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Dança na Educação Infantil: analisando a influência da ludicidade na construção do conhecimento artístico

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Academic year: 2021

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Dança na Educação Infantil: analisando a influência da ludicidade

na construção do conhecimento artístico

Alba Pedreira Vieira1

Guilherme Fraga da Rocha Teixeira2

Letícia Oliveira Teixeira3

Resumo: Este estudo verificou a influência da ludicidade como recurso pedagógico

no ensino da Dança na educação infantil. O trabalho de campo incluiu aulas semanais de Dança que exploraram alguns de seus conceitos específicos através de brincadeiras, cantigas e lendas folclóricas. Apresentamos neste artigo a categoria denominada ‘Conteúdos e Aulas de Dança’, construída por meio das discussões levantadas após a análise dos questionários inicial e final.

Palavras-Chave: Dança; Ludicidade; Educação Infantil. Introdução

O projeto ‘Dança em creches: valorizando o lúdico e analisando suas implicações na educação’ foi desenvolvido no período de março de 2009 a fevereiro de 2010, sob o apoio do PIBIC/FUNARBIC. Com o objetivo de pesquisar a influência do ensino lúdico da Dança no conhecimento artístico dos participantes, o trabalho de campo integrou o projeto de extensão ‘Ludidança: um projeto de Dança, Ludicidade e Educação’.

Introduzimos este artigo informando sobre a situação das linguagens artísticas em relação à educação básica nacional. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (1996), a disciplina Arte é conteúdo curricular obrigatório da educação básica. Sua finalidade principal é promover o desenvolvimento cultural dos alunos, explorando as várias línguas artísticas: artes visuais, teatro, música e dança. No entanto, Strazzacappa (2001) alerta que

raramente a dança, a expressão corporal, a mímica e o teatro são abordados, seja pela tradição da utilização das artes plásticas nesses contexto, seja pela falta de especialistas da área nas escolas, seja pelo despreparo do professor. (p. 44) Nas instituições atendidas por este projeto não era diferente. Nenhuma apresentava professores específicos da área das Artes e/ou Dança. Desta forma,

1 Doutora pela Temple University, professora do curso de Dança da Universidade Federal de Viçosa: apvieira2006@gmail.com

2Graduando em Dança pela Universidade Federal de Viçosa e bolsista PIBIC/FUNARBIC no período de março/09

a fevereiro/10: gui-fraga@hotmail.com

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procuramos preencher esta lacuna oferecendo uma aula semanal de dança em cada estabelecimento.

Planejamos as aulas utilizando a ludicidade como instrumento pedagógico. Segundo Kulizs (2006), as atividades lúdicas constituem momentos de aprendizagem, possibilitando à criança construir a linguagem dos gestos e seu vocabulário. Neste sentido, unir a ludicidade e a dança pode despertar no público da educação infantil os valores artísticos e culturais, aprendendo sobre a necessidade do cuidado com saúde e com o corpo. (SANTOS; LUCAREVSKI & SILVA (2005),

Assim como as outras artes, a dança também possui conteúdos teórico-práticos a serem desenvolvidos na escola. Destacamos que nesta faixa etária, o trabalho corporal em dança não deve priorizar uma técnica padronizada em específico, bem como a sua execução correta e/ou perfeita. (SILVEIRA; LEVANDOSKI & CARDOSO, 2008). Concordamos, assim, que é importante permitir aos alunos explorarem sua criatividade.

Metodologia Método

O método hermenêutico é utilizado em pesquisas qualitativas, cujo objetivo é compreender o fenômeno mais profundamente. Ele foi o método de análise que guiou nosso estudo. Este método não busca a explicação de um fenômeno por meio de uma teoria ou lei, mas a reflexão do mesmo e daquilo que contribui para que ele aconteça, esclarecendo-o. (GIL, 1999)

Procedimentos

Utilizamos a observação-participante e também elaboramos um questionário oral e por meio de desenho. Estes foram aplicados com as crianças para avaliar o conhecimento dos participantes a respeito de Dança. Dentre as perguntas, estão incluídas “Você já teve aula de Dança?”; “Você já dançou?”.

Trabalho de Campo

Desenvolvemos aulas semanais de dança em quatro instituições de educação infantil, filantrópicas e não-municipais da cidade de Viçosa-MG. Priorizamos a exploração de conceitos específicos da dança, como os propostos por Laban (1971, 1990), Marques (2003) e Strazzacappa (2001, 2006). Utilizamos a ludicidade como

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instrumento pedagógico das atividades propostas. Nosso objetivo principal foi verificar a influência das oficinas de dança no conhecimento artístico dos participantes e também no desenvolvimento motor, nas inter-relações sociais, nas noções espaciais e temporais.

