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O Envelhecimento Populacional e a (IN)sustentabilidade do sistema de saúde suplementar

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Academic year: 2021

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O Envelhecimento Populacional e a (IN)sustentabilidade do sistema de saúde suplementar1

Cláudia Koeppel Berenstein2 Renata Guimarães Vieira de Souza Pimentel3 Ana Gabriela Braga4

Resumo

O Envelhecimento populacional traz consigo diversos desafios, sendo um deles o equilíbrio do setor de saúde. Sabe-se que quanto mais a população envelhece, maior é a busca por serviços de saúde (Mayhew, 2000; Dang et al, 2001; Antolin et al, 2001), consequentemente há uma elevação também nos custos com saúde. A saúde suplementar já enfrenta esse desafio, uma vez que algumas modalidades de planos de saúde já estão experimentando esses efeitos devido a um perfil de carteira mais idosa. Dessa forma, o objetivo desse artigo é discutir a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar mostrando o impacto do envelhecimento populacional. Para isso foram analisadas as cinco modalidades da saúde suplementar, mostrando a diferença no perfil etário; ticket médio pago; despesas geradas na utilização dos serviços de saúde; frequência de utilização de serviços específicos em um cenário em que o impacto tecnológico é o mesmo, uma vez que o ROL da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabelece a cobertura mínima de serviços a serem oferecidos pelas Operadoras de Planos de Saúde.

1 Trabalho apresentado no XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais em Poços de Caldas, MG, 2018 2 Sócio Diretora na Trinnity Consultoria e Treinamento

3 Sócio Diretora na Trinnity Consultoria e Treinamento 4 Consultora Associada na Trinnity Consultoria e Treinamento

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O Envelhecimento Populacional e a (IN)sustentabilidade do sistema de saúde suplementar

Introdução

O envelhecimento populacional no Brasil tem ocorrido de forma acelerada, trazendo um desafio para todo o sistema de saúde (Bear et al, 2015). A saúde suplementar atende atualmente cerca de 25% da população brasileira e seu perfil etário é mais envelhecido que o da população em geral (IESS, 2013). Com isso, os efeitos do envelhecimento tendem a ser experimentados primeiro nesse setor. A saúde suplementar é composta por diferentes modalidades, que estão em diferentes fases do processo de envelhecimento populacional. Com isso, torna-se possível comparar os impactos do envelhecimento, em um cenário de oferta de tecnologia regulada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Dessa forma, o objetivo desse artigo é discutir a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar a partir da comparação entre modalidades existentes, mostrando a diferença no perfil etário; ticket médio pago; despesas geradas na utilização dos serviços de saúde; frequência de utilização de serviços específicos em um mesmo cenário de impacto tecnológico.

Métodos

Foram utilizados dados disponíveis no site da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) referente ao ano de 2016. Essas informações são enviadas à ANS pelas Operadoras de saúde suplementar de forma periódica.

Foram analisadas as seguintes informações: perfil dos beneficiários de acordo com sexo e estrutura etária, utilização de eventos assistenciais, despesas e receita. Para medir o estágio do envelhecimento populacional foi calculado o índice de envelhecimento populacional:

IE = (Número de pessoas com 60 anos ou mais/ Número de pessoas com menos de 15 anos).

Para a análise do perfil de consumo foram analisadas as taxas de utilização e custo médio dos seguintes eventos assistenciais: consultas, exames e internações.

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Taxa de Utilização = Quantidade de eventos realizados/Número de beneficiários

Custo Médio = Valor total da despesa de determinado evento/ Quantidade de eventos realizados

Os seguintes indicadores foram utilizados para avaliar a sustentabilidade do setor:

Receita per capita, Custo per capita, Lucro per capita e Sinistralidade.

Receita per capita = Receita de Contraprestações/Número de Beneficiários

Custo per capita = Despesa Assistencial/ Número de Beneficiários

Lucro per capita = Receita per capita – Custo per capita

Sinistralidade = Despesa Assistencial/ Receita de Contraprestações

As modalidades analisadas foram: Seguradora Especializada em Saúde, Medicina de Grupo, Cooperativa Médica, Filantropia e Autogestão. As modalidades exclusivamente odontológicas não foram analisadas.

Resultado

Conforme dados de dezembro de 2016 foi calculado o índice de envelhecimento de todas as modalidades da saúde suplementar (TAB.1).

Tabela 1 – Índice de Envelhecimento das modalidades da saúde suplementar

Modalidade Índice de Envelhecimento

Saúde Suplementar Geral 66,20

Seguradora Especializada em Saúde 39,43

Medicina de Grupo 58,66

Cooperativa Médica 62,95

Filantropia 104,33

Autogestão 156,03

Fonte: ANS

A autogestão caracteriza-se como sendo a modalidade com o perfil mais idoso enquanto a Seguradora Especializada em Saúde exibe uma estrutura etária bem mais

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jovem que a média da saúde suplementar em geral. Na FIG. 1 podemos ver a diferença entre as pirâmides etárias dessas modalidades.

Figura 1: Estrutura Etária das Modalidades da Saúde Suplementar – Dezembro/2016

Em relação à receita e custo, verifica-se que em ambos o valor per capita da Seguradora, apesar de ser a modalidade com Estrutura Etária mais jovem, é o maior de todos, seguido da Autogestão, que é a modalidade mais envelhecida. Contudo, quando analisado o lucro per capita, verifica-se que, quanto maior o índice de envelhecimento, menor é o lucro da modalidade, conforme mostra TAB.2.

