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Idosos num Brasil que envelhece: uma análise multidimensional da pobreza

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Idosos num Brasil que envelhece: uma análise multidimensional da

pobreza

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Cíntia Simões Agostinho** Geovane da Conceição Máximo***

Palavras-chave: Envelhecimento, Pobreza Multidimensional, Vulnerabilidade Social.

O envelhecimento populacional, no Brasil, resultado da queda sustentada da fecundidade, aconteceu de forma rápida e num curto intervalo de tempo, sem a necessária reorganização na esfera econômica, social e política do país exigida por aquele fenômeno.

Como não foram realizadas reformas que acompanhassem esta mudança na estrutura etária, as pessoas que atingem atualmente idades acima dos 50 anos formam um grupo vulnerável dentro da sociedade brasileira, uma vez que predominam indivíduos com baixa escolaridade , com grande prevalência de doenças crônicas e dificuldade na mobilidade física. Tradicionalmente, a vulnerabilidade social tem sido associada à pobreza, apesar de serem conceitos diferentes. Não se pode negar, no entanto, que ambos estão muito relacionados. A pobreza era vista anteriormente como uma questão unidimensional, em que geralmente se consideravam, no seu estudo, medidas baseadas na carência de renda. Mais recentemente tem-se difundido na literatura que a pobreza é um fenômeno multidimensional, e que medida desta maneira poder-se-ia avaliá-la de forma mais substantiva.

O objetivo deste trabalho é analisar a situação de vulnerabilidade social/pobreza na qual se encontram os grupos formados por adultos mais velhos e idosos comparativamente àqueles de indivíduos mais jovens. Foram incorporadas na análise características familiares e demográficas, socioeconômicas, de saúde e de inserção dos indivíduos no mercado de trabalho.

O método utilizado foi o Grade of Membership – GoM – que é empregado para delinear perfis a partir de uma base de dados heterogênea, multidimensional, permitindo identificar grupos e descrever as diferenças entre os mesmos.

Os resultados encontrados apontam para uma maior vulnerabilidade de mulheres adultas mais velhas e idosas e para a importância de se incluir características de saúde do indivíduo num estudo sobre pobreza.

* Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em

Caxambu- MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006.

** Doutoranda em Demografia pelo Cedeplar/UFMG. Bolsista de pós-graduação da Fapemig.

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Idosos num Brasil que envelhece: uma análise multidimensional da

pobreza

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Cíntia Simões Agostinho** Geovane da Conceição Máximo***

1) Introdução

A mudança na estrutura etária populacional, decorrente da queda da fecundidade e da mortalidade já é fato extensamente difundido na literatura. Esse declínio na fecundidade e mortalidade, fenômeno conhecido como transição demográfica, ocorreu de forma gradual nos países desenvolvidos, levando a um envelhecimento populacional também gradativo. No Brasil, e em outros países da América Latina, essa transição está se dando num intervalo mais curto de tempo, sendo que o declínio da fecundidade, principalmente, ocorre de forma mais rápida do que nos países desenvolvidos. Como esta mudança tem um impacto direto na estrutura etária, que resulta em um envelhecimento da população, o Brasil está tendo que se adaptar de forma mais brusca a essa nova composição populacional.

Além da velocidade com que o envelhecimento está se dando, deve-se analisar o contexto econômico e social em que este fenômeno vem ocorrendo, que, na América Latina é marcado por grande incidência de pobreza e desigualdade de renda e um fraco desenvolvimento institucional das estruturas de proteção social (GUZMÁN, 2002; apud PAZ et al, 2004). Em contextos marcados por carências no campo econômico e social, os idosos podem se tornar pessoas mais vulneráveis, uma vez que nesse grupo a capacidade de geração de renda geralmente é pequena.

Deste modo, o risco de entrada e/ou permanência na pobreza entre os idosos é elevado, o que gera uma necessidade de políticas voltadas para este público. No entanto, estimativas de pobreza, que normalmente consideram apenas medidas de carência de renda, podem não refletir adequadamente a real situação dos idosos, uma vez que as condições de saúde, de moradia, o apoio familiar, entre outros, não são considerados na análise. Mais do que estudar o volume da renda, conhecer qual é a fonte de renda do idoso é importante. Se a renda provém de aposentadoria ou pensão, isso proporcionaria a ele uma certa independência econômica, sendo que, neste caso, a convivência num domicílio multigeracional poderia ser vista como uma opção e não uma necessidade. Por outro lado, se a renda é gerada a partir do trabalho do idoso isso pode significar que ele tem boa condição de saúde, ou também que a renda recebida de outras fontes não é suficiente, sendo necessário buscar o mercado de trabalho para complementar a renda dele. Uma terceira possibilidade é a de que o idoso não tenha nenhum tipo de renda, mas resida juntamente com membros da família auferindo-lhe certo nível de renda. Neste caso, o apoio familiar é importante para amenizar a situação de vulnerabilidade do idoso.

Sendo assim, para melhor analisar a condição do idoso é necessário tratar a pobreza como um fenômeno multidimensional, considerando variáveis que reflitam a realidade socioeconômica do mesmo.

* Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em

Caxambu- MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006.

** Doutoranda em Demografia pelo Cedeplar/UFMG. Bolsista de pós-graduação da Fapemig.

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Neste trabalho, adotando-se o conceito de pobreza multidimensional, busca-se delinear perfis de pobreza, considerando a população brasileira acima de 15 anos, a partir dos dados da PNAD 2003. A análise enfoca especialmente a população adulta mais velha e idosa, que em um ambiente marcado por pobreza, desigualdade social e debilidade institucional, torna-se mais vulnerável aos riscos socioeconômicos e demográficos. Na análise multidimensional da pobreza são consideradas variáveis que englobam características individuais, familiares, de domicílio, de inserção no mercado de trabalho e de saúde.

O artigo está estruturado da seguinte forma: a seção 2 apresenta uma breve revisão da literatura sobre o processo de envelhecimento populacional, destacando o Brasil neste contexto; estabelece, também, o marco teórico do trabalho, baseando-se na literatura sobre vulnerabilidade social e demográfica e de pobreza multidimensional. A seção 3 apresenta a metodologia utilizada (descreve a fonte de dados e o método Grade of Membership utilizado para gerar os perfis). A quarta e quinta seções apresentam, respectivamente, os resultados encontrados e uma discussão dos mesmos. Por fim, a seção 6 esboça algumas considerações finais e recomenda uma agenda para trabalhos futuros.

2) Revisão de literatura

O processo de envelhecimento populacional é um fenômeno sócio-demográfico caracterizado pelo aumento da proporção de pessoas nas idades mais avançadas, como resultado direto da queda da fecundidade e do aumento da longevidade, embora esse último fator tenha um caráter coadjuvante no processo.

A queda da fecundidade pode ser explicada pelo metabolismo social, através do qual mudanças nos valores sociais, como um todo, se dão porque valores antigos desaparecem com as gerações mais velhas, simultaneamente ao surgimento de novos valores entre as gerações mais jovens (RYDER, 1965).

O aumento da longevidade, por sua vez, está ligado, em grande parte, ao desenvolvimento socioeconômico e às melhorias nas condições de vida e de saúde da população.

O efeito conjunto da queda dos níveis dessas duas componentes da dinâmica demográfica, isto é, da fecundidade e da mortalidade, é a materialização do chamado metabolismo demográfico, que corresponde ao processo de renovação ou de substituição, através de incrementos e decrementos, pelo qual a população se modifica ao longo do tempo em seu tamanho e estrutura (BERQUÓ, 1991).

