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PR JAQUELINE PUQUEVIS DE SOUZA

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Academic year: 2021

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JAQUELINE PUQUEVIS DE SOUZA

AS ORGANIZAÇÕES MULTILATERAIS, ESTADO E EMPRESARIADO NA LEI DE APRENDIZAGEM N◦10.097/2000: AÇÕES E CONTRADIÇÕES.

GUARAPUAVA 2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO

AS ORGANIZAÇÕES MULTILATERAIS, ESTADO E EMPRESARIADO NA LEI DE APRENDIZAGEM Nº 10.097/2000: AÇÕES E CONTRADIÇÕES.

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de mestre, em 28 de fevereiro de 2014, ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UNICENTRO, na linha de Políticas, História e Organização da Educação.

Orientador: Prof. Adair Angelo Dalarosa

GUARAPUAVA 2014

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Catalogação na fonte Biblioteca da UNICENTRO Campus Guarapuava - PR

SO729o Souza, Jaqueline Puquevis de.

As organizações multilaterais, estado e empresariado na lei de aprendizagem n° 10.097/2000: Ações e contradições./ Jaqueline Puquevis de Souza. Guarapuava, PR.: 2014.

111 fls.

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Centro Oeste. Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação, 2014.

Orientador: Prof. Dr. Adair Angelo Dalarosa.

1. Lei de aprendizagem. – 2. Juventude. – 3. Organismos multilaterais. – I. Estado. – II. Empresariado. – III. Universidade Estadual do Centro Oeste. – IV. Programa de Pós–Graduação stricto sensu em Educação.

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Dedico este trabalho a todas as pessoas que me incentivaram e me ajudaram durante o processo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao professor Adair Angelo Dalarosa pela amizade construída neste período e pela confiança ao me aceitar como orientanda, possibilitando a execução desta pesquisa;

Ao professor Carlos Herold Junior que jamais hesitou em atender a nossas solicitações, compartilhando seus conhecimentos e nos incentivando nos períodos de incertezas;

Aos professores Alessandro de Melo, Carla Luciane Blum Vestena, Angela Hildalgo, Emerson Veloso e Cibele Lemke por compartilharem seus ensinamentos ao fazerem parte de nossa formação;

Às professoras Dalila Oliva de Lima e Ninon Rose Stremel, minhas queridas alunas e colegas de trabalho, pelo incentivo, apoio e correções para o enriquecimento do meu texto;

Às minhas colegas de mestrado Vanize Bee Boldrini, Claudinéia Schinemman, Liliane Hermes Cordeiro Schvars,Vanessa Rodrigues e Zenira Maria Malacarne Signori por compartilharem comigo,nesses últimos anos,as angústias,bons sorrisos e vitórias;

A Elisangela Aparecida Toledo, secretária deste programa de mestrado pela amizade e por não medir esforços para me auxiliar em todos os processos burocráticos;

Aos queridos colegas de trabalho Antonio Alexandre Junior e Clayton Washington Reis, que me incentivaram a fazer este mestrado e me orientaram no projeto inicial;

Aos meus pais Paulo e Florinha, que sempre acreditaram em mim e não mediram esforços para me ajudar e incentivar neste período.

Ao meu esposo Alysson e minhas filhas Gabriela e Isabela, pelo carinho, incentivo e compreensão pelas horas ausentes dedicadas a esta pesquisa.

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SOUZA, P. Jaqueline. As Organizações Multilaterais, Estado e Empresariado na Lei de

Aprendizagem n◦10.097/2000: Ações e Contradições. 113 f. Dissertação (Mestrado em

Educação) – Universidade Estadual do Centro-Oeste. Orientador: Adair Angelo Dalarosa. Guarapuava, 2014.

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a Lei de Aprendizagem n◦ 10.097/2000 e suas diretrizes curriculares, por meio do desenho político dos atuais programas de aprendizagem no Brasil, possibilitando a compreensão da atuação do Estado, organismos internacionais e empresariado nas políticas de educação profissional. Para isso, esta pesquisa está dividida em cinco partes. No primeiro momento, apresentamos nosso objeto de estudo, os interesses da pesquisadora pelo tema e apresentamos o método materialismo histórico-dialético, como embase teórico adotado. Posteriormente, analisamos as categorias juventude, trabalho e educação, trazendo pesquisas estatísticas sobre a realidade brasileira. No Capítulo II, fundamentamos conceitualmente os organismos multilaterais, suas origens, objetivos e documentos orientadores para a educação profissional. Focando os seguintes documentos: Reformas Econômicas e Trabalhistas na América Latina e Caribe (Produzido em paralelo ao Relatório sobre Desenvolvimento Mundial: o Trabalhador e o Processo de Integração Mundial) (1995);O Ensino e a formação técnico profissional: uma visão para o século XXI (1999); Educação e Conhecimento: eixo da transformação produtiva com equidade (1993) e Equidade e transformação produtiva: um enfoque integrado (1996). Sobre contexto nacional, foram discutidos, num primeiro momento, o Decreto 2.208/97, o PROEP e o PLANFOR.No III Capítulo, damos enfoque à Lei de Aprendizagem, discutindo suas diretrizes curriculares e verificando as possíveis influências do Estado, empresários e organismos multilaterais no discurso desses documentos. Por fim, notamos que a Lei de Aprendizagem, pode ser uma aliada na inserção no mercado de trabalho e desenvolvimento para muitos jovens, mas suas limitações, a falta de conhecimento de seus verdadeiros objetivos por parte dos empresários e os interesses em prol do capital, ainda são maiores. As influências das orientações internacionais para o desenvolvimento econômico dos países por meio da educação, do Estado e do empresariado, que adere aos discursos das OMs, mostraram-se evidentes no decorrer da análise dos documentos levantados.

Palavras-chave: Lei de Aprendizagem, juventude, organismos multilaterais, Estado,

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SOUZA, P. Jaqueline. Multilateral Organs, the State e and the Business Community in

the Law of Apprentice n◦10.097/2000: Actions and Contradictions (113 f.). Dissertation

(Master of Education) – UNICENTRO - Supervisor: Adair Angelo Dalarosa, Guarapuava, 2014.

ABSTRACT

The objective of this study is analyzing the Apprenticeship Law number 10.097/2000 and its curricular guidelines through the political vision of current programs of apprenticeship in Brazil. It makes possible to understand the influence of the State, international organisms and enterprises in professional educational policies. For that, this research is divided in five parts. Initialy, we discuss our object of study, researcher’s interests about the subject and we present the method dialectical historical materialism as theoretical basis. Posteriorly we analyze categories youth, work and education speaking about statistical researches about Brazilian reality. On Chapter II we conceptualize multilateral organisms, their origins, objectives and oriented documents to professional education. Studied documents were: Economic and Labour Reform in South America and Caribbean (written at the same time of report about Worldwide Development: the Worker and the Process of Worldwide Integration) (1995); the Education and the professional technical formation: a vision to the 21th century (1999); Education and Knowledge: main point of productive transformation with equity (1993) and Equity and productive transformation: an integrated approach (1996). On a first moment the Decree 2.208/97, the PROEP and the PLANFOR were discussed regarding national context. On Chapter III we emphasize the Apprenticeship Law, we discuss its curricular guidelines and we go over possible influences of State, businessmen and multilateral organisms in these documents. Finally we notice that Apprenticeship Law can help insertion in labour market and development to much youth but limitations, businessmen’ deficient knowledge about its real objectives and interests that benefit the capital are bigger yet. Influences of international orientations to economic development of countries through education, State and enterprises joining speech from OMs were evident during the analysis of the documents.

