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(1)86. CAPÍTULO III CONFIGURAÇÃO DA CANDIDATURA E DA IMAGEM POLÍTICA DE AFFONSO PENNA NA IMPRENSA BRASILEIRA Após a instalação da República (1889), o correspondente parisiense Max Leclerc veio ao Brasil para cobrir o início do regime republicano e organizar a imprensa em termos empresariais. Segundo Sodré (1966, p. 288), a imprensa brasileira se tornou reflexo fiel do estado social, nascido do governo paterno e anárquico de D. Pedro II. Alguns jornais se consolidaram, sendo providos de uma poderosa base material aperfeiçoada; organizaram-se como empresa comercial, tendo na publicidade seu maior sustento financeiro, ao penetrar nos meios de comunicação. Mesmo tendo o círculo de seus leitores se alargado, sua ênfase não estava centrada na formação da opinião pública. Conseqüenteme nte, nos jornais mais lidos, os anúncios invadiram a primeira página: [...] o espaço deixado à redação é muito restrito e, nesse campo já diminuto, se esparramam diminutas notícias pessoais, disque-disques e fatos insignificantes, o acontecimento importante, não é, em geral convenientemente destacado, porque ao jornalista como ao povo, como ao ex-imperador, falta uma concepção nítida do valor relativo dos homens e das coisas; carecem eles de um critério , de um método. A imprensa em conjunto não procura orientar a opinião pública por um caminho bom ou mal; ela não é um guia, nem compreende sua função educativa; e abandona o povo à sua ignorância e à sua apatia. (SODRÉ, 1966, p. 289). No desenvolvimento da imprensa, manteve-se a continuidade no que se refere à hierarquia entre grandes e pequenos jornais. No Rio de Janeiro, a forma assumida pelo capital comercial, concentrado nas mãos de portugueses, deu características de nacionalidade a um problema de ordem econômica: o capital, em seu conteúdo, era comercial, em sua forma era português. “Ainda aqui, os poucos intérpretes do processo tomaram a forma pelo conteúdo.” (SODRÉ, 1977, p. 319). A imprensa carioca era variada e numerosa se considerar as condições que presidiram sua existência. Max Leclerc situou algumas características, apreciadas por Sodré: É aceitável a divisão que faz entre grandes e pequenos jornais, entre aqueles alinhando apenas o Jornal do Comércio [...] e a Gazeta de Notícias em fase de fatígio [...], O Paíz, o Diário de Notícia, que não cabiam perfeitamente na categoria, pois aproximavam-se dos grandes, e A Rua, a Folha Popular, A Tribuna, a Cidade do Rio, o Correio do Rio, O Brasil, o Diário do Brasil, a Gazeta da Tarde, a Gazeta Moderna, o Correio do Povo, o Jornal do Povo, o Diário do Comércio e o Diário Oficial, para não mencionar as revistas,.

(2) 87. particularmente as ilustradas, órgãos semanais [...], de periodicidade variável as outras, e que exerciam grande influencia na opinião. (1966, p. 294). Para a consolidação de grandes jornais foi necessário um transcurso de tempo. Nesta galeria variada de Leclerc, somou-se, em 1891, o Jornal do Brasil, que se enfileirou entre os grandes, montado como empresa de estrutura sólida. Assumiu a frente do Jornal do Brasil, Quintino Bocaiúva, vindo, posteriormente, a ser o mentor do O Paíz. Bocaiúva foi considerado “[...] a figura mais importante do periodismo republicano [...]” (SODRÉ, 1977, p. 287), tendo sido um dos Ministros do Governo Provisório de Deodoro da Fonseca (18891891). A entrada do republicano deveu-se aos méritos pessoais, atribuídos pelos serviços à causa do novo regime. Desde os tempos de estudante se empenhou na difusão dos ideais republicanos, tendo ficado fiel aos seus princípios ao longo da existência como político e como jornalista 1 . Sua indicação foi em reconhecimento pelos seus serviços à causa republicana e representou a importância que a imprensa teve no advento do novo regime. A passagem do século XIX para o XX, marcada pela euforia inovadora da revolução tecnológica, assinalou no Brasil, o aparecimento de numerosos jorna is, tanto em capitais como no interior; a transição da pequena à grande imprensa, que fez do tema político a tônica de sua matéria (tal como a política era entendida e praticada na velha república oligárquica) e como matéria principal a luta política, assumindo “[...] aspectos pessoais terríveis, que desembocam quase sempre, na injuria mais vulgar.” (SODRÉ, 1966, p. 372). Nessa transição para o novo século, os jornais começaram a se adaptar às novas ferramentas, o uso do telefone e do telégrafo. A imprensa, no início do século, havia conquistado o seu lugar, definindo a sua função, provocando a divisão do trabalh o em seu setor específico, atraindo capitais. Significava muito, por si mesma, e refletia, mal ou bem, as alterações que, iniciadas nos dois últimos decênios do século XIX, estavam mais ou menos definidas nos primeiros anos do século XX. (SODRÉ, 1966, p. 315). A consolidação da República trouxe no seu bojo a consolidação também da imprensa 2 . Apenas nas pequenas cidades ainda se mantinha a de caráter artesanal: “[...] nas folhas semanais feitas em tipografias, pelos velhos processos e servindo às lutas locais, geralmente 1. Era comum que jornalistas fossem chamados às funções políticas eminentes, tais como, Salvador de Mendonça e Ruí Barbosa, que a rigor não eram homens da imprensa-atividade, mas com trabalhos circunstanciais. 2 “Como era de se prever, os órgãos de imprensa monárquica tiveram dificuldades para sobreviver já nos primeiros tempos da República. Por outro, alguns jornais continuaram sua circulação como o caso da Tribuna Liberal, dirigida por Carlos de Laett, argumentador ágil e corrosivo, porém, sua circulação foi suspensa em dezembro de 1889, retomando a 1 de julho de 1890, com o título encurtado para A Tribuna, e sob a direção de Antonio Medeiros, agasalhando os violentíssimos artigos de Eduardo Prado, que motivaram ameaças ao jornal, depredado em 29 de novembro de 1890” (SODRÉ, 1966, p. 290)..

(3) 88. virulentas.” (SODRÉ, 1966, p. 314) No entanto, nas capitais, houve lugar para a modernidade, “[...] nelas o jornal ingressara, efetiva e definitivamente, na fase industrial, era agora empresa, grande ou pequena, mas com estrutura comercial inequívoca. Vendia-se informação como se vendia outra qualquer mercadoria.” (SODRÉ, 1966, p. 314) Dentre as alterações impostas pelo desenvolvimento das forças produtivas e pelo novo regime, destaca-se que os pequenos jornais, de estrutura simples, as folhas tipográficas e os jornais com empreendimentos individuais, desapareceram nas grandes cidades e cederam lugar às empresas jornalísticas, com estrutura específica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício da função (SODRÉ, 1977, p. 315). Houve a redução no número de periódicos e a consolidação na estrutura das empresas jornalísticas. O jornal vespertino 3 Cidade do Rio, de José do Patrocínio, desapareceu em 1902, e tornou-se “[...] exemplo vivo e contrastante da velha imprensa, não tinha estrutura de empresa, capengava ao sabor das circunstâncias, vitalizadas apenas, e já insuficientes e inadequadamente pelo prestígio da pena de seu diretor e proprietário.” (SODRÉ, 1966, p. 326). Por outro lado, mesmo que os jornais se transformassem em empresas capitalistas, dominadas por interesses privados, mantinha em seu conjunto uma relação estreita com o Estado, e mantidas pelo capital comercial, o que corresponde, para Sodré, as forças précapitalistas ainda majoritárias no país (1977, p. 319). Sendo o processo de produção dos jornais alterado em sua estrutura material, seu processo de cir culação também se modificou, transformando-se as relações do jornal com o anunciante, com a política e com os leitores. A transição esteve ligada às transformações ocorridas no país, e nele destaca-se a ascensão burguesa 4 e o avanço progressivo das relações capitalistas. Assim como a fase é de ascensão capitalista lenta peculiar o país de longo passado colonial – presente em sua estrutura econômica – [...] a imprensa, embora apresente agora estrutura capitalista, é forçada a acomodar-se ao poder político que não tem ainda conteúdo capitalista, pois o Estado serve principalmente à estrutura pré-capitalista tradicional. (SODRÉ, 1977, p. 316). Parece contraditório o contraste existente entre o jornal como empresa capitalista, e sua posição como servidor de um poder que corresponde às relações predominantemente précapitalistas (SODRÉ, 1966, p. 316-17). No entanto há frestas para uma percepção mais clara. 3. O jornal vespertino de maior tiragem era A Notícia, dirigida por Manuel Jorge de Oliveira Rocha, o Rochinha, quase alheio à política, ele informava mais do que opinava. 4 “O traço burguês da imprensa é facilmente perceptível, aliás nas campanhas políticas, quando acompanha as correntes mais avançadas, e em particular nos episódios críticos, os das sucessões .” (SODRÉ, 1977, p. 316).

