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A ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES CAMPONESAS NO TERRITÓRIO RURAL DO BOLSÃO/MS

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A ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES CAMPONESAS NO

TERRITÓRIO RURAL DO BOLSÃO/MS

DANILO SOUZA MELO1

ANDRÉ RICARDO DOS SANTOS BERSANI2

SEDEVAL NARDOQUE3

RESUMO: Localizado no Cerrado do Centro-Oeste brasileiro, em meio a atual conjuntura de negação da questão agrária e de paralisação da política de reforma agrária, o Território Rural do Bolsão (MS) surgiu em 2013 como resultado da política pública brasileira de desenvolvimento territorial, em expansão nos últimos anos. É neste contexto que ganha destaque a organização das mulheres camponesas. Objetivamos neste trabalho realizar uma discussão preliminar sobre o início da organização e participação das mulheres camponesas do Bolsão/MS na política pública de desenvolvimento territorial. Para alcançar o objetivo realizaremos análise dos três encontros das mulheres camponesas realizados no território do Bolsão, a partir de suas demandas e ações. Utilizaremos bibliografia com os temas: Geografia Agrária, Território Rural do Bolsão e Questão de Gênero.

Palavras-chave: Questão Agrária; Território Rural do Bolsão/MS; Questão de Gênero

Abstract: Located in the Center-West region, in the middle of the current situation of denial of the

agrarian question and stoppage of land reform policy, the rural territory the Pocket (MS) was founded in 2013 as a result of the public policy of territorial development, expanding in recent years. It is in this context that wins highlight the organization of peasant women. It is in this context that wins highlight the organization of peasant women. The aim of this study to perform a preliminary discussion about the beginning of the organization and participation of women farmers the Pocket/MS in public policy of territorial development. To achieve the objective we will analyze the three meetings of the peasant women carried out in the territory of the pocket, from their demands and actions. We will use bibliography with the themes: Geography Agrarian, Rural Areas of the bag and the gender issue.

Key-words: Agrarian Question; Rural Territory of Bolsão/MS; the gender Question

Introdução

A política dos Territórios Rurais é oriunda de uma nova perspectiva de desenvolvimento adotada pelo Estado brasileiro, a qual pretende substituir o debate acerca da questão agrária. Desde 2003, novas estratégias de abordagem para implementação de políticas de combate à pobreza, principalmente no campo, visando

1 - Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Goiás/CAJ. E-mail: danilosouza.geo@hotmail.com

2 - Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo. E-mail: andre.bersani@gmail.com

3 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. E-mail: nardoque@hotmail.com

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11045 a inclusão produtiva e o fortalecimento da agricultura familiar (BRASIL, 2015), vem sendo aplicadas no Brasil. Essas estratégias têm como promessa promover o desenvolvimento rural em nova perspectiva e escala de atuação, “descentralizando” as decisões sobre as políticas e o uso dos recursos financeiros.

Resultado da expansão da política pública de desenvolvimento territorial, o Território Rural do Bolsão/MS localizado na região Leste de Mato Grosso do Sul é composto por oito municípios como apresentado no mapa 1. O mapa apresenta os municípios de Três Lagoas, Água Clara, Selvíria, Paranaíba, Aparecida do Taboado, Inocência, Cassilândia e Chapadão do Sul como base do Território Rural do Bolsão/MS.

Mapa 1 – Território Rural do Bolsão/MS: Localização

Fonte: MDA, 2014.

Privilegiado geograficamente por estar localizado na divisa com os estados de Goiás e São Paulo e ser transpassado pelas rodovias (SP-300 e SP-320, BR-262 e BR-153) e pelas ferrovias (Ferronorte e Novoeste) que contribuem para o escoamento da produção realizada na região (NARDOQUE, 2016), o Território Rural do Bolsão

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11046 ainda conta com a abundância de recursos naturais, principalmente a água, por ser banhado pelas bacias hidrográficas: Aporé, Santana, Quitéria, Sucuriú e Rio Verde.

