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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE FISIOTERAPIA GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA. Raphaela Ornellas Duque

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FACULDADE DE FISIOTERAPIA GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

Raphaela Ornellas Duque

Prevalência do medo de cair em idosos e correlação com idade, autopercepção de saúde, dificuldade para andar, uso de dispositivo auxiliar da marcha e

histórico de quedas

Juiz de Fora 2016

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Prevalência do medo de cair em idosos e correlação com idade, autopercepção de saúde, dificuldade para andar, uso de dispositivo auxiliar da marcha e

histórico de quedas

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Fisioterapia, da Universidade Federal de Juiz de Fora como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia.

Área de concentração: Saúde do Idoso

Orientadora: Profa. Ma. Danielle Teles da Cruz

Coorientadora: Profa. Dra. Isabel Cristina Gonçalves Leite

Juiz de Fora 2016

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Agradeço primeiramente a Deus. Sem a tua luz e sabedoria, eu não teria seguido por este caminho. Sua presença foi imprescindível em todos os momentos.

Em especial, agradeço à minha querida orientadora Danielle Teles. Saiba que você não foi escolhida à toa. Em pouco tempo de convívio foi possível perceber quão grandiosa e excepcional educadora você é. Estou certa de que ganhei uma grande amiga de vida e de profissão, pela qual tenho grande admiração! Muito obrigada pela confiança e por todo o aprendizado!

Muito obrigada também à querida coorientadora Isabel Leite. Suas sugestões e conselhos foram excepcionais. Obrigada pela parceria!

Não posso deixar de agradecer a todos os amigos que participaram do projeto, especialmente às meninas Carla, Marcélia, Glenda, Priscila, Quéren e Mariana e ao Felipe. Vocês fizeram das minhas manhãs de sábado as melhores e mais divertidas possíveis. Como se esquecer dos óculos fashion da Marcelia, dos perrengues da Glenda com o seu celular de última geração (#soquenão), da Mariana e seus inseparáveis dados do SPPS, da Quéren sempre tranquila e calma, da Priscila e a “lenda dessa paixão chamada Sandy e Júnior” e da mais animada de todas, Carlinha, sempre com sua vibe inspiradora do dia, às 5 da manhã... Vocês foram grandes companheiras. Foi um prazer conhecê-las!!

À banca, composta pelas professoras Claudia Cerqueira Mármora e Renata Alvarenga Vieira, agradeço por aceitarem meu convite e pela disponibilidade. Obrigada por todas as orientações e sugestões, com certeza enriquecerão meu trabalho.

Gostaria de agradecer à toda a minha família, que sempre torceu por mim e esteve presente em todos os momentos ao meu lado. Este não seria diferente. Especialmente à minha mãe, meu pai e minha irmã, Carol. Vocês que estiveram comigo nos momentos sofridos de construção deste trabalho e que agora compartilham dessa vitória, que também é de vocês!!

Agradeço ao meu namorado Hugo, que acompanhou a construção deste trabalho desde o início. Obrigada pelo companheirismo e paciência de sempre; por compreender a minha constante ausência e por me dar força nos momentos de dúvida e de insegurança. Sem você não teria sido fácil.

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nos melhores e piores momentos. Obrigada pelo carinho e pela amizade e por sempre estarem dispostos a me ajudar.

Por fim, o meu muito obrigada a todos os idosos que fizeram parte deste projeto. Obrigada por nos receberem em suas casas e por nos fazer sentir pessoas especiais. Vocês são fonte de inspiração às quais me motivam a seguir nesta bela profissão.

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O envelhecimento populacional é uma realidade mundial. Portanto, faz-se necessário compreender e analisar o perfil desta população. Dentro desta perspectiva, o medo de cair é comumente encontrado entre os idosos e está entre as maiores preocupações associada ao processo de envelhecimento, seus resultados impactam de forma negativa a saúde e a qualidade de vida desta população. O objetivo do estudo foi verificar a prevalência do medo de cair em uma população de idosos residentes na comunidade e investigar sua correlação com idade, auto percepção de saúde, dificuldade para andar, uso de dispositivo auxiliar e histórico de quedas. Trata-se de um estudo transversal, realizado por meio de inquérito domiciliar, com amostra composta por 314 idosos com idade superior a 60 anos, não institucionalizados, residentes na cidade de Juiz de Fora (MG). A coleta de dados ocorreu entre outubro de 2014 a março de 2015. O medo de cair foi avaliado através da Falls Efficacy Scale – Internacional – Brasil (FES-I-BRASIL). Os dados foram submetidos à análise descritiva para a obtenção de frequências absoluta e relativa das variáveis analisadas, assim como da prevalência do desfecho investigado. Para verificar a correlação das variáveis independentes com o medo de cair, foi utilizada correlação de Spearman. O nível de significância do estudo foi de 5%. A prevalência do medo de cair entre os idosos foi de 95,2% (IC95% = 92,3; 97,3). O medo de cair correlacionou-se com todas as variáveis analisadas (p < 0,05): idade (r = 0,174), autopercepção de saúde (r = 0,301), dificuldade para andar (r= 0,482), uso de dispositivo auxiliar da marcha (r = 0,337) e histórico de quedas (r = -0,180). Dentre as atividades presentes na FES-I-BRASIL que representaram maior preocupação em cair para os idosos, destacam-se: tomar banho, subir ou descer escadas, caminhar sobre a superfície irregular, subir ou descer uma ladeira e andar sobre uma superfície escorregadia. O medo de cair é frequente na população idosa e deve ser considerado como um problema de saúde pública. Novas estratégias de reabilitação, prevenção e promoção à saúde devem ser elaboradas, contribuindo para a manutenção da independência funcional e garantia da qualidade de vida desta população.

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Population aging is a global reality. Therefore, it is necessary to understand and analyze the profile of this population. From this perspective, the fear of falling is commonly found among older people and is among the major concerns associated with the aging process, its results impact negatively the health and quality of life of this population. The aim of the study was to investigate the prevalence of fear of falling among a population of elderly residents in the community and investigate its correlation with age, self perceived health, difficulty walking, assist device use and history of falls. It is a cross-sectional study, conducted through a household survey with a sample of 314 elderly aged over 60 years, not institutionalized, living in the city of Juiz de Fora (MG). Data collection took place between October 2014 and March 2015. The fear of falling was assessed using the Falls Efficacy Scale - International - Brazil (FES-I-BRAZIL). Data were submitted to descriptive analysis to obtain absolute and relative frequencies of the variables, as well as the prevalence of outcome studied. To verify the correlation of the independent variables with the fear of falling, Spearman correlation was used. The level of significance in the study was 5%. The prevalence of fear of falling among the elderly was 95.2% (95% CI 92.3; 97.3). Fear of falling was correlated with all variables (p < 0.05): age (r = 0.174), self-rated health (r = 0.301), difficulty walking (r = -0.482), use of auxiliary gear device (r = 0.337) and history of falls (r = -0.180). Among the activities present in the FES-I-BRAZIL representing greater concern about falling for the elderly, include: bathing, up or down stairs, walking on the uneven surface, go up or down a slope and walk on a slippery surface. Fear of falling is common in the elderly and should be considered as a public health problem. New rehabilitation strategies, prevention and health promotion should be developed, contributing to the maintenance of functional independence and guarantee the quality of life of this population.

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Tabela 1 – Características demográficas e socioeconômicas de 314 idosos. Juiz de Fora, MG, 2015 ... 42 Tabela 2 – Perfil de saúde de 314 idosos. Juiz de Fora, MG, 2015 ... 44 Tabela 3 – Preocupação em cair segundo as atividades da FES-I-BRASIL.