(4) 89. do quadro: o aparecimento de jornais de virulenta oposição, confrontando com os jornais que se subordinam ao poder; as campanhas sucessórias extremadas, sem correspondência com o caráter e o programa das correntes em choque e a necessidade para os detentores do poder em comprar opinião na imprensa. “É agora mais fácil comprar um jornal do que fundar um jornal; e é ainda mais prático comprar a opinião do jornal do que comprar o jornal.” (SODRÉ, 1977, p. 316). Campos Salles, que presidia o país na passagem do século para outro (1898-1902), buscava estruturar politicamente as forças pré-capitalistas, e não tinha qualquer escrúpulo para comprar a opinião da imprensa, conduta que se tornou rotina no cotidiano do governo. “É bom ler, vendo, com exatidão, a cifra que a mesma lhe custou.” (SALES, 1908, p. 152, apud SODRÉ, 1966, p. 316). Campos Salles não foi o único, outros presidentes adotaram o mesmo procedimento. “Em verdade, fizeram-no todos os governos da República, com exceção do Governo Provisório, que a censura preservava de qualquer ataque, e todos os gabinetes do Império.” (SODRÉ, 1966, p. 317) A imprensa do século XX tornou-se um dos meios de comunicação que difundiu a informação para um grande número de pessoas e, simultaneamente, atingiu grandes distâncias. Passou a exercer um papel importante em propagar as mensagens ideológicas, já que a função dos jornais e das revistas era de informar a sociedade, constantemente, os fatos regionais e internacionais, “[...] contribuindo em alto grau no fornecimento aos seus leitores uma determinada visão da realidade em que vivem.” (GARCIA, 1985, p. 67). O autor afirma que após a elaboração de uma propaganda ideológica, realizada sua codificação e estruturado o sistema de controle, se procede à difusão sistemática das mensagens e os meios impressos contribue m para propagação dessas informações selecionadas. Dessa forma, a imprensa consiste em elemento de manipulação de grupos internacionais e nacionais que só permitem a transmissão das mensagens que reforçam sua ideologia (GARCIA, 1985, p. 67). As mensagens divulgadas pelos jornais mantiveram a preocupação com o fato político. “Nota-se não é a política, mas o fato político, [...] ocorre em área restrita [...] ocupada pelos políticos, por aqueles que estão ligados ao problema do poder.” (SODRÉ, 1966, p. 317). As questões tornavam-se pessoais, giravam em torno de atos, pensamentos ou decisões de indivíduos, que protagonizavam o fato político. “Daí o caráter pessoal que assume as campanhas; a necessidade de endeusar ou de destruir o indivíduo. Tudo se personaliza e se individualiza.” (SODRÉ, 1966, p. 317).

(5) 90. Os conteúdos jornalísticos não tiveram grandes alterações no início do século XX. Para Sodré (1966), a imprensa era anêmica, uma “[...] inexpressiva gazeta da velha monarquia”, precária, vaga, morna e trivial. O noticiário era redigido de forma difícil e nem mesmo as informações eram de interesse geral ou os fatos apresentados objetivamente; o jornalismo, praticado por literatos, acabou sendo confundido com literatura. Os escritores, "[...] homens de letras buscavam encontrar no jornal o que não encontravam no livro: notoriedade, em primeiro lugar; um pouco de dinheiro 5 , se possível.” (SODRÉ, 1966, p. 334). A chegada das revistas ocuparam o espaço dos jornais literários e cada uma abrigou os autores de seu gênero. As chamadas informações sociais – aniversários, casamentos, festas – apareciam em linguagem melosa e misturavam-se a correspondência de namorados, desafetos pessoais, acusações violentas e eloqüentes catilinária 6 dos a pedidos 7 .” (SODRÉ, 1966, p. 323-324). Os clichês eram caríssimos, devido à existência de poucas oficinas de gravura e os jornais poupavam-se de usá- los. Sobre a estrutura dos impressos notava-se: Poucas páginas de texto, quatro o oito. [...] Começa geralmente, pelo artigo de fundo, um artigo de sobrecasaca, cartola [...] ar imponente e austero, mas rigorosamente vazio de opinião. [...] Colunas frias, monotonamente alinhadas, jamais abertas. Títulos curtos. Pobres. Ausência quase absoluta de subtítulos. Vaga clichéterie. Desconhecimentos das manchetes e de outros processos jornalísticos, que já são, entanto, conhecidos nas imprensas adiantadas do norte da Europa. Tempo do Soneto da primeira página, dedicado ao diretor ou ao redator principal da folha. (SODRÉ, 1966, p. 323). Contudo, a imprensa escrita teve um grande desenvolvimento durante o século XX devido aos avanços tecnológicos no processo de impressão e evolução das artes gráficas, o que se refletia nas publicações. De um espaço controlado pelas censuras para outro de liberdade de expressão, a imprensa atravessava uma nova fase, apareceram as revistas ilustradas, na maior parte humorística, porém efêmeras como O Coió e O Nu (1901), O Tagarela e Gavroche (1902), Pau e Século XX (1905), O Mês (1906), Tam-Tam e O Diabo (1907), O Degas (1908), O Trapo (1909) e O Filhote do Careta (1910). A Avenida circulou entre 1903 e 1905, com breve reaparecimento em 1906; a Kosmos, entre 1904 a 1909; a Figuras e Figurões circulou apenas em 1905, ressurgindo entre 1913 e 1914 (SODRÉ, 1966, p.. 5. O Jornal do Comércio pagava as colaborações entre 30 e 60 mil réis; o Correio da manhã, a 50. Bilac e Medeiros e Albuquerque, em 1907, tinham ordenados mensais, pelas crônicas que faziam para a Gazeta de Notícias e O Paíz, respectivamente;[...].” (SODRÉ, 1966, p. 334) 6. “Acusação violenta e eloqüente” (Mini Aurélio Eletrônico Versão 5.12.) “[...] libelos infames, de ataques anônimos contra personagens públicas ou privadas e instituições, publicações essas pagas pelos interessados, [...]”. (SODRÉ, 1966, p. 324) 7.