Esse processo se apresenta hoje em estágios diferenciados nos mais diversos países do mundo. Enquanto os países desenvolvidos já se vêem empenhados em aproveitar as oportunidades que advêm com o envelhecimento populacional, bem como em “driblar” os enormes desafios que tal fenômeno traz para as agendas sócio-políticas nacionais (sobretudo no que se refere à gestão dos sistemas de saúde e de previdência), muitos países do mundo subdesenvolvido, no entanto, ainda nem começaram a aproveitar as oportunidades advindas com o período de transição da fecundidade, embora os desafios já sejam uma realidade.

Os desafios são expressivos e têm levado à discussão sobre o impacto do aumento relativo de idosos na população. O sistema de saúde precisaria se adaptar para atender esse volume maior de pessoas idosas, que demanda cuidados diferentes por apresentar quadro de morbidade diferenciado. Com relação ao regime previdenciário o desafio também é grande, pois com o sistema de repartição simples adotado no Brasil os gastos com os beneficiários de pensão e aposentadoria têm crescido consideravelmente com o envelhecimento da população.

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Entre as oportunidades que surgem com o envelhecimento populacional está, por exemplo, a possibilidade de melhorias na qualidade da educação para as crianças, uma vez que elas passam a constituir parcela menor (do que antes) na estrutura populacional. Deste modo, a preocupação passa da quantidade de crianças que demandam ensino para a qualidade deste ensino. Outra oportunidade que se apresenta na discussão sobre a mudança na estrutura etária é o aumento temporário das pessoas em idade ativa, o que poderia contribuir para o crescimento das riquezas do país, na medida em que esta população é absorvida pelo mercado de trabalho.

Para se ter uma idéia da magnitude dos desafios impostos pelo novo padrão demográfico, no Brasil, em 31/07/2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população total recenseada era da ordem de 169 milhões de habitantes, sendo que, desse total, 8,6% tinha 60 anos ou mais, o que representa algo em torno de 14,5 milhões de pessoas (IBGE, 2000). Carvalho & Garcia (2003), utilizando modelos de populações estáveis1, considerando a estrutura etária estável correspondente ao ano 2000, mostram que a proporção de idosos (pessoas com 60 anos ou mais de idade), no Brasil, representará, no mínimo, 19,3% da população total do País na hipótese improvável de que, a partir do ano 2000, não houvesse mais queda da fecundidade.

Nesse mesmo sentido, Paz et al (2004) argumentam que o Brasil terá, em apenas 40 anos um aumento percentual maior na população de pessoas maiores de 65 anos do que a Holanda e a Finlândia tiveram no período compreendido entre 1900 e 2000. Assim, segundo eles, os países latino-americanos que enfrentam, neste momento, o fenômeno do envelhecimento demográfico, tal é o caso do Brasil, devem se precaver para enfrentar suas conseqüências com muito mais seriedade do que o fizeram os países europeus.

Outro aspecto que deve ser analisado ao se estudar o aumento na proporção de idosos é o contexto em que este fenômeno se dá. No Brasil, essas mudanças demográficas têm se dado num contexto marcado pela pobreza e pela ampla desigualdade social, ambiente em que a população idosa se torna particularmente vulnerável. Definir e medir vulnerabilidade social e demográfica não é uma questão trivial e nem é o objetivo desse artigo discutir em profundidade esses aspectos. Cutter (1996; apud NEPO, 2003) argumenta existir mais de dezoito tipos diferentes de vulnerabilidade.

As formulações iniciais desse conceito são encontradas no denominado “asset / vulnerability framework” de Caroline Moser e sua equipe do Banco Mundial. Segundo essa concepção, a vulnerabilidade, ou seja, a debilidade objetiva dos pobres para sobreviver à vida cotidiana ou a crises econômicas poderia ser superada com a gestão adequada dos recursos desses indivíduos (seus ativos), independentemente deles serem escassos (VIGNOLI, 2004).

Essa forma de conceber o conceito, ora em discussão, levou a uma vinculação direta da vulnerabilidade com a idéia da pobreza, mas o conceito de vulnerabilidade mudou muito ao longo dos últimos anos. Uma definição bastante atual é encontrada em Kaztman (2000) que define a vulnerabilidade social como a incapacidade de uma pessoa ou de um domicílio para aproveitar-se das oportunidades, disponíveis em distintos âmbitos sócio-econômicos, para melhorar sua situação de bem estar ou impedir sua deterioração.

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, três idéias resumem a noção da vulnerabilidade social e demográfica: a primeira delas se refere à exposição a determinados riscos (sociais, econômicos ou demográficos); a segunda à capacidade do indivíduo ou

1 Trata-se de um exercício contrafactual onde se deriva a estrutura etária que uma população deve

atingir se não houver mais mudanças nas funções de fecundidade e de mortalidade, que são dadas, respectivamente, pelo conjunto das diversas taxas específicas (por grupos de idade) de fecundidade e de mortalidade, observadas, num determinado ano, naquela população.

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família de se enfrentá-los; e, a terceira, à potencialidade de que os referidos riscos resultem em conseqüências importantes para os afetados (NEPO, 2003).

A vulnerabilidade social possui várias dimensões, entre elas pode-se listar: i) as características próprias dos indivíduos ou de suas famílias; ii) suas características sociais e demográficas; iii) os bens que ele possui (NEPO, 2003). Dado esse caráter multidimensional da vulnerabilidade, para se determinar as debilidades de cada indivíduo ou de uma população específica em estudo, Kaztman (2000) sugere a análise dos seguintes aspectos:

a) o capital físico – que engloba o capital físico propriamente dito (moradia, maquinários, terras, bens, etc) e o capital financeiro (poupança, crédito, previdência), responsáveis pelo bem-estar do indivíduo e / ou de sua família.

b) o capital humano – que se refere ao trabalho (ativo principal) e ao valor agregado ao mesmo pelo investimento em saúde e educação, o que pode gerar mais capacidade física para o próprio trabalho ou maior qualificação para o mesmo.

c) o capital social – que se refere às redes sociais e familiares, de confiança e de contato de que dispõe um indivíduo para ter acesso à informação.

O conceito de vulnerabilidade social, encarado como um fenômeno de várias dimensões, surgiu como uma alternativa metodológica à medição unidimensional de pobreza. No entanto, a forma tradicional de se medir a pobreza, geralmente pela carência de renda, ainda tem sido bastante utilizada. As linhas de indigência e de pobreza são medidas que captam a incidência da pobreza, sendo a primeira caracterizada pelo valor monetário necessário para a aquisição de uma cesta de alimentos que contenha a quantidade calórica mínima à sobrevivência, enquanto a linha de pobreza é o valor da linha de indigência somado a um montante monetário para que a pessoa seja capaz de atingir um padrão de vida mínimo socialmente aceitável. Existe também a possibilidade de que a linha de pobreza ou indigência seja medida a partir da renda média da população ou como um percentil da distribuição de renda, sendo que, neste caso, a medida da pobreza se confundiria com uma medida de desigualdade da distribuição de renda. Já a medida de insuficiência de renda de um indivíduo considerado pobre é dada pelo montante necessário para que sua renda atinja a linha de pobreza ou de indigência (HOFFMANN, 1998).

A utilização de medidas de pobreza baseadas na renda é usualmente justificada com base na relação entre a carência de renda e outras privações associadas a ela; na dificuldade de ponderação e agregação de diferentes dimensões sociais; e na necessidade de medidas homogêneas que possibilitem comparabilidade entre distintas regiões ou localidades. Uma medida alternativa para se estimar a pobreza pode ser encontrada em Rocha (2000), que estima linhas de pobreza a partir do consumo observado e mostra que existem várias possibilidades metodológicas a cada etapa do procedimento de construção das linhas que, por sua vez, determinam diferentes valores para os indicadores de pobreza.

