DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO HIDRO-ACÚSTICO COMO FERRAMENTA DE GESTÃO PISCÍCOLA E DO POTENCIAL ECOLÓGICO EM ALBUFEIRAS:
RESULTADOS PRELIMINARES DA ALBUFEIRA DO MARANHÃO
Limnologia 2010.
XV CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO IBÉRICA DE LIM NOLOGIA
Adolfo Franco
António Albuquerque Maria Teresa Ferreira
INTRODUÇÃO
A importância das populações piscícolas de albufeiras
Existem em Portugal mais de uma centena de Albufeiras de Águas Publicas de Serviço Público Classificadas.
As populações piscícolas de albufeiras têm:
• reduzido valor conservacionista (espécies exóticas ou de distribuição generalizada)
• elevado valor pesqueiro.
As albufeiras proporcionam bons locais para a prática da
pesca desportiva, em geral, e para a pesca de competição, em particular
Apesar do reduzido valor conservacionista, as populações piscícolas de albufeiras têm uma significativa importância no
INTRODUÇÃO
Conhecimento actual sobre populações piscícolas em albufeiras Portuguesas
Actualmente, o conhecimento sobre as populações piscícolas de albufeiras
Portuguesas é ainda reduzido, apesar de algumas iniciativas recentes de estudo sistemático.
Este vazio é agravado pelo dinamismo das populações piscícolas de albufeiras. Dois factores determinantes para este dinamismo são:
• Variabilidade das condições abióticas característica das albufeiras • Entrada e colonização por novas espécies
• a dimensão, em número e área, das massas de água lênticas a estudar em Portugal • a necessidade de efectuar uma monitorização frequente, que permita avaliar o sucesso
de eventuais medidas de gestão piscícola ou do estado ecológico
• a necessidade de caracterizar as populações piscícolas nas suas componentes
qualitativa e quantitativa INTRODUÇÃO
Métodos de monitorização das populações piscícolas de albufeiras
Assim
:
Implicam
:
A disponibilidade de um método de avaliação das populações piscícolas de
albufeiras, que, além de permitir uma caracterização qualitativa e quantitativa das populações piscícolas, seja simultaneamente rápido e eficiente.
Actualmente, o método normalizado para a caracterização das populações piscícolas de
albufeiras é a amostragem com redes de emalhar – Norma CEN EN 14757:2005
INTRODUÇÃO
Métodos de monitorização das populações piscícolas de albufeiras
No entanto, este método directo:
• permite apenas uma avaliação semi-quantitativa (CPUE) da população piscícola,
• apresenta selectividade
• é bastante exigente em recursos humanos e tempo • implica normalmente a morte dos peixes capturados
Este objectivo principal remete na prática para a resposta a várias perguntas:
OBJECTIVOS
1.Qual a conjugação de : • técnica de eco-sondagem:
vertical, horizontal ou ambas
• altura do dia: dia ou noite (crepúsculo excluído)
• época do ano: estratificação ou miscigenação (excluída a época das migração reprodutivas)
• intensidade de amostragem hidro-acústica
• intensidade de amostragem com métodos directos (redes de emalhar) de apoio à monitorização hidro-acústica
Que permite a melhor estimativa de densidade e biomassa piscícolas?
O objectivo principal deste trabalho foi a aplicação e avaliação do método hidro-acústico como ferramenta de caracterização da população piscícola da albufeira da barragem do Maranhão.
OBJECTIVOS
3.Qual a mais valia proporcionada pelo método hidro-acústico para o cálculo de indicadores, métricas ou índices de:
• valor desportivo das populações piscícolas presentes na massa de água? • estado ecológico, com base nas populações piscícolas?
2. Qual o erro na caracterização das populações piscícolas associado à aplicação do método noutras situações?
METODOLOGIA EXPERIMENTAL ADOPTADA
1. Enviesamento na posição do transdutor relativamente à posição pretendida em relação ao plano de água
2. Erro por excesso associado à contabilização de falsos alvos
3. Erro por defeito associado à detecção, na monitorização acústica, de apenas parte da população piscícola. Este erro poderá estar associado a:
• migrações reprodutivas dos potamódromos
• concentração do peixe em zonas inacessíveis à eco-sondagem: perto de macrófitos, árvores submersas ou junto ao fundo
.
