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DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO SÃO PAULO – 2005

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A PARTICULARIDADE HISTÓRICA DA PESQUISA NO SERVIÇO SOCIAL

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

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JUSSARA AYRES BOURGUIGNON

A PARTICULARIDADE HISTÓRICA DA PESQUISA NO SERVIÇO SOCIAL

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial à obtenção do Título de Doutora em Serviço Social, Curso de Pós - Graduação em Serviço Social sob orientação da Prof. Dra. Maria Lúcia Martinelli

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

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DEDICATÓRIA:

- À Categoria Profissional dos Assistentes Sociais, pelo conhecimento que sustenta sua prática profissional, fruto de uma incansável luta pelo reconhecimento da profissão no meio acadêmico e pelo seu projeto ético – político compromissado com a democracia e justiça social.

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AGRADECIMENTOS:

- À Professora Maria Lúcia Martinelli, pelo rico processo de orientação: prazeroso, instigante, tranqüilo, generoso e permeado por ensinamentos que extrapolam os limites desta tese, e que estarão sempre presentes em minha prática profissional.

- Às participantes desta tese – Aldaíza Sposati, Aglair Alencar Setúbal, Ana Elizabete Mota, Elaine Rossetti Behring, Eunice Teresinha Fávero, Jussara Maria Rosa Mendes e Lúcia Cortes da Costa, pelos brilhantes depoimentos que fundamentaram as análises desenvolvidas.

- À Professora Dilséa Adeodata Bonetti, pelo apoio recebido e orientações partilhadas em momentos decisivos desta tese.

- À Danuta e Lenir pela amizade, presença constante e socialização de conhecimentos que iluminaram muitas reflexões presentes nesta tese.

- À Universidade Estadual de Ponta Grossa, Pró – Reitoria de Pós – Graduação, Departamento de Serviço Social e CAPES pelo apoio institucional recebido.

- Ao Programa de Pós – Graduação em Serviço Social, pelo acolhimento afetuoso dos alunos que vêm de longe – característica marcante dos seus Professores.

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RESUMO

Esta tese tem por objetivo refletir sobre a particularidade histórica da pesquisa no Serviço Social, bem como sobre os desafios, decorrentes desta particularidade, que se apresentam ao Serviço Social no contexto contemporâneo.

Três pilares essenciais orientaram o processo da investigação. São eles: - a particularidade da pesquisa para o Serviço Social; a centralidade ocupada pelos sujeitos que participam das pesquisas do Serviço Social; o retorno e alcance social das pesquisas desenvolvidas pelo Serviço Social.

O processo de investigação desenvolveu-se sustentado em recursos metodológicos que possibilitaram a construção de referencial teórico, a aproximação aos sujeitos que participaram da pesquisa através de entrevistas e depoimentos eletrônicos, e o desenvolvimento da sistematização e análise crítica do conjunto do material teórico e empírico, que na sua síntese constitui a tese defendida.

Participaram da pesquisa sujeitos considerados representativos da categoria profissional do Assistente Social pela densidade de experiências que possuem sobre pesquisa, possibilitando reflexões que evidenciam preocupações latentes e pertinentes à produção de conhecimento em Serviço Social.

A exposição da tese ficou organizada em dois momentos. O primeiro momento trata da produção do conhecimento como expressão do trabalho humano. Para tanto contextualiza os avanços alcançados pelo Serviço Social, principalmente durante as décadas de 80 e 90 e apresenta a compreensão do processo de produção do conhecimento como uma das expressões do trabalho humano, numa perspectiva históricocrítica.

O segundo momento trabalha os elementos que constituem a particularidade da pesquisa para os sujeitos participantes, considerando os pilares orientadores da tese. Este momento expressa, na sua íntegra, as sínteses construídas de forma a articular os fundamentos teóricos aos depoimentos colhidos, buscando compreender como a particularidade da pesquisa ganha expressão e materialidade no Serviço Social.

Reafirmamos, através do processo de investigação, a tese de que a pesquisa é constitutiva e constituinte da prática profissional do Serviço Social, sendo determinada pela sua natureza interventiva e pela sua inserção histórica na divisão sócio - técnica do trabalho.

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ABSTRACT

This thesis aims at reflecting on the historical particularity of research into Social Work, as well as on the resultant challenges of such particularity presented to Social Work in the contemporary context.

Three essential pillars oriented the investigation process. They are: the particularity of research for Social Work; the centrality occupied by persons that participate of Social Work researches; the return and the social reach of researches developed for Social Work.

The investigation process was developed supported in methodological resources that made possible the construction of theoretical referential, the approach to the persons that participated of the research through interviews and electronic declarations, and the development of systematization and critical analysis of the set of empirical and theoretical material, that in its synthesis constitutes the defended thesis.

The participants of the research were persons considered representative of the Social Worker professional category because the density of experiences they have on research, making possible reflections that evidence latent worries and that are pertinent to the production of knowledge in Social Work.

The thesis presentation was organized in two moments. The first moment deals with the production of knowledge as human work expression. In this purpose, it contextualizes the advancements reached for Social Work mainly during the 80’s and 90’s and presents the comprehension of the knowledge production process as one of the human labor expressions, in a historical– critical perspective.

The second moment deals with the elements that constitute the particularity of research for the participant persons, considering the orienting pillars of the thesis. Such moment express, in its totality, the syntheses constructed in order to articulate the theoretical fundamentals to the collected declarations, searching for comprehending how the particularity of the research takes expression and materiality in Social Work.

We reaffirm, through the investigation process, the proposition that the research is constitutive and constituent of the Social Work professional practice, being determined for its interventive nature and for its historical insertion in sociotechnical labor sharing.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...10

I CAPÍTULO: A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO COMO EXPRESSÃO DO TRABALHO HUMANO...32

1- A OBJETIVAÇÃO DO TRABALHO HUMANO ATRAVÉS DA

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO...56

2- A PARTICULARIDADE DA PESQUISA EM SUA EXPRESSÃO DO

TRABALHO HUMANO...84

II CAPÍTULO: PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL: EXPRESSÕES DA SUA PARTICULARIDADE...102

1- A COMPREENSÃO DA REALIDADE SOCIAL E O

ENFRENTAMENTO DAS DEMANDAS POSTAS À PRÁTICA PROFISSIONAL ATRAVÉS DA PESQUISA...119

2- A CENTRALIDADE OCUPADA PELOS SUJEITOS QUE

PARTICIPAM DAS PESQUISAS DO SERVIÇO SOCIAL...164

3- O RETORNO E ALCANCE SOCIAL DAS PESQUISAS

DESENVOLVIDAS PELO SERVIÇO SOCIAL...213

4- A PARTICULARIDADE DA PESQUISA PARA O SERVIÇO

SOCIAL...248

REFERÊNCIAS...299

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INTRODUÇÃO

“A rigor, cada viajante abre seu caminho, não só quando desbrava o desconhecido, mas inclusive quando redesenha o conhecido.”

(IANNI, 2000)

Acreditamos que o processo de pesquisa exige do pesquisador – sujeito deste processo – se perguntar pelo desconhecido, pelo que não se sabe, pelo que é obscuro em determinado momento histórico, pelas possibilidades que se colocam ao sujeito em sua relação com a realidade e pela validade e alcance social do conhecimento produzido perante as demandas concretas da humanidade. Neste sentido pesquisar faz parte da natureza humana e como condição ontológica está presente nas intenções e ações humanas.

Pesquisar é exercício sistemático de indagação da realidade observada, buscando conhecimento que ultrapasse nosso entendimento imediato, com um fim determinado e que fundamenta e instrumentaliza o profissional a desenvolver práticas comprometidas com mudanças significativas no contexto em que se insere e em relação a qualidade de vida do cidadão.1 O Serviço Social como profissão sócio - histórica tem em sua natureza a pesquisa como meio de construção de um conhecimento comprometido com as demandas específicas da profissão e com as possibilidades de seu enfrentamento. Ao mesmo tempo em que se coloca como uma possibilidade de objetivação da prática profissional é desafio permanente para os profissionais que pretendam ser críticos e propositivos no atual cenário nacional e em relação ao processo de formação profissional.

