• Nenhum resultado encontrado

A RELAÇÃO HISTÓRIA E LITERATURA E O USO DA LITERATURA DE CORDEL COMO FONTE DE PESQUISA PARA A HISTÓRIA DO CANGAÇO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "A RELAÇÃO HISTÓRIA E LITERATURA E O USO DA LITERATURA DE CORDEL COMO FONTE DE PESQUISA PARA A HISTÓRIA DO CANGAÇO"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

644 A RELAÇÃO HISTÓRIA E LITERATURA E O USO DA LITERATURA DE

CORDEL COMO FONTE DE PESQUISA PARA A HISTÓRIA DO CANGAÇO Sérgio Ricardo Morais de Araújo França1

RESUMO: O presente artigo pretende discutir a utilização dos textos literários como fonte de pesquisa histórica, com ênfase na chamada poesia de cordel como espécie de literatura. Analisa a relação da literatura de cordel com a temática do cangaço, objeto de nossa pesquisa de Mestrado em História junto ao Programa de Pós-graduação da Unicap-PE e um dos motes preferidos da poesia popular oferecida ao público pendurada em cordões. Por sua riqueza de significados para o entendimento do universo cultural, dos valores sociais e das experiências subjetivas de homens e mulheres no tempo, os textos literários, hoje, são vistos como materiais apropriados para a pesquisa histórica.

A partir da análise de questões teóricas e metodológicas sobre o uso da literatura na pesquisa histórica, pretendemos apresentar a evolução dessa relação literatura-história, por meio dos exemplos extraídos da historiografia do cangaço. As trajetórias de personagens do cangaço como Lampião, Antônio Silvino, José Patriota e tantos outros também passaram pelas narrativas dos folhetos de cordéis, cuja visão é a mais próxima do ponto de vista popular. O trabalho está fundamentado na bibliografia específica, notadamente os trabalhos de Ferreira (PINSKY; LUCA, 2009, p. 61-91), Grillo (2015), Melo (2010), Pesavento (2012) e Silva (2015).

PALAVRAS-CHAVE: Literatura de cordel. Fonte histórica. Cangaço.

A HISTÓRIA DA LITERATURA COMO FONTE DE PESQUISA PARA A HISTÓRIA

Quando a História conquistou status de disciplina acadêmica, a partir da segunda metade do século XIX, o termo fonte passou a ser utilizado predominantemente como sinônimo de documento e expressão de autoridade e verdade. Nessas circunstâncias, as fontes escritas, primordialmente as oficiais, eram consideradas documentos verdadeiros para uma historiografia cuja preocupação primordial era o encadeamento cronológico dos acontecimentos políticos nacionais. Nesse sentido, os textos literários não eram considerados documentos hábeis para atestar a verdade histórica.

1 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Católica de Pernambuco (PPGH -UNICAP) e licenciado em História pela mesma instituição. E-mail: sergiormaraujo@gmail.com

(2)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

645 A mudança de perspectiva veio a partir dos esforços dos historiadores

ligados à Revista Annales d’Histoire Économique et Sociale, fundada em 1929 por Lucien Febvre e Marc Bloch, quando houve uma ampliação do repertório das fontes históricas e a metamorfose do próprio conceito de fonte. Na contramão da historiografia político-factual da Escola Metódica, o movimento dos Annales colocou em pauta uma História-problema, voltada para a compreensão da complexidade e totalidade das experiências humanas, daí o termo História Total. A ênfase nos processos sociais e econômicos, nos aspectos mentais das civilizações, exigindo cada vez mais do historiador uma postura multidisciplinar, resultou na necessidade do uso de novas fontes de pesquisa (PINSKY; LUCA, 2020, p. 63). A esse respeito, Burke (2011) ressalta que

“quando os historiadores começaram a fazer novos tipos de perguntas sobre o passado, para escolher novos objetos de pesquisa, tiveram de buscar novos tipos de fontes para suplementar os documentos oficiais” (BURKE, 2011, p. 25)

Particularmente, os textos literários passaram a atuar como objeto de investigação do historiador com a História das Mentalidades. Para Lucien Febvre2, que foi precursor dessa abordagem, interessam à pesquisa histórica,

Os textos, sem dúvida: mas todos os textos. E não só os documentos de arquivos em cujo favor se cria um privilégio [...]. Mas também um poema, um quadro, um drama: documentos para nós, testemunhos de uma história viva e humana, saturados de pensamento e de ação em potência (FEBVRE apud PINSKY; LUCA, 2020, p. 64).