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LISTA DE QUADROS

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANTD - Agenda Nacional de Trabalho Descente

ANTDJ - Agenda Nacional de Trabalho Descente para Juventude BID -Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD -Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BM -Banco Mundial

BNDE-Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BNDS-Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CBO - Código Brasileiro de Ocupações

CEFET - Centros Federais de Educação Tecnológica

CEPAL - Comissão Econômica para América Latina e Caribe CNI - Confederação Nacional da Indústria

CONAP - Catálogo Nacional de Programas de Aprendizagem Profissional

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

EP - Ensino Profissional

ESTNUD - Educação Profissional na modalidade de Ensino Superior Técnico e não Universitário

ETP - Ensino Técnico Profissional FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador

FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IEL - Instituto Evaldo Lodi

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MARE - Ministério da Administração e Reforma do Estado MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

OIJ - Organização Ibero-Americana da Juventude OIT - Organização Internacional do Trabalho ONG - Organização não-governamental

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ONU - Organização das Nações Unidas OMs – Organizações Multilaterias PEA - População Economicamente Ativa

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar PNAP - Plano Nacional de Aprendizagem

PNUP - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNPE - Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego PLANFOR - Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador PROEP - Programa de Expansão da Educação Profissional PROJOVEM - Programa Nacional de inclusão de Jovens REP - Rede de Ensino Profissional

RPA - Rede Pró-Aprendiz

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEFOR - Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SENAT - Serviço Nacional de Aprendizagem de Transportes

SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendizagem em Cooperativismo SESI - Serviço Social da Indústria

SESC - Serviço Social do Comércio SEST - Serviço Social do Transporte SNJ - Secretaria Nacional de Juventude

UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... .14

CAPÍTULO I- JUVENTUDE, TRABALHO E EDUCAÇÃO ... .22

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E DISCUSSÕES SOBRE O CONCEITO DE JUVENTUDE .... ... 22

1.2 NOTAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO JUVENIL BRASILEIRO E MERCADO DE TRABALHO ... 27

1.3 A CATEGORIA TRABALHO NAS MATRIZES DO CAPITALISMO E O NOVO PERFIL DO TRABALHADOR ... 30

1.4 JUVENTUDE E EDUCAÇÃO ... 34

1.4.1 Políticas de Educação Profissional para juventude e o financiamento dos Organismos Multilaterais ... 37

CAPÍTULO II - AS ORGANIZAÇÕES MULTILATERAIS E SEUS REFLEXOS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: RELAÇÕES COM O ESTADO BRASILEIRO ... 40

2.1 BANCO MUNDIAL: REFORMAS ECONÔMICAS E TRABALHISTAS NA AMÉRICA LATINA E CARIBE ... 42

2.1.1 ONU/UNESCO: Recomendações sobre o Ensino Técnico e Profissional ... 47

2.1.2 CEPAL: Educação e conhecimento eixo da transformação produtiva com equidade . ... 55

2.2 O ESTADO BRASILEIRO NEOLIBERAL NA DÉCADA DE 1990 ... 60

2.2.1 As reformas na Educação Profissional brasileira na década de 1990 ... 65

2.2.2 Decreto n◦ 2.208/97, PROEP E PLANFOR... 67

CAPÍTULO III - A LEI DE APRENDIZAGEM E SUAS INTERFACES COM AS OMs E O EMPRESARIADO ... 77

3.1 A LEI DE APRENDIZAGEM ... 77

3.2 O JOVEM APRENDIZ E A CONFIGURAÇÃO DOS PROGRAMAS DE APRENDIZAGEM ... 80

3.3 DADOS E AÇÕES ATUAIS SOBRE A LEI DE APRENDIZAGEM ... 83

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3.5 O EMPRESARIADO E A LEI DE APRENDIZAGEM ... 86 3.6 AS OMS E A LEI DE APRENDIZAGEM: A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO ... 90 3.7 APROXIMAÇÕES DA PORTARIA N◦ 615 ÀS DETERMINAÇÕES DAS OMS E EMPRESARIADO ... 92 3.8 ALTERAÇÕES DOS DISPOSITIVOS DA LEI DE APRENDIZAGEM PELA

PORTARIA 723/12 E APROXIMAÇÕES COM O EMPRESARIADO E OMS ... 93 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 98 REFERÊNCIAS ... 105

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Sou professora universitária há dez anos, graduada em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná, em 2001. Minha atuação profissional sempre esteve voltada à educação e à Psicologia do Trabalho, ministrando também, cursos e treinamentos para Secretaria Estadual e Secretarias Municipais de Educação, além de palestras para algumas instituições sobre o Sistema Nacional de Aprendizagem (Sistema S). Há três anos, em 2011, minha família e eu viemos morar na região centro-oeste do Paraná e, ao chegar nesse local, fui convidada a trabalhar com o módulo de Relações Interpessoais no Trabalho, em um dos cursos de aprendizagem em uma das entidades do Sistema S local. Durante a execução do módulo, tive a oportunidade de observar alguns aspectos que considero discutíveis nessa formação, tais como: a fragilidade teórica e a limitação de conteúdos, o discurso sem ações efetivas de formação social e humana proposta nas diretrizes curriculares bem como a limitação de oferta de cursos. Em vários momentos, também questionava a finalidade e os verdadeiros interesses implícitos nesta formação. Por essas razões e pela experiência profissional, em outro curso de aprendizagem, de uma entidade filantrópica, questões sobre educação e trabalho sempre me inquietaram.

Este estudo surge, então, do interesse em compreender essas indagações sobre os programas de educação profissional, pautados pela Lei de Aprendizagem. O projeto inicialmente apresentado para este programa de mestrado tinha como proposta a execução de uma pesquisa de campo, para realização de uma análise comparativa entre duas entidades locais: uma filantrópica e uma instituição do Sistema S, comparando as práticas de um mesmo curso. No decorrer dos primeiros meses de estudo e com os avanços de nossas pesquisas, percebemos em discussões com alguns professores deste programa de pós-graduação que apenas comparar um mesmo curso poderia limitar as argumentações do nosso objeto de estudo, que é a Lei de Aprendizagem, então começamos a buscar pesquisas atuais que pudessem aprofundar nosso entendimento.

Em junho de 2013, participando do XII Seminário de Pesquisa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá, tive contato com três professoras que pesquisam políticas de educação profissional para juventude. Nesse momento, tive acesso a muitos artigos, pesquisas de mestrado e doutorado, assim como publicações do Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas Públicas e Gestão da Educação na América Latina e Caribe (PGEALC), que trouxeram contribuições importantes para um estudo mais conciso. Nessas

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leituras, começamos a perceber alguns interesses implícitos nas políticas para juventude, que partiam do Estado, do empresariado e das Organizações Multilaterais (OMs). Também tivemos contato com documentos publicados, na década de 1990, pelas OMs, anos que precedem a Lei de Aprendizagem no Brasil e que nortearam programas de educação profissional daquele período. A partir desse entendimento, optamos por uma pesquisa bibliográfica e documental, pensando na Lei de Aprendizagem, através do desenho político dos cursos ofertados. Dentro desse panorama, elencamos alguns questionamentos procurando entender: Qual a relação entre as orientações dos organismos internacionais, Estado e empresariado em relação as determinações da Lei de Aprendizagem?

A partir da nova configuração, delimitamos como principal objetivo: analisar a Lei de Aprendizagem nº 10.097/2000 e suas diretrizes curriculares, por meio do desenho político dos atuais programas de aprendizagem no Brasil, compreendendo a influência do Estado e dos organismos internacionais nas políticas de educação profissional. Nossos objetivos específicos são: primeiro, destacar algumas recomendações internacionais estabelecidas pela UNESCO, CEPAL e Banco Mundial, com o intuito de perceber suas influências nas políticas de educação profissional para juventude no contexto neoliberal; e, por fim, compreender o processo histórico brasileiro no qual a educação profissional está inserida na década de 1990, articulando as propostas das políticas de educação profissional para a juventude e mundo do trabalho. Pesquisas bibliográficas e dados estatísticos sobre o tema levantaram pontos nevrálgicos que perpetuam há décadas alguns interesses políticos nesses moldes de formação, evidências que fundamentaram nossas argumentações.

