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A prevalência do medo de cair na população estudada foi de 95,2%, semelhante ao encontrado em outros estudos (FUCAHORI et al., 2014; LOPES et al., 2009; PIMENTEL e SCHEICHER, 2013). Prevalências inferiores, entre 19% a 78%, foram encontradas em outras pesquisas, no entanto essas variações podem ser atribuídas a diferentes formas em avaliar o desfecho, diferenças nas características da população avaliada e outros atributos metodológicos (DIAS et al., 2011; GAXATTE et al., 2011; KEMPEN et al., 2009; KUMAR et al., 2014; ROCHAT et al., 2010; ZIJLSTRA et al., 2007).

Considerando que 65,9% dos idosos não relataram quedas nos últimos 12 meses, pode-se inferir que o medo de cair esteve presente independente da ocorrência desse evento. Os estudos mostram que o medo de cair tem sido relatado tanto por idosos com experiência de quedas, como por aqueles que nunca caíram (ARAÚJO et al., 2014; LEGTERS, 2002; LOPES et al., 2009; MOREIRA et al., 2013). Entre aqueles que já caíram, a literatura sugere que estes indivíduos se consideram menos capazes em evitar uma queda e, consequentemente, estariam mais propensos a sofrer uma queda futura. A baixa autoconfiança em evitar a queda pode reduzir a realização de atividades devido ao medo de cair novamente, gerando um declínio funcional decorrente da inatividade, o que aumentaria o risco de novas quedas (ANTES et al., 2013; GAXATTE et al., 2011; KEMPEN et al., 2009; KUMAR et al., 2014; SCHEFFER et al., 2008; ZIJLSTRA et al., 2007).

O medo de cair se mostrou crescente com o aumento da idade, resultado corroborado por outras investigações (KEMPEN et al., 2009; KUMAR et al., 2014; SCHEFFER et al., 2008; ZIJLSTRA et al., 2007). Com o processo de envelhecimento, os idosos tendem a apresentar um declínio físico-funcional decorrente da menor capacidade de reserva funcional. Segundo Lopes e outros (2009), esse declínio da reserva funcional que ocorre com o avançar da idade altera a percepção dos idosos frente a estas perdas o que pode gerar um sentimento de baixa auto eficácia e, consequentemente, preocupação em cair.

Constatou-se também correlação positiva fraca entre medo de cair e autopercepção negativa de saúde. A autopercepção de saúde tem se revelado como um método confiável e um robusto indicador de saúde global, preditor de morbidade,

mortalidade e declínio físico da população idosa. É capaz de sintetizar uma complexa interação de fatores envolvidos na saúde do idoso (CONFORTIN et al., 2015; SILVA, P. A., 2014; SILVA, R. J. S. et al., 2012). Resultado similar foi encontrado no estudo realizado por C. K. Silva e outros (2013) que mostrou que entre os idosos participantes de atividade física regular, aqueles que auto percebem sua saúde como ruim tendem a apresentar maior pontuação na FES-I-BRASIL e, consequentemente, uma maior preocupação em cair em comparação com aqueles que têm uma melhor percepção da saúde (KEMPEN et al., 2009; KUMAR et al., 2014; SCHEFFER et al., 2008; ZIJLSTRA et al., 2007).

O medo de cair se mostrou mais frequente em idosos que apresentam dificuldade para andar. É provável que sujeitos que relatem dificuldades para andar já apresentem certo declínio da capacidade funcional e alterações de equilíbrio e marcha. Essas alterações prejudicam a execução de uma deambulação segura e eficaz e comprometem a autoconfiança desses idosos em evitar quedas, gerando uma base para construção do medo.

O uso de dispositivo auxiliar de marcha mostrou associação entre os idosos que relataram preocupação em cair. A diminuição de força muscular e de flexibilidade e o comprometimento dos sistemas somatossensorial, vestibular e sensorial decorrentes do processo de envelhecimento alteram o controle postural e o equilíbrio e dificultam a realização da marcha de modo eficaz e seguro (CRUZ et al., 2012; MOREIRA et al., 2013).

