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Atividade Física. para a Saúde: recomendações

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Atividade Física

para a

Saúde:

recomendações

Moisés Henriques

Médico Naval, Centro de Medicina Naval; Médico Interno de Medicina Física e de Reabilitação, Centro Hospitalar Lisboa Norte

Resumo

Introdução: A atividade física compreende qualquer movimento do corpo humano produzido pela contração muscular que implique um dispêndio energético superior ao do repouso. A prática de atividade física está associa-da a benefícios para a saúde, mas para os garantir é necessário cumprir alguns requisitos de quantidade e qualidade, os quais podem ser monitorizados com alguns instrumentos. Interessa pois saber quais são as recomendações atuais para a atividade física com efeitos na saúde.

Material e Métodos: Para a elaboração deste estudo pro-cedeu-se à análise das últimas recomendações específi-cas de algumas Instituições com reconhecida idoneidade nesta temática. Procedeu-se à descrição das recomenda-ções de atividade física por grupo etário e análise das suas particularidades. Por fim, comentou-se a realidade portuguesa no âmbito da prática de atividade física.

Resultados: Os jovens devem completar diariamente no mínimo 60 minutos de atividade física aeróbia de inten-sidade moderada a vigorosa e devem incorporar ativida-des de intensidade vigorosa que solicitem o sistema músculo-esquelético do tronco e membros três ou mais vezes por semana. Os adultos e os idosos devem acumu-lar durante a semana no mínimo 150 minutos de ativi-dade física aeróbia de intensiativi-dade moderada ou 75 minutos de atividade física aeróbia de intensidade vigo-rosa ou uma combinação equivalente das duas anterio-res, e devem realizar exercícios de força de intensidade moderada a elevada duas ou mais vezes por semana. Os idosos devem ainda adicionar atividades que otimizem o equilíbrio em três ou mais dias da semana.

Discussão: Os benefícios de ser fisicamente ativo ultra-passam em muito eventuais malefícios. Alguma ativida-de física é melhor que nenhuma e a sua prática acima dos mínimos recomendados induz benefícios adicionais. Para alcançar o volume total de atividade física deve pre-ferir-se uma distribuição semanal equilibrada, podendo inclusive ser fracionada ao longo do dia em períodos nunca inferiores a 10 minutos. No sentido de cativar e promover a prática regular de atividade física devem ser combatidas as principais barreiras à participação. A situa-ção portuguesa não é preocupante no que respeita à idade adulta mas denota insuficiência nos idosos e torna-se preocupante no que respeita aos jovens.

Conclusões: A prática de atividade física nos moldes descritos é profícua para a saúde; as recomendações são consensuais. Cabe aos profissionais de saúde indagar o seu conhecimento, orientar a prática e reforçar a motiva-ção para a tarefa, mas a escolha por um estilo de vida ativo é individual. Continua a ser possível tomar medidas concretas em diversas áreas de atuação no sentido de reduzir a prevalência da inatividade física.

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A atividade física compreende qualquer movimento do corpo humano produzido pela contração muscular que implique um dispêndio energético superior ao do repou-so.(1)Genericamente inclui uma grande variedade de

ativi-dades, nomeadamente:

• Atividades da vida diária (p.e. limpar a casa, cozinhar);

• Atividade laboral;

• Atividades relacionadas com as deslocações (p.e. andar a pé ou de bicicleta);

• Atividades de recreação e lazer (p.e. passear pelo parque, correr, jogar futebol).

Para efeitos de definição interessa distinguir atividade física de exercício físico e de desporto. Sendo dimensões da atividade física (Figura A), o exercício físico reporta-se à atividade realizada de forma planeada, estruturada e repetida com o objetivo de manter ou otimizar uma ou mais componentes da aptidão física (p.e. resistência aeró-bia, força, flexibilidade); o desporto refere-se à atividade realizada sob um enquadramento de regras específico e com objetivos competitivos.(1)

Figura A

Relação entre atividade física, exercício físico e desporto.

