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Erysiphe flexuosa: um novo e potencial problema para o castanheiro-daíndia

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Academic year: 2021

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Erysiphe flexuosa

: um novo e potencial problema para o

castanheiro-da-índia em Portugal

M.F. Caetano e A.P. Ramos

Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia. Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal. mffcaetano@isa.utl.pt, pramos@isa.utl.pt

Palavras chave: Aesculus, Erysiphales, oídio, patogénio exótico, Uncinula, Uncinuliella Resumo

Nos últimos anos, a importância dos oídios que afectam espécies arbóreas em ambiente urbano tem sido crescente na medida em que, ao causarem deformações e queda prematura das folhas, diminuem a funcionalidade das árvores e afectam o seu valor ornamental. Entre as essências exóticas utilizadas em espaços verdes em Portugal o castanheiro-da-índia destaca-se quer como árvore de alinhamento quer como árvore isolada em jardins. Na sequência de estudos desenvolvidos com vista a um melhor conhecimento da diversidade de doenças criptogâmicas que afectam as árvores ornamentais em Portugal, detectou-se recentemente um oídio em Aesculus !

carnea e Aesculus hippocastanum, ainda não assinalado no nosso país mas que tem vindo a ser descrito em diversos países europeus desde 2000. As observações foram efectuadas ao longo de dois anos, nos distritos de Braga e Lisboa, onde se tem verificado uma crescente utilização destas ornamentais. Os estudos de campo e laboratoriais conduzidos levaram à identificação do fungo Erysiphe flexuosa, agente causal de oídio em Aesculus spp. Os primeiros sintomas são visíveis a partir de Junho, quando nas folhas é evidente a presença de micélio fino, acinzentado e evanescente sobre o qual se observam numerosos ascocarpos, inicialmente amarelados, tornando-se negros na maturação, ornamentados com apêndices flexuosos e longos, de formação equatorial. No presente trabalho, descrevem-se os principais sintomas de oídio em castanheiro-da-índia e apresentam-se as características microscópicas de Erysiphe flexuosa. Por fim, discute-se a importância que este fungo pode vir a assumir no panorama da protecção fitossanitária dos espaços verdes, já que se trata de um patogénio exótico, de introdução recente na Europa, e com um elevado potencial de adaptação a novos nichos ecológicos.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a importância dos oídios que afectam espécies arbóreas em ambiente urbano tem sido crescente. Em diversos países da Europa foram descritos novos oídios em plantas lenhosas e os seus agentes causais (Erysiphales, Ascomycota) referidos como patogénios emergentes, recém-introduzidos, capazes de rapidamente se adaptarem a diferentes condições e susceptíveis de constituírem epidemias graves no contexto da arboricultura urbana (Kiss, 2005).

Os oídios raramente levam à morte de árvores e arbustos mas diminuem a sua funcionalidade e valor ornamental ao causarem deformações e queda prematura das folhas. Os sintomas iniciais são visíveis no final do período primaveril, dependendo das condições climáticas e da forma de hibernação do agente causal e, de um modo geral, consistem em cloroses, dessecamento e distorção dos tecidos foliares, podendo ainda causar a queima e morte de gomos, rebentos vegetativos e jovens raminhos.

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Até final do século XX, o oídio dos castanheiros-da-índia (Aesculus L. spp.) causado por Erysiphe flexuosa (Peck) U. Braun & S. Takamatsu (! Uncinula flexuosa Peck ! Uncinuliella flexuosa (Peck) U. Braun) encontrava-se referenciado no Canadá e nos EUA por Ginns (1986) e Farr et al. (1989), respectivamente, em diversas espécies de Aesculus L. Na Europa este oídio foi assinalado pela primeira vez na Alemanha, em Aesculus hippocastanum L., por Ale-Agha et al. (2000), que afirmaram que o seu agente causal terá sido introduzido no continente europeu a partir da América do Norte.

Posteriormente, E. flexuosa foi assinalado na Áustria, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, França, Hungria, Lituânia, Polónia, Reino Unido, Sérvia e Montenegro, Suiça e Ucrânia (Bolay, 2000; Ing & Spooner, 2002; Piatek, 2002; Zimmermannová-Pastir!áková et al., 2002; Zimmermannová-Pastir!áková & Pastir!ák, 2002; Kiss et al., 2003; Heluta & Vojtjuk, 2004; Milevoj, 2004; Grigaliünaité et al., 2005; Rankovi" & Miši", 2006; Campelo et al., 2007).

Os ascocarpos de E. flexuosa caracterizam-se por ser ornamentados com dois tipos de apêndices, uns longos e flexuosos e outros, os apêndices secundários, curtos e pontiagudos, o que levou a que Braun (1981) tenha transferido aquela espécie para o género Uncinuliella R.Y. Zheng & G.Q. Chen. Contudo, este mesmo autor em 1995 (Braun, 1995) considerou que as características dos apêndices das casmotecias não eram discriminantes em termos taxonómicos, pelo que reduziu Uncinuliella a sinónimo de Uncinula J.H. Léveille. Por sua vez, Takamatsu et al. (1999) ao analisarem as sequências da região ITS do rDNA de Erysiphe s.st. (! Erysiphe sect. Erysiphe), Microsphaera e Uncinula, provaram que as espécies daqueles géneros constituem um único grupo monofilético. Deste modo, Braun & Takamatsu (2000) consideraram Microsphaera e Uncinula sinónimos de Erysiphe e classificaram Uncinuliella (! Uncinula) flexuosa como E. flexuosa. Para Braun & Takamatsu (2000) e Mori et al. (2000) as características dos anamorfos de Erysiphales são determinantes para a identificação das espécies, confirmando-se que Erysiphe s.st., Microsphaera e Uncinula possuem anamorfos idênticos, pertencentes a Oidium subgen. Pseudoidium Jacz. (Cook et al., 1997).