Resultados

Apresentaremos algumas das discussões realizadas no segundo ciclo de análise desta pesquisa. Nomeada Conteúdos e Aulas de Dança, esta categoria aborda os diferentes conteúdos explorados nas aulas de dança freqüentadas pelos participantes.

“De Hip Hop. Disso aqui ó (e começou a dançar Judô, Capoeira)” “Música que a gente se mexia”

“De apresentação”

“Deu tinta, deu a folha pra nós desenhar, nós ia lá na laje e dançava, nós brincava de estátua devagarzinho e forte.”

“Coelhinho da toca, estátua, caracol. Tinha dos meninos que usavam cadeiras e balões”

“De balé” “Dança de Rua”

As respostas acima são exemplos de que não há uma padronização de ensino de dança no Brasil. Segundo Marques (2003), as atividades da dança bem como seu ensino no Brasil são marcadas pela “pluralidade (grifo do autor, p. 16)”, seja pelas diferentes metodologias educativas, modalidades e/ou locais de realização. Pelas respostas das crianças, comprovamos suas constatações. Isto nos remete a um questionamento: quem seriam os responsáveis por lecionar dança nestes diferentes locais?

Strazzacappa (2001) afirma que para muitas pessoas aprender a dançar significa observar e imitar, portanto, seu ensino ocorreria da mesma forma. No entanto, a dança não é composta somente por movimentos já estabelecidos, como os apresentados pela mídia por exemplo. O estudo e compreensão da dança vão além do ato de dançar. (MARQUES, idem). Aprender e também ensinar uma dança exige, sobretudo, a incorporação de valores e atitudes.

Considerando a faixa etária dos participantes, que vai dos quatro aos sete anos de idade, concordamos que a proposta de Laban (1978; 1990) se torna a mais adequada no desenvolvimento de aulas de dança, visto que

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(...) no princípio ela não imita, apenas reage aos estímulos de maneira que o professor não deverá lhe pedir que copie, mas deve guiá-la por meio s de subterfúgios. Deverá animá-la para que empregue suas próprias idéias e esforços sem corrigi-los para ajustá-los às normas de movimento dos adultos. (p. 26) Desta forma, percebemos a importância de instigar as crianças a experimentarem sem se preocupar com certo ou errado. Apoiado nestas perspectivas, este projeto utilizou estórias e brincadeiras para estimular as improvisações. Como algumas respostas nos mostram, aproveitamos o espaço disponível da creche para brincar de “coelhinho da toca, estátua, caracol” e, assim, ensinar sobre alguns fatores do movimento (LABAN, 1990). Sobretudo, fugimos do formato tradicional de aulas de dança, em que o professor fica de costas para os alunos e ensina seqüências para estes reproduzirem.

Como conseqüência de um ensino diferenciado, algumas crianças não entenderam que nossa aula era de dança. Na pergunta “você já teve aulas de dança?”, por exemplo, alguns participantes responderam “não”. Um aluno justificou que sua religião não lhe permitia realizar esta prática, ainda que não tenha lhe sido perguntado o porquê.

É interessante analisar que ainda existem religiões que condenam a dança como atividade ligada ao pecado e à vulgaridade, privando seus fiéis desta prática. No entanto, desenvolvemos um trabalho na rede Rebusca que pertence a Igreja Presbiteriana e fomos apoiados durante todo o percurso. “(...) Até mesmo a Igreja Católica, difusora dessas idéias e proibições, já tem amenizado estas ‘faltas graves’” (MARQUES, 2003, p. 20). É imprescindível lembrar que a dança é uma linguagem artística que não se limita a isto, abrangendo um universo de estilos e aspectos que atendem a todos os gostos.

Houve participantes que não souberam identificar o conteúdo da aula de dança que tiveram, recorrendo à resposta que para estes parecia mais evidente: “você já teve aula de dança? Sim. De quê? De dança!”. Márcia Strazzacappa (2001) nos lembra que para a dança “(...) vale a regra do aprender fazendo. O indivíduo aprende a dançar dançando” (p.65). Assim acontece na maioria das aulas de dança, em que a função dos alunos é somente reproduzir aquilo que o suposto professor ensinava.

Ao analisar onde as crianças tiveram aulas “de dança”, algumas responderam “na creche”. Refletimos sobre o formato tradicional das aulas de dança que abordam

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uma técnica específica e são classificadas como aulas de ‘flamenco’, por exemplo. Nossas aulas, por outro lado, exploravam os princípios do movimento que estão presentes em todas as técnicas, mas permitem diferentes formas de ensino.