Juiz de Fora, MG, 2015 ... 45 Tabela 4 – Correlação entre medo de cair e as variáveis analisadas ... 46

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ABC Activities Specific Balance Confidence Scale ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa FES-I-BRASIL Falls Efficacy Scale – Internacional – Brasil FES-I Falls Efficacy Scale

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC Intervalo de Confiança

MEEM Mini Exame do Estado Mental

MG Minas Gerais

NATES Núcleo de Assessoria, Treinamento e Estudos em Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

PRoFaNE Prevention of Falls Network Europe

SAFFE The Survey of Activities and Fear of Falling in the Elderly SPSS Statistical Package for Social Sciences

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora

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% Porcentagem

< Menor

R Coeficiente de correlação de Spearman

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1 INTRODUÇÃO ... 11

2 REVISÃO DE LITERATURA ... 13

2.1 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL ... 13

2.2 ENVELHECIMENTO HUMANO ... 16

2.3 DISPOSITIVOS AUXILIARES DA MARCHA ... 20

2.4 AUTOPERCEPÇÃO DE SAÚDE ... 23 2.5 QUEDAS ... 25 2.6 MEDO DE CAIR ... 27 3 HIPÓTESE ... 31 4 OBJETIVOS ... 32 4.1 OBJETIVO GERAL ... 32 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 32 5 MATERIAIS E MÉTODOS ... 33 5.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO ... 33 5.2 AMOSTRAGEM E POPULAÇÃO ... 33 5.3 COLETA DE DADOS ... 35 5.4 VARIÁVEIS DO ESTUDO ... 36 5.4.1 Variável dependente ... 36 5.4.2 Variáveis independentes ... 37

5.5 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 38

5.5.1 Mini Exame do Estado Mental (MEEM) ... 38

5.5.2 Questionário semiestruturado ... 39

5.5.3 Falls Efficacy Scale – Internacional – Brasil (FES-I-BRASIL) ... 39

5.6 ANÁLISE DOS DADOS ... 40

6 RESULTADOS ... 42

7 DISCUSSÃO ... 47

8 CONCLUSÃO ... 51

REFERÊNCIAS ... 52

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1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. O aumento da proporção da população idosa ocorre de forma acelerada e contínua, especialmente nos países em desenvolvimento (VERAS, 2009; VERAS, 2012b). No Brasil, o envelhecimento acontece em passos largos. A queda das taxas de fecundidade e mortalidade e o aumento da expectativa de vida alteram a estrutura etária, diminuindo progressivamente a base da pirâmide populacional (CARVALHO; RODRIGUEZ-WONG, 2008; VASCONCELOS; GOMES, 2012). Segundo a Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade 2000-2060 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013), a população idosa brasileira passará de 23 milhões de idosos em 2014 para mais de 73 milhões em 2060. Um crescimento de 317% em menos de 50 anos.

Como parte de um processo progressivo e dinâmico, o envelhecimento promove um declínio gradual das funções fisiológicas, diminuindo a capacidade orgânica do idoso. Alterações musculoesqueléticas, sensoriais, cardiopulmonares e modificações no sistema nervoso são algumas das mudanças que comprometem o funcionamento dos principais sistemas fisiológicos, tornando o idoso mais vulnerável ao desenvolvimento de eventos adversos à sua saúde (CIOSAK et al., 2011; FECHINE; TROMPIERI, 2012). O acúmulo dessas alterações compromete o desempenho funcional e gera repercussões no equilíbrio, postura e marcha dos idosos, prejudicando sua mobilidade (ALOUCHE; SILVA, 2009; GERVÁSIO et al., 2012; MEIRELES et al., 2010).

A fim de compensar estes déficits, os dispositivos auxiliares para a marcha são um dos recursos utilizados por muitos idosos (RICO et al., 2015). Eles facilitam a execução das atividades de vida diária e trazem mais segurança para o idoso, possibilitando uma vida independente e com mais autonomia (BRADLEY; HERNANDEZ, 2011; MELLO, 2009). Entretanto, o uso ou prescrição inadequada e a falta de adaptação e treino com o dispositivo podem gerar efeitos negativos para a saúde do idoso, como risco para quedas e insegurança (BATENI; MAKI, 2005; RICO et al., 2015).

A autopercepção de saúde é um indicador multidimensional que engloba diversos fatores e abrange desde aspectos biológicos a questões sociais e

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psíquicas. Tem se revelado um método confiável e um robusto indicador do estado de saúde global do idoso devido ao seu elevado valor preditivo de declínio funcional e mortalidade. Assim, tem assumido papel de destaque nas avaliações e sua utilização tem sido cada vez mais frequente nas pesquisas gerontológicas (BORIM; BARROS; NERI, 2012; CONFORTIN et al., 2015; SILVA, R. J. S. et al., 2012).

O declínio da capacidade funcional decorrente das alterações do envelhecimento e a dificuldade de adaptação ao ambiente deixam os idosos mais susceptíveis a quedas (CRUZ et al., 2012). Reconhecida atualmente como um problema de saúde pública, as quedas estão associadas a altos índices de morbidade, institucionalização e morte, além do alto custo envolvido com as frequentes lesões decorrentes deste evento. Suas repercussões ultrapassam as questões físicas e trazem complicações a nível social e psicológico (ANTES; D’ORSI; BENEDETTI, 2013; CAVALCANTE; AGUIAR; GURGEL, 2012; GASPAROTTO; FALSARELLA; COIMBRA, 2014; OLIVEIRA et al., 2014).

Entre as principais consequências psicológicas citadas por idosos que sofreram quedas está o medo de cair. Assim como as quedas, o medo de cair tornou-se um grave problema de saúde para os idosos, pela alta frequência com que é observado e por estar associado a desfechos de saúde negativos, incluindo restrição de atividades, declínio do desempenho físico, institucionalização e morte (ANTES et al., 2013; DIAS et al., 2011). Por ser uma das principais causas de perda de autonomia e independência, o medo de cair está entre as maiores preocupações associada ao processo de envelhecimento (ANTES et al., 2013; MOREIRA et al., 2013). Associado ou não a uma queda anterior, sua etiologia é multifatorial e envolve influências físicas, comportamentais, ambientais e funcionais (LEGTERS, 2002; MOREIRA et al., 2013; PIMENTEL e SCHEICHER, 2013).

Devido a sua relevância clínica e a complexidade de suas consequências, o objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência do medo de cair em uma população de idosos residentes na comunidade e verificar sua correlação com idade, autopercepção de saúde, necessidade de ajuda para andar, uso de dispositivo auxiliar para marcha e histórico de queda.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

O envelhecimento populacional é um fenômeno observado mundialmente. (KALACHE, 2008; VERAS, 2009; VERAS, 2012a; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015). A proporção de idosos de 60 anos ou mais de idade passou de 9,7%, em 2004, para 13,7%, em 2014 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2015). A Organização Mundial de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015) estima que, em 2050, a população idosa irá representar entre 25% a 29% da população brasileira. As projeções indicam ainda que este crescimento ocorre mais rapidamente em países em desenvolvimento. Enquanto a França levou 150 anos para se adaptar a uma alteração de 10 % para 20 % na proporção da população idosa, lugares como o Brasil, China e Índia terão um pouco mais de 20 anos para fazer a mesma adaptação (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).

No estado de Minas Gerais, a população idosa contava com mais de dois milhões e 200 mil idosos em 2013, representando 10,7% da população total. As estimativas revelam que o número de idosos mineiros mais que duplicará até 2030, compondo 20,7% da população do estado – um acréscimo de 9% em menos de 20 anos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013). Já na cidade mineira de Juiz de Fora, as últimas estimativas disponíveis do IBGE, que são do ano de 2010, revelam que o número de pessoas com 60 anos ou mais de idade equivale a 13,6% da população do município, totalizando mais de 70 mil idosos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010b).

Diferentemente dos países desenvolvidos, cujo processo teve início nos primeiros anos do século XX, o envelhecimento da população brasileira se estabeleceu seis décadas depois (LEBRÃO, 2007; VERAS, 2009) O impulso dado ao sistema de saúde e a ação médico-sanitarista proporcionada pelo Estado, contribuíram para um rápido declínio da mortalidade em 1940 que, associada à elevada taxa de fecundidade, permitiu o crescimento populacional, mas sem provocar mudanças na estrutura etária da população. Em 1960, incentivada pelos

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processos de urbanização, incorporação da mulher no mercado de trabalho e disponibilidade dos métodos contraceptivos, a taxa de fecundidade sofreu redução abrupta e alterou o crescimento da população, provocando redução gradual da mesma (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014; LEBRÃO, 2007; VASCONCELOS; GOMES, 2012). As quedas acentuadas de mortalidade e, principalmente, de fecundidade, desencadearam a transformação do padrão da estrutura etária, dando início ao processo de envelhecimento populacional no Brasil com crescimento da população idosa e aumento da expectativa de vida populacional (CARVALHO; RODRIGUEZ-WONG, 2008; LEBRÃO, 2007; VASCONCELOS; GOMES, 2012). Em 2004, a expectativa de vida que era de 71,6 anos saltou para 75,1 anos em 2014 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍTICA, 2015).