(6) 91. 374). As revistas, mais do que os jornais, se prestavam aos anúncios que exigiam maior apuro técnico (SODRÉ, 1966, p. 374). No Rio de Janeiro, tiveram continuidade: a Revista da Semana (1900), O Malho (1902), Leitura Para Todos e O Tico-Tico (1905); além de Fon-Fon (1907), porta-voz dos simbolistas; Careta (1908), dominada pelos parnasianos; a Ilustração Brasileira (1909) e O Século (1916). Dentre as citadas, marcaram a época: O Malho, Ilustração Brasileira e Leitura Para Todos. Mais que informar, as revistas repercutiam as diferentes manifestações culturais da elite, com o humor de suas caricaturas. A Careta era mais popular e podia ser encontrada nas ante-salas de consultórios, nas barbearias e nas estações. Sua distribuição inovou ao usar carteiros como entregadores. Nela escreviam Martins Fontes, Olegário Mariano, Aníbal Teófilo, Alberto de Oliveira, Goulart de Andrade, Emílio de Menezes, Bastos Tigre, Luís Edmundo. Foi em suas páginas que Olavo Bilac publicou os mais belos sonetos de A Tarde (SODRÉ, 1966, p. 374). No início do século XX, a imprensa atravessou a primeira de suas fases de tormentos no regime republicano. Em 1908 começavam a surgir os sintomas preliminares da luta que, com a derrota do movimento civilista, encabeçada por Rui Barbosa, terminaria por caracterizar-se no turbulento período presidencial (1910) do Marechal Hermes da Fonseca (SODRÉ, 1966, p. 374). Apesar desses, e de outros acontecimentos que marcaram o governo do ex-presidente Affonso Penna, realizou-se a fundação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em 7 de abril de 1908, na sala de sessões da Caixa Be neficente dos Empregados do jornal O País. Compareceram apenas oito jornalistas, sendo quatro do O Paíz e os demais do Correio da Manhã, do Jornal do Brasil, da Gazeta de Notícias e do Diário do Comércio. Coube a Associação manter uma caixa de pensões e auxílios, destinados aos sócio s e suas famílias, estabelecer um serviço de assistência médica e farmacêutica, instituir o Retiro da Imprensa (com enfermaria e residência para velhos e enfermos), habilitar por meio de títulos de capacidade intelectual e moral o pretendente à colocação no jornalismo e organizar o Anuário da Imprensa. A ABI viveu, por algum tempo, na sobreloja do O País, e passou, de 1908 e 1942, por sete sedes, estabelecendo-se em sala cedida num quartel da Polícia Militar (SODRÉ, 1966, p. 354). Para a referida pesquisa que objetivou estudar o período considerado de propaganda eleitoral à presidência da República de 1906, retratando o papel da imprensa escrita, no processo de construção da imagem pública do mineiro Affonso Penna, identificando apelos estratégicos tanto da candidatura quanto da sua imagem pessoal, classificando as atribuições de propriedades positivas/negativas e neutras, houve a necessidade da seleção de dois jornais.

(7) 92. cariocas que polarizavam as correntes de opinião, o Correio da Manhã 8 , fundado em 15 de junho de 1901 por Edmundo Bittencourt 9 e, o jornal O Paíz, criado em 10 de outubro de 1884, por Quintino Bocaiúva. O Correio da Manhã, extinto em 08 de julho de 1974, caracterizou-se como um jornal de oposição, tendo encontrado seu prestígio nas camadas populares. Do outro lado, de extremo servilismo, o jornal O Paíz (SODRÉ, 1977, p. 318), extinto em 18 de novembro de 1934. Os periódicos escolhidos fizeram parte do cenário impresso do Rio de Janeiro, considerado importante centro jornalístico entre os anos 1880 e 1908. Para a descrição anterior, recorreu-se a autores que examinaram o desenvolvimento da imprensa brasileira, analisando a estrutura dos periódicos como empresas capitalistas, inseridos na trama de relações sociais estabelecidas entre o Estado brasileiro e o capital comercial, sob o domínio ainda das forças econômicas pré-capitalistas, majoritárias no país (SODRÉ, 1977, p. 319). A transformação do jornal em grande empresa se deveu ao seu caráter comercial, seja pela via da publicidade ou pela circulação mercantil de seus exemplares, abrindo caminho para grandes conglomerados da comunicação de massa, em forma de monopólios, “[...] sob suspeita, muitas vezes, de conduta parcial em favor de um determinado enquadramento, por sua representação muito peculiar dos fatos, o que parece derivar do próprio processo complexo de produção da notícia.” (RODRIGUES, 2008, p. 9) Sendo assim, com base no estudo das Cartas Mineiras do jornal Correio da Manhã e das Notícias de Minas do O Paíz, procurou-se identificar alguns processos de comunicação que envolveu a cand idatura única de Affonso Penna à presidência da República, entre o período considerado de propaganda eleitoral (agosto de 1905 a fevereiro de 1906). Procurouse retratar, principalmente, o papel da imprensa escrita na construção da imagem pública do candidato, recorrendo especialmente às mensagens divulgadas sobre Minas Gerais, terra natal do candidato.. 8. “Como escreveu Francisco de Assis Barbosa ‘o Correio da Manhã’ era atingido duramente pela pena do romancista, que o descrevia qual um museu de mediocridades, tendo à frente um diretor violento, mestre de descomposturas, destruindo reputações em nome da moral, mas que não passava, na realidade, de um êmulo de Tartufo, corrupto e devasso’. A esse ataque violento, descomedido e até certo ponto injusto, o Correio da Manhã respondeu com olímpico silêncio: o nome do romancista foi proibido de ser mencionado no jornal.” (SODRÉ, 1966, p. 348) 9 “Edmundo Bittencourt foi um jovem advogado, cheio de audácia, de energia e de cinismo, pensou em lançar, um período rompendo as normas, até então, havia estabelecido, trincheira de ação ativa e patriótica, capaz de confundir, desbaratando, comendador e sua grei, folha exclusivamente nossa, onde se defende os conculcados interesses do povo que uma fatalidade histórica oprima e humilhava.” (SODRÉ, 1966, p. 327)..

(8) 93. 1.1 Morfologias das Cartas Mineiras no jornal Correio da Manhã e das Notícias de Minas no jornal O Paíz Nesta primeira parte, identificaram-se os aspectos morfológicos, do universo das 30 Cartas Mineiras 10 , assinadas por Azevedo Junior, redator do Correio da Manhã, e das 32 titulações Notícias de Minas 11 do jornal O Paíz. Para a caracterização morfológica apoiou-se no percentual de publicações mensais dos conteúdos das mensagens, dos respectivos jornais; a periodicidade delas segundo os dias da semana; a decomposição da área impressa considerando a paginação destinada por cada periódico e o posicionamento dessas, observando o tratamento e o aspecto da visibilidade, assim como a valorização do espaço, tanto no que se refere aos temas preponderantes, quanto à menção do nome do candidato Affonso Penna. Também foram verificadas as atribuições positivas e/ou negativas dos aspectos referentes à candidatura, como daqueles referidos à imagem pessoal de Penna, destacando-se características, conceitos e imagens. Essas combinações permitem traçar a valorização das publicações mineras e estimar possíveis efeitos de recepção delas perante o leitor. Na descrição da forma de cada jornal, registraram-se diferenças na abordagem das realidades cotidianas, permitindo avaliar (em maior ou menor alcance) os conteúdos jornalísticos, dependendo da linha seguida, da estrutura e do capital comercial disponibilizado. O jornal Correio da Manhã, de formato Standard, de maior destaque, pode ser considerado “[...] o mais representativo, o mais típico, o mais retratável dos órgãos da imprensa da época.” (SODRÉ, 1966, p. 348). O editorial do quarto aniversário (15 de junho de 1905) reafirmou, de seu ponto de vista, a exatidão do rumo traçado no seu lançamento: “Veio para lutar, resoluta e serenamente, em prol dos interesses coletivos sacrificados por uma administração arbitrária e imoral. Venceu por isso.” (SODRÉ, 1966, p. 329). Daí por diante, e em toda a velha república, a qual ajudou a desmoronar, foi o veículo da pequena burguesia urbana, no desempenho de um papel relevante: quebrou a uniformidade política das combinações de cúpula, dos conchaves de gabinete, levantou o protesto das camadas populares, na fase histórica em que a participação da classe trabalhadora era mínima. (SODRÉ, 1966, p. 329). Na outra ponta, o jornal O Paíz esteve na defensiva das posições governamentais, caminhou-se como órgão de comunicação ligado às elites da velha república, em defesa dos. 10. Equivalente a 14,35% dos encontrados no período entre agosto de 1905 a fevereiro de 1906. Esse número corresponde a 15,16% dos encontrados no período entre agosto de 1905 a fevereiro de 1906. No entanto, todas as Notícias de Minas divulgadas, estiveram compostas, em média, por 5 pequenas notas, totalizando, no período de análise, 155 notas tituladas . 11.

