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PRIORIDADE INDUSTRIAL X DESENVOLVIMENTO RURAL: IMPLICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NA ÁREA DA FUTURA RESEX DE TAUÁ-MIRIM, SÃO LUÍS-MA.

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Academic year: 2021

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IRISMAR DA SILVA BRITO

Universidade Estadual do Maranhão; Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional.

iris-mk@hotmail.com

ANTONIO JOSÉ DE ARAÚJO FERREIRA

Universidade Federal do Maranhão; Prof. Dr. do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional/ UEMA.

antonio.jaf@ufma.br

Resumo

Desde 1978 o governo do estado do Maranhão, localizado na macrorregião nordeste do Brasil, priori-zou instalar um Distrito Industrial em São Luís (capital); para tanto reservou uma área a sudoeste da sede municipal e no entorno do Porto do Itaqui em que, a contar de 1985, se alocaram empreendimentos da vale (antiga CVRD) e do consórcio de alumínio do Maranhão (ALUMAR), o que resultou em conflitos com as comunidades inseridas nesse distrito industrial; tais conflitos são recorrentes e permanentes nessas áreas rurais, a exemplo da discussão pela posse e uso da terra entre “desenvolvimentistas” x ambientalistas, di-minuição de áreas verdes (mangues, mata ciliar e babaçuais), comprometimento da qualidade da água de riachos e do mar, as quais são importantes para a sobrevivência da população e podem ser objeto de con-servação. O objetivo desta comunicação é analisar as implicações socioambientais em decorrência da prio-ridade industrial demonstrada pelo governo estadual em detrimento do desenvolvimento rural, cuja base é a abordagem metodológica do materialismo histórico-dialético, sustentado no levantamento e revisão de material bibliográfico, além de trabalho de campo em que se entrevistaram lideranças das comunidades e procedeu-se ao registro fotográfico. A área objeto deste estudo atém-se à que foi proposta, desde 2000, para a instalação da Resex de Tauá-Mirim e na qual o estado queria implantar um polo siderúrgico no referido distrito; nessa área, contudo, habitam doze comunidades as quais têm sofrido várias pressões no sentido de não resistirem à imposição do uso industrial e concordarem com a realocação, o que, por isso, inviabili-zará a efetivação da mencionada unidade de conservação; entre tais comunidades destacam-se Cajueiro e Vila Maranhão. Sendo assim, é de total relevância este estudo com a finalidade de analisar a relação entre a prioridade no desenvolvimento industrial em oposição ao desenvolvimento territorial rural, de maneira que sejam indicadas medidas que visem à ênfase neste e, portanto, à melhoria da qualidade de vida da popula-ção local. Neste caso, enfatizam-se práticas agroecológicas com a finalidade de se aumentar a produtividade e recuperar áreas degradadas por mineração.

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Objetivo

O objetivo deste trabalho é analisar as implicações socioambientais decorrentes da prioridade indus-trial demonstrada pelo governo estadual em detrimento do desenvolvimento rural na área da futura RESEX de Tauá-Mirim, São Luís-MA.

Desenvolvimento

Desde a década de 1970 o governo do estado do Maranhão, localizado na macrorregião Nordeste do Brasil, priorizou instalar um distrito industrial em São Luís (capital) a partir de diretrizes do II Plano Nacio-nal de Desenvolvimento (1975-1979); para tanto:

“por intermédio da Lei Estadual nº 3.533/74 o governo do Maranhão criou a Companhia de Desenvolvimento Industrial (CDI-MA). Fica explícita, assim, a articulação entre o Estado (os três níveis) e o vislumbrado capital industrial, pois o primeiro orientou suas ações no sentido de atrair empreendimentos econômicos de grande monta; esses, por sua vez, necessitariam de extensa área e toda uma infraestrutura até então inexistente no Maranhão e, particularmente, em São Luís. Caberia, portanto, ao Estado desenvolver ações e estratégias alme-jando viabilizar um local específico para efeito de instalação dos mesmos. É assim, que por intermédio da Lei Estadual nº 3.589/74 se instituiu o distrito industrial da capital maranhense”, que aliada ao “Decreto Estadual nº 7.632/80 reservou 19.946,2316 hectares” (Ferreira, 2014, p. 56 e 58)

