• Nenhum resultado encontrado

Caracterização do comportamento de movimento de 24 horas e sua relação com a aptidão física em adolescentes obesos - um estudo piloto

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Caracterização do comportamento de movimento de 24 horas e sua relação com a aptidão física em adolescentes obesos - um estudo piloto"

Copied!
69
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE MOVIMENTO DE 24 HORAS E SUA RELAÇÃO COM A APTIDÃO FÍSICA EM ADOLESCENTES OBESOS – UM

ESTUDO PILOTO

NATAL – RN 2019

(2)

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE MOVIMENTO DE 24 HORAS E SUA RELAÇÃO COM A APTIDÃO FÍSICA EM ADOLESCENTES OBESOS – UM

ESTUDO PILOTO

Elias dos Santos Batista

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação Física.

(3)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Batista, Elias dos Santos.

Caracterização do comportamento de movimento de 24 horas e sua relação com a aptidão física em adolescentes obesos - um estudo piloto / Elias dos Santos Batista. - Natal, 2019.

69f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 2019.

Orientador: Arnaldo Luis Mortatti.

1. Obesidade - Dissertação. 2. Atividade física - Dissertação. 3. Comportamento sedentário - Dissertação. 4. Sono - Dissertação. I. Mortatti, Arnaldo Luis. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 616-056.25

(4)

Elias dos Santos Batista

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE MOVIMENTO DE 24 HORAS E SUA RELAÇÃO COM A APTIDÃO FÍSICA EM ADOLESCENTES OBESOS – UM

ESTUDO PILOTO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestra em Educação.

Área de Concentração: Movimento humano, saúde e desempenho Linha de Pesquisa: Avaliação e prescrição da atividade física e saúde

Data de aprovação: ___/___/______

Banca Examinadora

___________________________________

Prof Dr Arnaldo Luis Mortatti – Presidente – PPGEF/UFRN

___________________________________

Prof Dr Ferdinando Oliveira Carvalho – Externo Titular – UNIVASF

___________________________________

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física por todas as oportunidades de edificação educacional e pessoal oferecidas.

Agradeço а minha mãe, Ezilda dos Santos Batista, que me deu apoio, incentivo nas horas difíceis, de desânimo е cansaço. Ao meu pai, Japhet Filho que apesar de todas as dificuldades me fortaleceu е que para mim sempre foi e será muito importante. A toda a minha família, em especial. A meu querido avô e amigo José Laurindo, in memorian. A minha avó, Irene, e a minhas tias maternas que sempre estiveram presentes em todos os momentos de incentivo e apoio: Edilva, Edilza, Maria de Lourdes, Heleide e Helena. A minha querida avó paterna, Arlinda, in memorian.

A minha noiva e companheira, Aline, pelos momentos felizes, amizade, empatia e incentivo.

Ao professor Dr. Arnaldo Luis Mortatti, pela orientação, paciência, apoio е confiança.

A Diego Pontes, pelo acolhimento e esclarecimentos junto à secretaria do curso.

Agradeço а todos os professores da pós-graduação em educação física por me proporcionarem о conhecimento não apenas racional, mas а manifestação do caráter е afetividade de educação no processo de formação profissional, por tanto que se dedicaram а mim, não somente por terem me ensinado, mas por terem me feito aprender.

Aos servidores efetivos e terceirizados do Departamento de Educação Física que sempre foram muito responsáveis e solícitos em suas atribuições.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, о meu muito obrigado.

(6)

SUMÁRIO

ANEXOS ... viii LISTA DE FIGURAS ... ix LISTA DE ABREVIAÇÕES ... xi 1. Introdução ... 10 2. Justificativa ... 13 3. Objetivo ... 14 3.1. Específicos ... 14 4. Revisão de literatura ... 15 4.1. Obesidade e adolescência ... 15

4.2. Fatores comportamentais influenciadores da obesidade e da aptidão física relacionada à saúde em adolescentes ... 17

4.2.1. Guia de movimento de 24 horas ... 18

4.2.2. A importância da atividade física na adolescência ... 19

4.2.3. O comportamento sedentário e suas consequências para o adolescente ... 20

4.2.4. A duração de sono associado à saúde na adolescência ... 22

4.3. Importância do monitoramento dos fatores influenciadores dos comportamentos de movimento. ... 24 5. Materiais e métodos ... 26 5.1. Delineamento da pesquisa ... 26 5.2. Sujeitos ... 26 5.3. Procedimentos e Instrumentos ... 28 5.3.1. Composição corporal ... 28

5.3.2. Recomendações e diretrizes de movimento ... 28

5.3.2.1. Diretrizes canadenses para o movimento de 24 horas para crianças e jovens... 28

5.3.2. Avaliação do nível de atividade física espontânea e comportamento sedentário ... 29

5.3.2.1. Medidas de controle ... 29

5.3.2.2. Acelerometria ... 29

5.3.2.3. Tempo de uso ... 30

5.3.2.4. Total de passos diários ... 30

5.3.2.5. Pontos de corte para comportamento sedentário total, atividade física de moderada e vigorosa intensidade e total de passos diários ... 30

5.3.2.6. Tempo de tela recreativa... 31

5.3.2.7. Períodos de sono ... 31

5.3.3. Avaliação da aptidão física... 31

(7)

5.3.3.2 Força de preensão manual ... 32

6. Análise Estatística... 34

7. Resultados ... 35

7.1 Correlações entre as variáveis do CM e a aptidão cardiorrespiratória e força de preensão manual ... 37

8. Discussão ... 38

9. Conclusão ... 42

(8)

ANEXOS

Anexo I. Termo de assentimento livre e esclarecido (TALE) 52 Anexo II. Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) 54 Anexo III. Parecer consubstanciado do CEP/UFRN 57 Anexo IV. Folheto de instruções de uso do acelerômetro 63 Anexo V. Questionário simplificado tempo de tela recreativa 64 Anexo VI. Valores de referência do IMC para crianças e jovens

apresentados por Cole e colaboradores (2000)

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fluxograma de triagem dos participantes da pesquisa 27 Figura 2. Relação do desempenho força de preensão manual e

comportamentos de movimento. 37

Figura 3. Relação da capacidade cardiorrespiratória e

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Características descritivas dos participantes do estudo (n = 34). 35 Tabela 2. Valores descritivos das variáveis que compõem os

comportamentos de movimento. 36

Tabela 3. Proporção de participantes que atendem às recomendações das

diretrizes de comportamento e estratificação dos valores de total de passos diários, atividade física moderada e vigorosa, tempo de tela recreativa e duração de sono.

(11)

LISTA DE ABREVIAÇÕES

AF - Atividade física

AFMV - Atividade física moderada e vigorosa

FPM - Força de Preensão Manual

(12)

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE MOVIMENTO DE 24 HORAS E SUA RELAÇÃO COM A APTIDÃO FÍSICA EM ADOLESCENTES OBESOS – UM

ESTUDO PILOTO

RESUMO

INTRODUÇÃO: Quantidades insuficientes de atividade física, comportamento

sedentário excessivo, especialmente o tempo de tela recreativa e o sono insuficiente, estão associados a uma variedade de indicadores de saúde física, como baixos níveis de aptidão cardiorrespiratória e força além do aumento da obesidade entre crianças e jovens em idades cada vez menores. Este conjunto de comportamentos vem sendo referido como os “comportamentos de movimento” uma vez que são codependentes e coletivamente responsáveis por todo o período de 24 horas.

