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Praia Grande: reflexões sobre a migração intrametropolitana a partir do processo de metropolização da Baixada Santista

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Praia Grande: reflexões sobre a migração

intrametropolitana a partir do processo de metropolização

da Baixada Santista

Ana Paula Rocha dos Santos* Andréa Ferraz Young**

Introdução

O espaço no Brasil vem passando por profundas mudanças na conformação do espaço, onde inicialmente estavam ligadas ao período de transformação de uma sociedade basicamente rural, para predominantemente urbana. Nesse contexto, a movimentação populacional rural-urbano foi considerada por algum tempo, da década de 1930 até os fins dos anos 50, como um tipo migratório.1

Entretanto, a segunda metade do século XX, principalmente as décadas de 50, 60 e 70, mostrou importantes modificações na estrutura urbana, principalmente no que diz respeito às regiões metropolitanas. O intenso processo de metropolização no Brasil, que apresentou uma desconcentração populacional do centro a favor das áreas mais periféricas, foi responsável por parte dessas mudanças.

Já sob esta ótica, a evolução da migração passou por mudanças também significativas, com um cenário não mais apresentando um tipo predominante, e sim, várias modalidades que atuam concomitantemente no espaço.2

Nesse quadro de diversidades migratórias, o presente estudo se insere no debate atual a respeito dos processos migratórios propondo uma reflexão a respeito dos movimentos populacionais que vêm ocorrendo no meio urbano, mais especificamente na região metropolitana.

* Mestranda em Demografia pelo NEPO (Núcleo de Estudos de População) - UNICAMP

**Pesquisadora de Pós-doutorado em Demografia pelo NEPO (Núcleo de Estudos de População) - UNICAMP

1

Neste caso, o tipo migratório entra na discussão de tipos e etapas, onde este primeiro se configura como processo de transformação da sociedade em determinada etapa econômica.

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Nesse contexto, os movimentos populacionais são componentes importantes para consolidação dos municípios que acabam por compor a região metropolitana. Em meio a esses movimentos migratórios e considerando um “novo patamar da urbanização”, os fluxos de curta distância, principalmente os intrametropolitanos, passam a tomar força nesse cenário.

Uma das formas assumida pela intensa e constante redistribuição espacial da população no interior da Região Metropolitana é a migração intrametropolitana. Por esse motivo, esta última tem participação decisiva na formação, expansão e reestruturação do espaço metropolitano, o que não significa afirmar, entretanto, que o primeiro fenômeno explique o segundo. (CUNHA, 1994, p.49-50)

Dentro desta perspectiva, o presente estudo pretende discutir a migração intrametropolitana do município de Praia Grande no contexto da RMBS, uma vez que, esse processo migratório tem se relevado como um importante fator para o entendimento da expansão, crescimento e diversidade socioespacial da Região Metropolitana da Baixada Santista, bem como do município de Praia Grande.

Desta forma, pretende-se aprofundar o conhecimento sobre o componente migratório de forma que seja possível compreender melhor também as relações internas estabelecidas no município, bem como com a Região Metropolitana da Baixada Santista.

Sendo que compõe um dos vetores de expansão da RMBS, Praia Grande é um município que tem apresentado importantes modificações em termos demográficos, principalmente no que diz respeito à redistribuição espacial da população, o que a torna interessante de estudo.

Segundo Baeninger (1999), uma dimensão explicativa e determinante do fenômeno migratório que surge é a espacial. Assim, se faz importante medir os impactos que sofrem as tendências dos fluxos populacionais em contrapartida ao processo de metropolização.

Resumidamente, o presente estudo trata-se de uma reflexão sobre as principais características da migração intrametropolitana do município de Praia Grande associadas ao processo de expansão da Região Metropolitana da Baixada

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Santista para o entendimento das questões relacionadas ao crescimento, desenvolvimento e diversidade socioespacial da região.

Aspectos conceituais

A metrópole aparece hoje como manifestação espacial concreta de um fenômeno que se reproduz a partir do processo de constituição da sociedade urbana, apoiado no aprofundamento da divisão espacial do trabalho, na ampliação do mercado mundial, na eliminação das fronteiras entre os Estados, e na generalização da relação consumo-mercadoria. Esse processo produz profundas mudanças espaciais, criando novas identidades, que não dizem mais respeito a um lugar ou a uma nação específica, mas explodem em realidades supranacionais, apoiadas no desenvolvimento científico e tecnológico e na transmissão da informação (Carlos, 2006)

Generalizam-se os fluxos de informação e mercadoria, pois o capitalismo, num primeiro momento, contornou as fronteiras nacionais para se reproduzir, e hoje, destruiu-as totalmente unificando mercados em termos globais e hierarquizando espaços que vão do centro a periferia, persistentemente assentadas em camufladas relações de dominação-subordinação (Carlos, 2006).

A metropolização diz respeito à hierarquização do espaço a partir da dominação de centros que exercem sua função administrativa, jurídica, fiscal, etc. A metrópole guarda uma centralidade em relação ao resto do território, dominando-o e articulando extensas áreas (Carlos, 2006).