O formato da pirâmide etária, até então piramidal, sofreu um estreitamento da base e passa a se desenhar em um formato retangular, anunciando o rápido processo de envelhecimento populacional brasileiro (CARVALHO; RODRIGUEZ-WONG, 2008; LEBRÃO, 2007; VASCONCELOS; GOMES, 2012).

A rapidez com que a transição demográfica brasileira foi processada modificou a incidência e a prevalência das doenças, gerando novos padrões de morbidade e mortalidade na população. A queda da mortalidade e, posteriormente, da fecundidade expõem os jovens e adultos a conviverem com fatores de risco para doenças crônico-degenerativas como doenças cardíacas, cerebrovasculares e neoplasias. Além disso, na medida em que o número de idosos e a expectativa de vida aumentam, as complicações relacionadas a estas doenças tendem a ser mais frequentes (DOBRIANSKY; SUZMAN; HODES, 2007; INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014; KALACHE, 2008; LEBRÃO, 2007; VASCONCELOS; GOMES, 2012; VERAS, 2012a; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).

Entretanto, ao contrário dos países desenvolvidos, no Brasil ainda persistem casos de doenças transmissíveis infecto-parasitárias simultaneamente às condições crônicas-degenerativas. Cria-se uma superposição de etapas no processo de transição epidemiológica, de forma que a morbidade permanece elevada por ambos os padrões. Além disso, a reintrodução de doenças como dengue e cólera indicam um caráter unidirecional de contra-transição, característica de países em desenvolvimento (LEBRÃO, 2007).

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Como consequência da alteração do perfil de morbidade desencadeada pela mudança do padrão demográfico e epidemiológico, o número elevado de doenças crônicas tende a aumentar os gastos nos sistemas de saúde, na medida em que demandam tratamentos mais caros e de longa duração. As afecções crônicas atingem principalmente a faixa etária dos idosos (BLOOM et al., 2011; VERAS, 2012b; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015). De acordo com o IBGE (2010), a população idosa declara possuir: 53,3% de hipertensão arterial sistêmica, 35,1% de doenças da coluna, 24,2% artrite ou reumatismo, 17,3% de doenças do coração e 16,1% de diabetes. Apenas 22,6% relataram não possuir nenhuma doença crônica. Configura-se, então, o grande gargalo e desafio do sistema de saúde brasileiro.

Teóricos apontam que o Brasil está envelhecendo antes de enriquecer. Em meio a uma economia frágil, níveis crescentes de pobreza e intensas desigualdades sociais, regionais e econômicas, o envelhecimento da população brasileira está ocorrendo sem que haja melhorias reais nas condições de vida dessa população (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014; LEBRÃO, 2007; VERAS, 2012b; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).

Assim, verifica-se que o Brasil não está suficientemente preparado para lidar com essa nova demanda, o que gera falta de amparo adequado do sistema público de saúde e da previdência (KALACHE, 2008; LEBRÃO, 2007; VERAS, 2012b). As aposentadorias e pensões constituem a principal fonte de renda da população idosa. Com o acelerado processo de transição demográfica, aumenta a população dependente e a relação beneficiários/contribuintes se eleva. Cria-se, então, um colapso no sistema de seguridade social, gerando a necessidade de reformulação das políticas vigentes (BLOOM et al., 2011; DOBRIANSKY; SUZMAN; HODES, 2007; INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014; ZANON; MORETTO; RODRIGUES, 2013).

Desafio semelhante é enfrentado pelos sistemas de saúde. Se, por um lado, os idosos apresentam maior carga de doenças e incapacidades e usam mais os serviços de saúde, por outro, o sistema público de saúde vigente se mostra ineficiente e de alto custo, sendo necessárias medidas inovadoras e criativas que atendam a essa população (VERAS, 2012a, 2012b).

Além do envelhecimento da sociedade, testemunhamos alterações nas estruturas familiares. Como as pessoas vivem mais e têm menos filhos, o perfil estrutural das famílias se modifica. Isso tem implicações importantes no que diz

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respeito à prestação de cuidados aos idosos e no desafio criado entre o aumento do convívio entre as diferentes gerações (DOBRIANSKY; SUZMAN; HODES, 2007).

Embora as alterações demográficas da população possam trazer importantes impactos a níveis sociais e econômicos, o envelhecimento populacional pode também proporcionar benefícios para a economia. É o que muitos autores denominam de “janela de oportunidades”. O aumento da dependência da população idosa é compensado pela queda acentuada de jovens dependentes, ou seja, um número maior de pessoas economicamente ativas vivendo por mais anos. Dentro desta perspectiva, há que se definir e implantar políticas públicas de maneira a tirar proveito dessas oportunidades geradas pelo novo padrão demográfico, tais como aquelas relacionadas aos investimentos em crianças e jovens além de reformas nas áreas da saúde e da previdência (BLOOM et al., 2011; CARVALHO; RODRIGUEZ-WONG, 2008; KALACHE, 2008; QUEIROZ; TURRA, 2010; ZANON; MORETTO; RODRIGUES, 2013).

Além disso, medidas preventivas e de promoção da saúde com o intuito de adiar o aparecimento de doenças e fragilidades – fenômeno também conhecido como compressão da morbidade – além de ações que incentivem a autonomia e independência da população idosa são essenciais, a fim de diminuir complicações secundárias e minimizar o impacto do envelhecimento sobre o sistema de saúde e assistência social (BLOOM et al., 2011; CARVALHO; RODRIGUEZ-WONG, 2008; DOBRIANSKY; SUZMAN; HODES, 2007; VERAS, 2012a, 2012b).

Portanto, diante das rápidas transformações demográficas epidemiológicas, torna-se de extrema relevância conhecer e compreender os aspectos que envolvem o envelhecimento humano bem como as alterações envolvidas neste processo.

2.2 ENVELHECIMENTO HUMANO

O envelhecimento fisiológico quanto fenômeno do ciclo evolutivo de vida é considerado um processo progressivo e dinâmico, ligado intimamente a fatores biológicos, psíquicos e socioambientais. Tal processo é marcado por modificações bioquímicas, morfológicas e funcionais que acarretam a diminuição da reserva funcional dos órgãos e sistemas e provocam dificuldade do organismo em manter a

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homeostase diante de situações de sobrecarga funcional (CIOSAK et al., 2011; FECHINE; TROMPIERI, 2012; MORAES, E. N.; MORAES, F. L.; LIMA, 2010).

No entanto, essas alterações típicas do envelhecimento não significam necessariamente doença, embora a probabilidade do seu surgimento seja maior com o avanço da idade, uma vez que o idoso é mais vulnerável a desenvolver eventos adversos à sua saúde (CIOSAK et al., 2011; MORAES, E. N.; MORAES, F. L.; LIMA, 2010). As alterações estruturais e funcionais do envelhecimento apresentam grande variabilidade entre os idosos. Os indivíduos envelhecem de uma forma particular e em um mesmo indivíduo, observam-se diferenças entre o envelhecimento de seus órgãos e sistemas (FECHINE; TROMPIERI, 2012).

A senescência compromete as funções dos principais sistemas fisiológicos. Ocorre diminuição da capacidade aeróbica e pulmonar em decorrência do comprometimento dos sistemas cardiovascular e respiratório. A resistência vascular aumenta e as paredes das artérias se tornam mais rígidas. A caixa torácica perde elasticidade e a capacidade vital e o consumo de oxigênio decrescem enquanto o volume residual aumenta. Tais alterações geram menor capacidade de adaptação em situações que requerem esforço físico (ALOUCHE; SILVA, 2009; FECHINE; TROMPIERI, 2012).

No sistema nervoso, a diminuição do número de neurônios, redução da velocidade de condução nervosa e a queda de produção de neurotransmissores ocasionam lentificação do processo cognitivo, déficits de memória e dificuldades de aprendizado. Estas mudanças cerebrais também comprometem a execução de atividades motoras e estão intimamente relacionadas com a mobilidade dos idosos, mesmo aqueles sem doença neurológica (ALOUCHE; SILVA, 2009; FECHINE; TROMPIERI, 2012; MORAES, E. N.; MORAES, F. L.; LIMA, 2010). Segundo Rosso e outros (2013), o sistema nervoso central é um importante contribuinte para a marcha e função motora e sua integridade é fundamental para a manutenção destas habilidades.

