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AP 470 / MG. 2. Evasão de divisas. Imputa-se, também, a prática do delito descrito no parágrafo único do artigo 22 da Lei nº 7.

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Voto s/ item VIII

AP 470 / MG

2. Evasão de divisas

Imputa-se, também, a prática do delito descrito no parágrafo único do artigo 22 da Lei nº 7.492/86:

“Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de divisas do País.

Pena – reclusão, de 2(dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal competente”.

Infere-se do tipo penal que duas são as modalidades da prática do delito previstas no parágrafo: a) promover, a qualquer título e sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior; e b) manter depósitos não declarados à repartição competente.

A primeira figura envolve a remessa, a qualquer título, de moeda ou divisa, sem autorização, para o exterior. Segundo Rodolfo Tigre Maia, “é crime material, tendo por resultado consumativo a efetiva ‘saída da moeda do país’, o que ocorre quando são ultrapassadas as fronteiras do território nacional” (Dos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, Malheiros Editores, 1996, p. 137).

A elementar “a qualquer título” indica que “desimporta a forma pela qual a saída ilegal de moeda ou divisas tenha sido praticada, seja prévia operação de câmbio ou não” (Luciano Feldens e Andrei Zenkner Schmidt, A associação entre o ilícito administrativo e o ilícito penal no exemplo do crime de evasão de divisas, Direito Sancionador, Ed. Fórum, p. 209). Logo, para a consumação do delito, não se faz necessária a saída física do valor ou divisa, principalmente em tempos de interoperacionalidade tecnológica e mercados globais.

A segunda figura delitiva é a manutenção (conservar sustentar, prover, possuir) de depósitos no exterior sem a correspondente declaração à

Supremo Tribunal Federal

AP 470 / MG

2. Evasão de divisas

Imputa-se, também, a prática do delito descrito no parágrafo único do artigo 22 da Lei nº 7.492/86:

“Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de divisas do País.

Pena – reclusão, de 2(dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal competente”.

Infere-se do tipo penal que duas são as modalidades da prática do delito previstas no parágrafo: a) promover, a qualquer título e sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior; e b) manter depósitos não declarados à repartição competente.

A primeira figura envolve a remessa, a qualquer título, de moeda ou divisa, sem autorização, para o exterior. Segundo Rodolfo Tigre Maia, “é crime material, tendo por resultado consumativo a efetiva ‘saída da moeda do país’, o que ocorre quando são ultrapassadas as fronteiras do território nacional” (Dos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, Malheiros Editores, 1996, p. 137).

A elementar “a qualquer título” indica que “desimporta a forma pela qual a saída ilegal de moeda ou divisas tenha sido praticada, seja prévia operação de câmbio ou não” (Luciano Feldens e Andrei Zenkner Schmidt, A associação entre o ilícito administrativo e o ilícito penal no exemplo do crime de evasão de divisas, Direito Sancionador, Ed. Fórum, p. 209). Logo, para a consumação do delito, não se faz necessária a saída física do valor ou divisa, principalmente em tempos de interoperacionalidade tecnológica e mercados globais.

A segunda figura delitiva é a manutenção (conservar sustentar, prover, possuir) de depósitos no exterior sem a correspondente declaração à

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Voto s/ item VIII

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repartição competente. O crime é de mera conduta, permanente e habitual.

Compreendem-se nesse conceito “as disponibilidades financeiras (divisas ou moeda local depositada em conta bancária) ou títulos que lhe sejam correspondentes por uma relação de liquidez imediata (vg. Aplicações em poupança, fundos de investimento, títulos do tesouro de um determinado país, ações em bolsa de valores, certificados de depósito bancário etc.)” (Feldens e Zenkner, ob. cit. p. 213).

Os fatos: segundo DUDA MENDONÇA, a dívida do Partido dos Trabalhadores (PT) , entre os anos de 2001 a 2003, “fora R$ 32.590.000,00 (trinta e dois milhões, quinhentos e noventa mil reais); que desse total R$ 22.195.000,00 (vinte e dois milhões, cento e noventa e cinco mil reais) foram pagos pelo PT à empresa CEP, que é do interrogando; que R$ 10.400.000,00 (dez milhões e quatrocentos mil reais) foram recebidos numa conta em Miami, em nome de uma pessoa jurídica da qual o interrogando era beneficiário”.

Conforme as declarações de DUDA MENDONÇA “essa conta fora aberta por exigência de MARCOS VALÉRIO, como alternativa para o pagamento do saldo dos débitos que o PT tinha com o interrogando”. (fls.15.255-15.260, Vol. 71).

ZILMAR FERNANDES, igualmente, afirmou que, “após o terceiro recebimento, MARCOS VALÉRIO pediu-lhe que providenciasse uma conta no exterior para fazer novos pagamentos; que conversou com DUDA e ele assim providenciou; que alguns dias depois DUDA lhe entregou um papel com dados desta conta, o que fora repassado ao MARCOS VALÉRIO; que se encontrou com DELÚBIO SOARES e lhe disse que os pagamentos estavam sendo pagos desta maneira; que MARCOS VALÉRIO não lhe explicou o motivo de os pagamentos serem feitos através da conta no exterior” (fl. 15.252, Vol. 71).

Embora existam convergências entre os depoimentos dos corréus DUDA MENDONÇA, ZILMAR FERNANDES e MARCOS VALÉRIO, mormente sobre a existência da dívida, autorização e conhecimento de DELÚBIO SOARES, bem como sobre a efetivação dos pagamentos, conflitam quanto à sugestão/determinação para a abertura de conta e

Supremo Tribunal Federal

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repartição competente. O crime é de mera conduta, permanente e habitual.

Compreendem-se nesse conceito “as disponibilidades financeiras (divisas ou moeda local depositada em conta bancária) ou títulos que lhe sejam correspondentes por uma relação de liquidez imediata (vg. Aplicações em poupança, fundos de investimento, títulos do tesouro de um determinado país, ações em bolsa de valores, certificados de depósito bancário etc.)” (Feldens e Zenkner, ob. cit. p. 213).

Os fatos: segundo DUDA MENDONÇA, a dívida do Partido dos Trabalhadores (PT) , entre os anos de 2001 a 2003, “fora R$ 32.590.000,00 (trinta e dois milhões, quinhentos e noventa mil reais); que desse total R$ 22.195.000,00 (vinte e dois milhões, cento e noventa e cinco mil reais) foram pagos pelo PT à empresa CEP, que é do interrogando; que R$ 10.400.000,00 (dez milhões e quatrocentos mil reais) foram recebidos numa conta em Miami, em nome de uma pessoa jurídica da qual o interrogando era beneficiário”.

Conforme as declarações de DUDA MENDONÇA “essa conta fora aberta por exigência de MARCOS VALÉRIO, como alternativa para o pagamento do saldo dos débitos que o PT tinha com o interrogando”. (fls.15.255-15.260, Vol. 71).

ZILMAR FERNANDES, igualmente, afirmou que, “após o terceiro recebimento, MARCOS VALÉRIO pediu-lhe que providenciasse uma conta no exterior para fazer novos pagamentos; que conversou com DUDA e ele assim providenciou; que alguns dias depois DUDA lhe entregou um papel com dados desta conta, o que fora repassado ao MARCOS VALÉRIO; que se encontrou com DELÚBIO SOARES e lhe disse que os pagamentos estavam sendo pagos desta maneira; que MARCOS VALÉRIO não lhe explicou o motivo de os pagamentos serem feitos através da conta no exterior” (fl. 15.252, Vol. 71).

