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Desenraizamento social, superexploração do trabalho e mobilidade espacial no sudeste do Pará

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Desenraizamento social, superexploração do trabalho e

mobilidade espacial no sudeste do Pará

Gil Almeida Felix

Palavras-chave: mobilidade espacial; migração; superexploração do trabalho; sudeste do Pará.

Resumo

No sul e sudeste paraenses, principalmente a partir da expansão de um pólo siderúrgico circundante à Estrada de Ferro Carajás (Carajás-São Luiz), produtor de ferro-gusa, ao acelerado crescimento do carvoejamento, utilizado como combustível nas guseiras, às atividades de mineração e garimpagem e às atividades vinculadas ao mercado madeireiro, assim como aos sempre requisitados trabalhos temporários nas médias e grandes unidades de produção pecuária, em atividades de desmate, plantio e limpeza de pastagens e manejo de rebanho, ficou ainda mais manifesta uma dinâmica caracterizada pela associação entre mobilidade intensa da força de trabalho e reprodução de relações pautadas pela superexploração do trabalho. Há um contingente de indivíduos, em sua maioria composta por homens, entre 13 e 40 anos, que acumularam condições específicas para se deslocar e vender sua força de trabalho, executando atividades que, geralmente, exigem grande esforço físico, diversas privações e riscos para migrantes de primeira, segunda e terceira gerações. No que se refere aos processos de ocupação territorial, este contingente é de tal maneira fundamental que chega a alterar de forma significativa a configuração político-administrativa, populacional e sócio-econômica da região. Muitos dos atuais municípios se formaram a partir de núcleos de casas que se expandiram (ou desapareceram) com extrema rapidez, fruto de deslocamentos populacionais intensos no espaço de poucos anos. Este trabalho analisa algumas condições sociais destes deslocamentos, assim como suas implicações, a partir de um estudo realizado numa região do município de Nova Ipixuna/PA, nos anos 2005 e 2006.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG –

Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

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Desenraizamento social, superexploração do trabalho e

mobilidade espacial no sudeste do Pará

Gil Almeida Felix

Introdução

Recentemente, algumas formas contemporâneas de superexploração do trabalho no Brasil ganharam status de problema social e o combate a elas, reconhecido como combate ao trabalho escravo ou em “condição análoga à de escravo”, mobiliza agentes organizados numa série de instituições públicas, missionárias, sindicais e/ou de movimentos sociais. Notícias e denúncias vêm sendo publicadas nos meios de comunicação e em agências internacionais de desenvolvimento, alcançando grande repercussão pela natureza dos fatos que descrevem. No que se refere à Amazônia Oriental, em especial, a determinadas regiões no norte do Mato Grosso e no sul-sudeste do Pará, apresentam o caráter quase inumano destas relações de trabalho que impõem aos trabalhadores rurais contratados condições degradantes de subsistência, jornadas estafantes e, quase sempre, encarceramentos armados ou por sistemas de dívidas.

Na opinião destes agentes estas situações são bastante relevantes em termos estatísticos, como afirma um coordenador da “Campanha Nacional da Comissão Pastoral da Terra contra o Trabalho Escravo”:

De 2000 a 2003 (setembro), houve denúncia (na CPT) de cerca de 10.000 trabalhadores (9.906) em quase 300 fazendas do Pará (298), numa escala que foi crescendo de ano em ano: 16 denúncias e 334 trabalhadores em 2000, 24 casos e 1355 trabalhadores em 2001, 117 casos e 4.333 trabalhadores em 2002 e, durante os primeiros 9 meses de 2003, 143 casos e 3.889 trabalhadores. Por si só o Pará acumulou, neste período de 2000 a 2003, 74% do total nacional de trabalhadores envolvidos em denúncias de trabalho escravo (13.331). Essa proporção só baixou em 2003 em decorrência do aparecimento de casos de trabalho escravo onde ainda não se suspeitava que existisse, como Bahia e Rio de Janeiro. Tudo indica que o iceberg completo do trabalho escravo fica ainda bem longe das vistas da sociedade, pois somente escapam da ocultação criminosa os casos que alguns trabalhadores fugitivos, enfrentando riscos dos mais variados, conseguem levar ao nosso conhecimento. Estimativas recentes levantaram hipótese de até 25.000 trabalhadores reduzidos à condição análoga à de escravo (O Liberal, 08.03.03). (Plassat, 2003).

Neste sentido, seja a partir de pesquisas acadêmicas ou de investigações jornalísticas, os estudos a respeito destas relações de superexploração do trabalho vêm enfatizando como se caracterizam estas situações de catividade, como se dão as formas de endividamento e de

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG –

Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

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recrutamento desta força de trabalho, como se dão os processos de intervenções preconizadas por agentes de fiscalização do trabalho e de consagração do trabalho escravo enquanto um problema digno de comoção pública2. A existência de tais relações, portanto, tem sido relacionada, de maneira geral, a contextos que envolvem formas de dominação ou superexploração através da imobilização de força de trabalho e/ou de seu uso repressivo. Todavia, além destas formas de superexploração, uma série de outras atividades ainda mais generalizadas na região também apresenta características semelhantes, mesmo que não ofereçam impedimento físico ou moral para a interrupção do contrato informal de trabalho. É preciso, portanto, não apenas conhecer as características destas relações, mas as maneiras pelas quais elas se tornaram passíveis de existência: quais são, afinal, as condições sociais de possibilidade que fizeram e fazem com que elas se constituam e permaneçam se constituindo atualmente na Amazônia Legal?

Os dados obtidos numa pesquisa de campo num município do sudeste do Pará no ano de 2005 me levaram a notar que tais processos de superexploração do trabalho devem ser pensados não apenas a partir das condições de imobilidade, mas também das condições de circularidade e de mobilidade que se construíram para certo contingente de trabalhadores e pequenos produtores rurais na região. Ainda que, ultimamente, a implantação de grandes projetos e de grandes intervenções industriais de atividades diretamente integradas ao mercado internacional tenha impulsionado sobremaneira a consolidação destas condições de trabalho, a formação desta espécie do que poderíamos denominar como “proletariado amazônico” é fruto de um processo mais longo, que remonta à ocupação permanente daquelas terras e às transformações ocorridas nas formas de mobilização de força de trabalho desde os estudos da peonagem dos anos 1970 3. Faltam, porém, maiores pesquisas a respeito das formas de dominação e exploração do trabalho nestas atividades desenvolvidas em unidades agropecuárias altamente modernizadas e vinculadas ao mercado interno e internacional de commodities, assim como sobre os impactos e transformações que as mesmas vêm impondo em determinadas regiões da Amazônia.

Este trabalho discute as características dos processos recentes de mobilidade populacional no sudeste do Pará e analisa, a partir de uma pesquisa realizada com um conjunto de trabalhadores e pequenos produtores rurais, as condições nas quais estas relações precarizadas ou degradantes de trabalho têm se reproduzido socialmente na região.

