22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina
VI-138 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATAVÉS DO CONTROLE DA QUALIDADE DA ÁGUA
Adriana Helena Ramos dos Santos(1)
Engenheira Sanitarista formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, Diretora do Departamento de Educação Ambiental da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Itajaí - FAMAI.
Marcelo Wippel da Silva(2)
Acadêmico do curso de Ciências Biológicas da Universidade do Vale do Itajaí.
Endereço(1): Rua Uruguai, 1050 – Fazenda. Itajaí – SC – CEP: 88203-302 – Brasil Tel: (47) 348-9270 -
e-mail: famai.pa@itj.viacabocom.com.br.
RESUMO
A grande questão da água no mundo tem levado a sociedade para os caminhos da
preocupação comum, tendo em vista que este recurso precisa ser entendido como um bem finito e escasso que necessita ser administrado de forma sustentável e justa. O projeto com os kits de análise da água tem o objetivo de desenvolver um processo de Educação
Ambiental através da analise da água dos rios e ribeirões localizados nas proximidades de escolas da rede municipal que possuem Clubes da Água. Os kits são compostos por reagentes e acessórios que permitem a análise dos seguintes parâmetros: concentrações de oxigênio dissolvido, de amônia, de ortofosfato, de cloro, de íons cloreto, de ferro,
temperatura, turbidez e pH. Foi oferecido pela FAMAI, um treinamento a respeito do uso correto do kit, freqüência das análises e avaliação dos resultados com os alunos e
professores componentes dos Clubes da Água de cada escola. Após um período de três meses de análises quinzenais, os alunos confeccionaram relatórios de acordo com os resultados obtidos, o que possibilitou um melhor entendimento dos parâmetros avaliados. Essas experiências possibilitaram o desenvolvimento do senso crítico dos alunos com relação à proteção dos recursos hídricos.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Água, Kits de Análise da Água.
INTRODUÇÃO
A grande questão da água no mundo tem levado a sociedade para os caminhos da
preocupação comum, tendo em vista que este recurso precisa ser entendido como um bem finito e escasso que necessita ser administrado de forma sustentável e justa.
O Município de Itajaí tem na água uma base natural de forte sustentação sócio -econômica e dependência ecológica, que vai desde o Porto de Itajaí que necessita das águas do rio Itajaí-Açú, o turismo e o lazer da Praia Brava que dependem das águas do mar e da Lagoa do Cassino, a pesca marítima que além do Oceano Atlântico utiliza as águas dos nossos rios; além da captação de água bruta para tratamento e distribuição para consumo humano, comercial e industrial.
Os nossos corpos d´água doce vêm sofrendo um acelerado processo de degradação ambiental, devido à falta de saneamento básico, lançamento de efluentes industriais sem tratamento adequado, retirada da mata ciliar, deposição inadequada de lixo doméstico e outros resíduos sólidos nos rios, que segundo DIAS (1993:27): "... tem suas raízes em fatores sócio -econômicos, políticos e culturais, e que não podem ser resolvidos por meios, puramente, grotescos e tecnológicos.".
Entre as medidas políticas emergenciais destinadas a transformar esta realidade ambiental adversa, temos a Educação Ambiental, como instrumento de conscientização, para promover as mudanças necessárias para a proteção dos mananciais hídricos e melhoria da qualidade da água em suas respectivas fontes e cursos.
A Secretaria Municipal de Educação de Itajaí conta com os Clubes da Água, que são grupos de alunos que trabalham de forma a promover a Educação Ambiental em sua escola,
auxiliados por um professor coordenador designado pela direção.