A evolução científica e os avanços tecnológicos ocorri-dos no último século foram proveitosos para a melhoria da qualidade de vida de muitas populações; porém, foram e são também responsáveis pelo aumento da prevalência do sedentarismo e das suas repercussões negativas (p.e. doen-ças parcialmente atribuíveis à ausência de movimento).(2)

A inatividade física foi já identificada como o 4º maior

nuição dos níveis de atividade física repercutiu-se no aumento do número de casos de doenças não transmissí-veis - assume-se que seja a principal causa de 21-25% dos casos de neoplasia da mama e do cólon, 27% dos casos de diabetes e 30% dos casos de doença cardíaca isquémi-ca - e de presença de outros fatores de risco (p.e. hiper-tensão arterial, excesso de peso).(3,4)Notar as estimativas

de que 6 em cada 10 mortes são atribuíveis a doenças não transmissíveis!(5)

Não esquecendo que estamos perante um fator de risco modificável, sendo os malefícios associados passíveis de anulação, enaltece-se ainda a importância da atividade físi-ca para a promoção da saúde tendo em conta os variados benefícios, terapêuticos e/ou preventivos, já comprovados.

A atividade física, desde que praticada em segurança, é benéfica para todos os indivíduos, independentemente do género, idade, raça, nível económico ou estado de saúde.(6) A sua prática regular influencia positivamente o

perfil tensional, lipídico e glicémico; reduz o risco de con-trair inúmeras patologias, nomeadamente, doença cardio-vascular (incluindo acidentes cardio-vasculares cerebrais), diabe-tes tipo II, cancro (cólon e mama), osteoporose, obesida-de, depressão e demência; e é essencial para um cresci-mento/envelhecimento saudável, na medida em que reduz o risco de mortalidade prematura e serve de trata-mento para várias doenças crónicas.(2,4)Além disso,

previ-ne ou atrasa a senilidade e a perda de autonomia; dimi-nui o stress e melhora o humor e a autoestima; melhora a qualidade do sono e aumenta a condição física geral. (2,4)

Algumas das vantagens são particulares a determinado grupo de indivíduos, como é o caso dos idosos, onde a ati-vidade física está igualmente associada a uma redução do risco de queda e de lesões daí resultantes.(2,7)

Os efeitos benéficos da atividade física não se esgotam no indivíduo e expandem-se ao meio familiar, profissional e social. Por exemplo, a melhoria do bem-estar e o maior otimismo, repercute-se na diminuição do absentismo. A poupança resultante desta prática, seja em custos diretos ou indiretos com a saúde, não é de todo desprezível.

Perante o manancial de vantagens que a atividade física traz à saúde das populações, torna-se relevante a emissão de orientações de boas práticas e recomendações para balizar os limites mínimos de atividade física neces-sários para alcançar os benefícios inerentes.

Só é possível monitorizar a adesão às recomendações emitidas com a mensuração dos níveis de atividade física; existem atualmente várias ferramentas disponíveis para tal, nomeadamente, questionários, pedómetros e aceleró-metros. Os questionários (p.e. Global Physical Activity

Questionaire) são amplamente usados dada a facilidade

de aplicação, baixo custo associado e grande adesão dos participantes, mas constitui um método subjetivo

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(concei-to individual de atividade física pode ser restri(concei-to à mera participação desportiva e/ou subestimar atividade física realizada a uma intensidade ligeira a moderada) que des-virtua um resultado preciso.(2)Os pedómetros contabilizam

os passos dados por um indivíduo, o que pode ser utiliza-do como medida da atividade física total, mas não são capazes de distinguir níveis de intensidade.(2) Os

aceleró-metros, por sua vez, dão uma medida objetiva da ativida-de física e a sua distribuição por diferentes intensidaativida-des.

Material e Métodos

Para a elaboração deste estudo de revisão procedeu--se à análise das últimas recomendações específicas de algumas Instituições com reconhecida idoneidade na temática da atividade física, nomeadamente: World

Health Organization, American College of Sports Medicine, American Heart Association, Australian Government Department of Health and Ageing, U.S. Department of Health and Human Services, Canadian Society for Exercise Physiology, British Heart Foundation Centre for Physical Activity and Health e Instituto do Desporto de Portugal.

Estes documentos foram complementados com bibliogra-fia disponível sobre esta temática.

Procedeu-se à descrição das recomendações de ativi-dade física por grupo etário e análise das particulariativi-dades das recomendações em geral. Por fim, teceram-se alguns comentários sobre a realidade portuguesa no âmbito da prática de atividade física.