A metrópole é vista como um símbolo do mundo moderno, um centro onde a vida flui com incrível rapidez, o que impõe um ritmo acelerado e a banalização de tudo como um produto direto do processo de homogeneização. Como afirma Milton Santos (2001), “o que torna um lugar mundial são os componentes que fazem de uma determinada parcela do território o lócus da produção e troca de alto nível, conseqüência da hierarquização que regulariza a ação em outros lugares”.

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Atualmente, a urbanização, produz-se em função das exigências em matéria de comunicação, de deslocamentos os mais variados e complexos, criando uma hierarquia de lugares. Os problemas urbanos ocorrem no âmbito do processo de reprodução da sociedade. A globalização produz modelos e padrões de consumo, constituindo-se como elemento fundamental da reprodução das relações sociais, que passam a ser mediadas pela mercadoria. Por isso mesmo, esse processo não elimina, mas aprofunda o processo de fragmentação contido no espaço, na ciência, na cultura, na vida do homem, em seu cotidiano (Santos, 2001).

Segundo Lefebvre (2004), e Gottdiener (1993) também reafirma, a metrópole hoje se apresenta polinucleada, englobando sempre novas áreas e extensões fragmentadas. Assiste-se o aprofundamento da segregação e da desigualdade socioespacial, uma vez que, uma parcela significativa dos habitantes das metrópoles não tem acesso a serviços, infra-estrutura e condições de moradia adequadas.

A necessidade de expansão desenfreada proveniente da acumulação de capital reproduz o espaço metropolitano mudando referenciais e comportamentos. A vida urbana impõe conflitos e confrontos e o processo de fragmentação aparece como justaposição de atividades distintas (Carlos, 2006).

Essa fragmentação produz um constante movimento de atração-expulsão da população do centro para a periferia e vice-versa. Produz também uma multiplicidade de centros que tende a dissipar a consciência urbana na medida em que o habitar a metrópole tem um sentido diverso, mudando hábitos e comportamentos, bem como formas de apropriação do espaço publico, além da dissolução de antigos modos de vida e relações entre as pessoas (Lefebvre, 2004). Na metrópole, os fluxos de pessoas intensificam-se e tornam-se constantes (Santos, 2001).

O centro urbano é preenchido até a saturação; ele apodrece ou explode. Às vezes, invertendo seu sentido, ele organiza em torno de si o vazio, a raridade. (...) De sorte que todo o espaço urbano carrega em si esse possível-impossível, sua própria negação. De sorte que todo espaço urbano foi, é, e será, ‘concentrado e poli(multi)cêntrico’[grifo do autor]. A forma do espaço urbano evoca e provoca essa concentração e essa dispersão: multidões, acumulações colossais, evacuações, ejeções súbitas. (LEFEBVRE, 2004, p. 46)

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Nesse contexto, observa-se que a relação entre os movimentos populacionais internos da Região Metropolitana da Baixada Santista apontam para a consolidação do intenso processo de metropolização, no qual os deslocamentos populacionais se configuram como elementos constitutivos destes novos espaços fragmentados.

Dentro dessa perspectiva, o fenômeno da migração constitui importante referencial para o entendimento dessas questões. Talvez, o caráter singular da Região Metropolitana da Baixada Santista resida exatamente nas transformações causadas pelo desenvolvimento urbano pautado no processo de industrialização e, sobretudo, marcado por uma configuração espacial extensa e fragmentada, onde novas questões referentes à dinâmica urbana e mobilidade espacial emergem.

Em se tratando de mobilidade espacial, o dinamismo da RMBS tem como característica não só os deslocamentos diários, como também a grande atração e retenção de habitantes de outras áreas. A formação do entorno imediato de Santos e São Vicente, que se intensifica nos anos 80, articula-se aos expressivos fluxos migratórios oriundos da sede metropolitana para Praia Grande – onde a migração precedente de Santos, por exemplo, respondeu a imensa maioria do total da migração intrametropolitana.

Nos anos 90, agrega-se a essa dinâmica os municípios de Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe em direção ao litoral sul. Como será apresentado, em grande parte dos municípios da RMBS, é expressiva a participação da migração no crescimento da população, tanto nos períodos entre 1986/1991 como1991/2000.

Dessa maneira, a dinâmica migratória, aqui retratada, será considerada de maneira mais profunda ao longo desse estudo, através da análise dos dados do Censo do IBGE, principalmente, aqueles referentes às décadas de 1980, 1990 e 2000, período em que as relações intrametropolitanas se desdobraram e se intensificaram.

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Expansão metropolitana e dinâmica demográfica da RMBS

A RMBS é composta pelos municípios de Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente. Geograficamente é marcada pela limitação entre a Serra do Mar e o Oceano Atlântico, com um território constituído por ilhas, morros, planícies, mangues e vales, características fundamentais para entender o processo de expansão da região.

No processo de metropolização da RMBS alguns elementos se configuraram como importantes neste cenário. Dentre estes, pode-se citar o porto de Santos, responsável pela aglomeração inicial e concentração de serviços por muito tempo; as indústrias de Cubatão, onde facilitaram o primeiro eixo de expansão metropolitana; e as atividades ligadas ao turismo, que a partir dos anos 60, passaram a constituir um elemento indutor do desenvolvimento regional, incrementando ainda mais o setor terciário (Jakob, 2003)

Esse contexto confere à região, na primeira metade do século XX, uma característica de aglomeração urbana, creditada principalmente ao porto, no município de Santos, juntamente com os serviços que se desdobram a partir destes. No entanto, a partir da década de 50, a importância quase única para estas atividades foi perdendo peso relativo, principalmente, com a criação das indústrias de Cubatão, que data início na década de 50, o que possibilitou uma nova dinâmica urbana e econômica na região.