Estas características possibilitaram e possibilitam a implantação de grandes empreendimentos no campo e na cidade. Neste sentido, o campo no Território Rural do Bolsão, caracterizado pela agropecuária extensiva, passa a sofrer mudanças significativas no início do século XXI com as monoculturas de soja, cana de açúcar e, mais recentemente, a do eucalipto, desdobramento do processo de territorialização do setor de celulose (KUDLAVICZ, 2011).

Diante do desenvolvimento da agricultura capitalista, a agricultura camponesa e as famílias camponesas enfrentam diversas dificuldades para continuar reproduzindo seu modo de vida e trabalho. Diante disso, o Estado brasileiro passa a desenvolver as políticas territoriais, culminando na criação do Território Rural do Bolsão no ano de 2013.

Todavia, as políticas territoriais recebem críticas acadêmicas por representarem uma visão neoliberal que compreende na inclusão produtiva do campesinato ao mercado como solução para o combate das desigualdades sociais no campo (FABRINI, 2001; MONTENEGRO GÓMEZ, 2006; BRANDÃO, 2007).

Nessa perspectiva, as políticas públicas para o campesinato no Território Rural do Bolsão/MS passaram, a partir de 2013, a ser geridas por um Colegiado Territorial composto por representantes do poder público e pela sociedade civil, incluindo os camponeses. Esta mudança, apesar e para além dos parcos recursos destinados, tem possibilitado uma (re)organização do campesinato no Território Rural do Bolsão/MS por meio da mobilização realizada pelo colegiado, mas, principalmente, do protagonismo exercido pelos próprios camponeses. É neste contexto que ganha destaque a organização das mulheres camponesas.

A QUESTÃO AGRÁRIA NO TERRITÓRIO RURAL DO BOLSÃO/MS

A questão agrária no Território Rural do Bolsão/MS possui características comuns às do o campo brasileiro em geral, associadas ao desenvolvimento desigual, combinado e contraditório do capital (OLIVEIRA, 1991; 2007). Antes caracterizado pelo predomínio da agropecuária extensiva, o campo no Território Rural do Bolsão/MS

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11047 começa a alterar seu uso e ocupação do solo, bem como suas dinâmicas sociais principalmente após 2007 com a chegada das papeleiras

No polígono do agrohidronegócio, mais especificamente no Território Rural do Bolsão, o campo é caracterizado pelo latifúndio, pela agropecuária extensiva e produção de soja. Na última década, a região Leste de MS sofreu grandes alterações no uso da terra com a territorialização do complexo eucalipto-celulose, composto por extensas plantações de eucalipto nos municípios de Três Lagoas, Brasilândia, Selvíria e Água Clara, processados por duas indústrias: FIBRIA e Eldorado Brasil. (MELO, SILVA, 2016, p.145).

Com a territorialização do complexo eucalipto-celulose, áreas antes ociosas ou destinadas à pastagem deram lugar ao monocultivo de eucalipto. As pastagens comumente no Brasil são utilizadas para caracterizar áreas improdutivas, soma-se a isto, a concentração fundiária no território estudado como apresenta a tabela 1.

A tabela 1 apresenta a estrutura fundiária do Território Rural do Bolsão/MS por meio dos dados do Censo Agropecuário de 2006. Observamos na tabela 1 o predomínio de estabelecimentos agropecuários com tamanho até 200 ha, estes são 45% do número de estabelecimentos e ocupam apenas 4,46% da área total. Já os estabelecimentos com tamanho igual ou acima de 1.000 ha são 21,11% da quantidade de estabelecimentos e ocupam 69,71% da área total do território estudado.

Tabela 1 - Território Rural do Bolsão/MS: Estrutura Fundiária (2006)

Grupos de área total

Território Rural do Bolsão

Estabelecimentos % Área % Mais de 0 a menos de 10 ha 7,6 0,05 De 10 a menos de 20 ha 4,91 0,12 De 20 a menos de 50 ha 12,52 0,67 De 50 a menos de 100 ha 9,85 1,15 De 100 a menos de 200 ha 10,91 2,47 De 200 a menos de 500 ha 19,5 10,31 De 500 a menos de 1000 ha 13,6 15,52 De 1000 a menos de 2500 ha 10,9 26,83 De 2500 ha e mais 10,21 42,88 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2006. Organizado pelo autor.