A partir da década de 1970, com o trabalho dos historiadores franceses da nova geração, a exemplo de Jacques Le Goff e Pierre Nora3, houve o alargamento do território temático da pesquisa histórica, passando a abordar, por exemplo, o

2 Lucien Febvre nasceu em 1878, em Nancy. Estudou na École Normale Supérieure, onde se formou em

história e geografia. Em 1911, doutorou-se com a tese Philippe II et la Franche-Comté: étude d"histoire politique, religieuse et sociale. Em 1929, junto ao historiador Marc Bloch (1886-1944), fundou a

revista Annales d"histoire économique et sociale, que deu origem à corrente historiográfica conhecida como Escola dos Annales.

3 Os dois historiadores franceses organizaram a coleção Faire de l’histoire, uma série de três volumes publicados em 1974, dando início a uma nova maneira de contar e estudar a história. No Brasil, a obra foi editada com o título: História: novos problemas; novas abordagens; novos objetos, em 1976.

(3)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

646 inconsciente, o cotidiano, a língua, o mito, a infância, a juventude, a festa, os meios de

comunicação, surgindo daí a necessidade de utilizar novos tipos de documentos – escritos, sonoros, visuais – como objeto de análise. Além dos franceses, destaca-se também nessa época o trabalho de historiadores ingleses, que encontraram na produção literária uma das fontes mais significativas para a análise da cultura para a compreensão das relações sociais.

No Brasil, o debate sobre o uso dos textos literários como fonte de pesquisa histórica iniciou sobretudo na Sociologia, destacando-se particularmente o papel de Antônio Cândido4 nesse debate. Excetuando os nomes de Sérgio Buarque de Holanda5 e Nelson Werneck Sodré6, para os historiadores brasileiros, os textos literários não despertavam maior interesse como fonte de pesquisa, havendo mudança nessa perspectiva somente a partir da década de 1980 com as novas propostas de abordagem da História Social e Cultural (PINSKY; LUCA, 2020, p. 65).

Em síntese, os textos literários, hoje, são vistos pelos historiadores como materiais que permitem múltiplas leituras, em especial “por sua riqueza de significados para o entendimento do universo cultural, dos valores sociais e das experiências subjetivas de homens e mulheres no tempo” (PINSKY; LUCA, 2020, p. 61).

As relações entre a Literatura e a História compõem um dos campos de investigação da História Cultural, perante a qual se resolvem no plano epistemológico, por meio de aproximações e distanciamentos, compreendendo estas como diferentes formas de dizer o mundo. Analisando as similitudes entre Literatura e História, Pesavento (2012) afirma que “ambas são formas de representar inquietudes e questões que mobilizam os homens em cada época de sua história, e, nesta medida, possuem um

4 Antonio Cândido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro, no dia 24 de julho de 1918. Sociólogo, crítico literário, ensaísta e professor brasileiro, figura central dos estudos literários no Brasil. Sua obra considerada a mais importante é “Formação da Literatura Brasileira – Momentos Decisivos”, publicada em 1959.

5 Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) foi um historiador brasileiro, crítico literário, jornalista e professor. Autor do clássico "Raízes do Brasil".

6 Nelson Werneck Sodré nasceu no dia 27 de abril de 1911, no Rio de Janeiro. Foi um militar, escritor, historiador e político brasileiro. Caracterizado por sua intensa produção, ele começou a carreia na grande imprensa em 1929. Entre 1938 e 1945 publicou algumas centenas de artigos e sete livros, entre eles Formação da Sociedade Brasileira (1944) e O que se Deve Ler para Conhecer o Brasil (1945).

(4)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

647 público destinatário e leitor”, e arremata afirmando que “ambas são formas de explicar o

presente, inventar o passado, imaginar o futuro (PESAVENTO, 2012, p. 48).

Entretanto, levando em consideração o grande debate do estatuto da história entre verdade e ficção, é possível observar afastamentos entre a literatura e a narrativa histórica. Nesse sentido, diversamente da Literatura, seria a História,

uma ficção controlada, seja pelo método, seja pelas fontes, tal como pelo fato de que lida sempre com o acontecido, embora variem as formas de representar aquilo que aconteceu. A História assim é controlada pela relação que estabelece com o seu objeto. Ela tem como meta atingir uma verdade sobre o acontecido, que se aproxime o mais possível do passado (PESAVENTO, 2012, p. 49).