Resultados

As recomendações para a prática de atividade física que se enumeram de seguida resultam da aglutinação dos inúmeros documentos publicados para esse efeito por diversas entidades, nacionais e internacionais, como é o caso da Organização Mundial da Saúde. (2,4,8-18)Estas

desti-nam-se genericamente a indivíduos saudáveis, mas tam-bém podem ser consideradas nos casos de doença cróni-ca e/ou incróni-capacidade físicróni-ca (eventualmente com as devi-das adaptações). As diretrizes baseiam-se em conceitos de frequência, duração, intensidade e tipo de atividade física. No processo de emissão de recomendações houve necessidade de distinguir três grupos etários dadas as suas particularidades:

• Crianças e adolescentes: até aos 18 anos de idade; • Adultos: dos 18 aos 65 anos de idade;

• Idosos: 65 ou mais anos de idade.

Crianças e Adolescentes

Até 1 ano de idade: para um desenvolvimento

saudá-vel da criança, a atividade física deve ser encorajada logo após o nascimento desde que enquadrada num ambiente seguro, baseada em brincadeiras no chão e sob supervisão.

Idade entre 1 a 5 anos: estas crianças devem

acumu-lar no mínimo 180 minutos de atividade física ao longo de cada dia, sempre num ambiente seguro e sob supervisão. Todas as crianças até aos 5 anos de idade não devem per-manecer mais de uma hora inativos (p.e. ver televisão ou jogar no computador - proibitivo a crianças com idade inferior a 2 anos), exceto durante o sono.

Idade entre 5 a 18 anos: este grupo etário deve

comple-tar diariamente no mínimo 60 minutos (pode perfazer várias horas), não necessariamente consecutivos, de atividade físi-ca aeróbia de intensidade moderada a vigorosa. Na sua prá-tica devem incorporar atividades de intensidade vigorosa que solicitem o sistema músculo-esquelético do tronco e membros para melhorar a força muscular, a resistência óssea e a flexibilidade; isto três ou mais vezes por semana.

Adultos

Os adultos devem acumular durante a semana no mínimo 150 minutos de atividade física aeróbia de inten-sidade moderada (p.e 30 minutos/dia, 5 dias/semana) ou 75 minutos de atividade física aeróbia de intensidade vigorosa (p.e. 25 minutos/dia, 3 dias/semana) ou uma combinação equivalente das duas anteriores (p.e. 25 minutos/dia, intensidade moderada, 4 dias/semana + 25 minutos/dia, intensidade vigorosa, 1 dia/semana). Além disso devem realizar exercícios de força de intensidade moderada a elevada que envolvam grandes grupos mus-culares, duas ou mais vezes por semana.

Idosos

Apesar do envelhecimento inevitável, os idosos devem tentar cumprir as recomendações já enunciadas para os adultos, ou seja, a acumulação durante a semana de pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbia de intensi-dade moderada ou 75 minutos de ativiintensi-dade física aeróbia de intensidade vigorosa ou uma combinação equivalente das duas anteriores; e a realização de exercícios de força de intensidade moderada a elevada, duas ou mais vezes por semana. É conveniente adicionar ainda a prática de ativida-des que otimizem o equilíbrio e contribuam para a preven-ção de quedas (um terço dos idosos sofre pelo menos uma queda por ano) em três ou mais dias da semana.

Discussão

O racional das recomendações de prática de atividade física centra-se no pressuposto de que uma prática regular confere aos indivíduos vantagens na prevenção da doen-ça e promoção da saúde. Esta realidade impulsionou a

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reflexo disso é o crescente número de publicações sobre esta temática e a criação de organismos responsáveis pela monitorização e avaliação das diferentes políticas imple-mentadas nesta matéria.

Notar contudo que a prática de atividade física tam-bém tem os seus riscos! Ainda assim, os efeitos adversos relacionados com a atividade física, como lesões músculo--esqueléticas (comuns, mas inocentes nas atividades de intensidade moderada), podem ser minimizados através de medidas específicas, nomeadamente, aumento pro-gressivo do nível de atividade, escolha de atividades de baixo risco e execução prudente das atividades.(4,11,12,14,16)A

verdade é que os benefícios de ser fisicamente ativo ultra-passam em muito eventuais malefícios.(11,12,14-16)

O sedentarismo deve ser evitado, uma vez que algu-ma atividade física é melhor que nenhualgu-ma.(2,4,11,12,14,16,18)Esta

premissa tem maior aplicabilidade nos indivíduos que, por alguma razão (médica ou outra), não conseguem cumprir as recomendações vigentes. Estas destinam-se generica-mente a todos os indivíduos dos respetivos grupos etários, independentemente do género, raça, nível económico e estado de saúde.(4,6,12,15,14)Existem no entanto alguns

consi-derandos relativamente ao estado de saúde:

• Devem ser excluídas contraindicações absolutas e/ou relativas antes do início da prática;(7)

