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Presença Educativa: uma necessidade vital!

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Academic year: 2021

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Presença Educativa: uma necessidade vital!

As práticas de trabalho dirigidas a educandos (crianças, adolescentes e jovens) em situação de risco pessoal e social, ou seja, vítimas de “(...) negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (Art. 227 da C.F.), ou àqueles que se encontram em conflito com a lei em razão de terem cometido ato infracional, tornaram-se conhecidas por algumas tipologias básicas como a repressão, assistencialismo e a emancipação.

A modalidade repressiva é baseada na punição, tem como foco a percepção de que é preciso tirar, extrair, arrancar e amputar os vícios, a má conduta, os defeitos, as distorções de comportamento do educando a partir de uma “metodologia” cujas ações se traduzem em atos perversos, que comprometem profundamente a sua integridade física, psicológica e moral, expondo-o a castigos, torturas, abusos, humilhação, espancamentos e até mesmo a práticas de extermínio. Repor o que o educando não tem, completar aquilo que, de imediato e aparentemente, está lhe faltando, é uma atitude típica do

assistencialismo. Se o educando está com fome, lhe é oferecido alimento; se ele está com frio, recebe roupas e agasalhos; se ele faz das ruas seu espaço de sobrevivência ou até mesmo de moradia, viabiliza-se um espaço institucionalizado, por exemplo, para que ele possa ter onde dormir e satisfazer suas necessidades básicas e imediatas, dentre muitos outros exemplos nessa linha.

Estes dois modelos de compreender e lidar com adolescentes e jovens em circunstâncias especialmente difíceis, a repressão e o assistencialismo, quando não comprometem e violam ao extremo o desenvolvimento do potencial dos educandos, tendem a contribuir fortemente para a formação de pessoas dependentes, inseguras, frágeis, vulneráveis, incapazes de serem protagonistas de suas próprias vidas. Alfredo Carlos Gomes da Costa*

* pedagogo, consultor no campo do trabalho social e educativo e autor dos livros “Adolescentes em Ação! Ser, Conviver, Conhecer e Fazer no Século XXI” e o “Guia Prático do Educador Um Método Introdutório de Avaliação Sistêmica”. pacthus@hotmail.com alfredocarlosgomes@yahoo.com.br Co sta, Alf red o C. GGGCi ap p i

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O paradigma (modelo) da emancipação é um enfoque de ação educativa voltado para as luzes do educando: seus conhecimentos, experiências, habilidades e capacidades; suas crenças, valores e princípios. Enfim,o foco deste caminho tem como origem o potencial do educando, entendido como promessas que ele traz consigo ao nascer e pode desenvolver ao longo de sua vida.

O ser humano é um ser incompleto, a incompletude é parte da essência humana. Para que cada pessoa possa desenvolver verdadeira e autenticamente o melhor de si mesma, ela precisa ser compreendida e aceita pelo outro, condição para ela própria se compreender e se aceitar. Sem esta, nenhum de nós teríamos a base vital para nos viabilizarmos (encontrar a via, o caminho para o próprio desenvolvimento pessoal, relacional, produtivo e cognitivo).

Enfrentando e lutando arduamente contra os preconceitos do seu tempo (século XIX), na Itália, com o propósito de promover a reabilitação social e religiosa de jovens pobres e abandonados, Dom Bosco foi o grande pioneiro da vivência deliberada (intencional), da amorevolezza (presença educativa), colocando a qualidade da relação humana estabelecida entre educador e educando como força nucleadora do processo educativo.

Dom Bosco afirmava que, “(...) se conhece melhor o jovem no pátio do que dentro da sala de aula”. Não é por acaso que o Método Educativo Salesiano é estruturado em três grandes eixos formativos:

i) a docência na condição de via para se trabalhar conhecimentos de natureza cognitiva dentro e fora da sala de aula;

ii) as práticas e vivências como caminho que desenvolve os conteúdos da educação, a partir do curso dos acontecimentos;

iii) a presença educativa, reconhecendo as relações interpessoais estabelecidas na comunidade educativa, como linha vital para que o educando se encontre consigo mesmo, pré-condição para que ele possa se encontrar com os demais construtivamente. Para Dom Bosco, este eixo “...é o tempero de tudo”.

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O processo de “coisificação do homem” implica perceber e se relacionar com outra pessoa de modo utilitário, formal, distante e sem autenticidade, reduzindo e fragmentando o relacionamento a um mero

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mecanismo para obtenção de interesses unilaterais. Este processo anda na contramão da presença educativa: capacidade de exercer uma influência edificante e duradoura na vida de outra pessoa.

Antonio Carlos Gomes da Costa – vivendo, convivendo e trabalhando com educandas privadas de liberdade da Escola Febem Barão de Camargos, em Ouro Preto/MG, na década de setenta – sistematizou, a partir desta experiência e também por sua proximidade (alinhamento) com o Método de Educação Salesiana, a fundamentação da Pedagogia da Presença. Seu insightmais cabal e essencial a respeito desta proposta foi “Quem nunca sentiu, em algum momento de sua vida, a presença de quem estava longe e a ausência de quem estava perto?”