Embora existam convergências entre os depoimentos dos corréus DUDA MENDONÇA, ZILMAR FERNANDES e MARCOS VALÉRIO, mormente sobre a existência da dívida, autorização e conhecimento de DELÚBIO SOARES, bem como sobre a efetivação dos pagamentos, conflitam quanto à sugestão/determinação para a abertura de conta e

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Voto s/ item VIII

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essas remessas ao exterior. Disse MARCOS VALÉRIO:

“que repassou valores para DUDA MEDONÇA,

referentes, segundo DELÚBIO SOARES, a débitos do PT com a agência de publicidade de Duda Mendonça (campanha de 2002 e preparação da campanha de 2004); diz que os valores, inicialmente, foram repassados para Zilmar Fernandes (cinco ou seis parcelas de, aproximadamente, R$250.000,00, cada), que as recebia na agência do Rural localizada na Av. Paulista,

junto a um funcionário de nome Guanabara; diz que Zilmar também foi devidamente identificada através de carteira de identidade e recibos; diz que os recibos eram arquivados no Rural, não sendo encaminhada copia para a SMP&B, salvo pedido desta neste sentido; diz que numa dessas oportunidades os valores foram retirados por um funcionário de Zilmar, chamado Antônio Kalil Curi; diz que algumas transferências foram feitas, também, através do Sr. Jader Kalid, cujo nome lhe foi indicado por Zilmar como sendo seu consultor financeiro; diz que nunca conheceu o Sr. Jader Kalid Antônio, não sabendo de qualquer indicação de que o mesmo poderia ser doleiro em Belo Horizonte/MG; (...) que num dado momento a Dona

Zilmar liga e fala que foi assaltada em São Paulo e que viria a Belo Horizonte conversar sobre os novos recebimentos dela, antes de ir a sede da SMP&B a dona Zilmar passou na agência do Banco de Boston da Av. Álvares Cabral em Belo Horizonte e depois se dirigiu a sede da SMP&B, palavras dela para mim, na sede da SMP&B ela me apresentou o nome do seu consultor financeiro, senhor Jader Kalid Antônio, que eu não

conhecia, não tinha nenhum contato telefônico com ele, ela pediu que os cheques fossem entregues ao seu consultor financeiro e disse que o mesmo iria providenciar o saque na agência do Banco Rural e o seu pagamento e assim foi feito, o senhor Jader Kalid mandou o senhor Davi Rodrigues Alves sacar esses valores, pessoa que eu não conheço e só vi pela imprensa e pessoa identificada com carteira de identidade junto

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essas remessas ao exterior. Disse MARCOS VALÉRIO:

“que repassou valores para DUDA MEDONÇA,

referentes, segundo DELÚBIO SOARES, a débitos do PT com a agência de publicidade de Duda Mendonça (campanha de 2002 e preparação da campanha de 2004); diz que os valores, inicialmente, foram repassados para Zilmar Fernandes (cinco ou seis parcelas de, aproximadamente, R$250.000,00, cada), que as recebia na agência do Rural localizada na Av. Paulista,

junto a um funcionário de nome Guanabara; diz que Zilmar também foi devidamente identificada através de carteira de identidade e recibos; diz que os recibos eram arquivados no Rural, não sendo encaminhada copia para a SMP&B, salvo pedido desta neste sentido; diz que numa dessas oportunidades os valores foram retirados por um funcionário de Zilmar, chamado Antônio Kalil Curi; diz que algumas transferências foram feitas, também, através do Sr. Jader Kalid, cujo nome lhe foi indicado por Zilmar como sendo seu consultor financeiro; diz que nunca conheceu o Sr. Jader Kalid Antônio, não sabendo de qualquer indicação de que o mesmo poderia ser doleiro em Belo Horizonte/MG; (...) que num dado momento a Dona

Zilmar liga e fala que foi assaltada em São Paulo e que viria a Belo Horizonte conversar sobre os novos recebimentos dela, antes de ir a sede da SMP&B a dona Zilmar passou na agência do Banco de Boston da Av. Álvares Cabral em Belo Horizonte e depois se dirigiu a sede da SMP&B, palavras dela para mim, na sede da SMP&B ela me apresentou o nome do seu consultor financeiro, senhor Jader Kalid Antônio, que eu não

conhecia, não tinha nenhum contato telefônico com ele, ela pediu que os cheques fossem entregues ao seu consultor financeiro e disse que o mesmo iria providenciar o saque na agência do Banco Rural e o seu pagamento e assim foi feito, o senhor Jader Kalid mandou o senhor Davi Rodrigues Alves sacar esses valores, pessoa que eu não conheço e só vi pela imprensa e pessoa identificada com carteira de identidade junto

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Voto s/ item VIII

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a agência do Banco Rural, mandou, também, o senhor Luiz Carlos Costa Lara, que foi identificado, também, no Banco Rural, bem, esclareço, ainda que em um dado momento a dona Zilmar me liga questionando se todos os pagamentos foram efetuados, eu respondi que os cheques com o senhor Jader e pegasse os comprovantes e os repassasse a ela e então pedi ao meu departamento financeiro que entrasse em contato com o senhor Jader, pegasse os comprovantes e me repassasse"; indagado neste contexto, acerca da pergunta do Ministro Relator constante das fls. 12262 respondeu que enviou o fax para Zilmar, pois esta afirmou ao interrogando que haveria discrepância entre os valores sacados da conta do interrogando e os valores recebidos pela mesma; diz, ainda, "que pediu ao

departamento financeiro para ligar para o consultor financeiro dela, o senhor Jader, e pegar os comprovantes do pagamento a dona Zilmar, nesse ínterim, verifiquei que os comprovantes eram de uma empresa chamada Dusseldorf Company, falei com a dona Zilmar o nome da empresa, estranhando o fato de estar em nome de uma empresa, tendo ela respondido que essa empresa era do senhor Duda Mendonça; depois dos fatos ocorridos, entendi porque a dona Zilmar passou na agência do Banco de Boston da Av. Álvares Cabral, pois a conta dessa Dusseldorf Company era no Banco de Boston e, pelo que li na imprensa, o senhor Jader Kalid

Antônio era correntista do banco de Boston, logo deduzi que quem indicou o senhor Jader Kalid Antônio para Zilmar foi o Banco de Boston" (fls. 16.352-16353 e 16.366-16.367, Vol. 76). (Grifei).

Sem olvidar que o próprio DUDA MENDONÇA confirma a abertura da conta no exterior, embora, como antes afirmado, alegue que o fez por solicitação/imposição de MARCOS VALÉRIO, há nos autos farta prova documental de que ele era o beneficiário-proprietário da offshore DUSSELDORF COMPANY LTD., sediada nas Bahamas, empresa esta titular da conta nº 001.001.2977, aberta em 19.02.2003 no BankBoston Internacional de Miami, e na qual foi creditada e debitada, entre 21.02.2003

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a agência do Banco Rural, mandou, também, o senhor Luiz Carlos Costa Lara, que foi identificado, também, no Banco Rural, bem, esclareço, ainda que em um dado momento a dona Zilmar me liga questionando se todos os pagamentos foram efetuados, eu respondi que os cheques com o senhor Jader e pegasse os comprovantes e os repassasse a ela e então pedi ao meu departamento financeiro que entrasse em contato com o senhor Jader, pegasse os comprovantes e me repassasse"; indagado neste contexto, acerca da pergunta do Ministro Relator constante das fls. 12262 respondeu que enviou o fax para Zilmar, pois esta afirmou ao interrogando que haveria discrepância entre os valores sacados da conta do interrogando e os valores recebidos pela mesma; diz, ainda, "que pediu ao

departamento financeiro para ligar para o consultor financeiro dela, o senhor Jader, e pegar os comprovantes do pagamento a dona Zilmar, nesse ínterim, verifiquei que os comprovantes eram de uma empresa chamada Dusseldorf Company, falei com a dona Zilmar o nome da empresa, estranhando o fato de estar em nome de uma empresa, tendo ela respondido que essa empresa era do senhor Duda Mendonça; depois dos fatos ocorridos, entendi porque a dona Zilmar passou na agência do Banco de Boston da Av. Álvares Cabral, pois a conta dessa Dusseldorf Company era no Banco de Boston e, pelo que li na imprensa, o senhor Jader Kalid

Antônio era correntista do banco de Boston, logo deduzi que quem indicou o senhor Jader Kalid Antônio para Zilmar foi o Banco de Boston" (fls. 16.352-16353 e 16.366-16.367, Vol. 76). (Grifei).

Sem olvidar que o próprio DUDA MENDONÇA confirma a abertura da conta no exterior, embora, como antes afirmado, alegue que o fez por solicitação/imposição de MARCOS VALÉRIO, há nos autos farta prova documental de que ele era o beneficiário-proprietário da offshore DUSSELDORF COMPANY LTD., sediada nas Bahamas, empresa esta titular da conta nº 001.001.2977, aberta em 19.02.2003 no BankBoston Internacional de Miami, e na qual foi creditada e debitada, entre 21.02.2003

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Voto s/ item VIII

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a 02.01.2004, a importância de US$ 3,6 milhões de dólares (v.g. Laudo 096/06 do INC, Apenso 51, Vol. 3, fls. 319-424; docs. 865-973, Apenso 85, Vol. 4; Relatório COAF, Vol. 11, fl. 2.265).