(9) 94. interesses da política do café com leite. Nesse mesmo período, entrou no jornal o português João de Souza Laje 12 , tipificou-se como jornalista corrupto, de opinião alugada, mantendo conchavos com o poder para a obtenção de benefícios materiais em troca da posição do jornal. “O jornal ocupava-se, de resto, mais de Portugal do que do Brasil. O Brasil como era refletido, nada mais era do que um pedaço de Portugal. [...] não se faz idéia entre nós de quanto o Brasil era português.” (SODRÉ, 1966, p. 381). Jovino Aires ocupava a função de secretário do jornal; trabalhou, na redação, Gastão Bousquet, Oscar Guanabarino, Eduardo Salamonde; e, na reportagem, Jarbas de Carvalho, Virgilio de Sá Pereira, Gustavo de Lacerda, Artur Azevedo, na qualidade de colaboradores. Jornal de grande porte publicou o Almanaque d´O Paíz, apresentando a historiografia da imprensa brasileira. O Gráfico 1 representa a freqüência, pelos meses analisados, de publicação das Cartas Mineiras pelo jornal Correio da Manhã. Verificou-se que o mês de outubro de 1905 (22%), teve a maior porcentagem dessa publicação, seguido dos meses de agosto e dezembro de 1905 e janeiro de 1906 (17% cada); novembro de 1905 (13%); setembro de 1905 (7%) e fevereiro de 1906 (7%).. Gráfico 1 Frequência das Cartas Mineiras por meses de análise no jornal Correio da Manhã Jornal Correio da Manhã por meses de análise. 7%. 17%. 17% 7%. 17%. 22% 13%. AGOSTO. SETEMBRO. OUTUBRO. NOVEMBRO. DEZEMBRO. JANEIRO. FEVEREIRO. Verifica-se que o mês de maior porcentagem, outubro, apresentou mensagens abordando o candidato Affonso Penna, vistas não apenas nas Cartas Mineiras, mas em outras notícias publicadas pelo jornal Correio da Manhã, como por exemplo, a divulgação da Plataforma Econômica do candidato, a qual ocupou duas páginas inteiras, no dia 13 de outubro de 1905. Também foram encontradas informações sobre Affonso Penna ditas por personalidades conceituadas no âmbito político da época, como Pinheiro Machado, “[...] ao desempenhar- me no delicado e na honrosa missão que me foi confiada de levantar o brinde de 12. De gerente passou a diretor aproveitando a crítica situação financeira do jornal..

(10) 95. honra nesta assembléia política, eu o faço sem constrangimento algum, e com completa satisfação.” (PLATAFORMA do dr. Affonso Penna, de 13/10/1905). Pinheiro, saudou o futuro presidente com a seguinte declaração: Senhores, há três anos precisos, neste mesmo recinto, grande parte de nós ouviu o chefe da Nação atual, lendo o seu programa com cuja idéia ele se apresentara ao sufrágio dos brasileiros a fim de obter o alto posto que ora ocupa.[...] Prosseguindo na apologia do atual governo e fazendo referências honrosas ao programa político do Sr. Affonso Penna, momentos antes exposto o conclui enaltecendo a conduta do atual chefe de governo dando plena liberdade de manifestação da opinião do país sobre a escolha do futuro presidente, pois é comum aos detentores do poder abusar dos atributos que lhe foram confortáveis para impor suas vontades. (PLATAFORMA do dr. Affonso Penna, de 13/10/1905). De acordo com o Gráfico 2, nas Notícias de Minas, do O Paíz, o mês de agosto de 1905 caracterizou-se pela divulgação do maior número dessas mensagens (25%). Em seguida, os meses de setembro (22%); dezembro (19%) e outubro do mesmo ano (16%). Apresentaram menores taxas os meses de novembro de 1905 (6%) e janeiro de 1906 (9%); e por fim o mês de fevereiro de 1906 (3%), anterior ao processo eleitoral de 1906. Gráfico 2 Frequência das Notícias de Minas por meses de análise no jornal O Paíz Jornal O Paíz por meses de análise. 3%. 9%. 25%. 19%. 6%. 22% 16%. AGOSTO. SETEMBRO. OUTUBRO. NOVEMBRO. DEZEMBRO. JANEIRO. FEVEREIRO. Ressalta-se que em agosto, mês de maior freqüência das Notícias de Minas, ocorreram os conchavos políticos entre São Paulo e Minas Gerais, na indicação da chapa de Affonso Penna (presidente) e de Nilo Peçanha (vice-presidente) para a eleição presidencial de 1906. Percebe-se que quanto mais se aproximava o mês do pleito (março), mais se reduzia a freqüência das propagações dessas mensagens mineiras no jornal. Pela análise, observou-se que O Paíz não veiculou conteúdos políticos nas Noticias de Minas, concluindo que o jornal.

(11) 96. não valorizou os fatos políticos que desembocaram na eleição presidencial, fato que não caracteriza o jornal como parcial perante os acontecimentos da época. A natureza de periodicidade das Cartas Mineiras e das Notícias de Minas foram abordadas pelos dados contidos no s Gráficos 3 e 4. Quanto às Cartas Mineiras, essas apresentaram maior freqüência às segundas- feiras (40%), seguido da sexta-feira (20%), do sábado (13%), do domingo (10%), da terça-feira (7%), da quinta- feira (7%) e por fim, em menor freqüência, à quarta- feira (3%). No entanto, o dia de quarta feira se apresentou como o de maior número de publicações das Notícias de Minas (20%); seguido da quinta- feira e do domingo (19%), da segunda- feira (16%), do sábado e da terça-feira (9%), e em menor freqüência, a sexta-feira (6%). Gráfico 3 Frequência por dias da semana das Cartas Mineiras no jornal Correio da Manhã Frequência em porcentagem por dia da semana. 10% 13%. 40%. 20% 7%. Segunda. Terça. Quarta. 7%. 3%. Quinta. Sexta. Sábado. Domingo. Gráfico 4 Frequência por dias da semana das Notícias de Minas no jornal O Paíz Frequência em porcentagem por dia da semana. 19%. 16% 9%. 9% 6%. 22%. 19% Segunda. Terça. Quarta. Sexta. Sábado. Domingo. Quinta.

(12) 97. Em suma, verificou-se que os meses de maior número de mensagens mineiras pelos jornais foram diferenciados. Enquanto as Cartas Mineiras destacou-se o mês de outubro (22%), as Notícias de Minas foram veiculadas no mês de agosto (25%). No que se refere ao dia da semana, com maior freqüência, constatou-se um fenômeno bizarro, a quarta- feira representou, para as Notícias de Minas, o dia de maior índice de notícias, enquanto nas Cartas Mineiras esse dia foi o menor índice de publicação. Analisando o comportamento de ambos os periódicos, percebeu-se que não houve uma freqüência constante mensal em determinados dias da semana para as publicações das Cartas Mineiras e nem das Notícias de Minas ao público. Quanto à decomposição da área impressa, levando em consideração a paginação destinada por cada periódico e o posicionamento dessas mensagens nas páginas, verificou-se que as Cartas Mineiras, do jornal Correio da Manhã, concederam espaço privilegiado na difusão dos conteúdos, ou seja, 63% concentraram-se na Capa (página 1), lugar ponderado como nobre; seguido da página 2 (30%) e página 3 (7%). As Notícias de Minas, do jornal O Paíz, houve a ocupação de 47% das mensagens na página 3, 44% na página 2, seguida da Capa (6%) e de página 4 (3%). Isso se observa nos Gráficos 5 e 6. Gráfico 5 Paginação das Cartas Mineiras no jornal Correio da Manhã Frequência em porcentagem por paginação. 7% 30%. 63%. CAPA. PAGINA 2. PAGINA 3.