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Social, bem como sobre os desafios, decorrentes desta particularidade, que se apresentam ao Serviço Social no contexto brasileiro contemporâneo.

A opção por essa temática de investigação tem suas raízes no conjunto da nossa experiência profissional como docente do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa – Pr junto ao ensino, pesquisa e extensão.

O exercício da docência exige domínio dos fundamentos teórico – metodológicos construídos pela profissão; acompanhamento e posicionamento frente as discussões contemporâneas que a sustentam; envolvimento teórico – prático com o projeto ético – político defendido pela categoria profissional e exercício da pesquisa não só como meio de re – alimentação do ensino e estimulação da extensão universitária mas, sobretudo, como meio de contribuir com o processo de conhecimento profissional, respondendo às demandas societárias num momento sócio – histórico em que a universidade precisa reafirmar o seu compromisso com a socialização do que produz em seu contexto.

Em se tratando do processo da pesquisa, desde a identificação do objeto até o desenvolvimento do processo de investigação e de exposição do mesmo QUEIROZ (1992, p. 13), oportunamente, nos lembra:

A concentração do interesse do pesquisador em determinados problemas, a perspectiva em que se coloca para formulá-los, a escolha dos instrumentos de coleta e análise do material não são nunca fortuitos; todo estudioso está sempre engajado nas questões que lhe atraíram a atenção, está sempre engajado, de forma profunda e muitas vezes inconsciente, naquilo que executa. Além de sua posição diante do objeto a estudar, urge considerar também o momento histórico - científico em que se encontra, a maneira de compreender as ciências no mundo intelectual de que faz parte. Duas perspectivas se reúnem sempre: o ser pensante é sempre único, sua individualidade é patente; seu modo de conhecer e, portanto, sua imaginação, sua interpretação, seu julgamento de valor são sem dúvida inteiramente pessoais. ... (grifo nosso)

1 Fundamentado em: GATTI, Bernadete Angelina. A construção da pesquisa em educação no Brasil.

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As questões motivadoras da investigação estão, portanto, relacionadas aos interesses do pesquisador e a contextos socialmente determinados. É fruto da inserção do pesquisador no real, que dado a sua complexidade instiga a busca, o novo, a superação, o original, a possibilidade de recriação. No entanto, é preciso esclarecermos que no âmbito do Serviço Social a busca por novas possibilidades de conhecimento e de intervenção não decorre somente de uma intenção pessoal ou da exigência que a categoria profissional, através de suas instâncias formais, possa fazer. Decorre da natureza interventiva da profissão, do envolvimento crítico do profissional com o processo permanente de compreensão das determinações históricas, políticas, econômicas e culturais das demandas sociais e, principalmente, da experiência social acumulada pela profissão e especificamente pelo profissional quanto ao enfrentamento das expressões da questão social.

Não é casual, portanto, a preocupação que revelamos com a pesquisa no contexto da profissão, emerge como resultado do exercício de nossa prática profissional docente nas três instâncias do ensino superior, ou seja, no ensino, pesquisa e extensão.

Desta experiência2 tem sido relevante o trabalho com a disciplina Pesquisa em Serviço Social e Orientação de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) na graduação, visto que nos instiga a preparar o aluno para analisar criticamente a realidade em que se situa o Serviço Social, a prática profissional desencadeada pelo profissional, as demandas sociais concretas e

2 Outras experiências profissionais foram relevantes, como: Supervisão de Estágio; coordenação e

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apontar alternativas metodológicas para intervenção profissional, contribuindo, assim, para um processo de formação profissional que possibilite o desenvolvimento de uma atitude crítica, investigativa e propositiva. No contexto destas disciplinas enfrentamos o desafio de ancorar este momento da formação profissional num exercício em que a pesquisa se sustentasse na relação dinâmica que o aluno estabelecia com seu campo de estágio – espaço de intervenção profissional em que as demandas sociais concretas da população beneficiária das políticas sociais se expressam em suas dimensões objetiva e subjetiva.

Igualmente foi importante a experiência junto aos Cursos de Especialização em Saúde Pública com a disciplina Pesquisa Qualitativa em Saúde. Neste espaço de atuação docente as demandas são de caráter interdisciplinar e se constituem em superar a dicotomia pesquisa qualitativa/pesquisa quantitativa, refletir sobre a concepção de pesquisa social e as dimensões da responsabilidade social do pesquisador que, nestes cursos, são profissionais atuantes no âmbito da gestão e operacionalização da política da saúde.

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supervisores, pesquisa, extensão....) que, de forma articulada, concorrem para a formação profissional.

Podemos afirmar, com tranqüilidade, que o objeto desta tese não é acidental, foi cunhado e cultivado no cotidiano da nossa experiência docente, sendo constitutivo da nossa prática profissional.

Através da mediação desta prática docente temos nos aproximado da temática: a particularidade da pesquisa em Serviço Social. Neste processo identificamos relevantes produções acadêmicas (teses e dissertações de mestrado), no âmbito da pós - graduação e artigos publicados nas revistas Serviço Social e Sociedade, Temporalis e Cadernos ABESS,3 as quais discutem a problemática da pesquisa em relação às demandas contemporâneas e em relação ao processo de formação profissional. Queremos destacar a obra de Aglair Alencar Setubal “Pesquisa em Serviço Social: utopia e realidade” (1995) que sempre nos inspirou a repensar a importância da pesquisa para a profissão. É possível que diante destas produções nossas inquietações não sejam inéditas, mas com certeza, apresentam outras facetas de uma problemática ainda desafiadora para uma profissão que busca acompanhar as vicissitudes do mundo contemporâneo sem perder de vista o acúmulo de conhecimento historicamente construído e o seu compromisso em produzir conhecimentos que atendam as demandas concretas postas pela realidade e apresentadas pelos sujeitos demandatários de sua prática, nos diferentes campos da ação profissional.

Conforme colocado por IANNI (2000), na epígrafe desta introdução, cada pesquisador, considerando sua experiência profissional, pessoal e suas intenções de pesquisa estabelece novas relações com as temáticas de pesquisa, abrindo outras possibilidades ao investigar aspectos ainda obscuros. Ao

3 Encontra-se no apêndice - quadro 1 - demonstrativo sobre as produções citadas e que tivemos acesso no

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pesquisar não só “abre seu caminho”, como “desbrava o desconhecido”, sobretudo “redesenha o conhecido”.

Desde o primeiro momento, o objeto de estudo foi sendo delineado e consubstanciado através de um processo de investigação que tem como referência a perspectiva teórico – crítica, cujos fundamentos estão no método dialético. O método que permite fazer o caminho de ascensão do abstrato ao concreto é o caminho do conhecimento.