Uma limitação das medidas de pobreza unidimensionais é que elas dicotomizam a população entre “pobre” e “não-pobre”, separando, respectivamente, aqueles que estão abaixo ou acima de linhas de pobreza ou de indigência. Deste modo, encarar a pobreza como um fenômeno de uma única dimensão, como se faz quando se utiliza a carência de renda, produz uma medida bastante imperfeita para se analisar as condições de vida de uma pessoa ou família. Como destacado anteriormente, essa forma tradicional de se medir a pobreza ainda é adotada para nortear a concessão de Programas Sociais do Governo Federal, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família2.

2 O critério de concessão para o BPC é que o idoso ou a pessoa portadora de deficiência tenha renda

mensal familiar per capita inferior a ¼ do salário mínimo. Para o Bolsa Família há dois tipos de benefício: um em que o critério é de renda mensal familiar per capita inferior a 50 reais, e outro em que o teto da renda é de 100 reais per capita.

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Apesar da fragilidade da medida de pobreza com base na carência de renda, Brandt (2001; apud CAMARGO, 2004) mostra a importância da transferência proveniente de aposentarias e pensões da previdência social na redução da pobreza para as pessoas com mais de 55 anos de idade. O autor estima também que se não houvesse previdência social no Brasil, mais de 60% das pessoas com mais de 80 anos seriam pobres. Sabe-se que, no Brasil, uma parcela substancial (mais de 60%) dos gastos sociais é destinada à previdência social (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2003), sendo que uma grande parte dos beneficiários é a população com 65 anos ou mais de idade. Lavinas et al (2004) defende uma política de transferência universal de renda destinada às crianças, como medida de redistribuição de renda. Em seu trabalho, Lavinas et al (2004) analisa o impacto de uma transferência de renda universal sobre os decis de renda, sobre o volume de pobres e sobre o índice de Gini, considerando dois grupos como público alvo: as crianças até 16 anos e os idosos com 65 anos ou mais. Os resultados mostraram que uma transferência de renda de 60 reais para todas as crianças de até 16 anos gera um aumento considerável na renda real média nos primeiros décimos da distribuição de renda familiar per capita, enquanto as mudanças são pequenas nos décimos mais altos. Já uma transferência de 60 reais aos idosos não altera significativamente a renda familiar per capita média nos décimos de renda. O volume de pobres diminui substancialmente e o índice de Gini abaixa quando a transferência é destinada às crianças.

O consenso de que a pobreza é um fenômeno mais complexo e de muitas dimensões é crescente na literatura sobre este assunto. A divergência que surge sobre a medida da pobreza multidimensional está na dificuldade de operacionalização de agregação das diversas dimensões da pobreza para obter uma medida escalar (BARROS et al, 2005).

Uma questão que se coloca num trabalho em que a pobreza é vista como um fenômeno multidimensional é determinar quais são suas dimensões. Barros et al (2005) procuram construir um índice escalar de pobreza multidimensional familiar para análise de sua natureza, perfil e evolução. Para que se possa investigar a evolução da pobreza multidimensional, os autores sugerem a utilização de dados da PNAD, que tem sido realizada há mais de duas décadas, incorporando perguntas que são investigadas de forma consistente nesta pesquisa. Os autores propõem seis dimensões, que são: vulnerabilidade, acesso ao conhecimento, acesso ao trabalho, escassez de recursos, desenvolvimento infantil e carências habitacionais.

Segundo Barros et al (2005) a vulnerabilidade de uma família representa o volume adicional de recursos que ela requer para satisfazer as necessidades básicas, em relação ao que seria requerido por uma família padrão, considerando que a presença de crianças e idosos aumenta a vulnerabilidade de uma família. O acesso ao conhecimento é um dos meios que a família dispõe para satisfazer suas necessidades. O acesso ao trabalho representa a oportunidade que uma pessoa tem de utilizar sua capacidade produtiva. A escassez de recursos procura investigar o volume de renda da família, uma vez que para satisfazer a maioria das necessidades básicas é necessário adquirir bens e serviços no mercado, e que parte desta renda advém de transferências governamentais. O desenvolvimento infantil representa o afastamento da criança da escola ou seu atraso, e também o trabalho precoce da criança. As carências habitacionais, por sua vez, guardam relação com as condições de saúde (Barros et al, 2005).

Como este arcabouço foi construído para medir a pobreza da família utilizando somente as informações do questionário básico da PNAD, para execução deste trabalho, algumas mudanças nas dimensões foram realizadas. As dimensões foram reorganizadas agrupando os indicadores considerados relevantes. São elas: 1) características individuais, incluídas por se tratar de um estudo de indivíduos e não de família, mas ainda assim relacionada com a dimensão de acesso ao conhecimento proposta no trabalho de Barros et al (2005); 2) características de contexto e do domicílio, que agregam características das

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carências habitacionais, de vulnerabilidade e de escassez de recursos; 3) características da saúde, que não estão previstas diretamente no modelo, mas considerou-se ser uma dimensão importante considerando a disponibilidade da informação na pesquisa; 4) características de inserção no mercado de trabalho, relacionadas com a dimensão de acesso ao trabalho. Como as pessoas menores de 15 anos foram retiradas do estudo, devido à indisponibilidade de algumas variáveis em análise para este grupo, não se considerou a dimensão de desenvolvimento infantil.

Deve-se mencionar que a escolha das dimensões da pobreza e das variáveis que são incluídas em cada uma delas não altera o resultado obtido quando se utiliza a metodologia proposta.

3) Metodologia

3.1) Dados

Os dados analisados são os obtidos a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2003 que, além de investigar características gerais de população, educação, trabalho, rendimento e habitação, contém um suplemento de saúde. Em 2003, a PNAD cobriu todo o País, com exceção da área rural de seis Unidades da Federação3. As variáveis que foram selecionadas, representando as características de cada dimensão descritas na revisão de literatura, são:

1) características individuais: sexo; grupo etário; cor/raça; anos de estudo, como proxy para falta de acesso ao conhecimento; condição na unidade domiciliar; condição de migração.

2) características de contexto e do domicílio: Unidade da Federação de residência; situação do domicílio; total de moradores no domicílio, como proxy para suporte familiar; renda domiciliar per capita4

e número de bens de consumo5; como proxy de nível socioeconômico; tipo de família, para medir vulnerabilidade da família; presença de alguém no domicílio que receba programa voltado para educação, como indicadora para renda auferida de transferências; número de cômodos no domicílio; presença de água canalizada em pelo menos 1 cômodo do domicílio; forma de escoadouro do banheiro ou sanitário; destino do lixo domiciliar; e forma de iluminação do domicílio, para medir condições habitacionais.

3) características de saúde: estado de saúde auto declarado; número de doenças crônicas6; número de outras doenças7; se, por motivo de saúde, deixou de realizar tarefa ou esteve acamado nas duas últimas semanas; e variáveis de mobilidade

3 As seis Unidades da Federação correspondem à antiga Região Norte, que são: Rondônia, Acre,

Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

4 A renda domiciliar per capita foi construída utilizando a variável valor do rendimento mensal de todas

as fontes. Deve-se mencionar que as categorias pensionista, empregado doméstico e parente de empregado doméstico não foram consideradas nem no numerador, nem no denominador deste indicador, sendo que para pensionista a renda domiciliar per capita foi a dele próprio e empregado doméstico e parente de empregado doméstico formaram outra “família” dentro do domicílio, com renda domiciliar per capita própria.

5 A variável bens de consumo foi construída pela soma não ponderada dos seguintes itens: domicílio

próprio, telefone fixo, fogão, filtro de água, rádio, televisão em cores, geladeira, freezer, máquina de lavar roupa e microcomputador.

6 Foram consideradas doenças crônicas: problema crônico na coluna ou nas costas, artrite ou

reumatismo, câncer, diabetes, hipertensão, doença do coração, insuficiência renal crônica e cirrose.

