PUC-SP
Mateus Brasileiro Reis Pereira
Operação Estabelecedora Condicionada Substituta: uma
demonstração experimental
MESTRADO EM PSICOLOGIA EXPERIMENTAL: ANÁLISE
DO COMPORTAMENTO
PUC-SP
Mateus Brasileiro Reis Pereira
Operação Estabelecedora Condicionada Substituta: uma
demonstração experimental
MESTRADO EM PSICOLOGIA EXPERIMENTAL: ANÁLISE
DO COMPORTAMENTO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Professora, Doutora Tereza Maria de Azevedo Pires Sério
Projeto parcialmente financiado pela CAPES e pela FAPESP
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Banca Examinadora
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Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a meus pais, pessoas que possibilitaram que eu viesse para São Paulo fazer meu mestrado. Não só pelo apoio financeiro (também indispensável), mas pelo apoio a todas as escolhas que eu fiz, pela educação que me proporcionaram, pelo carinho (mesmo que, às vezes, tácito), que nunca me faltou. Vocês compartilharam desde muito cedo meu sonho de sair do Piauí para fazer o mestrado. Agora, espero que estejam compartilhando do meu sucesso tanto quanto eu gostaria, pois todos os esforços que fiz, nesses últimos dois anos, foram sempre pensando em deixá-los orgulhosos da pessoa que estou me tornando.
Às minhas irmãs, Renata, Ivana e Luiza, pessoas com as quais acostumei a me relacionar a distância, mas que estão sempre presentes na minha vida. É impossível não lembrar das brigas, das brincadeiras, dos conselhos, etc. Quero que vocês saibam que, de uma forma ou de outra, vocês estão sempre comigo.
Ao meu sobrinho Enrico, que, apesar de nem saber, já significa para mim mais do que ele um dia vai poder imaginar.
À minha orientadora, Téia, pelo seu amor ao ensino, sua disponibilidade aos alunos, o carinho (que nem sempre aparece, mas que eu sei que está sempre lá) que ela tem pelos seus orientandos, por ter me guiado durante esses últimos dois anos e por ter mudado ajudado a construir um “Mateus” mais próximo do que eu sempre quis ser. Você é uma fonte de inspiração.
À professora Maria Amália, pela amabilidade com que sempre me tratou, pela grande professora que é e, claro, pelas famosas tiradas bem-humoradas dela.
À professora Nilza Micheletto, pelo cuidado e prontidão que ela sempre teve nas inúmeras vezes que eu precisei de ajuda em assuntos relacionados à minha coleta; antes, durante e depois do período em que ela estave em vigor.
À professora Maria do Carmo, que, sem querer querendo, foi construindo em mim um pesquisador básico apaixonado pela pesquisa histórica. Obrigado, professora, pelas nossas deliciosas conversas e pelo seu jeito de educar, que nos faz, por vezes, esquecer que estamos tomando verdadeiras aulas em cada conversa dessas.
À Paula Gioia, ao Roberto, à Maria Eliza e a todos os outros professores do laboratório. Vocês são a melhor equipe de analistas do comportamento (talvez de profissionais) que eu já conheci na vida. Eu tenho algo de especial para dizer sobre cada um de vocês também, mas eu espero que vocês me perdoem por estar sendo obrigado a resumir meus agradecimentos.
A uma das pessoas mais inventivas e habilidosas que já conheci. Maurício, o rei das gambiarras. De verdade, esta pesquisa não teria sido possível sem você. Espero poder, um dia, saldar minha dívida.
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À Dinalva, que me adotou no programa antes mesmo de eu chegar em São Paulo. Sempre me ajudando a resolver meus problemas e a acalmar minhas angústias. Prometo que não vou sumir, viu? Um grande beijo, Didi.
Aos professores que eu tive na graduação e que marcaram minha vida. Espero que vocês saibam quem são. Em especial à professora Hadassa, minha eterna mestra, que me iniciou na análise do comportamento.
Também a todos os bons amigos que fiz durante a graduação. Em especial aos meus amigos co-fundadores da SPPC e confidentes dos planos acadêmicos e pessoais, Fauston, Tereza e Islene.
A todos os bons amigos que fiz no mestrado. Ana Fonai (mamita!), Daniel (valeu por ter cuidado de mim, cara!!), Roberta e Campília (nunca vou esquecer a mão que me estenderam), Rodrigo, Mariana Souza, Renata e Paulo Panetta (pelas dicas impagáveis que me deram), Lívia, Juliana Ferreira e Sabrina. Em especial àqueles amigos que me ajudaram diretamente na minha pesquisa, como Ângelo, Jazz, João, Julia e Gabriel. Muito obrigado por terem tido a coragem e paciência de coletar para mim. Muito obrigado também à Paula Braga, pela “equipe do Mateus”.
Aos meus irmãos (e irmãs) da IM family e do Morbydia (incluindo agregados). Todos vocês são e sempre serão muito especiais para mim. Preciso destacar, no entanto, meus “dudes”, Filipe e Ubaldo.
Aos meus roomates, Fernando e Álvaro, pela paciência que tiveram com meu estado de humor nesses últimos meses e por serem pessoas com as quais eu sempre tive a certeza que pude contar.
Para a família Moreira Pereira, que me acolheu em sua casa desde o primeiro dia como se eu fosse um amigo de longa data. Obrigado Cristina, Sinval, Luana e Guilherme.
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INTRODUÇÃO ... 01
Definição e evolução do conceito de Operação Estabelecedora ... 04
Distinções entre os conceitos de OE e de estímulo discriminativo (Sd) ... 09
Importância do conceito e a necessidade de pesquisas na área ... 13
Pesquisas sobre OEC substituta ... 15
MÉTODO ... 29
Sujeitos ... 29
Equipamento ... 29
Procedimento ... 30
Fase 1: determinação do peso ad lib ... 30
Fase 2: redução do alimento diário e introdução de estímulo luminoso ... 30
Fase 3: modelagem das respostas de pressão à barra e esquema VI ... 32
Fase 4: exposição dos sujeitos a diferentes condições de privação ... 33
Fase 5: testes da suposta OEC substituta ... 36
RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 40
Peso e taxa de respostas dos sujeitos em diferentes regimes alimentares ... 40
Relação entre peso do sujeito e quantidade de alimento ingerida ... 40
Relação entre diferentes condições de privação e o desempenho dos sujeitos em um esquema VI 60 s ... 56
Efeitos da introdução da suposta operação estabelecedora condicionada substituta nas sessões experimentais sobre o desempenho dos sujeitos ... 62
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Figura 1. Ilustração esquemática do aparato luminoso, mostrando o posicionamento dos pontos luminosos, seus diâmetros, distância entre eles e entre seus centros ... 29
Figura 2. Esquema do funcionamento do aparato luminoso ao longo do tempo. Os
pontos pretos indicam que as luzes estão acesas enquanto que os brancos, apagadas ... 31
Figura 3. Evolução de peso dos oito sujeitos experimentais a partir do início da fase 1 até o dia em que o primeiro sujeito encerrou a fase 3. As linhas pontilhadas indicam mudanças de fase ... 42
Figura 4. Tendências da evolução de peso dos oito sujeitos experimentais a partir do início da fase 1 até o dia em que o primeiro sujeito encerrou a fase 3. As linha pontilhadas indicam mudanças de fase ... 44
Figuras 5 A a H. Relação entre peso e alimento ingerido para os sujeitos M1, M2, M3, M4, M5, M6, M7 e M8 das últimas 8 sessões da fase 1 até o final da coleta. As linhas
horizontais tracejadas demarcam a faixa de peso entre 80 e 85% do peso ad lib. As
linhas verticais tracejadas indicam as delimitações entre fases e/ou sub-fases. As linhas
contínuas indicam a quantidade de alimento disponibilizada em um determinado período 55
Figura 6. Freqüência acumulada dos sujeitos M1 a M8, referente à última sessão da fase
3 e à última sessão de cada sub-fase da fase 4 (máxima, moderada e mínima) ... 60
Figura 7. Freqüência acumulada da terceira sessão, dentre as cinco últimas, das fases/sub-fases pelas quais o sujeito M1 passou, a partir da fase 3 até o final da fase 4 (F3, F4/1, F42, F4/3) ... 61
Figuras 8 A a F. Taxa de respostas por minuto por sessão experimental do sujeito M1, M2, M3, M4, M5 e M7 diante das três diferentes configurações luminosas às quais ele
foi submetido em privação mínima e máxima. As barras hachuradas representam as
taxas na presença de luz e as pintadas na ausência de luz ... 72
