FISIOLOGIA DIGESTIVA:
POLIGÁSTRICOS
Texto de apoio para a Unidade Curricular de Anatomia e Fisiologia Animais II - CTA.
(Para uso exclusivo dos alunos)
Índice:
FISIOLOGIA DA DIGESTÃO: POLIGÁSTRICOS OU RUMINANTES 1 1. DIGESTÃO MECÂNICA DOS ALIMENTOS 1
2. DIGESTÃO BIOLÓGICA DOS ALIMENTOS 3
3. DIGESTÃO QUÍMICA DOS ALIMENTOS 8
4. DIGESTÃO BIOLÓGICA DOS ALIMENTOS (2º local de digestão) 10
FISIOLOGIA DA DIGESTÃO:
POLIGÁSTRICOS OU RUMINANTES
Nos ruminantes, a decomposição dos ALIMENTOS em NUTRIENTES, posteriormente absorvidos ao nível das mucosas do trato digestivo, é feita por três processos complementares:
1) PROCESSOS MECÂNICOS;
2) PROCESSOS BIOLÓGICOS ou MICROBIANOS; 3) PROCESSOS QUÍMICOS ou ENZIMÁTICOS.
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TRITURAÇÃO
a) Mastigação rápida
(70 a 90 movimentos/minuto - bovinos) (125 a 150 mov/min - ovinos e caprinos) Os alimentos, pouco divididos, acomulam-se no rúmen, juntamente com a água bebida e a saliva.
b) Ruminação
(4 a 10 h/dia, em 6 a 8 períodos de 40 a 50 min cada) i) Regurgitação dum bolo alimentar;ii) Deglutição da porção líquida e expulsão dos gazes produzi-dos no processo fermentativo;
iii) Remastigação do bolo alimentar regurgitado a um ritmo mais lento que o da primeira mastigação (50 a 60 mov/min);
iv) Deglutição do bolo alimentar remastigado, que regressa ao rúmen.
O estímulo inicial para desencadear o processo de regurgitação e de ruminação, é fornecido pela acção dos ALIMENTOS GROSSEIROS AO NÍVEL DA GOTEIRA ESOFÁGICA E DO CÁRDIA.
A RUMINAÇÃO É UM PROCESSO SEMI-REFLEXO/SEMI-VOLUNTÁRIO QUE, PARA SE VERIFICAR, NECESSITA DA ACÇÃO COORDENADA DOS MÚSCULOS LIGADOS AOS MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS, DOS MÚSCULOS ABDOMINAIS, DOS MÚSCULOS DO ESÓFAGO E DOS
MÚSCULOS LIGADOS À MOTRICIDADE DOS COMPARTIMENTOS GÁSTRICOS.
Para que se desencadeie o processo de RUMINAÇÃO:
O retículo-rúmen tem de se encontrar suficientemente cheio. Se estiver totalmente cheio, a produção e acumulação excessiva de gás vai inibir a ruminação;
A dieta deve conter alimentos grosseiros;
Os alimentos devem encontrar-se num meio suficientemente líquido. Uma insalivação fraca inibe a ruminação;
Os animais devem encontrar-se em repouso e em bom estado
sanitário.
A duração total dos processos de mastigação (primeira mastigação
e ruminação) depende do teor em fibra dos alimentos.
ENSALIVAÇÃO
A secreção de saliva nos ruminantes é muito desenvolvida e
contínua 100 a 200 L/dia em bovinos; ~10 L/dia em ovinos.
1 Kg/h entre as refeições
5 Kg durante a ingestão de alimento Muito mais durante a ruminação
Líquido incolor, inodoro e insípido;
PROPRIEDADES
pH entre 8.2 e 8.4;
E COMPOSIÇÃO
99 a 99.5% de água;
DA SALIVA
Compostos inorgânicos: fosfatos de sódio e
potássio, bicarbonatos e sais básicos
que ajudam a neutralizar os ácidos
produzidos pela fermentação ruminal;
Compostos orgânicos: Elevado conteúdo em
ureia (10 a 35 mg/cc), proteínas,
mucina
A saliva dos ruminantes actua como solução tampão e não tem enzimas (amilase ou ptialina) como a do Homem edos suínos
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Quando se detecta uma pequena produção de saliva durante a ingestão alimentar, nomeadamente durante a ingestão de alimentos pobres em fibra ou muito fraccionados, pode aparecer uma situação patológica, a
meteorização - acumulação excessiva de gases (CH4 e CO2) no rúmen.
HOMOGENIZAÇÃO RUMINAL
Os alimentos, líquidos e sólidos, após a primeira mastigação ou após a ruminação, caem no rúmen* onde, através dos movimentos das paredes ruminais, são homogeneizados com o líquido ruminal.
*Excepções:
vitelos até às 4 semanas de vida (leite e água); bezerros em aleitamento (só o leite);
animal adulto em sede pronunciada; animal adulto ingerindo soluções salinas.