Mas, se a História é uma ficção controlada, o que seria a Literatura? Para Massaud Moisés, a literatura se diferenciaria de outras expressões escritas pela utilização de metáforas que “representam a realidade, à semelhança de todo signo, mas representam-na deformadamente” (MOISÉS apud PINSKY; LUCA, 2020, p. 66). Nos textos de cunho científico, filosófico, político ou jurídico, por exemplo, as metáforas e outros recursos imaginativos têm seu uso controlado ou mitigado pela busca da objetividade, “que se manifesta no discurso referencial, isto é, comprometido com a veracidade da realidade exterior” (PINSKY; LUCA, 2020, p. 66).

Nessa perspectiva, o texto literário é sinônimo de ficção ou fingimento, por meio do qual o leitor se transporta a universos imaginários, conforme sugere o poético pensamento do escritor Mario Vargas Llosa:

Condenados a uma existência que nunca está à altura de seus sonhos, os seres humanos tiveram que inventar um subterfúgio para escapar do seu confinamento dentro dos limites do possível: a ficção. Ela lhes permite viver mais e melhor, ser outros sem deixar de ser o que já são, deslocar-se no espaço e no tempo sem sair do lugar, nem de sua hora e viver as mais ousadas aventuras do corpo, da mente e das paixões, sem perder o juízo ou trair o coração” (LLOSA apud PINSKY;

LUCA, 2020, p. 66-67).

(5)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

648 A Literatura como fonte para a pesquisa histórica pode fornecer ao

historiador da História Cultural subsídios que promovam o resgate das representações do passado, de forma a atingir aquele reduto de sensibilidade e de investimento primário na significação do mundo que outras fontes não seriam capazes de fornecer, pois ela

“permite o acesso à sintonia fina ou ao clima de uma época, ao modo pelo qual as pessoas pensavam o mundo, a si próprias, quais os valores que guiavam seus passos, quais os preconceitos, medos e sonhos” (PESAVENTO, 2012, p. 50).

Outra observação que merece destaque é que a Literatura é testemunho de si própria, fonte de si mesma, na medida em que ela não traz nenhuma verdade do acontecido, seus personagens não existiram e nem mesmo os fatos narrados foram reais.

Nesse aspecto, o que conta para o historiador é o tempo da escrita, não o tempo da narrativa. Sua análise deve partir do autor e de sua época, colhendo indícios sobre a escolha do tema e do enredo do texto, ou mesmo sobre o horizonte de expectativas de uma época. Ao se debruçar, por exemplo, sobre um texto literário que fale do seu tempo, o historiador almejará “resgatar as sensibilidades, as razões e os sentimentos de uma época, traduzidos esteticamente em narrativa pelo autor”. Em se tratando de texto literário que fala de um passado, a exemplo de um romance histórico, “o historiador não busca nele a verdade de um outro tempo, vendo no discurso de ficção a possibilidade de acessar o passado, mas a concepção de passado formulada no tempo da escritura”. Mas se o texto literário cuida de acontecimentos situados em uma temporalidade ainda não transcorrida, conforme se dá em uma ficção científica, o historiador poderá se interessar em investigar como uma determinada época (a da escrita) pensava o seu futuro (PESAVENTO, 2012, p. 50).

Nesse sentido, pode-se concluir que,

A utilização do texto literário pela História permite levar mais longe o deslocamento da veracidade à verossimilhança, pondo em discussão os efeitos de real e de verdade que uma narrativa histórica pode produzir, tomando o lugar do que teria acontecido um dia. Ao trabalhar com Literatura como fonte, o historiador se depara, forçosamente, com a necessidade de pensar o estatuto do texto e

(6)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

649 realizar cruzamentos entre os dois discursos, em suas aproximações e

distanciamentos” (PESAVENTO, 2012, p. 51).

No que se refere à literatura como fonte de pesquisa histórica, ressalte-se ainda que não só os autores e as obras literárias considerados grandes que servem de objeto de análise do historiador. Segundo Antônio Celso Ferreira (2020), os textos classificados como populares, muitos deles originários da tradição oral, também fornecem chaves para a interpretação de textos diversos como, por exemplo, a literatura de cordel no Nordeste do Brasil (PINSKY; LUCA, 2020, p. 72).