Figura 9. Freqüência acumulada da última sessão experimental de exposição à configuração de 7 luzes, na sub-fase F5/1, para os seis sujeitos que passaram por F5. Os pontos dispostos ao longo da curva, marcam as mudanças no mecanismo luminoso de
ligado para desligado, o que é indicado, respectivamente, pelos termos ON e OFF ... 73
Figura 10. Freqüência acumulada da última sessão experimental de exposição à configuração de 1 luz, na sub-fase F5/1, para os seis sujeitos que passaram por F5. Os pontos dispostos ao longo da curva, marcam as mudanças no mecanismo luminoso de
ligado para desligado, o que é indicado, respectivamente, pelos termos ON e OFF ... 74
Figura 11. Curvas de freqüência acumulada, dos sujeitos M2, M4, M5 e M7 , da sessão de teste realizada em extinção. Os pontos dispostos ao longo da curva, marcam as mudanças no mecanismo luminoso de ligado para desligado, o que é indicado,
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Tabela 1. Ordens das condições de privação à quais cada um dos grupos foi submetido.. 35
Tabela 2. Médias dos pesos e das quantidades de alimento ingerido dos últimos 10 dias da 1ª fase para cada sujeito individualmente e para os três grupos ... 36
Tabela 3. Seqüências nas quais os sujeitos foram expostos às diferentes configurações luminosas, em privação mínima na fase 5, e número de sessões experimentais nas quais cada sujeito foi exposto a cada uma delas ... 38
Tabela 4. Seqüências nas quais os sujeitos foram expostos às diferentes configurações luminosas, em privação màxima ou moderada na fase 5, e número de sessões
experimentais nas quais cada sujeito foi exposto a cada uma delas ... 39
Tabela 5. Proporção entre o número de sessões nas quais os sujeitos emitiram taxas maiores na presença da luz e o número total de sessões nas três configurações de luz
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graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Orientadora: Profa. Dra. Tereza Maria de Azevedo Pires Sério
Linha de Pesquisa: Processos Básicos da Análise do Comportamento
Resumo
As operações estabelecedoras (OE´s) são eventos ambientais definidas por dois de seus efeitos: elas estabelecem a eficácia reforçadora/punidora de uma conseqüência e alteram a freqüência de qualquer resposta que, no passado, esteve relacionada a ela. As OE´s são divididas em incondicionadas e condicionadas, sendo que as últimas são classificadas em três tipos diferentes: OEC substituta, OEC reflexiva, OEC transitiva. Muito se tem publicado recentemente sobre a importância das operações estabelecedoras para a análise aplicada do comportamento. Entretanto, existe uma escassez de pesquisas básicas na área, especialmente sobre OEC substituta. Objetivou-se, com este trabalho, realizar uma demonstração empírica deste tipo de OE. Para tanto foram realizados experimentos com 8 ratos machos da raça Wistar, utilizando-se equipamento padrão (caixas-viveiro e caixa experimental) e um mecanismo com sete pontos luminosos que deveria, supostamente, funcionar como a OEC substituta. O delineamento experimental envolveu cinco fases: (1) determinação do peso ad lib dos sujeitos; (2) redução da quantidade diária de alimento até que os sujeitos tivessem atingido de 80% a 85% de seu peso ad lib, concomitantemente com o procedimento para estabelecer a OEC substituta; (3) modelagem da resposta de pressão à barra e implementação de esquema VI 60 s; (4) exposição dos sujeitos a três diferentes condições de privação (chamadas de mínima, moderada e máxima); (5) testes da OEC substituta com os seis sujeitos que terminaram a fase 4. Os principais resultados obtidos foram: a) com relação à exposição dos sujeitos às três diferentes condições de privação, verificou-se os efeitos produzidos por elas sobre o peso dos sujeitos e o número de respostas emitidas por sessão, sendo que, de uma maneira geral, observou-se, na condição de privação mínima, pesos maiores e um menor número de respostas por sessão do que nas outras duas condições, na condição de privação máxima, pesos menores e um maior número de respostas emitidas e, na condição de privação moderada, resultados intermediários entre os das outras duas condições; b) com relação aos testes da OEC substituta, os dados sugerem que, para pelo menos quatro dos seis sujeitos, o mecanismo luminoso apresentou (em algumas das configurações de luzes utilizadas nas sessões experimentais) efeitos de uma operação estabelecedora condicionada substituta, e que estes efeitos são mais visíveis em condições de privação mais amenas (condições mínima e moderada).
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graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Abstract
Establishing operations (EO`s) are environmental events defined by two of their effects: establishing the effect of a consequence as a reinforcement or a punisher and altering the frequency of any response that, in the past, was related to it. The EO`s are divided in unconditioned and conditioned, being the last ones classified in three different types: surrogate CEO, reflexive CEO, transitive CEO. A lot has recently been published about the importance of establishing operations to Applied Behavior Analysis. However, there is little basic research in the field, especially concerning the surrogate CEO. This work had the objective of demonstrating this EO empirically. For this purpose, experiments were conducted using 8 male Wistar rats, a standard equipment (living cages and experimental box) and a mechanism with seven light spots that would supposedly function as the surrogate CEO. The experimental design involved five phases: (1) determining the subjects` free feeding weight; (2) reducing the amount of food the subjects could eat per day until they would remain at about 80% to 85% of their free feeding weight, concomitantly with the procedure to establish the surrogate CEO; (3) shaping the bar press response and implementing the VI 60 s schedule; (4) exposing the subjects to three different deprivation conditions (named minimum, moderate and maximum); (5) testing the surrogate CEO with the six subjects that had completed phase 4. The main results obtained were: a) in relation to the exposure of the subjects to the three different deprivation conditions, the subjects` weights and number of responses emitted per session were affected by them. In general, along the minimum deprivation condition, higher weights and lower number of responses per session were obtained, in comparison with the other conditions; whereas along the maximum deprivation condition, lower weights and higher number of responses were emitted; finally, along the moderate deprivation condition, intermediate results between the two other conditions were obtained; b) in relation to the surrogate CEO tests, data suggest that, at least for four of the six subjects, the mechanism showed (in some of the configurations used in the experimental sessions) effects of a surrogate conditioned establishing operation, which are more visible in lower deprivation conditions (the minimum and moderation conditions).
Em seu livro entitulado “The Behavior of Organismis”, Skinner (1938), dedica
espaço considerável a variáveis que, segundo ele, dariam conta de parte do fenômeno
tradicionalmente chamado de motivação. O autor apresenta a discussão do tema da seguinte
maneira:
“Os processos de condicionamento, extinção, discriminação e diferenciação, em suas muitas formas, surgem das várias maneiras nas quais um estímulo reforçador pode estar relacionado ao comportamento. É óbvio que reforçamento é uma das operações importantes que modificam a força do reflexo. Um outro tipo de operação talvez igualmente importante está associada com o problema tradicional da motivação ou
‘drive’” (Skinner, 1938, p. 341).
Logo no parágrafo seguinte ao citado, entretanto, o autor destaca que a noção de
drive utilizada tradicionalmente abrange uma grande variedade de fenômenos, mas que seu
uso do termo seria feito, em sua obra, de maneira mais restrita, referindo-se estritamente a
um conjunto de variáveis independentes que têm determinados efeitos sobre o
comportamento.