(13) 98. Gráfico 6 Paginação das Notícias de Minas no jornal O Paíz Frequência em porcentagem por paginação. 3%. 6%. 47%. CAPA. 44%. PAGINA 2. PAGINA 3. PAGINA 4. Na hierarquia das páginas, pela orientação da leitura ocidental, o leitor encaminha-se secundariamente para o verso da página (número par), lendo-o somente após a leitura da frente da página (número impar). Sendo assim, a valorização do espaço dentro da paginação obedece a uma ordem numérica crescente, seguindo, primeiramente, a de número ímpar para a de número par. Com isso, as três primeiras páginas ímpares adquirem peso no jornal (Capa [página 1], Página 3 e Página 5). As páginas centrais também têm grande destaque, sendo ocupadas, freqüentemente, com matérias especiais ou promoções. O posicionamento de uma notícia dentro de cada uma dessas páginas se submete ao arbítrio, ou seja, a parcialidade na seleção das notícias, a despeito da organização das seções por assunto (RODRIGUES, 2000, p. 15). Observou-se pelos dois últimos gráficos acima, que ambos os jornais concederam espaços privilegiados para as publicações, o Correio da Manhã com a predominância das Cartas Mineiras na Capa, página 1 (63%) e O Paíz com as Notícias de Minas veiculadas na página 3 (47%), considerando essas informações mineiras relevantes para os eleitores cariocas. Tão importante quanto à paginação, é o posicionamento das mensagens dentro do jornal. A partir da orientação dos módulos simétricos, sabe-se que a zona ótica primária, considera-se um espaço de destaque, área de atenção, de onde se deduz que a notícia 13 diagramada pode ter seu impacto multiplicado. Seguindo esse princípio, as notícias jornalísticas, conforme Collaro (1987, p. 90), são distribuídas em quatro módulos simétricos, chamados de quadrantes, convencionados em quadrante superior esquerdo (zona ótica 13. A notícia não é história porque lida com eventos isolados e não procura relacioná-los entre si, seja numa seqüência causal seja numa seqüência teleológica. A notícia como forma de conhecimento, não concerne primariamente nem ao futuro nem ao passado, mas ao presente. (PARK, 1966 apud EPSTEIN, 2007, p. 1).

(14) 99. primária), quadrante superior direito (zona terminal), quadrante inferior esquerdo e quadrante inferior direito (mortas ou sem atração). Além dos quadrantes, há que se levar em conta, para um detalhamento, os posicionamentos no interior da página, a metade superior e a metade inferior, sendo a primeira mais relevante que a segunda. Cabe ressaltar que cada jornal analisado assumiu um padrão diferenciado de diagramação. Ao constituir uma padronização gráfica pensa-se na criação de sua identidade para que o leitor imediatamente o reconheça, estabelecendo uma agilidade na localização das informações de interesses. O jornal Correio da Manhã apresentou-se, na totalidade, entre 7 a 11 páginas, sendo cada uma delas dividida em sete colunas, assim distribuídas: as duas primeiras colunas da esquerda, como quadrante esquerdo, superior e inferior; as três colunas centrais, como metade superior e metade inferior e as duas colunas da direita, como quadrante direito, superior e inferior. O jornal O Paíz aproximou-se do Correio da Manhã, variando também entre 7 a 11 páginas. Esse jornal dividiu cada página em oito colunas: as duas primeiras da esquerda, no quadrante esquerdo, superior e inferior; as quatro colunas centrais, na metade superior e na metade inferior; e as duas colunas da direita, no quadrante direito, superior e inferior. A partir do Gráfico 7 percebeu-se que o posicionamento do título Cartas Mineiras foi, em grande parte, na metade superior (61%); seguida dos posicionamentos: quadrante superior esquerdo (23%), no quadrante superior direito (13%) e metade inferior (3%). O quadrante inferior esquerdo e o quadrante inferior direito não registraram posicionamentos de título no jornal Correio da Manhã. Geralmente, o Correio da Manhã, ao publicar as Cartas Mineiras, despertava a atenção do leitor por dispor as mensagens em zonas consideradas relevantes (metade superior e quadrante superior esquerdo). Contudo, a diagramação de um percentual significativo de notícias dessa natureza na parte superior indica que, de forma genérica, os editores atribuíram um peso importante fixando as informações em posicionamentos atraentes ao público, no entanto não se deve desconsiderar o conteúdo nelas publicados, pois se o conteúdo foi de angulação negativa e esteve posicionado de forma relevante no jornal, esse pode ter favorecido na projeção negativa da mensagem..

(15) 100. Gráfico 7 Freqüência por posição das Cartas Mineiras no jornal Correio da Manhã Frequência em porcentagem por posição das Cartas Mineiras. 3%. 13%. 23%. 61%. QSD. MS. QSE. MI. No Gráfico 8 observa-se que a maior parte do espaço destinado à publicação das Notícias de Minas foi o quadrante superior esquerdo (28%), considerada zona ótica primária. Em seguida, o quadrante inferior esquerdo (zona morta) e a metade inferior, ambas com 22%. O quadrante inferior direito (zona terminal) representou 13% da disposição; seguido da metade superior (9%) e do quadrante superior direito (6%), esse classificado como zona morta, de baixa atração.. Gráfico 8 Freqüência por posição das Notícias de Minas no jornal O Paíz Frequência em porcentagem por posição das Noticias de Minas. 6%. 22%. 28% 9% 13%. 22%. QSD. QSE. QID. QIE. MS. MI. A partir das leituras correntes, e da demonstração dos Gráficos 7 e 8, quanto aos módulos simétricos, compreende-se que o espaço classificado como zona ótica primária (quadrante superior esquerdo) e a metade superior (espaço também de importância) se constituíram como o lócus de destaque nas paginações, favorecendo impactos na leitura dessas mensagens..

(16) 101. Ao somarem os espaços contemplados pelas diagramações tanto das Cartas Mineiras quanto das Notícias de Minas, ambas as localizações prevaleceram em áreas consideradas de retenção do leitor. Na outra ponta, nas chamadas zonas terminais e mortas, os conteúdos tornam-se ponderados como sem atração ao leitor. Sabe-se que a decisão de diagramação dos espaços, corresponde ao interesse do veículo de comunicação, o editor pode direcionar as mensagens na perspectiva de reduzir sua positividade ou negatividade ou de multiplicá- las nos conteúdos expostos. A metade superior (61%) foi o módulo do jornal Correio da Manhã mais povo ado pelas Cartas Mineiras, acrescentando os 23% do quadrante superior esquerdo, obteve-se o total de 84%, percentual significativo, que atribuiu peso importante ao captar atenção do leitor por eleger tais posicionamentos. Os demais 16% ficaram assim distribuídos: 13% no quadrante superior direito (zona morta) e 3% na metade inferior. Nas somas quantitativas das Notícias de Minas, os percentuais em zonas primárias e significativas (quadrante superior esquerdo e metade superior) totalizaram 37%. Em zonas mortas ou de atração inferior (quadrante inferior esquerdo e metade inferior) esse percentual foi de 28%. A zona terminal (de movimento de vista) apresentou 13%, porém, essa não foi atribuída em nenhuma das zonas anteriormente citadas das Notícias de Minas, para que não houvesse disparidades entre os resultados nem para mais e nem para menos. Conclui-se entre as somas das duas pontas distintas, de atração e não atração, que o jornal O Paíz concedeu valor na diagramação das informações das Notícias de Minas. Ta is notificações dispõem-se no Quadro 3, cujos percentuais encontram-se distribuídos em posições, porcentagens e definições das zonas. CARTAS MINEIRAS. NOTÍCIAS DE MINAS. Posições. Porcentagens. Definições. Posições. Porcentagens. Definições. Metade Superior. 61% 23%. Quadrante Superior Esquerdo Quadrante Inferior Esquerdo Quadrante Inferior Direito Metade Superior. 28%. Quadrante Superior Esquerdo Quadrante Superior Direito Metade Inferior. Área importante Zona primária Zona morta. Zona primária Zona morta. -. -. Quadrante superior Direito. 6%. 13% 3%. Área menos importante -. 22% 13% 9%. Zona Terminal Área importante Zona morta. Quadro 3 - Posição das mensagens em análise nos jornais Correio da Manhã e O Paíz Fonte: Produção da autora.