As informações coligidas no curso da investigação, sintetizadas, conforme apontado pelo Parquet, no Laudo de Exame Financeiro nº 096/06 – INC (Apenso 51, Vol. 3, fls. 319-335), corroboram que a conta Dusseldorf foi abastecida por depósitos diversos:

Ordenador N. de lançamentos Valor em US$

003660886399 Skyla 02 289.240,00

Banco Rural Europa 01 25.359,28

Bank of Boston Trus 01 67.835,00

Big Timegroup Ltd.2

(Union Bank) 04 365.414,00

Deal Financial Corp. 06 384.725,00

G and C Exclusive Ser

(People Bank CT) 01 45.591,00

Gedex (G.D.) Inter Corp 07 427.374,25

IFE Banco Rural (Uruguay) 01 32.916,00

Katon Business

(Israel Disc Bk NY) 01 131.838,00

Leonildo Jose Ramad (Banco Rural Europa S/A) Portugal

01 83.873,00

Luiz de Oliveira PMB 01 13.000,00

Our Client; Bre 10

(Banco Rural) 02 168.310,00

Radial Enterprise (Trans Fast Re, Inc)

01 98.980,00

Rural Intl Bank 06 240.617,74

Trade Link Bank GR 16 1.137.551,25

Transempreendimento BO

(Trans Fast Remittanc) 01 30.712,00

Juros 10 1.518,78

Total 63 3.643.555,30

Supremo Tribunal Federal

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a 02.01.2004, a importância de US$ 3,6 milhões de dólares (v.g. Laudo 096/06 do INC, Apenso 51, Vol. 3, fls. 319-424; docs. 865-973, Apenso 85, Vol. 4; Relatório COAF, Vol. 11, fl. 2.265).

As informações coligidas no curso da investigação, sintetizadas, conforme apontado pelo Parquet, no Laudo de Exame Financeiro nº 096/06 – INC (Apenso 51, Vol. 3, fls. 319-335), corroboram que a conta Dusseldorf foi abastecida por depósitos diversos:

Ordenador N. de lançamentos Valor em US$

003660886399 Skyla 02 289.240,00

Banco Rural Europa 01 25.359,28

Bank of Boston Trus 01 67.835,00

Big Timegroup Ltd.2

(Union Bank) 04 365.414,00

Deal Financial Corp. 06 384.725,00

G and C Exclusive Ser

(People Bank CT) 01 45.591,00

Gedex (G.D.) Inter Corp 07 427.374,25

IFE Banco Rural (Uruguay) 01 32.916,00

Katon Business

(Israel Disc Bk NY) 01 131.838,00

Leonildo Jose Ramad (Banco Rural Europa S/A) Portugal

01 83.873,00

Luiz de Oliveira PMB 01 13.000,00

Our Client; Bre 10

(Banco Rural) 02 168.310,00

Radial Enterprise (Trans Fast Re, Inc)

01 98.980,00

Rural Intl Bank 06 240.617,74

Trade Link Bank GR 16 1.137.551,25

Transempreendimento BO

(Trans Fast Remittanc) 01 30.712,00

Juros 10 1.518,78

Total 63 3.643.555,30

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Voto s/ item VIII

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Não bastasse a robusta prova colhida nos autos, o próprio DUDA MENDONÇA, após os fatos ganharem relevo na imprensa nacional, protocolizou na Receita Federal denúncia espontânea, nos termos do art. 138 do CTN, informando ser o titular da empresa Dusseldorf Company Ltd. e ter percebido receita no exterior, em valor quase idêntico ao revelado nos autos (Vol. 11, fls. 2.336-2.354).

O exame da prova, depoimentos e documentos, é consentâneo com a alegação da acusação e da defesa de MARCOS VALÉRIO, no sentido de que a conta Dusseldorf foi opção de recebimento exercida pelo próprio DUDA MENDONÇA. É que, conforme já destacado por ocasião do recebimento da denúncia, o sistema de pagamentos estabelecido por MARCOS VALÉRIO e DELÚBIO SOARES realizou inúmeras e vultosas operações por intermédio do Banco Rural (saques em espécie, transferências etc.) não sendo crível que, apenas e tão somente com relação a este “credor”, necessitasse, inclusive após iniciar alguns pagamentos, modificar seu modo de agir.

A esse dado somam-se outros dois indícios: a existência de outras contas no exterior titularizadas por DUDA MEDONÇA e ZILMAR FERNANDES, a evidenciar que não se trata de um fato incomum ou excepcional (Laudo nº 2.165/05, apenso 51, fls. 10-12, contas 61122642 e 61026540, ambas no Bank Boston); a data de abertura da conta Dusseldorf (19.2.2003), anterior aos próprios saques/recebimentos, em espécie, realizados por ZILMAR, ou seja, a indicar que não houve óbice aos pagamentos.

Ad argumentandum, ainda que a abertura da conta tivesse decorrido de imposição de MARCOS VALÉRIO, mostra-se inconteste nos autos que ZILMAR e DUDA aderiram à proposta. Logo, anuíram à empreitada criminosa.

Colhe-se, ainda, dos depoimentos prestados:

“ZILMAR FERNANDES: “que nunca mandou dinheiro para a conta Dusseldorf no exterior; que tudo o que foi depositado naquela conta fora providenciado por MARCOS

Supremo Tribunal Federal

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Não bastasse a robusta prova colhida nos autos, o próprio DUDA MENDONÇA, após os fatos ganharem relevo na imprensa nacional, protocolizou na Receita Federal denúncia espontânea, nos termos do art. 138 do CTN, informando ser o titular da empresa Dusseldorf Company Ltd. e ter percebido receita no exterior, em valor quase idêntico ao revelado nos autos (Vol. 11, fls. 2.336-2.354).

O exame da prova, depoimentos e documentos, é consentâneo com a alegação da acusação e da defesa de MARCOS VALÉRIO, no sentido de que a conta Dusseldorf foi opção de recebimento exercida pelo próprio DUDA MENDONÇA. É que, conforme já destacado por ocasião do recebimento da denúncia, o sistema de pagamentos estabelecido por MARCOS VALÉRIO e DELÚBIO SOARES realizou inúmeras e vultosas operações por intermédio do Banco Rural (saques em espécie, transferências etc.) não sendo crível que, apenas e tão somente com relação a este “credor”, necessitasse, inclusive após iniciar alguns pagamentos, modificar seu modo de agir.

A esse dado somam-se outros dois indícios: a existência de outras contas no exterior titularizadas por DUDA MEDONÇA e ZILMAR FERNANDES, a evidenciar que não se trata de um fato incomum ou excepcional (Laudo nº 2.165/05, apenso 51, fls. 10-12, contas 61122642 e 61026540, ambas no Bank Boston); a data de abertura da conta Dusseldorf (19.2.2003), anterior aos próprios saques/recebimentos, em espécie, realizados por ZILMAR, ou seja, a indicar que não houve óbice aos pagamentos.

Ad argumentandum, ainda que a abertura da conta tivesse decorrido de imposição de MARCOS VALÉRIO, mostra-se inconteste nos autos que ZILMAR e DUDA aderiram à proposta. Logo, anuíram à empreitada criminosa.

Colhe-se, ainda, dos depoimentos prestados:

“ZILMAR FERNANDES: “que nunca mandou dinheiro para a conta Dusseldorf no exterior; que tudo o que foi depositado naquela conta fora providenciado por MARCOS

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VALÉRIO; (...); que SIMONE era a pessoa que informava sobre a programação dos pagamentos; que nesta programação se incluíram os depósitos na conta Dusseldorf e os pagamentos feitos no Banco Rural de R$ 250.000,00 (duas parcelas); que era com esta pessoa que tratava por telefone, pois não falava com MARCOS VALÉRIO a respeito da programação dos pagamentos; que não conhece pessoalmente a Sra. GEISA DIAS; que sabia que era esta pessoa, pois foi a pessoa encarregada pelo encaminhamento de comprovantes de pagamentos mediante depósito na conta Dusseldorf; que esses documentos foram entregues na CPI e na Polícia Federal; (...); que a programação para serem feitos os pagamentos fora passada à interrogada por MARCOS VALÉRIO, com o conhecimento de DELÚBIO; que a interroganda por ordem de MARCOS VALÉRIO contatava SIMONE VASCONCELOS sempre que a programação não era obedecida e ela lhe dava notícias” (Vol. 71, p. 15.252-15.254).