A proposta é desenvolver um processo de Educação Ambiental através desses Clubes utilizando kits para o controle da qualidade da água que possibilitam o desenvolvimento de experiências demonstrativas com enfoque para o ensino, o conhecimento e a proteção dos recursos hídricos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram adquiridos kits para o controle da qualidade da água compostos por um frasco coletor, luvas descartáveis, termômetro, papel de filtro, cubetas de 10 e 30 ml, e reagentes que permitem a análise dos seguintes parâmetros:
- pH: valores de pH afastados da neutralidade podem afetar a vida aquática e os microorganismos responsáveis pelo tratamento de esgoto;
- Amônia: o nitrogênio na forma de amônia é diretamente tóxico para os peixes e indica também que o estágio da poluição é recente;
- Ferro: em pequenas concentrações causam problemas de cor na água e em certas concentrações podem causar sabor e odor;
- Fosfato: elemento indispensável para o crescimento de algas, quando em elevada concentração, pode causar crescimento exagerado desses organismos;
- Turbidez: pode ser de origem natural: não traz inconvenientes sanitários diretos, porém é esteticamente desagradável na água potável, e os sólidos em suspensão podem servir de abrigo para microorganismos patogênicos (diminuindo a eficiência da desinfecção); também pode ser de origem antropogênica: pode estar associada a compostos tóxicos e orgânicos patogênicos, em corpos d’água pode reduzir a penetração da luz, prejudicando a fotossíntese;
- Oxigênio Dissolvido – OD: é vital para os seres aquáticos aeróbios, é o principal parâmetro de caracterização dos efeitos da poluição das águas por despejos orgânicos; - Dureza Total: estudos realizados em áreas com maior dureza indicaram uma menor incidência de doenças cardíacas, em determinadas concentrações, causa um sabor desagradável e pode ter efeitos laxativos, reduz a formação de espuma, implicando num maior consumo de sabão, causa incrustação nas tubulações de água quente, caldeiras e aquecedores;
- Cloretos: em determinadas concentrações imprime um sabor salgado à água
- Cloro: o cloro livre dissolvido não é encontrado nas águas naturais. A presença deste elemento é característica de despejos domésticos e/ou industriais.
O significado dos parâmetros foi estudado por alunos e professores para a compreensão de cada um. O conhecimento de cada parâmetro e a realização das análises em campo
permitiram que os alunos valorizassem este recurso, conhecendo a fragilidade e o estado em que se encontram os corpos d’água e a conseqüência da interferência humana sobre os recursos naturais.
A Fundação Municipal do Meio Ambiente de Itajaí realizou treinamentos com os alunos e professores coordenadores dos Clubes da Água, a fim de esclarecer as dúvidas a respeito do uso correto do kit, desde o manuseio do conjunto, definição da freqüência de coletas, análise e interpretação dos dados obtidos e publicação/divulgação dos resultados. Durante os treinamentos foram sugeridas algumas atividades coletivas como: mapeamento dos cursos d’água e da qualidade destes; saídas de campo para reconhecimento de fontes poluidoras e campanhas de sensibilização junto às comunidades.
Foram selecionados cursos d’água de acordo com a proximidade da escola e importância para a comunidade. As coletas foram feitas quinzenalmente, respeitando-se sempre os mesmos horários e pontos de coleta. O procedimento de coleta obedeceu ao seguinte protocolo: coleta do material com o auxilio do frasco coletor que acompanha o kit; divisão da amostra nas cubetas que compõem o kit e aplicação dos reagentes; comparação com os parâmetros de referência de acordo com a legislação vigente.
A análise dos resultados foi realizada pelos alunos em grupo, que confeccionaram relatórios com base nos parâmetros obtidos em comparação com os da legislação.
Tabela 1: Valores recomendados pela legislação para a manutenção dos organismos aquáticos de água doce.