O declínio do sistema imune aumenta o risco de doenças infecciosas, neoplásicas e as autoimunes. Em relação ao sistema sensorial, há o declínio da acuidade visual e auditiva e redução da capacidade olfativa e do paladar. A pele perde elasticidade e há o aparecimento de rugas. A regulação homeostática da temperatura e a habilidade de se adaptar a diferentes temperaturas se deterioram com o avançar da idade. A composição corporal se modifica: há o acúmulo de tecido

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adiposo e redução significativa de água corporal. Estudiosos na área afirmam que o idoso é considerado um desidratado crônico, sendo então mais susceptível à desidratação (FECHINE; TROMPIERI, 2012).

Em relação ao sistema musculoesquelético é verificada diminuição gradativa de massa e força muscular associada à idade, condição conhecida como sarcopenia. Considerado um fenômeno multifatorial, está associada a fatores advindos do processo de envelhecimento como a perda da qualidade de conformação das fibras musculares e déficits de condução nervosa, consequências de alterações neuromusculares. É altamente prevalente em idosos e responsável por gerar declínio do desempenho funcional, hospitalização e morte (CRUZ-JENTOFT et al., 2010; FECHINE; TROMPIERI, 2012; FIELDING et al., 2012; FRISOLI et al., 2011). As mudanças no sistema neuromuscular também afetam diretamente a agilidade e a coordenação motora. Déficits destes sistemas provocam paresias, lentidão, incoordenação motora e fadiga muscular (MEIRELES et al., 2010).

O tecido conjuntivo sofre modificações, apresentando maior rigidez e alterações de elasticidade além da perda de viscosidade dos fluidos sinoviais. Tais modificações irão repercutir na estabilidade e na dinâmica articular, tonando os idosos mais vulneráveis a lesões articulares. Além disso, a redução gradual de massa óssea favorece o aparecimento de osteopenia e osteoporose, potencializando o risco de fraturas e incapacidade (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FERREIRA; MARQUES, 2009; FRISOLI et al., 2011).

O acúmulo das alterações estruturais e morfológicas modifica a mobilidade do idoso e compromete as habilidades funcionais, elevando o risco de quedas e consequente declínio da capacidade funcional (MEIRELES et al., 2010). A capacidade funcional diz respeito à habilidade que o indivíduo tem de realizar de forma autônoma atividades consideradas fundamentais à sua sobrevivência e de se relacionar em seu meio (ALVES; LEITE; MACHADO, 2010; BARBOSA et al., 2014; NOGUEIRA et al., 2010).

O declínio da capacidade funcional pode estar associado a diversos fatores que interagem entre si e são responsáveis pela queda do desempenho funcional. Estudos incluem o avanço da idade, ser do sexo feminino, restrições sociais, ambientais e psicológicas como as principais variáveis envolvidas neste processo (ALVES; LEITE; MACHADO, 2010; BARBOSA et al., 2014; NOGUEIRA et al., 2010).

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Esse decréscimo se torna ainda mais significativo quando o processo de envelhecimento está associado à presença de doenças crônicas (ALVES; LEITE; MACHADO, 2010; BARBOSA et al., 2014; MEIRELES et al., 2010).

A redução da capacidade funcional afeta a autonomia e a independência para a realização das atividades de vida diária e expõe o idoso a situações de vulnerabilidade como risco para quedas, hospitalização e até mesmo, o óbito, além de trazer transtornos a nível psicológico e social (FIALHO et al., 2014; NOGUEIRA et al., 2010).

Associam-se a este processo as mudanças que ocorrem na postura. As alterações posturais resultantes do processo de envelhecimento são multifatoriais. Diminuição de massa óssea vertebral, alterações da constituição do disco intervertebral e mudanças de força e elasticidade de ligamentos da coluna são algumas das alterações que ocorrem com o passar dos anos (DRZAŁ-GRABIEC et al., 2013; FECHINE; TROMPIERI, 2012; FERREIRA; MARQUES, 2009; TOLEDO; BARELA, 2010). Por conta delas, o idoso adota posições compensatórias e de adaptação, modificando seu alinhamento postural: anteriorização da cabeça, protusão de ombros, aumento da cifose torácica, diminuição da lordose lombar, tendência à retroversão pélvica e flexo de joelhos é a postura típica adotada pela maioria dos idosos (DRZAŁ-GRABIEC et al., 2013; FERREIRA; MARQUES, 2009).

Como resultado dessas alterações musculoesqueléticas e consequente modificação de postura, há a diminuição de estatura dos idosos. Acredita-se que, a partir dos 40 anos, perde-se de 1 a 2 cm de estatura por década e que essa perda se acentua após os 70 anos de idade (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FERREIRA; MARQUES, 2009).

Como citado anteriormente, as mudanças posturais que ocorrem durante o envelhecimento são multifatoriais. Portanto, cabe ressaltar que a postura do idoso reflete não somente o envelhecimento do sistema musculoesquelético. Ela também se relaciona com a história de vida do idoso e com suas características físicas, psicológicas e sociais, que mostram como o indivíduo reagiu às adaptações que foram necessárias durante a sua vida (FERREIRA; MARQUES, 2009).

A “nova postura” adotada pelo idoso modifica o centro de gravidade e interfere diretamente no equilíbrio. Além disso, as informações advindas dos sistemas sensoriais – somatossensorial, vestibular e visual - essenciais para um bom controle postural, também são afetadas pelo processo de envelhecimento e

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contribuem, diretamente, para o déficit de equilíbrio dessa população (MEIRELES et al., 2010; TOLEDO; BARELA, 2010).

Em relação à marcha, vários fatores estão envolvidos e podem alterar a sua eficiência. Além das alterações de postura e do comprometimento dos sistemas sensoriais, a perda de força muscular e de mobilidade articular e a diminuição da capacidade aeróbica, somado a ambientes irregulares e instáveis, torna a marcha uma atividade mais dispendiosa para os idosos (ALOUCHE; SILVA, 2009).

Desse modo, os idosos tendem a adotar um padrão de marcha conservador e andar mais devagar. Possuem comprimento do passo menor e, consequentemente, da passada, uma maior cadência, passando a maior parte do tempo do ciclo da marcha na fase de apoio, principalmente no apoio duplo, gerando uma marcha mais instável e menos segura (ALOUCHE; SILVA, 2009; GERVÁSIO et al., 2012). Em decorrência destas alterações e a fim de facilitar a marcha e evitar possíveis perdas de equilíbrio, o uso de dispositivos auxiliares da marcha vem sendo indicado e adotado por muitos idosos (RICO et al., 2015).

2.3 DISPOSITIVOS AUXILIARES DA MARCHA

Os dispositivos auxiliares são equipamentos que tem como objetivo facilitar o desempenho das atividades de vida diária e assim, possibilitar uma vida mais independente daqueles que os utilizam (BATENI; MAKI, 2005; BRADLEY; HERNANDEZ, 2011; MELLO, 2009). Além de auxiliarem a marcha e favorecer o equilíbrio corporal, eles diminuem a sobrecarga articular e redistribuem o peso do corpo, a fim de compensar fraqueza muscular, dor ou lesão (BATENI; MAKI, 2005; BRADLEY; HERNANDEZ, 2011; RICO et al., 2015). Também permitem aumento da circulação (retorno venoso), melhora da função renal, prevenção da osteoporose e do descondicionamento cardiorrespiratório (BATENI; MAKI, 2005).

Podem ser utilizados por diversas condições clínicas, incluindo pessoas portadoras de deficiência, indivíduos com algum tipo de lesão (permanente ou temporária), além de pessoas com dificuldades de locomoção e equilíbrio, situação frequente entre os idosos (RICO et al., 2015). Indivíduos que usam dispositivos auxiliares de marcha relatam se sentir mais confiantes e seguros para realizar as

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atividades do dia a dia, resultando em um aumento do nível de atividade e ganho de independência e participação social (BATENI; MAKI, 2005; BRADLEY; HERNANDEZ, 2011; POLESE et al., 2011; RICO et al., 2015).

Dentre os dispositivos auxiliares da marcha mais utilizados estão as muletas, bengalas e andadores. Cada tipo de dispositivo apresenta características e estrutura especifica. Ou seja, conforme a condição clínica e as necessidades apresentadas pelo indivíduo, um tipo de dispositivo é mais adequado e trará mais benefícios do que outros. A seleção de um dispositivo adequado depende da força do paciente, da resistência, do equilíbrio, das funções cognitivas e das exigências do ambiente (BRADLEY; HERNANDEZ, 2011).