SIMONE VASCONCELOS: “diz que não conheceu José Eduardo Cavalcante, vulgo Duda Mendonça; diz que conheceu a co-ré Zilmar Fernandes; lido o depoimento da referida co-ré as fls. 12255/12256 respondeu que os fatos afirmados por Zilmar não são verdadeiros; diz que foi apresentada a Zilmar por Marcos Valério nas dependências da SMP&B, onde a mesmo informou que a interroganda deveria começar a proceder repasses para Zilmar quando, ainda, ficou sabendo que a mesma era sócia de Duda Mendonça; diz que, inicialmente, tais repasses se deram através do Banco Rural na Av. Paulista, em São Paulo; diz que o gerente desta empresa era chamado "Guanabara"; diz, ainda, que nunca foi pessoalmente em tal agência; diz, porém, que após Zilmar, ao que sabe, ter sido assaltada, Marcos Valério determinou a interroganda que os cheques passassem a ser entregues na agência do Banco Rural em Belo Horizonte/MG; esclarece que o cheque era emitido pela SMP&B, nominal a SMP&B e endossado em seu verso e, então, encaminhado à agência do Banco Rural com a identificação expressa de quem seria o sacador; diz que tal procedimento

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VALÉRIO; (...); que SIMONE era a pessoa que informava sobre a programação dos pagamentos; que nesta programação se incluíram os depósitos na conta Dusseldorf e os pagamentos feitos no Banco Rural de R$ 250.000,00 (duas parcelas); que era com esta pessoa que tratava por telefone, pois não falava com MARCOS VALÉRIO a respeito da programação dos pagamentos; que não conhece pessoalmente a Sra. GEISA DIAS; que sabia que era esta pessoa, pois foi a pessoa encarregada pelo encaminhamento de comprovantes de pagamentos mediante depósito na conta Dusseldorf; que esses documentos foram entregues na CPI e na Polícia Federal; (...); que a programação para serem feitos os pagamentos fora passada à interrogada por MARCOS VALÉRIO, com o conhecimento de DELÚBIO; que a interroganda por ordem de MARCOS VALÉRIO contatava SIMONE VASCONCELOS sempre que a programação não era obedecida e ela lhe dava notícias” (Vol. 71, p. 15.252-15.254).

SIMONE VASCONCELOS: “diz que não conheceu José Eduardo Cavalcante, vulgo Duda Mendonça; diz que conheceu a co-ré Zilmar Fernandes; lido o depoimento da referida co-ré as fls. 12255/12256 respondeu que os fatos afirmados por Zilmar não são verdadeiros; diz que foi apresentada a Zilmar por Marcos Valério nas dependências da SMP&B, onde a mesmo informou que a interroganda deveria começar a proceder repasses para Zilmar quando, ainda, ficou sabendo que a mesma era sócia de Duda Mendonça; diz que, inicialmente, tais repasses se deram através do Banco Rural na Av. Paulista, em São Paulo; diz que o gerente desta empresa era chamado "Guanabara"; diz, ainda, que nunca foi pessoalmente em tal agência; diz, porém, que após Zilmar, ao que sabe, ter sido assaltada, Marcos Valério determinou a interroganda que os cheques passassem a ser entregues na agência do Banco Rural em Belo Horizonte/MG; esclarece que o cheque era emitido pela SMP&B, nominal a SMP&B e endossado em seu verso e, então, encaminhado à agência do Banco Rural com a identificação expressa de quem seria o sacador; diz que tal procedimento

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passou a ser utilizado com a referida Zilmar Fernandes; reitera que hoje acredita que um dos sacadores foi o referido inspetor da Policia Civil/MG Davi Rodrigues, a mando de Zilmar; diz que quanto, ainda, ao acima referido depoimento de Zilmar, diz que efetivamente efetuou diversos contatos telefônicos com a mesma, com vistas a colher informações acerca das datas de depósitos; assevera que nunca fez qualquer repasse para Zilmar fora do Brasil; diz que apenas ouviu falar da conta Dusseldorf pela imprensa” (Vol. 76, fl. 16.465).

Inquirido, na fase policial, JADER KALID ANTÔNIO afirmou que foi procurado por RAMON, sócio da SMP&B, que buscava orientação para “uma provável operação no valor de cerca de dois milhões de reais, os quais deveriam ser "transformados" em pagamentos a serem realizados numa conta situada no exterior”. JADER declarou ter orientado RAMON que “procurasse a gerência da área internacional dos bancos com os quais tivesse relacionamento, inclusive o próprio Banco de Boston, para que fosse orientado acerca de uma forma segura a realizar "o câmbio" do numerário que desejava transferir para o exterior”, uma vez que a Polícia Federal estava investigando os “doleiros de grande porte”. Aduziu que posteriormente procurou RAMON e intermediou uma transferência de interesse do Israel Discount Bank of NY, ocasião em que “foi efetivada a transferência de U$ 131.838,00 da conta da empresa KANTON para a conta da empresa DUSSELDORF”, conta esta informada por RAMON. Disse, ainda, que foi procurado por GEIZA DIAS, funcionária do setor financeiro da SMP&B, que “passou alguns faxes para o declarante, os quais continham o número de uma conta-corrente no exterior” e que, posteriormente, foi procurado por GEIZA, que “solicitou ao declarante a sua ajuda para verificar se determinado valor havia sido depositado em tais contas, pois estava sofrendo uma enorme pressão de uma mulher a qual no momento não se recorda o nome” (Vol. 16, fls. 3.584-3.585).

Em novo depoimento, perante a Polícia Federal, JADER KALID ANTÔNIO declarou que “realmente operou transações financeiras internacionais para diversos clientes”, operações “conhecidas no mercado

Supremo Tribunal Federal

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passou a ser utilizado com a referida Zilmar Fernandes; reitera que hoje acredita que um dos sacadores foi o referido inspetor da Policia Civil/MG Davi Rodrigues, a mando de Zilmar; diz que quanto, ainda, ao acima referido depoimento de Zilmar, diz que efetivamente efetuou diversos contatos telefônicos com a mesma, com vistas a colher informações acerca das datas de depósitos; assevera que nunca fez qualquer repasse para Zilmar fora do Brasil; diz que apenas ouviu falar da conta Dusseldorf pela imprensa” (Vol. 76, fl. 16.465).

Inquirido, na fase policial, JADER KALID ANTÔNIO afirmou que foi procurado por RAMON, sócio da SMP&B, que buscava orientação para “uma provável operação no valor de cerca de dois milhões de reais, os quais deveriam ser "transformados" em pagamentos a serem realizados numa conta situada no exterior”. JADER declarou ter orientado RAMON que “procurasse a gerência da área internacional dos bancos com os quais tivesse relacionamento, inclusive o próprio Banco de Boston, para que fosse orientado acerca de uma forma segura a realizar "o câmbio" do numerário que desejava transferir para o exterior”, uma vez que a Polícia Federal estava investigando os “doleiros de grande porte”. Aduziu que posteriormente procurou RAMON e intermediou uma transferência de interesse do Israel Discount Bank of NY, ocasião em que “foi efetivada a transferência de U$ 131.838,00 da conta da empresa KANTON para a conta da empresa DUSSELDORF”, conta esta informada por RAMON. Disse, ainda, que foi procurado por GEIZA DIAS, funcionária do setor financeiro da SMP&B, que “passou alguns faxes para o declarante, os quais continham o número de uma conta-corrente no exterior” e que, posteriormente, foi procurado por GEIZA, que “solicitou ao declarante a sua ajuda para verificar se determinado valor havia sido depositado em tais contas, pois estava sofrendo uma enorme pressão de uma mulher a qual no momento não se recorda o nome” (Vol. 16, fls. 3.584-3.585).