O interesse por essas variáveis surgiu, de acordo com Skinner (1938), porque ao se
observar o comportamento, percebe-se a seguinte variabilidade: organismos que já tiveram
respostas previamente reforçadas com a obtenção de uma determinada conseqüência,
podem deixar de emitir estas respostas (ou diminuir o número de emissões delas), a
depender da privação à qual estiverem submetidos. Assim, mesmo que o organismo já
tenha, anteriormente, passado por um processo de condicionamento no qual uma certa
resposta foi seguida por uma determinada conseqüência, emissões futuras de outras
respostas desta mesma classe dependem de um grupo específico de variáveis, às quais o
autor atribuiu o rótulo de drives, que atuam no fortalecimento ou enfraquecimento do
comportamento. Dentre elas, as que ele destaca como as mais importantes são privação e
saciação. Desta maneira, explicações que se referem a estados internos para falar dos
efeitos dessas variáveis motivacionais – como as de que um organismo come porque está
com fome – passam a ser formuladas da seguinte forma: observa-se que um organismo
passa a emitir mais respostas que produzam alimento a depender de alguma operação que
esteja presente, como a privação.
Uma característica apontada como importante por Skinner (1938) é, portanto, que
eles aumentam a probabilidade de emissão de respostas que tenham, no passado, produzido
ambientais que classificadas como motivacionais é exercido não sobre uma, mas sobre
diferentes classes de respostas e que diferentes operações ambientais podem produzir
efeitos similares sobre essas classes. Por exemplo, privação de água, exercícios físicos e
ingestão de sal são diferentes operações ambientais e têm efeitos sobre qualquer resposta
que tenha, no passado, porduzido água; seja comprar água, deslocar-se até o bebedouro,
pedir a alguém, etc. O autor sugere, então, que as operações com efeitos iguais deveriam
ser agrupadas dentro de uma mesma categoria. Poranto, as variáveis motivacionais que
tivessem efeitos sobre diferentes respostas que, no passado, produziram um mesmo
estímulo reforçador, fariam parte de um mesmo drive.
A fim de melhor identificar diferentes grupos de variáveis motivacionais (ou
drives), Skinner (1938), sugere, ainda, que pode ser útil a introdução de um termo que
destaque um estado intermediário hipotético entre a operação e os seus efeitos sobre as
respostas. Para cada um dos diferentes drives seria atribuído um estado hipotético que
deveria identificar um “tipo” de drive, ou seja, deveria identificar o estímulo reforçador que
foi, no passado, produzido pelas respostas fortalecidas pelas operações que compõem um
drive específico. Sendo assim, privação de água, exercícios físicos e ingestão de sal
deveriam ser agrupados sob um mesmo drive, que seria representado por um estado como
sede, por exemplo. É importante ressaltar, porém, que os estados intermediários cumpriam
para Skinner, um papel meramente conceitual (colocar variáveis com funções semelhantes
sob um mesmo rótulo) e não inferências sobre estados internos que determinariam a
conduta.
A relação entre as operações e os efeitos sobre as respostas foi, então, representada
por Skinner (1938) da seguinte forma:
Operação I Força do comportamento I
(privação)
Operação II “Estado” Força do comportamento II
(Exercícios)
Operação III Força do comportamento III
(Ingestão de sal)
Por fim, os drives teriam a função não apenas de aumentar a probabilidade de
que uma conseqüência funcione como reforçador, um drive deve estar atuando no
momento. Por exemplo, para que alimento funcione como uma conseqüência que irá
aumentar a probabilidade futura de emissão de respostas que o produzam, é necessário que
exista algum grau de privação, caso contrário ele não funcionará como reforçador. Vale
destacar que Skinner (1938) salienta que qualquer grau do drive (maior ou menor) vai ter
um mesmo efeito sobre a conseqüência, ou seja, vai conferir-lhe momentaneamente função
reforçadora. O que varia é a freqüência de respostas emitidas para obter esta conseqüência.
Voltando ao exemplo, a privação de alimento, em qualquer nível, vai transformar o
alimento em estímulo reforçador. Porém quanto maior ela for, maior será o número de
respostas emitidas para obtê-lo.
O tema “variáveis motivacionais” volta a ser tratado de maneira semelhante em
outros importantes manuais de análise do comportamento que vieram depois de “The
Behavior of Organismis”. Por exemplo, o próprio Skinner, em 1953/2000, Keller e
Schoenfeld (1950/1974) e Millenson (1967), definem mais uma vez as variáveis
motivacionais como eventos ambientais com efeitos sobre a freqüência de respostas e a
função reforçadora de estímulos conseqüentes, assim como o fez Skinner (1938).
Ao se pesquisar as obras citadas, pode-se constatar que, além de adotarem
definições semelhantes, Keller e Schoenfeld (1950/1974), Skinner (1938, 1953/2000) e
Millenson (1967), adotam enfoques convergentes para algumas peculiaridades das
chamadas variáveis motivacionais, merecendo destaque dois delas: (1) a importância de se
levar em conta essas variáveis no estudo do comportamento e (2) a negação ou, pelo
menos, a omissão de uma posição explícita sobre a possibilidade de se estabelecer drives
condicionados1.
Michael (1982, 1988, 1993a), volta aos debates sobre o conceito de motivação na
análise do comportamento e recupera uma definição ao mesmo tempo mais abrangente e
mais precisa das variáveis motivacionais, adotando a terminologia Operações
Estabelecedoras (OE´s) para identificá-las. Mais abrangente pois inclui também as
variáveis que envolvem aprendizagem (que não haviam sido claramente trabalhadas pelos
autores citados anteriormente) e mais precisa porque busca deixar claros os critérios
1
necessários para que um evento seja considerado uma operação estabelecedora e não como
outras variáveis ambientais.
Definição e evolução do conceito de Operação Estabelecedora
A tentativa de Michael de englobar as variáveis motivacioais em torno do conceito
de operações estabelecedoras iniciou-se em 1982. Neste texto, o autor tem como propósitos
(1) apresentar um novo conceito que abranja todos os eventos ambientais (de origem
filognética ou ontogenética) que tenham os mesmos efeitos sobre o comportamento que as
variáveis tratadas por Keller (1950/1974), Skinner (1953/2000) e Millenson (1967) como
drives, mas que pudesse superar as desvantagens que um vocábulo (drive) ligado a visões
tradicionais do fenômeno denominado de motivação pode trazer; (2) distinguir suas funções
comportamentais daquelas atribuídas a variáveis ambientais antecedentes que aumentam a
probabilidade de emissão de respostas devido a uma disponibilidade diferencial de
reforçamento, os estímulos discriminativos (diferença que será explicitada posteriormente
neste texto).
Michael (1982) define operação estabelecedora como uma variável ambiental que
afeta o organismo de duas formas: (1) alterando temporariamente a eficácia
reforçadora/punitiva de algum evento (efeito estabelecedor do reforço) e (2) alterando
momentaneamente a freqüência de respostas relacionadas a este evento (efeito evocativo).
Por exemplo, para uma pessoa que está privada (operação estabelecedora) de alimento por
mais de um dia, um prato com comida será momentaneamente reforçador (efeito
estabelecedor do reforço) para todas respostas que no passado tenham sido relacionadas
com sua obtenção e estas respostas serão emitidas numa freqüência maior enquanto a
privação durar (efeito evocativo) do que se esta pessoa estivesse saciada (operação
estabelecedora).
O autor também esboça uma primeira classificação das operações estabelecedoras
na qual distingue aquelas que alteram a eficácia de reforçadores incondicionados e as
operações que alteram a eficácia de reforçadores codicionados sem alterar a eficácia dos
reforçadores incondicionados, que ele chamou de estímulo estabelecedor. As primeiras
teriam seus efeitos advindos da história da espécie e as últimas da história individual de um
Em 1988, Michael apresenta seus primeiros refinamentos para o conceito. As
variáveis motivacionais de origem filogenética passaram a ser chamadas de operações
estabelecedoras incondicionadas (OEI) e não mais apenas operações estabelecedoras. As de
origem ontogenética, de operações estabelecedoras condicioadas (OEC), ao invés de
estímulo estabelecedor. Além disso, passa a diferenciá-las não pelo tipo de estímulo
reforçador que estabelecem (incondicionado ou condicionado), mas somente pelo tipo de
história (filo ou ontogenética) necessária para conferir-lhe o efeito estabelecedor.