Outra característica diz respeito ao alto índice de absenteísmo presente no campo do Bolsão/MS. De acordo com Nardoque (2016) o absenteísmo aqui é compreendido pela quantidade de proprietários de terras que não residem no mesmo município onde situa-se sua propriedade rural. Desta maneira, no Território Rural do Bolsão/MS [...] os percentuais de absenteísmo são elevados: Água Clara, 90%;

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11048 Cassilândia, 67,88%; Chapadão do Sul, 73,58%; Inocência, 80,49%; Selvíria, 87,89%; Três Lagoas, 72,56%. [...] Aparecida do Taboado, 51,45% [...] e Paranaíba 52,13%. (NARDOQUE, 2016, p.09).

O absenteísmo no Território Rural do Bolsão/MS é resultado do caráter rentista do desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro. Este processo ocorre, pois, no modo de produção capitalista, a terra se configura como um meio de produção sui

generis por se tratar de um bem natural irreproduzível. Sua posse permite ao

proprietário cobrar um tributo da sociedade por sua utilização (renda da terra) que se realiza na venda da mercadoria produzida. Oliveira (2007, p.66) complementa afirmando que

No capitalismo, a terra, transformada também em mercadoria, tem um preço, mas não tem valor, porque não é produto criado pelo trabalho humano. A propriedade capitalista da terra é renda capitalizada; é direito de se apoderar de uma renda, que é uma fração da mais-valia social e, portanto, pagamento subtraído da sociedade em geral. Este fato ocorre porque há uma classe que detém a propriedade privada da terra e só permite sua utilização como meio de produção (arrendada ou não), através da cobrança de um tributo: a renda capitalista da terra.

É possível, assim, observar que o predomínio da agricultura capitalista no Território Rural do Bolsão/MS, permitiu e permite a ocupação e concentração das terras agricultáveis nas mãos das elites latifundiária e industrial. Em contrapartida, a agricultura camponesa resiste no campo mesmo com pouco acesso as políticas públicas e de assistência técnica.

A agricultura camponesa no Bolsão/MS é composta por uma grande diversidade de sujeitos devido, principalmente, às diferentes formas que estes tiveram acesso à terra: por meio da reforma agrária e da compra, observando-se, ainda, a presença de assentamentos de créditos fundiários e de comunidades rurais, como apresenta o mapa 2.

De acordo com o mapa 2, são sete os projetos de assentamentos da reforma agrária localizados no Território, nos municípios de Chapadão do Sul, Paranaíba, Selvíria e Três Lagoas. Os três assentamentos existentes de crédito fundiário localizam-se nos municípios de Três Lagoas e Chapadão do Sul. Já as nove

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11049 comunidades tradicionais estão localizadas nos municípios de chapadão do Sul, Cassilândia, Paranaíba, Inocência e Três Lagoas.

Mapa 2 - Território Rural do Bolsão/MS: Agricultura camponesa

Fonte: INCRA, 2015.

As dificuldades camponesas em permanecer na terra são inúmeras, passando pela falta de assistência técnica, de políticas públicas e de educação no/do campo. A opção do Estado pelo desenvolvimento da agricultura capitalista em detrimento da camponesa, abre caminho para a atuação das empresas de celulose no interior dos assentamentos, bem como para a exploração da força de trabalho camponesa, principalmente no cultivo do eucalipto.

Para Silva (2014) essa situação, se configura como limite para (re) existência camponesa por meio da subalternidade a agricultura capitalista.

O visível estado de abandono e o processo de privatização dos projetos de assentamentos fazem parte do plano de paralisação da política pública de reforma agrária[...]. A Situação impõe aos assentados de Três Lagoas e Selvíria resistência determinada pela conformidade, melhor, pela subalternidade (p.197).