para a implantação desse equipamento, localizado a Sudoeste da sede municipal e no entorno do Porto do Itaqui; com efeito, a contar de 1985 se instalaram empreendimentos da Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce) e do Consórcio de Alumínio do Maranhão (ALUMAR, subsidiária da Alcoa), e mais recentemente a UTE Itaqui (do Grupo OGX que está em funcionamento desde 2013 e atualmente é denominada Eneva), as quais alardeiam o discurso de ampliar o número de empregos, mas se percebe que com o aumento popula-cional vinculado à indução da economia, amplia-se a demanda por saúde, educação, infraestrutura, mobili-dade, etc em toda a cidade de São Luís, como podemos observar na ( FIGURA 01) e na ( FOTO 01).

Figura 01 – Carta de Uso e Cobertura da Terra da Microrregião da Aglomeração Urbana de São Luís, 1996. Fonte: GERCO/MA, 1998.

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Convém ressaltar na Figura 01, na cor amarelo, que “a área oficial do Distrito Industrial de São Luís cor-responde a 199,43 km², todavia considerou-se a delimitação dos módulos excetuando-se os usos identifica-dos neste, como por exemplo, áreas de extração de argila plástica/areias, urbanizada, manguezais, apicuns, capoeira e ocupação desordenada” (MARANHÃO, 1998, p 70); isto implica que, nesse estudo a área do citado distrito industrial foi considerada 166,05 km² e equivalia a 28,39% da superfície do município de São Luís. Portanto, impõe-se o debate decorrente do conflito de uso ao se relacionar a existência de comunidades rurais x a indução do uso industrial.

Foto 01 – Indústria no entorno da comunidade do Taim, na zona rural de São Luís-MA. Fonte: Brito (2013)

Este quadro de prioridade de efetivação do uso industrial resultou em conflitos com as comunidades inseridas nesse distrito industrial, fato que remonta à instalação da Alcoa (EGLISH, 1984); tais conflitos são recorrentes e permanentes nessas áreas rurais, a exemplo da discussão pela posse e uso da terra en-tre “desenvolvimentistas” x ambientalistas, diminuição de áreas verdes (mangues, mata ciliar e babaçuais), comprometimento da qualidade da água de riachos e do mar, as quais são importantes para a sobrevivência da população, podem ser objeto de conservação (MARANHÃO, 1998) e por isso a importância de se realizar tal estudo.

A área objeto deste estudo atém-se à que foi proposta, desde 2000, para a criação da RESEX de Tauá--Mirim e que é relevante para que possa garantir a permanência, sobrevivência e reprodução desses grupos humanos em oposição à instalação do vislumbrado polo siderúrgico estavam os líderes da comunidade do Taim, que foram os idealizadores da criação de uma RESEX juntamente com os moradores do Porto Grande e do Limoeiro, dentre outros.

De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (2006, p.43):

À luz dessas considerações e das informações sistematizadas neste laudo, conclui-se que a área em questão possui vocação ecológica e social para a consolidação de uma reserva extrativista. A implantação de um polo siderúrgico seria inadequada, pois não cumpriria função social alguma e traria sério impacto a áreas bastante relevantes para a preservação.

No governo de Jackson Lago, tal movimento conseguiu uma carta que dizia sim para a efetivação des-sa RESEX; todavia e de acordo com os lideres da comunidade Taim, o referido documento foi perdido no IBAMA de Brasília, mas até hoje ainda não se articulou uma outra carta que, de acordo com eles , “não é nenhuma lei”. Contudo, tem um valor simbólico e a chancela de uma autoridade preocupada com a questão ambiental e social; o agravante é o misterioso sumiço dessa carta em plenas instalações de uma instituição federal e em sua sede, na capital do Brasil.