(17) 102. Ao analisar a morfologia das Cartas Mineiras e das Notícias de Minas (que retrata o quantitativo por meses de avaliação, por paginação e posicionamento jornalístico dessas em seus periódicos respectivamente), constatou-se, também, que ambas as publicações desempenharam os perfis. Quanto ao perfil das Cartas Mineiras, esse se distinguiu por constar, em suas mensagens, a assinatura do redator e comentador 14 , Azevedo Junior; além disso, 92%15 dos seus conteúdos possuíam caráter político, abrangendo tanto questões políticas do estado de Minas Gerais, quanto do Brasil. As Cartas Mineiras não podem ser definidas como notas, cujo pressuposto seria que o redator proferisse apenas uma angulação informativa. Registra-se o contrário, há um perfil crítico/opinativo quanto aos temas abordados, com valências variadas e mensagens que não priorizaram apenas o presente, mas concernentes ao futuro e ao passado. Estas podem ser mais apropriadamente caracterizadas como crônicas, já que se define como um texto jornalístico redigido de forma livre e pessoal sobre alguém ou algum assunto. As Notícias de Minas não apresentaram assinatura de algum responsável pelas publicações. O conteúdo das informações caracterizou-se como informativas, de orientação aparentemente neutra aos acontecimentos especificamente do estado de Minas Gerais. Esta característica fortalece a idéia de um perfil um veículo considerado servil, apenas transmissor. Por outro lado, não abordou episódios que retratassem a presidência da República, nem a futura presidência, no processo de indicação de Affonso Penna. Em todas as Cartas Mineiras e nas Notícias de Minas analisadas, o uso de apelos visuais, ilustrações, gráficos, charges e/ou fotografias não foram identificados, Conforme Sodré (1966) tais recursos podem funcionar como uma espécie de testemunho da realidade e ajudar a atrair a atenção do público, no entanto não foram utilizados. Em ambos, os formatos estavam pré-definidos.. Figura 19 - Título da publicação do O Paíz Fonte: Jornal O Paiz (1905) 14. Figura 20 - Título da publicação do Correio da Manhã Fonte: Jornal Correio da Manhã (1905). Como por exemplo, mensagens dessa forma: “Com são engraçados esses políticos [...] guerreiam-se, desmoralizam-se, uns aos outros, mas sempre se apresentando amiguinhos, escrevendo-se cartas muito amáveis, engrossando-se mutuamente. Insincero como todo quanto à de mais insinceros representam a força da camaradagem e nunca o lendário traidor teve tão bons discursos como agora.” (CARTAS Mineiras, de 19/11/1905) 15 A motivação “política”, predominou nas publicações, isso pôde ser constatado nas 29 mensagens analisadas que abordaram diretamente ou indiretamente o assunto, em apenas uma, no dia 25 de dezembro de 1905 (Natal), destinou-se a Festa Natalina em Belo Horizonte..

(18) 103. Nas mensagens referentes ao candidato Affonso Penna, e a sucessão presidencial de 1906, as Notícias de Minas, do jornal O Paíz, impossibilitaram a elaboração de inferências, dado que sua natureza foi meramente considerada informativa de assuntos diversos, com perspectivas mais sociais, de prestação de serviço, sem avaliações va lorativas, inclusive as relacionadas ao nome de Rodrigue s Alves e sua administração. Tais publicações reforçaram o caráter servil que consistia este jornal, a ausência de conteúdos abordando a possível ele ição presidencial de Affonso Penna e os enlaces políticos que atravessava o país, não representaram uma neutralidade política, visto que o jornal prestou serviço de interesses ao governo em ação, quando divulgava, constantemente e indiretamente, assuntos que remetiam as ações do governo em exercício. A partir disso, o estudo foi dirigido especialmente às 30 Cartas Mineiras, transcritas no Correio da Manhã, contendo essas reproduções de temas políticos da época. Desse universo identificado, a freqüência do nome Affonso Penna foi visível em 37% delas. Desses, em 90% as menções foram na capa (página 1), seguido da página 2 (10%). O Gráfico 09 representa os 37% de incidências do nome do candidato, verificando a localização nas páginas baseado nos módulos simétricos de Collaro (1987). A maior porcentagem encontrou-se na metade superior (64%), posição que permite afirmar que o editor do jornal concedeu peso importante para as mensagens; apresentando o quadrante superior direito, 18% das mensagens, seguido pelo quadrante superior esquerdo e metade inferior, com 9% cada um. Gráfico 9 Menção do candidato Affonso Penna por posicionamento nas Cartas Mineiras Menção de Afonso Pena por posicionamento nas Cartas Mineiras. 9%. 9%. 18%. 64%. QSD. MS. MI. QSE.

(19) 104. Nesse sentido, o posicionamento das titulações em zonas nobres ou em zonas de baixa atração pode influenciar o processo de propaganda eleitoral (para a presidência ou para demais cargos), indicando ao leitor as notícias privilegiadas, na medida em que a diagramação de uma notícia em determinado espaço pode ser significativa ou não na retenção do conteúdo. Ainda, o aspecto positivo ou o negativo das mensagens, também indicam a valorização do candidato, de suas características pessoais e políticas e da pauta de seu programa de governo. As mensagens em zonas mortas podem desfavorecer uma informação positiva, ou salientar uma negativa, mesmo se estiverem na primeira página. Dependendo da qualidade de seu conteúdo, a repercussão da mensagem se diferenciará, tanto em relação à imagem pessoal do candidato, quanto da sua candidatura. Tal orientação se justifica com base em Garcia (1985, p. 68), que indica alguns fatores que influenciam na atribuição de significados à mensagem tais como: a página onde se encontra inserida, a dimensão do texto, o título e o maior ou menor número de pormenores contidos na descrição. Há também a interpretação das informações, geralmente realizada dentro de uma linha pré-estabelecida pela direção do jornal, que é determinada pela defesa de interesses. Em suma, o quadro abaixo, representa os elementos caracterizados da composição morfológica dos jornais em análise, conforme já apresentado nesse item. A partir dessa descrição da forma, parte-se para a etapa seguinte de análise, que consiste na identificação dos temas, bem como as valências, correlacionando com os posicionamentos na diagramação das mensagens. NATUREZA. CARTAS MINEIRAS. NOTÍCIAS DE MINAS. Meses de análise. Outubro (22%). Agosto (25%). Dias da semana. Segunda- feira (40%). Quarta-feira (22%). Paginação. Página 1 (63%). Página 3 (47%). Posicionamento na diagramação. Metade Superior (61%). Quadrante Superior. Assinatura do redator. Azevedo Junior. Sem assinatura. Questões. Minas Gerais e Brasil. Minas Gerais. Perfil. Opinativo/crítico. Informativo/imparcial. Apelos visuais. Não. Não. Esquerdo (28%). Quadro 4 – Morfologia das Cartas Mineiras e das Notícias de Minas Fonte: Produção da autora.

(20) 105. 1.2 Os principais temas e valências apresentadas nas Cartas Mineiras e nas Notícias de Minas Tratou-se, nessa parte, de apresentar os temas manifestados nas mensagens jornalísticas selecionadas, tanto das Cartas Mineiras quanto das Notícias de Minas. Para representar as temáticas das Cartas Mineiras, destinou-se o Quadro 5, expondo a freqüência dos temas mais prevalentes: Eleições, Articulações políticas e Composições Ministeriais, cada uma com 13,33%. Sobre a cidade de Belo Horizonte e a educação, houve a frequência de 10% para cada tema. Apareceram, também, os assuntos sobre a Presidência da República, Sucessão Presidencial e Políticas Futuras (temas em discussão no país como votação no Congresso) com 6,66% cada. Os índices de menor freqüência (3,33%), no entanto importantes para a averiguação da pesquisa, relaciona ram-se com: a menção de Affonso Penna, as candidaturas municipais e as renúncias, e também os assuntos culturais, festivos e as utilidades públicas.. TEMÁTICA GERAL. %. Eleição. 13,33. Articulação Política. 13,33. Composição ministerial. 13,33. Belo Horizonte. 10. Educação. 10. Sucessão Presidencial. 6,66. Política presente/futura; tema em discussão no país. 6,66. Candidatura Affonso Penna. 3,33. Candidaturas. 3,33. Renuncia. 3,33. Cultural. 3,33. Festa/Avisos/Feiras/Exposições. 3,33. Utilidade Pública. 3,33. Quadro 5 - Temáticas Gerais abordadas nas Cartas Mineiras do Correio da Manhã Fonte: Produção da autora.