O método da ascensão do abstrato ao concreto é o método do pensamento; em outras palavras, é um movimento que atua nos conceitos, no elemento da abstração. A ascensão do abstrato ao concreto não é uma passagem de um plano (sensível) para outro plano (racional); é um movimento no pensamento e do pensamento. Para que o pensamento possa progredir do abstrato ao concreto, tem de mover-se no seu próprio elemento, isto é, no plano abstrato, que é negação da imediaticidade, da evidência e da concreticidade sensível. A ascensão do abstrato ao concreto é um movimento para o qual todo início é abstrato e cuja dialética consiste na superação desta abstratividade. O progresso da abstratividade à concreticidade é, por conseguinte, em geral movimento da parte para o todo e do todo para a parte; do fenômeno para a essência e da essência para fenômeno; da totalidade para a contradição e da contradição para a totalidade; do objeto para o sujeito e do sujeito para o objeto. O processo do abstrato ao concreto, como método materialista do conhecimento da realidade, é a dialética da totalidade concreta, na qual se reproduz idealmente a realidade em todos os seus planos e dimensões. O processo do pensamento não se limita a transformar o todo caótico das representações no todo transparente dos conceitos; no curso do processo o próprio todo é concomitante delineado, determinado e compreendido. (KOSIK,1976, p. 36 – 37) (grifo nosso)

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Enfatizamos, ainda, que, para KOSIK (1976, p. 49 ) cada fenômeno é particular , devido a sua constituição específica, mas só ganha significado histórico se sua essência for compreendida em uma totalidade complexa – o contexto social, econômico, político e cultural em que se insere.

...Um fenômeno social é um fato histórico na medida em que é examinado como um momento de um determinado todo; desempenha, portanto, uma função dupla, a única capaz de dele fazer efetivamente um fato histórico: de um lado, definir a si mesmo, e de outro, definir o todo; ser ao mesmo tempo produtor e produto; ser revelador e ao mesmo tempo determinado; ser revelador e ao mesmo tempo decifrar a si mesmo; conquistar o próprio significado autêntico e ao mesmo tempo conferir um sentido a algo mais. Esta recíproca conexão e mediação da parte e do todo significam a um só tempo: os fatos isolados são abstrações, são momentos artificiosamente separados do todo, os quais só quando inseridos no todo correspondente adquirem verdade e concreticidade. Do mesmo modo, o todo de que não foram diferenciados e determinados os momentos é um todo abstrato e vazio.

Nesta perspectiva a categoria4 totalidade foi crucial para orientar as reflexões que possibilitaram compreender a particularidade da pesquisa para o Serviço Social em sua dimensão histórica.

Assim o pressuposto que orientou este processo de investigação é de que a pesquisa é constitutiva e constituinte da prática profissional do Serviço Social, sendo determinada pela sua natureza interventiva e pela sua inserção histórica na divisão sócio – técnica do trabalho.

Esta tese apresenta três pontos de ancoragem que foram explorados através da pesquisa e que constituem os pilares fundamentais da mesma:

1-A particularidade da pesquisa para o Serviço Social: a categoria particularidade vem contribuir para nos aproximarmos do processo sócio –

4 As categorias possibilitam a expressão das relações contraditórias existentes numa dada formação sócio –

histórica da sociedade. São “formas de ser, determinações da existência” e não meros conceitos. As categorias expressam relações e compreender as relações é o segredo de um processo de investigação. (LUKÁCS, 1979, p.28)

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histórico em que a pesquisa ganha expressão e força no âmbito do Serviço Social, em especial, considerando as décadas de 80 e 90.5

Para LUKÁCS (1970, p. 103 e 104) a particularidade se constitui “um campo de mediações”, a partir do qual podemos apreender o movimento dialético do universal ao singular. “O movimento do singular ao universal e vice – versa é sempre mediatizado pelo particular; é um membro intermediário real, tanto na realidade objetiva quanto no pensamento que a reflete de um modo aproximativamente adequado. ...”

Ao nos questionarmos sobre a particularidade da pesquisa em Serviço Social reconhecemos a necessidade de inserir esta discussão no contexto sócio – econômico, político e cultural contemporâneo, buscando apreender as determinações mais gerais e sua repercussão/ incidência no âmbito da prática singular do Serviço Social, principalmente quando enfrenta as demandas sociais e as exigências de seu equacionamento.

Entendemos que na trajetória histórica da profissão a atitude investigativa se faz presente sendo constitutiva e constituinte da prática profissional. Constitutiva porque a prática profissional está fundamentada na relação dinâmica teoria/prática, fazendo parte da natureza da profissão buscar compreender criticamente os fenômenos sociais para fundamentar sua intervenção. Constituinte porque, inegavelmente, os avanços observados na esfera da produção de conhecimento, da prática profissional no âmbito das políticas públicas e da formação profissional mobilizam a reconstrução crítica da própria natureza profissional. Neste processo a profissão sofre

5 Devemos esclarecer que identificamos que a literatura que trata da pesquisa em Serviço Social privilegia a

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determinações estruturais que, contraditoriamente, tanto a desafiam, como , por vezes, lhe criam barreiras, impedindo que na singularidade da prática profissional, muitos profissionais ainda não percebam a vinculação orgânica entre intervenção/ investigação.

2- A centralidade ocupada pelos sujeitos que participam das pesquisas do Serviço Social: através de observação empírica e fundamentada no processo de revisão bibliográfica, percebemos que há uma lacuna nas produções sobre a pesquisa em Serviço Social, que é justamente a questão da centralidade do sujeito e sua preservação no processo metodológico de investigação do real e conseqüente produção de conhecimento profissional. Neste caso, estamos nos referindo ao sujeito demandatário da prática profissional, beneficiário/usuário das políticas públicas, que enquanto cidadão deve ser considerado protagonista de sua própria história e não dado ou fonte de informação. Preocupar-se com o sujeito implica em não perder de vista o contexto sócio – histórico em que se insere e em que se dão as relações entre o profissional Assistente Social e o cidadão.

Relembramos que a preocupação com o reconhecimento do sujeito – cidadão – está presente no projeto ético – político da profissão e necessita ganhar maior relevância tanto no âmbito da prática profissional em organizações sociais, como no desenvolvimento de pesquisas científicas.

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O grande desafio para o pesquisador Assistente Social que se preocupa com a centralidade do sujeito – enquanto condição ontológica e não como estratégia metodológica de pesquisa - é possibilitar através da pesquisa maior visibilidade ao sujeito, à sua experiência e ao seu conhecimento, cuja natureza se desvendada, poderá permitir aos profissionais desenvolver práticas cada vez mais comprometidas ética e politicamente com a realidade dos mesmos, buscando no coletivo e na troca de saberes alternativas de superação das condições de privação e exclusão social.

3- O retorno e alcance social das pesquisas desenvolvidas pelo Serviço Social : BAPTISTA (1992, p. 88 – 89) nos lembra que:

A especificidade que particulariza o conhecimento produzido pelo Serviço Social é a inserção de seus profissionais em práticas concretas. O assistente social se detém frente às mesmas questões que outros cientistas sociais, porém o que o diferencia é o fato de ter sempre em seu horizonte um certo tipo de intervenção: a intervenção profissional. Sua preocupação é com a incidência do saber produzido sobre a sua prática: em serviço social, o saber crítico aponta para o saber fazer crítico. (grifo nosso)

Orientado pelo compromisso ético – político profissional, o conhecimento construído pelos profissionais precisa ganhar força social e romper com os muros da academia e do próprio Serviço Social, sendo, através de uma prática crítica e propositiva, capaz de interferir nas condições de vida do cidadão.

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A revisão bibliográfica constituiu-se de processo contínuo de revisão de literatura pertinente ao tema proposto e isto implicou em aproximação às discussões travadas pelos autores que sustentaram nossas reflexões e que, principalmente, possibilitaram estabelecer as mediações teóricas necessárias à compreensão do objeto de estudo.

Enfatizamos que nos apoiamos, também, na observação sistemática. Articulada aos demais procedimentos metodológicos a observação garantiu maior concretude à análise do tema proposto e como procedimento metodológico esteve orientada pelos objetivos da pesquisa e pelas questões que problematizaram o objeto de estudo, portanto foi sistemática e contínua. Podemos entendê-la, também, como participante, visto que somos partícipes da profissão em sua dimensão formativa. Somos protagonista das questões que atravessam a profissão e co-responsáveis pelo seu encaminhamento, assim o diálogo que estabelecemos com referenciais teóricos em processo de reconstrução nesta tese se fez mediado pela nossa prática docente.