Os fatores ambientais constituem um papel especialmente importante na utilização de um dispositivo de mobilidade, uma vez que, mesmo com um dispositivo de alta qualidade é difícil ser ativo e independente se o ambiente não é acessível e não oferece suporte (BATENI; MAKI, 2005; GANESH et al., 2011). Escadas constituem barreiras para aqueles que utilizam andadores; buracos e desníveis nas calçadas impedem o uso seguro e adequado dos dispositivos de mobilidade e podem ocasionar acidentes (GANESH et al., 2011). O ambiente dentro de casa também pode se transformar em um local de risco para quem faz uso destes dispositivos. A disposição das mobílias, os cômodos estreitos e pequenos, assim como as irregularidades dentro do próprio domicílio, que são frequentes em casas de bairros mais pobres, dificultam a utilização adequada destes instrumentos e geram elevado risco de quedas dentro de casa.

Portanto, a escolha correta é fundamental. Embora existam vários tipos de bengalas, muletas e andadores, cada qual com sua especificidade, a prescrição desses equipamentos deve-se atentar à altura do dispositivo, à angulação da articulação do cotovelo e a distância entre a borda lateral do pé e do equipamento. Outras medidas necessárias irão variar conforme o tipo destes dispositivos. No caso das muletas axilares, por exemplo, deve-se atentar para a distância entre a axila do indivíduo e o dispositivo. Já a muleta canadense, deve permanecer fixada no terço proximal do antebraço. Vale ressaltar que a maioria das medidas citadas são fixas; outras irão variar conforme o perfil do indivíduo (altura, peso, idade) e a condição clínica apresentada por ele (lesão, déficit de equilíbrio, etc.) (BRADLEY; HERNANDEZ, 2011).

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Embora a seleção adequada do dispositivo seja fundamental, não basta somente prescrever. A adaptação e o treino com o dispositivo também são de suma relevância. Muitos indivíduos fazem a aquisição sem orientação específica, através de parentes ou conhecidos, ou ainda, são orientados quanto à aquisição e utilização, porém sem adequação e treino. Acrescenta-se ainda que muitos idosos não sabem o motivo pelo qual utilizam o dispositivo auxiliar (RICO et al., 2015).

Prescrições inadequadas, falta de treino e de orientação são motivos de desuso e abandono do equipamento, pois muitos passam a enxergar o dispositivo como risco, devido à dificuldade de utilizá-lo (BATENI; MAKI, 2005; RICO et al., 2015). As tensões repetitivas nas articulações dos membros superiores devido ao uso de bengalas e andadores podem contribuir para lesões articulares, como tendinites, osteoartrite e síndrome do túnel do carpo (BATENI; MAKI, 2005). Além disso, a utilização imprópria pode gerar desconforto, dor, marcha instável, gasto energético excessivo e pode se tornar um fator de risco para quedas (RICO et al., 2015). Estudos apontam correlação entre o uso de dispositivos para auxílio da marcha e a presença de quedas (BRADLEY; HERNANDEZ, 2011; CRUZ et al., 2012; GELL et al., 2015; MENEZES; BACHION, 2008; STEVENS et al., 2009; RODRIGUES; FRAGA; BARROS, 2014). Alguns autores sugerem que o uso do dispositivo pode ser um indicador de deterioração de equilíbrio e declínio funcional. Outros discutem que os dispositivos podem aumentar o risco de quedas devido ao risco de tropeções e ruptura do controle de equilíbrio por outros mecanismos – por exemplo, competindo por recursos de atenção (BATENI; MAKI, 2005).

Cabe aos profissionais de saúde fazer a prescrição adequada bem como orientar quanto aos objetivos e benefícios do uso destes dispositivos. No entanto, muitos deles não têm o conhecimento suficiente e encaram como um desafio a prescrição e o treino com este recurso. Diante disso, há muitos indivíduos que são resistentes ao uso, pois não são orientados e conscientizados da forma correta (RICO et al., 2015). Assim, os profissionais devem rotineiramente avaliar os dispositivos de assistência para garantir o uso correto e assegurar a funcionalidade e a qualidade de vida dos usuários (BRADLEY; HERNANDEZ, 2011).

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2.4 AUTOPERCEPÇÃO DE SAÚDE

A efetividade na avaliação do estado de saúde é uma das preocupações quando se busca analisar as condições de saúde em idosos. Embora a mensuração do estado geral de saúde dos indivíduos seja bastante difícil, a autopercepção da saúde tem se revelado um método confiável e um robusto indicador do estado de saúde global, capaz de sintetizar uma complexa interação de fatores envolvidos na saúde do idoso (CONFORTIN et al., 2015; FREITAS et al., 2010; SILVA, R. J. S. et al., 2012). Tem sido cada vez mais utilizada como indicador de saúde em estudos epidemiológicos, devido ao seu elevado valor preditivo de declínio funcional e mortalidade. Frequentemente, é obtida por meio da seguinte pergunta: De uma

maneira geral, você diria que a sua saúde é muito boa, boa, razoável, ruim ou muito ruim? (BORIM; BARROS; NERI, 2012; CONFORTIN et al., 2015; FONSECA et al.,

2010; FREITAS et al., 2010; JARDIM; BARRETO; GIATTI, 2010; SILVA, P. A., 2014; SILVA, R. J. S. et al., 2012).

A percepção subjetiva de saúde se configura como a interpretação pessoal que os indivíduos fazem de sua própria saúde (SILVA, R. J. S. et al., 2012). É um indicador multidimensional, que engloba uma série de aspectos, incluindo os de natureza subjetiva. Fatores socioeconômicos (escolaridade, renda, idade e gênero) assim como questões relacionadas aos hábitos de vida (sedentarismo, uso de álcool e fumo) e de saúde (uso de medicamentos, presença de doenças e incapacidade funcional) estão envolvidas na autoavaliação de saúde da pessoa idosa (BORIM; BARROS; NERI, 2012; CONFORTIN et al., 2015; JARDIM; BARRETO; GIATTI, 2010; LIMA-COSTA et al., 2007; PAGOTTO; NAKATANI; SILVEIRA, 2011; SILVA, P. A., 2014; SILVA, R. J. S. et al., 2012).

Embora a autopercepção de saúde envolva múltiplas questões, diversos estudos têm mostrado que o declínio da capacidade funcional é uma das principais variáveis consideradas pelo idoso ao avaliar sua saúde – quanto maior a dificuldade em realizar as atividades de vida diária, maior a chance de o idoso avaliar sua saúde como ruim (ALVES; LEITE; MACHADO, 2010; BORIM; BARROS; NERI, 2012; FONSECA et al., 2010; JARDIM; BARRETO; GIATTI, 2010; NUNES; BARRETO; GONCALVES, 2012; PAGOTTO; NAKATANI; SILVEIRA, 2011; SILVA, R. J. S. et al., 2012).

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Ou seja, embora o diagnóstico de doenças crônicas esteja relacionado a piores condições de saúde, o conceito de saúde na velhice se traduz mais por sua condição de independência e autonomia do que pela presença ou ausência de doença (FONSECA et al., 2010; PAGOTTO; NAKATANI; SILVEIRA, 2011; SILVA, R. J. S. et al., 2012). Como indicador multidimensional, a autoavaliação de saúde ultrapassa questões biológicas e abrange questões sociais e psíquicas, associadas a elementos culturais e ambientais nos quais o idoso está inserido. A integração e participação social, cultural e cívica, bem como o envolvimento e a inclusão em redes pessoais, exercem clara influência sobre a saúde e bem-estar dos idosos que se traduzem em avaliações positivas de saúde (NUNES; BARRETO; GONCALVES, 2012; SILVA, P. A., 2014).

Entretanto, em algumas situações, o idoso pode apresentar uma visão equivocada de sua condição de saúde. Problemas cognitivos e de memória podem alterar a capacidade de julgamento do sujeito sobre seu estado de saúde, sendo a função cognitiva considerada um dos fatores determinantes para a percepção negativa do estado de saúde dos idosos (FREITAS et al., 2010; SILVA, R. J. S. et al., 2012). Por conta destas limitações cognitivas e por piores condições de saúde, alguns idosos podem não estar aptos a responder perguntas relacionadas à sua própria saúde e necessitam do auxílio de um informante secundário (proxy respondente) (JARDIM; BARRETO; GIATTI, 2010; LIMA-COSTA et al., 2007).