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11050 No contexto de desenvolvimento da agricultura capitalista e dos entraves à recriação e reprodução do campesinato no Território Rural do Bolsão/MS, há sinais de sua luta que permeia a política pública de desenvolvimento territorial. Neste sentido, a organização e participação política das mulheres camponesas evidencia mudanças no engajamento político e na resistência à exploração no Território Rural Bolsão/MS.

No entanto, a luta das mulheres camponesas se inicia antes da atuação das políticas públicas. As mulheres camponesas, primeiro lutam pela superação das desigualdades de gênero no contexto familiar para, posterior ou concomitantemente, se organizarem e reivindicarem mudanças para a agricultura camponesa.

Deste modo, podemos considerar que o protagonismo e a organização das mulheres no Território Rural do Bolsão/MS, têm ganhado força por meio dos encontros de mulheres camponesas, os quais trataremos a seguir.

O PROTAGONISMO E A ORGANIZAÇÂO DAS MULHERES NO

TERRITÓRIO RURAL DO BOLSÃO/MS

Apesar da luta pela terra ser um ato revolucionário de luta por igualdade na sociedade brasileira, há dentro do próprio movimento estruturas patriarcais que perpetuam a desigualdade de gênero. As desigualdades na relação social dentro do movimento da luta pela terra são comuns e dificultam a participação das mulheres na militância. Essa situação é confirmada por Valenciano, Thomaz Júnior (2002) na análise sobre o papel da mulher na luta pela terra no Pontal do Paranapanema/SP;

Um dos principais entraves colocados pelas militantes, como sendo responsável pela não entrada de novas mulheres na militância são os filhos, as atividades desenvolvidas no seu lote [...]. No espaço compreendido pela família, a mulher encontra muitos obstáculos à sua inserção na luta de forma ampliada. O fato de deixar a casa, os afazeres domésticos (que são atividades desempenhadas pelas mulheres), os filhos (cujo cuidado está sob a responsabilidade da mulher), não são bem vistos pelos seus respectivos companheiros e impedem a saída e a participação em eventos, reuniões e demais atos promovidos não somente pelo coletivo, mas pelo movimento como um todo. (VALENCIANO, THOMAZ JÚNIOR, 2002, p.9).

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11051 Nesse sentido, para Garcia (2004) as desigualdades de gênero também são reproduzidas dentro do âmbito familiar. A participação da mulher camponesa em atividades políticas dentro do assentamento contribui no rompimento de sua invisibilidade pública e na luta por igualdade dentro do lote.

O desenvolvimento da dimensão pública da sua vida pressupõe além de novos saberes, novas informações que redefinem as relações de poder em nível privado. O embrião dessas mudanças é a nova divisão de tarefas que se realiza no lote. Todavia, longe da eqüidade de gênero na participação no trabalho reprodutivo, uma das respostas da inserção das assentadas e acampadas nas organizações de mulheres que observamos é que elas constituem os canais para repensar a sua condição no seio familiar valorizando o seu papel social. (GARCIA, 2004, p.172).

Observa-se que a luta pela igualdade de gênero (bem como o debate sobre) vem crescendo e conquistando espaços dentro dos movimentos sociais, pois a própria questão de gênero está inserida na questão agrária brasileira e, consequentemente, também se manifesta no Território Rural do Bolsão/MS. No diagnóstico realizado pelo Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial (NEDET) no Bolão/MS observou-se baixa mobilização política dos camponeobservou-ses de modo geral e, diante disso, o NEDET passou a estimular formas de mobilização desse campesinato.

O NEDET realizou ações para divulgar a política de desenvolvimento territorial nos assentamentos e comunidades rurais, auxiliando o engajamento político e a organização das mulheres no Território Rural do Bolsão/MS por meio de seus assessores territoriais (principalmente da assessora de gênero). Ao longo dos três anos de extensão, foram promovidas atividades que reuniram camponeses de todo o território e contribuíram na formação política destes sujeitos. Deste trabalho, a partir reuniões e visitas em prefeituras, assentamentos, comunidades e escolar do campo, surgiram dois Encontros, o Encontro da Juventude camponesa e o Encontro das Mulheres Camponesas.