A compreensão das políticas educacionais passa pela explicitação das transformações econômicas, sociais e políticas em âmbito nacional e internacional. Em relação à educação profissional, as reformulações ocorridas buscaram adaptação às inovações tecnológicas e as demandas do capitalismo. No Brasil, após a década de 1990, instituem-se reformas educacionais, que contemplaram as necessidades do empresariado e a qualificação de trabalhadores, por meio de parcerias com entidades privadas e ações internacionais, via agências multilaterais, para subsidiar seus financiamentos, visando a melhorias no desenvolvimento econômico, tendo a juventude como foco para desenvolvimento econômico do país.

Algumas pesquisas publicadas nos últimos anos (MÁXIMO 2012; GODÓI, 2012; NOMA, 2010; BARBOSA, 2007) trazem certas determinações e orientações internacionais,

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realizadas pelos Organizações Multilaterais (OMs)1, à educação profissional brasileira, na década de 1990. O fato é que após a Segunda Guerra Mundial, as relações internacionais nortearam os vários segmentos dos países constituintes. “A adoção de propostas e pacotes de políticas “prontas”, idealizadas pelo Banco Mundial e FMI a partir de 1970, trouxeram aos países onde foram inseridos, graves problemas estruturais e sociais com o passar dos anos” (BENDRATH e GOMES, 2010, p.161).

As ações da ONU e UNESCO, subsidiadas pelos financiamentos do Banco Mundial, buscaram ampliações nos modelos de educação não-formal para atingir os índices e metas estabelecidas pelas OMs. Essas ações políticas são pré-requisitos para concessão de empréstimos para os investimentos na educação, ficando “notório que os movimentos internos fluem no sentido de dar a educação apenas o valor de formação do capital humano” (BENDRATH e GOMES, 2010, p.162). Essa educação não-formal volta suas ações para a população em situação de vulnerabilidade e exclusão social, termo cunhado no Brasil para designar jovens excluídos socialmente, em situação de pobreza, à margem da criminalidade e desprovidos de direitos básicos como educação e cultura. Para esse setor o Estado, não possui políticas efetivas e constantes, o que gera dificuldades em sanar os reais problemas em relação à educação e ao trabalho. Para Lima e Minayo (2003), pensar em políticas educacionais que buscam a formação de “jovens em situação de risco e vulnerabilidade social” é reduzir o contexto real, sem uma análise efetiva da realidade de um país.

No Brasil, a premissa de formação do “cidadão produtivo”2que começa a ser propagada em vários países desenvolvidos, também acontece. Na década de 1990, por meio da ação de seus novos dirigentes, inicia-se a Reforma do Estado. Referente à educação profissional, a responsabilidade pela formação e qualificação para o trabalho é atribuída aos próprios trabalhadores, à sociedade civil e aos sistemas privados, que são protagonistas do neoliberalismo, responsabilidade exposta nos textos que embasam a educação profissional no período. Segundo Lima Filho (2002), os dois grandes projetos de incentivo à formação profissional são criados: o Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (PLANFOR), em 1995, que pretendia através de recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) e da parceria com todos os segmentos da sociedade, capacitar e qualificar, por meio de um esforço nacional, o maior número de trabalhadores possíveis e o Programa de Educação de Expansão

1

As organizações multilaterais ou organismos internacionais serão detalhadamente conceituados no II Capítulo deste estudo.

2

O PLANFOR instala no Brasil o termo cidadão produtivo, “a ênfase na cidadania recai sobre o cidadão produtivo, sujeito de exigências do mercado, onde o termo produtivo refere-se ao trabalhador mais capaz de gerar mais-valia [...] significa submeter-se às exigências do capital que vão no sentido da subordinação e não da participação para o desenvolvimento de todas as potencialidades (FRIGOTTO e CIAVATTA, 2003, p.53).

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Profissional (PROEP), em 1997, que propunha a transformação e reforma das unidades existentes, aliando a formação profissional às parcerias privadas, com cursos de menor duração.

Os programas de aprendizagem, em suas configurações atuais, são originários das primeiras transformações nas políticas públicas para a formação da juventude brasileira. Em19 de dezembro de 2000 é publicada a Lei de Aprendizagem n◦10.097 (Lei do Aprendiz) que “[...] nasceu para reavivar os princípios e regras normatizadas no Decreto – Lei n◦ 4.4813 e do Decreto-Lei n◦ 8.6224, homologados nos anos 40, aperfeiçoando-os” (MÁXIMO, 2012, p.84). Com essa Lei, alguns dispositivos da CLT foram alterados para a adoção de medidas protetoras aos menores em condição de aprendizes. A Lei de Aprendizagem respalda os programas de formação técnico-profissional que são ministrados atualmente no Brasil. Por Programa de Aprendizagem entende-se que:

É um programa técnico-profissional que prevê a execução das atividades teóricas e práticas, sob a orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional-metódica, com especificação do público-alvo, dos conteúdos programáticos a serem ministrados, período de duração, carga horária teórica e prática, mecanismos de acompanhamento, avaliação e certificação do aprendizado, observando os parâmetros estabelecidos na Portaria MTE nº 615, de 13 de dezembro de 2007(BRASIL, 2007, p. 13).

Os programas podem ser executados pelo Sistema Nacional de Aprendizagem, Escolas Técnicas ou organizações sem fins lucrativos. As entidades formadoras do Sistema Nacional de Aprendizagem ou Sistema S são compostas atualmente por dez (10) segmentos: SENAI, SENAC, SENAR, SENAT, SESC, SESI, SEBRAE, SEST, SESCOOP, IEL5. A Lei

3

Criado em 16 de julho de 1942, esse decreto dispunha sobre as atribuições, direitos e deveres dos industriários e aprendizes, matriculando esses jovens nos cursos do SENAI. Além da idade mínima, era exigido para seleção dos aprendizes: aptidão física e mental, não sofrerem de moléstia contagiosa e serem vacinados contra a varíola. Disponível em:

˂http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.action?numero=4481&tipo_norma=DEL&data=19420716&l ink=s>. Acesso em: 06 de nov. de 2012.

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Esse decreto foi publicado em 10 de janeiro de 1946, direcionado aos comerciários e empregadores, orientando sobre os direitos e deveres em relação à contratação de aprendizes. Todo estabelecimento comercial de qualquer natureza, que contasse com mais de nove funcionários, deveria contratar até 10% de jovens entre 14 e 18 anos de idade para seu quadro funcional, matriculando-os obrigatoriamente no SENAC, a fim de realizarem em paralelo às suas atividades laborais os cursos de aprendizes. No texto, é detalhado o perfil desses jovens. “Art. 2º Terão preferência, na ordem seguinte e em igualdade de condições, para admissão aos lugares a praticantes em estabelecimentos comerciais, os estudantes de curso comercial de formação, os alunos que tenham iniciado cursos do "SENAC", os filhos, inclusive órfãos ou tutelados, e os irmãos dos seus empregados”. Disponível em: ˂ http://www1.sp.senac.br/hotsites/arquivos_materias/DEL_008622_46.pdf>. Acesso em: 01 de jan. de 2012.

5

O Sistema S é formado por organizações dos diversos setores produtivos, para oferta de qualificação profissional por meio de cursos para a indústria e o comércio. São elas: SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) a quem cabe a educação profissional e aprendizagem industrial, além da prestação de serviços de assistência técnica e tecnológica às empresas industriais; SESI(Serviço Social da Indústria) que promove a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e de seus dependentes por meio de ações em educação,

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de Aprendizagem nº. 10.097/2000 prevê que tais entidades devem seguir as diretrizes curriculares estabelecidas pela portaria nº 615, de dezembro de 20076, contemplando a execução teórico-prática na profissionalização dos jovens, atendendo às especificações de cada grupo e ainda uma formação para o desenvolvimento social do aprendiz.

