres têm menos liberdade para rejeitar propostas específicas para a alocação de unidades de produção ou de despejo dentro delas do que as comunidades ricas, onde as novas oportunidades de emprego são uma preocupação menos premente. Quanto menos rica uma comunidade, mais provavelmente aceitará novos riscos ambientais se estes vierem acompanhados da promessa de vantagem econômica. Não é que as comunidades pobres sejam menos preocupadas com a proteção de sua saúde e seu ambiente, mas sim que tem menos liberdade estrutural para agir de acordo com suas preocupações ambientais e de saúde quando defrontadas com as consequências de uma pobreza absoluta.

Inversamente, as comunidades ricas não são mais preocupadas com o ambiente e a saúde do que os pobres, mas tem pouca necessidade de desenvolvimento econômico local adicional, são estruturalmente mais livres para priorizar valores ambientalistas onde suas necessidades básicas já sãs o atendidas.

Na maioria das vezes, esse processo social é polarizado no que diz respeito à proteção social e ambiental: um grupo tem muito e o outro, nada. Sendo assim, para Abranches (17, p. 16):

A pobreza é destituição, marginalidade e desproteção. A destituição é no sentido dos meios de sobrevivência, a marginalização, porque não é permitido usufruir igualmente os produtos do progresso, bem como quanto ao acesso de oportunidades de emprego e de consumo. A desproteção é em razão do desamparo público adequado e da inoperância dos direitos básicos de cidadania, que incluem garantias à vida e ao bem- estar.

Herculano (15, p. 22) observa que estratégias de controle e prevenção de problemas ambientais decorrem de processos sociais, políticos e econômicos que variam de acordo com a forma e a percepção articulada ou, ainda, da organização pelos diferentes atores da sociedade que possuem influência nos processos decisórios e institucionais e que pretendam ter suas reivindicações atendidas. Desta maneira, a formulação de políticas públicas ambientais tem demonstrado ser de pouca eficácia para ocupações irregulares do solo.

Políticas públicas de urbanismo eficientes e integradoras no âmbito da gestão municipal, aliadas à regulamentação e regulação de empreendimentos imobiliários, empresariais e de recursos naturais, que retiram o controle de grupos elitistas com fins exclusivamente econômicos e que não respeitam as limitações e necessidade próprias do ambiente, é condição básica para a justiça ambiental. Esta deve ser pensada de forma coletiva, formada por conceitos abrangentes aos mais diversos setores da sociedade, sendo a única forma para que haja desenvolvimento econômico integrado a políticas sociais, éticas e ambientais.

Os interesses distintos de cada grupo de atores que formam uma sociedade precisam estar ligados a valores e não a preços. Valores culturais, econômicos, morais, religiosos e ambientais, quando interligados entre si, não impedem o desenvolvimento de uma sociedade em nenhum aspecto. A transformação do ambiente natural em construído altera as relações, mas estas podem ser perfeitamente harmônicas.

O reconhecimento dos direitos aos cidadãos provavelmente ocorre em função de sua conscientização, organização.

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6 NOVAS AGENDAS VISANDO QUALIDADE DE VIDA- HABITAT III

Considerando os fatores citados, é necessário buscar uma nova agenda e outras formas de atuação e conscientização política, com dados mais precisos e informativos para a sociedade civil, com pesquisas e informações mais coerentes e próximas da realidade que possam servir de referencial para novas políticas públicas e que promovam o diálogo e a troca entre os diversos setores.

Recomenda o Relatório Brasileiro para a Habitat III (18), que essas novas agendas considerem as diretrizes estabelecidas pela Conferência Habitat III, coordenada pela Organização das Nações Unidas – ONU, sobre desenvolvimento urbano e políticas de enfrentamento dos desafios das cidades, onde são fixadas metas públicas e investimentos em saneamento básico e mobilidade urbana. Essas diretrizes abarcam várias temáticas conectadas ao meio ambiente. Dentre elas destaca-se a promoção da capacidade técnica, financeira e institucional, assim como a prestação de serviços em todos os municípios e estados de maneira a qualificar os gestores e tomadores de decisão.