BREVES PASSAGENS SOBRE A PEREGRINAÇÃO DA LITERATURA DE CORDEL NO BRASIL

A saga da literatura de folhetos no Brasil começou no final do século XIX, a partir de quando os cordéis passaram a ser produzidos sistematicamente e consumidos em larga escala. Segundo Melo (2010), a cantoria, com seus desafios e pelejas, cujos poetas-cantadores se digladiavam “armados não com espadas, como nos duelos medievais, mas com a voz, com a viola ou com a rabeca – conquistaram presença nos salões das fazendas, nos terreiros de chão batido nos sítios e, mais tarde, nas feiras”. No Brasil, a cantoria ganhou variações estéticas e originalidade, a exemplo da introdução às quadras portuguesas de mais dois versos e, assim, os cantadores brasileiros inventaram a sextilha, gênero que se consagrou como o mais popular na poesia em versos e se consolidou como espetáculo popular. As novas temáticas que foram introduzidas pelos narradores brasileiros no consagrado repertório vindo da Europa e, ainda, a circulação dos poemas por meio dos jornais, produziram as condições favoráveis para a consolidação da poesia de cordel como gênero literário (MELO, 2010, p. 57).

No século XIX, a cantoria se consagrou como uma das principais expressões culturais brasileiras graças a uma talentosa geração de cantadores, em sua maioria coincidentemente nascida na Serra do Teixeira, sertão da Paraíba, e numa mesma família. O primeiro desta geração, Agostinho Nunes da Costa, e seus filhos, Ugulino Nunes da Costa, Nicandro Nunes da Costa e seu neto, Francisco das Chagas

(7)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

650 Batista (1882-1930), contribuíram para tornar a cantoria mais conhecida do grande

público, ao disputarem grandes duelos na Feira de Teixeira, as famosas pelejas. No entanto, verifica-se que a investigação histórica a respeito da cantoria praticada no século XIX se apresenta como um grande desafio, uma vez que esta modalidade de expressão poética cantada não podia ser registrada naquele momento. Apesar disso, foram encontradas algumas soluções para o registro dos encontros de cantadores e assim algumas pelejas foram reproduzidas em manuscritos, nos jornais e principalmente nos folhetos.

Somente ao fim dos Oitocentos, a consolidação da impressão dos jornais e a introdução de inovações técnicas permitiram também a impressão dos folhetos, com o compartilhamento do mesmo parque gráfico dos periódicos. Também o rápido processo de modernização do setor da imprensa possibilitou o sucateamento das velhas máquinas tipográficas, que foram de logo adquiridas por pequenos empreendedores. Dessa forma, com o aumento da produção de impressos que acelerou a compra de máquinas impressoras mais modernas e, consequentemente, barateando os preços das velhas máquinas tipográficas, foi possível a poetas e pequenos vendedores ambulantes o acesso à publicação de livros. Percebe-se, assim, que a edição regular dos folhetos não se deu exclusivamente pelo crescente interesse do público, mas também por razões de ordem econômica e técnica, as quais permitiram a difusão dos mais variados gêneros de impressos no Brasil (MELO, 2010, p. 57-58).

O início da larga produção de folhetos no Brasil se deu quando os poetas passaram a encomendar a publicação de seus próprios poemas, por meio de pequenas brochuras, feitos com papel barato e vendidos, portanto, a preços acessíveis. Apesar de uma produção voltada a um público heterogêneo, configurava-se um privilégio de poucos a intimidade com o mundo da leitura. Nesse sentido, relata Melo:

A leitura destes frágeis livros tinha finalidades diversas: ajudava a aliviar o fatigante trabalho agrícola, estava presente nos momentos de descanso quando as pessoas se reuniam para ouvir as narrativas em versos e as “histórias de Trancoso”, e com as histórias de ABC, contribuía para iniciar os leitores no restrito universo da escrita. Esta

(8)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

651 característica da literatura de folhetos – a leitura coletiva em voz alta –

contrapõe-se a outras formas de expressão literária e de escritos em que o texto é fruído solitariamente e em silêncio” (MELO, 2010, p.

59).

É importante destacar ainda o papel desempenhado pelos principais poetas e editores de folhetos, que foram fundamentais para a popularidade da literatura de cordel no Brasil, pois segundo Ronald Daus, na sua obra O Ciclo Épico dos Cangaceiros na Poesia Popular do Nordeste (1982):

O poeta popular se origina, sem exceção, da mesma camada social que seu público. Ele é realmente o porta-voz de sua classe e suas interpretações esclarecem a consciência dos sertanejos. Articula uma ideologia coletiva. A congruência entre público e autor não foi ainda quebrada. A harmonia nos aspectos gerais – e especialmente nos estéticos – entre o poeta popular nordestino e a grande massa da população é algo de importância vital para o poeta (DAUS, 1982, p.