Nessa portaria, também são estabelecidas as diretrizes dos programas que, além dos conteúdos técnicos sugeridos, devem contemplar a formação social, humana e cultural de seus alunos. Sugere-se que atuem com temáticas diversas como: prevenção de drogas lícitas e ilícitas, direitos humanos e conscientização ambiental. A intenção desses debates é formar trabalhadores técnicos articulados, praticantes do exercício da cidadania. A maioria dos jovens matriculados é proveniente de classes menos favorecidas, necessitando aliar o trabalho à educação básica, como meio de subsistência. Segundo o Ministério do Trabalho (MTE) 2009, eles visam a contribuir com a formação profissional e pessoal dos jovens brasileiros, ofertando cursos que serão definidos pelas entidades executoras, criados pelas necessidades específicas das empresas de cada região do país.

A Lei de Aprendizagem determina que todas as empresas de médio e grande porte tenham em seu quadro de funcionários de 5% a 15% de jovens aprendizes, em funções que necessitem de formação profissional de nível básico. A faixa etária dos aprendizes está entre 14 e 24 anos, estes devem ter suas matrículas efetivadas em cursos de aprendizagem profissional, paralelamente às atividades práticas nos locais de trabalho. Para os aprendizes com necessidades especiais não existe limite de idade restringindo sua participação (BRASIL, 2009). Teoricamente, o discurso adotado no Manual da Aprendizagem é a juventude e sua inserção no mercado de trabalho, sendo considerados os principais agentes para a transformação social e econômica.

Na busca de referenciais teóricos sobre essa Lei, encontramos pesquisas que começam a trazer algumas respostas para minhas indagações. Em uma delas, Lima e Minayo (2003), considera-se que as práticas educativas dos programas de aprendizagem evidenciam

saúde e lazer; IEL(Instituto Euvaldo Lodi), responsável pela capacitação empresarial e pelo apoio à pesquisa e à inovação tecnológica, visando ao desenvolvimento da indústria; SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), que oferta educação profissional para trabalhadores do setor de comércio e serviços; SESC(Serviço Social do Comércio), atuante na promoção da qualidade de vida dos trabalhadores do setor de comércio e serviços;SENAR(Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), responsável pela educação profissional para trabalhadores rurais;SENAT(Serviço Nacional de Aprendizagem em Transportes), atuante na educação profissional para trabalhadores do setor de transportes;SEST(Serviço Social de Transportes) que promove a qualidade de vida dos trabalhadores do setor dos transportes; e SESCOOP(Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), responsável pelo aprimoramento e desenvolvimento das cooperativas e capacitação profissional dos cooperados para exercerem funções técnicas e administrativas (Portal Brasil, 2010).

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As Diretrizes Curriculares dos Programas de Aprendizagem na íntegra estão disponíveis em: ˂http://www.mte.gov.br/politicas_juventude/aprendizagem_pub_manual_aprendiz_2009.pdf˃. Acesso em 20 de Dez. 2012.

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as transformações e a divisão nos subgrupos dos trabalhadores após 1970. Grupos com alguma qualificação e contratos integrais e outro grupo de trabalhadores em condições adversas de total instabilidade.

Nas pesquisas de Kuenzer (2006), a criação de novas propostas de inclusão profissional não significativas, como os programas de aprendizagem, são uma decadência evidente de formação. Para a autora, o mercado de trabalho tem um processo de exclusão includente, ou seja, “[...] no mercado identificam-se várias estratégias de exclusão do mercado formal, onde o trabalhador tinha direitos assegurados e melhores condições de trabalho, acompanhadas de estratégias de inclusão no mundo do trabalho através de formas precárias” (KUENZER, 2002, p.14).

Noma (2010) faz alguns apontamentos por meio dos quais afirma que muitas diretrizes e políticas dos programas educacionais são fundamentadas pelas ideologias das Organizações Multilaterais. Neste estudo, nos atemos às produções de alguns documentos dessas organizações, que embasaram diretrizes para educação profissional na década de 1990. Para ela através da investigação do conteúdo produzido pelas OMs, pode-se apreender as influências nas decisões das políticas educacionais no Brasil. Todas as fontes documentais são expressões de projetos para ordem do capital, dentro da complexa relação entre a ideologia dominante e a sociedade geral. Gostaríamos de deixar claro, porém, que o objetivo desta pesquisa não é apenas entender as ações das OMs nas políticas de educação profissional, mas, sim, a interferência do Estado brasileiro e seus vários atores sociais, principalmente o empresariado7, na Lei de Aprendizagem e no discurso de suas diretrizes.

Para compreensão do nosso objeto de estudo, não podemos deixar de analisar o contexto histórico e seu conjunto de determinações, além de realizar um levantamento de todos os documentos normativos e regulamentadores que o respaldam. Devemos também dar enfoque ao entendimento da contextualização social, histórica e econômica em que esta Lei foi produzida, nas mediações do particular ao universal de sua criação. Para tanto, este estudo pauta-se no método materialista histórico-dialético, realizando uma análise das múltiplas determinações sociais, buscando “estabelecer relações entre o todo e as partes, entre o abstrato e o concreto e entre o lógico e o histórico” (DUARTE, 2003, p. 54). Esse método propõe a interpretação da realidade, fundamental nas ciências humanas, para não desconfigurar as

7

Segundo o dicionário Silveira Bueno (2012), empresariado é o conjunto de empresários; ou a classe empresarial. O empresariado será discutido detalhadamente no Capítulo IV.

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singularidades das propostas do pesquisador da relação com o meio em que está inserida, da sua totalidade.

O desenvolvimento das análises, neste estudo, busca perceber a realidade histórica considerando que ela é ressignificada pelo homem, pelo real e suas bases consolidadas. A composição histórica compõe as categorias que auxiliam o entendimento da sociedade em que o homem está inserido. O método dialético pode ser explicitado em dois momentos “[...] o caminho de ida ao concreto real e empírico, ao abstrato e o caminho de volta do abstrato ao concreto reconstruído pelo pensamento concreto pensado” (CORAZZA, 2003, p.43).

O procedimento metodológico adotado foi a pesquisa bibliográfica e documental. Desse modo, partimos da coleta de documentos normativos como: leis, resoluções, decretos e documentos orientadores. As fontes primárias consideradas em primeiro momento são algumas resoluções da UNESCO, CEPAL e BM, dentre os quais foram selecionados quatro documentos de orientações específicas à educação profissional na década de 1990, detalhados abaixo na exposição dos capítulos. Em um segundo momento, foram analisados todos os documentos regulamentadores da Lei de Aprendizagem, disponíveis no Manual de Aprendizagem, publicado pelo MTE (2009). A maioria das fontes pesquisadas contém orientações que vão ao encontro do modelo neoliberal. Chilante, Navarro e Noma (2010) acreditam que a maioria dos documentos internacionais que pautam a educação brasileira tem forças legitimadas dos grupos centralizadores do capitalismo. Por isso a categoria reprodução é fundante no entendimento da compreensão da “tendência à autoconservação de toda a sociedade pela reprodução das condições que garantem a manutenção de suas relações básicas” (CHILANTE; NAVARRO e NOMA, 2010, p. 68).

No terceiro capítulo, que faz referências específicas à Lei de Aprendizagem, foi utilizado o diário de campo da pesquisadora para ilustração de algumas práticas e depoimentos, durante sua experiência profissional com jovens aprendizes. O diário de campo é um instrumento que possibilita “o exercício acadêmico na busca da identidade profissional” (LEWGOY e ARRUDA, 2004, p. 123-124), buscando aproximações críticas entre a teoria e as ações cotidianas, podendo dar suporte para análise de pesquisas. Triviños (1987) considera o diário de campo como um instrumento para os registros da pesquisa, contendo informações sobre o cenário do objeto de estudo, onde estão envolvidos os sujeitos. Não se trata de entrevistas formais, mas podem trazer com exatidão alguns fenômenos sociais para uma análise analítico-reflexiva da pesquisa. Esta pesquisa de maneira imparcial nos depoimentos colhidos.