OBJETIVO: Caracterizar o comportamento de movimento de 24 horas e verificar a

sua relação com a aptidão física em adolescentes obesos. MÉTODOS: Trata-se de um estudo piloto analítico de corte transversal que buscou caracterizar os comportamentos de 24 horas em adolescentes obesos. 34 adolescentes (idade: 16,1 ±1,5 anos; % de gordura: 36,9 ±4,9), do sexo masculino, mensurando de forma objetiva os níveis de atividade física em intensidades moderada e vigorosa (AFMV), quantidade total de passos diários (TPD), comportamento sedentário e duração de sono (DS) através do uso de acelometria (GT3X+ Actigraph), para verificar a relação destes com a aptidão física relacionada à saúde. A absorciometria de raio X de dupla energia (DXA) foi utilizada para a análise de composição corporal. O VO2 pico foi verificado através de teste incremental em cicloergômetro de forma indireta, e a força preensão manual (FPM) foi medida através de dinamometria. Os resultados das variáveis estudadas foram apresentados em valores de média e desvio padrão. Os testes de correlação de Pearson e Sperman foram usados para examinar as possíveis relações entre as variáveis de comportamentos de movimento e aptidão física relacionada à saúde. RESULTADOS: Dentre a amostra analisada,59% (n=20) dos adolescentes não cumpriram nenhuma das recomendações de CM em 24h. A média TPD foi de 8403,3 (±2849,8); 36,6 (±22,2) minutos dedicados à AFMV; em média permanecem 3,1 (±1,5) horas em tempo de tela recreativa e perfazem 7,7 (±1,3) horas de sono ininterrupto. Apesar da porcentagem de adolescentes que não cumprem as diretrizes, ainda observamos correlação positiva entre FPM e AFMV vigorosa (rs =0,28, p=0,001) e TPD (r =0,15, p=0,02). CONCLUSÃO: A grande maioria dos adolescentes obesos não cumprem todas as recomendações do guia de movimento de 24 horas e mais da metade dos adolescentes obesos não cumprem nenhuma recomendação, tendo o CS e a AFMV como os componentes com menor frequência de cumprimento. Além disso, a atividade física independente da intensidade se correlaciona diretamente com o aumento da força de preensão muscular.

(13)

CHARACTERIZATION OF THE 24-HOUR MOVEMENT BEHAVIOR AND ITS RELATIONSHIP WITH THE PHYSICAL FITNESS IN OBESE ADOLESCENTS - A

PILOT STUDY

ABSTRACT

INTRODUCTION: Insufficient amounts of physical activity, excessive sedentary

behavior, especially recreational time and insufficient sleep, are associated with a variety of physical health indicators, such as low levels of cardiorespiratory fitness and strength among school children and young people. This set of indicators has been referred to as the "movement behaviors" since they are codependent and collectively responsible for the entire 24-hour period. OBJECTIVE: To characterize the 24-hour movement behavior and to verify its relation with physical fitness in obese adolescents.

METHODS: This was a cross-sectional pilot study that sought to characterize the

24-hour behavior in obese adolescents (age: 16.1 ± 1.5 years, fat percentage: 36.9 ± 4.9) , male, objectively measuring the levels of physical activity in moderate and vigorous intensities, total amount of daily steps, sedentary behavior and sleep through the use of acelometry (GT3X + Actigraph), to verify their relation with physical fitness related to Cheers. Dual energy X-ray absorptiometry (DXA) was used for the analysis of body composition. The peak VO2 was verified through an incremental test in cycloergometer in an indirect way, and the manual grip strength was measured by dynamometry. The results of the studied variables were presented in mean and standard deviation values of the 34 participants. The Pearson and Sperman correlation tests were used to examine the possible relationships between the variables of movement behavior and health-related physical fitness. RESULTS: Among the sample analyzed, 59% (n = 20) of the adolescents did not comply with any of the recommendations of movement behavior in 24h. The mean total amount of daily steps was 8403.3 (± 2849.8); 36.6 (± 22.2) minutes dedicated to moderate and vigorous physical activity; on average, they remain 3.1 (± 1.5) hours in recreational screen time and represent 7.7 (± 1.3) hours of uninterrupted sleep. Despite the percentage of adolescents who did not follow the guidelines, we still observed a positive correlation between manual grip strength and moderate and vigorous physical activity (rs = 0.28, p = 0.001) and total daily steps (rs = 0.15, p = 0.02). CONCLUSION: The vast majority of obese adolescents do not comply with all recommendations of the 24-hour movement guide, and more than half of obese adolescents do not comply with any recommendation, with sedentary behavior and moderate to vigorous intensity physical activity as the components with lower frequency of compliance. In addition, intensity-independent physical activity correlates directly with increased muscle strength.

(14)

1. Introdução

A atividade física, o comportamento sedentário e o sono são comportamentos dependentes que interagem ao longo das 24 horas e acionam diferentes processos fisiológicos. Estes comportamentos têm sido referidos como “comportamentos de movimento” (TREMBLAY et al., 2016). Como esses três comportamentos são mutuamente exclusivos, e coletivamente responsáveis por todo o período de 24 horas, o tempo gasto em atividade física, o comportamento sedentário e o sono são codependentes e devem ser verificados em conjunto, uma vez que o tempo gasto em um comportamento desloca o tempo gasto em pelo menos um dos comportamentos restantes. Estudos recentes verificaram que a combinação destes comportamentos, de forma integrada dentro de um período de 24 horas, pode ter importante influência na saúde dos jovens (CARSON et al., 2016b; SAUNDERS et al., 2016).

Desta forma, baseado no paradigma de comportamento do movimento integrado versus isolado, no ano de 2016 foi publicada a diretriz Canadian 24-Hour

Movement Guidelines for Children and Youth proposta por Tremblay e colaboradores

(2016), a qual fornece recomendações baseadas em evidências sobre metas de comportamentos de movimento a se considerar saudável durante um dia, sobre o tempo que crianças de 5 a 17 anos devem dedicar-se à atividade física moderada à vigorosa (AFMV ≥60 minutos / dia), tempo de tela recreativa (≤2 horas / dia) e sono (9 a 11 horas/dia para crianças de 5 a 13 anos e de 8 a 10 horas/dia para crianças de 14 a 17 anos) para desenvolvimento/crescimento saudável. Essas novas diretrizes foram formadas por evidências de quatro revisões sistemáticas (CARSON et al., 2016a; CHAPUT et al., 2016; POITRAS et al., 2016; SAUNDERS et al., 2016).

Apesar destes esforços e de outras entidades internacionais em traçar recomendações para melhoria de saúde e qualidade de vida através do incentivo à atividade física e combate ao comportamento sedentário, o que se verifica é uma crescente mudança dos hábitos (THYFAULT et al., 2015). Observa-se que devido às facilidades resultantes dos avanços tecnológicos, hoje gastamos cada vez menos energia em nossas atividades laborais e de lazer. Desta forma, podemos notar um grande incremento nos níveis de inatividade física, comportamento sedentário e

(15)

diminuição do tempo dedicado ao sono na população jovem mundial (CHAPUT et al., 2016; HILLS et al., 2015; THYFAULT et al., 2011).

Não obstante, a realidade do jovem brasileiro em relação ao comportamento de movimento também é bastante preocupante. Dados divulgados pelo IBGE em 2015 mostram que apenas 20,4% das pessoas com idade entre 15 e 24 anos praticavam algum tipo de atividade física; 24,2% dos jovens brasileiros com idade entre 13 e 17 anos não têm aulas de educação física escolar e apenas 40,6% dos jovens brasileiros frequentam pelo menos 1 dia de aula de educação física (IBGE, 2016).

Esse estilo de vida pode levar a um comprometimento na saúde do jovem, pois os níveis elevados de comportamento sedentário estão diretamente relacionados a prejuízo na composição corporal (obesidade) (CARSON et al., 2016). Apontada como um grande problema de saúde pública, a obesidade é um problema de saúde mundial que atinge proporções epidêmicas (GONZÁLEZ-MUNIESA et al., 2017). A doença tem alcançado crianças e adolescentes em fases cada vez mais precoces, como mostra dados da OMS (2018) em que o mundo tem visto um aumento de mais de dez vezes no número de crianças e adolescentes obesos com idade entre 5 e 19 anos nas últimas quatro décadas - de 11 milhões em 1975 para 124 milhões em 2016.

Os adolescentes se expõem diretamente a muitas situações de risco, como por exemplo: sexo inseguro, consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e drogas, consumo inadequado de alimentos e sedentarismo. Especialmente por estes dois últimos comportamentos, os adolescentes são propensos a desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade. Crianças e adolescentes obesos estão predispostos a ter saúde piorada em comparação a seus pares com peso normal (SIMMONDS et al., 2016; YUMUK et al., 2015).