Estatísticas de uma população volátil

Apesar da conquista, anexação e exploração colonial datarem de muito, culminando na formação de cidades pujantes, como Manaus e Belém, no interior, a Amazônia manteve concentrações populacionais limitadas aos arredores de entrepostos comerciais bem localizados, em torno de atividades econômicas extrativistas, que exigiam ocupações periódicas, esparsas e/ou descontínuas, até meados do século XX. No que se refere à sua porção oriental, em especial ao sul-sudeste do Pará, foram as frentes de expansão agrícola nos últimos 60 anos que criaram um espaço propriamente “rural” ou “agrário” e instauraram um processo de alteração do padrão de ocupação. As transformações na estrutura agrária que

2 Le Breton (2002) é um exemplo deste tipo de sociologia de denúncia.

3 Dentre outros, Esterci (1980; 1994). Para uma análise das transformações impulsionadas pela instalação em

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vieram a configurar o que, por vezes, se denomina “espaço rural” na Amazônia Oriental são fruto de processos relativamente recentes e profundamente velozes, modificando sociedade e ambiente de uma maneira quase que irreversível até então (Cf. Velho, 1972; 1976).

Como é sabido, no caso do sudeste do Pará, o advento dos grandes programas de intervenção político-estrutural, cujos ápices estiveram nos rumos da “integração nacional” dos anos 50 e 60 e da “segurança nacional” dos anos 70 e 80 do século passado, significaram empreendimentos cujos impactos terminaram por sacramentar definitivamente o processo de transformações. A repressão ao movimento guerrilheiro do Araguaia, a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, a execução do Programa Grande Carajás e dos sucessivos programas de colonização dirigida, assim como a instalação mais recente de um complexo siderúrgico, concomitante ao processo espontâneo de expansão agrícola já iniciado nas décadas anteriores, configuraram a formação de cidades inteiras, de vilarejos, de aglomerados de casas, de estabelecimentos rurais e de ocupações camponesas por extensas áreas. A construção de estradas seria fundamental para a ocupação que se seguiu naquelas localidades, interligando praticamente todas as cidades e povoados da Amazônia Oriental aos grandes centros do país e transformando completamente o meio até então apenas timidamente modificado nos primeiros séculos de colonização. É a partir das cidades e povoados estabelecidos durante a fase de construção e da abertura de inúmeras vicinais das rodovias Belém-Brasília (BR-010), em 1960, do denominado “ramal de Marabá” (PA-70, atual BR-222), da Transamazônica (BR-230), e da BR-153 (antiga OP-02, aberta pelo regime militar para combater a Guerrilha do Araguaia, em 1970), assim como das mais modernas PA-150, nos anos 1980, e BR-158 (Redenção-Santana do Araguaia), que se exploraram definitivamente os vales dos Rios Tocantins, Araguaia e de seus afluentes no Pará.

Durante todo o século XX, a chegada de migrantes se deu de maneira crescente e configurou uma paisagem social complexa, bastante rica em relação à diversidade de origens e percursos dos ocupantes das diferentes fases das frentes pioneiras, mas extremamente perversa quando se observa as trajetórias que empreenderam (e empreendem) na região. Os fatos ocorridos nos últimos 60 anos instauraram um contexto de intensas disputas pela posse da terra, envolvendo migrantes de primeira, segunda e até terceira gerações, que, não raro, experimentaram antes algumas situações de mudança por outras regiões do país e por uma série de localidades já no Pará. Parcela considerável destes pioneiros não assegurou uma condição de acesso e uso da terra como produtor independente. Ou só logrou constituir-se nesta condição após anos a fio de seu primeiro deslocamento até a região. Parte destes – fato que se dá com alguma recorrência – não acumulou meios para que os filhos reproduzissem tal situação, ao menos não na terra considerada dos pais. Este fato é claramente observável nas estatísticas a respeito da dinâmica populacional no leste amazônico e nas etnografias realizadas em contextos envolvendo posseiros, garimpeiros e peões desde os anos 1970. Ao mesmo tempo em que só se acumularam saldos migratórios positivos, caso se considere as estatísticas da região Norte, os dados intra-regionais revelam dinâmicas específicas de crescimento e decrescimento de vilarejos, localidades e cidades entre si, movimentos cujos sentidos ainda carecem de maiores estudos e conclusões, em especial, a respeito dos processos históricos, legados, percursos e trajetórias que caracterizam a formação social deste “proletariado amazônico”.

Historicamente, o desenvolvimento do capitalismo na Amazônia articulou formas complexas de mobilização e imobilização de força de trabalho, em atividades econômicas cujas cadeias combinavam, às vezes até mesmo numa mesma unidade produtiva, relações de trabalho assalariado e não-assalariado. No sul e sudeste paraenses, principalmente a partir da expansão de um pólo siderúrgico circundante à Estrada de Ferro Carajás (Carajás-São Luiz),

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produtor de ferro-gusa, ao acelerado crescimento do carvoejamento, produtor de combustível para os fornos das guseiras, da instalação de mineradoras, do rápido ciclo dos garimpos, das atividades vinculadas ao mercado madeireiro, assim como dos sempre requisitados trabalhos temporários nas médias e grandes unidades de produção pecuária, em atividades de desmate, plantio e limpeza de pastagens e manejo de rebanho, ficou ainda mais manifesta uma dinâmica caracterizada pela associação entre mobilidade intensa da força de trabalho e reprodução de relações pautadas pela superexploração do trabalho. Há um contingente de indivíduos, em sua maioria composta por homens jovens, que acumularam condições específicas para se deslocar e vender sua força de trabalho, executando atividades que, geralmente, exigem grande esforço físico, diversas privações e riscos.

Tais indivíduos, provavelmente, integrariam um amplo contingente de trabalhadores temporários predisposto a se deslocar em busca de novas oportunidades de trabalho no leste amazônico. No que se refere aos processos de ocupação territorial, este contingente é de tal maneira fundamental que chega a ponto de alterar de forma significativa a configuração político-administrativa, populacional e sócio-econômica da região. Muitos dos atuais municípios se formaram a partir de núcleos de casas que se expandiram com extrema rapidez, fruto de deslocamentos populacionais intensos no espaço de poucos anos ou, por outro lado, praticamente deixaram de existir.

A existência de um contingente como este, inclusive, motivaria a tendência de rápido crescimento (ou decrescimento) demográfico de alguns municípios, acompanhando a divulgação de informações, boatos e notícias de implantação de novos empreendimentos, de grandes obras, de mineradoras, de garimpos, de madeireiras, de maior ou menor necessidade de mão-de-obra e da possibilidade de enriquecimento em determinado lugar ou da melhoria das condições de vida num outro.