7 As outras doenças consideradas foram: bronquite ou asma, depressão, tuberculose, tendinite ou

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física e de limitação de atividades, selecionadas para captar a privação em saúde, conforme proposta de McGillivray e Shorrocks (2005); se consultou médico e esteve internado nos últimos 12 meses; e o valor do plano de saúde no caso de possuí-lo, servem como proxy para captar o acesso a serviços de saúde.

4) características de inserção no mercado de trabalho: condição de atividade e ocupação no trabalho principal da semana de referência; posição na ocupação deste trabalho; e tipo de atividade no trabalho principal, para medir acesso ao trabalho e qualidade do posto de trabalho; número de trabalhos na semana de referência; se saiu de algum trabalho no período de 358 dias (para aqueles que trabalhavam há menos de um ano no trabalho da semana de referência); e se exerceu algum trabalho no período de 358 dias, mas não estava ocupado na semana de referência, buscando captar a estabilidade no trabalho; contribuição para previdência social na semana de referência; contribuição para previdência privada no mês de referência; associação em sindicato no mês de referência; se recebia aposentadoria ou pensão na semana de referência, como proxy para renda auferida de transferências.

A partir da amostra completa foram retiradas as observações das pessoas com 14 anos ou menos, uma vez que as características de mobilidade física não foram pesquisadas para estas pessoas. Sendo assim, nesse estudo a amostra final totalizava 278312 observações.

3.2) Metodologia de análise

Para realizar o delineamento de perfis de vulnerabilidade das pessoas utiliza-se, neste trabalho, o método Grade of Membership (GoM), que se baseia na teoria dos conjuntos nebulosos. Esta metodologia resolve, simultaneamente, dois problemas no delineamento de perfis, que são a identificação de perfis e a descrição das diferenças nas características de cada perfil. Uma grande vantagem deste método é que ele admite que pessoas possam pertencer a mais de um perfil, permitindo que a heterogeneidade existente entre os casos possa ser expressa como uma componente do modelo (MANTON & VERTREES, 1984). O método GoM permite identificar pessoas na situação de vulnerabilidade, considerando as diferentes dimensões deste fenômeno.

Na aplicação do método GoM são necessários dados de J variáveis-resposta discretas, sendo que Lj é um número finito de categorias de respostas para a j-ésima variável. As variáveis de natureza intrinsecamente discreta têm codificação feita de forma direta, enquanto para variáveis contínuas é necessária recodificação em intervalos, gerando variáveis categóricas (CERQUEIRA, 2004).

De acordo com Sawyer et al (2002) a associação, não observada, entre as categorias de variáveis utilizadas no modelo descreve dois ou mais perfis, bem determinados, chamados de perfis de referência (k). Os perfis extremos correspondem a conjuntos fechados, clássicos e com todas as suas propriedades e para determinada pessoa (i) atribui-se um grau de pertinência a cada perfil extremo, denotado por gik. Esse grau de pertinência varia entre 0 e 1,

sendo que o valor 1 indica que a pessoa considerada possui 100% das características de determinado perfil de referência, enquanto o valor 0 representa que o indivíduo não possui nenhuma das características daquele perfil. Deste modo, quanto mais uma pessoa se aproxima de um perfil de referência, maior será o grau de pertinência a este perfil e menor grau aos demais. Convém destacar que a soma dos graus de pertinência de cada pessoa aos perfis gerados deve ser igual a 1. Os graus de pertinência das pessoas constituem um conjunto nebuloso. Deste modo, quanto maior o número de variáveis no modelo, melhor o conjunto fica definido, muito embora, quanto maior for o tamanho da amostra, maior será o tempo para

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a convergência do modelo, uma vez que os parâmetros são estimados a partir de processo iterativo combinado com uma função de máxima verossimilhança (MV).

Com o GoM estimam-se os graus de pertinência gik do i-ésimo elemento em relação

ao k-ésimo perfil e também os parâmetros λkjl, que correspondem à probabilidade da resposta

l, para a variável J, no perfil k. Os λkjl caracterizam os perfis de referência medindo a

probabilidade que tem uma pessoa, com grau de pertinência total ao perfil k, dada a resposta na categoria l, da variável j. Através da comparação entre as possíveis combinações de respostas nas categorias l do indivíduo com o conjunto de respostas configuradas no perfil extremo é que são determinados os graus de pertencimento (SAWYER et al, 2002).

Neste trabalho foi utilizado um modelo GoM de nível 1, sendo assim todas as variáveis foram inseridas no modelo de uma só vez. Com as estimativas dos valores de λkjl

para cada uma das variáveis que caracterizam as quatro dimensões previamente estabelecidas delineou-se os perfis de referência bem como foram calculados os graus de pertencimento gik

de cada indivíduo a esses perfis.

4) Análise dos resultados

4.1) Perfis de Referência

O delineamento dos perfis de referência é feito através da comparação dos valores das estimativas de λkjl com a freqüência marginal correspondente de cada variável. Esse

procedimento permite constatar e avaliar as características dominantes em cada perfil de referência.

A escolha do número de perfis a serem delineados baseou-se na literatura existente. Cerqueira (2004) ao delinear municípios e estabelecimentos escolares brasileiros considerou que 3 perfis de referência produziram resultados consistentes. Sawyer et al (2002) utilizou 4 perfis de referência para analisar perfis de consumo de serviços de saúde. No presente trabalho, ao comparar resultados com 3 e 4 perfis, optou-se por utilizar 4 perfis de referência, que discriminaram melhor as pessoas em relação às variáveis consideradas, tornando o resultado mais consistente.

Considerou-se que uma categoria l de uma variável j seria característica dominante do perfil de referência k se a razão entre o λkjl e as freqüências marginais correspondentes

fosse igual ou superior a 1,2 (Sawyer et al, 2002; Cerqueira, 2004). A escolha desse valor é baseada no grau de heterogeneidade que se pretende captar no estudo e, quanto maior for o valor, mais restritivo será o processo de inclusão de categorias de uma variável específica a um determinado perfil de referência. As características de cada perfil de referência, determinadas como mencionado, são descritas a seguir, segundo as dimensões consideradas.

As pessoas com grau de pertinência total ao Perfil de Referência 1 têm, predominantemente, as seguintes características:

1) características individuais: são do sexo feminino; com idade entre 15 e 29 anos; de 5 a 8 e de 9 a 11 anos de estudo; em relação ao responsável pelo domicílio são cônjuge, filho ou outro parente;

2) características de contexto e do domicílio: residem no Amazonas, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal; apresentam renda domiciliar per capita de até 0,25 salário mínimo8 (SM) e entre 0,25 e 0,50 SM; o tipo de família é de mãe com todos filhos menores de 14 anos, mãe com filhos maiores de 14 anos e mãe com filhos nos dois grupos etários;

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3) características de saúde: ausência de doenças crônicas; não têm dificuldade em três das sete características de mobilidade física;

4) características de inserção no mercado de trabalho: são ativos desocupados ou inativos; exerceu trabalho no período de 358 dias, mas não era ocupado na semana de referência, e também não exerceu trabalho neste período.