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A relevância científica e social deste estudo está na divulgação de novas informações obtidas à comunidade acadêmica sobre a Lei de Aprendizagem e suas diretrizes curriculares como política educacional. Ao se pesquisar a Lei de Aprendizagem, a partir da análise de seus atores sociais externos como as OMs, contracenando com os atores nacionais brasileiros, podemos levantar debates sobre seu funcionamento e as contradições expressas nesses programas, refletindo sobre as propostas em educação profissional no contexto atual. Para Rosemberg (2000), o tornar público de tais reflexões pode ser visto como um ato político.

Este estudo está organizado da seguinte maneira: Introdução, Capítulo I , analisamos as categorias juventude, trabalho e educação, trazendo pesquisas estatísticas sobre a realidade brasileira. No Capítulo II, fundamentamos conceitualmente as organizações multilaterais, seus objetivos e diretrizes referentes à educação profissional. Enfocamos as atribuições do Banco Mundial, tomando como base o documento Reformas Econômicas e Trabalhistas na América Latina e Caribe (Produzido em paralelo ao Relatório sobre Desenvolvimento Mundial: o Trabalhador e o Processo de Integração Mundial - 1995). Posteriormente, tecemos discussões sobre a UNESCO e a publicação do documento O Ensino e a formação técnico profissional: uma visão para o século XXI, com recomendações sobre ensino técnico e profissional (1999). Finalizamos com as orientações do CEPAL e a análise das publicações Educação e Conhecimento: eixo da transformação produtiva com equidade (1993) e Equidade e transformação produtiva: um enfoque integrado (1996). No contexto nacional, foram discutidos, o Decreto 2.208/97, o PROEP e o PLANFOR, pois esses documentos precedem as normativas dos anos anteriores à criação da Lei de Aprendizagem de 2000, o que amplia as possibilidades de compreensão dos documentos posteriores. No III Capítulo,voltamos nosso estudo especificamente ao nosso objeto de estudo a Lei de Aprendizagem e suas diretrizes curriculares, verificando as possíveis influências do Estado, empresários das OMs, através da composição dos cursos e pela análise do discurso dos documentos. Esses documentos encontram-se organizados no Manual da Aprendizagem8, disponível pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Por fim, tecemos nossas considerações finais.

A opção por um estudo teórico justifica-se pela possibilidade de acesso à publicação dos documentos, leis e manuais disponíveis para fundamentarmos nossa pesquisa. A literatura também respalda a possibilidade de uma análise sistematizada para fundamentação teórica e sustentação deste estudo.

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Disponível em : ˂http// www.mte.gov.br/.../aprendizagem_pub_manual_aprendiz_2009.pdf˃. Acesso em: 01 de Nov. de 2012.

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CAPÍTULO I

JUVENTUDE, TRABALHO E EDUCAÇÃO.

Neste capítulo, discutimos três categorias fundantes desta pesquisa: juventude, trabalho e educação, priorizando, em um primeiro momento, a definição de juventude e a contextualização da situação dos jovens brasileiros no mercado de trabalho. Na sequência, apresentamos algumas discussões sobre trabalho e educação, conceituações relevantes para compreensão e análise do contexto social, que servirão de embasamento teórico para debates posteriores sobre a Lei da Aprendizagem.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E DISCUSSÕES SOBRE O CONCEITO DE JUVENTUDE Esta pesquisa tendo como objeto de estudo a Lei de Aprendizagem, que busca a inserção de jovens entre 14 e 24 anos no mercado de trabalho, não poderia deixar de traçar o perfil do jovem brasileiro. Para isso, se faz necessário o entendimento de alguns questionamentos em voga sobre o assunto, o primeiro seria o conceito de juventude.

Waiselfisz (2007) discute a juventude como uma categoria analítica, que define diferentes indivíduos como um único ser, determinados pela faixa etária, a qual varia de acordo com os diversos países e culturas em que esses jovens estão inseridos. O mesmo autor traz também uma conceituação biológica, pautada nas mudanças fisiológicas e no desenvolvimento das características sexuais secundárias9, referentes às primeiras manifestações apresentadas no início da adolescência. Nessa transição para a vida adulta, também entram os conflitos como o término dos estudos, a escolha profissional, a saída da família de origem para constituição de novos núcleos familiares e a inserção no mercado de trabalho. Alguns sociólogos da juventude como Rosenmayr (1968) também concordam com a definição do termo juventude como período transitório, cujo início está na puberdade e seu fim variado segundo cada cultura e seus critérios adotados.

A partir de um recorte de classe social “[...] os sujeitos jovens (ou as juventudes) teimam em ser uma unidade dentro do diverso mundo econômico, cultural, étnico, de gênero, de religião, etc.”(FRIGOTTO, 2004, p.01). Na realidade brasileira, a maioria dos jovens é filho de trabalhadores assalariados, que produzem suas histórias de forma precária, espalhados

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As características sexuais secundárias são as modificações que aparecem no organismo e no corpo ao longo do desenvolvimento humano.

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por todas as partes do país, seja no campo ou na cidade, dotados de uma constituição cultural e étnica participativa.

Parte dessa população jovem está distribuída em vários segmentos de atuação, como os assalariados do campo, tais grupos estão concentrados também nos bairros populares, favelas e acampamentos. São jovens que “[...] tendem a sofrer um processo de adultização precoce” (FRIGOTTO, 2004. p.01), com a entrada no mercado de trabalho, na maioria das vezes, de maneira informal.

Outra particularidade significativa no contexto analítico da juventude são as condições violentas no contexto de vida dessas pessoas. Essa parcela da população torna-se vulnerável à inserção no tráfico, nas gangs e na prostituição, devido à exposição extrema à violência sexual e humana a que estão submetidos. A UNESCO (2013) coloca o Brasil na terceira posição de país mais violento na América Latina.

Diante dessa realidade, a tríade juventude, trabalho e educação no Brasil é pauta relevante nas discussões sobre políticas públicas. O primeiro ponto, nesses debates, refere à destituição dos direitos da infância e juventude nas classes trabalhadoras de baixa renda. O problema, constituído socialmente na história brasileira, tem sua origem na dimensão política econômica e cultural, a qual agrava as condições da juventude e “ [...] está ligada à recusa criminosa da elite brasileira em efetivar as reformas (agrária, tributária e social) e em romper com a relação de partilha subserviente com o capital especulativo” (FRIGOTTO, 2004, p. 02). Tece críticas ao atual sistema de governo que, mesmo constituído por ideologias de transformações estruturais, não efetivou ações concretas e eficazes em favor da juventude, por isso as políticas focais e assistencialistas se tornam formas superficiais que imobilizam a transformação, mas que não impedem a implantação de “[...] políticas redistributivas e de caráter emancipatório de grupos específicos mais violentados e, ao mesmo tempo, que busquem atacar os problemas estruturais” (FRIGOTTO, 2004, p.03).

A modificação das políticas direcionadas à juventude só acontecerá concretamente, quando alguns mitos impostos pela configuração neoliberal forem superados. O primeiro mito seria a correlação entre do trabalho e escolaridade precária, com suas origens nas determinações de classes, tornando o termo “empregabilidade”10 falso, pois a maioria dos jovens em situação vulnerável advém de famílias trabalhadoras, de vida precária. Para isso denuncia a ineficácia da escola como garantia de emprego e evidencia as ações educativas para o trabalho como máscaras para encobrir a estrutura desigual.

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Esse termo refere-se a novas competências e habilidades cada vez mais exigidas dos trabalhadores, para entrarem e se manterem no mercado profissional, através da busca pelo constante aperfeiçoamento.