18).

Considerado um dos maiores e mais fecundos poetas populares de seu tempo, Leandro Gomes de Barros foi um dos pioneiros da “indústria” artesanal de folhetos e dono de uma obra de inquestionável valor artístico. Ainda muito jovem, Leandro teve sua iniciação no universo da poesia na Vila do Teixeira-PB, quando conviveu com um grupo de cantadores extremamente talentosos, todos da mesma família Nunes da Costa, vivendo assim uma experiência que foi decisiva para a sua formação poética (MELO, 2010, p. 63). Aliás, a popularidade da literatura de cordel está diretamente ligada ao estabelecimento de uma relação de identificação entre os poetas e o público, o que em grande medida é devida aos esforços do poeta e editor de folhetos Leandro Gomes de Barros. Segundo o poeta Carlos Drummond de Andrade, em sua crônica de 1976, sob o título: Leandro, o Poeta, era o verdadeiro merecedor do título Príncipe dos poetas brasileiros que, em 1913, havia sido atribuído ao poeta parnasiano Olavo Bilac. Para Drummond, Leandro Gomes de Barros “não foi príncipe de poetas de asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro” (ANDRADE apud GRILLO, 2015, p. 56).

(9)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

652 Outro nome importante na literatura de cordel foi João Martins de Athaíde,

o qual fez sua carreira como poeta e editor em Recife, onde instalou sua própria tipografia, na rua do Rangel, centro da cidade. No ano de 1921, Athaíde adquiriu os direitos autorais da obra de Leandro Gomes de Barros, passando a omitir o nome deste nas capas dos folhetos, fato que gerou uma confusão na obra dos dois poetas.

Entretanto, tal fato não chegou a ofuscar a importância de João Martins de Athaíde como poeta, tendo em vista a qualidade de seus poemas, bem como pela envergadura de sua vasta produção (MELLO, 2010, p.66).

Assim como Leandro e Athaíde, o poeta também paraibano Francisco das Chagas Batista contribuiu grandiosamente para consolidar a edição de folhetos no Brasil, por meio de sua Tipografia Popular Editora, instalada em 1913 na cidade da Parahyba (atual João Pessoa). Batista escreveu inúmeros folhetos sobre o movimento do cangaço, sendo um de seus temas preferidos. Os cangaceiros Antônio Silvino e Lampião eram seus personagens favoritos, dos quais relatou suas façanhas,

“descrevendo-os ora como desordeiros e bandidos, ora como heróis e justiceiros”

(GRILLO, 2015, p. 58). Por mais de dez anos, acompanhou a trajetória de Antônio Silvino, narrando em seus poemas os crimes noticiados nos jornais, os quais lhe serviram de inspiração para sua criação literária. Ao publicar, em 1929, um dos primeiros estudos sobre a temática, através de sua própria Editora, Batista também contribuiu significativamente para os estudos sobre a literatura de cordel no Brasil (MELO, 2010, p. 67).

Muitos outros poetas populares, também conhecido como cordelistas, firmaram seu nome na história da literatura de cordel no Brasil mas, pela necessidade de maior objetividade que o presente trabalho exige, deixamos de mencioná-los e, conforme sintetizou Grillo:

Esses três poetas constituem o verdadeiro tripé da literatura de cordel, pois, ao mesmo tempo que produziam folhetos de excelente qualidade, conformando de certo modo o gosto do público, também eram proprietários de sua própria obra e de editoras muito importantes no mercado de folhetos” (GRILLO, 2015, p. 64).

(10)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

653 LITERATURA DE CORDEL: FONTE DE PESQUISA PARA A HISTÓRIA DO

CANGAÇO

Para abordar o uso da literatura de cordel como fonte de pesquisa para o estudo do cangaço, é preciso que nos situemos no âmbito da História Cultural, porquanto é objetivo desta resgatar as representações do passado, dando a ver as diversas formas em que as realidades culturais eram construídas e repassadas. Em consequência, é necessário lembrar, como adverte Roger Chartier, que “a percepção e a apreciação do „real‟ são determinadas pelos interesses dos grupos que as forjam, pois o discurso traz a posição de quem o profere. Logo, não há discurso neutro” (CHARTIER apud GRILLO, 2015, p. 9). Além disso, deve ser superado o entendimento de “cultura popular” como “folclore” no seu sentido pejorativo, ou seja, a concepção de que o universo popular é anacrônico e intangível, no sentido de que “a tradição não pode ser pensada como imobilizadora da criatividade, impedindo que os populares introduzam novidades em suas práticas culturais”. Nesse sentido, o novo enfoque dado à cultura popular “revela uma justa preocupação com a historicidade dos fenômenos, com seu caráter dinâmico e atual de uma sociedade dividida em classes, ressaltando-se a necessidade de analisá-los em relação ao contexto onde ocorre” (BURKE apud GRILLO, 2015, p. 17).