Alguns participantes responderam que já tiveram aulas de “hip hop” e/ou “dança de rua”. O ensino destes estilos nos preocupa por serem amplamente divulgados pelos meios de comunicação e por este motivo podem perder sua essência, dando lugar somente à reprodução. No entanto, Strazzacappa (2001) compartilha com as idéias de Santos (2006) e Mauss (apud STRAZZACAPPA, 2003), sugerindo que podemos partir da imitação para ir além, desconstruir e criar.

Neste sentido, exploramos o Hip Hop na creche Rebusca Centro depois da grande insistência dos alunos. Conseqüentemente, conseguimos sua atenção e interesse nas aulas de dança. Aproveitamos este estilo para a apresentação desta turma na Mostra de Dança realizada pelo projeto, o que resultou na grande satisfação e alegria dos participantes.

Dos questionados, 2% afirmaram que já dançaram “Festa Junina”. Neste sentido, discutimos sobre o uso da dança em instituições educacionais como instrumento ou enfeite. O que os alunos aprendem com as coreografias preparadas especificamente para comemorar datas festivas? Na maioria das vezes, a reproduzir. Marques (2003) reflete

(...) sobre a função e o papel da dança na escola formal, sabendo que este não é – e talvez não deva ser – o único lugar para se aprender dança com qualidade, profundidade (...) e responsabilidade. No entanto, a escola é hoje, sem dúvida, um lugar privilegiado para que isto aconteça e, enquanto ela existir, a dança não poderá continuar mais sendo sinônimo de ‘festinhas de fim-de-ano’. (p.17)

Refletimos, por fim, na postura do professor de dança em querer reproduzir movimentos ao invés de explorar a criatividade, essencial na educação infantil. Não podemos deixar de pensar também na formação deste professor, grande influenciadora na forma de ensinar e nos conteúdos desenvolvidos por este profissional.

Conclusão

A dança possui conceitos específicos que deveriam ser trabalhados. Imitar, na maioria das vezes, nos limita de pensar criticamente. Como professores de dança, deveríamos estimular o fazer-pensar dança. Tentamos trabalhar nestas

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perspectivas, instigando que as crianças criassem células coreográficas a partir de movimentos cotidianos, brincadeiras e seus repertórios.

Por meio das aulas de dança, podemos verificar que o seu ensino promove além do conhecimento desta a arte, uma maior socialização entre os alunos, além de ser uma forma das crianças liberaram suas energias, se expressarem pelo corpo, explorarem sua criatividade. Buscamos um ensino da dança mais dinâmico, transpondo a sala de aula e envolvendo toda a creche: professores, alunos e pais.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 1996.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999. KULISZ, B. Brincadeira e Conhecimento: uma proposta de educação lúdica. In.: KULISZ, Beatriz. Professoras em cena: O que faz a diferença? 2ª edição. Porto Alegre/RS. Editora Mediação, 2006. p. 93-97.

LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. Ícone Editora. São Paulo – SP. 1990. Tradução Maria da Conceição Parayba Campos.

LABAN, R. Domínio do Movimento. Summus Editorial. São Paulo – SP. 1978. Edição Original de Lisa Ullmann. Tradução de Anna Maria Barras De Vecchi e Maria Sílvia Mourio Netto

MARQUES, Isabel. Dançando na escola. Cortez Editora. São Paulo – SP. 2003 SANTOS, J.; LUCAREVSKI, J. SILVA, R. M.. Dança na Escola – Benefícios e Contribuições na Fase Pré-Escolar. Centro Universitário Filadélfia – UniFil (Brasil). 2005.

SILVEIRA, R. A.; LEVANDOSKI, G.; CARDOSO, F. A dança infantil enquanto expressão. Revista Digital, Buenos Aires, Ano 13, N° 121, jun. 2008. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd121/a-danca-infantil-enquanto-expressao.htm> Acesso em: 28 abr 2009.

STRAZZACAPPA, Márcia; MORANDI, Carla. Entre a Arte e a Docência: A formação do artista da dança. Papirus Editora. Campinas – SP. 2006.

STRAZZACAPPA, Márcia. Dançando na chuva… e no chão de cimento. In.: FERREIRA, Sueli (Org.). O ensino das artes: construindo caminhos. Papirus Editora. Campinas – SP. 2001. Coleção Ágere.

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STRAZZACAPPA, Márcia. Dança na Educação: Discutindo questões básicas e polêmicas. Revista Pensar a Prática 6: 73-85, Jul./Jun. 2002-2003 Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/viewArticle/55 Acesso em 25 abr 2009

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