As operações estabelecedoras condicionadas foram subdivididas em dois tipos: as
OEC’s constituídas pelos estímulos aversivos condicionados, que, sempre que estiverem
em vigor, estabelecem sua própria remoção como reforçadora, e as OEC’s de
resposta-bloqueada, que estabelecem a eficácia momentânea de outros eventos ambientais como
reforçadores condicionados. Este último tipo já havia sido denominado por Michael (1982)
como estímulo estabelecedor.
Em 1993a, Michael mantém as duas categorias principais (incondicionadas e
condicionadas) para a classificação das OE’s, mas, neste texto, trabalha mais
detalhadamente as suas definições e suas subdivisões, apresentando-as da seguinte maneira:
1. Operações estabelecedoras incondicionadas (OEI). São de origem filogenética,
dependem da espécie a que cada indivíduo pertence. A OE tem seu efeito estabelecedor do
reforço sem necessidade de uma história prévia de condicionamento, ou seja, o aumento ou
a diminuição momentâneos da eficácia reforçadora de um evento sob determinadas
condições não depende de aprendizagem, mas sim da história evolutiva da espécie. Os tipos
de OEI’s identificadas são: privação e saciação (de água, de alimento, de oxigênio, de
atividade e de sono), estimulação dolorosa, diminuição ou aumento da temperatura que a
deixem fora da zona de adaptação e conforto, variáveis relevantes ao reforçamento sexual;
2. Operações estabelecedoras condicionadas (OEC). São de origem ontogenética,
dependem da história do indivíduo. O evento reforçador pode ser incondicionado ou
condicionado, e o que as diferem da OEI é que, para adquirir um efeito estabelecedor sobre
a conseqüência, ela tem que ser correlacionada com uma OEI ou outra OEC. Ou seja, para
que ela adquira efeito estabelecedor é necessária aprendizagem. Michael (1993a), desta vez,
subdivide as OEC’s em três categorias. Seguem-se elas:
apresentada por Michael nos textos anteriores. É considerada a relação mais simples. Tem
como requisito apenas uma correlação temporal sistemática de um evento neutro com outro
que já atue como operação estabelecedora (seja incondicinada ou condicionada). O
resultado deste pareamento é que o estímulo previamente neutro pode adquirir as
características motivacionais da OE com a qual foi correlacionada. A suposição sobre a
possível criação de uma OEC substituta baseou-se nos dados que já existem sobre o
pareamento de variáveis neutras com outras que tenham algum efeito sobre o
comportamento, como uma maneira eficaz de conferir às primeiras algumas das
propriedades comportamentais das últimas (como no caso dos eliciadores condicionados,
punidores condicionados e reforçadores condicionados).
Um exemplo, colocado por Michael (1993a), de estímulo funcionando como OEC
substituta seria o de se parear sistematicamente situações de privação de alimento a um som
e, posteriormente, observar a capacidade do som em produzir efeitos semelhantes aos da
privacão, como aumentar momentaneamente a eficácia do alimento como estímulo
reforçador e um aumento também momentâneo da freqüência de respostas relacionadas à
suas obtenção.
b) Operação estabelecedora condicionada reflexiva: já apresentada por Michael
(1988), porém sem um termo específico para defini-la, consiste em uma relação que ocorre
entre um evento que precede sistematicamente alguma estimulação aversiva e cuja remoção
resultará na não ocorrência da estimulação aversiva, como nos procedimentos de esquiva
sinalizada. O nome reflexiva foi dado porque o estímulo aversivo condicionado estabelece
sua própria remoção como reforçador e aumenta a freqüência de respostas relacionadas
com esta remoção.
Uma situação na qual, por exemplo, um som (estímulo neutro até então) é seguido
de maneira sistemática por um choque (um estímulo aversivo incondicionado) e, quando
desligado, evita o choque, passa a exercer funções semelhates as do aversivo
incondicionado. Se, portanto, a remoção do choque é um reforçador negativo
incondicionado, a remoção do som torna-se um reforçador negativo condicionado (Michael,
1993a).
A remoção do choque, entretanto, só pode ser considerada reforçadora caso o
como estímulo reforçador e que evoca qualquer resposta que no passado tenha sido
conseqüenciada por sua remoção, o que o qualifica como uma operação estabelecedora
incondicionada, como definida por Michael (1993a). Da mesma forma que o choque, o
estímulo aversivo condicionado “som” também tem seus efeitos recaindo sobre si mesmo,
pois é sua presença que o estabelece como reforçador negativo. A diferença é que para que
ele passe a exercer esta função uma história de aprendizagem é necessária, o que o qualifica
como uma operação estabelecedora condicionada reflexiva.
c) Operação estabelecedora condicionada transitiva: apresentada anteriormente por
Michael como estímulo estabelecedor (1982) e OEC de resposta-bloqueada (1988), é
definida como uma relação condicional entre um estímulo (S1) e um reforçador/punidor
condicionado (S2), de forma que só na presença de S1 é que S2 tem função
reforçadora/punidora condicionada e evoca respostas que o produziram anteriormente.
Para melhor explicar a definição das OEC’s transitivas, Michael (1993a) descreve
uma situação na qual um estímulo (S2) está correlacionado com uma disponibilidade
diferecial de um outro estímulo reforçador já estabelecido (água para um organismo
privado, por exemplo). S2 será um estímulo discriminativo para respostas (R2) que
produzam água e um estímulo reforçador condicionado para respostas (R1) que o
produzam. Na presença de um outro estímulo (S1), emitir uma determinada resposta (R1)
produz S2 e uma segunda resposta (R2), evocada por ele, produz o reforçador final da
cadeia (no caso, água). Na ausência de S1, emitir a resposta (R1) porduz S2, mas na
presença de S2, emitir R2 não mais produz água. Espera-se que, em condições como esta, o
organismo só responda na presença de S1, mesmo que na sua ausência emitir uma dada
resposta ainda produza S2, pois S1 seria uma condição ambiental que estabelece a eficácia
reforçadora de S2 e evoca respostas que, no passado, o produziram.
Pode-se dizer, então, que S1 é um estímulo que está relacionado com a correlação
entre S2 e um outro reforçador já estabelecido por uma outra OE (água para um organismo
privado de líquidos, por exemplo), e que altera momentaneamente a eficácia do reforçador
condicionado S2 independentemente da operação que estabelece o reforçador final da
cadeia (no caso, privação de água). S1 seria, portanto, uma operação estabelecedora
Apesar de diferirem em alguns aspectos em relação à classificação, aspectos
enfatizados e terminologia utilizada, os trabalhos de 1982, 1988 e 1993a de Michael,
trazem a mesma definição para operações estabelecedoras e utilizam este termo como um
conceito que engloba todas as variáveis que alteram o valor do reforçador e aumentem a
probabilidade de emissão de respostas que o produzam . É interessante perceber que ao se
fazer isto, porém, pode-se estar colocando dois grupos de variáveis que se opõem tanto com
relação ao efeito estabelecedor quanto com relação ao efeito evocativo sob um mesmo
rótulo, como a privação e a saciação por exemplo. Enquanto a privação faz com que o
alimento se torne reforçador e a freqüência de respostas para obtê-lo aumente, a saciação
diminui a eficácia do alimento como reforçador e a freqüência das respostas relacionadas à
sua obtenção tende a cair.
Em momentos iniciais, Michael (1982, 1983, 1993a) considerou útil incluir efeitos
opostos sob um mesmo termo, uma vez que o objetivo era introduzir e fortalecer um
conceito geral que pudesse abranger todas as variáveis motivacionais. Porém, desde então,
refinamentos terminológicos vêm sendo realizados e Michael (2000) e Laraway, Snycerski,
Michael e Poling (2003) passam a adotar o termo “operações abolidoras” para aquelas
variáveis motivacionais que diminuem a eficácia reforçadora do estímulo e diminuem a
freqüência das respostas que o produzem. “Operações motivadoras” (OM)2 foi o termo
proposto para englobar numa mesma categoria tanto operações estabelecedoras quanto
abolidoras (Laraway, Snycerski, Michael e Poling, 2003).