O fenômeno do cangaço, espécie de banditismo praticado no Nordeste do Brasil entre a segunda metade do século XIX e meados do XX, não deve ser analisado somente a partir da fala das camadas dominantes, dos coronéis e latifundiários, que estão melhores representados nas fontes oficiais e nos jornais, mas também pela visão das camadas populares, encontrada nas poesias populares, ou seja, na literatura produzida pelos poetas sertanejos que vivenciaram e testemunharam as ações dos bandos de cangaceiros. Essa literatura, na maioria das vezes, aponta o cangaceiro como uma pessoa injustiçada e que, não encontrando refúgio na lei, procura fazer com o punhal, com seu rifle, justiça com as próprias mãos. Justamente por isso o cangaceiro ganhou a simpatia do cancioneiro popular.

(11)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

654 O movimento do cangaço vai ser representado na literatura de cordel,

principalmente, por meio das histórias de seus principais líderes: Antônio Silvino e Lampião. Contudo, sendo os principais expoentes do cangaço, eles vão ser apresentados de maneiras diferentes nos cordéis. Segundo Maria Ângela de Faria Grillo (2015), Antônio Silvino representou o momento romântico do cangaço, que na maioria das vezes agia sozinho, mantinha-se distante da exploração política e se apresentava como justiceiro, pois tirava dos ricos para doar aos pobres. Leandro Gomes de Barros assim retratou o cangaceiro:

Ajuntei todos os pobres Que tinham necessidade Troquei ouro por papel Haja esmola em quantidade Não ficou pobre com fome Ali naquela cidade.

Já Lampião representou justamente a perda de qualquer valor romântico, mostrando-se um homem cruel capaz de cometer os piores crimes sem qualquer motivação (GRILLO, 2015, p. 180). Assim está nos versos de Francisco Chagas Batista:

Um sargento alagoano Sendo uma vez encontrado Nos domínios do bandido Foi por ele fuzilado

Do morto o monstro arrancou As divisas e as mandou Ao chefe daquele Estado.

Outra diferença apontada sobre essas duas personagens do cangaço está em seus comportamentos em relação à mídia. Enquanto Antônio Silvino não era dado a ser retratado, certamente para manter o anonimato como estratégia de ação, Lampião deixou ser várias vezes fotografado junto com seu bando, fazendo questão de se tornar mais conhecido e de, provavelmente, buscar aumentar o número de apoiadores para seus feitos. Vale destacar que Lampião atuou no cangaço anos mais tarde do que Silvino,

(12)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

655 num período em que a atenção para o cangaço era muito maior, em razão mesmo de sua

divulgação feita principalmente por meio dos cordéis. Francisco das Chagas Batista, no folheto História Completa de Lampião, editado em 1926, assim relata:

Depois que Antônio Silvino Se entregára á prisão, Ficou substituindo-o Virgolino Lampeão Um cangaceiro ilustrado

Que com um grupo bem armado Domina o alto sertão.

A memória do cangaço, registrada nos folhetos de cordel e em outras manifestações culturais, deve muito ao trabalho dos folcloristas que se dedicaram à coleta das gestas sertanejas. Aqui, podemos destacar o nome do potiguar Câmara Cascudo que deixou registrado, a partir de elementos da cultura popular presente no sertão, a violência e o banditismo. Sua obra intitulada Flor de Romances Trágicos (1999) traz uma seleção dos principais bandidos, cujos atos de bravura foram preservados e narrados pela tradição oral sertaneja, contribuindo efetivamente para a romantização do fenômeno do cangaço. A despeito da importância de tais registros, é preciso ter em mente, como adverte Fonteles Neto (2019), que “essas compilações folclóricas têm em seu bojo uma única preocupação: salvar do esquecimento os

„costumes tradicionais‟ que, muitas vezes, não podem ser datados historicamente, pois recorrem a tempos imemoriais. Além disso, exaltam a necessidade de perceber um passado cristalizado, sem interferências das mudanças perpetradas por elementos modernos” (FONTELES NETO; BRETAS; FLORES, 2019, p. 302).

