Conselho Nacional de Justiça Processo Judicial Eletrônico

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Processo Judicial Eletrônico

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 0000981-97.2016.2.00.0000 em 09/03/2016 11:10:05 e assinado por:

- ALEXANDRE PONTIERI

16030911090686600000001852253

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SCN. Qd. 02, Bl. D, Torre B – Conj. 1302 - Centro Empresarial Liberty Mall – Brasília/DF – CEP 70.712-903 – Tel: (61) 2103-9000

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI.

A ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS-AMB, sociedade civil constituída por prazo indeterminado, objetivando a defesa das

garantias e direitos dos Magistrados, o fortalecimento do Poder Judiciário e a promoção dos valores do Estado Democrático de Direito1_{, com sede no SCN. Qd. 02, Bl. D, Torre}

B – Conj. 1302 - Centro Empresarial Liberty Mall – Brasília/DF – CEP 70.712-903 – Tel: (61) 2103-9000, por seu Presidente, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 43, XI, e 98 e seguintes do Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça (RICNJ), e à luz do parágrafo quinto do art. 1º, da Resolução 213/2015-CNJ, apresentar Pedido de Providências (PP), para expor e requer o quanto segue:

A Audiência de Custódia, inicialmente implantada no âmbito do Judiciário Brasileiro com base no Termo de Cooperação Técnica nº 007/2015, entre o Conselho Nacional de Justiça, o Ministério da Justiça e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa, expandiu-se pelo Brasil com o empenho dos Tribunais e magistrados de todo País e hoje vem sendo realizada em praticamente todo país.

1_{Conforme disposto no artigo 1º do Estatuto da AMB:}

“Art. 1º A Associação dos Magistrados Brasileiros, também designada pela sigla AMB, com sede em Brasília - DF é uma sociedade civil constituída por prazo indeterminado, objetivando a defesa das garantias e direitos dos Magistrados, o fortalecimento do Poder Judiciário e a promoção dos valores do Estado Democrático de Direito.”

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Mais recentemente, no julgamento da ADPF 347, O Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que a audiência de custódia foi integrada ao sistema normativo brasileiro pela assinatura do Pacto de San José da Costa Rica, a que o Brasil aderiu em 25 de novembro de 1992.

No pacto, determinou-se que a pessoa detida deveria ser apresentada à presença de juiz, ou autoridade autorizada pela lei, sem demora (art. 7º, item 5) ou em prazo razoável (art. 8º, item 1).

Foi editada, então, a Resolução nº 213 de 15 de dezembro de 2015 pelo Conselho Nacional de Justiça, fixando-se o prazo máximo de 24h para a

apresentação do preso.

Essa Resolução, em seu artigo 15, fixou, de forma cogente, um prazo de 90 dias, a contar de 1º de fevereiro de 2016, para que os Tribunais implantem a audiência de custódia no âmbito de suas respectivas jurisdições.

Acontece que as peculiaridades deste Brasil continental precisam ser observadas, especialmente o fato de que a maior parte da atividade jurisdicional é prestada em comarcas ou circunscrições de pequeno porte, em que há apenas um magistrado.

O primeiro dos entraves afigura-se justamente a situação destas unidades jurisdicionais, pois o magistrado restaria de plantão ininterrupto para realização de audiências de custódia observando-se o prazo de 24h para a apresentação da pessoa presa.).

É bem verdade que o trabalho em sistema de plantão poderia ser recompensado por folgas compensatórias.

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Se o juiz plantonista dessas pequenas comarcas e circunscrições fizer jus a 1 (um) dia de folga por dia de fim de semana ou feriado trabalhado para realização das audiências de custódia, o prejuízo seria incomensurável. O mesmo se diga quanto aos seus auxiliares.

Veja-se que contando apenas sábados e domingos teríamos mais de 100 dias em 2015.

Não se pode olvidar que, afora as folgas compensatórias, o magistrado também teria direito às férias de 60 dias e recesso forense.

As folgas causariam, portanto, uma situação insustentável, por não haver juízes suficientes à substituição (e quiçá servidores), o que geraria a inevitável interrupção na atividade jurisdicional.

Na mesma situação estarão, sem dúvida, o Ministério Público e a Defensoria Pública, esta última patrocinadora da grande maioria dos réus nos processos criminais.

A outra questão importante diz respeito à segurança durante as audiências nos fins de semana e feriados.