Partindo da premissa que a autoavaliação de saúde representa uma visão subjetiva do indivíduo, o uso do proxy, entretanto, tem sido questionado. Jardim, Barreto e Giatti (2010) mostraram diferenças importantes entre as avaliações da saúde do idoso feita pelo próprio indivíduo daquela realizada pelo proxy. Eles afirmam que o idoso tende a valorizar suas restrições ou incapacidade de realizar as atividades de vida diária, enquanto o informante secundário tende a caracterizar a saúde do idoso baseado na presença ou ausência de doenças crônicas. Além disso, eles perceberam que a autopercepção do proxy em relação à sua própria saúde influencia negativamente sua percepção em relação à saúde do idoso. Assim, eles acreditam que as informações autorrelatadas refletem melhor a condição de saúde dos idosos do que aquelas relatadas por informantes secundários. Porém, para Lima-Costa e outros (2007), a influência do proxy na avaliação de saúde dos idosos pode existir ou não, dependendo dos critérios adotados para a utilização desses respondentes.

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A criação de políticas públicas direcionadas a saúde e ao bem-estar da pessoa idosa exige o constante monitoramento de diversos comportamentos e condições que possam acometer o idoso no seu dia-a-dia. Nessa perspectiva, a autoavaliação do estado de saúde deve ser valorizada com o intuito de possibilitar uma compreensão abrangente do geronte e também a identificação de subgrupos mais vulneráveis e mais propensos a procurar os serviços de saúde.

2.5 QUEDAS

O acúmulo das alterações estruturais e funcionais que ocorrem de forma progressiva durante o processo de envelhecimento podem trazer prejuízos no desempenho de atividades motoras e comprometer a adaptação do indivíduo ao ambiente, contribuindo para o risco de quedas (CRUZ et al., 2012).

A queda é descrita como um evento acidental, não intencional que tem como resultado a mudança da posição inicial do indivíduo para um mesmo nível ou nível mais baixo (GASPAROTTO; FALSARELLA; COIMBRA, 2014). Devido a sua repercussão na saúde dos idosos, é reconhecida como um importante problema de saúde pública já que sua ocorrência está relacionada a altos índices de morbidade e mortalidade da população idosa, além do elevado custo social e econômico decorrentes das lesões resultantes deste evento. É responsável por gerar declínio da capacidade funcional, além de aumentar o risco de institucionalização precoce e morte, comprometendo a qualidade de vida dos idosos (ANTES; D’ORSI; BENEDETTI, 2013; CAVALCANTE; AGUIAR; GURGEL, 2012; CRUZ et al., 2012; GASPAROTTO; FALSARELLA; COIMBRA, 2014; OLIVEIRA et al., 2014).

As quedas têm origem multifatorial e incluem fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos compreendem as alterações fisiológicas ocasionadas pelo envelhecimento, bem como afecções comuns dessa idade e o uso de fármacos. Os fatores extrínsecos estão relacionados às circunstâncias e condições ambientais nas quais o idoso se encontra (ANTES; D’ORSI; BENEDETTI, 2013; CAVALCANTE; AGUIAR; GURGEL, 2012; MENEZES; BACHION, 2008; OLIVEIRA et al., 2014; RODRIGUES; FRAGA; BARROS, 2014).

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Idade avançada, ser do sexo feminino, presença de doenças crônicas, polifarmácia, uso de dispositivos auxiliares de marcha, sintomas depressivos, déficits cognitivos, visuais e auditivos, sedentarismo, história prévia de quedas e autopercepção de saúde negativa são citados frequentemente na literatura como fatores que aumentam a probabilidade de ocorrência deste evento (CAVALCANTE; AGUIAR; GURGEL, 2012; CRUZ et al., 2012; MENEZES; BACHION, 2008; RODRIGUES; FRAGA; BARROS, 2014; SIQUEIRA et al., 2011; SOARES et al., 2015). A maioria das quedas resulta de uma interação complexa entre estes fatores, sendo que a probabilidade para a sua ocorrência aumenta à medida que esses se acumulam (OLIVEIRA et al., 2014; SOARES et al., 2015).

A maior parte das quedas ocorre dentro do domicílio, no período matutino, durante a realização de atividades rotineiras. Isso remete à importância do ambiente domiciliar adequado na prevenção deste evento. Locais pouco iluminados, mal planejados e com barreiras arquitetônicas configuram-se como fator de risco para o idoso (ANTES; D’ORSI; BENEDETTI, 2013; CRUZ et al., 2012; GASPAROTTO; FALSARELLA; COIMBRA, 2014; GAWRYSZEWSKI, 2010; OLIVEIRA et al., 2014; RODRIGUES; FRAGA; BARROS, 2014). Este cenário aliado à dificuldade no desempenho de atividades funcionais faz com que o indivíduo esteja ainda mais vulnerável a cair (GASPAROTTO; FALSARELLA; COIMBRA, 2014).

A queda é responsável por gerar uma série de complicações e consequências. Frequentemente ocasionam algum tipo de lesão no idoso, sendo as fraturas – especialmente a de fêmur – a mais recorrente entre as mais graves (CAVALCANTE; AGUIAR; GURGEL, 2012; CRUZ et al., 2012; GAWRYSZEWSKI, 2010; SIQUEIRA et al., 2011; SOARES et al., 2015).

Devido aos traumas físicos ocasionados pela queda, muitas vezes o idoso é submetido a hospitalizações. Ela é um dos motivos que mantêm por mais tempo o indivíduo idoso internado e uma das principais causas de óbitos nessa população, aumentando os custos com os cuidados de saúde (CAVALCANTE; AGUIAR; GURGEL, 2012; GASPAROTTO; FALSARELLA; COIMBRA, 2014; GAWRYSZEWSKI, 2010; MENEZES; BACHION, 2008; SOARES et al., 2015).

Os episódios de quedas envolvendo idosos ultrapassam as questões físicas e sanitárias. Elas também repercutem a nível psicológico e social. Entre as principais consequências citadas por idosos que sofreram quedas está o medo de cair. O medo de sofrer uma nova queda provoca mudanças de comportamentos e atitudes

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que levam o idoso a restringir suas atividades físicas e sociais, contribuindo assim para o aumento da inatividade e declínio da capacidade funcional. O indivíduo passa a adotar uma vida com pouco contato social, o que facilita a reincidência de novos episódios (CAVALCANTE; AGUIAR; GURGEL, 2012; GASPAROTTO; FALSARELLA; COIMBRA, 2014; OLIVEIRA et al., 2014).

As quedas em idosos podem produzir importante perda de autonomia e prejuízo à qualidade de vida. Identificar condições que se configuram em fatores de risco e orientar pacientes e familiares, e, sobretudo, corrigir o que é passível de tratamento, favorece a prevenção das quedas bem como minimiza suas complicações secundárias. Ações como essas devem ser incentivadas entre os profissionais de saúde, todos em prol da melhor condição de vida aos indivíduos idosos (CRUZ et al., 2012; GASPAROTTO; FALSARELLA; COIMBRA, 2014; GAWRYSZEWSKI, 2010).

2.6 MEDO DE CAIR

Assim como a queda, o medo de cair tem sido reconhecido como um importante problema de saúde pública, comumente encontrado entre os idosos, cujo impacto traz resultados potencialmente graves na vida destes indivíduos (ANTES et al., 2013; MOREIRA et al., 2013; ZIJLSTRA et al., 2007).

Acreditava-se que a presença do medo de cair estivesse relacionada, exclusivamente, ao trauma psicológico resultante da experiência de uma queda. No entanto, a literatura tem revelado que o medo de quedas também está presente em idosos que nunca caíram (LEGTERS, 2002; LOPES et al., 2009; PIMENTEL e SCHEICHER, 2013; SCHEFFER et al., 2008).

Atualmente, os estudos têm relacionado o medo de cair à baixa confiança ou baixa autoeficácia em evitar quedas. Pessoas com baixa autoeficácia focam nos obstáculos da tarefa e nas suas limitações, e fogem de situações consideradas ameaçadoras. Logo, elas impedem o desenvolvimento de habilidades, o que resulta em uma base para construção do medo (CAMARGOS et al., 2010; LEGTERS, 2002; LOPES et al., 2009; MOREIRA et al., 2013).