Ao nos debruçarmos sobre a pesquisa do movimento do cangaço ocorrido na microrregião do sertão do Alto Pajeú de Pernambuco, entre os séculos XIX e XX, encontramos registros da existência de diversos cangaceiros até então desconhecidos ou pouco pesquisados pelos historiadores que, assim como Antônio Silvino e Lampião, também passaram pelo registro dos poetas populares. Entre tais personagens, vamos encontrar, a título de exemplo, o cangaceiro Adolfo Rosa Meia-noite, que ganhou lugar

(13)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

656 na seleção de bandoleiros trazida na mencionada obra de Câmara Cascudo (1999). Após

narrar a história do cangaceiro Adolfo Meia-noite, o autor cita fragmentos de uma cantiga de autoria desconhecida, que resume a saga do personagem:

Adolfo nasceu nas Varas De Afogados de Ingazeira, Província de Pernambuco, Foi sua terra primeira.

...

- Ele pode ser um padre Ter a coroa sagrada;

Eu sempre vivi com honra, Não vou viver desonrado.

...

Não podendo trabalhar A Paraíba procurou.

De todos os inimigos Meia-Noite se vingou.

...

- Tenho uma coisa comigo, Desde a hora de nascer;

Não mato sem precisão Nem corro sem vê de quê.

...

Era homem de coragem, De muito bom coração, Só matava peito a peito, Pois nunca foi um ladrão.

...

As praças da Paraíba Na Fazenda do Bom-Fim;

Lhe fizeram a traição, Lhe dando o triste fim.

(CASCUDO, 1999, p. 124-125).

Portanto, tornou-se indispensável olhar para a poesia popular registrada nos folhetos de cordel como uma fonte preciosa para a análise da temática do cangaço. Em nossa pesquisa para o Mestrado em História em andamento acerca do cangaço no Alto Pajeú pernambucano, enfatizamos o uso da poesia como fonte de pesquisa, a partir de fragmentos de uma cantiga da tradição oral sobre o episódio da morte do cangaceiro José Patriota, que foi executado pela volante comanda pelo tenente Alencar, no ano de

(14)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

657 1927, ocorrida no Distrito de São Pedro das Lajes (atual Itapetim-PE), município de São

José do Egito-PE. A cantiga sobre o cangaceiro José Patriota, cuja autoria ainda é desconhecida, foi apresentada oralmente pelo Professor Vicente Ferreira Leite, em julho de 2019, antigo morador da cidade de Itapetim – PE e pesquisador das memórias de sua cidade.

Atiraram em Zezé A bala pegou no pé Valei-me Nossa Senhora Não vejo mais minha mulher ...

Zezé tinha uma aliança Custou 22 mil réis Alencar botou no dedo Sem dá-lhe nem um “derréis”

...

Zezé tinha um chapéu Bordado e rebicado Custou 40 mil réis Na cidade de Afogados.

Esses registros trazidos pelas cantigas e poesias populares devem ser considerados para a pesquisa histórica, mas como toda fonte de pesquisa, não deve ser considerada isoladamente. O historiador deverá buscar o cruzamento com outras fontes que possam elevar o grau de evidência dos fatos informados pelas fontes. Nesse sentido, afirma Ferreira (2020): “O papel do historiador é confrontá-las com outras fontes, ou seja, outros registros que permitam a contextualização da obra para assim se aproximar dos múltiplos significados da realidade histórica” (PINSKY; LUCA, 2020, p. 77).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da História Cultural, a qual dialoga diretamente com outras áreas do conhecimento, dentre as quais a História da Literatura e da Arte, aumentam-se as possibilidades de trabalhar com os textos literários. Atualmente, as pesquisas nessa área direcionam para a noção do conceito de circularidade cultural, ou seja, “há um intenso intercâmbio de ideias, imagens e formas de expressão entre grupos dominantes e

(15)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

658 subalternos, entre a cultura letrada e a cultura oral”, sem afastar a interação com as

várias dimensões culturais de uma dada sociedade (oral, letrada, popular, erudita, religiosa, científica, política, jurídica, de gênero etc) (PINSKY; LUCA, 2020, p. 81-82).

Observa-se que os textos literários e, em particular, a literatura de cordel, nem sempre esteve presente no rol das fontes para a pesquisa na área de História.

