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A AGROINDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E A SUBORDINAÇÃO DOS PEQUENOS PROPRIETÁRIOS DE TERRA EM SANTA BÁRBARA D OESTE

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A AGROINDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA E A SUBORDINAÇÃO DOS PEQUENOS PROPRIETÁRIOS DE TERRA EM SANTA BÁRBARA D’OESTE

Elizandra Maria Aleixo de Oliveira – Universidade de São Paulo elizandra.aleixo@usp.br

INTRODUÇÃO

A experiência obtida através do contato com os pequenos proprietários de terra do bairro rural Olhos d’Água, localizado no município de Santa Bárbara d’Oeste que resultou na elaboração do trabalho de conclusão de curso da faculdade de Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas em 2007, e teve como título A Subordinação dos Pequenos Proprietários ao Modo de Produção Agroindustrial Sucroalcooleiro em Santa Bárbara d’Oeste proporcionou apresentar este projeto com o intuito de abordar de maneira mais ampla e profunda o estudo sobre a subordinação da renda da terra destes pequenos proprietários que encontram-se hoje, subordinados à produção da agroindústria sucroalcooleira de Santa Bárbara d’Oeste. Melhor dizendo, ao monopólio constituído hoje pela Usina Furlan.

Neste trabalho de conclusão de curso procurei retratar o desenvolvimento da agroindústria sucroalcooleira no município de Santa Bárbara d’Oeste que, desde sua fundação, abrigou várias usinas produtoras de açúcar, álcool e aguardente. Sendo assim, descrevi a história e o processo de formação até a desativação de todas as usinas que existiram no município: Usina Santa Bárbara, Usina Galvão, Usina Cillos, Usina Azanha, além da Usina Furlan.

Portanto, este projeto tem se desenvolvido durante o mestrado sobre a perspectiva de análise e identificação do processo ocorrido em relação a estes pequenos proprietários que acabaram subordinando a renda da terra camponesa ao modo capitalista de produção que neste caso se dá pela agroindústria sucroalcooleira. Compreender a maneira de como eles, que se encontram hoje submetidos a cultivar somente a cana-de-açúcar, sobrevivem em meio a essa atual fase da agricultura brasileira que vêm direcionando o cultivo de seus campos, reduzindo o plantio de outras culturas como arroz, feijão, entre outros, para o aumento do plantio da cana-de-açúcar, matéria-prima para a produção do etanol, o “combustível alternativo”.

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Analisar, durante essa pesquisa, de que forma estes pequenos proprietários se reproduzem inseridos ao modo capitalista de produção da agricultura, que em Santa Bárbara d’Oeste encontra em sua fase monopolista, que por sua vez, tem redefinido toda a estrutura socioeconômica e política da produção agrícola.

Será necessário também analisar o que houve em comum durante o processo de desativação de todas as usinas, que ocorreu de maneira gradativa, da qual o Grupo Cosan teve participação na desativação de duas das quatro que existiram, e contribuiu com que se instaurasse o monopólio sucroalcooleiro agroindustrial da Usina Furlan.

OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo apresentar o resultado das análises feitas sobre o trabalho familiar dos pequenos proprietários de terra do bairro rural Olhos d’Água, localizado no município Santa Bárbara d’Oeste, em meio à esta produção agrícola brasileira que tem estimulado o cultivo de produtos voltados à fabricação de agrocombustíveis. Busca-se apresentar também de que maneira estes pequenos proprietários de terra se desenvolvem diante da subordinação da renda da terra ao modo capitalista de produção que neste caso se dá a agroindústria sucroalcooleira do município.

METODOLOGIA

Os procedimentos metodológicos são compostos pela fase de gabinete e o trabalho de campo. Em gabinete é buscado referencial teórico-metodológico através de leituras, fichamentos, resenhas e a participação em grupos de estudos e encontros. Em campo, os procedimentos metodológicos serão os seguintes:

- Realizar trabalhos de campo em diferentes momentos e com diferentes tempos de permanência;

- Conhecer a organização de todos os setores do cultivo da cana-de-açúcar dos pequenos proprietários do bairro (desde o cultivo até a entrega);

- Entrevistar os moradores do bairro;

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OS PEQUENOS PROPRIETÁRIOS E A AGROINDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA EM SANTA BÁRBARA D’OESTE: O ESTUDO DA SUBORDINAÇÃO DA RENDA DA TERRA AO CAPITAL.

Localizado na porção leste do estado de São Paulo, Santa Bárbara d’Oeste surgiu quando Dona Margarida da Graça Martins, provinda de Santos, comprou uma sesmaria de duas léguas, ao norte do Rio Piracicaba. Mudou-se para suas terras em 1817 e construiu uma fazenda de engenho. Dentro de suas terras, Dona Margarida doou um pedaço para que fosse construída a capela de Santa Bárbara, santa de sua devoção. Com isso, a fundação de Santa Bárbara d’Oeste ficou marcada no dia 4 de dezembro de 1818, assim que a obra foi concluída.