A obesidade na infância é um importante preditor de comorbidades durante a juventude e na fase adulta. A atual preocupação na obesidade em idades cada vez mais precoces tem sua justificativa em um cenário de prevalência de comorbidades que podem comprometer a saúde da população, principalmente quando se considera que a adiposidade aumenta com a idade. Onde tradicionalmente, o ganho excessivo de peso foi atribuído às mudanças nos padrões de alimentação e inatividade física (SIMMONDS et al., 2015).

(16)

A associação entre a inatividade física e a obesidade pode ser fator relevante para a baixa aptidão física e assim acarretar em um aumento do risco de doenças crônicas de forma prematura (THIVEL et al., 2016; VASCONCELLOS et al., 2014).

A aptidão física relacionada à saúde pode ser definida como sendo a aptidão que reúne atributos fisiológicos que oferecem alguma defesa ao aparecimento de distúrbios orgânicos provocados por um estilo de vida inativo fisicamente (KOKKINOS & MYERS, 2019). Sendo a força/resistência muscular e a resistência cardiorrespiratória componentes desta aptidão e que podem ser influenciados e modificados pela adoção de um estilo de vida mais ativo fisicamente, oportunizando maiores benefícios à saúde. Podemos também associar estes componentes a indicadores de saúde, uma vez que a avaliação da aptidão física tem o intuito de verificar os padrões de resultados relacionados à saúde, ou seja, estratificar os riscos de doenças (ACSM, 2000).

Saunders e colaboradores (2016) verificaram em revisão sistemática que a combinação da atividade física (AF), comportamento sedentário, especialmente o tempo de tela recreativa (TTR) e duração de sono (DS) estão diretamente relacionados com indicadores de saúde. Crianças e jovens com uma combinação de baixas durações de TTR e alta de AF e DS tiveram medidas mais desejáveis de adiposidade e saúde cardiometabólica. Em face a esta constatação pode-se deduzir que o contrário também é verdadeiro, ou seja, adolescentes com sobrepeso e ou obesos poderiam apresentar valores indesejáveis no comportamento de movimento diário.

Embora haja uma preocupação crescente em relação ao comportamento de movimento de crianças e adolescentes, pouco se sabe sobre a combinação dessas variáveis em adolescentes obesos e quais suas relações com as variáveis de aptidão física desta população. Assim, este trabalho visa caracterizar o comportamento de movimento de 24 horas e sua relação com a aptidão física em adolescentes obesos.

(17)

2. Justificativa

A mensuração dos comportamentos de movimento de 24 horas em população de adolescentes obesos pode nortear de forma inicial como se dá a distribuição destes comportamentos nesta população, indicando a direção para estudos futuros em uma amostra representativa. Ainda, pode-se observar quais comportamentos são mais associados com a aptidão física relacionada à saúde que podem assim nortear intervenções de prevenção e de tratamento tanto no meio clínico-pediátrico e escolar através de intervenções com a educação física escolar, podendo assim contribuir efetivamente com a saúde pública.

(18)

3. Objetivo

Caracterizar o comportamento de movimento de 24 horas e verificar a sua relação com a aptidão física em adolescentes obesos.

3.1. Específicos

1. Demonstrar a prevalência de indivíduos que atendem e não atendem às recomendações de total de passos diários, AFMV, tempo de tela recreativa e duração de sono;

2. Verificar a prevalência de sujeitos que têm adequada e inadequada força e capacidade cardiorrespiratória;

3. Correlacionar o tempo dedicado a total de passos diários, AFMV, tempo de tela recreativa e duração de sono com as variáveis da aptidão física avaliada (força e aptidão cardiorrespiratória).

(19)

4. Revisão de literatura

Essa revisão da literatura se propõe a demonstrar a importância do monitoramento dos comportamentos de movimento e a relação destes sobre a saúde do adolescente, que oferecerá subsídios para a análise da problemática perseguida, de forma a garantir diálogo entre os autores citados e o presente estudo. Para melhor compreensão, foi dividido em capítulos de acordo com a seguinte sequência: Obesidade e adolescência; Fatores comportamentais influenciadores da obesidade e da aptidão física relacionada à saúde em adolescentes; Guia de movimento de 24 horas; A importância da atividade física na adolescência; O comportamento sedentário e suas consequências para o adolescente; A duração de sono associado à saúde na adolescência; Importância do monitoramento dos fatores influenciadores dos comportamentos de movimento.

4.1. Obesidade e adolescência

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2012) define adolescência como sendo o período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos completos. É compreendido como o período que se situa entre a infância e a idade adulta, e consiste numa fase de transição na qual ocorrem transformações de caráter físico e psicossocial. Os adolescentes se expõem diretamente a muitas situações de risco, são os indivíduos mais expostos aos fatores de risco à saúde, como por exemplo: sexo inseguro, consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e drogas, consumo inadequado de alimentos e sedentarismo. E, especificamente por estes dois últimos comportamentos, os adolescentes são propensos a desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade.

Segundo Charansonney & Després (2010), podemos entender a obesidade como produto final de um mecanismo em que o estresse induzido por imobilização (o que gera um balanço positivo, maior disponibilidade de energia), aumenta rapidamente a resistência à insulina muscular por mecanismos que incluem a inibição da translocação da proteína transportadora de glicose tipo 4 dos locais de armazenamento intracelular para a membrana plasmática, diminuição da atividade da

(20)

proteína AMPK, diminuição da síntese de glicogênio muscular e produção de óxido nítrico. O aumento resultante da insulina no sangue desencadeia a lipogênese hepática sem suprimir a produção da glicose hepática, mantendo os níveis de glicose no sangue e preservando o suprimento de glicose para o cérebro.

O saldo de calorias resultante da diminuição da atividade física e rápida atrofia muscular são realocadas para a produção de gordura e armazenamento em adipócitos centrais metabolicamente ativos. Esses, juntamente com o alto nível de glicose no sangue e insulina, induzem hipercoagulação, agregação plaquetária e inflamação, que ajudam a combater as lesões. Apoiando esse esquema, tanto a adiposidade central quanto a circunferência da cintura estão associadas à inatividade física e à inflamação. Ainda, o excedente de calorias, frequentemente associado a um estilo de vida sedentário, aumenta a lipogênese e a adipogênese central, induzindo respostas inflamatórias adicionais.

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. Além dos problemas de saúde física constatados a curto e longo prazo, crianças e adolescentes obesos estão predispostos a ter saúde piorada em comparação a seus pares com peso normal (SIMMONDS et al., 2016; YUMUK et al., 2015). Atualmente um dos maiores problemas de saúde do mundo é a obesidade. Apesar dessa constatação, a ciência pouco tem evoluído na sua prevenção e tratamento. Tradicionalmente, o ganho excessivo de peso foi atribuído às mudanças nos padrões de alimentação (substituição de alimentos saudáveis por opções com menor valor nutritivo, alimentos processados), a inatividade física (incapacidade de cumprir a quantidade de atividade física recomendada diariamente) e, em menor grau, à predisposição genética. A doença tem alcançado crianças e adolescentes em fases cada vez mais precoces, como mostra dados da OMS que estimaram que em 2014 aproximadamente 41 milhões de crianças menores de 5 anos de idade estavam com sobrepeso ou obesidade.

A obesidade na infância é um importante preditor de comorbidades durante a juventude e na fase adulta. A atual preocupação na obesidade em idades cada vez mais precoces tem sua justificativa em um cenário de prevalência de comorbidades que podem comprometer a saúde da população, principalmente quando se considera que a adiposidade aumenta com a idade (SIMMONDS et al., 2015). A doença está relacionada a um maior risco para distúrbios relacionados à insulina, como redução

(21)

da tolerância à glicose via oral ou ao diabetes tipo 2; distúrbios biliares e alguns tipos de câncer; além de estar relacionada também a problemas de ordem social e de aprendizado. Obesidade em adolescentes gera aumento do risco de lesão óssea e articular devido ao excesso de carga durante o desenvolvimento do esqueleto e elevados níveis de dor musculoesquelética autorreportada. Adolescentes obesos tendem a demonstrar uma prevalência de 50 a 75% em se tornar adultos obesos e consequentemente apresentar um risco aumentado de doença metabólica, problemas cardiovasculares e musculoesqueléticos (KRUL et al., 2009).