• Alguns indivíduos (p.e. grávidas, puérperas, doentes cardíacos) devem procurar aconselhamento médico atempado e tomar precauções especiais;(4)

• Os idosos, independentemente do estado de saúde, devem procurar aconselhamento médico antes de participar em atividades de intensidade vigorosa devido ao risco que estas representam para a ocorrên-cia de eventos cardiovasculares adversos e quedas;(2)

• Os indivíduos sedentários que tencionam iniciar a prática de atividade física e os indivíduos que tencio-nam aumentar o nível de atividade física devem ser previamente observados por um médico, tanto mais se forem doentes.(7,11,12,15,18)

É conhecida a relação dose-efeito (hiperbólica - benefí-cios marginais para volumes de atividade física acima dos 300 minutos/semana de atividade de intensidade modera-da, a par do aumento do risco de lesão(4,18)) entre a

ativida-de física e os benefícios para a saúativida-de/qualidaativida-de ativida-de vida (Figura B).(7,11,12,14-16,18,19)Esta consubstancia o facto da

realiza-ção de atividade física acima dos mínimos recomendados induzir benefícios adicionais de saúde e resultar em níveis superiores de condição física.(4,13,16,18)Assim sendo, no caso

dos adultos e idosos, tal pode ser alcançado aumentando a atividade física aeróbia para 300 minutos/semana de intensidade moderada ou 150 minutos /semana de inten-sidade vigorosa ou uma combinação equivalente de ativi-dades de intensidade moderada e vigorosa.(2,4,12,13)

Para alcançar os tempos totais de prática de atividade física deve preferir-se uma distribuição semanal equilibra-da, podendo inclusive ser fracionada ao longo do dia em períodos nunca inferiores a 10 minutos consecutivos.(2,4,6,7,11-16)

Este último aspeto é de particular relevância na contabili-zação do volume de atividade física que produz efeitos na saúde.

No sentido de cativar e promover a prática regular de atividade física devem ser combatidas as principais barrei-ras à participação (p.e. influência familiar, adesão, receio de lesão) identificadas em cada escalão etário.(7,11,12,14-16,18)

Como tal e a título de exemplo, é conveniente:

• Incluir jogos e atividades lúdicas divertidas a realizar preferencialmente em grupo nas atividades físicas destinadas às crianças e adolescentes;

• Dar preponderância às atividades de intensidade moderada (menor risco de lesão e maior adesão); • Adotar um plano de atividades por etapas e/ou por

intervalos de prática (o aumento gradual da ativida-de física é mais agradável, minimiza o risco ativida-de lesão e reforça positivamente a autoconfiança e adesão); • Dar ênfase à dimensão familiar e social da atividade

física (atividades coletivas);

• Utilizar estratégias de prevenção de lesões (uma das principais razões que impede a prática regular de atividade física).

A Tabela I enquadra a definição dos conceitos que constituem a base das recomendações aqui considera-das. O aspeto mais preponderante das recomendações parece ser o volume total de atividade e não tanto o tipo, intensidade ou frequência da mesma, apesar de se Figura B

Relação dose-resposta entre atividade física e benefícios para a saúde em três situações distintas (A - indivíduo sedentário, B - indivíduo ativo, C - indivíduo treinado). Adaptado de WHO, Steps to health - A European Framework to Promote Physical Activity for Health, 2007.

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aconselhar uma prática diária de atividades de intensi-dade moderada. (11,14)Não são aqui explanadas

conside-rações sobre o que deve ser a estrutura de uma sessão de atividade física (p.e. no caso de uma sessão formal de exercício físico, esta deve ser tripartida em aqueci-mento, treino e arrefecimento) porque este enquadra-mento não é de todo obrigatório, mas estão publicados dados concretos sobre estas questões (p.e. tipo de exer-cícios, número de séries e de repetições no treino de força muscular).