Um exemplo mais recente disso foi o caso da notícia da construção do denominado “Projeto Sossego” no município de Canaã dos Carajás/PA. Tal Projeto corresponde a um complexo industrial de extração e processamento de minério de cobre gerenciado pela empresa Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que está em operação desde 2003, ao sul da planta operacional principal do complexo pioneiro na Serra dos Carajás. Os impactos do empreendimento, porém, datam desde a época da divulgação das primeiras informações sobre a possível implantação de uma grande mineração na Serra do Sossego. Os deslocamentos populacionais provocados pelo advento do “Projeto Sossego” foram intensos e a alteração da concentração demográfica da região, por exemplo, pôde ser verificada cerca de cinco anos após a divulgação da instalação do empreendimento. O município de Canaã dos Carajás apresentava uma população de 11.139 habitantes em 1996 e de 10.922 no ano 2000; em 2004, é possível estimar que já tivesse cerca de 28.136 habitantes 4. Isto significaria uma redução de, aproximadamente, 2% da população entre 1996 e 2000, antes das notícias da possível implantação do empreendimento, e um aumento de 157% entre 2000 e 2004, depois.

As conseqüências deste crescimento demográfico para a ocupação urbana e o mercado de terras, as transformações na estrutura agrária e fundiária destes municípios impactados, a expulsão, procura de novas áreas e situação socioeconômica dos habitantes antes estabelecidos e os recém-chegados, assim como o perfil social de uns e outros, ainda não foi

4 Estimativa a partir de dados do IBGE: Censo 2000, Contagem da população 1996 e do TSE: Número de

eleitores por município nas eleições de 2000 e de 2004. Dados disponíveis na página eletrônica destas instituições.

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devidamente analisada, mas, de qualquer forma, demonstra o potencial de atração que estas notícias têm e o provável potencial de deslocamento que têm também certos contingentes populacionais naquela região amazônica. Dinâmicas semelhantes ocorreram em Paragominas/PA, desde 2004, quando a CVRD anunciou as solicitações de licenciamento para instalação de um Projeto de extração e beneficiamento de bauxita, e em Ourilândia do Norte/PA, com o início das atividades da mineração de níquel, também da CVRD, na Serra Onça Puma, conforme se verifica no texto jornalístico de outubro de 2007:

Entre 1991 e 2000, a população de Ourilândia do Norte teve uma taxa média de crescimento anual de 5.80%, passando de 11.940 para 19.471 em 2000. Apesar desse crescimento, No município de 1.4 habitantes para cada um dos 13.884.8 km², a renda per capita média do município diminuiu 27.71%, passando de R$ 213.19 para R$ 154.11. A pobreza (medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalente à metade do salário mínimo vigente em agosto de 2000) cresceu 2.56%, passando de 50.1% em 1991 para 51.4% em 2000.

Apesar desse contraste, surpreendentemente no mesmo período o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) cresceu 10.78%, passando de 0.631 (1991) para 0.699 (2000). A dimensão que mais contribuiu para este crescimento foi a Educação, com 76.0%, seguida pela Longevidade, com 50.5% e pela Renda, com -26.5%. Distante cerca de dez quilômetros, o Município de Tucumã teve, entre 1991 e 2000, uma taxa média de crescimento anual negativo de -2.45%, passando de 31.375 para 25.309. Mas a renda per capita média cresceu 72.41%, passando de R$ 145.10 em 1991 para R$ 250.17 em 2000. E a pobreza diminuiu 22.01%, passando de 47.0% em 1991 para 36.6% em 2000. Mas a desigualdade cresceu: o Índice de Gini passou de 0.57 em 1991 para 0.69 em 2000. Ou seja, aumentou a concentração da renda na mão de poucos privilegiados. No começo deste ano, o prefeito Alan Azevedo decretou estado de calamidade pública, por não ter como dar conta da invasão da cidade. Ourilândia do Norte é um município atípico: todo o seu território está encravado dentro da Reserva Indígena Kaiapó, da qual ocupa no máximo 15%. Em pouco mais de seis anos, estima-se que sua população saltou para algo em torno de 40 mil habitantes, a maioria vinda em busca de oportunidades no projeto de extração de níquel da Companhia Vale do Rio Doce, nas reservas chamadas Onça-Puma.

Os efeitos desse crescimento são desastrosos. Para abastecer a cidade, a prefeitura tem um projeto avaliado em R$ 3,5 milhões para captação de água no Rio Branco, a 25 quilômetros de distância. É que os 20 poços profundos (150 metros) já existentes, e os 5 em construção, não dão mais conta do recado. (Braz, 2007).

Sabe-se que em São Félix do Xingu, no sul do Pará, estaria em curso um terceiro e, desta vez, decisivo fluxo ocupacional. Depois do declínio dos antigos seringais, que remontam ao final do séc. XIX aos anos 40 do séc. XX, houve um segundo ciclo de ocupação, motivado pelos garimpos nos anos 70 e pelas atividades madeireiras, intensificadas desde os 80, e, agora, desde a segunda metade dos 90, há uma grande explosão da pecuária extensiva de corte, realizada em grandes propriedades. No censo demográfico realizado em 2000 pelo

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IBGE, a população do município era de aproximadamente 34 mil. Em 2007, já era de mais de 59 mil 5.

Num momento em que se enfatizam processos de “migração de retorno” e que se observa que antigos destinos, como São Paulo e Rio de Janeiro, acumulam saldos migratórios negativos desde 2000, a compreensão destas formas de circulação ganhou novo ímpeto. São processos que não mais se referem a um fenômeno isolado ou que deve ser especificado entre parênteses, como exceção, para a denotação dos “grotões” do país. Brito e Carvalho (2006), por exemplo, chamaram atenção para o aumento das taxas não apenas de imigrados de retorno de longo prazo, mas também daqueles que ficam curto período, que se deslocam e voltam ao local de saída em cinco anos ou menos. Circulação esta que não se resume ao que se denomina até então como trabalho sazonal, cuja existência não está presente em dados dos censos demográficos, mas que pode ser relacionada a relações precárias de trabalho e à superexploração, considerando que, como afirma Sayad, em sua análise dos migrantes argelinos na França:

Foi o trabalho que fez “nascer” o imigrante, que o fez existir; é ele, quando termina, que faz “morrer” o imigrante, que decreta sua negação ou que o empurra para o não-ser. E esse trabalho, que condiciona toda a existência do imigrante, não é qualquer trabalho, não se encontra em qualquer lugar; ele é o trabalho que o “mercado de trabalho para imigrantes” lhe atribui e no lugar em que lhe é atribuído: trabalhos para imigrantes que requerem, pois, imigrantes; imigrantes para trabalhos que se tornam, dessa forma, trabalhos para imigrantes. Como o trabalho (definido para imigrantes) é a própria justificativa do imigrante, essa justificativa, ou seja, em ultima instância, o próprio imigrante, desaparece no momento em que desaparece o trabalho que os cria a ambos. (Sayad, 1998: 55).