Por possuir forte associação com diversas doenças crônicas, a prevenção é a principal estratégia de saúde pública adotada para o combate à obesidade. Os principais motivos para o aumento da obesidade são observados pela diminuição da quantidade diária acumulada de atividade física em intensidade leve e em moderada e vigorosa intensidades (AFMV), bem como o aumento do comportamento sedentário (quantidade de tempo em tela ou sentado) e duração de sono (CARSON et al., 2016; POITRAS, et al., 2016; CHAPUT et al., 2016). Intervenções atuando apenas no controle de fatores isolados como nutrição e atividade física não têm demonstrado real avanço para reversão do quadro atual (WEIHRAUCH-BLÜHER & WIEGAND, 2018).

4.2. Fatores comportamentais influenciadores da obesidade e da

aptidão física relacionada a saúde em adolescentes

Nós, seres humanos, nos adaptamos a condições que nos obrigam a suprir nossos cérebros grandes com nutrientes durante longos períodos de jejum, que incluem sono e atividade física pesada, como a caça. Indivíduos com maiores níveis de atividade física, aptidão cardiorrespiratória e força estão relacionados a menores riscos de morbimortalidade. A aptidão física relacionada à saúde, resistência cardiorrespiratória e força descrevem uma condição fisiológica, e atividade física descreve um comportamento; as associações dessas variáveis com a mortalidade são parcialmente independentes umas das outras (CHARANSONNEY & DESPRÉS, 2010).

Devido à modernização e avanços na tecnologia tanto em ambientes físicos, sociais e econômicos os seres humanos têm passado por mudanças comportamentais e isso tem afetado de forma rápida as decisões sobre mobilidade,

(22)

acomodações e descanso no contexto de suas vidas cotidianas. Estas mudanças – que ocorreram tanto nas tecnologias de transporte, comunicações, locais de trabalho e entretenimento doméstico – têm sido associadas à forte diminuição dos níveis de atividade física e, consequentemente, diminuição da aptidão física (OWEN et al., 2010).

4.2.1. Guia de movimento de 24 horas

Quantidades insuficientes de atividade física (POITRAS et al., 2016; JANSSEN, 2007), o comportamento sedentário excessivo, especialmente o tempo de tela recreativa (CARSON et al., 2016) e o sono insuficiente (CHAPUT et al., 2016) estão associados a uma variedade de indicadores de saúde física, mental e social entre crianças e jovens em idade escolar. Estes comportamentos eram tradicionalmente reconhecidos de forma independente, e suas recomendações propostas por entidades de pesquisa internacionais não observavam interação entre atividade física (TREMBLAY et al., 2011b; WHO, 2010), comportamento sedentário (TREMBLAY et al., 2011a) e duração de sono (HIRSHKOWITZ et al., 2015). A proposta de Tremblay e colaboradores (2016) foi a de romper com o paradigma de independência dos comportamentos e analisar o contínuo de interação destes, o que deu origem ao guia de movimento de 24 horas.

As Diretrizes Canadenses para o Movimento de 24 Horas para Crianças e Jovens (Canadian 24-Hour Movement Guidelines for Children and Youth) foram divulgadas em 2016. Elas contêm recomendações específicas sobre o tempo diário que crianças de 5 a 17 anos devem dedicar à atividade física moderada à vigorosa, ao tempo de tela recreativa e à duração de sono. Uma vez que a atividade física, o comportamento sedentário e o sono são comportamentos dependentes que interagem ao longo das 24 horas e acionam diferentes processos fisiológicos. Estes “comportamentos de movimento,” como têm sido referidos, são mutuamente exclusivos, e coletivamente responsáveis por todo o período de 24 horas, o tempo gasto em atividade física, o comportamento sedentário e o sono são codependentes e devem ser verificados em conjunto. De acordo com as recomendações, os adolescentes devem acumular pelo menos 60 minutos de AFMV, realizar o máximo de atividades físicas leves possíveis, participar de não mais que 2 horas de tempo de

(23)

tela recreativa e obter sono ininterrupto de 9 a 11 horas dos 5 aos 13 anos e 8 a 10 horas dos 14 aos 17 anos de idade (TREMBLAY et al., 2016).

4.2.2. A importância da atividade física na adolescência

A atividade física é tradicionalmente definida como qualquer movimento corporal resultante da contração do músculo esquelético que gere aumento no gasto energético acima dos níveis de repouso (CASPERSEN et al., 1985). Segundo Tremblay e colaboradores (2010), a atividade física é vital para a saúde física, psicológica, social e cognitiva de crianças e jovens em idade escolar.

De acordo com dados da OMS (2018), 20% dos adultos e 80% dos adolescentes de todo o mundo não praticam exercícios com frequência e intensidade adequadas para sua faixa etária. Em um estudo de revisão elaborado por Barbosa Filho e colaboradores (2014), observou-se que a prevalência de jovens brasileiros que não cumprem as recomendações de tempo mínimo dedicado à atividade física diária e máximo em comportamento sedentário é superior a 50%.

Além disso, pessoas com excesso de peso e obesas têm um risco de doença não transmissível de cerca de 50% menor quando comparadas com as contrapartes de peso normal com prática irregular. Se toda a população mundial alcançasse níveis considerados saudáveis de condicionamento cardiorrespiratório, no geral todos os tipos de mortalidade seriam reduzidos em 17%, enquanto que se não houvesse obesidade a taxa de mortalidade seria reduzida em apenas 2-3% (KUMAR et al., 2015).

A atividade física é um importante medicamento que promove o desenvolvimento saudável na adolescência, otimizando a fisiologia cardiovascular, incluindo a pressão arterial, o perfil lipídico, a sensibilidade à insulina e a função endotelial. Dentre os seus benefícios para a adolescência podemos destacar ainda a otimização da força muscular e a flexibilidade, manutenção do peso saudável, conquista do pico de massa óssea, desenvolvimento e manutenção da saúde cardiovascular e consciência neuromuscular, beneficiando cognição e saúde mental, humor, sono e capacidade acadêmica, além de melhorar o bem-estar e o comportamento social (GRANGER et al., 2017).

Doenças crônicas não transmissíveis podem ser tratadas e prevenidas com atividade física regular. Essas enfermidades são responsáveis por 71% de todas as

(24)

mortes no mundo, incluindo as mortes de 15 milhões de pessoas por ano com idade entre 30 e 70 anos. Estima-se que a inatividade física custe US$ 54 bilhões em assistência médica direta, dos quais 57% são incorridos pelo setor público e outros US$ 14 bilhões são atribuídos à perda de produtividade (WHO, 2018). O aumento de inatividade física, ou ausência de atividade física em níveis moderado e vigoroso, dentro de um estilo de vida cotidiana, são importantes fatores que contribuem para este cenário, e isso independe do nível de desenvolvimento do país (HILLS et al., 2015; THYFAULT & BOOTH, 2011).

Estimativas da Organização Mundial da Saúde apontam o aumento da mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis que poderá chegar a 52 milhões de mortes até 2030 (WHO, 2013). Além do papel fundamental no desenvolvimento de aptidão cardiorrespiratória saudável desempenhado pela AF, que, por sua vez, está inversamente relacionada com morbimortalidade, existe uma complexa relação entre a quantidade regularmente praticada, nível de comportamento sedentário, índice de massa corporal (IMC), aptidão física e a ligação com doenças não transmissíveis (GRANGER et al., 2017; KUMAR et al., 2015).