A Conferência Habitat III indica ainda que um dos principais mecanismos de controle do crescimento urbano é a ocupação e o adensamento das áreas urbanas vazias. Estas áreas, por já possuírem infraestrutura urbana, representam melhorias diretas nos indicadores relacionados à qualidade de vida da população que requalificam os espaços ociosos, devolvendo vida a locais muitas vezes em estado de degradação.

Porém, com relação à interface criada entre população de baixa renda e meio ambiente, pode ser percebido que, ao requalificar as áreas que já possuem infraestrutura de apoio, as populações atingidas não são estimuladas a permanecerem nelas. Essa prática contribuiria para a diminuição do espraiamento das cidades e consequentemente para a preservação do meio ambiente.

Isso se justifica porque a degradação do ambiente urbano é um dos principais problemas a serem equacionados nas cidades, uma vez que suas consequências podem atingir a toda a população.

As regiões periféricas mais carentes, onde se instalam na maioria das vezes as populações de menor recurso, são as que possuem a maior carência de infraestrutura e serviços urbanos e consequentemente as mais atingidas pela degradação ambiental.

A urbanização desordenada em áreas já classificadas como de risco ou mesmo desprovida de diagnósticos de suas condições ambientais expõe seus moradores a possíveis desastres naturais. A falta de políticas públicas voltadas para estas regiões ou para as populações que lá se instalam também tem consequências de cunho social, fazendo com que a integração dessas políticas esteja como condição sine qua non.

É absolutamente necessário que as políticas públicas tenham visões em longo prazo, assim como estratégias multidisciplinares em torno dessa nova agenda urbana que se pretende atingir. Não se pode desconsiderar o zoneamento ambiental prévio dos municípios quando da implementação ou revisão dos planos diretores municipais, sendo este inclusive previsto no Art.

4º do Estatuto da Cidade. O objetivo é que as características ambientais do município sejam de conhecidas dos gestores.

Nesse contexto, as mudanças climáticas devem pautar não só as agendas urbanas dos municípios brasileiros como do mundo inteiro. O Brasil experimentou situações extremas de risco que obrigam a todos refletir sobre como resistir a estas mudanças e conviver com elas.

Estes desastres naturais, muitas vezes, são consequência de uma urbanização excludente, de ocupação irregular ou em área de risco, ou ainda as duas coisas. Um exemplo disso são as que se instalam à beira de córregos e encostas, que não resistem a fenômenos naturais como grandes chuvas, acarretando enchentes, desmoronamentos e deslizamentos.

O documento produzido a partir da Conferência Habitat III, em 2016, A Nova Agenda Urbana, define como sendo o maior desafio dessas novas agendas equacionar problemas como:

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a) Ocupação em áreas frágeis do ponto de vista ambiental, principalmente pela população de baixa renda e realocação das moradias quando necessário;

b) Coletar e tratar a totalidade do esgoto produzido;

c) Destinar de forma ambientalmente adequada os resíduos sólidos, observada a ordem de prioridade das etapas de gestão e de gerenciamento dos resíduos sólidos (não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos);

d) Implantar sistemas completos de drenagem urbana;

e) Controlar as emissões locais associadas, sobretudo ao trânsito de veículos automotores.

A consequência direta do vencer esse desafio é a diminuição dos problemas de saúde, sociais, econômicos e psicológicos advindo de perdas humanas e materiais que geram outra doença, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o mal do século: o estresse.

Isso significa nada mais, nada menos, que oferecer qualidade de vida à população por meio do planejamento do território urbano, usando, para isso, legislações que tratem seriamente a ocupação dos espaços respeitando o meio ambiente e a forma de viver dos indivíduos.