Há ainda uma carência de estudos a respeito das características destas relações contemporâneas de superexploração do trabalho, das dinâmicas e relações estabelecidas nestes processos que envolvem mobilidade populacional na região e, em especial, dos atributos, trajetórias e percursos sociais destas pessoas que procuram se estabelecer nas vilas e distritos em voga. Faltam estudos e pesquisas de campo que melhor qualifiquem socialmente estes denominados “migrantes”, designação esta que muitas vezes mais atrapalha do que auxilia a compreensão do contexto, reservando em si mesma uma anunciação de valor auto-explicativo destas qualificações. Sendo assim, e justamente por isso, permanecem ignoradas devido à imposição de um sentido dado a priori pelo observador. Decorridos aproximadamente cinqüenta anos do início da expansão das frentes agrícolas no sudeste do Pará, antes do que supor generalizações, talvez seja preciso se valer de um investimento metodológico no intuito de dar status de ator aos “migrantes”, ou seja, levar em consideração suas ações e pensamentos a fim de tentar compreendê-los nas suas próprias especificidades. Neste trabalho, portanto, estou considerando que a situação de trabalhador e/ou pequeno produtor rural num contexto de fronteira requer uma série de condições que estes ditos “migrantes” devem constituir e que não se compreendem a partir apenas de um cálculo da média da oferta de terras livres pela força de trabalho familiar. Busco para isso priorizar unidades sociais de análise que não abordem apenas a “massa de migrantes”, mas os trajetos que tais “migrantes” construíram durante seus percursos de vida, seja forjando as condições

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necessárias para constituir uma situação camponesa, seja para se reconstituir nesta situação ou mesmo para se voltar para outros ofícios na rua, em definitivo 6.

A análise dos percursos destes trabalhadores demonstra trajetos que articularam atividades e ocupações que não se limitavam numa suposta busca limitada no horizonte único da “reprodução social camponesa” e na indissolubilidade da “unidade de produção camponesa”, que, como propõem, por exemplo, Velho (1982) e Neves (1995), se apresentam mais como arranjos do que como “essências” 7. Demonstra ainda que tais horizontes também não estiveram necessariamente presentes para uma série de deslocamentos feitos pelos filhos que, a partir de serviços prestados a fazendeiros vizinhos, lançaram-se “no mundo”, provavelmente engrossando as fileiras deste contingente apto a desenvolver “trabalhos para migrantes”.

Obviamente, há outras maneiras de se abordar estas questões e a que me proponho aqui é apenas uma delas. As limitações desta perspectiva devem, inclusive, ser superadas através de outros métodos de pesquisa ou mesmo de novos trabalhos de campo, seja mudando a escala de análise, as unidades sociais de referência ou aprofundando as implicações teóricas brevemente sugeridas.

Deslocamentos e condições de poupança: uma análise dos percursos de alguns pequenos produtores

A pesquisa de campo foi feita numa região chamada “Maçaranduba”, que, por sua vez, integra o Projeto de Assentamento Agro-extrativista Praia Alta/Piranheira (doravante PAE). O Assentamento foi criado a partir de Portaria do INCRA em agosto de 1997, fruto da mobilização de agentes vinculados a diversos movimentos sociais e à Comissão Pastoral da Terra, técnicos do INCRA, Sindicato de Trabalhadores Rurais do município e organizações de pequenos produtores da região, a fim de buscar assegurar o que seria um “novo modelo de reforma agrária” e de regularizar a situação fundiária daqueles camponeses localizados à beira das áreas alagadas pelo reservatório d’água criado com a construção da usina hidrelétrica de Tucuruí no Rio Tocantins. O perímetro do PAE compreende várias localidades, tem cerca de 22000 hectares e fica a aproximadamente 50 quilômetros por estradas de terra do núcleo-sede do município de Nova Ipixuna, que se localiza na margem da Rodovia PA-150 (km 34 no sentido Marabá-Moju) 8.

De maneira geral, aqueles moradores que migraram das regiões sul e sudeste do país, ou de estados geograficamente mais distantes, como a Bahia, vieram por meios diferentes

6 Rua é um termo que caracteriza, atualmente, as cidades e os povoados com maior aglomeração de casas,

pessoas, serviços e praças de mercado, como as sedes dos municípios, sedes distritais e vilas mais desenvolvidas, por exemplo, mas também pode ser empregada para se referir a grandes cidades em outras regiões, como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, etc.

7 Para uma análise de outros aspectos e implicações destes deslocamentos para a constituição do conjunto de

pequenos produtores citados neste texto, ver Felix (2006).

8 Durante os meses de abril a agosto de 2005, principalmente, além da rotina de observação direta das atividades

cotidianas, alguns levantamentos de dados e do acompanhamento dos fatos transcorridos, realizei entrevistas mais prolongadas num total de 50 grupos domésticos, tendo como interlocutores, em geral, os homens chefes de família e/ou suas esposas.

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daqueles que se mudaram dos estados do Maranhão, principalmente, e, em menor grau, de regiões compreendidas no atual Tocantins ou de outras regiões do Pará.

Entre os primeiros, a mudança foi predominantemente de um casal com filhos, quase sempre crianças. Eram pequenos proprietários em suas regiões de origem, onde encontravam constrições impostas por fatores dos mais variados. Por isso resolveram vender seus estabelecimentos e vir para a região sudeste do Pará. Alguns já haviam se mudado certas vezes nas suas regiões de origem, mas, em grande parte, encontravam-se de posse de pequenas propriedades. Em outros casos, eram assalariados em fazendas, meeiros, arrendatários ou moravam em terras de seus sogros. Porém, antes de empreender a mudança, já haviam acumulado recursos suficientes para adquirir terras no Pará. Não raro, após a mudança, poupavam recursos durante um determinado período, até encontrarem uma parcela de terra em situação que lhes permitissem estabelecer transações de compra consideradas satisfatórias. Nos casos em que se encontravam como agregados de fazendeiros, de vizinhos, etc, para os quais trabalhavam, se não puderam poupar recursos suficientes para pagar as despesas de mudança, vieram às custas daqueles, na condição de acompanhantes, e pagaram as dívidas de viagem em trabalho, durante um ano ou mais.