Essa região, denominada “quadrilátero do açúcar” – que compreende a região das cidades de Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçú e Jundiaí – segundo Caio Prado Júnior, onde antes as sesmarias eram doadas, passaram a ser vendidas, na época da fundação do município, o que chamou a atenção de vários compradores devido à concentração de terras com aptidão agrícola para a cultura de cana-de-açúcar e de cereais. (PRADO JR, 2004).

Prova desta constatação em relação à qualidade do solo foi o relatório apresentado pelo francês J. Picard em 1902 aos Conselhos de Administração das Sociedades de Piracicaba, Villa-Rafard, Porto-Feliz, Lorena e Cupim – antigas usinas da região na época. Neste relatório, sobre o solo da região, Picar relata que

os solos são formados em geral pela decomposição de rochas primárias eruptivas, situadas imediatamente acima do granito, e das quais não temos com muita freqüência equivalentes na França. O resultado desta composição são solos vermelhos, compactos, bastante parecidos com um tijolo mal cozido.

Já em relação ao clima da região, J. Picard continua

O clima é quente: a temperatura média deve ser de 22 a 23 graus; e, deste ponto de vista, a região é bastante conveniente à cana-de-açúcar. Como em quase todas as áreas tropicais do Hemisfério Sul, há duas estações bem marcadas: a estação quente que começa em setembro e termina por volta de abril; e a estação fresca, que vai de maio à

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setembro. A primeira é a estação do cultivo; a segunda, a da colheita e do processamento industrial.

Embora a análise da visita técnica tenha apresentado a riqueza da qualidade do solo, não justifica que este seja utilizado somente para o cultivo da cana-de-açúcar. Mais um motivo para constatarmos que a produção do campo no município atende aos interesses do mercado sucroalcooleiro, que por sua vez, atende aos interesses do mercado internacional.

Em relação a extensão territorial do município que é de 270 km², a área urbana ocupa 60 km². Os outros 210 km² são de área rural, que por sua vez está ocupado com a produção de lavouras temporárias e permanentes, como nos mostram as tabelas a seguir:

TABELA 1. LAVOURAS PERMANENTES/2008 – SANTA BÁRBARA D’OESTE ÁREA PLANTADA

Café (beneficiado) 25 hectares

Laranja 225 hectares

ELABORAÇÃO: ALEIXO, E. M. FONTE: IBGE TABELA 2. LAVOURAS TEMPORÁRIAS 2006/2008 - SANTA BÁRBARA D’OESTE

ÁREA PLANTADA

2006 2008

Arroz (em casca) 100 hectares 100 hectares

Batata-inglesa 20 hectares

-Cana-de-açúcar 12.800 hectares 12992 hectares

Feijão (em grão) 50 hectares

-Milho (em grão) 490 hectares 490 hectares

ELABORAÇÃO: ALEIXO, E. M. FONTE: IBGE

As tabelas acima evidenciam que os tipos de lavoura existentes no município – tanto permanentes quanto temporárias - exceto a cana-de-açúcar, não ocupam nem 7% dos 13459

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hectares que a cana-de-açúcar ocupa. Esse fato pode ser explicado devido à predominância de um dos produtos de maior importância econômica para a cidade: a cana-de-açúcar – que fica evidenciado na tabela 1. Esta cultura, ao predominar-se sobra as demais, ocupa grandes espaços, cuja característica é típica de latifúndio – grande extensão territorial com produção monocultora.

A indústria do açúcar tomou grande impulso no final do século XIX, com o aumento na demanda desse produto. Nessa época, antes mesmo do estado de São Paulo liderar a produção sucroalcooleira do país, foram instaladas grandes usinas açucareiras no município. Em 1889 era inaugurada por João Frederico Redher a primeira destilaria de álcool, e, logo em 1914 a primeira usina açucareira. Desta, logo surgiram outros grandes centros produtores como a Usina Santa Bárbara, Usina Galvão, Usina Cillos, Usina Azanha e Usina Furlan.

Estas usinas acabaram absorvendo algumas pequenas e médias propriedades da região, fazendo com que houvesse a territorialização do monopólio que se dá a partir da

concentração da propriedade e da posse da terra (com a monocultura) ser um elemento definidor do direito dos grandes proprietários de terras (os grupos usineiros) extrair renda capitalista da terra (sobretrabalho), é sobretudo, a forma de lhes garantir hegemonia na produção do montante da matéria-prima moída. (THOMAZ JR., 1988, P. 3)

Destas, somente a Usina Furlan está em operação e detém a propriedade de grande parte das áreas agriculturáveis da cidade. Além de controlar a produção sucroalcooleira da cidade, esta usina está expandindo sua área para outros municípios. Em Avaré, no estado de São Paulo, a usina arrendou no início do ano de 2006 cerca de 3 mil alqueires para o plantio da cana e produção do álcool e açúcar.

