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MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO PÚBLICA PARA O DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE - UFPE

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Academic year: 2021

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SANTOS, Boaventura de Sousa. A universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.

Anselmo Mendonça Júnior1

Boaventura de Sousa Santos é doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale. Professor catedrático jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É também Diretor do Centro de Estudos Sociais e do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra; Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa e membro do Núcleo Democracia, Cidadania e Direito (DECIDe). Co-coordenador científico dos programas de doutoramento: Direito, Justiça e Cidadania no Século XXI; Democracia no Século XXI; e Pós-Colonialismos e Cidadania Global. Tem trabalhos publicados sobre globalização,

sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos2.

A obra tem como propósito discutir os problemas enfrentados pela universidade pública na passagem do século XX para o século XXI e apresentar possíveis soluções para o decorrer deste. Para tanto, o autor objetiva responder a três questões principais: “O que aconteceu nos últimos dez anos? Como caracterizar a situação em que nos encontramos? Quais as respostas possíveis aos problemas que a universidade enfrenta nos nossos dias?”(SANTOS, 2010, p. 11) O livro é dividido em duas partes: na primeira, o autor analisa as transformações recentes no sistema de ensino superior e o impacto destas na universidade pública; na segunda, identifica e justifica os princípios básicos de uma reforma democrática e emancipatória da universidade pública, que a permita responder criativa e eficazmente aos desafios com que se defronta no limiar do século XXI.

O autor parte da análise que fez sobre a situação da universidade, suas crises e desafios no final do século XX, contida no texto “Da ideia de universidade à universidade de ideias”

publicado no livro Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade3, em 1994,

onde analisava a universidade, em especial a universidade pública, e identificava nesta a                                                                                                                          

1 Mestrando em Gestão Pública pelo Mestrado Profissional em Gestão Pública para o Desenvolvimento do

Nordeste da Universidade Federal de Pernambuco (MGP-UFPE); Especialista em História do Brasil; Graduado em História pela Universidade de Pernambuco (UPE); Técnico em Assuntos Educacionais da Universidade Federal de Pernambuco.

2 Fonte: http://www.boaventuradesousasantos.pt/pages/pt/cv-e-nota-biografica.php 3

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existência de três crises: a crise de hegemonia, resultado da incapacidade da universidade em desempenhar funções diferentes das tradicionais, levando o Estado e os agentes econômicos a procurar fora da universidade alternativas para a produção de conhecimentos instrumentais, úteis na formação de mão de obra qualificada exigida pelo capitalismo; a crise de legitimidade, resultado da não satisfação, por parte da universidade, da aspiração das classes populares pelo acesso ao conhecimento; e a crise institucional, resultado da perda de prioridade da universidade pública entre os bens públicos produzidos pelo Estado, que converteu a educação em um bem público que não tem de ser exclusivamente pelo Estado assegurado.

O autor afirma que a perda de prioridade da universidade pública é resultado da perda geral de prioridade das políticas sociais (educação, saúde, previdência) nas políticas públicas do Estado, em virtude do advento do neoliberalismo, que tornou-se modelo hegemônico desde

a década de 1980, que Santos (2005, p.29)3 define como a década do pós-marxismo:

(...) a solidez e a radicalidade do capitalismo ganhou ímpeto para desfazer o marxismo no ar e desta vez para o desfazer aparentemente com grande facilidade e para sempre. A ascensão de partidos conservadores na Europa e EUA; o isolamento progressivo dos partidos comunistas e a descaracterização política dos partidos socialistas; a transnacionalização da economia e a sujeição férrea dos países periféricos e semi-periféricos às exigências do capitalismo multifuncional e das suas instituições de suporte, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional; a consagração mundial da lógica econômica capitalista sob a forma neoliberal e a consequente apologia do mercado, da livre iniciativa, do Estado mínimo, e da mercantilização das relações sociais. (...)

O autor afirma que houve, a partir do início da década de 1980, visando atender às exigências neoliberais, a opção pela mercadorização da universidade, onde identifica duas fases: na primeira, que inicia-se na década de 1980 e vai até meados da década de 1990, temos a expansão e consolidação do mercado nacional universitário; na segunda, juntamente com o mercado nacional, emerge o mercado transnacional da educação superior e universitária. O autor conclui que está em curso a globalização neoliberal da universidade, um projeto global de política universitária que tem como pilares a descapitalização da universidade pública e a transnacionalização do mercado universitário. Tal projeto vem desestabilizar a universidade na medida em que esta precisa se transformar internamente, mudando seu atual paradigma institucional e político-pedadógico para um paradigma empresarial para poder atender a tais pilares.

Para o autor, a globalização neoliberal impõe, em especial por meio das tecnologias da informação e da comunicação, desafios à universidade pública, inclusive de natureza

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epistemológica, onde à universidade é posta a exigência de transição de modelos de conhecimento, designadas pelo autor como a passagem do conhecimento universitário (unilateral, homogêneo) para o conhecimento pluriversitário (multilateral, interativo, heterogêneo), que tem se concretizado mais consistentemente sob a forma de conhecimento mercantil, nas parcerias universidade-indústria, atendendo assim ao projeto neoliberal universitário.

O autor identifica uma segunda transformação, de natureza política, que também abala a universidade. Trata-se do ataque neoliberal à ideia de projeto nacional, que tem como alvo o Estado nacional e suas políticas econômicas e sociais. Nesse sentido, a universidade foi levada a uma crise de identidade, onde suas funções sociais se deslocaram dos problemas nacionais para os problemas locais e regionais.