Para compreendermos os pilares que constituem a base de nossa tese percorremos um caminho que nos levou ao encontro de alguns sujeitos representativos da categoria profissional do Assistente Social. Estes foram selecionados de forma intencional e atenderam aos seguintes critérios:

• profissionais vinculados à prática profissional em organizações governamentais ou não – governamentais;

• profissionais vinculados à prática profissional docente (graduação e pós – graduação);

• profissionais com experiência em pesquisa;

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Oportuno, neste momento, ressaltarmos a decisiva contribuição da Profa. Dra. Dilséa Adeodata Bonetti em orientações compartilhadas com a Profa. Dra. Maria Lúcia Martinelli para definição dos critérios de seleção e identificação dos sujeitos da pesquisa e reflexões sobre as questões que constituíram o roteiro da entrevista.

Apresentamos no quadro que segue uma caracterização dos sujeitos 6 identificados como significativos, por sua reconhecida experiência e conhecimento no meio profissional, por serem, em seus espaços de ação profissional, protagonistas no enfrentamento dos desafios que o contexto sócio – econômico e político brasileiro coloca à profissão em relação ao equacionamento das expressões da questão social, portanto qualificados para contribuir com as discussões desta tese.

Esclarecemos que em relação à caracterização dos sujeitos não detalharemos as suas publicações (livros, artigos, conferências, etc.) considerando que os mesmos têm um currículo vasto, difícil de contemplar e valorizar em tão pequeno espaço. Reconhecemos, porém que a produção acadêmica destes profissionais circula no meio profissional, fomentando as reflexões que dizem respeito às áreas da Seguridade Social (saúde/ assistência social/ previdência social), Serviço Social no campo Sócio – Jurídico, Trabalho e Formação Profissional.

6 Inicialmente prevíamos participação de Maria Inês Souza Bravo, no entanto, embora tenhamos feito vários

contatos buscando agendar entrevista, não tivemos êxito. Entendemos que, embora em um primeiro momento a professora tenha se disponibilizado a participar, o excesso de atividades profissionais impediu sua participação durante o período que planejamos para realização da coleta do material (maio/outubro/2004). Assim em novembro de 2004 enviamos correspondência agradecendo e explicando a impossibilidade de aguardarmos por mais tempo.

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Quadro I – CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA7

SUJEITO

(ordem alfabética) CARACTERIZAÇÃO

Aldaíza Sposati - Assistente Social

- Pós – Doutora em Serviço Social pela

Universidade de Coimbra - Portugal - Doutora em Serviço Social pela PUC/SP - Professora Titular da PUC/SP

- Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Seguridade e Assistência Social – PUC/SP - Professora Visitante do Instituto Superior de

Serviço Social – ISSP - Portugal

- Vereadora – Município de São Paulo (1997/2000 – 2001/2002)

- Secretária Municipal de Assistência Social – Prefeitura Municipal de São Paulo – (2002/2004)

Aglair Alencar Setúbal - Assistente Social - Doutora pela PUC/SP

- Professora Aposentada da Universidade Federal do Piauí

- Coordenadora do Núcleo de Extensão e Pesquisa da Pessoa Idosa da Universidade Federal do Piauí - Coordenadora do Programa - Terceira Idade e

Ação - Universidade Federal do Piauí – 1998-2003

- Coordenadora até 2003 e Professora do Curso de Especialização em Gerontologia Social – Universidade Federal do Piauí

- Coordenadora do Curso de Serviço Social do Instituto Camilo Filho / Piauí desde 2003

- Coordenadora do Núcleo de Extensão e Pesquisa da Pessoa Idosa do Instituto Camilo Filho.

7Org.: a autora, 2004

Fonte: Os dados, aqui considerados como caracterização, foram obtidos em fontes de natureza bibliográfica e eletrônica, e alguns elementos foram revisados no momento das entrevistas e acrescentados por algumas das próprias entrevistadas. Esclarecemos que estes dados não esgotam as atividades desenvolvidas pelas participantes no âmbito da pesquisa e da prática profissional. As fontes são:

-Política de Assistência Social: uma trajetória de avanços e desafios. Subsídios à III Conferência Nacional de Assistência Social. ABONG/CFESS/CNTSS/CUT, São Paulo, 2001

-FÁVERO, Eunice T. Mães (e pais) em situação de abandono: quando a pobreza é fator condicionante do rompimento dos vínculos do pátrio poder. Tese de Doutorado. PUC – São Paulo, 2001.

-PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL. http://www.pucrs.br

consultado em 11/02/2004

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Ana Elizabete Mota - Assistente Social

- Doutora em Serviço Social pela PUC/SP - Doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP - Professora Adjunta do Departamento de Serviço

Social da Universidade Federal de Pernambuco - Coordenadora do Programa de Pós – Graduação

em Serviço Social da UFPe

- Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa do Trabalho (GET) – UFPe

- Presidente da ABEPSS (atual gestão)

Elaine Rossetti Behring - Assistente Social

- Doutora em Serviço Social pela UFRJ - Professora Adjunta da FSS/UERJ

- Presidente do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) – gestão 1999/2002

- Diretora da Faculdade de Serviço Social da UERJ - Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas

do Orçamento Público e da Seguridade Social – UERJ

Eunice Teresinha Fávero - Assistente Social

- Doutora em Serviço Social –PUC/SP

- Trabalhou por 8 anos na Vara da Infância e Juventude e Varas de Família e na seleção e Acompanhamento de Juizes– Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

- Coordenou pesquisas sobre “Perda do Pátrio poder: aproximações a um estudo sócioeconômico” (2000) e sobre “Serviço Social, práticas judiciárias, poder – implantação e implementação do Serviço Social no juizado de menores de São Paulo (1999) – publicadas pela Editora Veras

- Coordenou Grupo de estudos “O cotidiano da prática profissional” junto ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Jussara Maria Rosa Mendes - Assistente Social - Doutora pela PUC/SP

- Professora Titular da PUC/RS

- Coordenadora do Programa de Pós – Graduação da PUC/RS

- Diretora do Curso de Serviço Social da PUC/RS - Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas

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Lúcia Cortes da Costa - Assistente Social - Doutora pela PUC/SP

- Professora Adjunta da Universidade Estadual da Ponta Grossa – Pr

- Coordenadora do Curso de Pós – graduação em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG-Pr – gestão 2002/2004

- Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Desigualdade e Exclusão Social no Espaço Local – UEPG-Pr

- Líder de grupo de Pesquisa junto ao CNPQ pelo curso de Serviço Social da UEPG/Pr e de Canoinhas/SC

O roteiro utilizado para a coleta dos depoimentos decorreu do processo de problematização do objeto de estudo, constituindo-se em desdobramentos dos pilares da tese e em questões centrais desta pesquisa, as quais são:

Como as pesquisas desenvolvidas pelo Serviço Social tratam as determinações objetivas da existência dos sujeitos, que demandam sua prática e conhecimento profissional?

Que posição a experiência e o conhecimento dos sujeitos ocupam nas pesquisas do Serviço Social?

Qual o impacto das pesquisas do Serviço Social junto as organizações sociais em que trabalha e nas condições de vida dos sujeitos que requisitam sua prática profissional?

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Qual a particularidade das pesquisas desenvolvidas pelo Serviço Social?

O roteiro apresentado teve por objetivo orientar o processo da entrevista sem engessar o diálogo estabelecido. Tivemos como referência que a entrevista devia sempre partir da experiência concreta de cada sujeito em torno da temática de estudo. Ao ser relatada, num primeiro momento, esta experiência oportunizou que as questões colocadas como roteiro ganhassem dinâmica diferenciada, valorizando o que é singular em cada relato. Portanto, nos coube estar atento à riqueza e complexidade dos relatos sem perder de vista os propósitos desta tese.