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Outros autores referem o medo de cair como um sentimento de grande inquietação, insegurança e ansiedade ante a um perigo real, aparente ou imaginário de queda (GAXATTE et al., 2011; LEGTERS, 2002; LOPES et al., 2009). Em outros estudos, é definido como uma preocupação permanente e excessiva em cair que irá limitar o desempenho das atividades diárias (ANTES et al., 2013; LEGTERS, 2002).

Na literatura, diferentes instrumentos são utilizados para avaliar o medo de cair. The Survey of Activities and Fear of Falling in the Elderly (SAFFE), Activities

Specific Balance Confidence Scale (ABC), Perceived Control Over Falling e Perceived Ability to Manage Falls and Falling e a Falls Efficacy Scale-International-Brasil (FES-I-BRASIL) são instrumentos frequentemente utilizados nas pesquisas

(DESHPANDE et al., 2008a; DESHPANDE et al., 2009; DIAS et al., 2011; JØRSTAD et al., 2005; LEGTERS et al., 2002; LOPES et al., 2009; MOREIRA et al., 2013; PIMENTEL e SCHEICHER, 2013). Outros estudos avaliam o medo de queda através de uma única pergunta: Você tem medo de cair? (AUSTIN et al., 2007; GAXATTE et al., 2011; KEMPEN et al., 2009).

As várias definições e as inúmeras ferramentas de avaliação do medo de cair e métodos empregados nos estudos geram grande variabilidade de prevalência deste fenômeno (GAXATTE et al., 2011; LEGTERS, 2002). Além disso, as características relacionadas à população-alvo como idade, gênero e acesso aos serviços de saúde variam muito nas pesquisas.

Estudos conduzidos com a população idosa em geral, que vivem na comunidade, apontam uma grande variação na prevalência do medo de cair, entre 28% a 93% (DIAS et al., 2011; FUCAHORI et al., 2014; GAXATTE et al., 2011; LOPES et al., 2009; PIMENTEL e SCHEICHER, 2013). Há ainda estudos voltados especificamente para idosos que já caíram e aqueles sem histórico de quedas. Entre os idosos sem histórico de quedas, a prevalência varia entre 12% a 65%. Entre os que já experimentaram algum episódio de queda, a prevalência é maior, variando entre 29% a 96% (LEGTERS, 2002; LOPES et al., 2009).

Embora as causas ainda não estejam claras, os estudos mostram a etiologia multifatorial do medo de cair, que envolve influências físicas, comportamentais, ambientais e funcionais (CAMARGOS et al., 2010; LEGTERS, 2002; LOPES et al., 2009; MOREIRA et al., 2013; UEMURA et al., 2012). Idade avançada, sexo feminino, declínio funcional, uso de dispositivos auxiliares de marcha, negativa autopercepção de saúde, isolamento social, tontura, fatores psicológicos

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(especialmente ansiedade e depressão) ambientais e demográficos (como baixa renda e pouca escolaridade) são fatores de risco associados ao medo de cair. Além disso, idosos que são sedentários e apresentam histórico de quedas e alterações de equilíbrio e marcha são ainda mais susceptíveis a expressarem medo de cair (ANTES et al., 2013; BOYD; STEVENS, 2009; DENKINGER et al., 2015; DESHPANDE et al., 2009; GAXATTE et al., 2011; JEFFERIS et al., 2014; KEMPEN et al., 2009; KLIMA et al., 2013; KUMAR et al., 2014; LEGTERS, 2002; LOPES et al., 2009; SCHEFFER et al., 2008; SILVA, C. K. et al., 2013; ZIJLSTRA et al., 2007).

A análise das alterações da marcha vem sendo discutida atualmente como possível identificador de idosos com medo de cair. No entanto, ainda não está claro se estes idosos diminuem a velocidade da marcha para evitar a queda ou se reduzem as atividades, como forma de adaptação ao medo de cair, o que resulta em alteração da marcha (KIRKWOOD et al., 2011; MOREIRA et al., 2013). Rochat et al (2010) afirmam que a causalidade e a direção da relação entre medo de cair e o desempenho da marcha é possivelmente recíproco, em vez de unidirecional.

Sabe-se que, durante a marcha, idosos com medo de queda são mais cautelosos e utilizam estratégias a fim de manter o controle postural e evitar possíveis perdas de equilíbrio (DAVIS et al., 2009). Eles aumentam a fase de duplo apoio, abreviando o tempo de permanência na fase de oscilação – fase de maior instabilidade - aumentam a base de suporte e diminuem o comprimento e altura do passo. Consequentemente, a velocidade da marcha se reduz (KIRKWOOD et al., 2011; LOPES et al., 2009; MOREIRA et al., 2013).

Entretanto, embora possa ser uma reação normal, a variabilidade da marcha apresentada por esses indivíduos pode causar ou agravar diretamente o medo de cair, na medida em que aumenta a instabilidade da marcha, contribuindo diretamente para o risco de quedas (AYOUBI et al., 2015; KIRKWOOD et al., 2011; ROCHAT et al., 2010).

Na tentativa de evitar a queda, muitos idosos com medo de cair restringem suas atividades. Pesquisas indicam que aspectos psicológicos, físicos e ambientais podem contribuir para a restrição de atividades induzidas pelo medo de cair. Sexo feminino, idade avançada, depressão, restrição social, negativa percepção de saúde, histórico de quedas e diminuição da capacidade física, além de serem fatores de risco para o medo de cair, são também apontados na literatura como fatores que

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contribuem para a restrição de atividades pelo medo de cair (DESHPANDE et al., 2008b; DIAS et al., 2011; FUCAHORI et al., 2014; GAXATTE et al., 2011).

Em idosos da comunidade, a restrição das atividades diárias ganha especial relevância, já que as primeiras atividades a serem evitadas são aquelas realizadas fora de casa. Embora a curto prazo a restrição de atividades possa ser um fator de proteção contra as quedas, a longo prazo ela é responsável por reduzir o desempenho físico e mental do idoso, pois restringe o convívio social e isola o idoso dentro de seu próprio domicílio, predispondo-o ao risco de quedas futuras (DESHPANDE et al., 2008a; DESHPANDE et al., 2008b; FUCAHORI et al., 2014; GAXATTE et al., 2011).

Ou seja, cria-se um ciclo vicioso. O medo de cair induz a restrição de atividades de tal forma que o idoso se isola socialmente e diminui seu desempenho físico, aumentando a sua vulnerabilidade a quedas. Consequentemente, o medo de cair novamente aumenta ainda mais, afetando de forma negativa a qualidade de vida destes idosos e expondo-os a maiores riscos de dependência física que podem culminar em institucionalização precoce e morte (ANTES et al., 2013; BOYD; STEVENS, 2009; DIAS et al., 2011; FUCAHORI et al., 2014; LOPES et al., 2009; MOREIRA et al., 2013; ZIJLSTRA et al., 2007).

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3 HIPÓTESE

A prevalência de medo de cair na população idosa da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais (MG) é superior a 90%, semelhante ao estudo de Lopes e outros (2009).

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4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Verificar a prevalência do medo de cair em idosos com 60 anos ou mais de idade residentes na comunidade na Zona Norte da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Descrever o perfil da população estudada.

• Caracterizar o medo de cair nas atividades avaliadas na Falls Efficacy

Scale – Internacional – Brasil (FES-I-BRASIL).

• Verificar a correlação entre medo de cair, idade, auto percepção de

saúde, dificuldade para andar, uso de dispositivo auxiliar e histórico de

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5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo de delineamento transversal inserido em um grande projeto guarda-chuva intitulado “Inquérito de Saúde no Município de Juiz De Fora,

MG”, que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

de Juiz de Fora (UFJF) de acordo com o Parecer n. 480163/2012-0 (Anexo A).

O projeto Inquérito de Saúde no Município de Juiz De Fora, MG surgiu a partir de uma primeira onda de inquérito, realizada no ano de 2010. O inquérito de 2010 contemplou aspectos da saúde materno-infantil e da saúde do idoso, um de seus produtos principais e motivadores dessa nova pesquisa foi o estudo “Prevalência de quedas e fatores associados em idosos na cidade de Juiz de Fora,

Minas Gerais” (CRUZ, 2011).

Tal projeto teve como financiador principal o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ (Processo: 480163/2012-0). Contou também com o apoio financeiro do Núcleo de Assessoria, Treinamento e Estudos em Saúde (NATES) e do Programa de Pós-Graduação de Saúde Coletiva da UFJF. Cabe mencionar ainda que parte dos equipamentos e materiais utilizados foi proveniente de empréstimo concedido pelo Projeto Multicêntrico Fragilidade em Idosos Brasileiros - rede FIBRA Brasil, polo Juiz de Fora.