A intensidade do esforço é teoricamente classificada em equivalentes metabólicos (METs), sendo que 1 MET (consumo de oxigénio ±3,5mL/kg/min) corresponde ao dispêndio energético quando em repouso. Como as ativi-dades podem ser quantificadas em múltiplos de METs (intensidade moderada = 3MET; intensidade vigorosa = 6MET), podem também ser comparáveis entre si apesar das suas diferenças (Figura C).(2) Notar contudo que os

valores de corte apresentados variam com o dispêndio energético em repouso (superior nos jovens) e a aptidão física do indivíduo.(2)Uma forma mais prática, mas

subje-tiva, de avaliar a intensidade da atividade física é a uti-lização de uma escala numérica de 10 pontos, em que 0 e 10 correspondem a um esforço mínimo e máximo, res-petivamente; nesta escala consideram-se de intensidade moderada os esforços percebidos entre 5 e 6 (condicio-nam um aumento moderado da frequência cardíaca e respiratória - consegue-se falar confortavelmente duran-te a atividade) e de induran-tensidade vigorosa os esforços per-cebidos entre 7 e 8 (condicionam um aumento elevado da frequência cardíaca e respiratória - fala-se com difi-culdade entre inspirações profundas).(2,4,6,11-13,18) Os

acele-rómetros são os instrumentos que podem fornecer uma avaliação objetiva deste parâmetro.

Conceito Tipo de Atividade Física Duração Frequência Intensidade Definição

Forma de realização da atividade, a qual promove determinada(s) compo-nente(s) da aptidão física (p.e. resis-tência aeróbia, força, flexibilidade). Quantidade de tempo em que a ativi-dade é realizada. Expressa em minutos. Número de vezes que a atividade é praticada. Expressa em sessões ou epi-sódios por semana.

Quantidade de esforço necessário para efetuar a atividade.

Tabela I

Definição dos parâmetros de prescrição de atividade física.

Os pedómetros, apesar de não distinguirem os vários níveis de intensidade, traduzem uma medida de volume que pode ser usada para balizar o cumprimento ou não das recomendações de atividade física. Para tal, no caso dos adultos saudáveis, são considerados os valores explanados na tabela seguinte.(20) Sendo a marcha uma

das principais atividades físicas praticadas pelos adultos e idosos, e o pedómetro um utensílio barato, a sua utili-zação constitui uma boa opção para a auto-monitoriza-ção da prática de atividade física.(2)

Figura C

Categorização de atividades físicas segundo os equivalentes metabólicos. Adaptado de Livro Verde da Atividade Física, 2011.

Nível de Atividade Física

Sedentarismo Baixo Moderado Elevado Muito elevado Passos/dia < 5.000 5.000 - 7.499 7.500 - 9.999 10.000 - 12.500 > 12.500 Tabela II

Nível de atividade física segundo o número de passos por dia para adultos saudáveis. Dados retirados de Tudor-Locke C et al., 2004.

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Atividade Física e do Desporto realizou um estudo entre 2006 e 2009 que incluiu a avaliação de 5231 portugueses (dos quais 3211 jovens com idade ≥10 anos, 1244 adultos e 776 idosos) com funcionamento físico independente, de ambos os sexos, em 18 distritos de 5 zonas de Portugal Continental. A atividade física foi quantificada através de acelerometria e expressa em tempo médio total e por períodos iguais ou superiores a 10 minutos de atividade física diária de intensidade pelo menos moderada - prin-cipal medida de comparação com as recomendações da atividade física para a saúde.

Tendo em conta as recomendações para a prática de atividade física, nomeadamente a acumulação de 60 minutos por dia para os jovens e de 30 minutos por dia para os adultos e idosos de atividade física de intensidade pelo menos moderada em pelo menos 5 dias da semana, os resultados evidenciaram que:(2)

• Nos jovens, 31,0% dos rapazes e 10,4% das rapari-gas são suficientemente ativos; considerando os intervalos de idade, os mais novos são percentual-mente mais ativos que os mais velhos (Tabela III); • Nos adultos, 76,7% dos homens e 63,7% das

mulheres são suficientemente ativos;

Considerando a distribuição dos indivíduos pelas várias regiões de Portugal verificaram-se discrepâncias conside-ráveis a ter em conta no processo de implementação geo-gráfica de medidas de promoção da prática de atividade física (Tabela IV).

Mas mais importante do que identificar os indivíduos que amealham a totalidade dos minutos de atividade físi-ca diária de intensidade pelo menos moderada (Gráfico 1), é saber quantos deles o fazem à custa da soma de perío-dos de atividade com duração igual ou superior a 10 minu-tos consecutivos (Gráfico 2). Se no primeiro caso apenas os adultos e os idosos do sexo masculino cumprem os míni-mos (30 minutos/dia - linha contínua), no segundo todos ficam muito aquém do pretendido (Tabela V); isto revela que a atividade física com estas intensidades é mantida por períodos de tempo demasiado curtos, limitando desta forma o seu impacto na saúde cardiovascular.(2)