Sendo assim, o município de Santos liderava e polarizava os demais municípios da região, seja pela diversificação que seu setor terciário alcançou, seja pelo seu próprio peso demográfico, que equivalia a cerca de 43% da população residente na região, em 1980, e 28%, segundo o Censo Demográfico de 2000.

Mas a polarização é visivelmente enfraquecida, principalmente, depois dos anos 80, com uma desconcentração demográfica desde o eixo Santos/São Vicente em direção aos demais municípios, em particular Praia Grande e Guarujá.

A participação relativa da população dos municípios da RMBS, apresentada na Figura 1, mostra que enquanto o município de Santos passa a perder seu valor

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na representatividade da região, os municípios mais periféricos começam a ganhar força nesse quadro.

Figura 1. Participação Relativa dos municípios para a RMBS, 1940-2000

Desta forma, a metropolização observada nos anos 80, para muito além das relações e conurbação de Santos e São Vicente, mostra que novas áreas passam a ser incorporadas com maior vitalidade ao processo de redistribuição e integração da população, constituindo-se um núcleo central de desenvolvimento. Encontra-se como contribuição para tal característica a ampliação de atividades industriais (Cubatão) e turísticas na região (Guarujá e Praia Grande) e a modernização da rede viária, sobretudo, as estradas que facilitaram a comunicação entre o centro regional e os demais municípios (Atlas RMBS, 2006).

Neste caso, o vetor de expansão que se dirigiu a Praia Grande foi determinado pelo processo de redirecionamento populacional dos estratos de renda média, e pela dinâmica turística das camadas de média e baixa renda de Santos e São Vicente.

Na Tabela 1, mais adiante, são apresentados os volumes populacionais entre as décadas de 1970 e 2000, referentes aos municípios de Praia Grande, Santos e São Vicente. Tais volumes foram comparados em termos de sua representatividade em relação à Região Metropolitana da Baixada Santista. Assim, nota-se um aumento significativo da representatividade (%) de Praia Grande em relação à RMBS e uma

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 Cubatão Guarujá Itanhaém Praia Grande Santos São Vicente

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diminuição nas porcentagens de Santos e São Vicente, principalmente, nas últimas duas décadas.

Tabela 1. Representatividade da população de Praia Grande, Santos e São Vicente para a RMBS, 1970/2000 População Local 1970 1980 1991 1996 2000 Praia Grande 19.704 66.004 123.492 150.388 193.582 % da RMBS 3,02 6,87 10,12 11,49 13,11 Santos 342.055 412.448 417.450 412.243 417.983 % da RMBS 52,35 42,91 34,21 31,49 28,30 São Vicente 116.485 193.008 268.618 279.528 303.551 % da RMBS 17,83 20,08 22,01 21,35 20,55 RMBS 653.441 961254 1220249 1309263 1476820

Fonte: IBGE: Censos Demográficos, 1970 a 2000

Sendo assim, enquanto Santos passa a ter um peso menor, em termos de volumes populacionais, para a RMBS, Praia Grande começa a apresentar uma representatividade maior. Portanto, se faz necessária uma caracterização de Praia Grande, de forma que seja possível entender o processo metropolização que privilegiou este município.

Caracterização do município de Praia Grande

O município de Praia Grande, localizado na Região Metropolitana da Baixada Santista, possui uma população total (estimada em 2007) de 247.867 habitantes e uma área de 145 km², o que resulta numa densidade demográfica de 1.444,12 hab/km². 3

Os principais acessos do município constituem - o Sistema Anchieta-Imigrantes (SP-150 e SP-160) e a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-55), que, por ser o trecho estadual da Rodovia BR-101, liga a cidade com a região Sul (através da Rodovia Régis Bittencourt) e demais estados da região Sudeste, principalmente, com o Rio de Janeiro. (Agem)

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Em termos econômicos, o município de Praia Grande vive do turismo. O setor de comércio e serviços está voltado para esta população flutuante, até no que influi, por exemplo, no setor da construção e de serviços públicos. Apesar disso, não possui uma rede hoteleira de porte como os municípios de Santos e Guarujá devido ao grande número de condomínios e colônias de férias.

Segundo Magalhães (1965), Praia Grande era povoada por alguns núcleos praianos, cujas atividades eram as plantações de milho, feijão e mandioca e exploração de lenha, com a pesca sendo uma atividade de mínima importância econômica. Mas o desenvolvimento da cidade, segundo a Agem, começa a se fazer importante, no início do século XX, com a inauguração da Fortaleza de Itaipu e com a construção da ponte Pênsil, melhorando o acesso à região.

Para o autor (1965), é a partir da década de 1930 que o crescimento turístico (dos veranistas) torna-se mais evidente, fato, que por sinal, tem antecedentes na intensa propaganda realizada na região, e nas facilidades oferecidas na compra de terrenos no município. Esse desenvolvimento se acentua com a implantação, por volta de 1950, do bairro Cidade Ocian.