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Uma política emancipatória, seria viabilizada com a extinção do trabalho infantil e a regulamentação do trabalho jovem, considerando idades adequadas para inserção no mercado formal e informal. Essas modificações estruturais levariam a um compromisso social, econômico e ético com a juventude brasileira. Outra ação para se efetivar políticas mais eficazes seria o direcionamento de políticas públicas que contemplem as particularidades e necessidades dos diversos grupos de jovens que compõem o estado brasileiro, garantindo a qualidade da educação básica capaz de proporcionar a esses jovens a aquisição de conhecimentos amplos, permitindo-lhe a compreensão da natureza, das habilidades humanas, do contexto político e da cultura:

O que se deve ter presente é que milhares de jovens, do campo e da cidade, não podem continuar pagando o preço da mutilação dos seus direitos. Vai-se estabelecendo uma realidade em que a quantidade dos que se situam na linha dos que já não têm mais nada a perder pode se transformar num “direito” de se vingarem, por diferentes formas de violência e delitos, dos seus algozes. O dramático é que estes “algozes” têm como “blindar sua segurança”, ou erguer guetos protegidos. Quem paga são os pobres ou a remediada classe média. Mas isso também tem limites” (FRIGOTTO, 2004, p. 5)

As ações para uma política emancipatória serão obtidas, através da extinção do trabalho infantil e a regulamentação do trabalho jovem em idades adequadas no mercado formal e informal. Apenas com essas modificações estruturais, poderemos atingir um compromisso social, econômico e ético com a juventude brasileira.

A segunda consideração refere-se à discussão sobre diferentes faixas etárias, determinadas por atores diversos. É passível de discussões a faixa etária que compreende a juventude na visão da biologia e da psicologia. Por isto traremos apenas a definição da faixa etária pelas OMs. Waiselfisz (2007) rememora que, em 1985,a ONU define a faixa etária de classificação dos jovens, para a realização do primeiro Ano Internacional da Juventude11, ficando estabelecido que seria composta pela população entre 15 e 24 anos . No Brasil, segundo Barbosa (2007), as estatísticas que embasam pesquisas sobre a juventude adotam as orientações dessa Organização Multilateral, ou seja, da ONU, mas, legalmente, o único documento que traça um limite etário de 18 anos para a juventude é o Estatuto da Criança e

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Em 1985, é oficializado o Ano Internacional da Juventude pelas Nações Unidas, com um encontro internacional de jovens no Vaticano. A partir desse momento, foi lançada a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que é realizada a cada três anos, reunindo jovens do mundo todo. Disponível em http://www.rccjovem.com.br/sobre-a-missao/como-surgiu-a-jmj, acesso em 04 de out. de 2013.

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do Adolescente (ECA). Com a publicação do ECA em 1990, crianças e adolescentes foram considerados indivíduos em pleno desenvolvimento, com seus direitos regulamentados. A imagem do jovem brasileiro, no entanto, está associada às questões sociais como: violência, criminalidade, drogas e desemprego. Segundo Máximo (2012), a juventude brasileira só foi reconhecida pela Constituição da República Federativa em 2010, pela ementa constitucional n◦ 65, de 13 de julho, cujo capítulo VII “Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso”, estabelecendo através do art. 227 prioridade aos diretos da criança, dos adolescentes e dos jovens brasileiros.

A mesma autora destaca que, para organizações multilaterais como a UNESCO, mesmo com o estabelecimento de uma faixa etária específica, os Estados-Membros não tiveram prejuízos nas suas definições pré-concebidas. Mas, com as modificações no século XXI, a ONU questiona sobre o sentido do termo juventude, pois percebe que a cultura de cada país e as flutuações determinadas pelas mudanças políticas e econômicas modificam o termo constantemente, justificando assim o uso do termo “juventudes”. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a discussão sobre a juventude é uma tarefa muito complexa, mesmo com estabelecimento de faixa etária, pois esse corte contempla a faixa de transcendência da adolescência para a idade adulta e as políticas destinadas a tal população não podem ser vistas num contexto isolado que compreenda apenas uma passagem.

Na América Latina, as ações direcionadas à juventude pautam-se nas condições biológicas, psíquicas e demográficas. Outro enfoque, presente nos discursos desses países é para a compreensão das rebeldias, associadas às condições psicossociais, que são essenciais para o entendimento do conceito. Para Abramo (2005), a juventude, pensada numa perspectiva transitória de ajustes para inserção na vida adulta, concentra muito de seus olhares nas falhas presentes nesse período de vida, como uma fase de problemas e riscos sociais. Para a Convenção Ibero-Americana dos Direitos dos Jovens (2005)12, os termos jovem, jovens e juventude podem se referir às pessoas que residem nos países Ibero-Americanos, que considerem a faixa-etária já citada, também considera a juventude como um setor social dotado de características singulares.

Vale e Salles (2007) analisam que, historicamente, o significado atribuído à juventude adquire modificações conceituais, mas não está associado aos critérios biológicos e

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“A OIJ é uma organização Internacional de natureza multigovernamental que reúne os ministérios da juventude dos países da Comunidade Ibero-Americana e que tem como objetivo principal a inclusão e integração dos jovens através de políticas de juventude”(OIJ, 2013, s.p) Disponível em http://www.oij.org/pt_PT/oij/o-que-e, acesso em: 03 de out.2013.

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sim a uma construção histórica. Esse conceito sempre esteve atrelado às representações das classes sociais favorecidas, como os filhos dos nobres e burgueses, que detinham condições diferenciadas de acesso à educação e ao trabalho. As primeiras publicações destinadas à educação dos jovens referem-se à juventude aristocrática, tendo como foco a visibilidade social. O novo conceito nasce no século XIX, com a preparação dos jovens burgueses para adentrarem na vida adulta, por meio de uma formação pela escola, ideal pelo qual também se aponta a educação como a solução dos problemas de jovens em situação de risco ou perigo.

Os mesmos autores trazem duas fortes representações para definir a juventude moderna: os jovens como principal força para as mudanças sociais e contraditoriamente os jovens como problema social. Tem-se, a partir disso, a representação de uma juventude vulnerável, vitimada pela modernização que nasce no século XIX. Isso porque, com a crise da classe assalariada em meados de 1970 e a falta de subsídios sociais para as famílias, aconteceram algumas modificações na condição juvenil para entrar na vida adulta, ou seja, mesmo sem maturidade ou idade compatível, parte dessa população assumiu a responsabilidade da manutenção da família junto aos pais; outra parte, por uma combinação marcada de imprevisibilidades, está inserida nos altos índices de desempregados e retarda sua saída de seus núcleos familiares, pois têm dificuldades de obter a independência financeira. O conceito de juventude como uma parcela da população com objetivos e características próprias é relativamente novo, consolidando-se nos novos ordenamentos produtivos e sociais do século XIX e XX. Com a universalização da escola, a categoria “jovem” agrega uma atenção especial, por se tratar de uma fase de preparação para a vida, tendo a escola como fonte de desenvolvimento dessa população.

Segundo Alves (2008), a correlação entre juventude e problemas sociais é recorrente nos discursos políticos e expressões populares. Mesmo com um número expressivo de jovens ativos, inseridos nas lutas sociais, a imagem do jovem problemático é bastante forte na sociedade brasileira:

A juventude moderna quer concebida como fase da vida adulta, quer como experiência juvenil, é um produto da modernidade. Da modernidade que trouxe consigo a escola de massas e a conseqüente escolaridade obrigatória, a institucionalização de um tempo específico para aprender, e a criação de um espaço propício à participação em um grupo de pares,ao desenvolvimento de sociabilidade e a identificação com as culturas juvenis, da modernidade que assistiu à crescente intervenção do Estado-Nação na regulação da sociedade e a construção da juventude como categoria social, alvo de medidas públicas específicas da modernidade que provocou profundas mudanças sociais e fez nascer um conjunto de problemas que, ao ser associado a uma população jovem, contribui para que esta tenha começado a ser objeto de consciência social ( ALVES, 2008, p. 24).