Em novo depoimento, perante a Polícia Federal, JADER KALID ANTÔNIO declarou que “realmente operou transações financeiras internacionais para diversos clientes”, operações “conhecidas no mercado

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Voto s/ item VIII

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financeiro como ‘dólar-cabo’, onde um cliente que necessita de reais no Brasil e possui dólares no exterior é atendido pelo declarante que fornecia a moeda desejada pelo cliente, ou vice-versa” (Vol. 18, p. 4.127).

Insta destacar que GEIZA DIAS negou conhecer JADER KALID ANTÔNIO, bem como ter encaminhado a ele ou a ZILMAR FERNANDES qualquer fax “referindo-se a pagamentos de valores em moeda estrangeira” (Vol. 76, fl. 16.278), declaração que se mostra inverossímil principalmente diante da prova documental.

CRISTIANO PAZ, igualmente, negou conhecer JADER KALID, embora tenha admitido conhecer seu irmão. Aliás, afirmou desconhecer pagamentos em favor de DUDA MENDONÇA (Vol. 76, fl. 16.475).

RAMON HOLLERBACH, por sua vez, confirmou conhecer JADER KALID, porém afirmou que “nunca teve qualquer informação nem ciência de que, por ordem de Duda Mendonça, seriam feitos repasses ao exterior” (Vol. 76, fl. 16.523).

Cumpre observar que as declarações de JADER KALID ANTÔNIO guardam coerência com outros elementos de prova: depósito realizado pela Kanton, acima referido; laudo de exame econômico-financeiro nº 162/06 – INC (Apenso 51, Vol. 3, fls. 428-438); e, como destacado pela acusação, documentos de fls. l.044, l.047, l.055 e l.058 (Vol. 4), faxes encaminhados por GEIZA (cuja origem é o nº (31) 3247-674, da SMP&B, evidenciando que JADER comunicou GEIZA, que, por sua vez, comunicou ZILMAR).

Aliás, considerando que JADER admitiu ter intermediado uma das transferências comprovadas nos autos, não se vislumbra qualquer motivação que pudesse autorizar dúvida razoável sobre sua versão.

Igualmente, corroboram essas operações e imputações feitas na denúncia os Laudos de Exame Econômico-Financeiros 229 (Gedex Internacional Corp.), 313 (Deal Financial Corp.) e 317 (Trade Link Bank), elaborados pelo Instituto Nacional de Criminalística (fls. 448, 462 e 473, todos do Apenso 51, Vol. 3).

Observo que a complexidade das operações, com a utilização de diversas contas, meios e remessas “pulverizadas”, denota o intuito

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financeiro como ‘dólar-cabo’, onde um cliente que necessita de reais no Brasil e possui dólares no exterior é atendido pelo declarante que fornecia a moeda desejada pelo cliente, ou vice-versa” (Vol. 18, p. 4.127).

Insta destacar que GEIZA DIAS negou conhecer JADER KALID ANTÔNIO, bem como ter encaminhado a ele ou a ZILMAR FERNANDES qualquer fax “referindo-se a pagamentos de valores em moeda estrangeira” (Vol. 76, fl. 16.278), declaração que se mostra inverossímil principalmente diante da prova documental.

CRISTIANO PAZ, igualmente, negou conhecer JADER KALID, embora tenha admitido conhecer seu irmão. Aliás, afirmou desconhecer pagamentos em favor de DUDA MENDONÇA (Vol. 76, fl. 16.475).

RAMON HOLLERBACH, por sua vez, confirmou conhecer JADER KALID, porém afirmou que “nunca teve qualquer informação nem ciência de que, por ordem de Duda Mendonça, seriam feitos repasses ao exterior” (Vol. 76, fl. 16.523).

Cumpre observar que as declarações de JADER KALID ANTÔNIO guardam coerência com outros elementos de prova: depósito realizado pela Kanton, acima referido; laudo de exame econômico-financeiro nº 162/06 – INC (Apenso 51, Vol. 3, fls. 428-438); e, como destacado pela acusação, documentos de fls. l.044, l.047, l.055 e l.058 (Vol. 4), faxes encaminhados por GEIZA (cuja origem é o nº (31) 3247-674, da SMP&B, evidenciando que JADER comunicou GEIZA, que, por sua vez, comunicou ZILMAR).

Aliás, considerando que JADER admitiu ter intermediado uma das transferências comprovadas nos autos, não se vislumbra qualquer motivação que pudesse autorizar dúvida razoável sobre sua versão.

Igualmente, corroboram essas operações e imputações feitas na denúncia os Laudos de Exame Econômico-Financeiros 229 (Gedex Internacional Corp.), 313 (Deal Financial Corp.) e 317 (Trade Link Bank), elaborados pelo Instituto Nacional de Criminalística (fls. 448, 462 e 473, todos do Apenso 51, Vol. 3).

Observo que a complexidade das operações, com a utilização de diversas contas, meios e remessas “pulverizadas”, denota o intuito

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Voto s/ item VIII

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inequívoco de dificultar o rastreamento dos recursos (vg. Laudo de Exame Econômico-Financeiro nº 2.293/05, Apenso 51, Vol. 1). Destaco ainda desses laudos:

“Laudo nº 229/06: Nos extratos da conta Dusseldorf referentes ao período 21/02/03 a 02/01/04, encaminhados para os exames pertinentes ao Laudo nº 096/06-INC de 13/01/06, foram identificadas sete transações nas quais a Gedex foi ordenante/intermediária de créditos para a Dusseldorf, no total de US$ 427.374,25. Por outro lado, a consulta do termo ‘Dusseldorf’ nos registros da conta Gedex resultou na identificação de onze remessas, no total de US$ 696.554,25, conforme resumido na Tabela 4.

Laudo nº 313/06: Nos extratos da conta Dusseldorf

referentes ao período 21/02/03 a 02/01/04, encaminhados para os exames pertinentes ao Laudo nº 096/06-INC de 13/01/06, foram identificadas seis transações nas quais a Deal Financial foi ordenante de créditos para a Dusseldorf, no total de US$ 384.725,OO. Por outro lado, a consulta do termo “Dusseldorf” nas transferências da conta Deal Financial resultou na identificação de sete remessas, no total de US$ 403.797,00, conforme resumido na Tabela 4”.

O Laudo nº 2.293/05, antes referido, demonstra, também, que o Banco Rural Europa (Portugal) e o Rural International Bank (Nassau) “fazem parte da Divisão Internacional da Rural Trading do Sistema Financeiro Rural”, sendo identificados como responsáveis/representantes/ procuradores, à época, no rumoroso “caso Banestado”: Junia Rabello (Presidente), José Augusto Dumont (Vice-presidente) e José Roberto Salgado (Secretário). E, segundo Sistema da Receita Federal, a atual responsável pelo Rural Internacional Bank é Kátia Rabello.

Ao ser interrogada, em Juízo, KÁTIA RABELLO afirmou que:

“o Trade Link Bank não integra o conglomerado do Banco Rural; diz que, ao que recorda, seu pai já foi presidente do

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inequívoco de dificultar o rastreamento dos recursos (vg. Laudo de Exame Econômico-Financeiro nº 2.293/05, Apenso 51, Vol. 1). Destaco ainda desses laudos:

“Laudo nº 229/06: Nos extratos da conta Dusseldorf referentes ao período 21/02/03 a 02/01/04, encaminhados para os exames pertinentes ao Laudo nº 096/06-INC de 13/01/06, foram identificadas sete transações nas quais a Gedex foi ordenante/intermediária de créditos para a Dusseldorf, no total de US$ 427.374,25. Por outro lado, a consulta do termo ‘Dusseldorf’ nos registros da conta Gedex resultou na identificação de onze remessas, no total de US$ 696.554,25, conforme resumido na Tabela 4.

Laudo nº 313/06: Nos extratos da conta Dusseldorf

referentes ao período 21/02/03 a 02/01/04, encaminhados para os exames pertinentes ao Laudo nº 096/06-INC de 13/01/06, foram identificadas seis transações nas quais a Deal Financial foi ordenante de créditos para a Dusseldorf, no total de US$ 384.725,OO. Por outro lado, a consulta do termo “Dusseldorf” nas transferências da conta Deal Financial resultou na identificação de sete remessas, no total de US$ 403.797,00, conforme resumido na Tabela 4”.