Dados os refinamentos no conceito das operações motivadoras, mudanças também
fizeram-se necessárias na terminologia dos efeitos que as definem. O efeito estabelecedor
daria conta apenas daquelas variáveis que aumentassem a eficácia de uma conseqüência.
Como a atuação das OM´s é bidirecional (pode tanto aumentar como diminuir a eficácia da
conseqüência), Laraway et al. (2003) sugerem o termo mais geral "efeito alterador do
valor" para referirem-se a ambos, o efeito estabelecedor e abolidor do reforço/punição. No
que concerne ao efeito evocativo, mudança semelhante foi proposta pelos autores. Tal
termo também foi considerado impreciso por explicitar apenas um aumento no responder,
não abrangendo as OM´s que provocam um decréscimo na freqüência de respostas. Os
autores distinguem, portanto, um efeito evocativo e um efeito abativo das operações
2
motivadoras e propõem o termo efeito alterador do comportamento como uma descrição
mais geral do efeito das variáveis motivacionais sobre a freqüência de respostas.
Em suma, os efeitos das operações motivadoras podem ser colocados da seguinte
maneira: (1) efeito estabelecedor do reforço, que é acompanhado de um efeito evocativo;
(2) efeito estabelecedor da punição, acompanhado de um efeito abativo; (3) efeito abolidor
do reforço, acompanhado também por um efeito abativo; (4) efeito abolidor da punição,
acompanhado po um efeito evocativo.
Apesar das considerações feitas acerca da evolução taxonômica das operações
motivadoras, este texto ainda utilizará os termos operações estabelecedoras, efeito
estabelecedor do reforço e efeito evocativo como termos gerais, como proposto por
Michael (1993a), uma vez que estes ainda são termos largamente utilizados na literatura ao
se referir às variáveis motivacionais e seus efeitos de uma forma geral, o que se pode
perceber ao se analisar textos recentes na área como os de Basqueira, 2006; Buckley e
Newchok, 2005; da Cunha e Isidro-Marinho, 2005; McAdam et al., 2005a; McAdam et al.,
2005b; Ravagnani, 2004; Reed, Dolezal e Cooper-Brown, 2005; Williams, Pérez-González;
Sena, 2005 e Vogt, 2003.
Distinções entre os conceitos de OE e de estímulo discriminativo (Sd)
Em 1980, antes mesmo de de seu primeiro artigo sobre operações estabelcedoras,
Michael chama atenção para a utilização de um conceito com papel de destaque no
comportamento verbal do analista do comportamento, o estímulo discriminativo ou Sd. O
uso técnico do termo deve ser controlado por condicões específicas de modo que apenas
quando uma variável ambiental preencher todos os critérios definidos, ela podrá ser
rotulada como estímulo discriminativo.
O Sd é definido por Michael (1980) como uma condição de estímulo na qual (1)
uma classe de respostas específica (2) tem maior probabilidade de ocorrência na sua
presença do que na sua ausência (3)devido uma história de reforçamento diferencial (4) que
consistiu em um maior sucesso na obtenção de um tipo particular de reforço na presença
dessa condição de estímulo do que na sua ausência. Vale destacar que Michael (1980)
pode abranger os “diferentes caminhos pelos quais controle de estímulos pode ser gerado”
(p. 48). De maneira mais clara:
“Um tipo de resposta pode ser mais bem sucesida de modo que algum tipo de reforçamento siga a resposta na presença do dmais freqüentemente que na sua ausência. Alternativamente, a freqüência dde reforçamento pode ser a mesma tanto na presença
quanto na ausênciado estímulo, mas em sua presença o reforçamento pode ser em maior
quantidade, de melho qualidade, com atraso mais curto, ou pode requerer menos esforço
para ser obtido do que em sua ausência” (Michael, 1980, p. 48).
Ou seja, por maior sucesso na obtenção de um tipo particular de reforço, Michael
(1980) se refere a todas essas possibilitades citadas. O autor destaca ainda que, para que se
possa falar em reforçamento diferencial, é necessário que a conseqüência produzida pela
classe de respostas específica esteja funcionando momentaneamente como um reforçador.
Ou seja, que exista algum evento ambiental (como a privação, por exemplo) que o esteja
estabelecendo como um reforçador efetivo.
Michael (1980), coloca que não se deve esperar, entretanto, que o uso corriqueiro do
termo destaque todas as suas características definidoras. Portanto, não parece haver
problema quando o analista do comportamento, ao exercer sua prática, não traz, no uso do
conceito de Sd, “a identificação de cada uma de suas características definidoras” (p. 48). O
autor lembra, no entanto, que apesar de se poder conferir, sem grandes prejuízos, alguma
liberdade ao analista do comportamento no que se refere ao uso do conceito de Sd no
dia-a-dia, ele (o uso) deve ser feito, mesmo que não destacando explicitamente a história e o
efeito que definem este tipo de variável, baseando-se nelas. Michael (1980, 1982), dessa
forma, critica alguns usos correntes por, além de omitirem algumas das características
definidoras do conceito, sugerirem irrelevância de algumas delas para se classificar uma
condição de estímulo como Sd.
Um tipo de uso que se encaixa nessa crítica é aquele que desconsidera a necessidade
de uma classe específica de respostas, apontando apenas a relação do estímlo
discriminativo com o estímulo reforçador, conferindo ao Sd um papel de sinalizador, de
preditor do reforçamento.
Um outro equívoco apontado por Michael (1982), é que, muitas vezes, mesmo
quando se menciona o Sd como uma condição de estímulo que exerce efeito sobre uma
classe específica de respostas, omite-se a história responsável por esse controle. Admite-se
freqüência de uma classe de respostas seja uma relação entre o estímulo discriminativo e a
resposta. Em algumas dessas situações, no entanto, o evento antecedente parece encaixar-se
mais na definição de outras classes de estímulo do que na de Sd. Por exemplo,é comum, de
acordo com Michael (1982), classificar eventos ambientais que estão funcionando como
operações estabelecedoras como estímulos discriminativos.
Pela própria definição de ambos, OE e Sd podem ser classificados dentro de um
grande grupo de variáveis denominadas por Michael (1983) de eventos ambientais com
efeito evocativo. Uma função comportamental pode ser chamada de evocativa quando
produz uma mudança imediata e momentânea na força de uma classe de respostas. Ou seja,
na presença de um estímulo com função evocativa aumenta-se a probabilidade de emissão
de respostas de certa(s) classe(s).
O compartilhamento de um efeito comum por parte das operações estabelecedoras e
dos estímulos discriminativos cria, de fato, situação propícia para confusões conceituais. O
quadro é agravado pelo fato de que, dentre as condições que definem tanto as OE’s como
os Sd’s, a única passível de ser diretamente observável no momento em que eles estão
presentes é exatamente o efeito evocativo. O efeito estabelecedor do reforço só pode ter
seus efeitos observados a partir da ação do próprio estímulo reforçador que ele estabeleceu,
ou seja, a partir de um aumento (ou não) da probabilidade futura de emissão de respostas
que prodiziram esse estímulo. E a história que foi responsável pelo estabelecimento de um
controle de estímulos não está mais presente no momento no qual se pode observar
respostas sendo evocadas pela presença de um estímulo discriminativo.
A despeito das dificuldades que o aparente impasse possa gerar, Michael (1980),
1983) sugere que o analista do comportamento deve sempre olhar para históia que conferiu
a determinados eventos ambientais suas funções comportamentais para classifica-los como
pertencentes a um certo gupo de variáveis ou não. Assim, se um estímulo antecedente
aumenta a probabilidade de emissão de uma determinada classe de respostas porque no
passado esteve relacionado a um maior sucesso de respostas dessa classe em produzirem
um reforçador efetivo, ele pode ser classificado como um estímulo discriminativo. Porém,
caso o estímulo antecedente tenha função evocativa porque sempre que ele esteve presente
reforçador, mas quando ele esteve ausente este mesmo evento não apresentou tais efeitos,
tem-se uma operação estabelecedora (Michael, 1993a).