Segundo Jakob (2003), esse bairro destinava-se aos veranistas de maior poder aquisitivo provenientes, principalmente, da capital paulista, uma vez que, o local dispunha de infra-estrutura básica e serviços (abastecimentos de água, mercados, etc.) ainda não encontrados em outros loteamentos, o que acabou provocando o crescimento da região e o surgimento de bairros no entorno.

Depois da emancipação, década de 1960, Praia Grande apresentou um crescimento mais acelerado, com maior disponibilidade e qualidade de serviços públicos. Já nos anos de 1980, a inauguração da Ponte do Mar Pequeno, trecho final da Rodovia dos Imigrantes, ligando a Ilha de São Vicente à cidade, o crescimento ganha um novo impulso, tanto por desafogar o trânsito na Ponte Pênsil, quanto pela ligação direta com a Capital, sem necessidade de se passar pelas cidades de Santos e São Vicente, tornando-se, assim, o balneário mais próximo da capital (Agem).

No entanto, a facilidade de acesso atribuiu novas características ao município como, por exemplo, o grande contingente de turistas de um dia, com um perfil de

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baixa renda. Essa característica, somada ao grande crescimento populacional e ao quase inexistente saneamento básico, tornou a balneabilidade das praias quase impossível.

Os canais de esgoto cortavam as areias, lançando no mar os dejetos sem qualquer tratamento. Em 1991, por exemplo, a população de Praia Grande já ultrapassava 120 mil habitantes e, segundo Atlas RMBS, mais de 40% dos seus domicílios não possuíam rede geral de esgoto, sendo lançado por um velho emissário submarino a apenas 400 metros das praias.

No entanto, a década de 1990, principalmente a partir de 1993, foi datada de grandes mudanças na infra-estrutura da cidade, uma vez que o sistema de transportes foi remodelado e mais de 90% das ruas foram pavimentadas.

De acordo com os dados levantados pela SEADE (2003), no ano de 2000 o abastecimento de água atendia a 98,18% da população, e a coleta de lixo a 99,07% dos domicílios. O esgotamento sanitário é um grave problema encontrado no município. A rede coletora de esgoto não é suficiente para atender a população, residente e flutuante, apesar dos investimentos realizados nos últimos anos.

Segundo a Agem, a redistribuição espacial da população foi mais acentuada na década de 90, pois antes havia uma maior concentração de habitantes junto à orla, principalmente, na região compreendida entre a praia do Boqueirão (onde está localizado o centro da cidade) e a praia do Ocian. No decorrer dos anos 90, o forte crescimento do setor da construção civil, que ocorreu em função de uma série de obras de infra-estrutura, paisagismo e urbanização, acabou atraindo milhares de famílias de baixa renda para o município.

Em busca de empregos oferecidos pelas empreiteiras e construtoras, a chegada dessa população acabou provocando um imenso inchaço populacional na região compreendida entre a atual Via Expressa Sul, a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e a Serra do Mar com o surgimento de bairros extensos, na sua grande maioria, constituídos por uma população bastante empobrecida como, por exemplo, o Jardim Quietude, Ribeirópolis, entre outros.

Neste contexto, a Via Expressa Sul, que corta o município, funciona como uma espécie de eixo ou marco divisor entre classes sociais distintas, sendo que as

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classes sociais de maior poder aquisitivo permanecem próximas à orla, enquanto que os estratos de média e baixa renda se distanciam e até mesmo ultrapassavam esse marco divisor, na medida que não conseguem adquirir unidades residenciais em áreas mais valorizadas, numa espécie de estratificação social definida por setores distintos.

Desse modo, quanto mais distante da orla mais empobrecidos se tornam os bairros, com infra-estrutura deficitária e ocupados por populações de menor poder aquisitivo.

Com as informações apresentadas é fácil notar um quadro de diversidades internas ao município de Praia Grande, bem como a importância de se entender a composição, em termos de redistribuição interna, da população. Nesse sentido, os próximos tópicos são destinados a análise da dinâmica demográfica que privilegiou o município como um centralizador de alguns movimentos migratórios.

Análise da dinâmica demográfica

Algumas características físicas da baixada santista, como a má qualidade do solo, e a valorização da terra para fins urbanísticos, como apontam Queiroz Neto e Küpper (1965), confere à região uma especificidade em termos de grau de urbanização, mostrando que boa parte da população, quase 100%, atualmente vive em áreas urbanas, enquanto que para o Estado de São Paulo esse valor é de um pouco mais de 93%. Praia Grande, por exemplo, desde a década de 1970 a população é 100% urbana.

Em termos demográficos, a despeito do pequeno aumento da participação da Região no contexto do Estado, nota-se uma queda expressiva da taxa anual de crescimento, que no período de 1970/80 foi de 3,9% com redução para 2,2% em 1980/91 e 2,1% em 1991/2000. Tendo em vista o crescimento significativo de vários municípios “periféricos” da região, como Bertioga com um crescimento de 11,29% em 1991/2000, percebe-se que este declínio na taxa de crescimento regional pode

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principal da região formado pelo município sede de Santos e São Vicente (Jakob, 2003).