Estes migrantes constituíam apenas um núcleo familiar, composto pelo casal e filhos e filhas não casadas. Algumas exceções foram registradas por casais que foram acompanhados de seus filhos já casados ou, mais raro ainda, de filhas casadas e seus respectivos genros. Tais mudanças consolidaram a formação de novos núcleos familiares, com a separação dos demais parentes de suas regiões de origem: irmãos, tias e tios, primos, etc. O contato entre os que se mudaram e os que ficaram foi interrompido durante anos ou era intermitente, restrito a algumas situações específicas, como, dentre outras, quando envolvia assuntos relacionados à morte de parentes. A mudança, no entanto, em todos os casos que obtive informações, já se deu na condição de casados, quando a migração reproduziu a condição anterior de pequenos proprietários ou a viabilizou após período relativamente curto de tempo. Embora em suas regiões de origem não conseguissem ter acesso ou enfrentassem dificuldades para manter a propriedade da terra com os recursos que dispunham, no sudeste do Pará, no período que migraram, isto foi possível.

Mesmo nos casos em que o chefe de família não dispunha de recursos suficientes e a mudança foi financiada por um vizinho para o qual trabalhava, a migração possibilitou o acesso a terra. A possibilidade de poder contrair dívidas com despesas de viagem, estadia, etc, e de poder pagá-las depois não impediu o emprego dos recursos acumulados antes da mudança numa transação por um lote de terra e as primeiras atividades no mesmo. Desta forma, em alguns casos, a migração permitiu ao chefe de família uma posição que não tinha e que dificilmente poderia alcançar na região de origem.

Por outro lado, diferente destes primeiros, houve migrantes que se separaram de suas famílias e se deslocaram para a região sem ter constituído poupança em um momento anterior. Saíram sozinhos ou com esposa e os primeiros filhos ainda pequenos, em busca de situações que permitissem acesso à terra mediante trabalho, ou mesmo a trabalhos assalariados em fazendas. Eram filhos de famílias que, por exemplo, possuíam estabelecimentos que não permitiriam um parcelamento entre todos os irmãos ou que não tinham terra propriamente; trabalhando em terras de tios ou de outros parentes. Eram diaristas, meeiros ou simplesmente botavam roça em áreas cedidas por outros. Eram assalariados e/ou moravam em fazendas, etc. Quando vieram com esposa e filhos pequenos o fizeram para se juntar a irmãos ou irmãs já casados e estabelecidos na região, moradores de bairros nos arredores do município de Marabá ou de outros municípios, em vilas ou em lotes de terra. Estes irmãos, entretanto,

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separaram-se de seus pais com idades que variaram entre 13 e 20 anos, ainda solteiros, a fim de buscar trabalho e moradia nas fazendas, garimpos ou vilas da região. Sua saída da companhia dos pais, entretanto, não significou a adesão destes pela venda de todos os recursos familiares e sua mudança ou mesmo de todos os irmãos. Em alguns casos, ainda depois de determinado período da saída dos primeiros familiares, eles foram seguidos por outros tantos irmãos, já casados ou não, ou de seus próprios pais. As condições encontradas pelos primeiros familiares migrantes (moradia, possibilidades de acesso a terra), relativamente melhores, foram consideradas atrativos mais ou menos convincentes para adesão ao percurso destes pioneiros. Em outros casos, como tais vínculos foram interrompidos durante décadas, outros parentes não vieram a se mudar.

Quando estava em jogo a mudança de uma terra para outra, os filhos – principalmente os mais velhos – exerceram o papel de batedores ou de exploradores (aquisição de novos recursos, de bagagens de informações, testemunhos, relações, conhecimentos, etc). A posição de batedores pode também ser ocupada por parentes mais distantes, vizinhos, genros ou, da mesma forma, filhos mais velhos que já tinham migrado para o sudeste do Pará. Estes últimos, ou trouxeram recursos a fim de comprar terra na região; ou chegaram a ficar por mais de um ano morando em terras de parentes ou trabalhando em fazendas, até estabelecerem transações consideradas satisfatórias.

Os termos “batedor” e “explorador” permitem uma analogia com a função que acabariam exercendo estes filhos. Os batedores como aqueles que se dirigem para os locais almejados pelos pais, que se fixam e adquirem conhecimento do local. Às vezes, fazem as primeiras atividades de um ciclo agrícola e intermedeiam as transações envolvendo a nova terra entre o pai e o interessado na venda. Os exploradores como aqueles filhos que, dispersos no mundo há mais ou menos tempo, terminam voltando para convencer seus pais para se dirigirem para um local que avaliaram satisfatório e melhor do que o que eles estariam. Isto, porém, após já terem se instalado, adquirido sua própria terra e construído suas próprias famílias desde que saíram da companhia dos pais no mundo. Estes últimos, nem sempre tem seu intento bem sucedido, dependendo da situação de seus pais e irmãos que não saíram no mundo. Todavia, ambos são fundamentais para a tarefa de produção de conhecimento, ou seja, responsáveis por construir as relações e acumular o capital social necessário que possibilite um deslocamento entre terras.

O período compreendido entre a saída daqueles que se separaram sozinhos de seus pais e o retorno do contato entre os mesmos, em certos casos, foi de décadas. Tal delonga correspondeu ao exercício de ocupações diversas e a moradias em várias localidades da região, principalmente até o primeiro casamento.

Apresentarei a seguir alguns exemplos destes dois conjuntos de migrantes que lançaram mão de distintas estratégias de formação de poupança para se constituírem na condição de pequenos produtores. No caso dos primeiros, enfatizo de que forma o deslocamento de outra região do país lhes proporcionou a condição de pequenos produtores, que estaria precarizada, ou eles não ocupavam onde estavam antes (arrendatários, agregados, assalariados e demais tipos de trabalhadores rurais, dentre outros). Nos outros, destaco como os deslocamentos que fizeram lhes permitiu constituir as condições necessárias para estarem naquela posição no momento da pesquisa. Daí, portanto, a menção aos “deslocamentos que advêm das poupanças” e às “poupanças que advêm dos deslocamentos” que utilizei como princípios para a agrupação dos percursos dos pequenos produtores tomados como casos típicos.

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Deslocamentos que advêm das poupanças: os casos Joel e Severino

No final dos anos 70, o pai de seu Joel não tinha terra e morava junto com o sogro numa região no município de Pinheiro, Espírito Santo. Com seus onze filhos, quatro destes casados, seu pai se mudou em companhia do vizinho para o qual trabalhava em troca de diárias e empreitas. Após esta primeira mudança, nunca mais voltaram ao Espírito Santo, conforme se verifica nas informações detalhadas no quadro a seguir.