O Laudo nº 2.293/05, antes referido, demonstra, também, que o Banco Rural Europa (Portugal) e o Rural International Bank (Nassau) “fazem parte da Divisão Internacional da Rural Trading do Sistema Financeiro Rural”, sendo identificados como responsáveis/representantes/ procuradores, à época, no rumoroso “caso Banestado”: Junia Rabello (Presidente), José Augusto Dumont (Vice-presidente) e José Roberto Salgado (Secretário). E, segundo Sistema da Receita Federal, a atual responsável pelo Rural Internacional Bank é Kátia Rabello.

Ao ser interrogada, em Juízo, KÁTIA RABELLO afirmou que:

“o Trade Link Bank não integra o conglomerado do Banco Rural; diz que, ao que recorda, seu pai já foi presidente do

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Voto s/ item VIII

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Conselho Administrativo daquele Banco; diz que o Banco Rural já possuiu relações comerciais com o Banco Trade Link; diz que existia uma empresa, não financeira, que encontrava-se ligada aos acionistas do Banco Rural, situada em Miami/EUA (Rural Internacional INC); questionada se já teria visitado a sede desta empresa em Miami respondeu que sim, não sabendo informar se o escritório do Trade Link Bank também situava-se no prédio que abrigava o escritório da Rural Internacional INC; porém, esclarece que acredita que não, pois o Trade Link Bank possui sede nas Ilhas Cayman; questionada acerca da afirmação de Guilherme Rabelo (fl. 12272) de que este trabalhava no Trade Link Bank, mas recebia "sua remuneração normal no Banco Rural", respondeu que nada sabe sobre tal afirmação, não se encontrando no Banco a época dos fatos (...)”;

“que o Trade Link Bank era um dos parceiros importantes do Banco Rural; que não sabe informar se esta instituição era importante, também, para as subsidiárias do Banco Rural no exterior; diz que o relacionamento do Banco com seus parceiros no exterior era feita através da executiva de Área, Sra. Taís Siqueira; diz que esta funcionária se reportava, num primeiro momento, Roberto Salgado e, posteriormente, a Francisco Coelho; diz que o relacionamento com estes parceiros se restringia a reuniões agendadas durante as reuniões do FMI; diz que não sabe informar detalhes acerca da participação de Holton Brandão, Guilherme Rabello e José Henrique Horta Neves na administração do Trade Link Bank; diz que, antes da morte de José Augusto Dumont, Plauto Gouveia se reportava ao mesmo, que após sua morte, subordinava-se a interroganda (...)”;

“que as unidades externas do Banco Rural (Rural International Bank, IFE Banco Rural Uruguai e Banco Rural Europa) constituem instituições financeiras legalmente reconhecidas nos países em que possuem sede; diz que essas unidades são controladas pelo Banco Rural mas que possuem administrações próprias; diz que estas instituições são auditadas; diz que nunca ouviu falar de Deal Financial

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Conselho Administrativo daquele Banco; diz que o Banco Rural já possuiu relações comerciais com o Banco Trade Link; diz que existia uma empresa, não financeira, que encontrava-se ligada aos acionistas do Banco Rural, situada em Miami/EUA (Rural Internacional INC); questionada se já teria visitado a sede desta empresa em Miami respondeu que sim, não sabendo informar se o escritório do Trade Link Bank também situava-se no prédio que abrigava o escritório da Rural Internacional INC; porém, esclarece que acredita que não, pois o Trade Link Bank possui sede nas Ilhas Cayman; questionada acerca da afirmação de Guilherme Rabelo (fl. 12272) de que este trabalhava no Trade Link Bank, mas recebia "sua remuneração normal no Banco Rural", respondeu que nada sabe sobre tal afirmação, não se encontrando no Banco a época dos fatos (...)”;

“que o Trade Link Bank era um dos parceiros importantes do Banco Rural; que não sabe informar se esta instituição era importante, também, para as subsidiárias do Banco Rural no exterior; diz que o relacionamento do Banco com seus parceiros no exterior era feita através da executiva de Área, Sra. Taís Siqueira; diz que esta funcionária se reportava, num primeiro momento, Roberto Salgado e, posteriormente, a Francisco Coelho; diz que o relacionamento com estes parceiros se restringia a reuniões agendadas durante as reuniões do FMI; diz que não sabe informar detalhes acerca da participação de Holton Brandão, Guilherme Rabello e José Henrique Horta Neves na administração do Trade Link Bank; diz que, antes da morte de José Augusto Dumont, Plauto Gouveia se reportava ao mesmo, que após sua morte, subordinava-se a interroganda (...)”;

“que as unidades externas do Banco Rural (Rural International Bank, IFE Banco Rural Uruguai e Banco Rural Europa) constituem instituições financeiras legalmente reconhecidas nos países em que possuem sede; diz que essas unidades são controladas pelo Banco Rural mas que possuem administrações próprias; diz que estas instituições são auditadas; diz que nunca ouviu falar de Deal Financial

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Voto s/ item VIII

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Corporation” (Vol. 76, fls. 16.328-16.334).

VINICIUS SAMARANE, em Juízo, admitiu a vinculação do Banco Rural Europa e do Rural International Bank ao Grupo Rural. Indagado sobre as operações envolvendo a conta Dusseldorf, disse que “não tem como informar nada em função de, no período das citadas transações, de fevereiro de 2003 a janeiro de 2004, ser Superintendente de Controles Internos do Banco Rural no Brasil” (Vol. 76, fl. 16.342).

JOSÉ ROBERTO SALGADO, sobre os fatos disse:

“que não conhece Jader Kalid Antônio; confirma o trecho do seu depoimento destacado as fls.12.269 dos autos, esclarece que algumas das unidades externas do Banco Rural não existem na presente data; assevera, contudo, que o Trade Link Bank não era unidade externa do Banco Rural e sim um banco correspondente, ou seja, banco que concede linha de créditos a instituição, como outros quatrocentos bancos espalhados em todo o mundo; diz que ouviu falar que Sabino Correa Rabelo teria sido, em algum momento, diretor honorário do Trade Link Bank; diz que não tem ciência de qualquer sede ou representação do Trade Link Bank no mesmo prédio em que o Rural possuía a broker dealer de nome Rural Securities em Miami; esta broker dealer não pertencia ao Banco Rural, mas sim a Holding do grupo, Trapézio S/A; (...); que as unidades externas do Banco Rural possuíam administração própria e eram fiscalizadas pelos Bancos Centrais locais” (Vol. 76, fls. 16.505-16.512).

As declarações prestadas por JOSÉ ROBERTO SALGADO em Juízo complementam aquelas prestadas detalhadamente à Polícia Federal sobre a estrutura e as atividades do Grupo Rural no exterior.

Segundo JOSÉ ROBERTO SALGADO, “o Banco Rural possui como unidades externas IFE BANCO RURAL URUGUAI S/A, sediada em Montevidéu/Uruguai, BANCO RURAL INTERNACIONAL BANK, com sede em Nassau nas Bahamas, RURAL SECURITIES INTERNACIONAL INC,

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Corporation” (Vol. 76, fls. 16.328-16.334).

VINICIUS SAMARANE, em Juízo, admitiu a vinculação do Banco Rural Europa e do Rural International Bank ao Grupo Rural. Indagado sobre as operações envolvendo a conta Dusseldorf, disse que “não tem como informar nada em função de, no período das citadas transações, de fevereiro de 2003 a janeiro de 2004, ser Superintendente de Controles Internos do Banco Rural no Brasil” (Vol. 76, fl. 16.342).

JOSÉ ROBERTO SALGADO, sobre os fatos disse:

“que não conhece Jader Kalid Antônio; confirma o trecho do seu depoimento destacado as fls.12.269 dos autos, esclarece que algumas das unidades externas do Banco Rural não existem na presente data; assevera, contudo, que o Trade Link Bank não era unidade externa do Banco Rural e sim um banco correspondente, ou seja, banco que concede linha de créditos a instituição, como outros quatrocentos bancos espalhados em todo o mundo; diz que ouviu falar que Sabino Correa Rabelo teria sido, em algum momento, diretor honorário do Trade Link Bank; diz que não tem ciência de qualquer sede ou representação do Trade Link Bank no mesmo prédio em que o Rural possuía a broker dealer de nome Rural Securities em Miami; esta broker dealer não pertencia ao Banco Rural, mas sim a Holding do grupo, Trapézio S/A; (...); que as unidades externas do Banco Rural possuíam administração própria e eram fiscalizadas pelos Bancos Centrais locais” (Vol. 76, fls. 16.505-16.512).

