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1ª VARA DO TRABALHO DE MONTES CLAROS - MG

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Academic year: 2021

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1ª VARA DO TRABALHO DE MONTES CLAROS - MG

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 0000501-50.2014.503.0067 RECLAMANTE - ROSILENE PEREIRA DE SOUZA

RECLAMADA - ALPARGATAS S/A

Aos 24 (vinte e quatro) dias do mês de abril de 2014, às 16h50min, na sede da 1ª VARA DO TRABALHO DE MONTES CLAROS - MG, realizou-se audiência de julgamento da reclamação trabalhista supra, sendo proferida pela Dra. ROSA DIAS GODRIM a seguinte decisão:

1. Dispensado o relatório, na forma do art. 852, I da CLT, com a redação dada

pela Lei 9957/00.

2 . FUNDAMENTAÇÃO

2.1. DEFESA INDIRETA PROCESSUAL

A reclamada argui a inépcia da inicial sob o argumento de impossibilidade jurídica do pedido, uma vez que a reclamante não alega a existência de qualquer relação jurídica com a empresa.

Rejeita-se a preliminar suscitada, uma vez que a petição inicial atendeu aos requisitos do art. 840 da CLT, permitindo ao Juízo a sua apreciação e possibilitando à reclamada a apresentação de defesa útil.

Também não há que se falar em carência de ação, pois estão presentes todas as condições da ação.

A reclamada foi indicada como devedora da relação de direito material, há interesse pela necessidade do provimento jurisdicional e não existe no ordenamento jurídico qualquer norma que faça inviável o pedido.

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A discussão acerca da procedência dos pedidos formulados é matéria pertinente ao mérito, onde então será analisada.

2.2. INDENIZAÇÃO - PRÉ-CONTRATO

A reclamante alega que teve a CTPS recolhida pela reclamada para anotação, na expectativa do início de um contrato de trabalho, mas depois de transcorridos quase dois meses teve o documento devolvido com rasuras. Sustenta que as tratativas com a empresa ultrapassaram as negociações preliminares, gerando-lhe confiança razoável de que seria contratada, o que não se concretizou. Postula indenização por danos morais e pelas vantagens trabalhistas do período em que esteve à disposição da reclamada.

Em sua contestação, a reclamada sustenta que a contratação não ocorreu porque o posto almejado pela autora sequer foi disponibilizado, ou seja, a vaga acabou não sendo aberta. Afirma que o vínculo se frustrou por fatos alheios à sua vontade (f. 25), sem, no entanto, especificá-los.

Trata-se aqui de pedido relacionado à responsabilidade pré-contratual, ou seja, após a proposta e antes da efetiva contratação.

Para a análise da indenização pretendida pela reclamante, há que se verificar a coexistência da conduta culposa da reclamada, ocorrência de dano e nexo causal, nos termos do art. 186 do C.C.

Feitas tais considerações, passa-se à apreciação da questão posta, analisando, inicialmente, se houve ou não o pré-contrato alegado pela reclamante e negado pela reclamada.

Os documentos juntados aos autos demonstram que a autora se submeteu a exame médico admissional (f. 31) e teve a CTPS anotada (f. 15) com admissão em 19/11/2013, na função de operadora de produção, com salário de R$3,19 por hora, inclusive com registro acerca do período de experiência iniciado em 19/11/2013 (f. 17), embora não tenha havido assinatura da reclamada.

Não resta a menor dúvida de que houve a promessa de contratar, sendo já estipuladas as principais cláusulas contratuais: data de admissão, função e salário.

Ocorre que, por razões que certamente não vieram aos autos, a reclamante não foi efetivamente contratada, sendo a CTPS devolvida à autora com carimbo de “cancelado” sobre

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Obviamente, a reclamada não seria obrigada a oferecer a vaga para a reclamante, mas ao fazer a proposta de emprego à autora, a tal proposta se submeteu, nos termos do art. 427 do C.C, de aplicação subsidiária, que assim dispõe:

“A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”.

Ao receber a notícia de que seria admitida na reclamada, a reclamante, por certo, se encheu de esperanças, de sonhos e se sentiu vitoriosa, com o sabor de quem conseguiu um emprego formal, em uma grande empresa.

E a reclamada, que ajudou a reclamante a “construir esse castelo”, logo em seguida o destruiu, sem qualquer justificativa plausível.

Houve, portanto, uma conduta culposa da reclamada, que descumpriu o disposto no art. 427 do C.C.

Há que se considerar que a liberdade de contratar, direito assegurado à reclamada, deve ser exercida em razão e nos limites da função social do contrato (art. 421 do C.C).

Dentre as funções sociais do contrato de trabalho, destaca-se a ocupação do empregado a serviço do empregador, mediante remuneração que lhe garanta as suas necessidades vitais básicas, sendo também uma forma de circulação de valores e movimentação da economia, já que o salário é uma das principais molas do consumo.