Além dela, o grupo Cosan – da família Ometto – que constituiu uma sociedade com outros usineiros, comprou diversas usinas de grande representatividade, como as unidades de Rafard, no município de Rafard; São Francisco, no município de Elias Fausto; Santa Helena, no município de Rio das Pedras; Costa Pinto, em Piracicaba; e Bom Retiro, em Capivari. Todos estes municípios são vizinhos de Santa Bárbara d’Oeste. Estas usinas citadas estão em pleno funcionamento por todo o redor de Santa Bárbara d’Oeste. Ambas pertencem ao

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grupo Cosan, que se apresenta hoje como o maior produtor independente de açúcar e álcool do país. Entre os maiores usineiros e controladores deste grupo está o bilionário Rubens Ometto Silveira Mello, considerado segundo a revista Forbes o primeiro bilionário do etanol do mundo.

Entretanto, somente neste município o grupo Cosan desativou a sua unidade, que incorporou a Usina Santa Bárbara e a Usina Galvão. Hoje, este grupo administra e utiliza essas estruturas, caracterizando um verdadeiro monopólio territorializado, ao mesmo tempo em que as indústrias de equipamentos e implementos agrícolas, empresas intermediárias e os fornecedores de matéria-prima (os pequenos proprietários em questão nesta pesquisa) tornam-se dependentes diretamente deste modo de produzir, além dos cerca de 580 mil hectares de área cultivada que também utiliza as terras do município para o plantio da cana-de-açúcar. Muito embora as usinas tenham sido desativadas, verificou-se que o cultivo deste produto continuou presente sendo cultivado pelos pequenos proprietários que fornecem à usina.

Essa presença marcante não só da cana-de-açúcar, mas também das grandes usinas que existiram no município e do monopólio concretizado pela Usina Furlan, evidenciam o desenvolvimento do modo de produção capitalista na agricultura. Esta etapa, por sua vez, de acordo com Oliveira

apresenta traços típicos como a presença de grandes complexos industriais a integrar a produção agropecuária. Esse processo contínuo de industrialização do campo traz na sua esteira transformações nas relações de produção na agricultura, e, consequentemente, redefine toda a estrutura socioeconômica e política no campo. (1995:5).

É esse processo social (me refiro ao desenvolvimento do modo capitalista de produção na agricultura) que concentra a propriedade e homogeneíza a paisagem, que acontece, segundo Bombardi,

quando o território é produzido pelo capitalismo adquire características específicas que expressam exatamente o tipo de relação que por meio dele se estabelece, onde ficam impressas as

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relações humanas e as transformações sociais que se dão através do tempo. (2004)

Entretanto, o desenvolvimento do modo capitalista de produção da agricultura fez com que houvesse uma transformação nas relações da produção na agricultura, e, consequentemente, redefiniu toda a estrutura socioeconômica e política do campo. Diante deste cenário temos os a relação entre os pequenos proprietários e a agroindústria se desenvolve dentro do modo capitalista de produção que redefine antigas relações subordinando-as à reprodução do capital, mas também engendra relações não capitalistas igual e contraditoriamente necessárias a essa reprodução (Bombardi, 2004; apud. Martins, 1996, 19-20).

Sendo assim, concluímos que resulta desse processo de desenvolvimento desigual e contraditório do capitalismo, particularmente no campo, é que estamos diante da sujeição da renda da terra ao capital, que ocorre quando existe um lucro extraordinário, suplementar, permanente, que ocorre tanto no campo como na cidade (OLIVEIRA, 1984:94). Essa subordinação se dá na medida em que o capital encontra cria e recria maneiras de sua reprodução condicionando assim o surgimento de novos capitalistas (Oliveira, 2001:20)

No caso de Santa Bárbara d’Oeste, onde temos a territorialização do monopólio da Usina Furlan, os pequenos proprietários do bairro rural Olhos d’Água encontram-se dentro da terceira alternativa como forma de adequar-se ao modo capitalista de produção no campo.

Tendo visto de que forma a agroindústria sucroalcooleira se consolidou no município e como era a vida da cidade na época do funcionamento de todas as suas usinas, que se limitou a apenas uma – a Usina Furlan – cabe agora, em um outro momento da pesquisa, retratar a relação desta usina para com os pequenos produtores de Santa Bárbara d’Oeste.

BIBLIOGRAFIA

ALEIXO, Elizandra Maria. A Subordinação dos Pequenos Proprietários ao Modo de Produção Agroindustrial Sucroalcooleiro em Santa Bárbara d’Oeste. Trabalho de conclusão de curso – Curso de Bacharelado e Licenciatura em Geografia, PUC Campinas: Campinas, 2007, 71p.

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Referências

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