Praia Grande destaca-se na RMBS como um dos municípios com maior crescimento populacional nas últimas décadas, passando de um pouco mais de 19 mil em 1970 para 60 mil em 1980 e mais de 193 mil em 2000, segundo os dados dos censos demográficos do IBGE. Dessa forma, o município passa de uma representatividade, em termos populacionais, de 3% em 1970 para mais de 13% em 2000.

Tabela 2. Volume populacional e Taxas de Crescimento, RMBS, 1970-2000

População Total Taxa de crescimento (% a.a.)

Municípios 1970 1980 1991 2000

Nº ABS %RMBS Nº ABS %RMBS Nº ABS %RMBS Nº ABS %RMBS 70/80 80/91 91/2000 Bertioga (*) - - - - 11.473 0,94 30.039 2,03 - - 11,3 Cubatão 50.906 7,79 78.631 8,18 91.136 7,47 108.309 7,33 4,4 1,4 1,9 Guarujá 94.021 14,39 151.120 15,72 210.207 17,23 264.812 17,93 4,9 3,0 2,6 Itanhaém 14.515 2,22 27.464 2,86 46.074 3,78 71.995 4,88 6,6 4,8 5,1 Mongaguá 5.213 0,80 9.928 1,03 19.026 1,56 35.098 2,38 6,7 6,1 7,0 Peruíbe 6.966 1,07 18.411 1,92 32.773 2,69 51.451 3,48 10,2 5,4 5,1 Praia Grande 19.694 3,01 66.004 6,87 123.492 10,12 193.582 13,11 12,9 5,9 5,1 Santos 345.630 52,89 416.677 43,35 417.450 34,21 417.983 28,30 1,9 0,0 0,0 São Vicente 116.485 17,83 193.008 20,08 268.618 22,01 303.551 20,55 5,2 3,1 1,4 Total RMBS 653.430 100,00 961.243 100,00 1.220.249 100,00 1.476.820 100,00 3,9 2,2 2,1 Estado SP 17.771.948 25.042.074 31.588.925 37.032.403 3,5 2,1 1,8

Fonte: Censo Demográfico, 1970-2000. Tabulações especiais – Nepo/Unicamp

Com os dados apresentados, pode-se considerar que as taxas de crescimento do município de Praia Grande são relativamente altas se comparadas às médias dos demais municípios da RMBS.

A densidade por domicílios (Figura 2), número médio de pessoas por domicílio, foi calculada para cada setor censitário. A visualização desta variável indica que há uma diminuição do seu valor em praticamente todo o município. De fato a média para a variável vai de 3,34 em 1991 para 3,19 em 2000, em termos de volume, os domicílios passam de 32 para 55 mil nesse período, o que implica em uma taxa de crescimento de 6% ao ano. 4

4

Uma ressalva deve ser feita com relação a essa análise, uma vez que existe um volume razoável do domicílios ditos ocasionais no município. Em 1991 o valor para essa característica era de 63% em 1991 enquanto que em 2000 a porcentagem passou pra 58. (Dados obtido em : Cunha , Jakob e Young (2006)).

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Figura 2.

Grande parte do crescimento populacional de Praia Grande se deve ao componente migratório, fenômeno que sempre esteve ligado ao processo de expansão do município como consolidação em termos de importância para a região.

Segundo Carvalho & Rigotti (1998), o saldo migratório corresponde à contribuição das migrações ao crescimento populacional do período analisado. Desse modo, analisando-se a Tabela 3, verifica-se que desde a década de 70 Praia Grande vem passando por um significativo processo de crescimento, com saldos migratórios sempre positivos. Nota-se que, na última década (entre 1991 e 2000) o crescimento total absoluto de Praia Grande foi ainda mais acentuado, correspondendo ao valor 70.090 pessoas com um crescimento vegetativo de 17.719. Consequentemente, o saldo migratório positivo de 52.371.

Em termos regionais nota-se que na década de 70, a RMBS apresentou um crescimento total acentuado de 307.813 pessoas com saldo migratório de 155.775, decrescendo (247.533 pessoas) entre 1980 e 1991 com saldo migratório de 52.988, e voltando a crescer (256.571 pessoas) na última década entre 1991 e 2000 com um

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saldo migratório para 118.035. Como vimos anteriormente, a década de 80 foi marcada por uma forte crise financeira e pelo baixo crescimento econômico5.

Ao se comparar com os demais municípios da região, observa-se uma desaceleração do crescimento total absoluto do município de Santos bastante acentuada entre 1980 e 1991, com saldo migratório negativo de -45.290. Essa diminuição populacional permanece no período seguinte com um saldo migratório negativo de -19.782. Nesse caso, ao contrário de Praia Grande, o saldo migratório negativo demonstra que os migrantes que saíram e permaneceram fora de Santos até o final do período, que acrescidos dos efeitos indiretos, são em maior número.

No município de São Vicente também houve uma diminuição do crescimento total absoluto entre 1970/1980, de 76.523 pessoas, com um saldo migratório de 45.834 e no período de 1980/1991 com 75.610 pessoas e saldo migratório de 27.731. Nessa década de 1980/1991 percebe-se que o crescimento vegetativo é bastante representativo, com um valor de 47.879. Entre os anos de 1991 e 2000 percebe-se que o município apresenta um decrescimento ainda mais acentuado, no entanto, o saldo migratório (2.349) não chega a ser negativo como de Santos.