Com o conhecimento aprofundado das áreas de risco e de sua dinâmica é possível produzir o mapeamento de suscetibilidade e a identificação de setores de risco, construindo mapas que fornecem o grau de vulnerabilidade das diversas regiões dos municípios. Com eles, é facilitado o monitoramento e estabelecimento de parcerias entre as três esferas de governo e a população.

O governo federal, por meio de seus programas de prevenção, investe recursos de apoio a estados e municípios para elaboração de projetos e execução de obras em áreas sensíveis, assim como em planos municipais de redução de riscos e cartas geotécnicas de aptidão à urbanização, sendo estes instrumentos fundamentais para a prevenção de novas fragilidades. Porém, esses investimentos seriam muito melhores empregados se, de antemão, fossem conhecidas as potencialidades e vulnerabilidades dos municípios.

7. DETERMINANTES DE QUALIDADE DE VIDA

Além das questões de risco ambiental que fragilizam a qualidade de vida de uma população, existem outras de igual importância como é o caso da mobilidade urbana e da saúde pública.

A segregação e exclusão socioespacial e consequente fragmentação urbana causam problemas no deslocamento das pessoas e no sistema viário. Reduzir os congestionamentos de tráfego e propor um transporte público eficiente devem ser medidas associadas à qualidade de vida de todos, não tendo como primeiro objetivo a simples melhoria da circulação para o automóvel particular, que prioriza o deslocamento individual e sim, cada vez mais, a diversificação dos modais.

O transporte público nas áreas periféricas das cidades quase sempre é deficitário, com muito tempo de deslocamento e custos altos. Estes fatores contribuem sobremaneira para a ineficiência de todo o sistema.

Nessas regiões, grande parte da população é usuária de outros modais de transporte a não ser veículos próprios e são forçados a enfrentar a realidade de ter que atravessar a cidade para chegar ao trabalho ou escola por transporte de péssima qualidade. Esta situação produz problemas sociais maiores, inclusive de violência, além de aniquilar a qualidade de vida dessas pessoas.

Quando se observa o tempo diário de deslocamento dessa população entre suas moradias e seus usuais destinos percebe-se, nitidamente, a necessidade de integração de políticas de uso e ocupação de solo com planos de mobilidade.

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Outro aspecto preocupante nas agendas cujo objetivo é qualificar a vida das populações são as questões ligadas à saúde pública. Em termos de qualidade de vida, um dos fatores de maior seriedade, por fazer parte das necessidades básicas do ser humano, é a água.

Esta não pode ser vista apenas pelo seu potencial econômico e sim como uma extensão do direito à vida, lembrando que a água é um bem escasso e finito. Com esse mesmo entendimento, Melo (19, p. 4) diz que:

[...] à água não se pode dar meramente um valor econômico, submissão completa às regras de mercado, mas em caso de inevitabilidade e da atribuição desse valor econômico, deve-se buscar também que a esta seja atribuída um valor social, criando assim o valor socioeconômico, permitindo que ao ser humano seja garantido acesso aos recursos hídricos necessários à sua sobrevivência, pois a vida humana não pode ficar submetida à mercadoria.

Ainda sobre o assunto, em termos dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, o mesmo autor sugere ainda que seja levado a cabo o Art. 4º da Lei 6.938, de 1981, que estabelece a implementação de políticas ambientais, de modo a compatibilizar o desenvolvimento e preservação; definir áreas prioritárias de ação governamental; estabelecer critérios e padrões de qualidade ambiental e normas relativas ao uso e manejo dos recursos ambientais; desenvolver pesquisas e tecnologias orientadas para o uso racional de recursos naturais; difundir a tecnologia de manejo e despertar a consciência pública sobre a necessidade de preservação; preservar e manter recursos naturais; impor sanções ao poluidor e predador, e ainda obriga o infrator a recuperar ou indenizar os danos ambientais causados.