No dia 18 de março de 2016, no município de Paranaíba/MS, foi realizado o 1º Encontro das Mulheres Camponesas do Território Rural do Bolsão. O encontro teve por objetivo reunir mulheres camponesas de todo o território para fomentar discussões sobre gênero, saúde e violência doméstica como. Além das discussões, houve um espaço para apresentação e venda de artesanatos e produtos alimentícios produzidos

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11052 pelas camponesas do território. O tema e a diversidade da feira atrairam homens e mulheres do campo e da cidade. O 1º Encontro de Mulheres Camponesas teve a participação de 400 pessoas, das quais a maioria eram mulheres camponesas oriundas de Bairros Rurais e assentamentos da reforma agrária. Devido ao sucesso do evento, o encontro passou a fazer parte da agenda do Território Rural do Bolsão, tendo ocorrido três vezes até o presente momento, em diferentes municipios.

O segundo Encontro das Mulheres Camponesas aconteceu no mês de outubro do ano de 2016 no assentamento Pontal do Faia, município de Três Lagoas/MS. O encontro teve a participação de aproximadamente 200 pessoas, entre mulheres camponesas, camponeses e seus filhos. No mês de março de 2017 mais de 200 pessoas participaram da terceira edição Encontro de Mulheres Camponesas no assentamento 20 de março, município de Selvíria/MS.

A grande participação das mulheres camponesas dos diferentes municipios do Território Rural do Bolsão nas três edições dos eventos organizados pelo NEDET possibilitou a formação e consolidação do Comitê de Mulheres. A princípio o Comitê de Mulheres tem por objetivo estimular e intensificar a participação das mulheres no política pública de desenvolvimento territorial, e, se possível, para além dela.

No Comitê as mulheres camponesas discutem e encaminham pautas e damandas para o colegiado do território. A organização em comitê promove o envolvimento das mulheres camponesas na política desenvolvida no território, criando espaço para suas reivindicações. Na imagem 2 é possivel observar uma das reuniões realizadas no assentmanto Pontal do Faia – Três Lagoas/MS,com a participação da assessoria do NEDET.

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11053 Fonte: NEDET, 2016.

O Comitê de Mulheres conta atualmente com a participação de 20 mulheres camponesas, no entanto este número aumenta a cada reunião ou encontro. As mulheres camponesas támbem compõe o Comitê Dirigente junto com os outros representantes do poder público e sociedade civil. De acordo com as atas das reuniões dos Comitês e dos encontros, as mulheres camponesas reividicam – dentre outras questões – assistencia técnica, acompanhamento de saúde, regularização de suas terras e inclusão produtiva por meio de pollíticas públicas.

No tocante a circulação e venda da produção, a agricultura camponesa noTerritorio Rural do Bolsão/MS possui um histórico de grandes dificuldades. Dentre estas estão a promoção da visibilidade de sua produção para os consumidores e o escoamento até as cidades, isto é, a inserção ao mercado (principalmente aos canais curtos de comercialização como é o caso das feiras). Desta maneira, muitos acabavam entregando a produção por preços irrisórios àatravessadores.

Nesse sentido, o Projeto de Extensão “Grupo de Consumo Agroecológico” da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas, é responsável por dar visibilidade e contribuir com a comercialização da produção de alimentos de qualidade de assentados do municiípio. Neste projeto, Professores, técnicos administrativos, funcionarios tercerizados e alunos formam um grupo de consumo que compram semanalmente uma sacola contentdo produtos agroecológicos. Na imagem 2 é possivel observar as sacolas prontas para a entrega.

Imagem 2: Sacolas Agroecológicas

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11054 Os produtos das sacolas agroecológicas são produzidos por assentados do Assentamento 20 de março e do Cinturão Vede, ambos localizados no municipio de Três Lagoas/MS. A presença destes sujeitos na universidade indica a importância e o potencial do campesinato na alimentação do brasileiro.