No presente trabalho assinala-se a ocorrência de oídio em Aesculus x carnea e em A. hippocastanum, pela primeira vez em Portugal, apresentam-se as características de E. flexuosa e discute-se a importância que este fungo pode vir a assumir nos espaços arborizados urbanos.

MATERIAL E MÉTODOS

Os estudos incidiram sobre árvores adultas de A. " carnea e de A. hippocastanum em jardins e arruamentos dos distritos de Braga (dois locais) e de Lisboa (três locais). As observações decorreram de Maio a Setembro, durante 2 anos consecutivos e, em cada local, incidiram sobre cinco árvores com sintomas de oídio, tendo-se colhido dez folhas por árvore. Para cada amostra de material vegetal infectado efectuaram-se estudos morfológicos e biométricos de conidióforos, conídios e ascocarpos (casmotecias). As observações microscópicas foram efectuadas recorrendo a um microscópio Leitz e documentadas fotograficamente. O material doente foi conservado em herbário.

Não se realizaram testes de patogenicidade dado que no material colhido era evidente a presença de micélio denso, acinzentado e evanescente, sobre o qual se observaram numerosos ascocarpos de E. flexuosa, parasita obrigatório específico de Aesculus spp.

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RESULTADOS Sintomas e estragos

De uma forma geral, os primeiros sintomas eram visíveis a partir de Junho. As folhas exibiam, tanto na página superior como na inferior, manchas dispersas, cloróticas, cobertas por micélio esbranquiçado a acinzentado, fino e evanescente (Fig. 1). Após 20 a 30 dias as folhas tomavam uma coloração acinzentada e acabavam por enrolar e secar ou cair prematuramente (Fig. 2). Em ambas as páginas das folhas era visível a formação de numerosas casmotecias, inicialmente amareladas, tornando-se negras na maturação e ornamentadas com apêndices (Fig. 3 e Fig. 4). Em consequência do ataque do fungo, as árvores afectadas apresentavam a copa acastanhada e queda precoce das folhas.

Características microscópicas do fungo

As observações microscópicas revelaram micélio com hifas superficiais, hialinas, com apressórios lobulados solitários ou em pares. Os conídios eram hialinos, cilíndricos ou elípticos, com 24-41 x 9-18 !m (Fig. 5). Os conidióforos eram direitos ou ligeiramente curvos, com uma célula basal flexuosa com 50-60 x 6-7 !m, seguida de uma ou duas células-mãe e de um conídio simples (Fig. 5). As casmotecias eram globosas, com 100-125 !m de diâmetro, com dois tipos de apêndices hialinos: longos e flexuosos, mais ou menos equatoriais, com 1-1,5 vezes o diâmetro dos ascocarpos, com a extremidade ondulada a helicoidal (tipo I); curtos, simples, com a parede rugosa, pontiagudos, com 25-50 x 4-7,5!m (tipo II) (Fig. 6). As casmotecias continham 3 a 5 ascos com 6 a 8 ascósporos, hialinos, unicelulares e arredondados.

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos são um contributo para o conhecimento de E. flexuosa observado pela primeira vez em Portugal em A. " carnea e A. hippocastanum, sendo os aspectos sintomatológicos observados naquelas essências em tudo idênticos aos referidos por Ing & Spooner (2002) e Zimmermannová-Pastir!áková & Pastir!ák (2002). Segundo estes autores, o fungo E. flexuosa foi ainda assinalado em A. x dallimorei Sealy, A. flava Solander e A x hybrida Sargent, e nos locais estudados a incidência da doença era elevada. Por outro lado, as características das estruturas de E. flexuosa observadas no presente trabalho revelaram-se consistentes com os dados apresentados por Braun (1987) e Ale-Agha et al. (2000), que descreveram e ilustraram os estados teleomórfico (E. flexuosa) e anamórfico (Oidium subgen. Pseudoidium) do agente causal do oídio do castanheiro-da-india, respectivamente.

Os fungos causadores de oídios são ectoparasitas biotróficos comuns quer em zonas de clima ameno quer em zonas mais quentes, cujos esporos possuem a característica de poderem germinar e causar infecções mesmo na ausência de água à superfície dos órgãos susceptíveis. À semelhança de outros oídios, também o oídio do castanheiro-da-índia é passível de causar estragos significativos nas condições de temperatura mais diversas, desde que a percentagem de humidade relativa do ar seja suficientemente elevada durante parte, ou todo, o ciclo vegetativo dos seus hospedeiros. A diversidade de países em que tem sido assinalado um pouco por toda a Europa, com carácter de verdadeira epidemia (Kiss, 2005), é ilustrativa deste facto.

Tendo em conta que, no nosso país, existem condições favoráveis ao desenvolvimento de E. flexuosa, que as espécies de Aesculus utilizadas são susceptíveis a este oídio, que esta doença é facilmente disseminada (transporte de conídios através de

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correntes de ar, introdução de material infectado, …) e que E. flexuosa tem sido apontado como um patogénio com elevado potencial de adaptação a novos nichos ecológicos, esta doença poderá constituir uma das principais limitações da utilização de Hippocastanaceae em espaços arborizados. Assim, a selecção cuidadosa das espécies e dos locais, adequadas práticas culturais e a monitorização contínua de E. flexuosa, são medidas de protecção que poderão contribuir para reduzir o impacto desta importante doença do castanheiro-da índia.

Referências

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