As declarações prestadas por JOSÉ ROBERTO SALGADO em Juízo complementam aquelas prestadas detalhadamente à Polícia Federal sobre a estrutura e as atividades do Grupo Rural no exterior.

Segundo JOSÉ ROBERTO SALGADO, “o Banco Rural possui como unidades externas IFE BANCO RURAL URUGUAI S/A, sediada em Montevidéu/Uruguai, BANCO RURAL INTERNACIONAL BANK, com sede em Nassau nas Bahamas, RURAL SECURITIES INTERNACIONAL INC,

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também com sede em Nassau – Bahamas e BANCO RURAL EUROPA S/A em Funchal, Ilha da Madeira/Portugal”. Ainda, “existia em Miami/Flórida/EUA uma empresa não financeira denominada RURAL INTERNACIONAL que era controlada pela Holding não financeira do grupo denominada INCA” e a RURAL SECURITIES INC, corretora subordinada ao NASD (Vol. 20, fls. 4.470-4.478).

Estrutura esta que, frise-se, conforme demonstrado pela prova documental coligida, foi utilizada para a remessa de valores e abastecimento da conta Dusseldorf.

Insta observar, ainda, que aos autos foram juntadas informações prestadas pelo Banco Central do Brasil (Vol. 206, fl. 43.654) no sentido de que foi instaurado procedimento administrativo em desfavor do Banco Rural e seus administradores, em razão de “prestar informações falsas ao Banco Central ao negar a existência de participação societária (direta ou indireta) e/ou gerência comum no Banco Rural S/A e na instituição financeira Trade Link Bank (TLB), sediada nas Ilhas Cayman, induzindo a Autarquia em erro” (Processo nº 0701394603, em mídia digital – CD2, Vol. 206).

Impende destacar que não é ilícita ou vedada a remessa de valores, bem como a abertura ou manutenção de conta no exterior, recaindo o desvalor da conduta na violação do dever de informação às autoridades e na inobservância das normas que regulam as operações de câmbio.

E, nesse contexto, cumpre ter presente o disposto no art. 65 da Lei nº 9.069/95:

“Art. 65. O ingresso no País e a saída do País, de moeda nacional ou estrangeira serão processados exclusivamente através de transferência bancária, cabendo ao estabelecimento bancário a perfeita identificação do cliente ou beneficiário.

§ 1º Excetua-se do disposto no caput deste artigo o porte, em espécie, dos valores:

I - quando em moeda nacional, até R$ 10.000,00 (dez mil reais);

II - quando em moeda estrangeira, o equivalente a R$ 10.000,00 (dez mil reais);

III - quando comprovada a sua entrada no País ou sua

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também com sede em Nassau – Bahamas e BANCO RURAL EUROPA S/A em Funchal, Ilha da Madeira/Portugal”. Ainda, “existia em Miami/Flórida/EUA uma empresa não financeira denominada RURAL INTERNACIONAL que era controlada pela Holding não financeira do grupo denominada INCA” e a RURAL SECURITIES INC, corretora subordinada ao NASD (Vol. 20, fls. 4.470-4.478).

Estrutura esta que, frise-se, conforme demonstrado pela prova documental coligida, foi utilizada para a remessa de valores e abastecimento da conta Dusseldorf.

Insta observar, ainda, que aos autos foram juntadas informações prestadas pelo Banco Central do Brasil (Vol. 206, fl. 43.654) no sentido de que foi instaurado procedimento administrativo em desfavor do Banco Rural e seus administradores, em razão de “prestar informações falsas ao Banco Central ao negar a existência de participação societária (direta ou indireta) e/ou gerência comum no Banco Rural S/A e na instituição financeira Trade Link Bank (TLB), sediada nas Ilhas Cayman, induzindo a Autarquia em erro” (Processo nº 0701394603, em mídia digital – CD2, Vol. 206).

Impende destacar que não é ilícita ou vedada a remessa de valores, bem como a abertura ou manutenção de conta no exterior, recaindo o desvalor da conduta na violação do dever de informação às autoridades e na inobservância das normas que regulam as operações de câmbio.

E, nesse contexto, cumpre ter presente o disposto no art. 65 da Lei nº 9.069/95:

“Art. 65. O ingresso no País e a saída do País, de moeda nacional ou estrangeira serão processados exclusivamente através de transferência bancária, cabendo ao estabelecimento bancário a perfeita identificação do cliente ou beneficiário.

§ 1º Excetua-se do disposto no caput deste artigo o porte, em espécie, dos valores:

I - quando em moeda nacional, até R$ 10.000,00 (dez mil reais);

II - quando em moeda estrangeira, o equivalente a R$ 10.000,00 (dez mil reais);

III - quando comprovada a sua entrada no País ou sua Inteiro Teor do Acórdão - Página 5631 de 8405

STF-fl. 57246

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Voto s/ item VIII

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saída do País, na forma prevista na regulamentação pertinente. § 2º O Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes do Presidente da República, regulamentará o disposto neste artigo, dispondo, inclusive, sobre os limites e as condições de ingresso no País e saída do País da moeda nacional.

§ 3º A não observância do contido neste artigo, além das sanções penais previstas na legislação específica, e após o devido processo legal, acarretará a perda do valor excedente dos limites referidos no § 1º deste artigo, em favor do Tesouro Nacional”.

Sobreleva destacar que “os dados sobre remessa de divisas, a serem informados às autoridades administrativas (Receita Federal e Banco Central do Brasil), não tem um objetivo exclusivamente fiscal, mas constituem-se em um dos importantes instrumentos técnicos que auxiliam na execução da política econômica do país, conforme demonstra o Relatório de Capitais Brasileiros no Exterior do Banco Central”. (Paulo Afonso Brum Vaz e Ranier Souza Medina, Direito Penal Econômico e crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, ed. Conceito, p. 120).

Restou demonstrado, à saciedade, nos autos, que ZILMAR FERNANDES e DUDA MENDONÇA receberam mais US$ 3,6 milhões de dólares americanos mediante intrincado sistema de remessa de valores para o exterior.

Por sua vez, sustentou a defesa dos réus DUDA MENDONÇA e ZILMAR FERNANDES a atipicidade da conduta – manter depósitos não declarados no exterior –, ao argumento de que o montante era inferior àquele fixado como de declaração obrigatória, nos termos das Circulares 3.225/04 e 3.278/05.

A análise do documento de fl. 349 do apenso 51 – volume 3 –, evidencia que, de fato, não obstante a movimentação de US$ 3,6 milhões de dólares americanos na conta Dusseldorf, verificada entre os meses de fevereiro de 2003 a janeiro de 2004 (e declaração de DUDA MENDONÇA, na fase policial, de que o valor creditado não foi por ele movimentado e que se encontrava à disposição de um TRUEST vinculado ao Banco de

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saída do País, na forma prevista na regulamentação pertinente. § 2º O Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes do Presidente da República, regulamentará o disposto neste artigo, dispondo, inclusive, sobre os limites e as condições de ingresso no País e saída do País da moeda nacional.

§ 3º A não observância do contido neste artigo, além das sanções penais previstas na legislação específica, e após o devido processo legal, acarretará a perda do valor excedente dos limites referidos no § 1º deste artigo, em favor do Tesouro Nacional”.

Sobreleva destacar que “os dados sobre remessa de divisas, a serem informados às autoridades administrativas (Receita Federal e Banco Central do Brasil), não tem um objetivo exclusivamente fiscal, mas constituem-se em um dos importantes instrumentos técnicos que auxiliam na execução da política econômica do país, conforme demonstra o Relatório de Capitais Brasileiros no Exterior do Banco Central”. (Paulo Afonso Brum Vaz e Ranier Souza Medina, Direito Penal Econômico e crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, ed. Conceito, p. 120).

Restou demonstrado, à saciedade, nos autos, que ZILMAR FERNANDES e DUDA MENDONÇA receberam mais US$ 3,6 milhões de dólares americanos mediante intrincado sistema de remessa de valores para o exterior.

Por sua vez, sustentou a defesa dos réus DUDA MENDONÇA e ZILMAR FERNANDES a atipicidade da conduta – manter depósitos não declarados no exterior –, ao argumento de que o montante era inferior àquele fixado como de declaração obrigatória, nos termos das Circulares 3.225/04 e 3.278/05.