A descrição das características dominantes das pessoas do Perfil de Referência 2 é dada a seguir:

1) características individuais: são mulheres; de idade entre 50 e 59, 60 e 69 e de 70 anos e mais; cor/raça preta ou amarela; sem instrução ou menos de 1 ano de estudo, entre 1 e 4 ou 12 ou mais anos de estudo; no domicílio são pessoa de referência, cônjuge ou outro parente; residem na Unidade da Federação que nasceu, mas não no município, e, também, residem em Unidade da Federação diferente da que nasceu;

2) características de contexto e do domicílio: residem na Paraíba, Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás; o domicílio é situado na área rural e é composto por 7 cômodos ou mais; ausência de água canalizada em pelo menos um cômodo do domicílio; utilizam-se outras formas de escoadouro do banheiro ou sanitário; também outras formas para destino do lixo domiciliar; entre 1 e 2 moradores no domicílio; renda per capita domiciliar entre 1 e 2 salários mínimos (SM), entre 2 e 3 SM, entre 3 e 5 SM, entre 5 e 10 SM, e 10 SM e mais; família caracterizada por casal sem filhos e outro tipo de família; não existe alguém na família que receba programa voltado para educação;

3) características de saúde: auto declaram estado de saúde como regular ou ruim e muito ruim; por motivo de saúde, estiveram acamados ou deixaram de fazer tarefa nas duas últimas semanas; declararam a existência de 1 a 5 doenças crônicas; e de 1 a 3 outras doenças; têm plano de saúde até 50 reais, entre 50 e 100 reais, entre 100 e 200 reais, e 200 reais ou mais; consultaram médico nos últimos 12 meses; estiveram internados nos últimos 12 meses; têm pequena dificuldade para alimentar-se, tomar banho ou ir ao banheiro; e têm pequena dificuldade, grande dificuldade ou não conseguem realizar as demais (seis) atividades habituais ou físicas;

4) características de inserção no mercado de trabalho: no trabalho da semana de referência eram militares ou funcionário público, trabalhadores na produção própria e construção para próprio uso; atividade principal na semana de referência era agrícola; tinham dois ou mais trabalhos na semana de referência; contribui para instituto de previdência; contribui previdência privada; era aposentado ou pensionista na semana de referência.

No Perfil de Referência 3 as pessoas têm as seguintes características predominantes: 1) características individuais: são homens; entre 30 e 49 anos de idade; com 9 a 11 e

12 ou mais anos de estudo; é a pessoa de referência e outros no domicílio;

2) características de contexto e do domicílio: residem no Pará, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás; a renda domiciliar per capita está entre 0,75 e 1 salário mínimo (SM), entre 1 e 2 SM, entre 2 e 3 SM ou entre 3 e 5 SM; a família é do tipo casal com todos filhos menores de 14 anos;

3) características de saúde: declaram estado de saúde como muito bom e bom; não declararam presença de doença crônica; têm plano de saúde de até 50 reais ou

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entre 50 e 100 reais; não têm dificuldade em realizar três das atividades habituais e físicas;

4) características de inserção no mercado de trabalho: são ativos ocupados na semana de referência; como empregado e trabalhador doméstico com carteira, e também sem carteira, militar e funcionário público, conta própria ou empregador; a atividade principal é não agrícola; têm um trabalho na semana de referência; saiu (e também não saiu) de algum trabalho no período de 1 ano, para aqueles que trabalhavam a menos de um ano; contribui e não contribui para instituto de previdência; e não são associados a sindicato.

As pessoas com grau de pertinência total ao Perfil de Referência 4 têm, as seguintes características dominantes:

1) características individuais: são do sexo feminino; entre 15 e 29, 50 e 59 ou 60 a 69 anos de idade; cor/raça parda, preta ou indígena; sem instrução ou menos de 1 ano de estudo ou entre 1 a 4 anos de estudo; são cônjuges em relação ao responsável pelo domicílio; residem em Unidade da Federação diferente da que nasceu;

2) características de contexto e do domicílio: residem no Amapá, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia ou Mato Grosso; na área rural; o domicílio tem 1 a 4 cômodos; ausência de água canalizada em pelo menos um cômodo; utilizam outras formas de destino do lixo; outras formas de iluminação; no domicílio tem entre 0 e 3 bens de consumo; entre 1 e 2 ou 5 e mais moradores no domicílio; renda domiciliar per capita até 0,25 salário mínimo (SM) ou entre 0,25 e 0,50 SM; família formada por casal sem filhos, casal com filhos nos dois grupos etário ou mãe com filhos menores de 14 anos; alguém na família recebe programa voltado para educação;

3) características de saúde: declararam saúde como ruim e muito ruim; estiveram acamados ou deixaram de fazer tarefa, por motivo de saúde, nas duas últimas semanas; declararam ter 2 doenças crônicas; e 2 outras doenças; consultaram médico nos últimos 12 meses; estiveram internados no mesmo período; têm grande dificuldade em uma atividade habitual; têm pequena dificuldade e não consegue realizar duas atividades, sendo uma física e uma habitual; não consegue realizar duas atividades (também uma física e uma habitual);

4) características de inserção no mercado de trabalho: são ativos ocupados; trabalham como empregado e trabalhador doméstico sem carteira, conta própria, trabalhador na produção própria e construção para próprio uso ou não remunerado; atividade principal é agrícola; trabalhavam em um emprego na semana de referência; não saiu de algum emprego no período de 1 ano; não contribui para instituto de previdência; era associado a sindicato.

4.2) Perfis mistos

Nesta seção será aprofundada a análise dos perfis mistos, uma vez que os perfis de referência foram descritos anteriormente. Apesar de aproximadamente 75% das pessoas pertencerem a um perfil de referência é interessante investigar os perfis mistos, em que as pessoas pertencem parcialmente a mais de um perfil de referência. Para determinar o pertencimento de um indivíduo a um perfil foram construídas expressões que descrevem as diferentes combinações dos graus de pertinência. Os perfis predominantes e os perfis mistos são descritos a seguir, exemplificando-se para o caso dos perfis 1 e 2 (CERQUEIRA, 2004).

Uma pessoa é classificada com características predominantes do Perfil de Referência 1 se:

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i) gi1 ≥ 0,75

ii) (0,50 ≤gi1<0,75) ∩ (gi2 < 0,25) ∩ (gi3 < 0,25) ∩ (gi4 < 0,25)

A primeira restrição indica que uma pessoa pertence ao Perfil de Referência 1 se o grau de pertinência a este Perfil é maior ou igual a 0,75 ou se o seu grau de pertinência está entre 0,50 e 0,75 enquanto o grau de pertinência aos demais perfis é inferior a 0,25. Já o Perfil misto com predominância entre os Perfis 1 e 2 (misto 1 e 2) é assim definido:

(0,50 ≤gi1<0,75) ∩(0,25 ≤gi2<0,50) ∩ (gi3 < 0,25) ∩ (gi4 < 0,25)

Esta condição indica que a pessoa pertence ao perfil misto 1 e 2 se tem grau de pertinência ao Perfil 1 entre 0,50 e 0,75 e entre 0,25 e 0,50 ao Perfil 2, enquanto o pertencimento aos demais perfis é inferior a 0,25. As pessoas que não se encaixam em nenhum destes perfis são contabilizadas no perfil amorfo. A TABELA 1 apresenta os Perfis de Referência e os perfis mistos, com a freqüência absoluta e relativa, assim como uma breve descrição de cada Perfil de Referência.

TABELA 1:

Freqüência absoluta e relativa dos residentes acima de 15 anos de idade, segundo tipologia de predominância de características dos perfis de referência, Brasil – 2003.

