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O objetivo deste estudo piloto foi de realizar a caracterização do comportamento de movimento de 24 horas e a sua relação com a aptidão física em adolescentes obesos com base nas recomendações das novas Diretrizes Canadenses para o Movimento de 24 Horas para Crianças e Jovens proposta por Tremblay e colaboradores (2016). O principal achado do estudo foi demonstrar que apenas 5% dos adolescentes desta amostra cumpriam o recomendado pelas diretrizes. Ainda, em relação à aptidão física os jovens obesos apresentam valores abaixo do recomendado para a aptidão cardiorrespiratória em adultos e de força de preensão manual para a faixa etária (44% dos adolescentes). Para nosso conhecimento, este é o primeiro estudo que analisou a relação entre indicadores de aptidão relacionada à saúde e o cumprimento das recomendações propostos na diretriz canadense em adolescentes obesos.

Em relação ao comportamento de movimento, os resultados estão em concordância com o que foi verificado nos poucos estudos que envolvem adolescentes nos quais é relacionada a combinação de recomendações de movimento; constatamos que adolescentes obesos tendem a cumprir em menor proporção as recomendações, o que é preocupante, observando-se que indivíduos com menor tempo dedicado à atividade física, menor quantidade de sono e maior comportamento sedentário apresentam elevados índices de obesidade e riscos cardiometabólicos (SAUNDERS et al., 2016). Consequentemente os jovens apresentam os piores índices de aptidão física relacionada à saúde (CARSON et al., 2017; KATZMARZYK & SATAIANO, 2017; LAURSON et al., 2015).

Apenas 17% dos participantes deste estudo atendem às recomendações de AFMV e 30% de total de passos diários. Em uma possível explicação para este cenário e que corrobora com o estudo de Laurson e colaboradores (2015) foi observado que os adolescentes que não atendiam às recomendações de duração de sono e tempo de tela recreativa eram mais propensos a não cumprir as recomendações de AFMV. Ainda foi verificado que adolescentes que atendiam às recomendações de AFMV, independentemente de atenderem às recomendações de sono e de TV, não apresentavam maiores chances de desenvolver obesidade. O aumento de inatividade física, ou ausência de AFMV, dentro de um estilo de vida cotidiana, são importantes

fatores que contribuem para este cenário devido à diminuição da capacidade aeróbica e da força (WILSON et al., 2016; ROWLAND et al., 2008).

Outro achado importante deste trabalho é que 74% dos participantes não cumprem as recomendações de não mais que duas horas de tempo de tela recreativa e chegam a acumular aproximadamente uma hora a mais do limite de tempo considerado saudável. Estes resultados corroboram com Guerra e colaboradores (2016) que apresentam como variáveis mais frequentemente associadas ao comportamento sedentário os níveis elevados de peso corporal e os menores níveis de atividade física. Ainda, observamos na literatura que maior tempo em tempo de tela recreativa e a menor duração estão associados a maiores riscos de desenvolvimento de síndrome metabólica (SAUNDERS et al., 2016; GUPTA et al., 2002).

Ainda, 55% dos participantes não apresentam a quantidade de horas de sono recomendada, isto pode ser explicado pela relação de quanto mais tempo o jovem gasta de frente para telas, menos tempo disponível ele tem para dormir (HALE & GUAN, 2015). Para esta variável apenas se considerou o tempo de sono ininterrupto (em que períodos de cochilo não foram registrados no presente trabalho) por entendimento da recomendação (TREMBLAY et al., 2016). A duração de sono segundo Stefan e colaboradores (2018) está relacionada com maiores valores de aptidão física autorreferida e os indivíduos com boa qualidade de sono também são mais ativos fisicamente em comparação com seus pares que possuem baixa quantidade de sono.

A atividade física (tanto o total de passos diários como a AFMV) demonstra relação direta com a força de preensão manual em adolescentes obesos, porém demonstrando coeficientes classificados como muito baixos (HOPKINS, 2000). A quantidade total de passos diários e o maior tempo dedicado à AFMV demonstraram relação significante com os níveis de PM (r=0,15;p=0,02 e rs=0,28;p=0,001 respectivamente) o que corrobora com o encontrado em um estudo de revisão feito por Poitras e colaboradores (2016), que demonstra que o aumento da quantidade de tempo dedicada à AFMV tem influência positiva na força muscular. O fator ambiental pode ser um obstáculo para a manutenção do cumprimento destas recomendações, ao passo que observamos que o tempo gasto em total de passos diários e AFMV durante as sessões de educação física escolar não cumprem com os valores mínimos

recomendados pelas diretrizes internacionais (HOLLIS et al., 2016). E confirmado por Fenton e colaboradores (2017) por verificar que a participação de crianças e adolescentes em atividades esportivas não garante que as recomendações de tempo gasto em AFMV sejam atendidas.