Amparados pelos princípios éticos que orientam a pesquisa científica utilizamos o termo de consentimento informado para assegurar ao sujeito e ao pesquisador a adequada utilização dos depoimentos orais em seu processo de coleta, transcrição e análise. Como referência tivemos o modelo de “cessão gratuita de direitos de depoimento oral” fornecido pelo CEDIC ( Centro de Documentação e Informação Científica “Prof. Casemiro dos Reis Filho”- PUC/SP), que foi adaptado aos objetivos de nossa pesquisa.8 Este foi assinado por todos as participantes da pesquisa.

Estes sujeitos, em nossa tese, têm o estatuto de sujeito coletivo9 pela densidade de experiências que possuem sobre pesquisa, possibilitando reflexões que evidenciam preocupações latentes e pertinentes à produção de conhecimento em Serviço Social.

Segundo MARTINELLI (1994, p.14) quando trabalhamos com a pesquisa de caráter qualitativo um recurso metodológico é o da ...

8 Temos como referência também a obra: FONTINELLI JÚNIOR, Klinger. Pesquisa em Saúde: ética,

bioética e legislação. Goiânia: AB, 2003

9 Sobre a concepção de sujeito coletivo consultamos também: SADER, Eder. Quando novos personagens

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“...concepção de sujeito coletivo, no sentido de que aquela pessoa que está sendo convidada para participar da pesquisa tem uma referência grupal, expressando de forma típica o conjunto de vivências de seu grupo. O importante, nesse contexto, não é o número de pessoas que vai prestar a informação, mas o significado que esses sujeitos têm, em função do que estamos buscando com a pesquisa.” (grifo da autora)

Os depoimentos foram coletados através de entrevista e de correspondência eletrônica, respeitando as opções de cada participante da pesquisa. Estes procedimentos objetivaram o estabelecimento de diálogo entre a pesquisadora e as participantes da pesquisa.10

Qualificamos estas modalidades de coleta de depoimentos como “orientadas”, visto que tanto a conversação, como depoimento eletrônico foram guiados pelo conjunto, já citado, de questões que problematizaram o objeto de estudo. Conforme já afirmamos, o objetivo destas questões não foi cercear os sujeitos entrevistados, mas situá-los em relação aos propósitos da pesquisa e facilitar o diálogo, respeitando sua lógica discursiva.

Assim no quadro abaixo explicitamos como e quando se deu o contato e coleta de material empírico junto às participantes desta pesquisa:

10No projeto inicial desta pesquisa pensamos em utilizar como recurso para coleta dos depoimentos a vídeo–

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QUADRO II - DEMONSTRAÇÃO DAS FORMAS DE COLETA DE DEPOIMENTOS JUNTO ÀS PARTICIPANTES DA PESQUISA

PARTICIPANTE PROCEDI MENTO LOCAL/DATA

1-Lúcia Cortes da Costa Entrevista Ponta Grossa/Pr – residência - 13/05/2005

2-Jussara Maria Rosa Mendes

Entrevista Porto Alegre/RS – PUC - 28/06/2004

3-Ana Elizabete Mota Depoimento Eletrônico

02/07/2004 - e-mail

4-Eunice Teresinha Fávero

Entrevista São Paulo/SP – residência - 10/08/2004

5-Elaine Rossetti Behring

Entrevista Curitiba/Pr- Encontro Nacional Sócio – Jurídico - 03/09/2004

6-Aglair Alencar Setúbal Depoimento Eletrônico

20/09/2004 – e-mail

7-Aldaíza Sposati Entrevista São Paulo/SP - PUC - 26/10/2004 Org.: a autora - 2005

Em todos os casos enviamos correspondência explicativa dos objetivos da tese e do roteiro estabelecido para as reflexões das participantes. Os contatos para nossa apresentação pessoal e agendamento das entrevistas foram realizados através de telefonemas aos locais de trabalho de cada participante. São exceções Lúcia Cortes da Costa que reside em Ponta Grossa e com a qual fizemos contato pessoal e Ana Elizabete Mota que estabelecemos contato durante sua participação em evento promovido pelo CRESS – 11ª Região em 14/05/2004 com o tema “ Garantir Direitos – dever do Assistente Social, oportunidade em que proferiu palestra sobre “Seguridade Social no Brasil e a construção do Sistema Único de Assistência Social”.

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depoimentos nos dão pistas muito ricas em relação à articulação pesquisa/intervenção profissional e em relação aos pilares desta tese.

Quando elaboramos as questões orientadoras das entrevistas previmos algumas respostas com o objetivo de sustentar nossa tese e pressuposto de pesquisa. No entanto, cada diálogo estabelecido com as participantes nos surpreendeu, ampliando as possibilidades de discussão da tese e apontando outras problemáticas fundamentais à profissão.

Em relação ao processo da entrevista e mesmo aos depoimentos eletrônicos, partimos da experiência das participantes em torno da pesquisa em Serviço Social. Esta foi uma primeira questão, mais informal e serviu para aquecer o diálogo e gerar os desdobramentos necessários para que as demais questões previstas no roteiro pudessem ser trabalhadas.

Colhidos os depoimentos passamos à fase da sua transcrição e revisão. As versões finais das entrevistas transcritas foram encaminhadas às participantes, sendo que revisaram seus depoimentos: Lúcia Cortes da Costa e Eunice Teresinha Fávero. No entanto, Jussara Maria Rosa Mendes, Aldaíza Sposati e Elaine Rossetti Berhing não revisaram seus depoimentos em tempo hábil para conclusão desta tese. Contamos, portanto, para análise do material colhido, com a autorização expressa pelas participantes no termo de cessão gratuita de direitos de depoimentos oral e eletrônico.

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demandas postas à prática profissional através da pesquisa. Os depoimentos foram sistematizados em quadro demonstrativo (apêndice – quadro 2), considerando a estrutura das questões formuladas às participantes da pesquisa. Este quadro foi fundamental, pois além de possibilitar uma perspectiva ampliada dos depoimentos, permitiu estabelecer um perfil de cada participante, reconhecendo as suas contribuições singulares. Através do quadro apreendemos os elementos essenciais à análise dos depoimentos e visualizamos a estrutura final desta tese.

Esse processo - entre a sistematização e a análise dos depoimentos – nos fez perceber que havia necessidade de inverter a exposição dos resultados. A discussão da particularidade da pesquisa para o Serviço Social,que a princípio planejamos ser o primeiro pilar, passa a ser o último, justamente por constituir-se em sínteconstituir-se construída através das reflexões decorrentes dos demais pilares.

Avançando do processo da sistematização ao processo da análise do material empírico, objetivado no conjunto dos depoimentos, buscamos estabelecer as articulações necessárias com a revisão bibliográfica já realizada e necessitada de novas aproximações. Neste momento retomamos nosso principal pilar: a particularidade histórica da pesquisa no Serviço Social e considerando as contribuições presentes nos depoimentos buscamos construir sínteses que expressassem a particularidade histórica da pesquisa no Serviço Social.

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de investigação em torno do objeto de pesquisa “A particularidade histórica da pesquisa em Serviço Social”. Sendo possibilidade, “o horizonte se põe e se repõe no processo de investigação”11, acompanhando a dinâmica da realidade, o avanço e amadurecimento das reflexões, a interação entre os sujeitos da pesquisa e o diálogo com os autores que iluminaram as re - construções teóricas, que aqui buscamos explicitar e principalmente extrapolando o esforço desta pesquisa o empenho cotidiano dos profissionais de Serviço Social que, enquanto categoria, insistem em garantir à sua intervenção um cariz teórico – crítico.