Desta maneira, este artigo vem ao encontro dos autores Castel (20, p. 48) e Wanderley (21, p. 18) quando dizem que a apropriação da água não pode ficar sob o controle da iniciativa privada, visto que facilita o “controle econômico sobre a vida humana e sobre as decisões soberanas dos países periféricos”.

Além disso, não se pode relegar a questão que envolve saneamento: geração de resíduos e a contaminação dos solos e lençóis subterrâneos causados pela mudança de comportamento e consumo que vem acontecendo na sociedade nas últimas décadas. A consequência direta disso é que a capacidade do solo em reter os poluentes foi ultrapassada.

Assim, apesar de serem mais protegidas que as águas superficiais, as águas subterrâneas podem ser poluídas ou contaminadas quando os poluentes atravessam a porção não saturada do solo, sendo as principais fontes de contaminação antropogênica subterrâneas às associadas a despejos domésticos, industriais e ao chorume oriundo de aterros de lixo que contaminam os lençóis freáticos com micro-organismos patogênicos (22, p. 2).

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os problemas socioambientais que afetam diretamente a qualidade de vida de uma população estão cada vez mais complexos. A percepção dos riscos e a apropriação da população às novas práticas ambientalmente mais sensíveis são linhas condutoras da trajetória para uma política de sustentabilidade mais eficiente, mediante maior sensibilização e participação dos agentes.

Assim, conclui-se que o diagnóstico ambiental, para que seja estruturado a partir dos principais parâmetros de gestão ambiental, precisa considerar o enfrentamento dos desafios urbanos bem como a necessidade de compatibilização do crescimento dos municípios com a preservação dos espaços naturais, a partir de uma gestão mais eficiente e responsável da água. Envolver a população em torno do tema da preservação do meio ambiente e avaliar periodicamente o desempenho ambiental do município por meio desses diagnósticos proporcionarão a visão dos cenários existentes e futuros.

Além disso, é preciso ter linhas estratégicas integradas às já citadas como ordenamento territorial com critérios ambientais no dia a dia e nas contratações realizadas pelos municípios, estimulando a participação da população em todas essas ações.

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Em síntese, as políticas públicas ambientais não podem ser vistas de maneira isolada.

Elas precisam considerar as relações humanas que fazem parte dos espaços de modo a não agravar outros problemas, como a desigualdade e a exclusão. Afinal estas situações, assim como a pobreza, são resultantes da distribuição desigual dos resultados dentro do sistema capitalista, estando associada particularmente à renda insuficiente para obter qualidade de vida. O desenvolvimento que não leva em consideração a ampliação da cidadania e não atende as necessidades básicas de uma comunidade, não faz de seu produto um bem para toda a população e sim, apenas para alguns.

Considerando o exposto neste artigo, infere-se que a urbanização e a expansão urbana passaram a ser para gestores e pesquisadores alvo de grande preocupação, pois podem modificar, positivamente ou não, a maneira de viver de uma população.

Problemas como o crescimento desordenado ou a falta de planejamento vem modificando sobremaneira as paisagens urbanas e a qualidade de vida que as populações adotam como ideais para si, fazendo com que a sociedade como um todo procure alternativas por meio de um melhor planejamento urbano.

Além disso, é necessário garantir o acesso de todos às cidades sustentáveis, com a participação social nas decisões que as afetam, cooperação entre os diversos setores, planejamento, controle do uso de solo para evitar problemas como especulação imobiliária, impactos ambientais, desvalorização da terra, entre outros.

Para pensar soluções de adequação dos espaços é imprescindível levar em consideração o contexto urbano em que as populações se inserem, incluindo suas características específicas. A construção de uma nova dinâmica para a cidade precisa fornecer as condições necessárias ao pleno desenvolvimento urbano. As intervenções devem valorizar as potencialidades e minimizar as fragilidades funcionais e socioeconômicas dos espaços, assim como da população que dela usufrui, visando a harmonia da condição de vida para todos.

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