O autor finaliza a primeira parte identificando o impacto das novas tecnologias de informação e comunicação na proliferação das fontes de informação e nas possibilidades de ensino-aprendizagem à distância como fator também responsável pelo abalo da universidade, embora coloque tal impacto como uma questão em aberto, onde o que falta saber é em que medida estas transformações afetarão a pesquisa, a formação e a extensão universitária.

Ao iniciar a segunda parte do livro, Santos (2010, p. 56) afirma que “o único modo eficaz e emancipatório de enfrentar a globalização neoliberal é contrapor-lhe uma globalização alternativa, contra-hegemônica”. Nesse sentido o autor propõe uma reforma democrática e emancipatória da universidade pública, que vise responder positivamente às demandas sociais pela democratização radical da universidade. Tal reforma deve estar pautada em um projeto de país que o qualifique e o insira na sociedade global, pois os problemas sociais atuais, sejam locais ou nacionais, não são possíveis de resolução sem considerar a sua contextualização global. Para tanto, a universidade pública deve repensar seu papel na definição e resolução coletiva desses problemas.

O autor sustenta que a globalização contra-hegemônica da universidade pública é um projeto político exigente que, para ter credibilidade, deve estar sustentado por atores interessados em protagonizá-lo. Nesse sentido, o autor identifica três protagonistas: o primeiro é a própria universidade pública, ou seja, quem nela está interessado numa globalização alternativa; o segundo é o Estado nacional, desde que opte pela globalização solidária da universidade; e o terceiro é a sociedade civil organizada, que deve estar interessada em fomentar articulações cooperativas entre a universidade e os interesses sociais que representam.

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O autor defende que, diante da perda da hegemonia, que parece irremediável, a reforma da universidade deve centrar-se na questão da legitimidade. Para tanto, a universidade deve: promover alternativas que apontem para a sua democratização; constatar a perda de hegemonia e concentrar-se na questão da legitimidade; lutar pela definição de universidade, para que se possa conduzir com eficácia a luta pela legitimidade; criar uma nova institucionalidade que fortaleça a legitimidade da universidade pública e fortaleça também a possibilidade de uma globalização contra-hegemônica; regular o setor universitário privado, já que o Estado deve fomentar a universidade pública, e manter com o setor privado uma relação de regulação e fiscalização, além de fomentar e intensificar formas de cooperação transnacional segundo princípios de benefício mútuo e fora do quadro dos regimes comerciais.

O autor elenca cinco áreas de ação da universidade em sua luta pela legitimidade que devem ser particularmente incentivadas, porque estão globalmente em risco: a democratização do acesso; atividades de extensão voltadas para a resolução dos problemas da exclusão e da discriminação sociais; a pesquisa-ação, envolvendo as comunidades e as organizações sociais que podem ser beneficiadas com os resultados da pesquisa; ecologia de saberes, que consiste no diálogo entre o saber científico e o não-científico, trazendo este para dentro da universidade; vinculação com a escola pública no sentido de “estabelecer mecanismos institucionais de colaboração através dos quais seja construída uma integração efetiva entre a formação profissional e a prática de ensino”(SANTOS, 2010, p. 83).

O autor identifica ainda outras duas áreas de legitimação e de responsabilização social. Trata-se da relação entre a universidade e o setor capitalista privado e do reforço de sua responsabilidade social. Para o autor, a universidade precisa estar dotada de condições, tanto financeiras quanto institucionais, para que não seja posta numa posição de dependência nem de sobrevivência em relação aos contratos comerciais, e que possa “assumir formas mais densas de responsabilidade social, aceitando ser permeável às demandas sociais, sobretudo àquelas oriundas de grupos sociais que não têm poder para as impor”(SANTOS, 2010, p. 89).

O autor afirma que “a universidade no século XXI será certamente menos hegemônica, mas não menos necessária que o foi nos séculos anteriores”(SANTOS, 2010, p. 111). Explica que nesta obra salientou as ameaças externas, embora a existência de fatores de ameaças internos como o elitismo, o corporativismo e a inércia pela incapacidade de se autointerrogar torna a universidade presa fácil aos interesses da globalização neoliberal.

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Interesses estes hostis aos da universidade, mas que já tem hoje muito poder no interior do Estado. Portanto, Santos (2010, p. 114) conclui que

a reforma da universidade como bem público tem um significado que transcende em muito a universidade. É verdadeiramente um teste aos níveis de controle público do Estado e aos caminhos da reforma democrática do Estado. (...) A direção em que for a reforma da universidade é a direção em que está a ir a reforma do Estado. De fato, a disputa é uma só, algo que os universitários e os responsáveis políticos devem ter sempre presente.

O livro leva o leitor a refletir sobre a situação atual vivida pela universidade, em especial a universidade pública, chamando a atenção para a existência de um projeto global, que irá chamar de globalização neoliberal da universidade, e que desestabiliza a universidade, levando-a à crise. Para superar tal crise, o autor propõe uma reforma criativa, democrática e emancipatória da universidade pública, a qual irá chamar de globalização contra-hegemônica. Nesse sentido, o leitor é provocado a debater os destinos da universidade pública, e porque não, levado a agir em defesa de uma reforma democrática e emancipatória da mesma.

Esta obra se constitui em leitura fundamental para os profissionais e estudantes das ciências sociais, da educação, da gestão pública, assim como para a comunidade universitária, os agentes públicos e organizações sociais que estejam interessados em debater e agir em função de uma reforma democrática e emancipatória da universidade pública.

Referências

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