Como desdobramento das sacolas agroecológicas, a comunidade acadêmica passou a procurar por produtos dos camponeses, o que tem aumentado a sua demanda. Dessa maneira, criou-se uma feira dentro da universidade aberta à toda comunidade acadêmica. A feira ocorre às quintas-feiras e são organizadas por mulheres camponesas.

O sucesso da feira promoveu a sua expansão para a outra unidade da Universidade, no mesmo campus, e também para três condominios fechados. Da entrega dos produtos participam camponeses do Assentamento Vinte de Março e do Bairro Rural de Arapuá. É notável que a promoção da feira é realizada

especialmente pelas mulheres camponesas, assim como são elas, na maioria dos sítios e lotes camponeses, as responsáveis pela produção das verduras e dos legumes, principais produtos que compõem as sacolas e que são comercializados na feira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da realidade em tela, observamos o início da organização e participação das mulheres camponesas do Bolsão/MS na política pública de desenvolvimento territorial, frisando que a mobilização política realizada pelos sujeitos e a forma com que eles se apropriam dessa política, supera a simples compreensão (disseminada por tal política, inclusive) de que o empecilho para a melhoria das condições de trabalho, produção e de vida no campo, estaria ligado tão somente à questão das técnicas. Os sujeitos acabam, dialeticamente, contrariando a sobreposição das técnicas em relação ao engajamento político, recolocando a necessidade de realização do debate sobre as desigualdades sociais, a questão de gênero e, principalmente, a realização de uma reforma agrária popular.

As informações coletadas durante trabalhos de campo realizados pelo Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial (Nedet) do Território Rural do Bolsão/MS (Edital CNPq/MDA/SPM-PR Nº 11/2014), mostraram o início do processo de

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11055 organização das mulheres camponesas rompendo com a inércia de participação política desta classe no Bolsão/MS.

Neste trabalho foi possível relatar os três encontros das mulheres camponesas realizados no território do Bolsão ocorridos nos anos de 2016 e 2017 nos municípios de Paranaíba/MS, Três Lagoas/MS e Selvíria/MS. Relatamos ainda a expansão das feiras organizadas pelas mulheres camponesas que, acabam por legitimar o protagonismo das camponesas diante de um cenário de tamanha violência e desigualdade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério Do Desenvolvimento Agrário - MDA. Marco Referencial para Apoio ao

Desenvolvimento de Territórios Rurais. Brasília: SDT-MDA. 2005.

GARCIA, Maria Franco. Trabalhadoras rurais e luta pela terra: interlocução entre gênero, trabalho e território. Revista Pegada, v. 3, 2002.

__________. A luta pela terra sob enfoque de gênero: os lugares da diferença no Pontal do Paranapanema. 2004. 216 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade

de Ciências e Tecnologia, 2004. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/102966>. Acesso em: 22 de fev. 2017

MELO, D. S.; SILVA, M. O. A questão agrária no território rural do Bolsão/MS: Algumas aproximações. Revista Cerrados.Montes Claros, v.14, n.1,p.140-164, jan/jun-2016.

NARDOQUE, Sedeval. QUESTÃO AGRÁRIA NO TERRITÓRIO RURAL DO BOLSÃO/MS.

XXlll Encontro Nacional de Geografia Agrária. Aracaju-SE. Novembro 2016.

NARDOQUE, Sedeval; ALMEIDA, Rosemeire Aparecida de. Território Rural do Bolsão (MS): realidade e perspectivas. Boletim Dataluta, Presidente Prudente, n.85, p. 2-8, jan.2015. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A agricultura camponesa no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991.

__________. Modo de produção capitalista, agricultura e reforma agrária. São Paulo: FFLCH/Labur Edições, 2007.

Valenciano, Renata Cristiane, and Antonio Thomaz Jr. O papel da mulher na luta pela terra. uma questão de gênero e/ou classe?. Revista Pegada. V.3, 2002.

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