Quadro 1

Seu Joel veio do município de Pinheiro/ES com o pai, mãe e mais dez irmãos, sendo que sua mãe ainda teve mais um filho, já no Pará. Seu pai não tinha terra no Espírito Santo e trabalhava na terra do sogro que, quando faleceu, ficou com seus outros irmãos e com a sogra. O pai de Joel não conhecia ninguém no Pará. Apenas uma pessoa, vizinho na região de Pinheiro, no Espírito Santo, para quem o pai, de vez em quando, costumava trabalhar por “diárias” ou “empreitas”, posto que o empregador era colono em Rondon do Pará/PA. Tendo adquirido uma terra, voltou e trouxe a família de Joel. Isto foi, aproximadamente, em 1979. Desde então, nunca mais foram ao Espírito Santo. Quando a avó materna de Joel (sogra de seu pai) faleceu, sua mãe não foi e não participou da divisão da terra. O pai de Joel vendeu o gado e as outras criações que tinha e comprou uma terra de 15 alqueires em Rondon do Pará, pagando uma parte com o dinheiro que tinha e a outra em serviço para o ex-dono. Para a terra com o pai foram, a princípio, os dois filhos e as duas filhas mais velhos. Estes filhos já eram casados. “Na rua” ficaram a mãe e o resto dos filhos numa casa alugada, que tinha o aluguel pago pela pessoa que o trouxe para o Pará (que era vizinho no Espírito Santo). O pai de Joel, por sua vez, pagava-o em serviço. Depois de cerca de cinco ou seis meses foram todos “pra dentro da terra”, onde ficaram 16 anos. O pai de Joel, antes de vender esta terra em Rondon do Pará, comprou uma casa “na rua” na Vila Pajé, onde ele e os filhos ficaram até seguirem para uma nova terra, nas proximidades desta Vila, de 15 alqueires, que também foi comprada. Junto com o pai, vieram todos os filhos, inclusive os casados, com suas esposas e filhos. O pai de Joel, após cerca de oito anos, vendeu esta terra, mudou-se para uma casa “na rua”, em Nova Ipixuna, e comprou uma outra terra em que hoje estão os três filhos que ainda moravam com ele e que são solteiros (um deles, porém, foi casado, mas está separado). A terra fica na região da Praia Alta, no município de Nova Ipixuna. Joel morou dois anos com o pai na terra na Vila Pajé, casou-se e se mudou para uma fazenda em Rondon do Pará, onde era “vaqueiro”. Saiu desta fazenda no início deste ano, quando veio para a casa em que está, na terra do sogro, em região próxima à Maçaranduba (Tracoá). (baseado em entrevistas em

junho de 2005 com seu Joel, 36 anos, e familiares).

Se a migração significou a divisão de um determinado núcleo de parentes, entre o pai e mãe de Joel e seus irmãos, pais, etc, que permaneceram no Espírito Santo, por outro lado, prolongou a permanência de seus filhos e filhas junto a si, ou seja, assegurou em sua companhia filhos e filhas que, em outra situação, poderiam já ter se separado. Ainda em sua segunda mudança, entre localidades situadas em dois municípios na mesma região do Pará (Rondon do Pará e Jacundá), cerca de dezesseis anos após a migração, o pai de Joel tinha a companhia de todos os seus filhos, inclusive dos casados. A desagregação entre pais e filhos, comparativamente a outros casos, ocorreu em momento bem posterior à sua fixação na região. Contudo, muitos não se tratavam de marinheiros de primeira viagem. A ida para o sudeste paraense foi apenas parte de percursos de longos deslocamentos e ocorreu através de situações que envolveram transações bem peculiares. É o caso do agricultor e sua família mencionados no quadro abaixo. O processo de trânsito do agricultor envolveu seguidos deslocamentos por 50 anos e é bastante ilustrativo de um certo tipo de acondicionamento social que foi conferido a uma parte dos sujeitos pesquisados.

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Quadro 2

Severino nasceu em Jequié, na Bahia, e é o irmão mais velho de uma família que morava na beira de um rio, lugar em que a terra era “comum”. Com 18 anos de idade, Severino se mudou com a mãe e três irmãs para Ecoporanga, no Espírito Santo. O pai os seguiu depois, mas “arrumou uma outra mulher pra morar” a cerca de dez léguas da localidade em que estavam na época. Severino, num primeiro momento, trabalhou em “terras dos outros” em troca de porcentagens de 30% do que produzia e, em seguida, comprou uma terra de cinco alqueires. Neste município, Severino “tomou conta” das irmãs e da mãe; “casou” todas as irmãs e também se casou e teve os primeiros cinco filhos. Após 16 anos da primeira mudança, Severino vendeu esta terra no Espírito Santo (onde estaria “no meio de fazendeiros”) e foi para Nova Aurora, no Paraná, onde trabalhou durante 13 anos em troca de porcentagens de 30% da produção numa terra de 20 alqueires que “tomava conta para o dono”. A mãe de Severino e seu irmão mais novo ficaram morando na cidade de Nova Aurora e não acompanharam sua família na mudança para Ipixuna, no Pará, onde foram para uma terra de 10 alqueires, por sua vez, fruto de um processo de divisão da herança da esposa de Severino. Aproximadamente 10 anos depois desta mudança, todos os cunhados de Severino tinham vendido suas terras e se mudado para outras localidades no sudeste do Pará e a empresa Eletronorte construiu uma Linha de Transmissão atravessando a terra de Severino, que a vendeu e comprou outra de 20 alqueires no município de Tailândia. Nesta última, Severino morou durante cerca de 16 anos, até que, devido aos roubos que teria tido e à “violência”, ele vendeu, mudando-se para o estabelecimento em que estava na região da Maçaranduba, em Nova Ipixuna/PA, há um ano. (baseado em entrevistas em

maio e junho de 2005 e janeiro de 2006 com seu Severino, cerca de 75 anos, e familiares).

Dentre as demais condições de poupança de recursos tidos como necessários para garantir o acesso a terra no sudeste paraense, as chamadas terras de herança também foram referências bem significativas de mobilidade e não apenas de fixidez – como habitualmente se remete ao se analisar outros contextos sociais. Para esta parcela de migrantes, filhos e filhas de pequenos proprietários, a existência de uma terra de herança não deixou de significar o acesso a recursos que, por sua vez, vieram a viabilizar certos planos de mudança das condições em que estavam em dado momento. Ainda que estivessem dispersos e que o processo de divisão costumeira dos bens não lhes reservassem uma parcela das terras propriamente ditas, o acesso a alguns recursos viabilizou novos deslocamentos, seja entre localidades na microrregião em questão ou mesmo entre distintas regiões do país. Um exemplo mencionado anteriormente se refere a um caso no qual, com o dinheiro da “venda” de sua “parte” da terra de herança, a filha estabeleceu uma transação de compra de uma posse em uma outra localidade.

No quadro 2, uma terra de herança ensejou projetos de migração não apenas para um, mas para todos os filhos-herdeiros, possibilitando projetos coletivos de deslocamento. As transações de venda e de compra da terra de herança feitas por um dos herdeiros acabaram assegurando os meios necessários para dividi-la em parcelas maiores para os demais herdeiros que, inclusive, não mais residiam conjuntamente. No interior do estado de Minas Gerais, onde estava situada de fato a pequena propriedade herdada, a divisão desta terra de herança não permitiria desfecho semelhante. O saldo destas operações possibilitou a alguns dos herdeiros a oportunidade de mudar de uma situação na qual eram arrendatários ou agregados nos estabelecimentos em que trabalhavam para a de efetivos “donos da terra”. A possibilidade de acesso a estes recursos permitiu que S. Severino, chefe de família, trocasse uma situação em que morava e trabalhava como arrendatário, no Paraná, para assumir uma parcela da terra de herança de sua esposa, no sudeste do Pará.