4.2.3. O comportamento sedentário e suas consequências para o adolescente

Comportamento sedentário é o termo utilizado para caracterizar atividades com gasto energético próximo aos valores de repouso (≤1,5 METs). Nesse sentido, são classificadas como atividades do comportamento sedentário aquelas que são realizadas normalmente na posição sentada ou reclinada como assistir à televisão, utilizar o computador, jogar videogame, falar ao telefone ou conversar com os amigos. Tempo gasto em comportamento sedentário do tipo sentado em frente à TV ou dispositivos eletrônicos (computadores, tablets, vídeo games) em atividades de lazer, são chamados de tempo de tela recreativa e são fortemente relacionados a risco aumentado de mortalidade (HALE & GUAN, 2015; KIM et al., 2013; OWEN et al., 2010).

Acredita-se que os níveis de atividade física da população têm diminuído com o progresso tecnológico do mundo nas últimas décadas, associados também a maus hábitos alimentares e aculturação do comportamento sedentário. Em crianças e adolescentes é forte a relação entre comportamento sedentário e obesidade (OMS, 2012). Além de associações moderadas com pressão sanguínea, colesterol total,

(25)

aptidão física, comportamentos sociais, bem-estar e desempenho acadêmico (HILLS et al., 2015).

Independente de se atingir os níveis recomendados de atividade física, o excesso de tempo em comportamento sedentário promove efeitos deletérios à saúde como excesso de peso corporal, hábitos alimentares inadequados, consumo abusivo de bebidas alcoólicas ou tabagismo, estresse psicossocial, risco de eventos coronarianos e mortalidade por todas as causas e por doenças cardiovasculares (DE REZENDE et al., 2014; CALVERT et al., 2013; KIM et al., 2013; HARE-BRUUN et al., 2011).

Yang e colaboradores (2012) verificaram que o tempo de tela é inversamente proporcional ao bem-estar mental em adolescentes. Observou-se também que o tempo de tela igual ou superior a quatro horas está fortemente relacionado a sintomas negativos de bem-estar mental. A exposição à mídia eletrônica também está diretamente associada ao ganho de peso em crianças e adolescentes, pois o uso da mídia, incluindo o jogo eletrônico, pode promover comportamento sedentário e aumentar o consumo de alimentos e bebidas altamente calóricos com baixo valor nutricional (CALVERT et al., 2013).

Peltzer (2010) verificou a associação entre o tempo gasto em atividade física e comportamento sedentário nos períodos de lazer e o consumo de substâncias nocivas à saúde em adolescentes africanos. Foi observada uma relação inversa entre o tempo de lazer destinado à atividade física e ao consumo de álcool, tabaco e drogas. Por outro lado, o tempo de lazer gasto em comportamento sedentário apresentou relação direta com a utilização destas substâncias.

A participação de crianças e adolescentes em atividades esportivas não garante que as recomendações de tempo gasto em AFMV sejam atendidas, mas diminui o tempo dedicado a comportamento sedentário. Ao verificar a influência do clima motivacional criado pelo treinador para o maior engajamento em AFMV, observou-se que políticas voltadas para a criação de ambientes para a prática esportiva com estrutura adequada e procedimentos motivacionais adaptativos são importantes para uma maior dedicação à AFMV na vida cotidiana, também com efetividade relacionada ao combate e prevenção excessiva de adiposidade em crianças e adolescentes (FENTON et al., 2017).

(26)

Altenburg & Chinapaw (2015) observaram que apenas a quantidade de tempo total gasto em comportamento sedentário representa uma evidência insuficiente para associações prospectivas com indicadores de saúde. Por entender que essa informação não caracteriza a formatação da frequência e duração dos blocos de exposição (bouts) tampouco o número de interrupções (breaks) desses comportamentos. A quantidade de bouts curtos de comportamento sedentário (1-4min) tem uma associação inversa com a quantidade de gordura corporal total e fatores de risco cardiometabólicos, enquanto o número de bouts longos de comportamento sedentário (5-9min; 10-14min e ≥15min) demonstra uma relação positiva com a quantidade de gordura corporal total em crianças e adolescentes (SANTOS et al., 2018).

A redução do tempo gasto em comportamento sedentário em nível populacional pode ajudar a reduzir o número de crianças com excesso de peso (MITCHELL et al., 2013). O fato de se permanecer em pé, mesmo sem realizar nenhuma atividade, se diferencia das atividades na posição sentada, já que promove contração isométrica da musculatura esquelética responsável pela manutenção da postura, o que gera um consumo energético acima de 1,5 METs (MENEGUCI et al., 2015). Subentende-se que indivíduos com melhores níveis de capacidade cardiorrespiratória tendem a dispender menor quantidade de tempo em atividades recreativas de comportamento sedentário (SANTOS et al., 2018). O aumento do comportamento sedentário (por exemplo, tempo sentado, reclinado ou tempo de tela) também está associado à curta duração de sono, o que por si só é um fator de risco para a obesidade (TAHERI et al., 2006).

4.2.4. A duração de sono associado à saúde na adolescência

Vaisberg & Mello (2010) conceituam o sono como um estado de imobilidade com significativa redução da responsividade e rápida reversibilidade. Um processo ativo que pode ser divido em 2 estados: o sono REM – estado em que o cérebro tem maior ativação e recuperação estando o restante do corpo em atonia muscular e o não-REM – subdividido em quatro estágios dos quais os estágios mais profundos (3 e 4) constituem o sono de ondas lentas, onde ocorre o período de repouso para o cérebro e o aumento da recuperação física. Aproximadamente 75% de uma noite de sono é composta por sono não-REM.

(27)

A duração adequada, regularidade e ausência de perturbações ou distúrbios garantem um sono saudável. Crianças de 6 a 12 anos de idade devem dormir de 9 a 12 horas e adolescentes de 13 a 18 anos de idade devem dormir de 8 a 10 horas ininterruptas a cada 24 horas para promover a saúde ideal (CHAPUT et al., 2016; TREMBLAY et al., 2016). Dormir cumprindo a quantidade de horas recomendadas está associado a melhorias na saúde: aumento da atenção, comportamento, aprendizagem, memória, equilíbrio emocional, qualidade de vida e saúde física e mental. Bem como dormir uma quantidade de horas além do recomendado também está associado a riscos para a saúde como hipertensão, diabetes, obesidade e problemas de saúde mental (CHAPUT et al., 2016; PARUTHI et al., 2016).

O sono tem um importante papel na regulação hormonal, uma vez que é mediador da liberação de hormônios com padrões distintos. O hormônio do crescimento (GH) é secretado em diversos pulsos dentro do período de 24h, o pico de liberação é associado ao primeiro período de ondas lentas. Alterações ou privação parcial ou total de sono estão associadas a alterações significativas no GH (REFINETTI, 2016; VAISBERG & MELLO, 2010). Ainda, o débito de sono impacta em três mecanismos hormonais em humanos que afetam funções metabólicas e endócrinas (SCHEEN & VAN CAUTER, 1998).

A combinação de processos biológicos influenciados pelo estilo de vida moderno e obrigações sociais dos adolescentes minimizam as oportunidades de obtenção de sono adequado (HALLE & GUAN, 2015). Curta duração de sono crônica (menos de 8 horas por dia) em crianças e adolescentes bem como baixa ou insuficiente qualidade estão associadas a componentes da síndrome metabólica como o aumento da pressão sanguínea, advindo de uma súbita interrupção da queda noturna da pressão sanguínea, ou de resistência à insulina na criança, independente da obesidade (OWENS et al., 2014).

Tanto a duração do sono curta quanto a excessiva estão associadas a um maior risco de sobrepeso/obesidade em crianças em idade pré-escolar e com incremento do perfil lipídico (PATTINSON et al., 2018; BUSSLER et al., 2017; PARUTHI et al., 2016). Em indivíduos que não cumprem a quantidade de horas recomendadas de sono, a cada hora aumentada do tempo de sono, as chances de obesidade diminuem em 80% (LIN et al., 2018; GUPTA et al., 2002).

(28)

4.3. Importância do monitoramento dos fatores influenciadores dos

comportamentos de movimento.

Tremblay e colaboradores (2016) demonstram que até 2016 o foco dos estudos se pautava na investigação em grande parte das relações entre comportamentos de movimento / não-movimento (incluindo atividade física, comportamento sedentário e sono) e os resultados de saúde individualmente de forma isolada, ignorando as interações destes comportamentos.