Ainda verificamos neste estudo a não existência de relação entre capacidade cardiorrespiratória e comportamentos de movimento. Tendo em vista que a obesidade demonstra uma forte relação negativa com a aptidão cardiorrespiratória, o que corrobora com o que foi encontrado em estudos de revisão nos quais se verificou a influência da obesidade em desfechos relacionados à aptidão física e que pode ser um fator importante para explicar a inexistência destas relações de comportamento de movimento com aptidão cardiorrespiratória (THIVEL et al., 2016; VASCONCELLOS et al., 2014). Estes resultados são preocupantes, uma vez que a baixa aptidão cardiorrespiratória em adultos demonstra riscos à saúde semelhantes ao tabagismo, à hipercolesterolemia, hipertensão, história familiar de doença coronariana, IMC aumentado e elevação do nível de glicose sérica (BOUCHARD et al., 2015). Adolescentes obesos tendem a demonstrar uma prevalência de 50 a 75% em se tornar adultos obesos (KRUL et al., 2009).

Desta forma, a adolescência é a fase da vida em que a maior quantidade de transformações acontecem, a adoção de estímulos (e.g., exercício físico) que consequentemente vão atuar no desenvolvimento de aptidão física principalmente nas capacidades de força, velocidade e resistência terão melhor consolidação para a fase adulta através da plasticidade neural que é fortemente favorecida por este período da vida (ALBERGA et al., 2012; MALINA et al., 2009). Por outro lado, a adolescência é o período em que se constata uma maior prevalência de inatividade física (HALLAL et al., 2012). Além disso, o mundo tem se tornado cada vez mais inativo. Na medida em que os países se desenvolvem do ponto de vista econômico, os níveis de inatividade aumentam (WHO, 2018). A ciência tem buscado constantemente estratégias para a mudança e adoção de comportamentos saudáveis através das recomendações provenientes das diretrizes para diminuição do comportamento sedentário, aumento da atividade física e quantidade e qualidade satisfatória de sono para a melhoria da qualidade de vida desta população (WHO, 2018; TREMBLAY et al., 2016).

Como visualizamos neste trabalho, uma estratégia voltada para o combate da obesidade com sistematização da prática de atividade física deve ser pensada para a

reversão deste quadro quando instalada, tendo em vista que a obesidade por si só representa influência negativa sobre a aptidão física, o que consequentemente inibirá ou diminuirá o tempo dedicado à prática de atividade física e aumentará o comportamento sedentário que representa assim uma influência negativa na quantidade de sono (FAIGENBAUM, REBULLIDO & MACDONALD, 2018). São necessários esforços para promover a adoção dessas novas diretrizes.

O comportamento de movimento de 24h de jovens adolescentes visto aqui devem ser utilizados para nortear intervenções junto aos familiares, escola e também na intervenção clínico-pediátrica com o intuito de prevenir e combater os males resultantes da adoção de comportamentos considerados nocivos à saúde, desta forma enfatizando a adoção do Guia de Comportamento de 24 horas.

Os pontos fortes deste estudo incluem a amostra específica de adolescentes obesos avaliados por meio do DXA, testes de aptidão física que são indicadores de saúde com validade e reprodutibilidade reconhecidas pelo ACMS e as medidas objetivas dos comportamentos de movimento. Os resultados podem ter sido influenciados pelo confundimento residual devido a fatores de confusão não serem incluídos (dieta e cochilos durante o decorrer do dia).

Pode-se assumir como limitações o fato de ser um estudo piloto, assim como o tamanho da amostra, além de não incluir participantes do sexo feminino. Ainda, verificamos de forma indireta o VO2 pico através de um teste submáximo, que pode nos apresentar valores subestimados de capacidade cardiorrespiratória.

Por fim, propõe-se que sejam feitos estudos investigando a influência da adoção das recomendações das novas diretrizes canadenses para o movimento de 24 horas de crianças e jovens adolescentes obesos por meio de intervenção para analisar a relação destes sobre a resistência, a força e a obesidade. Ainda, observa- se a necessidade de maiores esclarecimentos sobre o papel dos cochilos durante o dia como complementação da duração de sono e sua relação com estas variáveis.

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