A optimização do método hidro-acústico numa determinada população piscícola e massa de água pressupõe a minimização, entre outras, de 3 grandes causas de erro na aplicação do método:
METODOLOGIA EXPERIMENTAL ADOPTADA
1. Selecção e aquisição do transdutor;
2. Optimização do conjunto eco-sonda / embarcação / navegador e controlador;
3. Eco-sondagem exploratória diurna, vertical e horizontal, com a albufeira estratificada (Setembro 2009) e miscigenada (Fevereiro 2009).
4. Análise dos dados hidro-acústicos preliminares e identificação de padrões característicos;
5. Caracterização semi-quantitativa e qualitativa da população piscícola através da colocação de redes de emalhar
6. Eco-sondagem diurna e nocturna, vertical e horizontal, na época considerada mais favorável (Fevereiro 2010)
7. Estimativa da biomassa piscícola e análise comparativa do erro associado às várias técnicas de eco-sondagem / parametrizações da eco-sonda/ métodos de tratamento dos dados acústicos experimentados.
A metodologia adoptada para o reconhecimento e minimização destas três formas de erro foi a optimização adaptativa, com 7 fases:
• Foi utilizada uma eco-sonda cientifica com um transdutor de feixe partido, a 208 KHz e bolbo elíptico (4º x 10º), adequado para eco-sondagem horizontal e vertical
• Foi seleccionado o programa informático SONAR 5 PRO ( Balk & Lindem, 2010) para o
processamento de dados acústicos, devido a algumas ferramentas específicas de apoio ao tratamento de dados de eco-sondagem horizontal
Eco-sonda, transdutor e sistema informático de tratamento de dados acústicos METODOLOGIA
• Área da bacia hidrográfica - 2282 Km 2
• Área inundada ao NPA - 1960 ha
• Profundidade máxima - 44 m
• Eutrófica
Localização e características da albufeira do Maranhão METODOLOGIA EXPERIMENTAL ADOPTADA
Optimização do conjunto eco-sonda / embarcação / navegador e controlador
• Foi desenvolvido um dispositivo modular de fixação e regulação da posição do transdutor
• Para a velocidade de navegação, estabeleceu-se o intervalo 4-6 km/hora. Velocidades
superiores foram testadas, mas com maus resultados devido a maior variabilidade na inclinação da embarcação.
Navegação segundo os transectos pré-definidos
• O software de navegação TrackMaker, associado ao DGPS e às imagens
georreferenciadas, permitiu a realização da eco-sondagem segundo as trilhas (transectos) pré-definidas.
• A navegação diurna revelou-se mais fácil devido ao apoio de pontos notáveis na margem
Caracterização da população piscícola com redes de emalhar.
• redes de emalhar com 5 malhas (30, 40, 50, 65 e 95 mm), 30 m comprimento total e 3 m altura.
• 3 extractos de profundidade: 0 a 3 m, 4 a 7 m e de fundo.
• Lançadas entre as 17 e as 20 horas e recolhidas entre as 8 e as 11 horas. • Identificação (espécie), medição (0,1 cm) e pesagem dos peixes (0,1g)
Caracterização da população piscícola com redes de emalhar.
• 8 locais, com um total de 19 redes, em Outubro de 2008
Trilha de navegação virtual para a monitorização hidro-acústica (d=8)
Realização da eco-sondagem segundo transectos perpendiculares ao “eixo” da albufeira e distanciados de forma a proporcionarem um coeficiente de
cobertura de 8 (d = L/√A) ou seja, 400 m entre transectos.