ANÁLISE UNIDADE VALORES RECOMENDADOS Temperatura °C 20 até 29 Oxigênio Dissolvido mg/l 4 até 10 Turbidez NTU 2 até 5 pH U. pH 6 até 8 N - amoniacal mg/l
Máx. 5 e acima de 2,5 é letal Ferro mg/l 0,3 até 1,0 Ortofosfato mg/l Até 0,30 Cloro mg/l – Cl2 Até 0,02 Dureza Total mg/l Até 200 Cloreto mg/l - C l Até 250
Fonte: Resolução CONAMA nº 20, 18/06/86. RESULTADOS
Após as primeiras análises, foi realizado um Seminário com a participação de 10 (dez) Clubes da Água como pode ser observado na Tabela 1. O Seminário teve como objetivos: o intercâmbio de informações e experiências entre os Clubes da Água, o diagnóstico da situação dos diversos cursos d’água do município e a proposição de soluções para os diversos problemas encontrados em cada comunidade.
Tabela 1: Escolas participantes do seminário e seu respectivo Clube da Água
CLUBE DA ÁGUA
E. B. MARIA DUTRA GOMES
AMIGOS LÍMPIDOS E TRANSPARENRES E. B. PADRE PEDRO BARON
E. B. PREFEITO ALBERTO WERNER AMIGOS DO MEIO AMBIENTE
E. B. PROFª INÊS CRISTOFOLINI DE FREITAS PLANETA AQUÁTICO
E. B. GASPAR DA COSTA MORAES CLUBE DA ÁGUA LIMPA
E. B. MANSUETO TRÉS ÁGUA CRISTALINA
G. E. PEDRO PAULO REBELLO CLUBE PAPA-SIRI
E. B. MELVIN JONES H2O POTÁVEL
E. B. AVELINO WERNER QUALIDADE DE VIDA
E. B. YOLANDA LAURINDO ARDIGÓ AMIGOS DA NATUREZA 100%
Alguns Clubes da Água apresentaram os resultados de suas análises em forma de tabelas e gráficos de onde tiram suas conclusões a respeito das condições dos rios e propuseram medidas para conter o avanço da degradação.
Outras escolas fizeram teatros ou danças, onde abordaram a importância dos recursos hídricos e a importância da coleta seletiva dos resíduos sólidos.
Figura 1: Apresentação da Dança "Planeta Água" do Clube da Água Qualidade de Vida da E. B. Avelino Werner durante a I Jornada de Seminários
Figura 2: Apresentação do Teatro "Reciclar para não Degradar" do Clube da Água Amigos da Natureza 100% da E. B. Yolanda Laurindo Ardigó durante a I Jornada de Seminários
Além do teatro e da dança, houve a apresentação do "Jornal Interativo", um projeto da Escola Básica Gaspar da Costa Moraes através de seu Clube da Água, que consiste de um jornal virtual que trata da importância da água para os seres vivos e da importância da separação do lixo e da coleta seletiva. Ao final da apresentação, o leitor é convidado a participar de um jogo de perguntas a respeito da matéria tratada no jornal.
CONCLUSÕES
Visto que Educação Ambiental é um processo pedagógico contínuo e permanente, acreditamos que já houve uma sensibilização por parte das crianças componentes dos Clubes da Água em relação aos problemas que os cursos d´água vêm sofrendo, passo importante para a formação de multiplicadores em Educação Ambiental.
A próxima etapa será avaliar o que já foi realizado para identificação dos pontos fortes e dos pontos fracos, bem como verificar o impacto que teve o processo e até mesmo a necessidade de modificar os métodos adotados. Para a avaliação serão utilizados métodos quantitativos (questionários, entrevistas, mapas) e qualitativos (reuniões, cartazes). Após a avaliação serão analisadas as informações obtidas e definidos os ajustes necessários para a continuidade do projeto.
Uma das metas mais importantes do projeto é exceder os limites escolares, e com a ajuda dos multiplicadores, conscientizar toda a comunidade através de campanhas e programas de conscientização, para que juntos, comunidade e escola, possam tomar atitudes que visem à recuperação e conservação dos recursos naturais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, G. F. Educação ambiental – princípios e práticas. 7 ed. São Paulo: Gaia, 2001. VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 2 ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental; Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.
3. Aprenda Fazendo: Apoio aos Processos de Educação Ambiental. Brasília: WWF Brasil, 2000. 386p.