Finalizando, vale esclarecer que nosso desejo era burilar esta tese, assim como um artesão faz com sua obra, buscando exaurir as possibilidades que a matéria – prima lhe oferece a cada momento em que ele aprecia, avalia, revisa e principalmente, duvida do que está produzindo. Como o tempo acadêmico impõe limites, tivemos que encerrar este trabalho e o nosso desejo, agora, é que o diálogo que possa ser estabelecido com este trabalho o supere.

Nesta perspectiva, organizamos a exposição desta tese em dois capítulos, precedidos desta introdução que objetivou explicitar o caminho teórico – metodológico percorrido durante o processo de investigação.12

No primeiro capítulo – A produção do conhecimento como expressão do trabalho humano - nos preocupamos em contextualizar os avanços alcançados pelo Serviço Social, principalmente durante as décadas de 80 e 90 e em

compreender o processo de produção do conhecimento como uma das expressões do trabalho humano, numa perspectiva históricocrítica.

11 Afirmação da Professora Maria Lúcia Martinelli em processo de orientação de tese.

12 As normas para apresentação de documentos científicos utilizadas como referência nesta tese seguem as

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I CAPÍTULO

“O conhecimento não é contemplação. A contemplação do mundo se baseia nos resultados da praxis humana. O homem só conhece a realidade na medida em que ele cria a realidade humana e se comporta antes de tudo como ser prático.” ( KOSIK - 1976)

A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO COMO EXPRESSÃO DO TRABALHO HUMANO

Analisando a trajetória do Serviço Social, como profissão reconhecida e inscrita na divisão sócio – técnica do trabalho, podemos afirmar que a mesma tem uma história de avanços e conquistas no sentido de consolidar uma produção de conhecimento que lhe dá sustentação teórica e metodológica para intervir na realidade social de forma crítica e criativa, e que este processo de intervenção se faz respaldado em projeto ético e político comprometido com os interesses coletivos dos cidadãos e com a construção de uma sociedade justa.

Há que se considerar que as pesquisas em Serviço Social têm contribuído para avanços significativos em diferentes campos da ação profissional, no âmbito das políticas públicas, no enfrentamento das expressões da questão social em diferentes momentos históricos, na construção da proposta curricular e definição dos seus fundamentos teóricos e metodológicos, na consolidação do projeto ético - político profissional, entre outros aspectos que poderíamos citar.

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grande protagonista deste processo. Já os anos 90 representam avanços quanto a consolidação do projeto ético - político profissional, o que repercutiu nas proposições destinadas a formação profissional e na direção social da profissão, aspectos essenciais à reconstrução crítica e à consolidação da própria natureza da profissão.

YAZBEK (2000, p.24) nos lembra que “Até o final da década de 70, o pensamento de autores latino – americanos ainda orienta, ao lado da iniciante produção brasileira (particularmente divulgada pelo CBCISS), a formação e o exercício profissional no País. Situação que, aos poucos vai-se modificando com o desenvolvimento do debate e da produção intelectual do Serviço Social brasileiro...” 13

Todavia, não podemos ignorar que os avanços são decorrentes de um processo histórico do qual destacamos as contribuições e impasses herdados da década de 6014, especificamente da segunda metade, momento em que se

13 Destacamos, deste contexto, algumas publicações do CBCISS ( Centro Brasileiro de Cooperação e

Intercâmbio de Serviços Sociais), através da Revista Debates Sociais, como artigos de Simone Crapuchet que tratam da relação pesquisa e Serviço Social, tais como: “ As profissões Sociais – novas perspectivas” ( 1972, ano VIII, n. 14); “ A pesquisa no Serviço Social e na ação social” (1976, ano XII, n. 23). Identificamos, também, a publicação de material referente ao I e II Seminários de Mensuração de Dados Sociais ( Temas Sociais,1978, n. 131, ano XI), realizado em 1977- Rio de Janeiro. As publicações retratam uma perspectiva clássica de pesquisa, centrada no tratamento estatístico dos dados e apontam para a necessidade da profissão investir na pós – graduação em Ciências Sociais e Humanas.

Ainda, observamos , na década de 80, o investimento do CELATS ( Centro Latinoamericano de Trabajo Social) no “ II Curso de Capacitación a Distancia : “La investigacion social” , cujo material foi organizado por Carlos Urrutia Boloña. Neste documento Boloña discute a pesquisa em sua relação com a prática profissional, reduzindo a compreensão da pesquisa a instrumentação da prática profissional. Esta perspectiva desqualifica a relação dinâmica entre a pesquisa e a pratica profissional, capaz de gerar um processo de produção de conhecimento. Reflexões que aprofundam esta discussão encontramos em BAPTISTA (2001, p. 31 – 48)

14Parece haver consenso entre os estudiosos da matéria ao reconhecerem que a preocupação com a teorização

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engendra, através do movimento de reconceituação, um processo de renovação do Serviço Social15 .

NETTO (1998, p.131) considera renovação como

... o conjunto de características novas que, no marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições e de assunção do contributo de tendência do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas sociais e de sua sistematização, e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais.

NETTO (1998, p.154 - 159) aponta três direções16 principais para o processo de renovação do Serviço Social: a perspectiva modernizadora, que se desenvolve no período pós – 64 até meados da década de setenta, no qual se dá a modernização das concepções profissionais, buscando adequar a profissão às estratégias de desenvolvimento capitalista; reatualização do conservadorismo, que se dá em meados da década de setenta, como uma vertente que busca romper com a tradição positivista presente na profissão e rejeita a perspectiva marxiana, voltando-se para a inspiração fenomenológica; intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional que atravessa os fins dos anos 70 e início dos anos 80, que efetivamente contribui para a renovação cultural da profissão.

É a partir da década de 8017 que se institui de modo mais sistemático o debate acadêmico do Serviço Social, marcando um processo de ruptura com o

15 Contribuições essenciais sobre o Movimento de Reconceituação em Serviço Social podemos encontrar em

IAMAMOTO, M. V. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: ensaios críticos (1992) e em MARTINELLI, M. L. Serviço Social: identidade e alienação (1993).

16 NETTO em seu livro Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós- 64 (1998),

analisa cada uma destas direções apontando contradições e repercussões no interior da profissão.

17 Não ignoramos que a década de 80 apresenta traços fundamentais ao cenário brasileiro em que se

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conservadorismo presente na constituição da profissão, sendo que esta intenção de ruptura apresenta alguns significados históricos.

Conforme NETTO (1996, p. 111)

A década de oitenta consolidou, no plano ídeo – político , a ruptura com o histórico conservadorismo do Serviço Social. Entendamo-nos: essa ruptura não significa que o conservadorismo ( e, com ele, o reacionarismo) foi superado no interior da categoria profissional; significa, apenas, que – graças a esforços que vinham, pelo menos, de finais dos anos setenta, e no rebatimento do movimento da sociedade brasileira – posicionamentos ideológicos e políticos de natureza crítica e/ou contestadora em face da ordem burguesa conquistaram legitimidade para se expressarem abertamente. É correto afirmar-se que, ao final dos anos oitenta, a categoria profissional refletia o largo espectro das tendências ídeo – políticas que tencionam e animam a vida social brasileira. Numa palavra, democratizou-se a relação no interior da categoria e legitimou-se o direito à diferença ídeo – política.

Durante a década de 80, este processo de rompimento com o conservadorismo gerou no interior da profissão uma cultura que reconhece a pluralidade teórico – metodológica, no entanto fortalece a orientação marxista como direção hegemônica para o projeto ético – político profissional. Esta orientação coloca como valor central os princípios de democracia, liberdade, justiça social e dignidade humana, definidos e explicitados no Código de Ética de 1993, marco significativo para a profissão nos anos 9018.

riqueza, agravamento da questão social, deterioração das condições de vida e de trabalho da maioria da população brasileira; - de outro lado, a década de 80 traz à tona um movimento sócio – político de redefinição das relações entre Estado/ sociedade civil, através da organização dos movimentos sociais em diferentes setores que passam a dar visibilidade às demandas populares, dos sindicatos que fortalecem suas lutas pelos direitos dos trabalhadores e no conjunto destas mobilizações desencadeamento de um processo de reconstrução das instituições democráticas, culminando com a elaboração da Constituição Federal de 1988, marco legal da democracia e conquista dos direitos fundamentais do cidadão brasileiro.