(21) 106. Durante o estudo, destinou-se um espaço para averiguar as motivações das temáticas mais freqüentes, a fim de contemplar parte da análise de conteúdo proposta. Referem-se, especialmente, às seguintes categorias: política, pessoal, econômica, social e moral. Na leitura das 30 crônicas assinadas por Azevedo Junior, verificou-se que o redator priorizou as informações políticas (54%) tanto do estado de Minas Gerais, quanto da Presidência da República. Nas exposições de caráter pessoal (33%), percebeu-se que o redator destinou uma angulação particular a certos indivíduos, intrinsecamente vinculado ao quadro político da época. Quanto às informações sociais, ocuparam a terceira posição (10%). Por fim, com 3% as condutas morais, conforme pode ser visto no Gráfico 10, encontram-se, incluindo o abandono de posições e apoios aos personagens da vida política. As motivações especificamente econômicas não apresentaram percentuais. Gráfico 10 Motivação das temáticas nas Cartas Mineiras Porcentagem por Motivação das Cartas Mineiras. 10%. 3%. 33%. 54%. Moral. Política. Pessoal. Social. Quanto à tendência das motivações políticas, mostrada pelo gráfico acima, Sodré (1977, p. 317) afirma que sua ocorrência dar-se em área restrita, por aqueles que estão ligados ao problema do poder. Assim, nessa dimensão reduzida, as questões tornam-se pessoais, giram em torno de atos, pensamentos ou decisões de indivíduos que protagonizam o fato político. Daí o caráter pessoal que assume as campanhas, com a necessidade de endeusar ou destruir o indivíduo. “Tudo se personaliza e se individualiza.” Justifica-se a virulência da linguagem da imprensa política, ou o seu servilismo, como contrário. “Não se trata de condenar a orientação, ou a decisão, ou os princípios – a política, em suma – desta ou daquela personalidade; trata-se de destruir a pessoa, o indivíduo.” (SODRÉ, 1977, p. 317). Dentre as motivações encontradas, 57% foram de orientação negativa, o que significa que as Cartas Mineiras abordaram conteúdos de posições críticas ao cenário político do país..

(22) 107. As valências positivas totalizaram 23% e as valências, aparentemente, neutras, de angulações com tendências informativas, totalizaram 20%, principalmente nas temáticas relativas à Belo Horizonte e nas divulgações de Festas comemorativas regionais. Ao determos na interpretação das orientações apenas negativas, verificou-se que 70% dessas apontaram falhas na política, particularmente, quanto à Presidência de Rodrigues Alves. Tal apreço desembocou nas orientações pessoais (24%), não somente referindo-se ao presidente, mas a outros políticos eleitos e integrantes de Composições Ministeriais mineiras e perspectivas para o futuro quadriênio, incluindo percepções morais em relação a certos e identificados políticos (6%). O Quadro 6, representa a freqüência das temáticas gerais, abordadas no universo de 30 Notícias de Minas, priorizando os temas mais freqüentes das 155 notas analisadas. Verificamse, com maior freqüência (11,6%), as temáticas referentes às Inaugurações, caracterizadas como mensagens informativas sobre eventos relativos a aberturas de novas fábricas, empresas, indústrias, estradas, pontes e políticas públicas (infra-estrutura, fornecimento de energia, saneamento básico, escolas, dentre outras), indiretamente significando uma adesão à política governamental do estado de Minas Gerais. As notas de Falecimentos (8,38%) de nomes de pessoas conhecidas engrossaram as Notícias de Minas, apresentando em alguns momentos a causa do óbito. Os temas Criminalidade e Violência, em Minas Gerais, ocuparam a terceira posição (7,74%), incluíram-se os casos de assassinatos, tentativas de assassinatos, roubos e eventuais discussões que houvesse ocasionado brigas. As abordagens agrícolas, o plantio de alimentos, dentre outros, também se destacaram (5,1%). Os temas mais freqüentes, porém, com percentagens menores aos já descritos, foram os avisos sociais de festas, feiras e exposições (4,51%), ocorridas ou previstas, bem como as notícias econômicas e as de construções de estradas, vilas, pontes ou outras obras, o que caracteriza, de certa forma, mesmo que indiretamente, uma defesa ao governo, quando se divulga as benfeitorias arquitetadas pela automaticamente divulga-se a mesma.. gestão em prol dos interesses sociais,.

(23) 108. TEMÁTICA GERAL. %. Inauguração. 11,6. Falecimento. 8,38. Criminalidade/violência. 7,74. Agricultura. 5,1. Festa/Avisos/Feiras/Exposições. 4,51. Economia. 4,51. Construções/estradas, vilas. 4,51. Ações políticas e públicas. 4,51. Quadro 6 - Temáticas Gerais abordadas nas Notícias de Minas Fonte: Produção da autora. O Gráfico 11 encontra-se o conjunto de fatores que motivaram a conduta das 155 notas inseridas nas Notícias de Minas, foram 34% de comportamento social, envolvendo as prestações de serviços para a comunidade mineira; em seguida, com 23% os dados sobre o caráter pessoal de indivíduos, caracterizando-os com suas peculiaridades. Na terceira posição (21%), encontra-se a política, isto é, as práticas em relação ao Estado ou até mesmo à sociedade, no cuidado dos negócios públicos. A motivação econômica, em quarto lugar, computou 16%, relacionando-se à distribuição, produção e as taxas de serviços. Por fim, os demais 6% englobaram a moralidade, a cultura e o meio ambiente.. Gráfico 11 Motivação das Notícias de Minas no jornal o Paíz Porcentagem por motivação das Notícias de Minas. 6%. 21%. 34% 23% 16% Política. Pessoal. Economica. Social. Outros.

(24) 109. Conforme descrito, as motivações das Notícias de Minas tiveram como prevalentes a Inauguração, o Falecimento e a Criminalidade/Violência. Destacou-se que em 78% das motivações, a orientação dessas mensagens foi considerada aparentemente neutra, na medida em que as citações não continham avaliações explícitas contra ou a favor ao assunto em questão, ou seja, as Notícias de Minas, quanto à valência, destacaram-se pela conduta informativa e aparentemente imparcial. Nos 78% das orientações neutras, verificou-se que 36% dessas foram de caráter social; seguida de 31% relacionadas à política; 17% na área econômica e 16% associadas a personagens objeto da notícia. No que se refere à orientação positiva (17%), se referiu as declarações favoráveis, as virtudes pessoais de certos indivíduos citados, seja no momento das Inaugurações ou do Falecimento. As de valência negativa apareceram em 5%, relacionadas mais ao domínio pessoal. A temática Criminalidade foi a que mais registrou atribuição de valores negativos correlacionadas aos indivíduos supostamente envolvidos nos crimes. O quadro abaixo representa de forma resumida a descrição anterior, no que corresponde às temáticas, as motivações e as valências mais freqüentes apresentadas no conteúdo das mensagens analisadas tanto das Cartas Mineiras do jornal Correio da Manhã, quanto das Notícias de Minas do O Páiz.. NATUREZA TEMÁTICA MOTIVAÇÃO VALÊNCIAS GERAIS. CARTAS MINEIRAS. NOTÍCIAS DE MINAS. Eleições/Articulações/ Composições Ministeriais (13,33%). Inaugurações (11,6%). Política (54%). Social (34%). Negativa (57%) 70% falhas na política. Neutra (78%) 36% de caráter social. Positiva (23%) Neutra (20%). Positiva (17%) Negativa (5%). Quadro 7 – Temática, motivação e valências das Cartas Mineiras e Noticias de Minas Fonte: Produção da autora. A importância da visibilidade pública na política contemporânea encontra-se na construção da imagem pelos meios de comunicação, sendo feita de três elementos: mensagens, fatos e configurações significativas (GOMES, 2004, p. 284). Constitui-se pela divulgação do que se diz sobre alguém, ou do que esse alguém diz de si mesmo ; de sua conduta, sua capacidade, reconhecida publicamente, de práticas de ações, como também do.