O tempo de permanência de um alimento grosseiro no rúmen varia: pode ir de cerca de 1.5 dias para uma pastagem jovem a cerca de 5 (ou mais) dias para a palha.
Reflexo da
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A digestão biológica ou microbiana é uma característica dos herbívoros (mono e poligástricos) e realiza-se no retículo-rúmen (poligástricos) e no ceco (mono e poligástricos).
Os microorganismos responsáveis pela digestão biológica dos alimentos encontram-se no retículo-rúmen (que não é mais que uma cuba de fermentação) e no ceco (IG).
temperatura elevada (39 a 40ºC);
meio anaeróbio (60-70% CO2 e 25-35% CH4);
pH relativamente constante (6 a 7);
homogeneização permanente do conteúdo; entrada regular de forragens/grosseiros; presença da flora e fauna ruminal em
simbiose com o ruminante:
Os AGV são neutralizados pelos sais básicos salivares e pelo NH3 obtido através da digestão
microbiana dos compostos azotados.
Protozoários ciliados (20 a 200)
- 104 a 106 por mL de líquido ruminal
- Alimentam-se de bactérias e glúcidos e prótidos alimentares
- Começam a desaparecer a pH < 5.5 Bactérias (< 1)
- 1010 a 1011 por mL de líquido ruminal
- Prevotella, Fibrobacter, Ruminococcus,
Streptococcus, Ruminobacter, Clostridium ...
- Produtoras de enzimas amilolíticos, celu- lolíticos, lipolíticos e proteolíticos - Bactérias produtoras das vitaminas do
grupo B
Fungos e leveduras
- 106 a 108 por mL de líquido ruminal
CARACTERÍSTICAS DO MEIO RUMINAL
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PRINCIPAIS ATIVIDADES DOS MICROORGANISMOS RUMINAIS
ATIVIDADE HIDROLÍTICA Hidrólise dos alimentos com recurso à produção de enzimas amilolíticas, celulolíticas, lipolíticas e proteolíticas
Os produtos finais resultantes desta atividade são principalmente oses (C5 e C6), amoníaco (NH3), ácidos gordos, glicerol e minerais
ATIVIDADE FERMENTATIVA Atividade realizada no meio anaeróbio ruminal, a partir dos produtos resultantes da hidrólise dos alimentos
Os produtos finais resultantes desta atividade são essencialmente
energia (ATP e calor), gases perdidos por eructação e ácidos gordos voláteis (AGV), produtos terminais da fermentação anaeróbia
ATIVIDADE SINTETIZADORA Desta atividade, resultam a biomassa constituinte dos microorganismos, os seus poli-holósidos de reserva (o ”amido” dos microorganismos) e vitaminas do grupo B.
Nos ruminantes, a digestão biológica ou microbiana realiza-se primeiramente no retículo-rúmen, através da
atividade das enzimas dos microorganismos ruminais.
GLÚCIDOS LÍPIDOS SUBST. AZOTADAS Substâncias
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Enzimas microbianas celulases e hemicelulases amilases e oligoglucosidases sacarases, lactases e maltases lipases e fosfolipases proteinases, polipeptidases e peptidases GLÚCIDOS SOLÚVEIS AMIDO CELULOSE e HEMICELULOSES Algumas celuloses e hemiceluloses Algumas hexoses, dextrina e amidoÁcidos gordos voláteis
(AGV) + Energia e gases TRIACILGLICERÓIS Monoacilgliceróis, ácidos gordos (AG) e
glicerol Biomassa microbiana FOSFOLÍPIDOS Glicero-fosfato Colina Biomassa microbiana PROTEÍNAS POLIPEPTÍDEOS SUBST. AZOTADAS NÃO PROTÍDICAS AMINOÁCIDOS (Aa) Amoníaco (NH3) Aa microbianos Biomassa microbiana absorvidas H20 Iões (Na+, K+, Cl-...) Pequenas quantidades de glucose AGV NH3 em excesso
CTA 7 A simbiose ruminante - microorganismos permite ao animal: Utilizar os AGV (ácido acético, ácido propiónico e ácido
butírico) absorvidos no rúmen, como substrato
energético;
Beneficiar da síntese das vitaminas do grupo B;
Digerir a biomassa microbiana, rica em proteína e veiculando praticamente todos os aminoácidos essenciais ao organismo animal.
Toda a modificação alimentar brusca altera o ambiente
ruminal, afetando assim as condições de vida dos
microorganismos. Isto pode repercutir-se na sua
capacidade de sobrevivência e portanto, na saúde do
ruminante, com o qual estes microorganismos se
encontram em simbiose;
Assim, toda a mudança de regime alimentar nos
ruminantes deve ser progressiva.