Predominância

dos Perfis Absoluta Relativa

Perfil 1: mulheres, jovens, escolaridade Perfil 1 73938 26,57

média-baixa, condição socioeconômica baixa, Misto 1 e 2 11535 4,14

saudáveis, não ocupadas Misto 1 e 3 18 0,01

Misto 1 e 4 4324 1,55

Sub-total 89815 32,27

Perfil 2: mulheres, adultas de idade mais Perfil 2 5638 2,03

avançada e idosas, baixa/alta escolaridade, Misto 2 e 1 9757 3,51

ambiguidade na condição socioeconômica, Misto 2 e 3 3814 1,37

saúde muito ruim, com plano de saúde e Misto 2 e 4 1179 0,42

estabilidade econômica Sub-total 20388 7,33

Perfil 3: homens, adultos jovens, escolaridade Perfil 3 124883 44,87

média-alta, condição socioeconômica Misto 3 e 2 10342 3,72

média-baixa, saúde boa com plano de saúde, Sub-total 135225 48,59

ativos ocupados com ambig. na estabilidade

Perfil 4: mulheres, jovens ou adultas de idade Perfil 4 3789 1,36

avançada, residente no Nordeste, escolaridade Misto 4 e 1 853 0,31

baixa, saúde ruim e inserção precária no Misto 4 e 2 1305 0,47

mercado de trabalho Misto 4 e 3 6361 2,29

Sub-total 12308 4,42

Amorfo 20576 7,39

Total 278312 100,00

Descrição do Perfil de Referência

Frequência

Fonte: IBGE; PNAD (2003).

Nos Perfis de Referência 3 e 1 estão grande parte da amostra, 44,9% e 26,6%, respectivamente, que por sua vez correspondem aos perfis com pessoas de idade inferior a 50

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anos. Já os perfis 2 e 4 compreendem, respectivamente, 2% e 1,4% da amostra, sendo que predominam nestes grupos pessoas com idade mais avançada (sendo que no grupo 4 a idade de 15 a 29 anos também foi característica dominante).

As pessoas com predominância do Perfil 3 são as mais freqüentes, atingindo 48,6% da amostra analisada, sendo que o Perfil 1 também é bastante freqüente entre os indivíduos, somando 32,3% da amostra. Pode-se verificar também que o Perfil 3 apresenta combinação somente com o Perfil 2 (Misto 3 e 2). Os anexos 1.1 a 1.4 mostram, para as diferentes dimensões, algumas características das pessoas em cada perfil delineado em termos percentuais em relação ao número total de pessoas no perfil determinado. Como os perfis de referência já foram descritos anteriormente, cabe aqui analisar as características dos perfis mistos.

- a combinação do Perfil 1 com os demais aumenta a proporção de mulheres (exceto para o perfil 3), rejuvenesce o grupo, aumenta a escolaridade, os residentes nas regiões Norte e Sudeste e nas áreas urbanas, diminui o percentual de domicílios com 1 ou dois moradores e aumenta a proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até 1 SM (exceto para o perfil 3). Diminui a proporção de pessoas com saúde ruim e muito ruim, com mais de 3 doenças crônicas e com mais de uma das outras doenças. Esta combinação diminui também a proporção dos que contribuem para previdência social e de aposentados / pensionistas.

- a combinação do Perfil 2 com os outros perfis também aumenta a proporção de mulheres, mas envelhece o grupo, diminui a escolaridade e a presença de pardos e diminui a proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até 1 SM. Em relação às variáveis de saúde, aumenta a proporção de pessoas com mais de 3 doenças crônicas, com mais de uma das outras doenças, e aumenta o percentual de pessoas com grande dificuldade ou incapacidade para 6 das 7 limitações habituais ou físicas. Do mesmo modo, aumenta também o percentual das pessoas que declaram saúde ruim ou muito ruim, e das que têm plano de saúde. A combinação com o Perfil 3 aumenta o percentual de pessoas em ocupações mais instáveis e diminui o percentual de contribuintes, enquanto a combinação do Perfil 2 com o 4 ocorre o inverso, mas para ambos aumenta a proporção de aposentados / pensionistas.

- a combinação do Perfil 3 com o Perfil 2 aumenta a proporção de homens, envelhece o grupo, aumenta a escolaridade e a presença de residentes no Norte em áreas urbanas. A proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até 1 SM é semelhante ao Perfil de Referência 2, mas a proporção de pessoas com até 3 bens de consumo diminui. A saúde melhora (diminui doenças crônicas e limitações) e também aumenta a participação das pessoas com plano de saúde. Aumenta a proporção de ativos ocupados, mas também aumenta o percentual de posições precárias e diminui a freqüência de aposentados ou pensionistas.

- a combinação do Perfil 4 com os demais aumenta a proporção de homens, envelhece o grupo ao ser combinado com os perfis 1 e 3, diminui a escolaridade e a presença de residentes em áreas urbanas, aumenta os residentes no Nordeste. A proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de até 1 SM aumenta, aumentando também a proporção de pessoas que recebem programa social voltado para educação. O estado de saúde piora em combinação com os perfis 1 e 3 e diminui a presença de plano de saúde. Combinado com o perfil 2 a proporção de ativos ocupados aumenta, mas para todos também aumenta o percentual de posições precárias. A contribuição social diminui, aumentando a freqüência de aposentados ou pensionistas em combinação com os perfis 1 e 3.

5) Discussão

O Perfil de Referência 1 mostrou-se com características predominantes de pessoas jovens, do sexo feminino, que têm escolaridade média-baixa, residem em estados dinâmicos nas diferentes regiões, mas encontram-se em baixa condição socioeconômica. O tipo de

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família em que vivem é marcado pela presença da mãe com filhos (perfil onde esta característica foi mais forte, com quase 20% das pessoas em famílias deste tipo), que geralmente é visto como um arranjo mais vulnerável se comparado ao arranjo em que convivem casal/casal com filhos. Em relação à saúde pode-se considerá-la boa, pois não apresentam doenças crônicas e não há dificuldade para algumas das atividades habituais e físicas.

Com relação à inserção no mercado de trabalho, as características dominantes do Perfil de Referência 1 indicam que se trata de pessoas que procuram trabalho ou não trabalham e parecem ser instáveis no mercado de trabalho, apresentando maior vulnerabilidade nesta dimensão. Essa instabilidade no mercado de trabalho pode estar relacionada com o tipo de família que se caracterizou, predominantemente de mãe com filhos, em que pode haver dificuldade de estabilidade da mulher no mercado de trabalho pela presença dos filhos. Outra possibilidade é que estas mulheres sejam cônjuges, neste caso, numa família do tipo casal com filhos, ou mesmo estejam na categoria de filhas, uma vez que estas características foram predominantes no delineamento do perfil. A baixa renda domiciliar per capita pode estar refletindo esta maior instabilidade no mercado de trabalho, que foi a dimensão responsável pela maior vulnerabilidade do perfil 1.

As pessoas do Perfil de Referência 2 são predominantemente do sexo feminino, adultas de idade mais avançada ou idosas, migrantes, que residem na área rural de estados com destaque no cenário econômico e político atual. Este perfil apresentou entre 1 e 2 moradores no domicílio, sendo este o que esta característica é mais marcante (cerca de 59% das pessoas deste perfil vivem em domicílios com até 2 moradores), o que, em conjunto com o tipo de família que se delineou, casal sem filhos e outros arranjos, pode indicar uma ausência de suporte familiar.

Em relação a determinadas características, o Perfil de Referência 2 apresenta algumas ambigüidades, como o extremo de baixa escolaridade com alta escolaridade; alto número de cômodos na casa com características de moradia mais precárias; posição na ocupação de funcionário público ou militar com trabalhador para produção e construção própria; e diferentes faixas de renda domiciliar que variam desde 1 a 2 salários mínimos per capita até mais de 10 salários mínimos. No entanto, pode-se afirmar que o estado de saúde destas pessoas é claramente mais frágil, marcado pela presença de doenças, dificuldade na realização de atividades habituais e físicas, e internação nos últimos 12 meses. Talvez por este motivo, neste grupo, a característica ter plano de saúde é dominante e os planos variam em todas as faixas de preço consideradas. Outra característica predominante se refere à contribuição para instituto de previdência social e previdência privada, em conjunto com pessoas que são aposentadas ou pensionistas, que indicariam certa estabilidade econômica, tanto pela capacidade de contribuir quanto pela renda auferida como aposentado/pensionista.