Diferentes metodologias são utilizadas para investigar o nível de atividade física habitual, tempo de tela recreativa e duração de sono em crianças e adolescentes. Os métodos diagnósticos utilizados na investigação destes comportamentos vão, desde a avaliação subjetiva, por meio da aplicação de questionários específicos, aos registros objetivos como actigrafia e polissonografia (REFINETTI, 2016; KANOSUE et al. 2015).

Dadas as limitações particulares dos métodos subjetivos, equipamentos de mensuração objetiva da atividade física, tempo de tela recreativa e duração de sono, como por meio de acelerômetros, são necessários para identificar com maior precisão os níveis diários e padrões de atividade. A capacidade de avaliar, minuto a minuto, as mudanças de intensidades, sugere que se trata de um método valioso de estimativa, uma vez que há considerável variação em virtude dos níveis destes comportamentos (KANOSUE et al. 2015).

Dentre os comportamentos de movimento que influenciam diretamente a saúde, podemos destacar a necessidade de execução mínima de AFMV e a maior quantidade possível de atividade física leve durante o dia para manutenção da saúde (POITRAS et al., 2016), além de uma boa quantidade de sono (CHAPUT et al., 2016) e menor quantidade possível de comportamento sedentário, especialmente o tempo de tela recreativo (CARSON et al., 2016). Adolescentes com uma combinação de alta quantidade de atividade física, duração de sono e baixo tempo de tela recreativa têm medidas mais recomendadas de adiposidade e saúde cardiometabólica em comparação àqueles com uma combinação de baixa atividade física, duração de sono e alto tempo de tela recreativa (SAUNDERS et al., 2016).

Apesar das diferentes metodologias utilizadas para investigar os comportamentos de movimento de crianças e adolescentes, os dados são bastante preocupantes. Para que sejam reduzidas estas taxas de abandono, é necessário um

(29)

maior conhecimento dos motivos apresentados por essas crianças e adolescentes para a desistência da prática de atividade física e esporte, aumento de comportamento sedentário e insuficiente duração de sono.

Após estabelecermos importantes considerações sobre a atividade física habitual de adolescentes, tempo total dedicado a comportamento sedentário e sono em diversas abordagens, entraremos nas questões metodológicas que envolveram o nosso trabalho, bem como, nas discussões e conclusões do mesmo.

(30)

5. Materiais e métodos

5.1. Delineamento da pesquisa

Trata-se de um estudo piloto exploratório de corte transversal que buscou caracterizar os comportamentos de 24 horas em adolescentes obesos, mensurando de forma objetiva os níveis de atividade física em intensidades moderada e vigorosa, quantidade total de passos diários, comportamento sedentário e sono, para verificar a relação destes com a aptidão física relacionada à saúde. Cada sujeito compareceu ao laboratório em dois momentos: no primeiro, após a assinatura dos termos de responsabilidade foi realizada a mensuração da composição corporal, aptidão cardiopulmonar, força de membros superiores e entrega do acelerômetro. Após sete dias, o sujeito retornava ao laboratório para o segundo encontro para devolver o acelerômetro e responder ao questionário socioeconômico. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CAAE: 80922117.3.0000.5537).

5.2. Sujeitos

O recrutamento dos sujeitos se deu de forma intencional não-probabilística, durante os meses de outubro de 2018 e abril de 2019, com base nos seguintes critérios de elegibilidade: Critérios de inclusão: I) Estar classificado como sobrepesado ou obeso de acordo com os valores de corte do IMC para crianças e jovens apresentados por Cole e colaboradores (2000) (Anexo VI); II) matrícula ativa em uma instituição de ensino com funcionamento de turnos (matutino ou vespertino) e em período letivo escolar; III) Apresentar uma porcentagem de gordura que classifique o participante como eutrófico (abaixo de 26%) no resultado da absortometria radiológica de dupla energia (LAURSON et al., 2011a). Critério de exclusão: I) Incapacidade de fazer ou completar algum dos testes propostos; II) O não uso do acelerômetro pela quantidade mínima de dias recomendados (3 dias de semana e 1 de final de semana). No período da coleta de dados, haviam sido captados 62 escolares por meio de recrutamento mediante análise de prontuários cadastrados em banco de dados de

(31)

uma instituição de ensino federal que se propuseram a participar do estudo. Durante o estudo, 10 escolares foram excluídos por não atenderem a um ou mais critérios de inclusão; um desistiu de participar e outros 17 foram excluídos por serem do sexo feminino (possibilidade de confundimento por variação hormonal ou uso de contraceptivos). Por fim, um total de 34 escolares foram incluídos na análise de dados (ver Figura 1).

Figura 1. Fluxograma de triagem dos participantes da pesquisa

Avaliados para elegibilidade (n = 62)

Excluídos (n = 28)

 Não atendem aos critérios de inclusão (n = 10)  Desistiram de participar (n = 1)  Outras razões (n = 17) Analisados (n = 34)  Excluídos da análise (n = 0) ANÁLISE INCLUSÃO

(32)

5.3. Procedimentos e Instrumentos

5.3.1. Composição corporal

A massa livre de gordura, massa gordurosa e densidade e conteúdo mineral ósseo foram os elementos constituintes da composição corporal avaliados. Para isso, foi utilizada a absorciometria por dupla emissão de raios-X (DXA), considerada um dos métodos de maior acurácia junto com a pesagem hidrostática e a diluição isotópica (NEWTON JR e col., 2005).

Foi utilizado o instrumento da marca Lunar Prodigy Advance - General Electric Company® - Boston, Massachusetts, EUA. Os pacientes foram orientados sobre o procedimento quanto aos riscos e ao que obteríamos de resultado. Momento antes do exame, solicitou-se que todos os avaliados retirassem os sapatos bem como qualquer tipo de objeto de metal como brincos, cintos e joias. Para o escaneamento do corpo inteiro, os pacientes foram posicionados deitados em decúbito dorsal e com os braços ao longo do corpo dentro dos limites de varredura. Para evitar possíveis movimentações durante o exame, utilizaram-se fitas de velcro na altura dos tornozelos e joelhos para imobilizar os membros inferiores. O software utilizado para análise das variáveis foi o Encore 14.1. O exame foi realizado e analisado por único avaliador qualificado na técnica que apresentou um erro técnico de medida (ETM) intra-avaliador de 2% considerado aceitável (PERINI et al., 2005).

5.3.2. Recomendações e diretrizes de movimento

5.3.2.1. Diretrizes canadenses para o movimento de 24 horas para crianças e jovens

De acordo com as recomendações propostas por Tremblay e colaboradores (2016) por meio das Diretrizes Canadenses para o Movimento de 24 Horas para Crianças e Jovens, observamos três recomendações, uma por comportamento. Especificamente, dentro de um período saudável de 24 horas, os adolescentes devem acumular pelo menos 60 minutos de AFMV, participar de não mais que 2 horas de tempo de tela recreativa e obter duração de sono ininterrupto de 8 a 10 horas.

(33)

5.3.2. Avaliação do nível de atividade física espontânea e comportamento sedentário

5.3.2.1. Medidas de controle

Antes da entrega do acelerômetro aos participantes, os mesmos e seus responsáveis eram contatados e informados sobre o dispositivo e os procedimentos a serem feitos durante a participação na pesquisa, o que era revisado no momento da entrega. Também era entregue um folheto (ANEXO IV) com todas as informações pertinentes e eram montados grupos em aplicativo de mensagem para manutenção de contato onde diariamente eram enviadas aproximadamente 5 mensagens em vários horários no dia, ressaltando a importância do uso do acelerômetro e correto preenchimento do diário. Ainda eram feitas ligações para os responsáveis dos participantes que não confirmassem o devido uso do acelerômetro para reforço da necessidade do uso correto para a pesquisa.