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A representação social do jovem como cidadão deve estar associada à maneira como eles tornam-se homens completos, agindo e sendo instrumentadores úteis de suas classes. Para isso, “a juventude precisa garantir e solidificar a ordem social, conhecer cedo os limites corretos de sua opinião [...]” (FLITNER, 1968, p.41).

1.2 NOTAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO JUVENIL BRASILEIRO E MERCADO DE TRABALHO.

No Brasil, a população jovem tem presença marcante no mercado de trabalho, mesmo antes de obter a idade legal para desempenho de atividade remunerada. O MTE (2011) ressalta que a idade mínima de 16 anos foi estipulada na legislação nacional, pela Convenção 13813, sobre a Idade Mínima para Admissão a Emprego - 1973 (nº 138) da Organização Internacional do Trabalho (OIT), adotada no Brasil em 28 de junho de 2001, com exceção da Lei da Aprendizagem (Lei 10.097/2000) a partir dos 14anos.

Segundo o MTE (2011), o Brasil agrega uma juventude trabalhadora, que tenta aliar trabalho e estudo. Mesmo com o aumento da média de anos escolares, o trabalho ainda é precoce para muitos jovens, sendo claramente marcado pelas desigualdades sociais. Os jovens das classes mais elevadas ingressam no mercado de trabalho após os 18 anos de idade, ou até mesmo posteriormente ao término do curso superior, enquanto os jovens das classes sociais mais baixas entram no mercado de trabalho aos 14 anos, amparados pela Lei de Aprendizagem, ou até mesmo antes de forma ilegal, sem ao menos concluírem o Ensino Fundamental. O desemprego juvenil ainda atinge patamares mais altos do que o desemprego dos adultos, mostrando que o crescimento econômico de um país não garante o emprego dos jovens. Outra questão a ser pontuada é a informalidade do trabalho dos jovens comparada a dos adultos, principalmente aqueles que provêm de classes mais baixas.

A pesquisa mais recente sobre os dados do desemprego juvenil foi publicada, no início de 2013, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgando através do relatório Tendências Mundiais de Emprego 2013, segundo o qual atualmente 74 milhões de jovens entre 15 e 24 anos ou 37,5% dessa população não possui emprego formal. Para essa organização, uma das preocupações com o desemprego entre os jovens, é o tempo que eles

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Aprovada na 58º reunião da Conferência Internacional do Trabalho em 973 na cidade de Genebra, entrando em vigor em 1976, estipula que todo país-membro dessa convenção deve abolir o trabalho infantil, preocupando-se também com o desenvolvimento saudável de sua população jovem. Ficando também instituída a proibição do trabalho de adolescentes menores de quinze anos. Disponível em: ˂http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10231.htm>. Acesso em: 05 de out. de 2013.

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permanecem afastados do mercado de trabalho. Na Europa, chegam há ficar seis meses ou mais nessas condições, desmotivando-os para o alcance de suas aspirações. Segundo esse relatório, isso acarreta a dificuldade de acumulação de experiência laboral, contribuindo para erosão da qualificação profissional e social. Tais fatores um início de carreira, marcado pelas inconstâncias, pode prejudicar as perspectivas juvenis em longo prazo. No Brasil, os índices atualmente são menores do que na Europa, mas, de certa forma, ainda altos. Nos últimos dez anos, houve uma redução no número de vagas informais de 22,6% em 2002 para 13,7% em 2012.

Em 2011, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) elencou as dez ocupações mais frequentes dos jovens que aliam o trabalho aos estudos, concluindo que: 15,9% são escriturários; 14,8% são trabalhadores de serviços; 12,9% são vendedores e servidores de comércio; 10,7% estão no agronegócio; 6,3% trabalham em atendimento ao público; 3,7% na construção civil; 2,8% são técnicos físicos, químicos e afins; 2,7% são profissionais leigos de nível médio; 2,6% atuam como técnicos de nível médio administrativo.

Em 2007, foi publicado o último Relatório de Desenvolvimento Juvenil no Brasil, sobre a organização de Waiselfisz (2007), o qual buscou levantar alguns indicadores sobre o perfil da juventude brasileira entre 15 e 24 anos. Esse relatório foi construído de acordo com os critérios propostos pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a fim de embasar as reflexões sobre qualidade de vida, educação, trabalho, renda e saúde dessa parcela da população.

Um dos eixos norteadores do IDH é que um país obterá os índices necessários de desenvolvimento humano, se o atrelar o rendimento econômico ao acesso à saúde, à educação e à infraestrutura de sua população. Pode-se observar, entretanto, que nos países da América Latina, com projetos voltados à seguridade social ainda demonstram inabilidade na redistribuição de renda e trabalho, principalmente, vistos na população jovem vulnerável as questões financeiras. Neste relatório, Waiselfisz (2007) traz debates sobre a relação entre educação e trabalho, desemprego e qualificação profissional dos jovens, são atualmente pautas mundiais de discussão, principalmente as ações voltadas às famílias mais pobres. Mesmo sendo relevante, tece críticas a esse sistema, pois os jovens dos setores mais carentes não têm acesso a uma formação prévia sobre as novas tecnologias como línguas e informática, outro problema apontado por ela é que o enfoque internacional dado ao trabalho jovem não considera que o ideal seria de que essa população se dedicasse apenas aos estudos.

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Ainda em 2007, o Ministério da Justiça, segundo Grechi (2013), levantou alguns dados sobre a população carcerária, verificando que 60% dela constitui-se de jovens entre 18 e 29 anos. Esses índices refletem diretamente nas discussões sobre políticas públicas para juventude no Brasil, que ainda são vistas como grupo extremamente importante no desenvolvimento do país, mesmo estando descoberta de políticas efetivas. Segundo a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), criada apenas em 2005, na voz de Severine Macedo, “a juventude foi um dos últimos segmentos a ganhar reconhecimento das políticas públicas no Brasil”, o Estado garante ações para educação e geração de empregos para essa faixa etária da população, mas que ainda não se efetivam como deveriam. A SNJ, atualmente, conta com cerca de mil municípios brasileiros, com projetos específicos de ações a serem desenvolvidos com a população jovem, mas isso acarreta uma sobreposição de ações. Seu orçamento é de 30 milhões de reais para ações juvenis, dos quais, porém, são repassados apenas 150 mil reais para cada Estado. Todas as ações do Estado acabam não acontecendo de forma integrada. Mesmo com muitas ações da educação direcionadas à juventude, ainda são enfrentados problemas distintos como pobreza, violência e gravidez precoce. Segundo a UNICEF, a erradicação da pobreza, distribuição de renda, acesso a lazer e cultura, ainda precisam ser concretizados para que as políticas públicas se mostrem efetivas.

Outra pesquisa interessante, publicada no final de 2003, foi o Perfil da Juventude Brasileira idealizada pelo Projeto Juventude/Instituto Cidadania em parceria com o Instituto Hospitalidade e o SEBRAE, com dados embasados pelo Censo IBGE 2000. O objetivo dessa pesquisa era fornecer subsídios aos projetos direcionados à população jovem. Na publicação final, foram apresentados os principais interesses e preocupações dos jovens brasileiros. No período abrangido pela pesquisa (2003), a população jovem no Brasil era de 34,1 milhões ou 20,1% da população. Na consulta realizada, perguntou-se sob a perspectiva dos jovens sobre as piores coisas de ser jovem. Entre as repostas, tem-se: não haveria nada de ruim 26%, conviver com riscos 23 % e falta de trabalho e renda 20%. Em relação aos assuntos que mais interessariam os jovens, pontuaram, em primeiro lugar, a educação com 38%, seguindo de emprego/profissão com 37%. Já no item problemas que mais preocupam os jovens foram apontados segurança/violência e emprego/profissão.