(25) 110. que alguém é constituído, ou de como ele se mostra na sociedade. Tem-se como princípio, “[...] que não basta ter honestidade, há que se parecer honesto e ser reconhecido como tal [...]”, ou seja, “criar uma imagem é organizar os materiais com tal arte que, o público a produza: construir é fazer construir”. (GOMES, 2004, p. 284). Essa referência auxilia a avaliar o peso que cada um dos jornais estudados conferiu ao informar a seus leitores, de diferentes localidades, na medida em que sua circulação se estendia a outros Estados, como o Rio de Janeiro. Para uma melhor avaliação do espaço destinado de referências ao candidato Affonso Penna (37%) associou-se a posição das Cartas Mineiras do jornal Correio da Manhã, procurando fazer uma ligação dos temas identificados com a candidatura e com a imagem pública, observando as possíveis valências das Cartas Mineiras (e demais notícias do jornal Correio da Manhã) e secundariamente, com a administração de Rodrigues Alves entre o período em análise. Nesse sentido, tentou-se verificar o favorecimento ou desfavorecimento, concedido por Azevedo Junior, conforme tratará a seção seguinte.. 1. 3 Candidatura e construção da Imagem Pública de Affonso Penna, com base nas valências positivas e negativas O princípio da Imagem Pública, construída, gerenciada e programada pelos meios de comunicação de massa, está relacionada com o agenciamento de profissionais e técnicos na formação e transformação do processo de emissão da mensagem, para que sejam recebidas na instância subjetiva, ou seja, conduzidas a produzir os efeitos que os emissores desejam (GOMES, 2004, p. 269). A percepção da imagem pública de um candidato pode ser possível pelas formas como esse personagem se apresenta ao público, como referido acima, mediante a sua própria fala, como de seus interlocutores, com destaque para o que ele faz ou diz que vai fazer ou o que dele se comenta, mecanismos que leva m os leitores a formar uma imagem, de certa maneira, compartilhada entre diferentes públicos. Os procedimentos para se projetar uma imagem pública, iniciam-se no plano da emissão, da produção da mensagem e do discurso político transmitido, chegando-se ao pólo da recepção da mensagem pelo público (SILVA, 2005, p.117). Têm-se dois momentos para sua programação: o primeiro, a construção da imagem através de informações, noções, características, conceitos e imagens transmitidas ao público, ou seja, do conjunto de propriedades apresentadas para cumprir adequadamente suas funções e dos fatos políticos que se procura provocar com determinadas falas e discursos (SILVA, 2005, p.118). O segundo.

(26) 111. momento é o período de administração e adequação das imagens públicas políticas. Nesta fase do processo, tende a se ajustar às mensagens vindas de diferentes instâncias, como por exemplo, os órgãos governamentais, às expectativas do público. Têm-se como objetivos nesta etapa, obter a adesão das massas aos programas; repassar imagens a partir das sondage ns de opinião pública; construir cenários políticos mediante essas pesquisas; e impor uma pauta dominante para discussão (SILVA, 2005, p.118). Porém, esse segundo momento não será avaliado nessa pesquisa, pelo fato de não estar em averiguação à administração governamental de Affonso Penna e do seu vice Nilo Peçanha entre o quadriênio (1906-1910). Ao se considerar a recepção algumas noções fundamentais devem ser nomeadas para a criação e manutenção de uma imagem púb lica (GOMES, 2004, p. 12). Dentro do contexto e das circunstâncias em que estão inseridas as disputas, por uma imagem pública, há que se ressaltar o processo de concepção. Outro processo relaciona-se à constituição do perfil ideal, isto é, a elaboração do conjunto de propriedades que são importantes, para o público, a pessoa ou a instituição portar, o que o fará apto a cumprir adequadamente determinada função. Quando se fala em política de imagem, não é apenas importante mencionar as propriedades reconhecidas pelo público, como caracterizadoras de determinada pessoa ou instituição, mas é decisivo saber quais as características julgadas ideais, imprescindíveis para a pessoa em tela possuir. Portanto, “[...] o significado de ideal não deve ser tomado como uma designação meramente moral ou meramente psicológica, embora ambas as dimensões devam ser levadas em conta. Trata-se de uma idéia reguladora.” (GOMES, 2004, p. 12) Para contemplar tal etapa levaram-se em conta as considerações de Azevedo Junior, redator das Cartas Mineiras, publicadas pelo periódico Correio da Manhã, a partir dos 37% das mensagens referentes ao objeto de análise deste trabalho dentro do período de estudo. Na análise, importou-se, primordialmente, em caracterizar o processo de construção da imagem pública do mineiro Affonso Penna, identificando apelos estratégicos tanto da candidatura à presidência do quadriênio (1906-1909), quanto da sua imagem pessoal, analisando e classificando as propriedades positivas e as negativas, constatando a presença de características, conceitos e imagens. Neste momento da interpretação, não pretendeu mensurar se as propriedades atribuídas tanto a candidatura quanto à imagem de Affonso Penna corresponderam ou não a realidade que decorreu o pensamento dos brasileiros, considera-se importante identificá- las pelo conteúdo manifesto do universo levantado. A caracterização apresentou-se através de atribuições de adjetivos, de auto-avaliações positivas ou negativas e de expressões adotadas para as construções. Tornou-se importante.

(27) 112. descrever, secundariamente, o go verno e a imagem atribuída ao presidente Rodrigues Alves, já vista a partir do segundo capítulo. A candidatura e a imagem do candidato, que o jornal carioca Correio da Manhã, especificamente, as Cartas Mineiras, emitiu para seus leitores, percebeu-se através dos aspectos observados nos escritos de Azevedo Junior e por comunicações apresentadas pelo periódico, tais como: a veiculação da Plataforma Econômica do candidato Affonso Penna ; as Manifestações destinadas ao futuro presidente e demais conteúdos que o aludiram. A partir dessas leituras foi possível a percepção da postura adotada no processo de construção da imagem pública transmitida à população, associando às falas aos fatos políticos. Desse modo, procurou analisar as mensagens para perceber quais fo ram os possíveis efeitos gerados pelas publicações expostas:. Figura 21- Título das Cartas Mineiras do Correio da Manhã Fonte: Correio da Manhã (1905). Figura 22- Titulações referentes às mensagens ao candidato Affonso Penna observadas no Correio da Manhã Fonte: Correio da Manhã (1905).

(28) 113. Figura 23 - Títulos da divulgação da Leitura da Plataforma do dr. Affonso Penna, inserido na mensagem do Banquete Político pelo Correio da Manhã Fonte: Correio da Manhã (13/10/1905). Na “Plataforma do dr. Affonso Penna” (publicada pelo Correio da Manhã, em 13/10/1905), há suas considerações sobre o processo de eleição presidencial de 1906. Uma de suas falas enfatiza o fato político criado por chefes e dirigentes políticos, enaltecendo o voto popular, na construção da democracia: a “[...] reunião dos chefes políticos de Estado, dos líderes da nação, na frase feliz de um deles para prestigiar os candidatos que julgam dignos do voto popular no pleito do dia primeiro de março próximo é um espetáculo confortante e animador para o futuro do regime republicano.” (PLATAFORMA do dr. Affonso Penna, 13/10/195). O candidato Affonso Penna afirmou em leitura de sua Plataforma que: [...] uma das grandes belezas das nossas instituições: - o chefe de nação sai do seio do povo, [...]; e finda sua nobre e difícil tarefa, cercado de tremendas responsabilidades, ocupa o seu modesto lugar, rodeado da estima pública se souber pautar seus atos pelas normas do direito, da justiça, da equidade, só tendo em vista o bem público. Eleiç ões livres são as bases do regime democrático, por isso garantam ao povo influencia decisiva nos seus próprios destinos. (PLATAFORMA do dr. Affonso Penna, de 13/10/1905). Antes de manifestar os itens de seu programa econômico, o candidato emitiu algumas palavras de gratidão e de aplauso aos homens públicos, componentes da assembléia que o prestigiava, agradecendo em seu nome e do companheiro de chapa, Nilo Peçanha, considerado um esperançoso estadista em cujo patriotismo e competência a república poderia confiar “[...] pela subida honra que nos tributam-os ilustres chefes políticos dos Estados aqui reunidos e representados, indicando nossos nomes para as elevadas magistraturas de presidente e vicepresidente da República.” (PLATAFORMA do dr. Affonso Penna, de 13/10/1905). Considerou a assembléia reunida, “[...] uma esplêndida afirmação de funcionamento regular dos institutos republicanos.” (PLATAFORMA do dr. Affonso Penna, de 13/10/1905)..

Referências

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