18 O contexto sócio – econômico da década de 90 é marcada pela vigência do neoliberalismo no Brasil.

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As análises de NETTO (1998, p. 135 - 136) sintetizam quatro aspectos que indicam as decorrências deste processo de renovação para o Serviço Social, os quais são:

a) pluralismo teórico, ideológico e político no contexto da profissão; b) rompimento com concepção homogênea da profissão e utilização de diferentes recursos teórico - metodológicos;

c) articulação com as discussões presentes nas Ciências Sociais, colocando a profissão como interlocutora sintonizada com as polêmicas teórico - metodológicas e rompendo com a condição de subalternidade intelectual, limitada a execução de práticas;

d) constituição de vanguarda intelectual, dedicadas à pesquisa e à vida acadêmica.

Isto posto, as décadas de 80 e 90 marcam historicamente avanços e conquistas para o Serviço Social nos seus diferentes campos de ação, bem como em seu processo de constituir - se e de consolidar - se como espaço de produção de conhecimento em seu próprio âmbito e frente as demais áreas de conhecimento.

É neste contexto que a própria profissão se define como objeto de atenção, buscando compreender a sua natureza, seus procedimentos e sua relação com outras áreas de conhecimento.

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“É interessante observar que nesse trajeto de auto – reconhecimento as interpretações são múltiplas. Instaura-se um debate, a partir da literatura, entre distintas visões do Serviço Social, inclusive no interior do campo progressista. ...”( IAMAMOTO,1993, p.106)

Esta autora afirma que houve avanços referentes à crítica teórico – metodológica no interior do Serviço Social, tanto no que se refere à perspectiva marxista, quanto à tradição conservadora de cunho positivista, ou seja:

... Avançamos da mera denúncia do tradicionalismo profissional ao enfrentamento efetivo de seus dilemas, tanto na construção da crítica teórica, como na elucidação de seus limites sócio – culturais e políticos na condução da prática profissional; avançamos no esforço de ultrapassar os “metodologismos” na direção de uma maior proximidade do Serviço Social com as grandes matrizes do pensamento social contemporâneo, delas extraindo os fundamentos teórico – metodológicos para a explicação da profissão e para iluminar suas possibilidades de intervenção. Avançamos do ecletismo no trato das teorias para a busca de uma convivência plural de idéias no universo profissional, o que não deve eliminar a luta pela hegemonia travada entre os representantes de distintas vertentes analíticas e suas matrizes na arena acadêmico - profissional. (IAMAMOTO, 1993, p. 107)

Esta década marca o debate profissional em relação a dois grandes eixos temáticos:

1- crítica teórico – metodológica ao conservadorismo e à vulgarização do marxismo, colocando a polêmica em relação à história, teoria e método;

2- resgate da historicidade de sua trajetória histórica brasileira para explicitação e compreensão de suas particularidades históricas e inserção na divisão sócio – técnica do trabalho. (IAMAMOTO, 1993, p. 106)

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quer dizer conhecimento sobre a realidade social.” Especificamente, conhecimento sobre a dinâmica das transformações societárias que pressionam a profissão para reconstrução de alternativas teórico – metodológicas que sustentam a sua intervenção na realidade.

Na década de 80, o Serviço Social enfrenta questões sobre as políticas sociais, em especial quanto a consolidação de políticas públicas na área da seguridade social (abarcando o tripé saúde , assistência e previdência social), família, criança e adolescente, terceira idade e trabalho. Estas, entre outras instâncias das políticas públicas, passam a ser pauta do debate da profissão, gerando produções acadêmicas que dão visibilidade a estas temáticas, bem como à ação profissional desencadeada nestas áreas. Isto se dá numa conjuntura da construção da Constituição Federal de 1988 e, desde então, de permanente luta pela consolidação dos direitos sociais já assegurados, de forma articulada às organizações da sociedade civil.

Tais preocupações contribuiram para que o Serviço Social enfrentasse e continue enfrentando junto com a sociedade civil organizada os impasses, desafios e dilemas que a democracia, a cidadania e os direitos sociais colocam à prática social e neste âmbito, em especial, à pratica do profissional do Serviço Social.

Na década de oitenta a preocupação com as políticas sociais voltava-se especialmente para o Estado “....no bojo da expansão monopolista, mediada pelas políticas sociais públicas, como estratégias do bloco do poder no enfrentamento da ‘questão social’. A ótica é a de que através dessas políticas viabilizam-se direitos sociais implicados no estatuto de cidadania...” (IAMAMOTO,1993, p.110)

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Este eixo temático é revitalizado nos anos 90, com o redimensionamento das questões referentes aos direitos sociais, cidadania, democratização e universalização das políticas públicas. Essas questões estão hoje profundamente tencionadas pelas estratégias de controle social da nova ordem burguesa. Elas ganham relevância no vasto campo político – ideológico da formulação e consolidação de uma nova cultura política posta pelo capital nos marcos das estratégias da “acumulação flexível” em que as relações entre Estado e sociedade civil constituem locus privilegiado.

Ainda estas autoras colocam que a maior parte dos temas de pesquisa dos anos 80 e que prosseguem abordadas nos anos 90 referem-se às políticas públicas na sua interface com o Estado. Exemplo disto é a temática Seguridade Social, a partir de seu marco histórico que é a Constituição Federal de 1988. Mais recentemente vem avançando as investigações sobre a sociedade civil, os processos de gestão e controle das políticas públicas e o papel dos Conselhos de Direitos. Também ganha ênfase o campo de preocupação relativo aos usuários do Serviço Social, muito embora na sua relação com as políticas públicas.

Marcos históricos recentes e relevantes são os 10 anos da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS - Lei 8742/93), comemorado em 2003 e os 10 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – LEI 8.069/90), em 2000. Eventos que retratam conquistas no campo dos direitos sociais, principalmente em relação à proteção social destinadas aos segmentos vítimas do processo de exclusão social, como famílias, crianças, adolescentes, idosos e portadores de necessidades especiais.

A Constituição Federal de 1988 introduziu no Brasil o conceito de Seguridade Social19 e neste contexto a Assistência Social passa a ser reconhecida como política pública no mesmo patamar da saúde e previdência social.

19 A Constituição Federal de 1988 em seu Capítulo II, art. 194 define que Seguridade Social “compreende um

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Em 1993 a regulamentação da LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social) garante maioridade jurídica à assistência social, trazendo-a para o campo do direito com responsabilização do Estado e expressa a recusa da tradição clientelista, assistencialista e tutelar presente, ainda, em suas ações. A Assistência Social adquire estatuto de política pública e enfrenta alguns desafios: - superar o caldo cultural marcado por estas características que muitas vezes norteiam as ações do Estado e das entidades sem fins lucrativos, atuantes nesta esfera da política pública; avançar em relação ao processo de avaliação da gestão da política em suas diferentes instâncias; consolidar um processo de controle social, com efetiva participação da sociedade civil e assegurar financiamento adequado à complexidade das ações de enfrentamento à pobreza, de garantia dos mínimos sociais, de desenvolvimento de ações de prevenção, proteção e inclusão social e repensar as ações destinadas à família de baixa renda, preconizando ações de caráter intersetorial e de rompimento com a segmentação da família em suas unidades. A família brasileira, devido as suas transformações em termos de composição e significados, especialmente a família de baixa renda, reclama por respostas coerentes às suas demandas. O lugar da família no âmbito das políticas públicas é uma questão que merece aprofundamento e está em debate no contexto da profissão.