Na circunstância do caso em apreço, é presumível o dano moral sofrido, havendo ainda o nexo de causalidade. A conduta da empresa gerou expectativa real à reclamante de que seria admitida. Existiu, portanto, violação ao dever pré-contratual de lealdade e um prejuízo a ser indenizado.

Segundo Maria Helena Diniz, “o dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral” (“Curso de Direito Civil” – Vol. 7, 10ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 1996, pág. 49).

Em regra, todos os danos devem ser ressarcíveis, ainda que não haja a possibilidade de retorno ao “status quo ante”.

Certamente, há muitas objeções à reparabilidade do dano, especialmente o moral, ao argumento principal da imoralidade de compensar a dor com dinheiro e a impossibilidade de uma rigorosa avaliação em dinheiro.

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O primeiro argumento é desprovido de conteúdo jurídico, pois muito mais imoral é deixar o lesionado sem qualquer tutela jurídica.

Como bem ressaltado por Wilson Melo da Silva, citado por Rodolfo Pamplona Filho, em sua obra “O Dano Moral na Relação de Emprego (São Paulo, LTR, 2ª edição, 1999): “se não se pode banir por completo, da alma do lesado, a grande dor sentida, que se procure, por todos os meios, uma atenuação, ao menos, para seu sofrimento”.

A impossibilidade de uma rigorosa avaliação não pode constituir óbice à reparação. Como alerta Aguiar Dias, “a condição da impossibilidade matematicamente exata da avaliação só pode ser tomada em benefício da vítima e não em seu prejuízo. Não é razão suficiente para não indenizar, e assim beneficiar o responsável, o fato de não ser possível estabelecer equivalente estado, porque, em matéria de dano moral, o arbitrário é até da essência das coisas” (grifou-se).

Como a lei não estabelece critérios claros para a indenização do dano moral, o valor deve ser arbitrado pelo julgador, por equidade, levando-se em conta as circunstâncias de cada caso, visando punir o responsável por sua falta, mas atentando-se para o princípio que veda o enriquecimento sem causa. Considera-se, ainda, o efeito pedagógico da medida, o que fará a reclamada não repetir a conduta, ou pelo menos refletir, antes de reiterá-la.

O valor pretendido pela reclamante se revela exorbitante, pois, se deferido, seria muito mais vantajoso para a autora não ser contratada do que obter o emprego que ela tanto buscava.

Levando-se em conta as circunstâncias do caso, o grau de culpa da reclamada e a dor sofrida pelo reclamante, acolhe-se o pedido de indenização por danos morais, cujo valor se fixa em R$2.105,40, sendo utilizado como parâmetro o valor do salário a que a reclamante teria direito, se fosse contratada (f. 15), multiplicado por três meses, com base no tempo máximo de um contrato de experiência (90 dias).

Faz-se o registro que se trata apenas de um critério para cálculo, não se pretendendo aqui afirmar a existência do direito de a autora ser contratada pelo prazo supra.

Diante dos fundamentos expostos, indeferem-se as indenizações pleiteadas nos itens “b”, “c”, “d”, “f” e “g”.

O valor será atualizado a partir da presente data, até o efetivo pagamento, observando-se os índices dos créditos trabalhistas.

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2.3 – JUSTIÇA GRATUITA

Ante os termos da declaração de f. 09, deferem-se à reclamante os benefícios da Justiça Gratuita, nos termos do art. 790, § 3o, da CLT.

3. CONCLUSÃO

Pelo exposto, resolve 1ª VARA DO TRABALHO DE MONTES CLAROS - MG julgar PROCEDENTES, EM PARTE os pedidos, para condenar a reclamada

ALPARGATAS S/A a pagar à reclamante ROSILENE PEREIRA DE SOUZA, nos termos

da fundamentação supra, parte integrante deste dispositivo, as seguintes parcelas:

- indenização por danos morais, cujo valor se fixa em R$2.105,40. Deferem-se à reclamante os benefícios da justiça gratuita e rejeitam-se os demais pedidos.

Deverá ser observada a atualização monetária a partir da presente data, aplicando-se os índices dos créditos trabalhistas, com incidência de juros a partir da propositura da ação (Súmula 439/TST).

A verba deferida tem natureza indenizatória, não se sujeitando à incidência de contribuições previdenciárias ou fiscais.

Custas, pela reclamada, no importe de R$42,10, calculadas sobre R$2.105,40, valor arbitrado à condenação, para os efeitos legais.

Cientes as partes (Súmula 197 / TST). Encerrou-se a audiência.

ROSA DIAS GODRIM Juíza do Trabalho

Lucianne Fonseca Silva e Lima Diretora de Secretaria

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