O que aparece como crítico para Michael (1993a), entretanto, é que a própria
história que estabelece um estímulo discriminativo depende da presença de uma operação
estabelecedora, pois só quando uma conseqüência funciona como um reforçador efetivo
pode haver reforçamento diferencial, uma vez que a disponibilidade diferencial de uma
conseqüência que não fosse reforçadora é um evento comportalmente neutro. Isso implica
que mesmo em condicões nas quais respostas de uma determinada classe falham – ou pelo
menos têm menos sucesso do que respostas da mesma classe durante a condição Sd – em
produzir uma conseqüência específica (condição S∆), ela seria um reforçador eficaz caso
fosse obtida.
É com relação a este aspecto que, segundo Michael (1993a), as operações
estabelecedoras falham em qualificar-se como estímulos discriminativos, uma vez que não
existe um correlato para elas da condição S∆. Para isso seriam necessárias as duas
condições apontadas no parárafo anterior para o estabelecimento de controle de estímulos.
Ou seja, uma na qual um estímulo que estivesse funcionando momentaneamente como
reforçador pudesse ser obtido com mais sucesso, e uma outra na qual o estímulo também
funcionasse como um reforçador, mas fosse obtido com menor sucesso ou não obtido. O
que se observa na história que confere a uma operação estabelecedora seu efeito evocativo
é que, na presença de uma OE tem-se um estímulo funcionando momentaneamente como
um reforçador (independentemente da probabilidade de certas respostas, se emitidas, o
produzirem), mas, na sua ausência, este mesmo estímulo perde sua eficácia reforçadora,
mesmo que exista grande probabilidade de que respostas de uma determinada classe
possam produzi-lo caso sejam emitidas.
Nas palavras de Michael (1993a), pode-se sumarizar as distinções apontadas até
aqui da seguinte forma: “variáveis discriminativas estão relacionadas a uma disponibilidade
diferencial de uma forma efetiva de reforço dado um tipo particular de comportamento;
variáveis motivacionais estão relacionadas à efetividade reforçadora diferencial de eventos
ambientais” (p. 193).
Por fim, as diferentes histórias apontadas para os dois grupos de eventos ambientais
estímulo discriminativo aumenta a probabilidade de respostas de uma classe de respostas
específica, a operacão estabelecedora altera a probabilidade de qualquer classe de respostas
que no passado tenha produzido os reforçadores estabelecidos por ela.
Importância do conceito e a necessidade de pesquisas na área
De acordo com Michael (1982, 1993a), a discussão sobre a incorporação do termo
operações estabelecedoras no estudo do comportamento traz, em primeiro lugar, a
possibilidade de um resgate das discussões do tema “motivação” na análise do
comportamento. Em segundo lugar, por oferecer uma opção conceitual mais clara e mais
precisa a um tema que já se discutiu como relevante para a análise do comportamento
(Skinner, 1938, 1953/2000; Keller e Schoenfeld, 1950/1974; Millenson, 1967), pode
aumentar as chances de uma manipulação mais adequada de variáveis ambientais que
exercem efeitos sobre o comportamento do que se as variáveis destacadas pelo termo
ficassem implícitas nos conceitos de estímulo discriminativo e reforço, possibilitando,
dessa maneira, maior alcance na previsão, alteração e interpretação do comportamento.
Michael (1982) coloca, ainda, que o termo operação estabelecedora, em si, tem
vantagens sobre outros termos já utilizados na análise do comportamento, como motivo
(motive) e drive,pois, além de cumprir a mesma função destes (englobar todas as variáveis
que apresentam efeito evocativo e estabelecedor do reforço dentro de um mesmo termo),
não está, como eles, ligado a explicações do comportamento baseadas em estados
interiores. Além disso, a possibilidade de uma abreviação simples para o termo (OE),
oferece a possibilidade da “conveniência de uma palavra pequena sem perder as
implicações de um termo mais longo” (Michael, 1982, p. 150).
A incorporação do conceito, entretanto, vem ocorrendo paralelamente a debates
sobre sua utilidade ou não para a análise do comortamento e sobre como se poderia/deveria
observar, interpretar e definir as variáveis chamadas de motivacionais (Catania, 1993;
Cherpas, 1993 e McDevitt e Fantino, 1993, Schelinger, 1993). Hesse (1993) e
Michael(1993b), levatam a questão de que o conceito deveria ser selecionado a depender de
sua importância, ou não, em colaborar com a análise do comportamento. Em outras
palavras, tem-se que mostrar efetivamente que a utilização do conceito de OE pode, de fato,
comportamento sobre seu objeto de estudo. Os autores sugerem que um caminho
importante para isto seria o de se fazer demonstrações empíricas dos efeitos das operações
estabelecedoras.
Laraway et al. (2003) apontam, no entanto, uma escassez de pesquisas
experimentais sobre o tema, o que, para os autores, é indesejável, principalmente por se
tratar de um conceito que ainda está em desenvolvimento e que necessita, portanto, de
dados produzidos com o rigor do controle experimental para clarificar as relações que o
delimitam e, como conseqüência, aumentar sua aceitação, ou não.
Parece defensável, assim, a visão de que mais estudos experimentais sobre OE´s
faz-se necessários, especialmente dentro daqueles tópicos que vêm sendo preteridos, como
as operações estabelecedoras condicionadas substitutas. Sobre estas, Michael (1993a) pôde
citar poucas pesquisas, sendo que a última datava de 1975, e em uma busca realizada em
textos que tratam sobre operações estabelecedoras (Buckley e Newchok, 2005; da Cunha e
Isidro-Marinho, 2005; Fischer, Iwata e Worsdell, 1997; Iwata, Smith e Michael, 2000;
Iwata e Smith 2000; Laraway et al., 2003; McAdam et al., 2005a; McAdam et al., 2005b;
Michael 1982, 1993a, 2000; Reed, Dolezal e Cooper-Brown, 2005; Williams,
Pérez-González e Vogt, 2003) não foram encontrados relatos de pesquisa sobre o tema, pelo
menos não depois da sistematização do conceito feita por Michael, em 1982.
Dessa forma, apesar de atentar para a coerência do raciocínio sobre as OEC’s
substitutas, Michael (1993a) coloca a necessidade de sua comprovação empírica. Uma das
grandes dificuldades ao se estudar o assunto é isolar o que seria efeito da OEC substituta e
que seria efeito da OE à qual ela foi condicionada. Considerando-se o exemplo dado
anteriormente, no qual o som adquiria função de OEC substituta, pode-se ilustrar bem essa
dificuldade. Após o som ser sistematicamente pareado com condições de privação, o
pesquisador teria duas possibilidades de investigar seus efeitos: a presença do som
enquanto o organismo estivesse saciado e a presença do som após um período de privação.
No primeiro caso, a OEC substituta estaria concorrendo com a OEI de saciação, o que
poderia obscurecer os resultados. Na outra possibilidade, o pesquisador teria atuando,
conjuntamente, a OEC substituta e a OEI de privacão e não saberia dizer, então, quanto do
efeito estabelecedor e evocativo é fruto de cada uma (Michael, 1993a).
privação como uma outra dificuldade de se parear sistematicamente um estímulo a uma
determinada condição de privação, pois a medida que o tempo de privação ao qual o
organismo está submetido passa, pode-se ter diferentes graus de privação. Pareando-se um
único estímulo a um período crescente de privação, portanto, não se pode garantir uma
relação sistemática entre um grau de privação específico e o estimúlo com o qual se deseja
pareá-lo.