Tabela 2: Receita, Custo e lucro per Capita das modalidades da Saúde Suplementar – 2016 Modalidade Índice de Envelhecimento Receita per capita Custo per capita Lucro per capita Seguradora Especializada em Saúde 39,43 R$ 5.421,69 R$ 4.758,17 R$ 663,52 Medicina de Grupo 58,66 R$ 2.750,13 R$ 2.241,80 R$ 508,33 Cooperativa Médica 62,95 R$ 2.995,78 R$ 2.539,98 R$ 455,80 Filantropia 104,33 R$ 2.214,32 R$ 1.766,69 R$ 447,63 Autogestão 156,03 R$ 3.979,36 R$ 3.772,92 R$ 206,45 GERAL 66,20 R$ 3.386,44 R$ 2.875,91 R$ 510,53 Fonte: ANS

Analisando os principais itens consumidos na saúde suplementar tem-se os seguintes diferenciais de utilização e custo médio:

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Tabela 3: Taxa de Utilização e Custo médio de consultas, exames e internações por modalidade na saúde suplementar – 2016

Modalidade Índice de Envelhecimento Taxa de consultas CM consulta Taxa de exames CM exames Taxa de internação CM internação Seguradora Especializada em Saúde 39,43 5,51 R$ 94,69 22,74 R$ 39,45 0,21 R$11.455,89 Medicina de Grupo 58,66 5,71 R$ 72,64 13,54 R$ 32,58 0,12 R$ 7.513,65 Cooperativa Médica 62,95 5,95 R$ 74,29 16,27 R$ 34,88 0,18 R$ 5.487,93 Filantropia 104,33 5,31 R$ 60,66 14,77 R$ 24,71 0,15 R$ 5.546,10 Autogestão 156,03 5,35 R$ 80,17 22,01 R$ 38,88 0,20 R$ 8.963,12 GERAL 66,20 5,73 R$ 76,67 16,72 R$ 35,39 0,16 R$ 7.487,43 Fonte: ANS

Verifica-se que, apesar do Índice de Envelhecimento da Seguradora ser o menor de todos, em todos os itens analisados o Custo Médio pago pela mesma é superior ao das demais operadoras, assim como a sua utilização é semelhante à da Autogestão, modalidade já com uma estrutura etária bem mais envelhecida. O diferencial de custo pode ser explicado devido às diferentes tabelas de preço praticadas nos convênios, já a utilização pode estar sendo afetada por uma super utilização do sistema no caso de operadoras com índice de envelhecimento mais jovem, fazendo com que suas taxas se assemelhem ao das operadoras de modalidades com índice de envelhecimento mais elevado.

Para analisar a sustentabilidade, calculou-se a sinistralidade das modalidades, conforme mostra TAB. 4. De acordo com a ANS, o nível ideal para a sinistralidade é de 75%. Verifica-se que todas as modalidades já estão acima desse nível. Observa-se que, quanto maior o Índice de Envelhecimento, maior a Sinistralidade, com exceção da Seguradora Especializada em Saúde.

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Tabela 4: Sinistralidade das Modalidades da Saúde Suplementar em 2016 Modalidade Índice de Envelhecimento Sinistralidade Seguradora Especializada em Saúde 39,43 0,88 Medicina de Grupo 58,66 0,82 Cooperativa Médica 62,95 0,85 Filantropia 104,33 0,80 Autogestão 156,03 0,95 GERAL 66,20 0,86 Fonte: ANS Discussão

Conforme evidenciado, o envelhecimento populacional já é uma realidade para algumas modalidades de planos de saúde, destacando-se a modalidade de Autogestão que apresenta um índice de 156 idosos para cada 100 beneficiários com menos de 15 anos. Como os idosos tendem a buscar mais serviços de saúde, a sinistralidade tende a aumentar, piorando ainda mais os índices de sinistralidade que em todas as modalidades já passa dos 75% preconizados pela ANS. Isso mostra que o modelo atual já precisa ser discutido, independente do grau de envelhecimento em que se encontram as operadoras. Uma questão que tem sido levantada é o modelo de remuneração vigente baseado no “fee-for-service”, induzindo a uma super utilização do sistema, uma vez que prestadores ganham mais quanto mais realizam procedimentos. O ideal seria um modelo baseado na performance, mas esse modelo é geralmente complexo. Conforme coloca Bessa (2011), para que esse modelo funcione é necessária a criação de indicadores de qualidade em relação ao trabalho médico, contudo, remunerar melhor os casos bem sucedidos pode levar os médicos a evitarem pacientes graves e com complicações, sendo necessário um sistema de ajuste de risco.

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Referências bibliográficas

ANS. TABNET. Disponível em: <http:// http://www.ans.gov.br//anstabnet/>. Acesso em: 15 fev. 2018.

ANTOLIN, P.; SUYKER, W. How Should Norway Respond to Ageing? Paris: OECD Publishing, 2001.

BESSA, R. O. Análise dos modelos de remuneração médica no setor de saúde suplementar brasileiro. Dissertação (mestrado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. - 2011. 105 f.

BEARD, J. ET AL. The World report on ageing and health: a policy framework for healthy ageing. The Lancet, ISSN 0140-6736, 2015

DANG, T.; ANTOLIN, P.; OXLEY, H. Fiscal Implications of Ageing: Projections of age-related spending. Paris: OCDE Publishing, 2001.

IESS - Instituto de Estudos de Saúde Suplementar. Envelhecimento populacional e os desafios para o sistema de saúde brasileiro [recurso eletrônico] / Instituto de Estudos de Saúde Suplementar – São Paulo: IESS [org], 2013

MAYHEW, L. Health and elderly care expenditure in and aging world. International Institute for Applied Systems Analysis, Laxenburg, Austria. Research Report, 2000.

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