A análise do documento de fl. 349 do apenso 51 – volume 3 –, evidencia que, de fato, não obstante a movimentação de US$ 3,6 milhões de dólares americanos na conta Dusseldorf, verificada entre os meses de fevereiro de 2003 a janeiro de 2004 (e declaração de DUDA MENDONÇA, na fase policial, de que o valor creditado não foi por ele movimentado e que se encontrava à disposição de um TRUEST vinculado ao Banco de

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Boston, nas Bahamas,Vol. 4, fl.1.028), a conta possuía, no dia 31 de dezembro de 2003, saldo de US$ 573,19.

E, com efeito, a Circular BACEN nº 3.225, de 12 de fevereiro de 2004, estabeleceu, em seu artigo 3º, que “os detentores de ativos, cujos valores somados, em 31 de dezembro de 2003, totalizem montante inferior a US$ 100.000,00 (cem mil dólares dos Estados Unidos), ou seu equivalente em outras moedas, estão dispensados de prestar a declaração de que trata esta Circular”.

Consigne-se que a acusação, por sua vez, não logrou comprovar a destinação dos recursos movimentados na conta Dusseldorf ou a manipulação por parte dos réus DUDA MENDONÇA e ZILMAR FERNANDES.

Portanto, considerando o saldo existente na conta mencionada na denúncia e o ato normativo do BACEN, a conduta – manter em depósito – mostra-se atípica.

Contudo, insta observar que o crime descrito no parágrafo único do art. 22 da Lei 7.492/86 é crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Não é incomum que o agente promova, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisas e, num segundo momento, mantenha esses mesmos valores em depósito.

A prática sucessiva das duas condutas previstas no parágrafo único do artigo 22 caracteriza progressão criminosa, não se justificando, por óbvio, a cumulação material. Nesse sentido, destaco:

“A ação de promover a saída da moeda ou divisa, previamente ajustada entre as partes envolvidas, inicia-se (normalmente) com o registro de um débito, em reais, em conta corrente nacional (podendo sê-lo mediante pagamento em espécie ao ‘doleiro’), completando-se com o crédito do respectivo valor no estrangeiro, já convertido à moeda local. Obtém-se, com isso, a geração de ‘disponibilidade no exterior’, circunstância a perfazer a elementar do tipo divisas. Tudo, evidentemente, efetivado à margem de qualquer controle pelo BACEN, o que caracteriza a realização de operação sem autorização legal, nos moldes em que essas elementares devem,

Supremo Tribunal Federal

AP 470 / MG

Boston, nas Bahamas,Vol. 4, fl.1.028), a conta possuía, no dia 31 de dezembro de 2003, saldo de US$ 573,19.

E, com efeito, a Circular BACEN nº 3.225, de 12 de fevereiro de 2004, estabeleceu, em seu artigo 3º, que “os detentores de ativos, cujos valores somados, em 31 de dezembro de 2003, totalizem montante inferior a US$ 100.000,00 (cem mil dólares dos Estados Unidos), ou seu equivalente em outras moedas, estão dispensados de prestar a declaração de que trata esta Circular”.

Consigne-se que a acusação, por sua vez, não logrou comprovar a destinação dos recursos movimentados na conta Dusseldorf ou a manipulação por parte dos réus DUDA MENDONÇA e ZILMAR FERNANDES.

Portanto, considerando o saldo existente na conta mencionada na denúncia e o ato normativo do BACEN, a conduta – manter em depósito – mostra-se atípica.

Contudo, insta observar que o crime descrito no parágrafo único do art. 22 da Lei 7.492/86 é crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Não é incomum que o agente promova, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisas e, num segundo momento, mantenha esses mesmos valores em depósito.

A prática sucessiva das duas condutas previstas no parágrafo único do artigo 22 caracteriza progressão criminosa, não se justificando, por óbvio, a cumulação material. Nesse sentido, destaco:

“A ação de promover a saída da moeda ou divisa, previamente ajustada entre as partes envolvidas, inicia-se (normalmente) com o registro de um débito, em reais, em conta corrente nacional (podendo sê-lo mediante pagamento em espécie ao ‘doleiro’), completando-se com o crédito do respectivo valor no estrangeiro, já convertido à moeda local. Obtém-se, com isso, a geração de ‘disponibilidade no exterior’, circunstância a perfazer a elementar do tipo divisas. Tudo, evidentemente, efetivado à margem de qualquer controle pelo BACEN, o que caracteriza a realização de operação sem autorização legal, nos moldes em que essas elementares devem,

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Voto s/ item VIII

AP 470 / MG

na atualidade, ser compreendidas (supra 3.6.4 e 3.7.3). Não se pode olvidar a hipótese de a conduta caracterizar uma progressão criminosa (com modificação do momento consumativo) capaz de gerar a incidência da parte final do parágrafo único do art. 22, no caso de o resultado da operação ser mantido em depósito no estrangeiro sem a declaração legalmente devida”. (Luciano Feldens e Andrei Z. Schmidt. O

crime de evasão de divisas: a tutela penal do Sistema Financeiro

Nacional na perspectiva da Política Cambial Brasileira. Lumen Juris, p. 224).

E, nesse contexto, observo que a própria denúncia descreve a imputação de evasão de divisas, tanto na primeira figura (saída sem autorização legal) como a segunda (manter em depósito).

Com efeito, ainda que se cogitasse que a milionária transação pudesse ser desprezada pela singela movimentação, hábil a contornar o preceito legal incriminador, são inequívocos os subterfúgios utilizados para a remessa dos valores ao exterior, valendo-se os acusados de meios à margem da lei.

Não fosse o caso de inequívoca progressão criminosa, como acima salientado, comporta, ao meu ver, a própria aplicação do art. 383 do CPP – emendatio libelli, mormente, friso, pela adequada descrição da denúncia, cujo excerto destaco:

“Entretanto, buscando sofisticar a forma de pagamento para

evitar qualquer registro formal, ainda que rudimentar, das operações, os denunciados Zilmar Fernandes e Duda Mendonça informaram ao núcleo pulicitário-financeiro que o restante dos repasses deveria ser efetuado no exterior na conta titularizada pela offshore

DUSSELDORF COMPANY LTD. (...)

As apurações realizadas no exterior demonstraram que o publicitário e sua sócia são acostumados a remeter dinheiro não declarado para contas mantidas em paraísos fiscais.

Supremo Tribunal Federal

AP 470 / MG

na atualidade, ser compreendidas (supra 3.6.4 e 3.7.3). Não se pode olvidar a hipótese de a conduta caracterizar uma progressão criminosa (com modificação do momento consumativo) capaz de gerar a incidência da parte final do parágrafo único do art. 22, no caso de o resultado da operação ser mantido em depósito no estrangeiro sem a declaração legalmente devida”. (Luciano Feldens e Andrei Z. Schmidt. O

crime de evasão de divisas: a tutela penal do Sistema Financeiro

Nacional na perspectiva da Política Cambial Brasileira. Lumen Juris, p. 224).

E, nesse contexto, observo que a própria denúncia descreve a imputação de evasão de divisas, tanto na primeira figura (saída sem autorização legal) como a segunda (manter em depósito).

Com efeito, ainda que se cogitasse que a milionária transação pudesse ser desprezada pela singela movimentação, hábil a contornar o preceito legal incriminador, são inequívocos os subterfúgios utilizados para a remessa dos valores ao exterior, valendo-se os acusados de meios à margem da lei.

Não fosse o caso de inequívoca progressão criminosa, como acima salientado, comporta, ao meu ver, a própria aplicação do art. 383 do CPP – emendatio libelli, mormente, friso, pela adequada descrição da denúncia, cujo excerto destaco:

“Entretanto, buscando sofisticar a forma de pagamento para

evitar qualquer registro formal, ainda que rudimentar, das operações, os denunciados Zilmar Fernandes e Duda Mendonça informaram ao núcleo pulicitário-financeiro que o restante dos repasses deveria ser efetuado no exterior na conta titularizada pela offshore

DUSSELDORF COMPANY LTD. (...)

As apurações realizadas no exterior demonstraram que o publicitário e sua sócia são acostumados a remeter dinheiro não declarado para contas mantidas em paraísos fiscais.

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