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ainda está por ser avaliado....” o que certamente exigirá processo de acompanhamento e investigação por parte dos núcleos de estudos, dos profissionais e dos pesquisadores da área.20

Em 10 anos muitas pesquisas21 foram desenvolvidas sobre a Assistência Social, contribuindo para avanços de ordem conceitual e construindo referências importantes sobre as temáticas que constituem a natureza desta política pública. Neste campo, imprescindível tem sido a contribuição da PUC de São Paulo, com a interlocução de seus professores, na construção de espaços de discussão sobre a Assistência Social através de núcleos de pesquisa e na fomentação da produção acadêmica através das teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos científicos e livros de referência nacional.

Em especial, precisamos destacar o Núcleo de Seguridade e Assistência Social (NEPSAS)22 , núcleo de estudos e pesquisas coordenado pela Prof.

20 Detalhamentos sobre o SUAS ver na Revista Serviço Social e Sociedade n. 78 de julho de 2004 e na

Versão Oficial da Política Nacional de Assistência Social - 2004, publicadas pela Ed. Cortez.

21 Trabalhos de pesquisa que desenvolvem discussões amplas e de fundo sobre a concepção e gestão da

política pública de Assistência Social, bem como análises das expressões particulares desta política em realidades estaduais e municipais. No Paraná lembramos a pesquisa intitulada “Descentralização político-jurídico-administrativa na implementação da LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social: reconstrução de conceitos ou manutenção de saberes e práticas? Sob a coordenação da Prof. Dra. Odária Battini, criada em 1994 como estratégia adotada no processo de implementação da LOAS no Paraná (1996/1998). Em 1998 foi criado o Centro Interinstitucional de Pesquisa e Consultoria em Políticas Públicas. Em 2000 a pesquisa vinculou-se ao Curso de Serviço Social da PUC/Pr, ao Diretório Nacional de Grupos de Pesquisa do CNPQ e à Fundação Araucária. Atualmente o grupo de pesquisa tem contribuído com o processo de implantação do Sistema de Informação da Política de Assistência Social e na gestão do SUAS e estebelece articulações com UFPr, CELEPAR, Secretaria do Estado do Emprego e Promoção Social, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (Informações fornecidas por Jucimeri Isolda Silveira – Presidente do CRESS/11ª Região em fevereiro de 2005) Destacamos, também, a contribuição de Selma Maria Schons com sua obra: “ Assistência Social entre a ordem e a ‘des-ordem....’ ” de1999, Cortez Editora. Neste contexto desenvolvemos Dissertação de Mestrado, junto a PUC/SP, sobre “O processo de configuração da Assistência Social no município de Ponta Grossa – Pr.” (1997)

22 NEPSAS apresenta as seguintes características: “a) como núcleo de pesquisa, reúne docentes e discentes,

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Aldaíza Sposati junto ao Programa de Estudos pós – Graduados da PUC/São Paulo que tem trabalhado os elementos necessários à efetivação dos preceitos da LOAS, dentre os quais podemos destacar:

- o reordenamento institucional e a efetivação em municípios e estados dos instrumentos democráticos de gestão dessa política social como Conselhos, Fundos, Planos etc.

- a consolidação do conteúdo da assistência social como política pública de seguridade e, portanto, asseguradora de direito.

-a construção de informações sobre esse campo de política social, de modo a permitir o desenvolvimento de serviços, programas e projetos. ( SPOSATI, 1997, s/p)

Podemos destacar que, como referência aos profissionais e pesquisadores que atuam no âmbito da Assistência Social, temos do NEPSAS três documentos essenciais: Assistência Social na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras de 1985, Carta – Tema de 1990 e o Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo de 2000, entre outros estudos que tematizaram questões centrais desta política pública.

A política de Assistência Social ganha um espaço relevante de reflexão e pesquisa na profissão devido ser campo privilegiado de intervenção profissional e ter vinculação histórica com a natureza e constituição da profissão.

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...a questão social se apresenta como um eixo central capaz de articular a gênese das seqüelas inerentes ao modo de produzir-se e reproduzir-se do capitalismo contemporâneo, o que envolve as mudanças no mundo do trabalho; suas manifestações e expressões concretas na realidade social, particularmente a exclusão social; as estratégias de seu enfrentamento articuladas pelas classes sociais e o papel do Estado neste processo; e, por fim, os desafios teóricos, políticos e técnico – operativos postos ao Serviço Social para seu desvelamento e processo de trabalho. (CARDOSO et al., 1997, p.26)

No movimento das transformações societárias e de forma inerente, no movimento de repensar a profissão há um processo de construção e afirmação de um projeto ético – político comprometido com a cidadania e renovador da direção social da formação profissional.

A esse respeito, evidencia-se no debate no interior da profissão e no processo de revisão curricular, coordenado pela ABESS, uma diversidade de posições quanto aos vínculos do projeto profissional com os projetos societários, mas reafirma-se a dimensão política da prática profissional, em consonância com as diretrizes curriculares da década de 80 e o Código de Ética de 1986, considerando referência do processo de renovação profissional e cuja direção social defendida vincula-se aos interesses das classes subalternas. Essa direção também é reafirmada pelo Código de Ética Profissional de 1993, no qual o tratamento da dimensão ético – política da profissão se expressa pelo compromisso com valores e princípios colocados no horizonte de superação da ordem burguesa. ( CARDOSO, 1998, p. 29)

Não menos relevante, este movimento repercute na elaboração de uma proposta curricular em que a formação profissional direciona - se para o desenvolvimento de competência teórico – metodológica de natureza pluralista orientada pela tradição marxista. Nesta perspectiva a formação profissional funda-se na interlocução com o conjunto de conhecimentos científicos acumulados pelas diversas áreas das ciências humanas e sociais, especialmente dialogando com as vertentes clássicas.

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coerente com a dinâmica societária e capaz de apreender esta dinâmica em sua totalidade e processualidade histórica.

Neste contexto a pesquisa surge como uma preocupação formativa. Trata-se de um desafio a ser enfrentado e proposto pelas novas diretrizes curriculares, ou seja “...garantir uma formação profissional à base da pesquisa e sob a ótica pluralista, considerando que a dimensão investigativa se constitui um princípio e condição de formação e das práticas profissionais e que a postura pluralista supõe relações democráticas construídas na interlocução crítica entre portadores de perspectivas político – ideológicas diferenciadas.” (CARDOSO, 2000, p. 16)

Em sua trajetória histórica, a profissão, ao construir e reconstruir um legado teórico23, estabelece diálogo crítico com outras áreas do conhecimento, sendo importante interlocutora no campo das reflexões sobre a questão social e seu enfrentamento através da política pública.

Creio que um ponto é pacifico: a década de oitenta assinalou a maioridade do Serviço Social no Brasil no domínio da elaboração teórica. Nesse decênio, desenvolveu-se, no interior da categoria, uma “divisão do trabalho” (uma especialização) que é própria das profissões amadurecidas: a criação de um segmento diretamente vinculado à pesquisa e à produção de conhecimentos. Constitui-se uma intelectualidade no Serviço Social no Brasil, que passou a ser o vetor elementar a subsidiar o “mercado de bens simbólicos” da profissão. Foi característica desse mercado a circulação de produções brasileiras – não é de menor importância, no período, a diminuta difusão de literatura profissional estrangeira. (NETTO, 1996, p.112)

Importante lembrar que embora os avanços tenham sido muitos até os anos noventa, e aqui pontuamos uns poucos, muito há que se trilhar em termos de consolidação e socialização de tais avanços. “...Além disso, a categoria profissional não dispõe de suficientes canais e circuitos que operem uma

23José Paulo Netto no Prefácio do livro “A instrumentalidade do Serviço Social” de Yolanda Guerra (1995)

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