RESULTADOS PRELIMINARES
• Intensa libertação de bolhas, e generalizada a toda a albufeira
• Detecção de peixe sobretudo pela sondagem horizontal, com a detecção pela
eco-sondagem vertical restringida ao epilímnio
• Em termos espaciais, a detecção de peixe ocorreu com maior intensidade na zona
fluvial da albufeira e junto ao litoral
RESULTADOS PRELIMINARES
• Reduzida libertação de bolhas, e localizada apenas na zona profunda da albufeira
• Detecção de peixe praticamente apenas pela eco-sondagem vertical , e concentrado
numa camada com localização variável, entre os 6 e os 20 m de profundidade.
• Em termos espaciais, a detecção de peixe ocorreu em toda a albufeira, mas com maior
concentração na zona fluvial ou junto a pequenos afluentes à albufeira
RESULTADOS PRELIMINARES
• Reduzida libertação de bolhas, e restrita à zona profunda da albufeira e aos dias de redução do nível da água
• Detecção de peixe repartida pela eco-sondagem horizontal e vertical
• Em termos espaciais, a detecção de peixe ocorreu em toda a albufeira, mas com maior
concentração na zona fluvial ou junto a pequenos afluentes à albufeira
RESULTADOS PRELIMINARES
• Reduzida libertação de bolhas, e restrita à zona profunda da albufeira e aos dias de redução do nível da água
• Detecção de peixe exclusivamente pela eco-sondagem horizontal
• Em termos espaciais, a detecção de peixe ocorreu em toda a albufeira, mas com maior
concentração na zona fluvial
RESULTADOS Redes de emalhar Outubro de 2008 71,4% 9,6% 9, 2% 3,8% 3,7% 1,8% 0,4% 0,1%
Abundância (% NPUE) Alburnus alburnus
Cyprinus carpio Ameiurus melas Barbus bocagei Pseudochondrostoma polylepis Carassius auratus Micropterus salmoides C. carpio x C. auratus 28, 2% 39,5% 10,3% 7, 5% 5,0% 8, 5% 0,2% 0, 7%
Abundância (% BPUE) Alburnus alburnus
Cyprinus carpio Ameiurus melas Barbus bocagei Pseudochondrostoma poly lepis
Caras sius auratus Micropterus s almoides C. carpio x C. auratus
39,5% Cyprinus carpio 28, 2% Alburnus alburnus
RESULTADOS
Redes de emalhar – Outubro de 2008
0 5 10 15 20 25 30 35 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Espé cies C omprimento total (cm) A b u n d â n c ia r e la ti v a ( % N P U E )
RESULTADOS
RESULTADOS - Eco-sondagem vertical diurna – Fevereiro de 2009
Densidade Volúmica (nº peixes/1000m3)
RESULTADOS - Eco-sondagem vertical diurna – Fevereiro de 2009 10 50 100 500 1500 3000 Densidade Piscícola (Nº peixes.ha-1)
RESULTADOS - Eco-sondagem vertical diurna – Fevereiro de 2009 5 10 20 50 100 500 1500
RESULTADOS - Eco-sondagem vertical diurna – Fevereiro de 2009 100 500 1000 5000 10000 Biomassa (Kg/zona de integração)
RESULTADOS - Eco-sondagem vertical diurna – Fevereiro de 2009
Aderência da estrutura de dimensões da população piscícola obtida com as redes de emalhar e com a eco-sondagem
Considerações preliminares
• A eco-sondagem vertical e horizontal de grandes albufeiras deverá ser feita simultaneamente, de forma a ser efectuada integralmente com condições meteorológicas e limnológicas constantes.
• A melhor altura para a eco-sondagem no Maranhão será provavelmente de
Novembro a Fevereiro (parte da população piscícola detectada pela eco-sondagem vertical e menor interferência pelas bolhas)
• É bastante provável que, além da eco-sondagem vertical e horizontal, seja também necessária eco-sondagem diurna e nocturna.
• Os dados obtidos na monitorização hidro-acústica de Fevereiro de 2009
perspectivam mais-valias significativas na utilização deste método como ferramenta de gestão piscícola e do potencial ecológico em albufeiras (quantificação das
espécies/dimensões enquadráveis na classe de “troféus desportivos” e com potencial eutrofizacional da massa de água – ablete e carpa)