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Atualmente a área da Resex é de 16.8000 hectares de acordo com as lideranças da comunidade do Taim, a mesma não se sobrepõe à área do distrito industrial de São Luís, pois tem uma lei Zoneamento, Parcela-mento, Uso e Ocupação do Solo do município de São Luís que a prefeitura incorporou e fez audiências, mas o Ministério Público cancelou o processo que altera a Zona Rural aonde estão inseridas as comunidades da RESEX para Zona Mista Rural para a inserção de mais indústrias (FIGURA 02). Dentro deste contexto houve uma Assembleia Popular da Área da Reserva Extrativista de Tauá-Mirim, realizada em 17 de maio de 2015, na Casa das Águas, situada no Taim; esta contou com a participação das comunidades tanto do entorno quanto de outros municípios como, Camboa dos Frades, Jacamim, Rio dos Cachorros, Povo Kreie (Barra do Corda), e outras entidades como Comissão Pastoral da Terra – CPT , Justiça nos Trilhos, Universidade Esta-dual do Maranhão – UEMA e a Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB seção São Luís. Essas entidades defendem a criação da mencionada RESEX, independente da decisão do governo do Estado com a ideia de autonomia das comunidades sobre o território, assim como a instalação de Conselho Gestor a exemplo do que ocorre na RESEX de Cururupu (DISCONZI, 2002) e na APA dos Morros Garapenses (MARANHÃO, 2014).

Figura 02 – Parte de comunidades inseridas na proposta de criação da RESEX do Taim. Fonte: Laudo Sócio-econômico e Biológico para a criação da RESEX do Taim, IBAMA, 2006.

Sendo assim, decidiu-se analisar a relação entre a prioridade no desenvolvimento industrial em oposi-ção ao desenvolvimento territorial rural, de maneira que fossem indicadas medidas que visem à ênfase nes-te e, portanto, à melhoria da qualidade de vida da população local. Nesnes-te caso, enfatizaram-se práticas agro-ecológicas com a finalidade de se aumentar a produtividade e recuperar áreas degradadas por mineração; ressalta-se que, antes, nessa área predominava a agricultura através de plantações de melancia, mandioca, dentre outros; utilizava-se o sistema de corte e queima ou roça-no-toco; depois, a mineração com a retirada da laterita e areia que era usada no interior desta comunidade ou vendida para lojas de material de constru-ção em São Luís; em decorrência da ascensão deste comercio, hoje a populaconstru-ção só retira a laterita e a areia para construir suas próprias casas e atualmente possui a pesca como atividade principal, cujas referência são tainha (Mugil brasiliense) bagre (Siluriformes), camurim (Centropomus) , camarão branco (Litopenaeus

schmitti), camarão piticaia (Penaeus Schimitii) e a sardinha (Sardinella).

As práticas agroecológicas objetivam que as pessoas dessas comunidades rurais desenvolvam agricul-tura de forma sustentável para um verdadeiro desenvolvimento territorial rural e para a efetivação da citada RESEX, com a finalidade de que tenham outras atividades econômicas e não pratiquem mais a mineração que degrada os solos não só no Taim, mas em outras comunidades rurais.

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Considerações finais

Pode-se concluir que na comunidade do Taim são evidenciadas implicações socioambientais como ameaças de remanejamento/desapropriação em decorrência das empresas instaladas no seu entorno, des-matamento, diminuição de áreas de pesca, etc., mesmo que alguns moradores trabalhem em indústrias.

Os resultados obtidos na comunidade do Taim, com a agricultura através de práticas agroecológicas com a plantação de mandioca, milho, e feijão concorrem para um desenvolvimento territorial rural e aban-dono do uso de mineração, que causa assoreamento dos rios e consequentemente a diminuição da pesca, pois as mesmas agregam valor e servem para a efetivação da mencionada RESEX.

As práticas agroecológicas identificadas são importantes para qualificar o desenvolvimento rural sus-tentável com o objetivo de criar e efetivar a Resex de Tauá – Mirim, o que se constitui uma alternativa à prio-ridade industrial defendida pelo Estado observando que a instalação dessas indústrias causam problemas como a diminuição de áreas verdes.

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Referências bibliográficas

DISCONZI, Gislaine. Reserva Marinha de Cururupu: Laudo Biológico. Maranhão, 2002. EGLISH, Bárbara Ann. Alcoa na Ilha. São Luís: Cáritas Brasileiras, 1984.

FERREIRA, Antonio José de A. A produção do espaço urbano em São Luís do Maranhão: passado e presente; há futuro? São Luís: EDUFMA, 2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. Laudo

sócio-eco-nômico para criação da reserva extrativista do Taim. São Luís, 2006.

MARANHÃO. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Processo de ocupação espacial/

uso e cobertura da terra da microrregião da aglomeração urbana de São Luís. São Luís: PEGC/CPE/SEMA/

PNGC/MMA, 1998.

MARANHÃO. Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. Plano de Mabnejo da Apa de

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