Dificuldades como estas já levaram alguns autores a afirmações sobre a inexistência
desse tipo de operacão estabelecedora (Mineka, 1975). Michael (1993a), entretanto,
considera prematuro descartar a possibilidade de existência da OEC substituta por
dificuldades metodológicas e sugere a necessidade de um número maior de estudos sobre o
tema para que se possa afirmar a existência deste tipo de relação ou não, uma vez que,
apenas estudos anteriores à publicação do primeiro artigo de Michael sobre operações
estabelecedoras (em 1982) parecem ter lidado com o fenômeno e, ainda assim, fora de uma
perspectiva analítico-comportamental.
Pesquisas sobre OEC substituta
Nenhuma pesquisa sobre OEC substituta foi encontrada em uma perspectiva
analítico-comportamental. Foram encontradas, porém, pesquisas que testaram a
possibilidade de se estabelecer o que, dentro da análise do comportamento, seria chamada
de operação estabelecedora condicionada substituta. Nesses trabalhos foram pareados
estímulos previamente neutros à privação de água e de alimento, a fim de observar se os
primeiros passariam a ter efeitos comportamentais semelhantes aos dos últimos. Caso isso
acontecesse, os estímulos previamente neutros seriam classificados como drives
condicionados. Os autores, no entanto, adotam perspectivas mais próximas do paradigma
respondente e do paradigma cognitivista ao estudar o fenômeno. Em suas interpretações,
comer e beber seriam respostas eliciadas por estímulos interoceptivos gerados pela privação
de alimento/água. Ainda assim, as discussões metodólogicas levantadas nesses artigos
podem ser úteis para pesquisas que abordem o fenômeno a partir de outra perspectiva (no
caso, o modelo operante), pois levantam considerações sobre o controle experimental de
variáveis relevantes e discutem criticamente os procedimentos utilizados, expondo, assim,
denominada por Michael (1993a) de OEC substituta. Seguem-se, nos próximos parágrafos,
os principais pontos levantados pelos autores.
Calvin, Bicknell e Sperling (1953), dividiram 24 ratos albinos machos em 2 grupos
de 12 sujeitos cada. Cada grupo foi exposto diariamente, durante 24 dias consecutivos, a
sessões de condicionamento de 30 minutos. Nessas sessões os sujeitos de um dos grupos
eram colocados em uma caixa listrada (diferente das caixas-viveiro) após um período de
privação de 22 horas, enquanto os sujeitos do outro grupo eram colocados nessas mesmas
caixas após um período de privação de 1 hora. Passados os 24 dias de condicionamento,
foram realizadas quatro sessões de teste, nas quais os sujeitos de ambos os grupos eram
colocados nas caixas listradas com alimento livre – durante 15 minutos – e após um período
de privação idêntico, de 11 horas e 30 minutos. A medida do consumo de alimento nos
quatro dias de teste mostrou que os sujeitos do grupo no qual a caixa listrada foi pareada ao
maior período de privação (22 horas) ingeriram mais alimento do que os sujeitos do grupo
no qual a caixa listrada foi pareada ao menor período de privação, o que, portanto, sugere,
segundo os autores, que um estímulo previamente neutro passou a exercer efeitos
motivacionais após ser pareado a um período longo de privação.
Uma outra pesquisa foi realizada por Siegel e MacDonell (1954), com o intuito de
replicar os resultados produzidos por Calvin et al. (1953). Os autores do estudo de 1954
seguiram, basicamente, o mesmo método do estudo original, realizando apenas as seguintes
mudanças identificadas: o número de sujeitos utilizados passou de 24 para 32 (16 em cada
grupo)e as sessões de teste tinham 20 ao invés de 15 minutos. Apesar da similaridade entre
as pesquisas, Siegel e MacDoneel (1954) relatam que seu estudo falhou em replicar os
resultados de Calvin et al., pois a quantidade de alimento ingerida durante o teste foi
próxima para os dois grupos, sendo, em média, 26,6 g para os sujeitos que tiveram o
período de privação de 22 horas pareado à caixa e 28,4 para os sujeitos que tiveram o
período de 1 hora de privação pareado à caixa.
Em 1962, Novin e Miller, citam que, estudos que utilizam estímulos neutros
pareados a estímulos aversivos incondicionados (choque, por exemplo), têm
consistentemente demonstrado que os estímulos previamente neutros passam a exercer
efeitos semelhantes aos do estímulo incondicionado. Os autores apontam também, no
através do pareamento destes com privações de água ou alimento, têm, em sua maioria
falhado. Novin e Miller (1962), colocam que, a privação (tanto de água como de alimento),
diferentemente de um estímulo aversivo incondicionado, é uma operação que estabelece
lentamente um “estado” de sede ou fome, sendo, pois, difícil parear um estímulo externo à
um determinado nível desses “estados”. Para tanto, seria necessário uma operação que
estabelecesse rapidamente um determinado “estado” de fome ou sede para que se pudesse,
assim, parear estímulos externos a ele de maneira sistemática.
Na pesquisa realizada por Novin e Miller (1962) foram utilizados 40 ratos machos,
divididos em quatro grupos de 10 sujeitos cada. A operação de privação utilizada foi a
ingestão de alimento seco para que se estabelecesse rapidamente um “estado” de sede, ao
qual uma caixa de condicionamento (diferente das caixas-viveiro nas quais os sujeitos
ficavam alojados) foi pareada. As sessões de condicionamento duraram 30 minutos cada e
foram realizadas em 10 dias consecutivos. Antes de serem colocados nas caixas de
condicionamento os sujeitos de todos os grupos estavam, sempre, privados de alimento e
com acesso livre a água. Os sujeitos do grupo 1 foram utilizados como controle e, quando
colocados nas caixas de condicionamento, não recebiam nem alimento nem água. Os
sujeitos do grupo 2 tinham acesso a 10 g de alimento seco durante todo o tempo das sessões
de condicionamento e, nos últimos 3 minutos, recebiam 3 cc de água. Os sujeitos do grupo
3 passavam por uma condição semelhante aos do grupo 2, mas não tinham acesso a água
durante as sessões de condicionamento. E os sujeitos do grupo 4 recebiam as 10 g de
alimento 30 minutos antes de irem para a caixa de condicionamento (ainda em suas
caixas-viveiro) e, durante as sessões de condicionamento, recebiam 3 cc de água nos 3 minutos
finais de sessão.
Os resultados da sessão de teste foram os seguintes: os sujeitos do grupo 1 beberam,
em média, 1,99 cc, os do grupo 2, 1,52 cc, os do grupo 3, 0,82 cc, e os do grupo 3, 1,46 cc
de água. De acordo com Novin e Miller (1962), as diferenças encontradas nesses resultados
não são significativos, tendo a pesquisa, portanto, falhado em estabelecer um estímulo
Cravens e Rener (1970) fizeram uma revisão desses e de outros 17 trabalhos
empíricos publicados3, até então, sobre drives apetitivos condicionados, mais
especificamente daqueles que realizaram tentativas de condicionar estímulos neutros às
operações de privação de água e alimento. Os autores atentam para o fato de que apenas 20
estudos foram encontrados sobre o tema. Destes, somente cinco relataram sucesso no
estabelecimento de um estímulo externo que exercesse os mesmos efeitos que a privação.
Um número baixo, especialmente se for considerado que a probabilidade de publicação de
um trabalho bem sucedido (no sentido de demonstrar o fenômeno que pretende) é maior do
que daqueles que não obtêm sucesso.
Antes de refutar a existência de tal fenômeno, entretanto, Cravens e Rener (1970)
procederam uma avaliação sobre os métodos utilizados nesses estudos, em busca de pistas
que pudessem ajudar a explicar o fracasso na obtenção dos resultados esperados e nortear
futuras pesquisas na área.
Um primeiro problema apontado pelos autores é que 19 das 20 publicações
encontradas utilizavam como critério de privação a quantidade de horas que os sujeitos
experimentais ficavam sem alimento. Assim, decorrido um número determinado de horas
após o último período de alimentação, inferia-se um dado grau de privação e um estímulo
externo era pareado a ele. Uma medida mais segura apontada pelos autores seria a
depleção do peso para que, dessa maneira, se pudesse garantir que os sujeitos estivessem
sempre com o mesmo grau de privação aproximado quando os estímulos externos fossem
apresentados.