Na realidade, um adolescente pode compartilhar de um espaço físico rodeado de muitas pessoas e se sentir só, assim como pode estar sozinho (fisicamente) em algum lugar e sentir a presença positiva de alguém em sua vida.

Abertura, reciprocidade e compromisso. Estes três ingredientes

constituem o DNA, a essência estruturante, os princípios, a alma para o exercício consciente, construtivo e duradouro da Pedagogia da Presença, conceptualizados por Antonio Carlos, que assim se expressa a respeito:

O que é estar aberto para o outro? É ter uma disposição sadia de entrar na experiência de vida da pessoa com quem nos relacionamos e permitir que ela entre na nossa. Entrar na experiência de vida do outro é a disposição de compartilhar o prazer e a dor, a alegria e a tristeza, a frustração e o sonho, as perdas e os ganhos, a vida enfim. A presença não apenas multiplica, mas ela intensifica o ato de viver. O que é reciprocidade? Reciprocidade, reduzida à sua expressão mais simples, é o movimento vital que nos leva a influenciar e a ser influenciados. Influenciar alguém é nos incluirmos na fluência de sua vida. A reciprocidade é a troca de elementos que nos dá a certeza de que temos valor para alguém. Que elementos são esses? São elementos que vão desde os grandes sonhos, projetos, visões, ideias e ideais compartilhados até os pequenos ‘nadas’ que fazem a

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diferença, ou seja, um olhar, um toque, um abraço, um gesto, um cumprimento ou qualquer outra manifestação que exprima para o outro a certeza de que ele tem valor e de que alguém reconhece isso. O terceiro pilar da presença é o compromisso. Através dele, assumimos uma atitude de não-indiferença, de corresponsabilidade pelo bem daqueles que, de alguma forma, significam algo em nossas vidas. ‘Amai-vos uns aos outros’. Esse mandamento nos mostra a real dimensão desse compromisso, desse senso de corresponsabilidade. Ele tem o tamanho, a medida da própria humanidade.

A incorporação do exercício da presença educativa se dá apenas parcialmente no plano cognitivo. Na verdade, a dimensão crucial do processo de interiorização desta proposta deve passar, inevitavelmente, pelo crivo da congruência entre o pensar, o sentir, o agir e o transcender, estabelecendo empatia com quem nos relacionamos: disposição interior para se colocar no lugar do outro.

O educador deve buscar permanentemente a dedicação de “tempo, conhecimento, experiência, presença e exemplo” a favor do desenvolvimento do educando, visando à formação do jovem autônomo como pessoa, solidário na condição de cidadão e competente na qualidade de futuro profissional.

“Nós devemos ser aquilo que nos propomos a ensinar”. Esta afirmação de Gandhi guarda fina e estreita sintonia com outra de Sartre: “Não se ensina apenas aquilo que se sabe e nem aquilo que se quer ensinar. Ensina-se aquilo que se é”.

Ambas nos remetem à força do exemplo. Em circunstâncias especialmente difíceis, um adolescente ou jovem tende a acreditar mais no curso dos acontecimentos do que no discurso das palavras. Ele necessita do suporte de um “espelho existencial” capaz de lhe transmitir mensagens sensíveis, verdadeiras e com prazo de validade indeterminado para que ele se encontre consigo mesmo, construindo sua identidade (autoaceitação e autocompreensão) que, como vimos, é condição para seu encontro pleno com as outras pessoas: na família, na

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escola, na comunidade, no mundo do trabalho e na esfera social mais ampla.

Assim, a presença educativa é uma atitude básica diante da vida. Segundo o filósofo e teólogo Leonardo Boff,

A atitude é uma fonte, gera muitos atos que expressam a atitude de fundo. Quando dizemos, por exemplo: ‘nós cuidamos de nossa casa’ subentendemos múltiplos atos como: preocupamo-nos com as pessoas que nela habitam, dando-lhes atenção, garantindo-lhes as provisões e interessando-nos com o seu bem-estar. (1999, p.74)

Atitude básica, portanto, é um somatório de pequenos atos que, especificamente no campo do trabalho social e educativo, pode influir decisivamente para intervir no curso de uma vida, pois o educando muda, porque é compreendido e aceito; e não é compreendido e aceito porque muda. A presença educativa é uma necessidade vital!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: Ética do Humano – Compaixão

pela Terra. Petrópolis/RJ: Vozes, 6ª Edição, 1999.

COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Educação. São Paulo/SP: Salesiana (Coleção valores), 2008.

COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Pedagogia da Presença – Da

Solidão ao Encontro. Belo Horizonte/MG: Modus Faciendi, 2001.

VECCHI, Juan E.; Educadores na Era da Informática, tradução de Fausto Santa Catarina. São Paulo/SP: Salesiana, 2001.

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