Fica claro que neste perfil a saúde, como uma dimensão da pobreza, se mostrou particularmente importante para descrever o perfil 2, sendo este também marcado pela forte presença de mulheres (66%). Mas não há muita clareza quanto ao nível socioeconômico, uma vez que este perfil aglutina pessoas tanto de nível socioeconômico baixo quanto de nível alto. Esse fato parece corroborar a tese de Noronha e Andrade (2002), que argumentam que o nível socioeconômico não está diretamente relacionado com características de saúde. Essas autoras investigam a desigualdade social em saúde, utilizando duas medidas para nível socioeconômico (renda per capita e anos de estudo) e quatro para variável de saúde (mobilidade física, doença crônica, saúde auto avaliada muito boa e boa, ou, saúde auto avaliada como muito boa). Naquele trabalho as autoras detectam a existência de desigualdade social em saúde no Brasil em 1998, sendo que esta desigualdade, na maior parte das vezes, se mostra favorável aos grupos sociais mais elevados; no entanto, os índices estimados foram bastante sensíveis às diferentes medidas de saúde utilizadas.

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No Perfil de Referência 3 as pessoas são adultos jovens, predominantemente, do sexo masculino, e com escolaridade média-alta. Residem em estados dinâmicos das diferentes regiões, têm renda domiciliar média-baixa, variando de 0,75 salários mínimos a 5 salários mínimos per capita, e o tipo dominante de família é de casal com filhos. O estado de saúde destas pessoas pode ser considerado bom, uma vez que se auto declaram com saúde boa e muito boa, sendo o grupo que tem menor percentual de pessoas (0,5%) com saúde ruim ou muito ruim; não apresentam dificuldade habitual ou física; não declararam presença de doença crônica e são cobertas por plano de saúde. Em relação às características de inserção no mercado de trabalho, essas pessoas estão em diferentes tipos de ocupação, algumas mais estáveis (empregador, funcionário público e militar ou empregado com carteira) e outras menos (empregado sem carteira e conta própria), sendo o trabalho em atividade não agrícola. Esta diversidade na posição na ocupação acompanha a variedade na renda per capita do domicílio e também a característica de contribuir ou não contribuir para instituto de previdência social. Apesar de saudáveis e com boa escolaridade, dentro deste perfil parece haver um grupo que é mais vulnerável com relação ao tipo de ocupação no mercado de trabalho, o que gera uma condição socioeconômica mais baixa.

No Perfil de referência 4 estão pessoas jovens ou adultos com idade mais avançada, do sexo feminino e de escolaridade baixa, que residem na área rural principalmente dos estados da Região Nordeste. De modo geral, a condição socioeconômica é baixa, sendo o domicílio caracterizado pela presença de poucos cômodos, em que as condições de moradia são mais precárias, existem poucos bens de consumo e tanto apresentam pequeno número de moradores (1 ou 2) quanto maior número (de 5 ou mais moradores). A renda domiciliar per capita é baixa (até 0,50 salário mínimo per capita) e no domicílio existe alguém que recebe programa voltado para a educação, destinados a pessoas de baixo nível sócio-econômico. O estado de saúde pode ser considerado ruim, uma vez que as pessoas se auto declaram com saúde ruim ou muito ruim, com presença de doença crônica e outras doenças, esteve afastado das atividades ou acamado por motivo de saúde, procurou médico ou esteve internado no último ano e apresentam algumas limitações em relação às atividades habituais e físicas. Deste modo, este perfil apresenta características de grande vulnerabilidade, pois a inserção no mercado de trabalho parece instável, o estado de saúde é ruim e a condição socioeconômica é baixa. As pessoas no Perfil de Referência 4 apresentam características que as tornam potenciais beneficiárias do Programa de Prestação Continuada, voltado para o portador de deficiência física, pois atendem aos critérios de concessão deste Programa, que são renda domiciliar per capita inferior a ¼ do salário mínimo e limitações das atividades e dificuldade de mobilidade.

É interessante notar que nos Perfis de Referência 2 e 4, em que as mulheres são predominantes, a saúde é mais frágil do que nos demais perfis. Este resultado corrobora a literatura sobre este assunto, em que as mulheres geralmente declaram pior saúde que os homens, em todos grupos etários. Barreto et al (2004) confirmam os resultados encontrados com esse delineamento, em relação à saúde. Os autores mostram que mulheres idosas (60 anos ou mais), em 1998, no Brasil, apresentavam piores condições que os homens em relação a indicadores de independência e mobilidade física. Muitas das doenças crônicas analisadas são mais comuns entre elas, além delas procurem mais serviços de saúde, terem declarado mais visitas ao médico e terem mais chances de estarem cobertas por plano de saúde privado.

6) Considerações Finais

Este estudo pontuou que a pobreza reconhecida e encarada sob um contexto multidimensional pode enriquecer bastante os estudos sobre este tema. A partir da necessidade de se investigar a pobreza com mais de uma dimensão, optou-se por utilizar o

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método GoM, que admite que uma mesma pessoa possa pertencer a mais de um perfil delineado, permitindo que a heterogeneidade existente entre os casos seja parte integrante do modelo.

A inclusão da dimensão de saúde mostrou-se importante na análise multidimensional da pobreza, no caso do Brasil, delineando perfis em que pessoas adultas mais velhas e idosas, do sexo feminino, aparecem sobre-representadas, como mostrado pelos Perfis 2 e 4.

Outra contribuição deste estudo é que ele parece corroborar que, no que se refere à adequação de uma análise multidimensional da pobreza, as características relacionadas com a inserção no mercado de trabalho e a condição socioeconômica de um indivíduo continuam relacionadas com uma maior vulnerabilidade social e com a pobreza.

Todos esses resultados nos levam a acreditar que, embora a população idosa do país seja tradicionalmente mais beneficiada com transferências de renda do Governo Federal (aí incluídas aposentadorias / pensões e benefícios assistenciais direcionados aos idosos), ela ainda se mostra bastante vulnerável em relação aos riscos sociais, sendo que a condição de saúde aparece como um atributo agravante. Sendo assim, se considerarmos este resultado numa perspectiva de envelhecimento relativo da população, vemos que os idosos necessitam de uma atenção especial das políticas públicas brasileiras, uma vez que, além de constituírem um grupo vulnerável do ponto de vista social, eles representarão, em breve, parcela considerável na sociedade.

Como sugestão de trabalhos futuros poder-se-ia utilizar, como unidade de análise, a família, ao se estudar a pobreza dentro da perspectiva multidimensional, com o objetivo de captar a dimensão do capital social, como proposto por Kaztman (2000), algo que não foi realizado neste trabalho. Da mesma forma estudos qualitativos poderiam ser incorporados na análise para captar aquela mesma dimensão, complementando os resultados obtidos através da análise com o GoM. Uma sugestão final seria traçar um paralelo entre o resultado aqui obtido e perfis de pobreza delineados sem a inclusão da dimensão saúde no modelo, visando confirmar a importância desta dimensão no estudo da pobreza.