5.3.2.2. Acelerometria

As variáveis de total de passos diários, AFMV, tempo de tela recreativa e duração de sono foram todas avaliadas objetivamente usando acelerometria de 24 horas. Para todas estas variáveis assumiram-se valores de média ponderada envolvendo os dias do meio e do final de semana. ((dias de semana x 5 + dias de fim de semana x 2)/7). Um acelerômetro Actigraph wGT3X-BT (ActiGraph LLC, Pensacola, FL, EUA) foi usado na cintura em uma cinta elástica posicionado no alinhamento da crista ilíaca com a linha axilar média direita. Os participantes foram instruídos a usar o acelerômetro 24 h por dia (removendo apenas para atividades aquáticas) por pelo menos 7 dias consecutivos, incluindo 2 dias de fim de semana. Os dados foram coletados em uma taxa de amostragem de 100 Hz, baixados em epochs de 1 s através do software ActiLife versão 6.13.3 (ActiGraph LLC, Pensacola, FL, EUA) e posteriormente reinseridos em epochs de 60 segundos. Os valores diários de duração do sono, comportamento sedentário total, atividade física moderada e vigorosa (AFMV) e total de passos diários foram exportados para conjuntos de dados com múltiplas observações para cada participante (por exemplo, uma linha por dia).

(34)

5.3.2.3. Tempo de uso

Para verificação do tempo gasto em atividade física e comportamento sedentário, a quantidade mínima de dados diurnos considerados aceitáveis para inclusão na amostra foi de pelo menos 10 horas de tempo de uso em vigília por dia. Ainda nesta etapa foram considerados como “tempo de não uso” os períodos de sono previamente analisados com o intuito de impedir reconhecimento destes períodos como comportamento sedentário. Após a exclusão do tempo total do período de sono e do tempo de não uso acordado (qualquer sequência de ≥ 60 minutos consecutivos de 0 counts de atividades) (COLLEY et al., 2010).

5.3.2.4. Total de passos diários

Observando-se que a recomendação proposta na diretriz canadense para atividade física leve não expõe um ponto de corte objetivo acerca de quanto seria o recomendado a ser feito para desfechos positivos na saúde de adolescentes e pelo entendimento da ênfase proposta sobre este comportamento na própria diretriz, adotamos uma recomendação externa. Assim, segundo as recomendações propostas por Tudor-Locke e colaboradores (2011), os valores recomendados para total de passos diários para adolescentes deveriam estar entre 10.000 a 11.700 passos.

5.3.2.5. Pontos de corte para comportamento sedentário total, atividade física de moderada e vigorosa intensidade e total de passos diários

O comportamento sedentário total foi definido como todo o movimento com taxa de amostragem ≤100 counts por 60 segundos e a atividade física moderada e vigorosa (AFMV) movimentos com taxa de amostragem ≥2293 counts. Que são os pontos de corte amplamente utilizados para esta faixa etária propostos por Evenson e colaboradores (2008), confirmados por Barreira e colaboradores (2015). Ainda, o total de passos diários foi mensurado pela função pedômetro do Actigraph wGT3X-BT.

(35)

5.3.2.6. Tempo de tela recreativa

O tempo médio diário de tela também foi avaliado através de questionário simplificado (ANEXO V) (em que o responsável pela aplicação explicava detalhadamente cada uma das perguntas e solucionava dúvidas de entendimento). Foram feitas três perguntas: “Em uma semana típica no último mês quanto tempo você costumava gastar…” 1) “… assistindo televisão, vídeos (Youtube, Netflix, etc.) ou DVDs?”, 2) “… em um computador ou celular (redes sociais, aplicativos de conversa, etc.)?”, e 3 ) "…jogando vídeo games?". Em seguida, calculamos o tempo médio diário da tela somando as respostas para as três perguntas e dividindo o resultado por 7 como feito no estudo de Carson e colaboradores (2017).

5.3.2.7. Períodos de sono

Os dados do sono foram considerados válidos se o tempo total diário de sono foi ≥160 min / noite e > 90% do tempo de uso estimado. A variável duração de sono (horas/noite) foi estimada a partir dos dados de acelerometria em epochs de 60 segundos e utilizando o algoritmo de Cole-Kripke, específico para a determinação da duração de sono no aplicativo ActiLife versão 6.13.3 no qual são inseridos os períodos em que o participante dormiu de acordo com o diário entregue junto com o acelerômetro (COLE et al., 1992).

5.3.3. Avaliação da aptidão física

5.3.3.1. Aptidão cardiopulmonar

A aptidão cardiorrespiratória é um importante parâmetro preditivo de saúde. A escolha do ergômetro e protocolo é fundamental para o sucesso na avaliação da capacidade cardiorrespiratória. Comumente são utilizadas a esteira e a bicicleta ergométrica, tanto em crianças como em adultos. A avaliação da aptidão cardiopulmonar em ciclo ergômetro apresenta algumas vantagens em comparação à avaliação em esteira, como a baixa interferência de limitações mecânicas do indivíduo

(36)

sobre o teste, isto é, dores em joelhos e tornozelo que podem restringir o teste. A ocorrência dessas interferências poderia ser alta na amostra selecionada por se tratar de obesos com baixo condicionamento físico, o que comprometeria o texto. Porém, o fato de o indivíduo obeso na bicicleta suportar a mesma carga final que o não obeso sugere que o cicloergômetro pode ser indicado como o melhor ergômetro para obesos (MILANO & LEITE, 2009).

A aptidão cardiorrespiratória foi medida através de teste de esforço submáximo em cicloergômetro fixo (Imbramed® CG-04, Porto Alegre, RS) com protocolo proposto pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) intitulado “Submaximal cycle ergometer test in 4 stages (SCT4)”. O teste apresenta quatro estágios com duração de três minutos e duração total de 12 minutos. Adotou-se a carga inicial de 40 W, de acordo com o estudo de Quinart e col. (2014) realizado com adolescentes obesos. A carga incrementada a cada estágio era feita em 10, 20, 30 ou 40 W, sendo determinada de acordo com as respostas da frequência cardíaca em cada estágio. O objetivo foi alcançar 70% da frequência cardíaca de reserva calculada pela diferença entre frequência cardíaca máxima (220-idade) e a de repouso. Foi utilizado cardiofrequencímetro (Polar® FT1) para monitoramento da frequência cardíaca. Os participantes foram instruídos a manter 50 rotações por minuto.

O VO2 pico foi calculado através da fórmula proposta pelo ACSM para o teste utilizado: VO2 pico = (máxima potência aeróbia/peso x 10,8+7. A máxima potência aeróbia corresponde ao valor final, em W, da carga correspondente a 70% da frequência cardíaca de reserva. O teste foi conduzido por único avaliador experiente na técnica.

5.3.3.2 Força de preensão manual

A força de preensão manual foi mensurada através do teste de preensão manual. Trata-se de um método de avaliação da força muscular amplamente reconhecido como um teste que fornece informação sobre a força global do indivíduo (RAMÍREZ-VÉLEZ et al., 2017). Além de ser um método rápido e fácil de se aplicar, o teste de preensão manual apresenta várias aplicações práticas no cenário clínico (exemplo: a baixa força muscular encontrada no teste está relacionada a um baixo perfil metabólico).

(37)

Foi utilizado dinamômetro com alça ajustável da marca Jamar®. Os participantes do estudo receberam instruções verbais e demonstração padronizadas, conduzidas por um único avaliador experiente na técnica. Em uma posição sentada, cotovelo fletido a 90º e antebraço em posição neutra, o avaliado fazia a máxima força sustentada por três segundos utilizando o membro dominante. O teste teve um total de três tentativas intervaladas por um minuto de descanso. Para análise dos dados, foi considerada a média das tentativas.

(38)

6. Análise Estatística

Foi realizada a análise descritiva dos resultados, sendo apresentados os valores de média e desvio padrão e intervalo de confiança dos 34 participantes, para todas as variáveis avaliadas.

A normalidade da distribuição dos dados foi verificada através do "z-score" de assimetria e curtose, sendo adotados valores iguais ou superiores a 1,96 desvios padrão.