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Seu Jessé saiu da companhia dos pais com 14 anos, de Pinheiro, no Maranhão, e desenvolveu várias atividades entre os anos 1950 e o final dos 1980, quando comprou o lote de terra em que se encontrava no momento da pesquisa, na região da Maçaranduba. Neste ínterim, teria ficado cerca de 36 anos sem contato com outras pessoas da sua família, que permaneceram no Maranhão. Quando as reencontrou, Jessé estava em seu segundo casamento e já tinha duas de suas filhas casadas, que, como ele, eram moradores de um distrito no município de Marabá. Na região da Maçaranduba, seu Jessé estaria em sua quarta experiência como possuidor de pequenos lotes de terra, desde que saiu de seu município natal. A primeira terra foi comprada com recursos adquiridos através de seu trabalho junto aos familiares de um ex-patrão, que, inclusive, também seriam os responsáveis pela ocupação de áreas antes desocupadas numa região da estrada Belém-Brasília. A segunda, em outra área de ocupação recente, no município de Rondon do Pará, teria sido comprada com recursos adquiridos com a venda da primeira. Mas Jessé, após breve período de trabalho na terra, teria sido expulso por pistoleiros. Com a perda da terra, ele trabalharia como meeiro e seria peão numa fazenda, em outro município. Buscou “terras sem dono” ao longo da Rodovia Transamazônica, sem sucesso. A terceira terra foi comprada de um outro agricultor e paga num acordo que envolveu determinados compromissos assumidos por mais de dois anos. Com a venda desta última para um advogado, que efetivou o pagamento em dinheiro, numa poupança bancária, Jessé voltaria a residir com sua família no distrito de Morada Nova (Marabá/PA) e a trabalhar como ajudante de pedreiro, bem como em diversas outras ocupações. Segundo seu Jessé, com a capitalização dos juros desta poupança, anos depois da venda, ele adquiriu uma usina de arroz (máquina de beneficiamento, descascadeira) e a terra na região da Maçaranduba, já no fim dos anos 1980, quando estava com aproximadamente 50 anos de idade e se separava de sua segunda esposa.

Seu Jessé, da saída da cidade natal até a compra de sua primeira terra e de seu segundo casamento, mudou-se acompanhado de um primo que se vinculava nas mesmas atividades que ele: carregador/ajudante em lancha, trabalhador em Seringal, na construção da rodovia Belém-Brasília, etc. Nestas ocupações, Seu Jessé não construiu casas e residia em hospedagens cedidas pelos empregadores. Nas mudanças seguintes, ele construiu, alugou ou comprou casas nas sedes dos municípios ou de vilas, em viagens anteriores ao deslocamento definitivo de sua esposa e filhos menores. Assim, operações como a busca de “terras sem dono” ao longo da Rodovia Transamazônica e a estadia necessária para as primeiras aberturas dos lotes comprados em Rondon do Pará e no Igarapé Flecheira foram realizadas sozinho ou apenas com a companhia de filhas e filhos mais velhos. Nas mudanças decorrentes de venda e compra de nova terra, sua esposa e filhos faziam o percurso casa na primeira terra → casa na rua → casa na segunda terra, mesmo que, em dados momentos, tivessem ocorrido fatos tidos como extraordinários, como o episódio em que teria sido expulso de uma terra em que estava por pistoleiros.

Se nas mudanças anteriores Jessé teve a companhia da esposa e filhos, quando foi para a região da Maçaranduba, separando-se da segunda esposa, levou consigo apenas dois filhos, sendo que apenas um, o mais novo, permanecia morando com ele no período da pesquisa. O outro, assim como todos os demais, vincularam-se em atividades não-agrícolas (vendedor, vigia em posto de saúde, vigia em colégio, ex-trabalhador em empresa no Rio de Janeiro ou em São Paulo e aposentado pelo INSS por motivo de saúde) e a maioria das filhas estava casada. Uma delas ainda morava com a ex-esposa, na rua; outra foi trabalhar nos Estados Unidos; e duas mais eram professoras em colégios municipais de Marabá.

Portanto, o processo de circulação destes pequenos produtores variou de acordo com o ciclo de vida deles próprios e de seus filhos. Nas mudanças, por vezes estabeleceram

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vinculações em mais de uma localidade ou município na região do estado, em ocupações distintas. E condicionaram as alternativas alocadas às companhias com as quais contavam em cada novo deslocamento.

As transações que permitiram o acesso à terra foram fruto de vinculações, acumulações e/ou negociações que estabeleceram principalmente após a mudança. O próprio deslocamento e as situações, ocupações e atividades desencadeadas a partir da mudança, em muitos casos, possibilitaram a alguns pequenos produtores a formação de poupança e o acúmulo dos recursos que detinham.

Dentre os filhos de agricultores que se mudaram para a região, sozinhos ou com esposa e filhos, em geral acompanhando irmãos ou outros conhecidos que já moravam nesta região do Pará, nem todos chegaram a possuir terra. Em certos casos nem mesmo voltaram a desenvolver atividades ligadas à agricultura, pecuária, etc. Estabeleceram-se em núcleos urbanos, exercendo outras ocupações. Contrariamente, foram as vinculações como trabalhadores de empresas nestas localidades que permitiram que acumulassem poupanças e comprassem terras; ou, por outro lado, que por longos períodos de suas vidas se fixassem em determinados empregos distanciados das atividades agropecuárias. É o caso de Seu Divino, vaqueiro em, no mínimo, cinco fazendas na microrregião de Marabá e carregador de caminhão de carvão numa empresa de prestação de serviço para uma siderúrgica. Como vaqueiro, ele acumulou parte dos recursos necessários para comprar uma casa nos arredores de Marabá e, com uma indenização trabalhista, que recebeu pelo trabalho na siderúrgica, anos depois, comprou a terra na região da Maçaranduba.

Todavia, alguns destes agricultores, mesmo após uma série de vinculações de trabalho e de experiências em diversas ocupações e atividades na região não chegaram a acumular recursos para comprar uma terra. Tiveram então acesso aos primeiros lotes através de outras situações. Nestas condições, o acesso aos primeiros lotes de terra, por outro lado, também não necessariamente significou para estes pequenos produtores maior estabilidade, no sentido de lhes ter assegurado uma maior permanência naqueles locais.