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Anexo 1.1: Proporção de pessoas por categorias das variáveis da dimensão características individuais, segundo perfis de pobreza - Brasil, 2003.

sexo cor

feminino 15 a 49 50 e mais parda < 4 12 ou +

Perfil 1 67,7 85,1 14,9 44,6 25,4 6,5 Misto 1 e 2 70,0 29,5 70,4 36,7 57,8 7,0 Misto 1 e 3 16,7 94,4 5,6 5,6 22,2 38,9 Misto 1 e 4 73,4 89,5 10,5 67,3 64,1 0,4 Perfil 2 66,2 3,6 96,4 32,1 88,3 3,7 Misto 2 e 1 71,1 11,4 88,6 35,3 73,3 3,8 Misto 2 e 3 56,8 27,5 72,5 32,3 60,7 12,0 Misto 2 e 4 57,8 6,8 93,2 55,8 95,8 1,6 Perfil 3 40,0 89,4 10,5 39,3 21,7 14,7 Misto 3 e 2 52,1 48,7 51,3 33,5 42,1 18,6 Perfil 4 49,6 65,8 34,2 83,1 91,3 0,0 Misto 4 e 1 64,1 68,8 31,1 70,8 87,2 0,1 Misto 4 e 2 54,9 22,9 77,0 69,1 96,6 0,1 Misto 4 e 3 36,7 85,2 14,7 73,0 77,1 0,1 Amorfo 45,9 67,9 32,1 58,9 70,3 1,2

Fonte: IBGE; PNAD (2003).

Anexo 1.2: Proporção de pessoas por categorias das variáveis da dimensão características de condição e do domicílio, segundo perfis de pobreza - Brasil, 2003. número de renda per até 3 recebe prog

Perfis moradores capita bens de voltado p/ mãe casal

1 e 2 até 1SM consumo educação c/ filhos c/ filhos

Perfil 1 11,7 31,6 32,9 13,1 10,7 94,9 10,5 63,2 5,4 13,0 19,27 65,91 Misto 1 e 2 8,0 27,0 36,9 17,7 10,4 94,9 33,3 45,9 3,0 7,4 18,16 41,68 Misto 1 e 3 11,1 11,1 44,4 27,8 5,6 94,4 27,8 55,6 0,0 5,6 5,56 61,11 Misto 1 e 4 10,7 69,2 10,6 3,3 6,2 45,5 10,6 93,1 50,6 37,7 18,22 67,53 Perfil 2 5,8 29,8 30,9 23,5 10,0 76,8 58,9 33,2 11,4 4,2 14,97 18,98 Misto 2 e 1 7,3 28,0 36,9 17,7 10,1 93,3 41,5 41,9 4,2 5,1 20,12 30,83 Misto 2 e 3 8,2 22,3 33,0 24,9 11,7 85,5 40,6 34,6 2,0 2,9 15,29 39,17 Misto 2 e 4 6,6 57,1 14,2 13,7 8,4 35,9 45,6 60,1 34,8 19,6 9,16 34,10 Perfil 3 10,6 24,1 34,5 18,8 12,1 93,7 16,4 44,2 3,5 8,5 15,01 65,51 Misto 3 e 2 9,2 22,2 31,5 24,8 12,3 90,6 31,9 34,4 1,7 4,6 14,33 50,26 Perfil 4 6,9 86,5 2,2 0,7 3,6 9,6 16,4 95,5 67,7 57,2 7,60 72,47 Misto 4 e 1 8,7 71,4 8,2 4,9 6,8 45,8 14,5 94,5 53,2 45,0 15,71 64,83 Misto 4 e 2 7,0 73,8 8,4 4,5 6,3 20,8 30,3 81,8 51,0 32,9 7,13 52,18 Misto 4 e 3 7,0 78,6 6,2 2,8 5,3 17,5 11,0 95,9 53,3 43,3 8,91 75,55 Amorfo 12,8 52,3 15,3 11,2 8,4 58,3 18,6 82,3 28,1 30,1 13,51 61,98

Fonte: IBGE; PNAD (2003).

Sul CO situação urbana grupo etário Região anos de estudo Perfis

Norte Nordeste Sudeste

(20)

Anexo 1.3: Proporção de pessoas por categorias das variáveis da dimensão características de saúde, segundo perfis de pobreza - Brasil, 2003. saúde nº doenças nº outras tem

ruim e muito crônicas doenças plano ruim maior que 3 maior que 1 saúde

Perfil 1 1,2 1,0 8,1 3,8 5,3 6,8 0,0 2,6 0,4 0,7 0,5 0,4 0,1 Misto 1 e 2 8,0 15,4 24,0 15,2 17,3 11,7 0,0 40,0 10,5 19,6 16,0 13,0 1,7 Misto 1 e 3 0,0 0,0 5,6 94,4 0,0 11,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Misto 1 e 4 7,9 0,6 5,7 0,3 5,3 11,8 12,0 2,8 0,6 0,6 0,3 0,4 0,0 Perfil 2 34,9 48,4 42,7 12,6 35,7 29,0 0,0 84,3 50,5 72,4 66,1 65,4 22,6 Misto 2 e 1 19,3 33,1 30,1 12,4 24,6 17,5 0,0 70,5 32,6 53,2 46,2 44,3 11,6 Misto 2 e 3 17,4 28,7 37,3 23,1 28,8 20,6 0,0 62,5 23,9 41,3 39,9 32,1 5,7 Misto 2 e 4 38,8 35,5 32,1 5,7 27,7 29,3 14,3 65,6 28,0 53,1 42,7 39,0 8,7 Perfil 3 0,5 0,7 7,5 16,0 3,1 4,2 0,0 1,6 0,2 0,2 0,4 0,2 0,0 Misto 3 e 2 5,5 12,4 27,1 27,5 17,0 13,9 0,0 31,1 6,9 13,1 13,9 9,3 1,0 Perfil 4 12,1 4,3 6,3 0,2 5,0 10,1 9,7 9,2 0,9 3,3 2,7 1,8 0,2 Misto 4 e 1 41,4 4,0 14,9 0,1 13,4 21,2 53,6 2,3 0,4 1,1 0,9 0,8 0,4 Misto 4 e 2 31,0 20,9 20,5 0,2 16,1 19,8 19,1 44,4 9,2 29,5 24,0 18,2 2,8 Misto 4 e 3 3,0 0,7 3,5 0,3 2,6 5,9 2,0 1,8 0,1 0,5 0,3 0,2 0,0 Amorfo 12,5 7,7 12,0 2,4 9,2 11,3 9,6 14,4 3,4 7,8 6,4 5,0 0,8

Fonte: IBGE; PNAD (2003).

Anexo 1.4: Proporção de pessoas por categorias das variáveis da dimensão características de inserçao no mercado de trabalho, segundo perfis de pobreza - Brasil, 2003. ativo posiçao contribui associa aposent/

ocupado precária* prev social sindicato pension

Perfil 1 0,0 0,0 0,0 1,1 10,6 Misto 1 e 2 0,0 0,0 0,0 1,4 55,7 Misto 1 e 3 0,0 0,0 0,0 11,1 0,0 Misto 1 e 4 0,0 0,0 0,0 2,0 8,5 Perfil 2 28,2 23,8 4,4 10,6 85,0 Misto 2 e 1 0,0 0,0 0,0 0,9 74,0 Misto 2 e 3 100,0 61,7 41,9 25,8 40,6 Misto 2 e 4 65,4 62,0 2,0 29,9 69,5 Perfil 3 100,0 48,5 55,2 16,3 2,8 Misto 3 e 2 100,0 54,2 49,9 27,0 28,2 Perfil 4 93,5 93,1 0,5 24,8 16,4 Misto 4 e 1 0,0 0,0 0,0 2,8 26,3 Misto 4 e 2 83,0 81,5 1,6 36,9 49,7 Misto 4 e 3 100,0 96,7 3,3 16,6 4,0 Amorfo 83,1 72,7 11,0 12,5 19,0

*posição precária: empregado e trab dom sem carteira; conta propria; trab produc e construcao prop; não remunerado Perfis

Perfis

Grande dificuldade ou não consegue

correr, levant obj pesado, praticar esporte ou empurrar mesa ou realizar peq consertos consultou médico andar mais do que 1km andar cerca de 100m esteve internado alimentar, tomar banho ou ir ao banheiro subir ladeira ou escada abaixar-se, ajoelhar-se ou curvar-se

Referências

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