O município de Cubatão também apresenta um decréscimo populacional, principalmente, entre 1980 e 1991, com um saldo migratório negativo de -9.836. Já entre 1991 e 2000, o saldo migratório deixa de ser negativo, passando para o valor absoluto de 2.043. O município de Guarujá também sofre decréscimos do crescimento total absoluto ao longo do período analisado, porém em menor proporção, quando comparado com Santos, São Vicente e Cubatão.

5 A década de 80 é considerada a década perdida da economia brasileira, na medida que os níveis de

crescimento do PIB apresentaram significativas reduções, só para recordar o crescimento médio na década de 70 foi de 7%, já na década de 80 foi de somente 2%. O período compreendido entre 1980 e 1984 marca o início de uma crise econômica no país devido ao seus desajustes macroeconômicos que geravam taxas insuportáveis de inflação o que de fato impedia o sucesso de qualquer plano de crescimento econômico. Além disso, tivemos um aumento do déficit público devido ao crescimento da divida externa ocasionada pela elevação das taxas internacionais de juros, com a divida interna seguindo a mesma direção com o governo dando continuidade a sua política fiscal expansionista. Ainda para caracterizar a década de 80, podemos citar a escalada inflacionária que chegou no final de 89 perto do que podemos considerar como hiperinflação.

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Tabela 3. Componentes do Crescimento, RMBS, 1970-2000 1970/80 1980/91 1991/00 Municípios CT CV SM CT CV SM CT CV SM - - - 18.566 3.122 15.444 Bertioga (*) - - - 100% 17% 83% 27.725 16.200 11.525 12.505 22.341 -9.836 17.173 15.130 2.043 Cubatão 100% 58% 42% 100% 179% -79% 100% 88% 12% 57.099 30.147 26.952 59.087 45.413 13.674 54.605 33.779 20.826 Guarujá 100% 53% 47% 100% 77% 23% 100% 62% 38% 12.949 4.670 8.279 18.610 8.474 10.136 25.921 6.958 18.963 Itanhaém 100% 36% 64% 100% 46% 54% 100% 27% 73% 4.715 1.217 3.498 9.098 2.678 6.420 16.072 2.752 13.320 Mongaguá 100% 26% 74% 100% 29% 71% 100% 17% 83% 11.445 2.370 9.075 14.362 5.618 8.744 18.678 6.177 12.501 Peruíbe 100% 21% 79% 100% 39% 61% 100% 33% 67% 46.310 4.363 41.947 57.488 16.079 41.409 70.090 17.719 52.371 Praia Grande 100% 9% 91% 100% 28% 72% 100% 25% 75% 71.047 62.382 8.665 773 46.063 -45.290 533 20.315 -19.782 Santos 100% 88% 12% 100% 5959% -5859% 100% 3811% -3711% 76.523 30.689 45.834 75.610 47.879 27.731 34.933 32.584 2.349 São Vicente 100% 40% 60% 100% 63% 37% 100% 93% 7% 307.813 152.038 155.775 247.533 194.545 52.988 256.571 138.536 118.035 Total RMBS 100% 49% 51% 100% 79% 21% 100% 54% 46%

CT: Crescimento Total; CV: Crescimento vegetativo; SM: Saldo Migratório Fonte: IBGE: Censos Demográficos 1970 a 2000,

e Fundação Seade

Os municípios de Mongaguá, Peruíbe e Itanhaém, assim como Praia Grande (e ao contrário dos municípios mais centrais da região), crescem consideravelmente ao longo do período analisado com saldos migratórios sempre positivos e crescentes. Esse fato revela-se interessante, pois confirma a existência de fluxos migratórios entre os municípios da região, principalmente, em direção ao litoral sul.

Na medida que, esses municípios da região foram se estruturando e as ofertas de trabalho, infra-estrutura, serviços e habitações se consolidando em entorno da área central da RMBS, esse movimento migratório tornou-se mais acentuado.

Percebe-se que as migrações não ocorrem de forma aleatória sobre o espaço, apresentam uma dimensão coletiva (processo social) e certas regularidades que se devem ao caráter cíclico, recorrentes da lógica socioeconômica que as presidem. Assim, as especificidades que essa lógica confere, no tempo e no espaço, às regularidades presentes nos fluxos populacionais, constituem um padrão que pode sofrer alterações em face da sua natureza socioeconômica e,

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No próximo tópico faz-se um apanhado geral da migração intrametropolitana da região e a importância do município de Praia Grande nesse contexto.

Dada a importância do componente migratório para o crescimento e consolidação da RMBS, em especial e recentemente para o município de Praia Grande, este tópico tem a intenção de apresentar uma breve análise dos componentes migratórios.

Migração

A importância da migração na constituição social, econômica e demográfica de uma região como a Baixada Santista é inegável. Desse modo, analisando a expansão urbana da RMBS, Jakob (2003) mostra que, nos anos 1970, 61% dos migrantes não naturais que chegavam à região provinham do próprio Estado de São Paulo, valor que chega a 70% nos anos 1980 (Cunha et al., 2006).

Pela informação de data-fixa, ou seja, município de residência 5 anos atrás, mostrada na tabela 4, a mobilidade intrametropolitana, em termos de imigrantes e emigrantes, da Baixada aumentou em quase 13 mil pessoas no período de 1986/1991 para 1995/2000, um incremente de mais de 30%.