Seu Zé, que se mudou com esposa e filhos de Santa Inês/MA, onde moravam seus pais, foi trabalhador numa empreiteira prestadora de serviço nos arredores de Marabá e diarista em Nova Ipixuna. A posse do primeiro lote de terra se deu através de uma invasão junto com outros agricultores. Contudo, foi removido pelo órgão responsável pela execução de políticas relacionadas à reforma agrária na região para uma área de Assentamento, que, por sua vez, tornou-se uma única fazenda quatro anos depois. Apenas após a venda do lote no Assentamento para um fazendeiro, Zé comprou a terra na qual permanecia por 19 anos. A maioria dos filhos de Zé se casou quando o agricultor já morava nesta última terra e, ao contrário de outros vizinhos seus, três deles se estabeleceram nesta mesma área, construindo outras casas.

A reprodução social dos filhos destes migrantes, entretanto, não se deu por meio da transmissão de supostos legados diferenciados entre um conjunto e outro de pequenos produtores, por exemplo, entre aqueles que se deslocaram de regiões no sul e que se deslocaram de regiões geograficamente mais próximas, como Maranhão. O processo de mudança de pais que migraram em pequenos núcleos familiares após terem vendido pequenas propriedades nas localidades de origem ou acumulado anteriormente recursos suficientes para comprar terra, provenientes das regiões sul e sudeste do país e de estados como a Bahia, nos anos 1970 e 1980, não foi o mesmo de parte de seus filhos. A posse de terras que alguns de seus filhos obtiveram é decorrente de um processo de circulação e de acumulações feitas após

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suas saídas da companhia dos pais, às vezes, já fixados em estabelecimentos na região. Assim, embora a condição de “donos de terra” dos pequenos produtores daquela geração tivesse sido assegurada com a migração, na maioria das vezes, tal garantia não se estendeu, anos depois, aos seus filhos. A segunda geração destes migrantes, por sua vez, também reiniciava um processo de deslocamentos, mediante separação dos pais, geralmente por vinculações como assalariados em fazendas, etc, sem ter constituído poupança anterior para a compra de um outro lote de terra.

Entretanto, assim como no caso da geração dos pais destes novos migrantes, a ocupação com atividades agrícolas era uma das situações dentre muitas outras que estes filhos desempenhavam no momento da pesquisa. O destino dos filhos era, principalmente, outras localidades na mesma região do estado, entretanto, também tinham exceções mais diversificadas – e inexistentes na geração anterior. Os filhos de Jessé, por exemplo, tinham ou tiveram ocupações na microrregião de Marabá, nos Estados Unidos e no eixo Rio de Janeiro-São Paulo.

No que se refere aos jovens homens, filhos solteiros, foi comum os pequenos produtores se referirem a um ou outro como estando “no mundo” ou “pelo mundão”. Sobre estes, inclusive, pairava outro tipo de desconhecimento sobre seu paradeiro, em geral, perdido pela falta de informações e pelas mudanças em série que teria feito ou estaria fazendo. Dizia-se que estariam “de fazenda em fazenda” ou que tinham ido para um garimpo e não tinham mais notícia. No momento que saíram da companhia dos pais, eram solteiros, tinham entre 14 e 25 anos em média e buscariam oferecer serviços braçais em troca de estadia, salário e/ou de diárias.

Ao contrário do desconhecimento relativo às filhas fugidas, atrelado a uma concepção de desacordo e de exceção, o estar no mundo, no caso dos homens, era tido como uma situação mais ou menos previsível, quase normal de acontecer com os filhos. Esta concepção se sobrepõe mesmo que o momento da saída seja lembrado por alguma briga ou discussão com o pai. Dentre os moradores da Maçaranduba, houve aqueles que se referiam a um momento em que estiveram no mundo. Com a expressão, eles se referiam a um período de suas vidas que precedeu o casamento e a condição de pequeno produtor, em que teriam sido trabalhadores braçais em fazendas ou que desempenharam outros tipos de ofícios nas cidades que transitaram.

Um perverso mundo aberto

As conseqüências deste crescimento demográfico para a ocupação urbana e o mercado de terras, as transformações na estrutura agrária e fundiária destes municípios impactados, a expulsão, procura de novas áreas e situação socioeconômica dos habitantes antes estabelecidos e os recém-chegados, assim como o perfil social de uns e outros, ainda não foi devidamente analisada, mas, de qualquer forma, demonstra o potencial de atração que estas notícias têm e o provável potencial de deslocamento que têm também certos contingentes populacionais naquela região do oriente amazônico. Os percursos destas diferentes gerações de migrantes que buscaram condições para se reproduzir social e materialmente, às vezes marcados por intensa circulação entre atividades desenvolvidas nas fazendas, como trabalhadores temporários, mas também nas siderúrgicas, carvoarias e ofícios informais nos vilarejos e cidades da região, mostra o quanto estes “migrantes” condensaram condições e

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técnicas específicas para se deslocarem em grandes raios de distância. Entretanto, mostra também o quão nefasto tem sido o legado deixado por estes trabalhadores, sujeitos que estão a toda sorte de exploração e enfraquecidos pelo desenraizamento social que lhes é imposto nestas condições de vida – desenraizamento este que também devem aprender a impor a si mesmos, quase que como uma espécie de “saber” inexorável do ofício.

Contudo, ao conversar sobre estes deslocamentos, algo que não deixava de saltar aos meus olhos era o sentido que meus interlocutores davam a suas histórias e às suas experiências pretéritas, sugerindo a incorporação de uma determinada noção de vida como trajetória. Esta noção estaria a informar certa maneira de encarar e de organizar o mundo sob situações às vezes bem perversas. Expressava-se, por exemplo: na crença na busca pelo “sucesso”; na crença na mudança como opção para se alcançar este sucesso, ou como opção de recomeço, ou de prosseguimento; na crença na terra como algo que pode, ou que deve ser transformado; na crença na existência de terras livres à Oeste; na crença na reconstrução do mundo do parentesco e da reagrupação familiar original; na crença na noção de que o patrimônio da família pode “se mudar”, seja no sentido da acumulação ou de que pode se transferir espacialmente, de um local para outro; enfim, na crença da vida em geral como uma espécie de “universo aberto”.

Ao conceberem a vida como uma trajetória, atribuíam sentido a certas situações como sendo características relacionadas a um “retorno” ou a um “avanço”. Falavam, portanto, sobre a ocasião em que se “voltou a sair na diária” ou na que se “passou a ser dono da terra”.

Tal noção também estaria relacionada a um sentimento de transitoriedade, motivando o incômodo (ou a aceitação) com uma situação de assalariamento e/ou de estar sem acesso a terra considerada própria. Assim como estaria relacionada a percepções de mundo que agem como amortizadores das reais condições de vida e como amenizadores do sofrimento. Sendo que o próprio sofrimento é visto, então, tanto como necessário quanto como eternamente passageiro.

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Referências

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