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A digestão química ou enzimática dos alimentos realiza-se em meio gástrico (nos ruminantes, no abomaso, um meio ácido) e em meio intestinal (meio alcalino).
DIGESTÃO GÁSTRICA
GLÚCIDOS LÍPIDOS SUBST. AZOTADAS Substâncias
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Suco gástrico [lipase gástrica] HCl* pepsinogénio pepsina (renina coagulação leite) muco, H2O, aniões, catiõesAlgum amido alimentar não digerido pelos microrganismos (Mo) GLÚCIDOS MICROBIANOS COLESTEROL Triacilgliceróis Fosfolípidos LÍPIDOS MICROBIANOS Polipeptídeos alimentares não digeridos pelos Mo PROTEÍNA MICROBIANA AGV não absorvidos no rúmen (10 a 30%) H20
Substâncias absorvidas ao nível da mucosa do omaso e abomaso.
absorvidas
CTA 9 DIGESTÃO INTESTINAL(a)
GLÚCIDOS LÍPIDOS SUBS. AZOTADAS Substâncias
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Suco pancreático -amilase pancreática oligoglucosidase e maltase lipase pancreática e -fosfolipases tripsinogénio(*1) tripsina(*2) quimotripsinogénio(*2) quimotripsina pró-carboxipeptidases(*2) carboxipeptidases desoxiribo e ribonucleases bicarbonato de sódioSuco entérico ou intestinal α-dextrinase
sacarase, lactase e maltase colesterol esterase e -fosfolipases pró-amino e pró-carboxipeptidases(*2) amino e carboxipeptidases pró-dipeptidases(*2) dipeptidases enteroquinase(*1)
muco, água, sais minerais...
Algum Amido (e glicogénio) Dextrinas Sacarose, lactose e maltose Glucose Algumas dextrinas Sacarose, lactose e maltose Glucose Glucose, galactose, frutose e manose Xilose Glúcidos de origem microbiana Triacilgliceróis Monoacilgliceróis AG e glicerol Triacilgliceróis Fosfolípidos Glicero-fosfato Colina Colesterol AG cadeia curta Lípidos de origem microbiana Proteínas Polipeptídeos Peptídeos Dipeptídeos Aminoacidos Proteínas e peptídeos de origem microbiana Glucose Frutose Galactose Manose Xilose Triacilgliceróis Acilgliceróis... Ác. gordos Aminoácidos H2O e minerais Vitaminas
(a) Nos ruminantes lactantes, a produção de sucos digestivos do ID só se inicia 24 a 65 horas após o seu nascimento.
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Sais biliares Colesterol Iões bicarbonato
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Nos ruminantes, a digestão biológica ou microbiana também se realiza no intestino grosso, mais precisamente no ceco, através da atividade das enzimas dos microorganismos cecais.
GLÚCIDOS LÍPIDOS SUBST. AZOTADAS Substâncias
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Enzimas microbianas celulases e hemicelulases amilases e oligoglucosidases sacarases, lactases e maltases lipases e fosfolipases proteinases, polipeptidases e peptidases Algum amido (e dextrinas)*Alguma sacarose, lactose, maltose e glucose* Celulose* e hemiceluloses* Algumas celuloses e hemiceluloses Algumas hexoses
Ácidos gordos voláteis
+ Energia e gases Alguns triacilgliceróis* Monoacilgliceróis, AG e glicerol Biomassa microbiana Alguns fosfolípidos* Glicero-fosfato Colina Biomassa microbiana Algumas proteínas* e polipeptídeos* Substâncias azotadas não protídicas* Aminoácidos Amoníaco (NH3) Aa microbianos Biomassa microbiana absorvidas H20 Iões (Na+, K+, Cl-...) Minerais Pequenas quantidades de glucose AGV
FORMAÇÃO DAS FEZES
*Estes nutrientes escaparam, em maior ou menor quantidade, ao ataque realizado pelas enzimas dos microorganismos ruminais e do animal nas porções anteriores do tubo digestivo; são esses “restos” da digestão biológica e química que são atacados pelas enzimas microbianas no ceco, além dos glúcidos estruturais ou parietais e das substâncias azotadas não protídicas que escaparam à digestão biológica ruminal.
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BIBLIOGRAFIA:
Frandson, R.D.; T.L. Spurgeon (1995). Anatomia y Fisiologia de los Animales Domésticos. Interamericana – McGraw-Hill (5ª edicion), México.
Reece, W.O. (2005). Functional anatomy and physiology of domestic animals. Lippincott, Williams & Wilkins (3rd edition), USA.
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Swenson, M.J.; W.O. Reece (1993). Duke’s Fisiologia dos animais domésticos. Guanabara Koogan S.A. (11ª Edição), Rio de Janeiro.
Van Wynsberghe, D.; C.R. Noback; R. Carola (1995). Human Anatomy and Physiology. McGraw-Hill, Inc. (3rd. edition), New York.