Notar que o tempo de atividade sedentária ainda representa uma percentagem considerável do registo diário dos portugueses (jovens: 66,7% em raparigas e 63,4% em rapazes; adultos: 64,6% em mulheres e 68,7% em homens; idosos: 71,6% em mulheres e 73,6% em homens). Apesar do sedentarismo não implicar a ausência de prática de ati-vidade física moderada e vigorosa, a sua quantificação tem ganho interesse no estudo dos seus efeitos na saúde.(2)

A situação portuguesa não é preocupante no que res-peita à idade adulta mas denota insuficiência nos idosos e torna-se preocupante no que respeita aos jovens. Posto isto, é necessário unir esforços para inverter esta situação e para tal deverão ser diligenciadas medidas de promoção da ati-vidade física com especial enfoque nos jovens e idosos (particularmente do género feminino).(2) No caso dos

jovens, é sabido que os hábitos ganhos na infância têm ten-dência a perdurar na vida adulta, razão pela qual as inter-venções que envolvam a família, a escola e a comunidade devem ser privilegiadas.(21,22) Por sua vez, os idosos são os

indivíduos menos ativos fisicamente e os que geram mais

Região Jovens Adultos Idosos

Rapazes Raparigas Homens Mulheres Homens Mulheres

Alentejo 27,8% 8,4% 80,2% 53,5% 20,0% 10,7% Algarve 24,0% 8,8% 76,7% 54,8% 34,5% 21,4% Centro 19,0% 4,6% 68,6% 65,1% 54,5% 42,9% Lisboa 33,7% 11,2% 71,6% 58,4% 51,5% 19,2% Norte 40,2% 16,0% 82,0% 73,5% 49,0% 32,8% Tabela IV

Percentagem de indivíduos suficientemente ativos, por grupo etário, género e região de Portugal. Dados retirados de Livro Verde da Atividade Física, 2011.

10-11 anos 53,0% 23,1%

12-13 anos 30,0% 8,3%

14-15 anos 18,8% 5,1%

16-17 anos 8,7% 1,8% Tabela III

Percentagem de jovens suficientemente ativos, por idade e género. Dados retirados de Livro Verde da Atividade Física, 2011.

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despesas com cuidados de saúde, além de que constituem o grupo etário com maior crescimento nos últimos anos (mais do que duplicou nos últimos 50 anos em Portugal, atingindo um valor de 19,15% em 2011(23)), tendência que

se irá manter no futuro próximo.(7,11,14,18)Neste contexto

par-ticular é premente a atuação do poder local (p.e. juntas de freguesia, instituições privadas) para proporcionar acessibi-lidade a infraestruturas e implementar programas organiza-dos em prol da crescente prática de atividade física.(2)

Conclusões

A prática de atividade física nos moldes anteriormen-te descritos é profícua para a saúde nas suas variadas dimensões.

As atuais recomendações de atividade física são con-sensuais e estão bem definidas. A sua divulgação pela população em geral tem sido amplificada nos últimos tempos; ainda assim cabe aos profissionais de saúde indagar o seu conhecimento, orientar a prática e reforçar a motivação para a tarefa. Posto isto, cumpre a cada um enveredar por um estilo de vida ativo em prol do bem comum.

É possível tomar medidas concretas em diversas áreas de atuação (p.e. desporto, saúde, educação, transportes, local de trabalho) no sentido de reduzir a prevalência da inatividade física. Haja força de vontade por parte dos intervenientes!

Moisés Henriques

Tabela V

Valores médios do volume de atividade física diária de intensidade moderada e/ou vigorosa considerando apenas os períodos de duração igual ou superior a 10 minutos, por grupo etário e género - Portugal Continental. Dados retirados de Livro Verde da Atividade Física, 2011.

Género

Grupo Etário

Jovens Adultos Idosos

Masculino 5 ± 8 minutos 7 ± 14 minutos 5 ± 11 minutos

Feminino 3 ± 6 minutos 8 ± 14 minutos 2 ± 6 minutos Gráfico 1

Valores médios do volume total de atividade física diária de intensidade moderada e/ou vigorosa por grupo etário e género - Portugal Continental. Adaptado de Livro Verde da Atividade Física, 2011.

Gráfico 2

Valores médios do volume de atividade física diária de intensidade oderada e/ou vigorosa considerando apenas os períodos de duração igual ou superior a 10 minutos, por grupo etário e género - Portugal Continental. Adaptado de Livro Verde da Atividade Física, 2011.

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