O teste de correlação de Pearson foi usado para examinar relação entre as variáveis paramétricas de comportamentos de movimento (total de passos diários, tempo de tela recreativa e duração de sono) e Sperman para a variável não paramétrica (atividade física de moderada à vigorosa intensidade) foram usados para examinar possíveis relações entre as variáveis de aptidão física relacionada à saúde. Todas as análises foram feitas pelo programa estatístico SPSS® versão 24.0 (IBM, Inc., Chicago, EUA) para Windows. Um nível alfa de 5% (p < 0,05) foi usado para determinar a significância estatística das correlações realizadas.

(39)

7. Resultados

Na tabela 1 são expostos os dados de caracterização da amostra composta por 34 adolescentes obesos do sexo masculino, estudantes e avaliados em período letivo.

Tabela 1. Características descritivas dos participantes do estudo (n = 34)

Variável Média (DP) IC 95%

Idade Centralizada 16,1 (±1,5) 15,5 - 16,6

Massa corporal (kg) 88,8 (±14,5) 83,7 - 93,9

Estatura (cm) 172,0 (±8,1) 169,1 - 174,8

Percentual de gordura total 36,9 (±4,9) 35,2 - 38,6

VO2 pico (mL.kg-1.min-1) 23,4 (±3,2) 22,3 - 24,5

Força de preensão manual (kg) 36,7 (±8,7) 33,6 - 39,7

Os dados são apresentados em média e desvio padrão acompanhados pelo intervalo de confiança (95%).

Observa-se que a média de porcentagem de gordura total destes adolescentes gerada pela absortometria radiológica de dupla energia foi de 36,9 (±4,9) e quando confrontado a valores de referência, encontra-se acima do percentil 90 segundo dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) (LAURSON et al., 2011a).

Verifica-se ainda que nenhum dos participantes atinge os valores recomendados de capacidade cardiorrespiratória (média de 23,4 ±3,2 mL.kg-1.min-1); comparado ao recomendado para adultos, este valor verificado se encontra muito abaixo do valor considerado regular de 40 mL.kg-1.min-1 que corresponde ao percentil 50 e, ao observarmos a força de preensão manual, 44% dos participantes são classificados como abaixo do recomendado para a faixa etária, considerando-se como valor de referência do percentil 50 de 36,5kg. (GÓMEZ-CAMPOS et al., 2018; RAPP et al., 2018).

(40)

Na tabela 2 são demonstrados os dados descritivos de caracterização dos comportamentos de movimento dos 34 adolescentes ao longo das 24h, nos quais se observa que os valores médios destes não suprem as recomendações para cada uma das variáveis monitoradas.

Tabela 2. Valores descritivos das variáveis que compõem os comportamentos de

movimento

Variável Média (DP) IC 95% Valores

Recomendáveis

Total de passos diários (un) 8403,3

(±2849,8) 7408,9 – 9397,6 ≥10mil Atividade física moderada e

vigorosa (min)

29,8

(28,9-44,4) 28,9 – 44,4 60 minutos

Tempo de tela recreativa (h) 3,1 (±1,5) 2,6 – 3,6 2 horas

Duração de sono (h) 7,7 (±1,3) 7,3 – 8,2 8 a 10 horas

Os valores são apresentados em média e desvio padrão acompanhados pelo intervalo de confiança (95%).

A tabela 3 expõe a prevalência dos participantes que cumprem as recomendações. Dentre a amostra analisada, 41% (n=14) dos adolescentes não cumpriram nenhuma das recomendações de comportamento de movimento para 24h e apenas 7% (n=2) executaram o total das quatro recomendações.

Tabela 3. Prevalência de adolescentes obesos que cumprem as recomendações do

guia de comportamento de 24h.

Recomendações %(n)

Cumpre todas 7% (2)

Não cumpre nenhuma 41% (14)

Quantidade de passos diários 30% (10)

Atividade física moderada e vigorosa intensidade 18% (6)

Comportamento sedentário (tempo de tela) 26% (9)

(41)

7.1 Correlações entre as variáveis do CM e a aptidão cardiorrespiratória e força de preensão manual

Na figura 2 pode-se observar a correlação positiva significante das variáveis AFMV e total de passos diários com a força de preensão manual (rs =0,28, p=0,001) e (r=0,15, p=0,02) respectivamente. Ainda para o tempo de tela recreativa não foi encontrada relação com a força de preensão manual (r=0,05, p=0,17).

Figura 2. Relação do desempenho força de preensão manual e comportamentos de

movimento.

A figura 3 demonstra a relação das variáveis de comportamento de movimento com a capacidade cardiorrespiratória, em que não se observa relação significante nas variáveis de AFMV (rs =0,001, p=0,94), total de passos diários (r=0,02, p=0,33) e tempo de tela recreativa (r=0,001, p=0,92) com a capacidade cardiorrespiratória em adolescentes obesos.

(42)

8. Discussão

O objetivo deste estudo piloto foi de realizar a caracterização do comportamento de movimento de 24 horas e a sua relação com a aptidão física em adolescentes obesos com base nas recomendações das novas Diretrizes Canadenses para o Movimento de 24 Horas para Crianças e Jovens proposta por Tremblay e colaboradores (2016). O principal achado do estudo foi demonstrar que apenas 5% dos adolescentes desta amostra cumpriam o recomendado pelas diretrizes. Ainda, em relação à aptidão física os jovens obesos apresentam valores abaixo do recomendado para a aptidão cardiorrespiratória em adultos e de força de preensão manual para a faixa etária (44% dos adolescentes). Para nosso conhecimento, este é o primeiro estudo que analisou a relação entre indicadores de aptidão relacionada à saúde e o cumprimento das recomendações propostos na diretriz canadense em adolescentes obesos.

Em relação ao comportamento de movimento, os resultados estão em concordância com o que foi verificado nos poucos estudos que envolvem adolescentes nos quais é relacionada a combinação de recomendações de movimento; constatamos que adolescentes obesos tendem a cumprir em menor proporção as recomendações, o que é preocupante, observando-se que indivíduos com menor tempo dedicado à atividade física, menor quantidade de sono e maior comportamento sedentário apresentam elevados índices de obesidade e riscos cardiometabólicos (SAUNDERS et al., 2016). Consequentemente os jovens apresentam os piores índices de aptidão física relacionada à saúde (CARSON et al., 2017; KATZMARZYK & SATAIANO, 2017; LAURSON et al., 2015).

Apenas 17% dos participantes deste estudo atendem às recomendações de AFMV e 30% de total de passos diários. Em uma possível explicação para este cenário e que corrobora com o estudo de Laurson e colaboradores (2015) foi observado que os adolescentes que não atendiam às recomendações de duração de sono e tempo de tela recreativa eram mais propensos a não cumprir as recomendações de AFMV. Ainda foi verificado que adolescentes que atendiam às recomendações de AFMV, independentemente de atenderem às recomendações de sono e de TV, não apresentavam maiores chances de desenvolver obesidade. O aumento de inatividade física, ou ausência de AFMV, dentro de um estilo de vida cotidiana, são importantes

Referências

Outline

Documentos relacionados

Para que o estudante assuma integralmente a condição de cidadão é preciso dar-lhe voz. Sendo o diálogo, portanto, fundamental para a cidadania, o professor de Ciências deve buscar

Todavia, nos substratos de ambos os solos sem adição de matéria orgânica (Figura 4 A e 5 A), constatou-se a presença do herbicida na maior profundidade da coluna

In: VI SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISADORES DA HISTÓRIA DAS COMUNIDADES TEUTO-BRASILEIRAS (6: 2002: Santa Cruz do Sul).. BARROSO, Véra Lúcia

1 Instituto de Física, Universidade Federal de Alagoas 57072-900 Maceió-AL, Brazil Caminhadas quânticas (CQs) apresentam-se como uma ferramenta avançada para a construção de

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e

Na primeira seção definimos um operador maximal de tipo diádico Ma usando as partições da esfera S 2 introduzidas no Capítulo I.. Portanto, integrando ambos os

Contudo, não é possível imaginar que essas formas de pensar e agir, tanto a orientada à Sustentabilidade quanto a tradicional cartesiana, se fomentariam nos indivíduos

Costa (2001) aduz que o Balanced Scorecard pode ser sumariado como um relatório único, contendo medidas de desempenho financeiro e não- financeiro nas quatro perspectivas de