Nessa mesma pesquisa, foram investigados os principais conceitos associados ao trabalho, segundo a perspectiva dos jovens brasileiros. Para os jovens entrevistados, o trabalho está associado ao item necessidade que aparece com 64% das respostas, mostrando que, para essa população, o trabalho ainda é uma questão de sobrevivência. É interessante

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ressaltar, também, que 71% dos entrevistados tinham apenas o primário e 69% possuíam renda familiar de até dois salários mínimos.

Na segunda questão, o conceito de trabalho aparece relacionado à Independência com 55%, sendo verificado que 48% dos jovens que responderam esse item possuíam renda familiar de um salário mínimo. Para esta parte da população, a independência ainda não leva a autonomia total, mas está relacionada a poder adquirir coisas materiais e a possibilidade sair para lazer com os colegas, pois geralmente a renda familiar, não permite que usufruam de nada além de sua sobrevivência básica. Fica evidente, na pesquisa, a diferença do significado do trabalho para os jovens, relacionada à classe social a que pertencem. Dentre os jovens que responderam ser o Crescimento um conceito mais associado ao trabalho, 48% deles tinham renda familiar de até 10 salários mínimos e dos que responderam auto realização, 52% tinham ou estavam cursando Ensino Superior e renda familiar acima de 10 salários mínimos.

Desse modo, observa-se que o trabalho ainda é uma categoria central para os jovens. Mesmo com as mudanças nas formas de trabalho e inovações tecnológicas, “sob o capitalismo não se contata o fim do trabalho, mas uma mudança qualitativa dele” (ANTUNES, 2000, p.44).

1.3 A CATEGORIA TRABALHO NAS MATRIZES DO CAPITALISMO E O NOVO PERFIL DO TRABALHADOR

Até meados do século XX, os meios de produção dependiam das atividades braçais e manuais executadas pelo trabalho do homem, mas com o desenvolvimento tecnológico do capital, tais atividades foram incorporadas pela robótica, aumentando gradativamente o desemprego de muitos trabalhadores. Com efeito, a partir a revolução tecnológica, empresários substituem o trabalho vivo de muitos homens pelas máquinas, incoporando assim aos processos produtivos o trabalho morto.

Nessas condições, o aumento da produtividade do capital é evidente, mas traz como consequência a diminuição de postos de trabalho.A sociedade e seus atores como governos, partidos, entidades religiosas e sindicatos, lutam, nesse contexto, pela criação de novos empregos, pois “[...] o princípio do trabalho exerce o poder absoluto sobre o comportamento humano na vida cotidiana. Quem não consegue vender sua força de trabalho deve ser excluído e descartado da sociedade de consumo” (TERUYA, 2006, p. 20).

Os trabalhadores acabam desenvolvendo uma personalidade, que não se percebe fora do sistema capitalista. As consequências nas relações sociais e dos prejuízos na vida dos

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trabalhadores pela sua venda do trabalho não são notadas, pois o que interessa aos trabalhadores em um mercado competitivo é estarem atuando e galgarem postos de trabalho. Os países que não aderem à competição internacional acabam sendo massacrados pelo totalitarismo econômico que, segundo Hannah Arendt 14 (1976), citada por Teruya (2006), p.10), “[...] é uma adesão compulsória das massas aos regimes totalitários, nazista e do stalinismo soviético”, cujas ideologias são aderidas pelas pessoas devido ao poder de convencimento à repressão. Os trabalhadores atuam baseados na lei da concorrência e, desprovidos de uma ação com liberdade, pois caso não consigam se adptar a essa realidade, correm o risco de tornarem-se supérfluos. No que se refere à população jovem, podemos fazer um paralelo com as ideias do sociólogo Flitner (1968), para quem essa faixa etária não possui livre escolha, pois:

Esta sociedade já é encontrada como configuração pronta numa fase muito complexa de sua evolução. O jovem não a desejou, e é primeiramente tragado por esse – conjunto vital supra-individual, sendo que ainda demora até que esteja capacitado a colaborar individualmente, como membro produtivo e auxiliar, para sua sustentação (FLITNER, 1968, p.54).

Com a desproletarização do trabalho industrial fabril tradicional, houve um aumento significativo de trabalho assalariado no mundo do trabalho contemporâneo. Tais mundanças decorreram das novas conjunturas criadas, como o setor de serviços, a heterogenidade pela inserção das mulheres na indústria e as inovações tecnológicas que geraram a precarização do trabalho pelo aumento excessivo de empregos temporários, tercerizados e precários que marcam “[...] a sociedade dual no capitalismo avançado” (ANTUNES, 2000, p.49).

Nesse panorama, o desemprego estrutural possui índices altos e presentes no mundo todo, atingindo principalmente a juventude e a população mais velha, gerando também um aumento na subproletarização em massa em virtude dos trabalhos precários. Outra consequência dessa realidade nas classes trabalhadoras, pode ser observada, na contradição que a“[...] redução quantitativa do operariado industrial tradicional dá-se uma alteração qualitativa na forma de ser do trabalho, que de um lado impulsiona para uma maior desqualificação” (ANTUNES, 2000, p. 50).

Pautados nesses embates, podemos considerar duas expressões problemáticas dentro das discussões da categoria trabalho e suas transformações, aquela que “ [...] superestima as positividades dos fatos a que assistimos a partir da década de 70. De outro,

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há uma substimação do papel do trabalho para a reflexão das questões concernentes à educação e á alteridade” (HEROLD JR, 2007, p.64). Para tal reflexão, é necessário buscar a centralidade e o papel que a categoria trabalho possui na sociedade capitalista. Para o entedimento das contradições, o retorno à definição de dois conceitos marxistas, de trabalho concreto e abstrato são fudamentais para contextualizar o trabalho na sociedade atual:

Esse entendimento é necessário, para fundamentarmos as discussões limitantes da categoria trabalho, que desconsideram o sentido concreto do termo, por meio de análises generalistas que não observam as individualidades e diferenças culturais, adotando uma falsa visão de uma sociedade desatrelada da escravidão. O trabalho, contraditoriamente, gera riquezas e desenvolve as capacidades do homem, ao mesmo tempo em que instrumentaliza, diminuindo as possibilidades de construção social, acabando por gerar certo “[...] embrutecimento e exploração, justamente por estar atrelado a relações sociais de produção pautadas na sua exploração pelo capital” (HEROLD JR, 2007, p.65).

Os discursos sobre o fim do trabalho, não possuem princípios que fundamentem suas argumentações. Com os avanços da tecnologia, a necessidade do trabalho humano para operar e criar novos instrumentos é primordial:

Ou seja, a unidade entre a cabeça e mãos, a presença integral do homem no trabalho de que fala Marx no capital ao referir-se ao trabalho concreto, independentemente da quantidade e da qualidade de tecnologia, essa presença da omnilateridade humana acontece social e coletivamente, fazendo com que a integralidade humana seja construída e posta em prática de forma ampla (HEROLD JR, 2007, p. 66).

O discurso recorrente das reformulações produtivas, a partir da década de 70, é respaldado pelas novas formas de trabalho e da necessidade de um trabalhador com facilidade de adaptação às novas tecnologias. Este deve ser competitivo, buscando uma formação por toda vida, discurso já explanado no primeiro capítulo deste estudo, para assim conseguir adaptar-se constantemente às inovações tecnológicas. Nesse panorama, outras dimensões até então não sinalizadas, são colocadas em evidência, como características mais femininas que se contrapõem à força física. “Em tempos de produção flexível a sensibilidade, a intuição e a capacidade para diálogo tornariam-se altamente valorizadas” (HEROLD JR, 2007, p.63). Na “Sociedade do Conhecimento”, outras competências também são vista, sob uma nova configuração, a exigência de aquisição de conhecimentos para execução das atividades tecnológicas cada vez mais inumanas.

Esse discurso relativo a novas competências, adotado pelo capital, é respaldado no Brasil até mesmo no texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), destacando

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