5.2 AMOSTRAGEM E POPULAÇÃO

A amostra do presente estudo é constituída por indivíduos que participaram da pesquisa “Prevalência de quedas e fatores associados em idosos na cidade de

Juiz de Fora, Minas Gerais” (CRUZ, 2011) e por novos sujeitos elegidos através de

um processo de amostragem aleatória. Os totais divulgados pelo IBGE no censo de 2010 para a população da área delimitada para o estudo, ao nível de desagregação de setor censitário, foram utilizados para o dimensionamento de uma amostra probabilística representativa baseada em estratificação e conglomeração.

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Os dados foram obtidos através de entrevistas (cerca de 40 minutos de duração), em visitas a domicílio. Caso o idoso não fosse encontrado, três novas visitas eram realizadas em dias e horários diferentes na tentativa de localizá-lo. Todos os idosos participantes do inquérito anterior foram visitados, sendo seus endereços obtidos a partir da base de dados gerada no primeiro inquérito. Os novos sujeitos da amostra foram recrutados a fim de amenizar a saída de idosos que deixaram de compor a população pesquisada (casos de óbito, alteração de endereço sem ser possível identificar o novo endereço, viagens de longa duração, internação por tempo prolongado e institucionalização). Considerou-se “longa-duração” e “tempo prolongado” atividades com previsão de tempo superior à duração da pesquisa.

Nos casos em que os idosos apresentaram impossibilidade de compreensão e ou resposta ao questionário, foi solicitado que um acompanhante (familiar/cuidador) respondesse ao Inquérito. Para rastreamento da capacidade cognitiva do idoso foi aplicado a priori o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM). Para esse estudo adotou-se como referência o que é preconizado pela Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais: pontuação mínima de 25 pontos para idosos com mais de quatro anos de escolaridade e pontuação mínima de 18 pontos para idosos com menos de quatro anos de escolaridade. Pontuações inferiores são indicativas de declínio cognitivo (MINAS GERAIS, 2008). Idosos com quadro de declínio cognitivo e que não estavam acompanhados por familiares e/ou cuidadores foram excluídos do inquérito. Indivíduos com doenças degenerativas em estado avançado e, portanto, com impossibilidade de aplicação do MEEM, foi utilizado o recurso de outro informante.

Assim, considerando a natureza do objetivo principal do presente estudo foram incluídos todos os idosos que participaram do Inquérito, que não apresentaram declínio cognitivo no MEEM ou impossibilidade de responder a esse. Indivíduos cadeirantes foram excluídos. A amostra total do Inquérito foi composta de 423 indivíduos, 23 foram excluídos por satisfazerem os critérios de exclusão. Do total de 400 idosos, 315 não apresentaram declínio cognitivo e um desses utilizava cadeira de rodas. Assim, a amostra do presente estudo foi constituída por 314 idosos. A Figura 1 ilustra de forma esquemática a apresentação da amostra do presente estudo (N).

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Figura 1 – Representação esquemática da amostra do estudo

Fonte: A autora

5.3 COLETA DE DADOS

A coleta ocorreu em domicílios da Zona Norte da cidade de Juiz de Fora, no período de outubro de 2014 a março de 2015. O instrumento de coleta, elaborado pelo grupo de pesquisadores responsáveis pelo Inquérito foi aplicado dentro do domicílio do idoso através de entrevista realizada face a face por pesquisadores de campo - alunos do curso de Fisioterapia e Medicina e alunos de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFJF que passaram por um processo de orientação e treinamento. Para maior segurança, organização e confiabilidade dos dados coletados, cada entrevista foi conduzida por uma dupla de pesquisadores.

Os entrevistadores receberam treinamento para a realização das entrevistas constando de três etapas: teórica, prática piloto e treinamento prático. Os entrevistadores foram acompanhados, avaliados e reciclados durante todo o período

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da pesquisa. Para controle de qualidade das informações coletadas, cerca de 10% da produção de cada um deles foram avaliados por nova entrevista parcial. A supervisão de campo foi realizada pelos pesquisadores principais com intuito de garantir o controle da qualidade dos dados coletados.

Antes da realização da entrevista, os pesquisadores explicaram de forma clara os objetivos do estudo. Foi assegurado o direito de outros esclarecimentos e dúvidas durante a entrevista, o anonimato e a liberdade de interromper sua participação a qualquer momento. Após leitura prévia e concordância com a pesquisa, todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo B). A assinatura dos participantes foi registada em duas vias na qual uma delas permaneceu com o idoso enquanto a outra foi armazenada no Núcleo de Assessoria, Treinamento e Estudos em Saúde (NATES) e permanecerá arquivada por um período mínimo de cinco anos. Posteriormente à assinatura do TCLE, era dado início a aplicação do instrumento.

5.4 VARIÁVEIS DO ESTUDO

5.4.1 Variável dependente

• Medo de cair: (a) como variável dicotômica para análise da prevalência

do desfecho: presença do medo de cair (relato do medo de cair em

pelo menos uma das atividades da FES-I-BRASIL (pontuação maior

que 16 pontos) ou ausência (16 pontos) (CAMARGOS et al., 2010;

DIAS et al., 2011; YARDLEY et al., 2005); (b) como variável contínua

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5.4.2 Variáveis independentes

• Idade: categorizada em 60 a 70 anos, 71 a 80 anos ou mais de 80 anos

de idade;

• Sexo: feminino ou masculino;

• Raça: branca, preta, amarela, parda, indígena ou não soube declarar;

• Situação conjugal: solteiro, casado/união estável, viúvo ou

separado/divorciado;

• Arranjo domiciliar: referente se o idoso reside só ou acompanhado;

• Escolaridade: categorizada em analfabeto, 1 a 4 anos, 5 a 7 anos, 8 a

10 anos ou acima de 11 anos;

• Nível socioeconômico: categorizado em A/B, C ou D/E (informações

coletadas segundo critérios propostos pela Associação Brasileira de

Empresas de Pesquisa, 2013);

• Religião: nenhuma, católica, protestante ou evangélica ou outras;

• Importância da religião autorreferida: percepção do idoso quanto à

importância da religião na sua vida, categorizada em importante, mais

ou menos importante e nada importante;

• Autopercepção de saúde: percepção do idoso em relação à sua própria

saúde, categorizada em excelente/muito boa/boa ou regular/ruim; • Dificuldade para andar: categorizada em sim ou não;

• Uso de dispositivo auxiliar para marcha: não utiliza, auxílio de ajuda

humana, bengalas ou muletas ou andador;

• Uso contínuo de medicamentos: nenhum, 1 a 4 medicações ou mais de

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• Quedas: presença ou não de quedas nos últimos 12 meses,

categorizada em sim ou não;

• Morbidade referida: categorizada em sim ou não;

• Utilização do Sistema Único de Saúde (SUS): relato de utilização do

SUS para consultas, exames, internações, vacinação ou participação

em grupos educativos, categorizada em sim ou não.

5.5 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

O instrumento de coleta completo do Inquérito é composto por questões padronizadas e pré-testadas elaboradas pelos pesquisadores envolvidos e por escalas e testes de ampla utilização em pesquisas científicas (Anexo C). Serão apresentadas nesse item as escalas de interesse do presente estudo e as questões correspondentes as variáveis analisadas.

5.5.1 Mini Exame do Estado Mental (MEEM)

O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) é uma escala de avaliação da função cognitiva de idosos e permite rastrear a presença de declínio cognitivo. Abrange áreas de orientação temporoespacial, registro, memória de curto prazo, atenção, cálculo, linguagem e praxia. Já adaptado e validado para a população brasileira, é amplamente utilizado em estudos epidemiológicos tanto na comunidade quanto em Instituições de Longa Permanência por ser um teste rápido e de fácil aplicação (BERTOLUCCI et al., 1994; FOLSTEIN, M. F.; FOLSTEIN, S. E.; MCHUGH, 1975; LOURENÇO; VERAS, 2006).

No entanto, diferentes estudos demonstraram que o desempenho no MEEM sofre influência da escolaridade do participante. Portanto, na literatura são propostos diferentes pontos de corte de acordo com os anos de escolaridade, porém ainda não

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