Os Presidentes das Associações regionais e Presidentes de Tribunais já relataram que as Secretarias de Segurança e de Justiça (ou de administração penitenciária) dos Estados (art. 2.o da Resolução) alertaram que não possuem condições, por falta de estrutura de pessoal e material, para atender às audiências de custódia no interior dos Estados, em especial em finais de semana e feriados.

Os contingentes de policiais e também de agentes penitenciários é sempre abaixo das necessidades.

O déficit da segurança pública é por demais conhecido e tirar policiais militares de suas funções habituais de policiamento ostensivo nos fins de semana

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e feriados, quando mais costumeiramente ocorrem os crimes, para destiná-los às audiências de custódia significará sensível piora no atendimento à população.

O déficit no número de agentes penitenciários também é notório. Retirá-los de seus afazeres habituais para prestar segurança escolta às audiências de custódia significará, sem dúvida, prejuízo às escalas de trabalho no sistema prisional e, com isso, sua fragilização.

Isso tudo acrescido ao fato de que, acertadamente, aqueles que participaram da prisão não poderão participar da audiência de custódia (art. 4.o, parágrafo único, da Res. 213/2015).

Outro ponto sensível é o transporte de presos. Não se pode olvidar que nesse tocante a atuação do Poder Judiciário depende em muito da atividade do Poder Executivo, incumbido da guarda e transporte dos presos provisórios

É sabido que o transporte de presos, mesmo que em dias normais da semana, por vezes encontra barreiras nessa falta de estrutura, quiçá para fins de semana e feriados.

Pior ainda se houver necessidade de deslocamentos com os presos de uma para outra comarca ou circunscrição (art. 3º, da Resolução), o que, pela estrutura precária, pode significar a falta de segurança no transporte e até a possibilidade de fugas e resgates.

Não se pode olvidar que nas unidades federativas há localidades que distam mais de 500 Km da sede das comarcas ou circunscrições. Outras, são servidas por deficitários sistemas de transporte e, ainda, algumas só pela via fluvial.

Outro fator importante é que, não raras vezes, o Poder Executivo não possui transporte adequado para presos, o que, diga-se, possui regramento próprio para que sejam conduzidos condignamente. Isso vem regulamentado pelo

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Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (Ministério da Justiça), pela Resolução n. 2, de 1º de junho de 2012.

Não podem ser relegadas tais peculiaridades.

Outra dificuldade apontada é a realização de perícias nos fins de semana, em que se trabalha por sistema de plantão, sendo certo que na maioria das comarcas e circunscrições do interior do País sequer há médicos legistas disponíveis, valendo-se os magistrados de nomeação.

Nos fins de semana e feriados o atendimento a essas nomeações é, deveras, prejudicado.

Não se pode olvidar, ademais, a implantação de tal medida implicará que estas unidades jurisdicionais permaneçam abertas nos fins de semana, com incremento de custos com servidores, segurança e limpeza. Por certo, para este ano, não há sequer verbas específicas para esse reforço, tanto no tocante à disponibilidade financeira, quanto em se tratando da necessária previsão orçamentária, já que a Resolução foi editada no fim do ano passado.

Mister também ressaltar que tratamos de um ano de considerável dificuldade financeira para os Tribunais, que já noticiam cortes orçamentários expressivos. Não haveria pois disponibilidade financeira para a implantação das medidas necessárias ao bom andamento das Audiências de Custódia em curto período de tempo.

Salientamos ainda que outros regramentos jurídicos como o Estatuto da Criança e Adolescente e a própria Leu Maria da Penha, trouxeram ao Judiciário a necessidade de alterações e medidas administrativas para serem implantadas. Porém isso foi feito em período mais elástico do que o contemplado na Resolução 213/2015.

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Pelo exposto, requer o acolhimento deste pleito para o fim de determinar:

a) Seja autorizada a suspensão da realização da audiência de custódia onde não haja estrutura física e de pessoal que a possibilite, até que os Tribunais possam adequar suas estruturas, a fim de atender a Resolução 213/2015 desse Egrégio Conselho Nacional de Justiça;

b) A alteração da Resolução com inserção de regra de prazo mais elástico para a apresentação do preso, sugerindo-se 5 dias para tanto.

Termos em que, Pede deferimento.

Brasília, 09 de março de 2016.

João Ricardo dos Santos Costa