Como já foi incitado pelo texto, através da discussão a respeito da desconcentração populacional na região, é de se esperar que esse aumento das movimentações internas venha acompanhado por mudanças na configuração de tais mobilidades, em termos de origem e destino dos migrantes. Nesta linha, como pode ser notado na tabela 4, o município de Santos (que já deteve boa parte dos migrantes), ainda recebe população dos outros municípios da região, inclusive é possível observar que há um aumento nessa categoria. Em contrapartida a essa imigração, constata-se uma perda significativa, cujo volume representa mais de 5 vezes a primeira, mostrando que o local realmente perde população, em termos de migração intrametropolitana.

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A tabela 4 mostra, para Praia Grande, que a taxa de imigração aumentou de 0,15 para 0,19 no período, apresentando, portanto, um incremento da imigração intrametropolitana da ordem de 55%. A representatividade dessa imigração, em 86/91, é de quase 22% com relação ao total de movimentações internas da RMBS, sendo que em 2000 passa para mais de 25%. Por outro lado, a emigração, em termos percentuais, é bem menor, representando 6% no primeiro período e 7% em 95/2000, fato que mostra a importância do município de Praia Grande, se posicionando como um dos mais importantes em termos de áreas de atração da RMBS, ao menos no que se refere à dinâmica interna.

Tabela 4. Composição da Migração Intrametropolitana, RMBS, Santos e Praia Grande – 1986/1991 e 1995/2000

RMBS Santos Praia Grande

Migração intrametropolitana

1986/1991 1995/2000 1986/1991 1995/2000 1986/1991 1995/2000 Volume de Imigrantes 41.054 53.994 4.283 8.363 8.884 13.766 Taxas de Imigração (%a.a.) 0,67 0,73 0,07 0,11 0,15 0,19 Volume de Emigrantes 41.054 53.994 23.750 25.760 2.444 4.156 Taxas de Emigração (%a.a.) 0,67 0,73 0,39 0,35 0,04 0,06

Fonte: IBGE: Censos Demográficos, 1991 e 2000

O período de 1986/1991 evidencia a importância do município de Praia Grande, em termos de redistribuição interna, para o processo de expansão urbana.

A seguir, apresenta-se uma matriz migratória, tabela 5, que privilegia os movimentos intra-urbanos.

Tabela 5. Movimento migratório intrametropolitano, RMBS, 1986-1991

Região Atual

Região em

1986 Cubatão GuarujáItanhaém Mongaguá Peruíbe Praia Grande Santos São Vicente Total

Cubatão . 292 . . 13 800 365 1.948 3.418 Guarujá 314 . 48 72 55 277 1.073 941 2.780 Itanhaém . 125 . 133 130 79 117 141 725 Mongaguá . 66 157 . . 239 11 6 479 Peruíbe . 48 130 38 . 36 130 94 476 Praia Grande 69 233 132 234 86 . 565 1.125 2.444 Santos 1.295 2.619 468 237 424 3.785 . 14.922 23.750 São Vicente 423 492 124 144 109 3.668 2.022 . 6.982 Total 2.101 3.875 1.059 858 817 8.884 4.283 19.177 41.054

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Essa tabela mostra que dentre os 41 mil migrantes intrametropolitanos do período 1986/1991, quase 24 mil tiveram Santos como origem (58% da migração).

É possível notar também que Praia Grande se destaca nesse cenário migratório, com um volume de migrantes intrametropolitanos perdendo apenas para São Vicente, que por sua vez, recebe cerca de 15 mil pessoas de Santos, sendo estes municípios altamente conurbados.

No caso específico da corrente migratória do município de Praia Grande estabelecida com Santos, pode-se notar, pela tabela 5, que esta envolve 3,8 mil pessoas, enquanto a contra-corrente6 alcança apenas 565 pessoas.

Esse quadro de migrações mostra que o município estava canalizando boa parte dos migrantes internos à região, provenientes principalmente do centro da região, onde se encontrava entre os principais destinos: São Vicente (19 mil pessoas ou 47% da imigração) e Praia Grande (8,9 mil pessoas ou 22% da migração) no período 1986/1991.

Com os dados do Censo Demográfico de 2000, nota-se que no incremento do volume de migrações recentes da região, Praia Grande tem grande participação, principalmente através dos fluxos que envolvem o núcleo – Santos e São Vicente, que por sinal diminuem em um pouco mais de mil migrantes (Santos a São Vicente) entre o período.

A Tabela 6 traz os fluxos migratórios intrametropolitanos dos migrantes segundo data fixa, para 2000.

6

O termo “contra-corrente” ou “contra-fluxo” é utilizado, em geral, para identificar o fluxo populacional de menor volume e em direção inversa envolvendo duas áreas.