Pesquisas destacam que idosos que relatam medo de cair utilizam diferentes estratégias a fim de manter a estabilidade durante a marcha. Menor comprimento e altura do passo, maior base de suporte e maior tempo na fase de duplo apoio desencadeiam redução da velocidade da marcha e alteram a estabilidade. Desta forma, a variabilidade dos parâmetros espaciais e temporais da marcha apresentada por esses idosos contribuem para uma marcha mais instável e com risco ainda maior de quedas (AYOUBI et al., 2015; DAVIS et al., 2009; KIRKWOOD, et al., 2011; MOREIRA et al., 2013; ROCHAT et al., 2010). Ainda segundo Lopes e outros (2009), idosos com medo de cair tendem a recrutar simultaneamente músculos agonistas e antagonistas, o que resulta em rigidez postural, marcha anormal, estratégias posturais inadequadas e dependência de dispositivos que garantam estabilidade. Estes dispositivos auxiliares possibilitam a independência funcional e oferecem segurança e confiança aos idosos, facilitando a

realização de suas atividades cotidianas. No entanto, quando não indicados ou utilizados de forma inadequada, eles podem ter o efeito contrário e contribuir para uma locomoção insegura, se configurando como um instrumento capaz de provocar quedas (CRUZ et al., 2012; KLIMA et al., 2013; MENEZES; BACHION, 2008; RODRIGUES; FRAGA; BARROS, 2014).

Subir ou descer escadas, tomar banho, caminhar sobre a superfície irregular, subir e descer uma ladeira e andar sobre uma superfície escorregadia foram as atividades mais pontuadas na FES-I-BRASIL, semelhante ao encontrado em outros estudos (FUCAHORI et al, 2014; LOPES et al, 2009). Atividades como essas impõem desafios ao idoso pelo alto grau de exigência do sistema osteomiarticular e outros componentes responsáveis pela manutenção do equilíbrio dinâmico. Cabe ressaltar que em decorrência do medo, os idosos tendem a diminuir a autoconfiança sobre suas habilidades, consequentemente evitam se expor a situações ameaçadoras e que consideram de risco para queda, restringindo suas atividades, perpetua-se assim um ciclo de efeitos adversos à saúde do próprio idoso (ANTES et al., 2013; SCHEFFER et al., 2008). Estudo realizado por Dias e outros (2011) revela que os idosos que restringem suas atividades por medo de cair apresentam menor autoeficácia em evitar quedas, são mais lentos na marcha, tem maior número de doenças, pior autopercepção de saúde e apresentam pior desempenho nas AIVDs.

Para Camargos e outros (2010), atividades externas e que envolvem participação social são uma das principais causas de preocupação de quedas entre os idosos da comunidade. A demanda no processamento de informações necessárias para o controle do equilíbrio e manutenção da estabilidade é significativamente maior no ambiente da comunidade (DESHPANDE et al., 2009).

No entanto, o ambiente doméstico também pode oferecer situações que exigem maior demanda de equilíbrio e controle postural, como é o caso dos idosos que relataram ficar preocupados em cair ao tomar banho e andar em superfícies escorregadias. Algumas pesquisas demonstraram que o local mais frequente da ocorrência das quedas foi dentro do próprio domicílio do idoso, especialmente o quarto e banheiro (ANTES; D’ORSI; BENEDETTI, 2013; CRUZ et al., 2012; FUCAHORI et al., 2014; GAWRYSZEWSKI, 2010; RODRIGUES; FRAGA; BARROS, 2014). Oliveira e outros (2014) mostraram uma tendência de aumento de quedas em ambientes externos. Para eles, fatores intrínsecos estão relacionados ao local de

ocorrência das quedas. Idosos com capacidade física preservada tendem a cair em ambientes externos, enquanto aqueles com comprometimento funcional tendem a sofrer quedas dentro do próprio domicílio. Essa situação chama atenção para o risco de isolamento social e aquisição de estilos de vida sedentários devido à inatividade física decorrente da presença do medo de cair (DESHPANDE et al., 2008b; DIAS et al., 2011; GAXATTE et al., 2011).

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