Uma segunda preocupação deveria ser com a escolha da variável dependente. A
mais comumente utilizada nos trabalhos analisados foi a quantidade de alimento ou água
que os sujeitos ingeriam ao serem expostos ao suposto drive condicionado, o que, para eles,
seria uma variável de pouca utilidade, pois diferenças no grau de privação poderiam não
causar diferenças no consumo inicial de alimento/água.
A utilização de freqüência de respostas no estudo dos drives condicionados é,
inclusive, defendida por Cravens e Rener (1970) como um caminho mais promissor para
3
futuras pesquisas na área, de preferência com a utilização de um esquema de reforçamento
intermitente de intervalo variável, para evitar possíveis efeitos de teto e de chão.
Tendo escolhido a variável dependente a ser utilizada, um próximo passo seria o de
garantir a confiabilidade da medida. Os pesquisadores deveriam conseguir uma estabilidade
da medida utilizada para que se pudesse fazer comparações entre diferentes situações. No
caso dos estudos em questão, a maioria deles foi feita com comparação entre grupos e não
se preocupou em investigar a variabilidade individual no consumo de água/comida de uma
situação para outra. Cravens e Rener (1970) sugerem que essas variações individuais do
consumo diário dos animais que acontecem em diferentes momentos podem ter
comprometido a confiança das medidas apresentadas pelas pesquisas analisadas, pois
estariam mascaradas nos resultados dos grupos.
A partir das análises feitas por Cravens e Rener (1970), Mineka (1975), procedeu
uma série de 5 experimentos com o objetivo de testar empiricamente algumas das sugestões
levantadas pelos autores e, assim, dar um passo na direção de demonstrar ou refutar a
possibilidade de se estabelecer um estímulo externo com as mesmas funções
comportamentais que o processo de privação de alimento.
No primeiro experimento foram utilizados 20 ratos albinos machos como sujeitos,
divididos em dois grupos de acordo com seus pesos. O procedimento de condicionamento
foi realizado da seguinte maneira: todos os sujeitos eram privados durante 19 horas e,
então, metade deles (grupo 1) era colocado em uma caixa preta de madeira, enquanto a
outra metade (grupo 2) era colocado em uma caixa branca de madeira. Ambos os grupos
ficavam nestas caixas durante 30 minutos, quando eram recolocados nas caixas-viveiro.
Após se passarem mais 30 minutos , disponibilizava-se alimento livre durante uma hora
para todos os sujeitos. Seguia-se à alimentação livre um período de uma hora de privação,
quando os sujeitos retornavam para as caixas de condicionamento, mas desta vez os
animais do grupo 1 ficavam nas caixas brancas e os do grupo 2 ficavam nas caixas pretas,
novamente por 30 minutos. Encerrada esta segunda sessão diária de pareamento, os sujeitos
voltavam para as caixas-viveiros e, depois de 30 minutos, tinham novamente acesso livre
ao alimento durante uma hora, encerrando-se o ciclo de 24 horas e iniciando-se uma nova
privação de 19 horas, que daria início ao próximo ciclo. Esse procedimento durou 20 dias,
sujeitos tiveram, como de costume, acesso ao alimento por uma hora, porém, sem nenhuma
sessão experimental antes disso. Os animais foram, então, privados por três horas e os
sujeitos dos dois grupos foram divididos em dois sub-grupos para serem colocados nas
caixas nas caixas experimentais de forma que 5 sujeitos de cada grupo (de um total de 10
por grupo) fossem colocados nas caixas pareadas com a privação alta e os outros 5 sujeitos
fossem colocados nas caixas pareadas com a privação baixa.
As sessões experimentais duraram 20 minutos e foram medidas a latência da
primeira mordida dada no alimento (a partir de quando os ratos tivessem sido colocados na
caixa experimental) e a quantidade de alimento ingerido a cada 5 minutos. Para isto, o
alimento era retirado por poucos segundos após 5 minutos, 10 minutos e 15 minutos
transcorridos da sessão experimental.
Esperava-se, com este procedimento, que uma condição de estímulo passasse a
exercer efeitos sobre o consumo de alimento semelhantes ao de uma privação longa (caixa
preta para grupo 1 e branca para grupo 2) e que uma outra condição tivesse efeitos
semelhantes ao de uma privação curta (caixa branca para grupo 1 e preta para o 2). Caso se
obtivesse sucesso com o procedimento, os sujeitos em uma privação moderada de 3 horas
deveriam consumir mais alimento na condição de estímulo pareada com a privação
prolongada do que na situação pareada com a privação curta, durante os períodos de 20
minutos diários em que eram colocados nas caixas pretas e brancas na fase de teste. Perante
esses efeitos, os estímulos externos pareados às diferentes condições de privação seriam
denominados de drives condicionados, estímulos que, dentro de uma perspectiva
analítico-comportamental são classificados como OEC’s substitutas.
Os resultados encontrados pela autora, no entanto, não confirmaram a expectativa,
pois não se observou diferença na quantidade de alimento consumida entre os sujeitos que
foram expostos à caixa pareada com a privação longa e os sujeitos que foram expostos à
caixa pareada com a privação curta. Em média eles comeram 23,3 gramas na presença do
estímulo pareado à privação longa e 23,7 gramas do estímulo pareado à privação curta.
Estas foram as médias das quantidades totais ingeridas em sessões de 20 minutos. De
acordo com Mineka (1975), entretanto, também os dados obtidos nas medições parciais – a
cada 5 minutos transcorridos das sessões – apontam para a mesma direção. Por fim, não se
primeira mordida no alimento: 40,7 segundos na presença do estímulo pareado à privação
de 19 horas e 45,6 segundos na presença do estímulo pareado à privação de uma hora.
Mineka (1975) sugere que a falta de evidências sobre possíveis efeitos de drives
condicionados pode ser devido à natureza dos estímulo aos quais a privação foi pareada. A
autora levanta a hipótese que que estímulos gustativos poderiam ser mais facilmente
“condicionáveis” à privação do que estímulo visuais. Para testar esta hipótese ela delineou
um segundo experimento com o mesmo paradigma básico do primeiro, mas usando
estímulos gustativos ao invés de visuais pareados à privação.
Foram utilizados 32 sujeitos que passaram pelo memo ciclo de privação e
alimentação que os sujeitos do experimento um. Eles foram divididos em quatro grupos de
oito sujeitos cada: para o grupo 1, utilizou-se uma solução de extrato de menta pareada com
a privação longa e uma solução de extrato de limão pareada à privação curta; o grupo 2 teve
as mesmas soluções utilizadas, porém inverteu-se a condição de privação a que foram
pareadas (extrato de limão para privação longa e extrato de menta para privação curta); os
sujeitos do grupo 3 receberam uma solução de extrato de laranja após a privação longa e
uma solução de extrato de bordo após a privação curta; no grupo 4 foram utilizadas as
mesmas soluções que no 3, porém inverteu-se o grau de privação a que foram pareadas.
Os procedimentos de privação foram realizados de maneira idêntica aos do
experimento 1. Além disso, o tempo de pareamento entre o estímulo previamente neutro e
as duas condições de privação também se mantiveram iguais. Porém, devido à natureza do
estímulo utilizado (gustativo ao invés de visual) foi necessária uma nova forma de expor os
sujeitos a ele. Enquanto no experimento 1 os sujeitos eram colocados nas caixas de cores
diferentes após diferentes condições de privação, no experimento 2, após cada uma dessas
condições os sujeitos eram retirados de suas caixas-viveiro, recebiam uma pincelada na
língua de uma das duas soluções às quais seriam expostos, como relatado no parágrafo
anterior e eram colocados nas caixas experimentais. Para a administração das soluções, a
autora utilizava um pincel feito de fios de pêlo de camelo embebido na solução a ser
utilizada e passava-o duas vezes na língua de cada sujeito. O mesmo processo era repetido
aos 15 minutos da sessão experimental, que tinha duração de 30 minutos.
O teste e a análise dos resultados foram feitos da mesma maneira que no