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Tabela 6. Movimento migratório intrametropolitano, RMBS, 1995-2000

Região 2000

Região em 1995 Bertioga Cubatão Guarujá Itanhaém Mongaguá Peruíbe

Praia

Grande Santos São Vicente Total

Bertioga . 14 59 . 20 9 . 114 . 216 Cubatão 10 . 162 26 162 55 961 1.153 1.212 3.731 Guarujá 649 93 . 290 115 191 808 1.829 998 4.324 Itanhaém . . 52 . 141 335 109 77 112 826 Mongaguá . . 14 178 . 61 241 53 82 629 Peruíbe . 38 48 267 159 . 80 231 148 971 Praia Grande 34 250 404 447 472 350 . 751 1.448 4.122 Santos 329 1.209 3.233 642 354 437 5.672 . 13.884 25.431 São Vicente . 722 652 414 493 391 5.895 4.155 . 12.722 Total 1.022 2.312 4.565 2.264 1.896 1.820 13.766 8.249 17.884 52.756

Fonte: IBGE: Censos Demográficos, 2000.

As correntes migratórias tanto de Santos quanto de São Vicente ao município de Praia Grande aumenta por volta de duas mil pessoas cada. Em contrapartida, as contra-correntes aumentam, mas ainda se mantém em valores pequenos, uma vez que a emigração do município totaliza um pouco mais de 4 mil pessoas com destino à própria região.

Uma outra característica importante que se nota com essa matriz migratória está na ligação entre Guarujá e Praia Grande, onde a imigração para esta última é de 808 pessoas, enquanto que no período anterior foi de 207.

Os dados apresentados mostram que o vetor de expansão em direção à Praia Grande, parece se fortalecer ainda mais, uma vez que os municípios de Itanhaém e Mongaguá aumentam o volume de imigrantes, inclusive os provenientes de Praia Grande.

Nesse contexto, a relação entre os movimentos populacionais internos da região metropolitana da Baixada Santista aponta para a consolidação do intenso processo de metropolização, no qual os deslocamentos populacionais se configuram como elementos constitutivos destes novos espaços.

Portanto, nesta temática, Praia Grande não só mantém a característica de área de atração migratória, como também aumenta consideravelmente seus volumes migratórios, e estreita os laços com os demais municípios.

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Tabela 7. Trocas migratórias intrametropolitana, RMBS, 1986-1991,1995-2000 1986/1991 1995/2000

Município SM Troca com PG SM Troca com PG

Bertioga . . 806 -34 Cubatão -1.317 731 -1.419 711 Guarujá 1.095 44 241 404 Itanhaém 334 -53 1.438 -338 Mongaguá 379 5 1.267 -231 Peruíbe 341 -50 849 -270 Praia Grande 6.440 . 9.644 . Santos -19.467 3.220 -17.182 4.921 São Vicente 12.195 2.543 5.162 4.447

Fonte: IBGE: Censos Demográficos, 1991 e 2000

Com relação ao saldo migratório do município, nota-se que Santos é o município que possui um alto valor negativo em 1986/1991, e que mantém esse patamar na década seguinte. Cubatão também aparece nesse quadro, salvo que a dimensão que é menor, uma vez que a população desse município é quatro vezes menor que a de Santos. Já o município de São Vicente parece seguir a mesma tendência de Santos, mas ainda possui um saldo positivo.

Com relação às trocas migratórias entre Praia Grande e os demais, nota-se que o saldo migratório deste é altamente influenciado por Santo e São Vicente, enquanto está perdendo população para Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, mostrando que o vetor de expansão nessa direção está se fortalecendo, inclusive, com as trocas migratórias com Praia Grande.

Conclusão

Como se constata na Baixada Santista, o processo de metropolização e conseqüente fragmentação do espaço produzem um movimento constante de atração-expulsão da população do centro para a periferia e vice-versa. Na RMBS, os fluxos de pessoas intensificam-se e tornam-se constantes. Neste contexto, alguns fatores, como as indústrias de Cubatão, as vias de acesso, as obras de

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infra-estruturas, o foco em alguns pontos turísticos, etc., ajudam a explicar a conformação do espaço.

Observa-se que a relação entre os movimentos populacionais intrametropolitanos da Baixada Santista de fato apontam para a consolidação do intenso processo de metropolização, no qual os deslocamentos populacionais se configuram como elementos constitutivos dessas transformações.

Em grande parte dos municípios da RMBS, é expressiva a participação da migração no crescimento da população, tanto nos períodos entre 1986/1991 como1991/2000.

A formação do entorno imediato de Santos e São Vicente, que se intensifica nos anos 80, articula-se aos expressivos fluxos migratórios oriundos da sede metropolitana para Praia Grande – onde a migração precedente de Santos, por exemplo, responde a imensa maioria do total da migração intrametropolitana.

Nos anos 90, agrega-se a essa dinâmica os municípios de Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe em direção ao litoral sul.

No que diz respeito aos deslocamentos intrametropolitanos envolvendo o município de Praia Grande nos períodos analisados entre 1986/1991 e 2000, conclui-se que este município aparece principalmente como área receptora. Praia Grande não só mantém essa característica de área de atração migratória (detectada entre 1986-1991), como também aumenta consideravelmente seus volumes migratórios no período entre 1991 e 2000, reforçando ainda mais os laços com os demais municípios, bem como garantindo uma posição de destaque na região.

Contudo, o processo atual de expansão urbana da região é impulsionado para o sul, conferindo atualmente ao município de Praia Grande importância relevante, em termos demográficos, para a RMBS, com Santos e São Vicente marcando um importante papel no processo de expulsão populacional em termos intrametropolitanos.

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