Apesar de o folheto de cordel encontrar-se inserido em sua materialidade no rol dos registros impressos, esteve por muito tempo atrelado ao campo das narrativas orais, fantásticas, fabulosas e fictícias, em razão de sua forma poética e também pelo conjunto de significações atribuídas pelos trabalhos acadêmicos, e, portanto, não era visto como documento histórico (SILVA, 2015, p. 31-32). Segundo a historiadora Maria do Rosário da Silva (2015):

como objeto próximo „do mundo mágico e das vozes da tradição‟, e instalados no campo da poesia, os folhetos como objeto de pesquisa histórica estiveram durante décadas longe dos escritos da historiografia brasileira. Em primeiro lugar, por sua forma poética; em segundo lugar, por sua vinculação com o mundo da oralidade. Sem espaço nos estudos históricos, foram acolhidos no âmbito das pesquisas antropológicas, sociológicas, literárias e folclóricas (SILVA, 2015, p. 49).

Na atualidade, os folhetos de cordel constituem privilegiada fonte de pesquisa, uma vez que reúnem as linguagens oral, escrita e iconográfica, por meio de suas xilogravuras. As suas narrativas registram os acontecimentos de um determinado período e lugar, transformando-se em memória, documento e registro da história (GRILLO, 2015, p. 22).

Em razão de sua contemporaneidade e comum territorialidade com a ascensão da literatura de cordel no Nordeste do Brasil, o fenômeno do cangaço tornou- se um dos temas preferidos dos cordelistas, sendo farta a produção acerca do tema, notadamente sobre os cangaceiros Lampião e Antônio Silvino, mas com grande amplitude de interpretações ao longo do tempo (GRILLO, 2015, p. 179). Nesse contexto, é imprescindível o uso dessa literatura como fonte de pesquisa para a história do cangaço.

(16)

ST 9. Trajetórias: cultura, memória e narrativas biográficas / Recife, 04 a 06 de novembro de 2020.

659 REFERÊNCIAS

BURKE, Peter. Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro. In: BURKE, Peter (org.). A Escrita da História: Novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.

CASCUDO, Luís da Câmara Cascudo. Flor de Romances Trágicos. 3ª ed. Natal-RN:

EDUFRN, 1999.

DAUS, Ronald. O ciclo épico dos cangaceiros na poesia popular do nordeste.

Tradução de Raquel Teixeira Valença. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1982.

FONTELES NETO, Francisco Linhares. O folclore e o banditismo no Nordeste brasileiro. In: FONTELES NETO, Francisco Linhares; BRETAS, Marcos Luiz;

FLORES, Mariana Flores da Cunha Thompson (orgs.). História do Banditismo no Brasil: Novos espaços, novas abordagens. Santa Maria - RS: Ed. UFSM, 2019.

FERREIRA, Antônio Celso. Literatura: A fonte fecunda. In: PINSKY, Carla Bassanezi;

LUCA, Tânia Regina de (orgs.). O historiador e suas fontes. 1ª ed., 6ª reimpressão.

São Paulo: Contexto, 2020.

GRILLO, Maria Ângela de Faria. A arte do povo: histórias na literatura de cordel (1900-1940). Jundiaí-SP: Paço Editorial, 2015.

MELO, Rosilene Alves de. Arcanos do Verso: trajetórias da literatura de cordel. Rio de Janeiro: 7Letras, 2010.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. 3ª ed. Belo Horizonte:

Autêntica, 2012.

SILVA, Maria do Rosário da. Histórias Escritas na Madeira: J. Borges entre folhetos e xilogravuras na década de 1970. 2015. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, CFCH, 2015.

Referências

Documentos relacionados

Assim, o presente trabalho surgiu com o objetivo de analisar e refletir sobre como o uso de novas tecnologias, em especial o data show, no ensino de Geografia nos dias atuais

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Quando contratados, conforme valores dispostos no Anexo I, converter dados para uso pelos aplicativos, instalar os aplicativos objeto deste contrato, treinar os servidores

São considerados custos e despesas ambientais, o valor dos insumos, mão- de-obra, amortização de equipamentos e instalações necessários ao processo de preservação, proteção

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for

Aos sete dias do mês de janeiro do ano 2002, o Perito Dr. OSCAR LUIZ DE LIMA E CIRNE NETO, designado pelo MM Juiz de Direito da x.ª Vara Cível da Comarca do São Gonçalo, para proceder

• Quando o navegador não tem suporte ao Javascript, para que conteúdo não seja exibido na forma textual, o script deve vir entre as tags de comentário do HTML. <script Language

Com a realização da Ficha de Diagnóstico, o professor deve averiguar as aprendizagens dos alunos já realizadas sobre números racionais não negativos – operações e propriedades.